1. Texto não publicado
Autor – Joaquim Colôa
2003/2004
___________________________
1
Problemas Neuromotores
Definição da problemática
As crianças e jovens com problemas neuromotores, apresentam limitações
de funcionamento no sistema ósseo-articular, muscular e/ou nervoso o que em
graus variáveis limita algumas das actividades que podem realizar os restantes
sujeitos da mesma idade em idêntico contexto sociocultural. Assim, a
problemática do domínio motor é entendida como “a perca de capacidades,
resultante de uma lesão congénita ou adquirida nas estruturas efectoras,
reguladoras ou executoras do acto motor nos sistemas nervoso ou ósteo-muscular
afectando directamente a postura e/ou o movimento” (Rodrigues,1998).
Este tipo de problemática compreende uma diversidade de situações que
podem ser referenciadas tendo em conta o momento em que aparecem, a sua
etiologia, a sua localização topográfica ou a sua origem.
Com base na Classificação Internacional da Funcionalidade,
Incapacidade e Saúde (OMS, 2001) podemos referir que os problemas motores
decorrem de limitações ao nível das funções do corpo:
das articulações e da estrutura óssea (mobilidade das articulações e
estabilidade das suas funções);
da força, do tónus e da resistência muscular,
do movimento (reflexos motores, reacções motoras involuntárias,
controlo do movimento voluntário, movimentos involuntários, padrão
de marcha e sensações relacionadas com os músculos e o seu
movimento).
As referidas limitações, podem ter repercussões ao nível da actividade e
da participação especificamente no que se refere a:
2. Texto não publicado
Autor – Joaquim Colôa
2003/2004
___________________________
2
mudar as posições básicas do corpo;
manter a posição do corpo;
proceder a auto-transferências;
levantar e transportar objectos;
mover objectos com os membros inferiores;
realizar acções coordenadas de motricidade fina;
utilizar em acções coordenadas a mão e o braço;
andar;
deslocar-se excluindo a marcha.
Características das crianças e jovens com limitações no domínio motor
As crianças e jovens com limitações no domínio motor apresentam um
quadro complexo, especifico e bastante individualizado decorrente de
alterações nas funções motoras que, de modo variável, limitam algumas das suas
actividades e interacções. Deste modo, a característica mais significativa são as
alterações no aparelho motor.
Estas crianças e jovens apresentam, prioritariamente, dificuldades na
execução de alguns movimentos ou ausência dos mesmos. Estas características
podem apresentar graus variáveis de gravidade. Nesta perspectiva não
podemos generalizar, já que em cada criança ou jovem se podem observar
funcionalidades diferentes. Realçando-se, assim, a importância de rentabilizar
movimentos residuais que em cada tipo de execução é capaz de realizar cada
criança e jovem concreto.
Estas crianças e jovens podem apresentar associados outros problemas,
sejam emocionais, de comunicação (sobretudo linguagem oral) e/ou cognitivos.
É de referir que quando esta última área se apresenta muito afectada a
situação é, normalmente, enquadrada no âmbito da multidificiência. No
3. Texto não publicado
Autor – Joaquim Colôa
2003/2004
___________________________
3
entanto, como refere Sánchez (1990) devemos evitar interpretações precipitadas
relativamente às capacidades cognitivas destas crianças e jovens, e não nos
basearmos, somente, nas suas manifestações externas.
De modo geral as limitações são observadas, sobretudo, ao nível da
autonomia, da mobilidade e da manipulação. Quando existem graves
problemas de comunicação associados, o acesso à informação revela-se
limitado bem como todas as interacções com o meio ambiente.
Respostas educativas
As respostas educativas devem realçar, em primeiro, as necessidades
básicas como o afecto, a nutrição e a segurança. As necessidades de
desenvolvimento social, emocional e físico devem ser consideradas no decorrer
de qualquer intervenção.
Qualquer tipo de intervenção deve ser equacionada de modo integrado
considerando-se o ambiente familiar e outros contextos da comunidade. É
também importante considerar-se a idade, os interesses, as actividades de rotina
e outros serviços (fisioterapia, terapia da fala, etc.) em que a criança ou o jovem
habitualmente interagem.
O processo de intervenção educativa (tempos, estratégias,...) deve
reflectir a colaboração com outros serviços/técnicos (fisioterapia, terapia da fala,
etc.). Nesta perspectiva, parece-nos importante proceder-se ao
(re)conhecimento dos recursos, existentes na comunidade, que se constituam
como necessários e prioritários.
A cooperação com estes serviços deve basear-se em práticas de
rentabilização e integração de sinergias no sentido de facilitar a participação e
não se tornarem mais um factor de stress para a criança ou jovem, para a escola
e/ou para a família. A planificação da intervenção deve, ainda, reflectir níveis de
4. Texto não publicado
Autor – Joaquim Colôa
2003/2004
___________________________
4
responsabilidade e cooperação dos suportes formais e informais, tendo-se em
conta as necessidades da criança e do jovem e os recursos da comunidade.
As crianças e os jovens bem como as suas famílias devem desempenhar
um papel proactivo no processo de intervenção. O melhor recurso para um
apoio (estratégias, actividades e serviços) de sucesso, que responda às
necessidades destas crianças e destes jovens são as forças/competências da
família.
No entanto, estas crianças e jovens apresentam características que
apelam a respostas mais específicas, no sentido de valorizar os seus recursos
funcionais e intelectuais permitindo, ainda que com a ajuda de Tecnologias de
Apoio, ganhem maior autonomia. Nesta perspectiva, estas crianças e jovens,
necessitam, normalmente, de Tecnologias de Apoio para aceder o mais possível
às mesmas oportunidades que os seus pares. Estas tecnologias podem ser
auxiliares:
De tratamento de treino que permitem a reabilitação e que podem ser
conjugadas com situações de optimização da autonomia
(posicionadores verticais, multiposicionadores, coletes moldáveis, etc.).
Para cuidados pessoais de protecção que facilitam a autonomia em
rotinas e protegem as crianças ou jovens de agressões decorrentes de
movimentos não controlados e/ou de posicionamentos incorrectos
(abotoadores, almofadas ortopédicas, etc.).
Para a mobilidade que permitem obter maior autonomia em questões
de mobilidade (cadeira de rodas, andarilho, bengala, etc.).
Para melhorar o ambiente que permitem maior autonomia ao nível das
interacções sociais e aceder a maior número de contextos
(elevadores, rampas, mesas adaptadas, cadeiras de banho, etc.).
5. Texto não publicado
Autor – Joaquim Colôa
2003/2004
___________________________
5
Para comunicação, informação e sinalização que permitem uma
comunicação mais eficaz (tabelas de comunicação, quadros de
conceitos, calendários de actividades, sistemas de comunicação
aumentativa, digitalizadores da fala, etc.).
É de realçar que uma resposta educativa de qualidade implica,
inevitavelmente, os aspectos organizativos dos serviços, nomeadamente da
escola. Estes vão afectar positiva ou negativamente a funcionalidade da criança
ou do jovem. Assim, é necessário ter em atenção o modo como são organizados
os espaços relativamente a questões do acesso à maioria dos espaços e da
participação em todas as actividades. Esta situação apela, por vezes, à
necessidade de se proceder a adaptações arquitectónicas (casas de banho e/
ou espaços de muda de fraldas, portas, etc.), do mobiliário, do material
didáctico, etc.
Nas escolas é também preponderante ter em atenção a forma como são
organizadas as turmas e relativamente a estas os tempos e os horários bem como
os serviços adicionais na sua generalidade. É necessário termos presente que
estas crianças ou jovens, devido aos serviços de apoio adicionais (fisioterapia,
treino na área das TIC, etc.) a que normalmente têm que recorrer, podem ser
excluídos de grande parte das actividades experienciadas pelos seus pares.
NOTA: este documento foi elaborado para ser inserido na página Web do Ministério da Educação / na área das
Necessidades Educativas Especiais