Avanços da Telemedicina em dados | Regiane Spielmann
A arte perdida de cuidar
1. DESAFIOS DA BIOÉTICA NO
SÉCULO XXI
Serviço de Neurologia e Neurocirurgia
Dr. Frederico Rodrigues
¹Prof. Carlos Frederico Rodrigues
²Isadora Cavenago Fillus
¹Neurologia – HU Pedro Ernesto – UERJ
Neurocirurgia – HM Souza Aguiar – RJ
Neurocirurgia pediátrica – Inst. Fernandes Figueira – FioCruz – RJ
Interne serivce de neurochirurgie pédiatric- Hôpital Latimone – Marseille- France.
Mestre em Filosofia Política e Ética – PUCRS.
Professor – Unochapecó – SC
Professor Bioética – Unioeste – Francisco Beltrão.
Coordenador do Núcleo de Bioética do Sudoeste – NuBioS
²Acadêmica da faculdade de medicina da Universidade Estadual do Oeste do Paraná – UNIOESTE – Campus Francisco Beltrão.
2. • Surtos de novas epidemias;
• Campos de concentração para esses pacientes;
• Aquecimento global;
• Desafio do gelo x morte por falta de água;
• Violência;
• Imigração;
• Racismo.
UMA BIOÉTICA?
3. • “as vezes nos parece que tudo que
COMO PROCEDER?
fazemos não é mais do que uma gota
de água no oceano, mas o oceano
seria menor se lhe faltasse essa
gota.”
Madre Teresa de Calcutá.
• A arte perdida de cuidar.
4. I - INTRODUÇÃO
Bernard Lown – Cardiologista – inventor
do desfibralador.
“ os médicos desaprenderam
a arte de cuidar.”
Nunca a medicina avançou tanto no
diagnóstico e tratamento das mais
variadas doenças como no passado
século, e nunca o ser humano enfermo
foi tão mal cuidado.
5. I - INTRODUÇÃO
Livro: a perdida arte de cuidar.
“os médicos transformaram-se
em oficiais-maiores da ciência
e gerentes de biotecnologias
complexas“
Isso é a medicina?
"sabedoria médica" é compreender um
problema clínico não em um órgão, mas
em um ser humano.
6. I - INTRODUÇÃO
Todo mal que aflige o paciente
pode ser identificado pela
tecnologia?
Os jovens estudantes são
educados a operar equipamentos e
proceder a leituras de variáveis
biológicas, mas não são orientados
a reconhecer o ser humano como
unidade biopsicossocial e
espiritual.
7. I - INTRODUÇÃO
“ Não se trata de acelerar o trem
do progresso, mas de encontrar o
freio de emergência.”
8. MEDICINA BASEADA
EM EVIDÊNCIAS
• a uma medicina baseada em evidência, uma
prática antiga, mas que foi estabelecida como
um movimento mesmo no século XX, e já no
nosso século XXI começa a ser questionada se
é uma prática inteiramente aceitável.
• Uma característica da ciência, incluindo a
médica, é de que tudo o que você replica, tem
qualidade. Já na arte, a replicação é sinônimo
de desvalorização e perda da essência, sendo o
primordial a preservação da singularidade:
medicina como arte.
• E pensando nessa oposição de prioridade entre
a ciência e a arte, quando falamos em cuidado
de seres humanos que são únicos entre si, mas
em sua totalidade de ser, que outra forma
temos de o receber e abriga-los sob nossas
mãos e olhares que não na arte de cuidar?
"Eu tive uma namorada que via
errado. O que ela via não era uma
garça na beira do rio. O que ela via
era um rio na beira de uma garça.
Ela despraticava as normas. Dizia
que seu avesso era mais visível do
que um poste [...] .Chegou de ir no
oculista. Não era um defeito físico
falou o diagnóstico. Induziu que
poderia ser uma disfunção da alma.
Mas ela falou que a ciência não tem
lógica. Porque viver não tem lógica –
como diria nossa Lispector[...].”
O olhar, MANUEL DE BARROS
9. MEDICINA BASEADA
EM EVIDÊNCIAS
• O setor da saúde é um dos que mais tem
crescido na economia mundial. Números
apontam “evoluções”, “desenvolvimento”
e inovações. Mas o que está por trás de
números frios que nos são
apresentados? A arte de cuidar de outra
pessoa realmente cabe em dados e
estatísticas sem desumanizar-se?
• A medicina é algo que não possui preço,
pois não pode ser substituída por um
equivalente, logo, possui dignidade
• O atendimento médico se diferencia de
qualquer serviço prestado em indústrias,
pois não se baseia em padronizações.
O médico “não é o médico dos seres
vivos em geral, nem mesmo o médico
do gênero humano, mas o médico do
indivíduo humano”. Claude Bernard.
10. II - AS REGRAS DO
CHICOTE
Aplicação de regras cartesianas
como norteadoras da formação
médica. – Séc XX.
Privilegia-se o conhecimento
fragmentado de acordo com
percepções específicas de
diferentes áreas do saber médico,
desconsiderando a óbvia
inseparabilidade entre as partes e a
totalidade do ser humano. ABRAHAM FLEXNER
11. • No dizer de Morin, passaram a ser "como
lobos que urinam para marcar seu
território e mordem os que nele
penetram".
II - AS REGRAS DO
CHICOTE
Assim nasceram as disciplinas do
curso de medicina que passaram a
gozar de total autonomia para
construir suas árvores temáticas.
Quaisquer pequenas propostas de
mudanças na grade curricular
encontram enormes resistências
por parte dos donos dos lotes.
12. II - AS REGRAS DO
CHICOTE
Grade, Disciplina...falamos de
educação ou de prisão?
A escola como ´disciplinadora´ e
formadora de corpos humanos
dóceis e incapazes de reflexão.
13. II - AS REGRAS DO
CHICOTE
• “um meio de flagelar aquele que se
aventura no domínio das idéias que o
especialista considera de sua
propriedade“ Morin.
Em conseqüência desse modelo
pedagógico obsoleto, impõem-se
aos estudantes cada vez mais
conhecimentos técnicos oriundos
das disciplinas acadêmicas, onde
as informações são expostas sem
qualquer preocupação de oferecer-lhes
a necessária síntese que lhes
permita melhor compreender o ser
humano biográfico.
14. II – AS REGRAS DO CHICOTE
Cartesiano
• Objeto;
• Corpo;
• Quantidade;
• Causalidade;
• Razão;
Alteridade
• Sujeito;
• Espírito;
• Qualidade;
• Finalidade;
• Sentimento;
15. ESTADO DE EXCEÇÃO COMO
REGRA: trotes universitários
• E as regras do chicote estão presentes
desde a admissão dos estudantes nas
faculdades de medicina. Infelizmente
ainda é uma realidade na maioria das
faculdades a promoção dos trotes aos
calouros recém chegados na
universidade.
• Despersonalização do indivíduo.
• Judeus em campos de concentração
nazista.
• “ é só uma brincadeira”, “ não faz mal
nenhum”, “ também passamos por isso”.
Hannah Arendt
16. ESTADO DE EXCEÇÃO COMO
REGRA: trotes universitários
• estado de exceção como regra
• porque isso está sendo feito? Qual a
finalidade? Tirar o máximo de proveito
do outro, mesmo que para isso precise
ofender, machucar ou humilhar? Quem
disse que temos esse direito?
• ciclo que se repete todos os anos nas
universidade
• consequências irreversíveis
• a resistência só pode existir enquanto
propriedade imanente ao poder
(Foucault).
“A qualidade humana da sociedade
deveria ser medida pela qualidade
de vida de seus membros mais
fracos”. Zigmunt Bauman
17. • “ Domine todas as técnicas, conheça
todas as teorias, mas ao tocar uma alma
humana, seja apenas outra alma
humana.” Jung.
• “Nós, não é plural de eu”. E. Levinas.
III - Ética
18. “Aquele que só sabe medicina
(técnica), nem medicina sabe.”
Abel de Lima Salazar
19. • Como apreender o global, o
multidimensional, o complexo e organizar
o conhecimento para melhor cuidar do ser
humano, protagonista central de qualquer
iniciativa da ciência?
• “Ética, é o local onde cabem todos.”
H.Jonas.
III - Ética
20. III - Ética
"Sendo todas as coisas causadas e
causadoras, ajudadas ou ajudantes,
mediatas e imediatas e
sustentando-se todas por um elo
natural que une as mais distantes
e as mais diferentes, considero
ser impossível conhecer as partes
sem conhecer o todo, tampouco
conhecer o todo sem conhecer as
partes“ Blaise Pascal.
21. III - Ética
A comunidade acadêmica da
atualidade é formada por um
conjunto de especialistas. As
linguagens dos diferentes núcleos
de saber são tão herméticas que
sequer o exercício interdisciplinar
é factível, pois perderam-se os
elementos essenciais para o
diálogo.
22. • Muller, citado por Troncon, avalia
que "as escolas médicas estão
submergindo os estudantes em
pormenores opressores sobre
conhecimentos especializados e
aplicação sofisticada de
tecnologias, restringindo a
aprendizagem de habilidades
médicas fundamentais, podendo
isto levar a uma fascinação pela
tecnologia, tornando o artefato
mais importante que o paciente."
III - Ética
RODRIGUES CFA. O fetiche da
tecnologia. Revista Bioética – CFM
– vol 3. 2012.
23. QUEM SERÃO OS MÉDICOS EGRESSORES
DESSE MODELO?
Cartesiano
Flexineriano
Modelo de aprendizado
baseado em problemas (PBL)
24. METODOLOGIA ATUAL O QUE PRECISAMOS
Eu isolado Eu integrado
Realização pessoal Alteridade
Técnico (coorporação) Cidadão (comunidade)
Fragmentado, para oferecer
serviços e ter o homem
como objeto de estudo
Interdisciplinar para acolher
o outro
Conhecimento técnico Conhecimento humanista
25. IV - Como livrar-se ao
jugo do chicote?
Reconhecer o perverso legado do
séc. XX, caracterizado pela
extrema racionalização da ciência
que apenas considera o
quantitativo e ignora o qualitativo,
menosprezando o ser humano em
seus sentimentos, sofrimentos,
alma.
Sociedade do Inmetro.
26. IV - Como livrar-se ao
jugo do chicote?
Há que libertar-se, sobretudo, da
escravidão da máquina, fazendo-a
complementar ao raciocínio clínico
e não instrumento soberano para
determinar tomadas de decisões.
“ Ciência e caridade” P. Picasso.
27. IV - Como livrar-se ao
jugo do chicote?
O modelo vigente das
subespecialidades, no qual
profissionais sabem quase tudo do
quase nada.
Se o conhecimento é armazenado
nas máquinas, não bastarão
simplesmente técnicos bem
treinados para operá-las?
Os médicos são dispensáveis?
28. IV - Como livrar-se ao
jugo do chicote?
A busca da "Grande Saúde"
apontada por Sfez na utopia
globalizada do séc. XXI parece
apontar para uma sociedade imune
às "questões do passado" e
pautada em regras da mais
extrema objetividade científica.
Quais as consequências para uma
sociedade que não aceita sua
finitude? A culpabilidade da equipe
médica?
29. • “ Meu pai não paga ...mil
reais por mês para eu
atender pacientes do SUS.”
• “ Vou fazer radiologia para
não ter que colocar minha
mão no lixo.”
• “Esse aí é só um PIMBA,
não se preocupe.”
IV - Como livrar-se ao
jugo do chicote?
Como indignar-se com o “interno”
que ao apresentar um caso não
mencione o nome ou sequer a
história clínica do paciente,
detendo-se em relatar exames
subsidiários e a conduta proposta
pelo oncohematologista?
30. IV - Como livrar-se ao
jugo do chicote?
• A 2ª Conferência Mundial de Educação
Médica realizada em Edimburgo, em 1993,
acolheu a proposta "Changing medical
education and practice: an agenda for action",
da Organização Mundial da Saúde, que
aponta para novas práticas educativas que
substituam as tradicionais centradas no
modelo disciplinar através da incorporação de
estratégias que alcancem fornecer
conhecimentos mais adequados do processo
saúde-doença, sempre privilegiando o
enfoque interdisciplinar.
31. QUEM TEM O CHICOTE EM
MÃOS?
• Universidade de Toronto: 47% dos 108 estudantes de
medicina no último ano da faculdade declararam ter
presenciado ao menos um comportamento antiético por
parte de seus professores.
• "Eu fazia plantão na maternidade do X e via as pacientes
que chegavam após tentativa de aborto serem tratadas com
grosseria, ironias e deboche. E quando tinham que
permanecer internadas, ficavam em macas no corredor,
mesmo tendo vagas nas enfermarias". (feminino, 6º ano, 24
anos).
• "Já foram várias situações difíceis. [Tive] muitos
desapontamentos e vontade de largar o curso por
isso."(feminino, 6º ano, 24 anos).
“Há um tempo em que é
preciso abandonar as
roupas usadas, que já tem a
forma do nosso corpo, e
esquecer os nossos
caminhos, que nos levam
sempre aos mesmos
lugares. É o tempo da
travessia: e, se não
ousarmos fazê-la, teremos
ficado, para sempre, à
margem de nós mesmos”.
FERNANDO PESSOA
32. V –FORMAÇÃO ÉTICA
“...com quem nos sentimos à
vontade quando descrevemos
nossas queixas (...) o médico
para quem o paciente nunca é
uma estatística (...)". Lown.
Tudo isto parece tão simples e
óbvio que, às vezes, nos
espantamos por não conseguir
atingir esse singelo objetivo.
33. V – FORMAÇÃO ÉTICA
• O profissional sabe que toda
doença é orgânica e psíquica,
social e familiar. Todos os
sintomas formam um
complexo conjunto de
diferentes instâncias, quer
seja orgânica, psicológica,
social ou familiar.
• Invariavelmente está
buscando por cuidados que
não se limitam simplesmente a
livrar-se de um mal-estar
circunstancial.
34. V - FORMAÇÃO ÉTICA
• "Onde há amor ao
enfermo (philanthrôpíê)
há também amor à arte
(philotekhniê).”
Nosso objetivo é o paciente.
Nosso inimigo é o sofrimento, não
a morte.
Formação humana do acadêmico
de medicina.
35. V - FORMAÇÃO ÉTICA
• Considero que os problemas
emergentes na relação
profissional-paciente devido ao
uso acrítico das conquistas da
ciência e tecnologia podem ser
sobrepujados mediante uma
formação consistente, que
privilegie os aspectos
humanísticos da profissão sem,
de nenhuma maneira, descurar
do melhor modo de cuidar.
RODRIGUES CFA. Considerações éticas sobre a medicina
contemporânea. Vol. 18, No 2 (2010): Revista Bioética
Responsabilidade sem escapatória.
Alteridade.
36. A FORMAÇÃO MÉDICA ALÉM
DOS LIVROS
• Depois de todos os anos de estudos,
quando aprendemos a dar uma má
notícia? Quando aprendemos a lidar
com a morte? Quando aprendemos a
lidar com o outro?
• Se soubermos ouvir, o paciente conta
seu diagnóstico e como será seu
tratamento.
• “No rosto, apresenta-se o ente por
excelência” E. Levinas.
• “O rosto do Outro recorda as
obrigações do ‘eu’” .Márcio Luiz
Costa.
Robert Pope, Self
Portrait with Dr.
Langley
38. ÉTICA
• “o ético é o humano”
• “a Ética deve ser
construída no face-a-face,
por todo tempo que
nos resta.”
E. Levinas.
39. A ÉTICA NA RELAÇÃO COM
TODAS AS FORMAS DE VIDA
• “São só animais” “os animais morrem para
podermos salvar as pessoas, é algo que compensa”
• Se colocarmos em uma balança uma vida e outra,
tem como dizer que algum dos lados pesa mais?
• uma ideia fascinante de progresso que se constrói
na dor e exterminação de uma vida, fica até difícil
acreditar que isso seja tão melhor do que a dita
"não evolução" da ciência.
• Sempre tem como diminuir o sofrimento de uma
vida. E não é nossa responsabilidade como
médicos diminuir o sofrimento? Nossa
responsabilidade é com pessoas ou com a vida
como um todo?
• Existem alternativas para o uso de animais em
universidades?
“O que me preocupa não é o
grito dos violentos. É o silêncio
dos bons”. Martin Luther King
40. DEVEMOS ABRIR MÃO DA
TÉCNICA?
“Conheça todas as teorias, domine todas as
técnicas, mas ao tocar uma alma humana seja
apenas outra alma humana.”
Carl Jung
43. OBRIGADO
“ Nós somos responsáveis por tudo e por
todos e eu mais do que os outros.”
Dostoiévski
Notes de l'éditeur
NA DEFINIÇÃO DE POTTER, UMA PONTE DAS CIÊNCIAS MÉDICAS PARA AS CIÊNCIAS HUMANAS, ORA TUDO QUE É HUMANO ME IMPORTA.
Sendo assim, os desafios que a bioética enfrenta no século XXI são inúmeros, mas vamos nos ater aquele, que para nossa profissão talvez seja o mais intenso: como mudar o paradigma da formaçao médica e privilegiar a formação de médicos mais humanos?
Sendo assim, essa reflexão sobre a bioética no século xxi, ao meu ver, precisa passar pela reflexão sobre o que estamos fazendo conosco, com a classe médica, com nossa formação humana. Por isso, poderíamos ter outro tema aqui: a arte perdida do cuidar.
Sendo Aristotélico e pensando que virtude se aprende no colo da mãe, podemos ensinar essa arte aos profissionais adultos que chegam até a universidade? Isso é possível? Acredito que sim, mas não com o modelo vigente.
Um grande cientista, pesquisador nato e que no fim da vida se questiona se esse é o caminho que a medicina deveria seguir.
Essa submissão a ciência, perversa por si só, já que a ciência é um braço da humanidade e o fim último da humanidade é ela mesma e não o lucro, ciência, mercado etc. Tem sua perversão maior na submissão aos interesses de indústrias farmacêuticas, nas pesquisas pelo bem da ciência e nao do homem. Lembram do incêndio da base brasileira na antardida? Houve uma morte e no mesmo instante uma cientista dizia que a perda para aciência era irreparável…a vida humana nao o era.
Odeio o house, é o tipo de médico que nao quero ser. Preocupado em usar todas as teconologias, burlando todos os comportamentos éticos para conseguir apenas o seu próprio interesse. Precisamos de mais teconologia? Precisamos de médicos narcisistas que acreditam que sao o centro da relação médicoxpaciente? Que zombam dos pacientes com queixas psíquicas, sem identificar que isso é um sintomas de uma patologia maior, uma patologia da alma? Que aparelhos, que tecnologias nos afastaram do humano?
A grande pergunta não está em podemos fazer? Mas em: devemos fazer? Um avanço acrítico é o caminho correto?
Walter Benjamin já se questionava isso antes da segunda guerra mundial que culminou na energia atômica e na bomba atômica, jogada sobre civis em uma cidade (com crianças, idosos, mulheres grávidas, enfermos), quem é o Estado Terrorista aqui?
Uma característica da ciência, incluindo a médica, é de que tudo o que você replica, tem qualidade. Uma vez que se encontra a mesma resposta a um tratamento em 1 milhão de pessoas, o mesmo sintoma em uma doença ou a mesma expectativa de vida após um evento, isso se torna cientifico, inquestionável, uma medicina baseada em evidencias e certezas. Já na arte, a replicação é a desvalorização e perda da essência, sendo o primordial a preservação da singularidade.
No cuidado de seres humanos únicos entre si, mas em sua totalidade de ser, que outra forma temos de o receber e abriga-los sob nossas mãe e olhares que não na arte de cuidar? Sempre considerando sim todo o conhecimento baseado em evidencias para a possibilidade terapêutica como se fossem as mais diversas tonalidade de cores que compõe uma paleta, mas olhar para aquela obra de arte na sua frente, o paciente em sua individualidade, que precisa ser restaurada com a cor e quantidade certa para ela, escolha essa que para mais nenhuma outra obra serviria.
O setor da saúde é um dos que mais tem crescido na economia mundial. Números apontam “evoluções”, “desenvolvimento” e inovações. Mas o que está por trás de números frios que nos são apresentados? A arte de cuidar de outra pessoa realmente cabe em dados e estatísticas sem desumanizar-se? A assistência médica tem uma singularidade que não permite ser comparada com uma categoria econômica. A medicina é algo que não possui preço, pois não pode ser substituída por um equivalente, logo, possui dignidade.
O atendimento médico se diferencia de qualquer serviço prestado em indústrias, pois não se baseia em padronizações. O médico “não é o médico dos seres vivos em geral, nem mesmo o médico do gênero humano, mas o médico do indivíduo humano". Logo, nenhuma ação médica pode ser baseada no bem de uma maioria, ou pensando em um suposto progresso científico, mas sim no ser humano individual que procura o serviço do profissional.
Após um período de abertura indiscriminada e sem escrúpulos de faculdades de medicina, esse senhor organizou o sistema educcional médico, talvez fosse necessário naquele momento, mas ainda o é?
Essa necessidade de mudança de paradigma, náo é uma necessidade só da medicina, é uma necessidade da sociedade como umtodo. O caminho que escolhemos está nos matando e ao planeta. Nível de consumo insustentável, seca da cantareira, desastres climáticos etc. Embora vivamos, como indivíduos, cada vez mais – 70, 80, 90 anos…..de uma vida sempre voltada ao útil e náo ao que faz sentido.
O que pensamos não é em um novo código de ética e sim em uma nova ética, onde possamos entender a importância da alteridade, nossa responsabilidade para com o outro e com as futuras gerações.
TCLE apresentado aos médicos foi considerado de linguagem difícil pelos mesmos
História do berne
A partir do relatório flexner, 1910, até o século 21, tiemos diersas alterações nas universidades e conseguimos ver que iniciamos o século 21 com tantas lacunas na formação dos nossos médicos, que novas reformas precisavam acontecer, estavamos no século da ciência que crescia não só em inovações e descobertas, mas em novos desafios, mas os alunos que é quem a colocaria em prática não estavam acompanhando esse avanço em sua formação que ainda estava fragmentada, desatualizada e com currículos estáticos, além de falta de liderança e saber trabalhar em equipe.
1 milhão de médicos, enfermeiras, parteiras, profissionais de saúde pública no mundo por ano. Quatro paises, china, brasil, índia e EUA tem mais de 150 escolas médicas em cada um deles, enquanto em 36 países não há nenhuma.
A saúde é ter a superfície de todos os equipamentos modermos, mas nele o encontro de uma pessoa única que precisa de um atendimento, com outra a quem foi confiado oferecer esses cuidados, tanto por ser eficiênte em técnica, ética e responsabilidade social.
Mas todas as melhoras que aconteceram ficaram pequenas dentro das grandes necessidades com as quais entramos no século 21, principalmente em termos de desigualdades, pois se a cura para o alzheimer ou a esclero lateral aminiotrófica está quase nas mãos de países europeus, os rostos da áfrica sub-saariana ainda sofrem e morram por diarréias, fome, sede ou complicações nos partos. Se o ebola tem cura para um norte americano, na áfrica ainda é controlado com as pessoas doentes sendo cercadas com arames e deixadas para morrer. Corpors encineirados ou enterrados apressadamente, morrendo com eles parte da cultura como a cerimônia e o beijo ao morto que é feito na região. Mas é unâne a desqualificação.
Por isso em janeiro de 2010 foi lançada a comissão a educação dos profissionais de saúde para o século 21 com 20 representantes de todo o mundo
A primeira geração, lançada no início de
do século 20, incutiu um currículo baseado na ciência.
Por volta de meados do século, a segunda geração introduziu
inovações de instrução baseada em problemas. Uma terceira geração
agora é necessário que deve ser baseada sistemas.
A maioria dos países e instituições profissionais misturaram
padrões destas reformas. Em alguns países, a maioria
escolas estão totalmente confinados à primeira geração, com
currículos e métodos de ensino tradicionais e estagnadas
e com uma incapacidade, ou mesmo a resistência, a change.18,19
Muitos países estão incorporando segunda geração
reformas, e alguns estão se movendo para o terceiro generation.52-55
Nenhum país parece ter todas as escolas do terceiro
geração.
Quem sente a dor sou eu? É aqui que dói em mim? Quem diz o que é mais doloroso ? Perder a mãe ou perder o gato? Como medir a dor de alguém?
Livro de moliére.
A morte nunca é tranquila se a vida náo foi consumada. Nietzsche. Podemos viver 100 anos, se não fizerem sentido, a morte nunca será tranquila.
PIMBA: pé inchado, mulambo, bêbedo e atropelado.
Retorno do filho pródigo Rembrandt
Com quem é nossa responsabilidade? Com as empresas de material médico, com a indústria farmacêutica? Com o nosso salário? Ou com a alteridade e a humanidade?
Incluindo nossa responsabilidade para com os seres não humanos, temos o direito de utilizá-los em pesquisas e aulas?
Não há regra ou pré-conceitos, nos despimos (epoché) e nos sentamos frente ao outro para responder ao seu grito.
O médico deve cuidar de todas as suas faculdades, estudar muito, conhecer muito e ser muito humano. Nao se trata de endeusar ou demonizar a tecnologia, mas de colocá-la em seu devido lugar, um apêndice da humanidade.