Revista Estação - Edição 18 - Edição VI Vinum Brasilis
A arte de garimpar os bons vinhos
1.
2. ENOGASTRONOMIA
A ARTE DE GARIMPAR
OS BONS VINHOS
EspEcialista Ensina os truquEs para EscolhEr as mElhorEs opçõEs
Por Jackson Guedes - fotos divulGação
Lis Cereja tem apenas 24 anos, mas aprendeu rápido O seu grande desafio foi identificar em diferentes
a arte de garimpar pequenos tesouros, os bons vinhos regiões do Brasil e do interior da Europa pequenas
nacionais e estrangeiros, muitos deles desconhecidos do vinícolas que produzissem, de forma artesanal, uma
público em geral. Resultado: tornou-se uma empresária bebida sofisticada e ao mesmo tempo livre de aditivos,
de sucesso. Além de sommelier, é proprietária da Saint com ênfase na qualidade final para agradar aos mais
VinSaint, um misto de enoteca, importadora, distribuido- exigentes enólogos.
ra e um sofisticado bistrô. “As vinícolas pequenas fazem um trabalho artesa-
Para fugir do convencional, a especialista em vinhos nal de butique, de manufatura. Com certeza, expressam
apostou em um nicho pouco explorado pelos aprecia- muito melhor sua região do que grandes fábricas. Procu-
dores e distribuidores: os pequenos produtores brasi- rei priorizar aquelas que fazem o trabalho mais natural
leiros e europeus. possível, com menor carga de aditivo e menos modifica-
“Fomos buscar alternativas ao grande mercado, por- ção do vinho por serem autênticas”.
que hoje temos uma invasão de massivos vindos do Chi- Para Lis, muitos brasileiros não sabem apreciar um
le, Argentina e Europa e recebemos muita coisa ruim por bom vinho nacional, já que, por costume ou preconceito,
causa do preço. No padrão do novo mundo, os vinhos são voltam sua atenção para rótulos famosos de países euro-
muito iguais, quase não há diferença entre um Merlot, peus. A esses desavisados, ela dá o toque: várias vinícolas
Malbec ou Cabernet. Por isso buscamos vinhos que re- de diversas regiões, com maior concentração no Sul, têm
flitam o local de origem ao seu meio ambiente (terroir)”. conseguido destaque no Brasil e no exterior. Um deles é
De acordo com Lis, a importação resulta em um valor até a Villagio Grando, além de vinhos produzidos na Serra
15 vezes maior do que o original. Gaúcha, como Cavalleri, Don Giovanni e Churchill – “um
americano que trabalha com fabricação de barrica e fez
um vinho excepcional de apenas 600 garrafas”. Mas o
maior destaque é uma vinícola da Campanha Gaúcha:
Cordilheira de Santana.
A HARMONIA PERFEITA
Incentivada por uma tradição de família e mais tarde por
uma rica experiência acadêmica, Lis decidiu investir em
sua paixão por vinhos e se aventurar pelos caminhos da
fina gastronomia, que, como sabem, é dominada pelos
homens. Vencidos o preconceito inicial e as dificulda-
des de se impor, ainda jovem, nesse mercado, hoje é Lis
quem dá as cartas ... e o menu. Devido ao seu indiscutí-
vel savoir faire, muitos apreciadores vão à sua enoteca
para receber suas sugestões.
“Os brasileiros ainda estão se formando na arte de
beber vinhos. Não somos produtores por tradição, isso
interfere muito no conhecimento das pessoas. Mas nos
últimos 10 anos, surgiu uma certa moda de consumo
de vinhos, muitos procuram cursos, aprimoramento,
rótulos mais interessantes, é um público que cresce
cada vez mais”, detecta.
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3. A Enoteca Saint VinSaint é
um conjugado de butique
de vinhos, importadora
e wine bar. A charmosa
casa traz no nome uma
referência a São Vicente
de Zaragoza, patrono dos
vinicultores. Lis Cereja
montou um catálogo com
não mais que 100 rótulos.
O wine bar funciona as
quintas, sextas e sábados
a partir das 19 horas.
O empório, diariamente
(menos domingo), das
“Pinot noir, um coringa 10h às 19hs. Nas noites
de quinta e sexta, as
nos encontros românticos” conversas são embaladas
por um trio de jazz.
A harmonização de vinhos, uma das especialidades Á frente da cozinha o chef
da sommelier, é quase sempre uma dor de cabeça para Danilo Rolim prepara
aqueles que preparam um encontro romântico ou um pratos inspirados na alta
jantar para os amigos. Já acostumada a esse tipo de gastronomia francesa,
consultoria, Lis esclarece: “A harmonização é muito espanhola e italiana.
pessoal, primeiro é preciso saber quais tipos de vi-
nhos agradam quem vai tomar”.
ENOTECA SAINT VINSAINT
Dado o primeiro conselho, podemos
Rua Prof. Atílio Innocenti, 811
seguir para as regras básicas para o par Para a harmonização por semelhança, vale a dica: Vila Olímpia - São Paulo
perfeito: o equilíbrio entre menu e vi- quanto mais leve o prato, mais suave o vinho e o opos- Tel. (11) 3846-0384
nho, segundo Lis, pode ser obtido de to é verdadeiro. O maior erro cometido nessa hora, www.saintvinsaint.com.br
duas formas: por semelhança ou opo- todavia, é a combinação por cor.
sição. Um caso clássico de harmoniza- “Isso está totalmente errado. Claro que os vinhos
ção por oposição é a dupla composta de brancos são geralmente mais leves e carne branca tam-
queijo forte (roquefort ou gorgonzola) bém, mas temos intermediários de vinho branco super-
com vinho do Porto: “queijo salgado potentes e tintos superleves”, ensina. Um exemplo disso
com vinho doce para não saturar o é o Pinot Noir, quase um coringa dos vinhos, harmoniza
paladar. Se tomarmos só o vinho, sa- com muita coisa: peixe, vitela, tortas e legumes.
tura, enjoa e paramos de beber; com o
queijo é a mesma coisa. Quando mes- VINHO BOM É AQUELE QUE VOCÊ GOSTA
clamos, atinge-se equilíbrio”. Uma garrafa de vinho vale a bagatela de R$ 50 mil?
Para Lis, vale se você estiver comprando pelo nome, já
que acima dos R$ 500, a diferença entre um vinho e
outro é quase mínima. “A diferença é muito pequena,
se você não for muito especialista e realmente souber
o que está tomando, não vale a pena”.
Uma alternativa para quem não quiser torrar di-
nheiro com um rótulo importado é procurar por vi-
nhos nacionais na faixa entre R$ 40 e R$ 70. “Exis-
tem vinhos nessa faixa que são excelentes! Aqui na
Saint VinSaint também vendemos importados muito
bons sem serem massivos, em uma faixa de R$ 50.
Mas uma dica é beber o que lhe agrada. Vinho bom é
aquele que você gosta”.
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