1. Resumo baseado no livro:
Imunologia para Estudantes de Medicina
CAPÍTULO 1 - Conceitos Básicos e Componentes do Sistema Imune
O sistema imune inato é a primeira linha de defesa do organismo. É formado
pela pele, mucosas, leucócitos fagocíticos (macrófagos e neutrófilos), proteínas do
complemento (proteínas solúveis no soro) e interferons (são moléculas pequenas. Ex.:
citocinas). Os leucócitos fagocíticos transportam moléculas de reconhecimento que
detectam estruturas comumente encontradas nas superfícies das bactérias (estruturas
comuns aos grupos de organismos), enquanto a imunidade adquirida é específica para
diferentes antígenos, sendo acentuada por repetidas exposições ao antígeno (memória
imunológica). A imunidade inata na maioria das vezes consegue destruir os organismos
invasores, mas quando não consegue, ativa o sistema imune adaptativo por meio de
citocinas (que são moléculas mensageiras) e das proteínas do complemento, logo
esses dois sistemas não são independentes.
O sistema imune adaptativo confere especificidade e memória, porém sua
mobilização é mais demorada (a mobilização completa demora 7-10 dias). É formada
por linfócitos B e T. Esse sistema apresenta memória de um encontro prévio com um
Ag, sendo isso a base da vacinação e a base para o organismo se proteger de nova
infecção (ex.: varicela e vírus da gripe), sendo também relacionado aos mecanismos de
reação cruzada. O vírus influenza é capaz se mudar radicalmente seus Ag, não sendo
combatido pela memória imunológica. A resposta ao segundo contato é mais rápida e
de maior magnitude, sendo que a infecção pode ser limitada ou até mesmo evitada.
O estudo do sistema imune ajudou no desenvolvimento de vacinas, no
resultado de transplantes, no desenvolvimento de drogas antialérgicas, na fabricação
de Ac monoclonais, e no tratamento do câncer e de doenças auto-imunes.
O sistema imune diferencia o próprio do não-próprio. Antecipa Ag criando um
repertório de receptores, que se ligam a epítopos (pequenas porções do Ag, são
determinantes antigênicos).
Tipos de receptores de Ag:
- Ac (receptor de Ag de célula B)
- receptor de Ag da célula T
- produtos protéicos do MHC (região gênica, seus genes são chamados de HLA)
2. Os Ac são encontrados solúveis no sangue. Cada linfócito possui um receptor
de Ag diferente, sendo isso chamado de distribuição clonal. Quando o Ag entra em
contato com um linfócito B que possui um receptor específico para ele, esse linfócito
se divide formando células-filhas (clones), as quais produzirão receptores solúveis. No
caso das células T, muitas células-filhas são formadas transportando o receptor
específico em sua superfície.
O receptor de célula B (Ac) age diretamente com o Ag. O receptor de célula T só
reconhece o Ag quando este é apresentado na superfície de outra célula pelas
moléculas do MHC.
As células do sistema imune também reconhecem alterações do que é próprio,
caso do câncer, onde as células tumorais apresentam Ag próprios modificados, que
quando são reconhecidos pelo sistema imune, a cadeia tumoral é eliminada.
Se o sistema imune reconhecer o próprio como estranho (reconhecimento
desregulado), surgem as doenças auto-imunes, como o diabetes mellitus.
CAPÍTULO 2 - Conceitos Básicos
A imunidade inata age rapidamente, assim macrófagos teciduais reconhecem a
infecção através de moléculas reconhecedoras que reconhecem os epítopos. Esse
sistema utiliza moléculas inespecíficas de reconhecimento de patógenos, células
fagocíticas (macrófagos e neutrófilos), interferons e as proteínas do complemento.
Também é formado pelas células destruidoras naturais (NK), que lisam células
infectadas por vírus. O interferon é produzido por células infectadas por vírus, ele inibe
a infecção viral e não é patógeno-específico.
Caso não consiga eliminar os invasores ou se os invasores encontrarem uma
forma de evitar interação com o sistema inato, os componentes do sistema inato
ativam o sistema adaptativo.
O sistema imune adaptativo se caracteriza por especificidade (discrimina
diferentes entidades moleculares), diversidade (responde a quase todos os Ag) e
memória (consegue lembrar de contato prévio com o Ag e apresenta resposta mais
forte na segunda vez, sendo esse o princípio das vacinas). Ele é capaz de diferenciar o
próprio do não-próprio. O genoma possui muitos genes que codificam um grande
número de moléculas (sistema de defesa antecipatório, que codifica receptores de
células T, Ac e proteínas do MHC) capazes de reconhecer qualquer Ag, inclusive os
próprios. Também existem mecanismos moleculares que permitem que o Ac sejam
modificados para melhor encaixe com o Ag. A diversidade da resposta adaptativa é
determinada pela duplicação gênica na linhagem germinativa e por mutações
somáticas (modificam os genes para certos receptores e melhoram seu encaixe no Ag).
3. A resposta adaptativa antecipa a síntese de receptores para Ag antes da
exposição aos mesmos, sendo que essas moléculas protetoras podem ser modificadas
durante a resposta imune para melhorar o encaixe.
Cada linfócito expressa um único tipo de receptor de Ag (receptor é expresso
clonalmente no linfócito). O Ag se liga ao linfócito que transporta o receptor que
melhor se encaixe a ele, aí esse linfócito pré-existente se divide e dar origem a muitas
células filhas (clones). Assim, o linfócito sofre expansão clonal tornando disponível
mais do receptor específico para o Ag encontrado.
O problema do sistema antecipatório com receptores pré-existentes é o risco
de gerar receptores antipróprios, causando doença auto-imune.
Teoria da seleção clonal: explica o desenvolvimento da capacidade de
reconhecer e responder de forma específica ao não-próprio, produzindo clones de
células que possuem o receptor específico para o Ag.
O sistema imune é composto de células e moléculas solúveis. Os macrófagos e
neutrófilos destroem os organismos invasores através da fagocitose. Os linfócitos B e T
determinam imunidade específica. Os Ac são produtos das células B e determinam a
imunidade humoral. As células T determinam a imunidade celular e eliminam
patógenos intracelulares. As células apresentadoras de antígenos (ex.: células
dendríticas da pele e macrófagos) são criticas para ativar as células T, elas captam o Ag
e o processam (degradação proteolítica), pois só assim as células T são capazes de
reconhecê-lo. Os receptores de células B (Ac) ligam-se diretamente ao Ag.
A imunidade pode ser ativa ou passiva:
- Imunidade ativa: o indivíduo participa diretamente da resposta imune.
- Imunidade passiva: imunidade transferida de um indivíduo imunizado para outro não
imunizado, por exemplo, Ac anti-hepatite B é fornecido após lesão por picada de
agulha, que gera imunidade mais rapidamente, do que se o indivíduo tivesse que
produzir seus próprios anticorpos.
Fases da resposta imune:
- fase cognitiva: reconhecimento do Ag. O Ag encontra uma célula com receptor que se
encaixe a ele, essa célula é ativada e prolifera.
- fase de ativação: é a produção de mais e mais do mesmo clone de células. As células
sofrem alterações (diferenciações) para permitir uma resposta. Ex.: as células B se
transformam em plasmócitos, que sintetizam e secretam Ac.
- fase efetora: Ac eliminam os Ag.
4. CAPÍTULO 3 - Introdução ao Reconhecimento do Antígeno
O sistema inato é formado por células fagocíticas e proteínas (ex.: proteínas do
complemento).
As proteínas do complemento formam cascatas protéicas para originar uma
resposta amplificada. Pode se ligar a bactérias formando orifícios na membrana, atrai
fagócitos para o material estranho e ajuda a eliminar imunocomplexos (Ag-Ac)
evitando que lesem o corpo. Um exemplo de proteína do complemento é a lectina
ligadora de mananas, que reconhecem resíduos de manose das moléculas da cápsula
bacteriana, sendo que a ligação ajuda a destruir as bactérias ou a recrutar fagócitos.
Nossas próprias células, normalmente, não são atacadas porque possuem proteínas
que inativam o complemento, evitando auto-lesão.
O sistema inato ataca de forma inespecífica os invasores, mas não protege
contra muitas infecções. Na maioria das vezes remove o agente infeccioso, mas não
responde especificamente.
O sistema adaptativo depende do rearranjo dos genes para gerar um grande
número de receptores pré-existentes (repertório), expressos nos linfócitos que podem
identificar qualquer Ag.
Existem 3 grupos de moléculas que reconhecem especificamente Ag:
- receptores de células T
- receptores de célula B
- receptores codificados pelo MHC (apresentam os peptídeos antigênicos processados
às células T).
Receptores de células B e T:
A imunidade adaptativa depende da seleção clonal para ser eficiente. Cada célula B ou
T expressa um único tipo de receptor diferente. A diversidade dos receptores é gerada
pelo rearranjo gênico, permitindo que um número alto de receptores seja produzido
por um número limitado de genes. Acredita-se que existem receptores de células B e T
suficientes para identificar todos os Ag. Não precisa existir receptores para cada Ag de
um micróbio, o sistema imune só precisa identificar um Ag para proteger o hospedeiro.
Os genes que codificam os receptores das células B durante a resposta imune sofrem
um processo chamado de hipermutação, para criar receptores que se adaptam ainda
melhor ao Ag, aumentando a especificidade.
Receptores codificados pelo MHC:
5. Foram denominados assim em função da rejeição a enxertos (compatibilidade) e de
tecidos (histo). Exsitem duas classes, o MHC de classe I (presente em todas as células)
e o MHC de classe II (encontrados principalmente em células B, macrófagos e células
dendríticas). A função dos receptores codificados pelo MHC é apresentar peptídeos
antigênicos às células T. Os genes do MHC são os mais variáveis do genoma humano,
são polimórficos (alelos múltiplos do mesmo gene), porém a diversidade existe na
população como um todo, não em um mesmo indivíduo. A maioria dos indivíduos
apresentam cerca de 12 moléculas MHC classe I e classe II diferentes nas superfícies de
algumas de suas células linfóides, ao contrário dos receptores de células B e T, que são
diferentes em cada linfócito do indivíduo. Todos os alelos do MHC são os mesmos em
um mesmo indivíduo, mas são diferentes entre as pessoas, assim existem indivíduos
mais susceptíveis a uma determinada doença que outros.
CAPÍTULO 4 - Antígenos e Estrutura dos Anticorpos
Anticorpos são proteínas Ag-específicas produzidas pelos linfócitos B em
resposta ao contato com o Ag. Circulam no sangue e na linfa.
Antígenos são moléculas estranhas que podem ou não deflagrar resposta
imune. Os imunógenos sempre deflagram.
Haptenos são moléculas pequenas que não conseguem desencadear resposta
imune por si só, somente se estiverem ligadas a macromolécula.
Epítopo: parte de um Ag, na qual o Ac pode interagir. Uma proteína pode ter
vários epítopos capazes de interagir com Ac específicos diferentes.
Os epítopos podem ser:
- descontínuos ou conformacionais
- contínuos ou lineares
As células T reconhecem apenas epítopos lineares. As células B reconhecem os
dois tipos de epítopos.
Ocasionalmente um Ag pode induzir uma resposta imune fraca. Adjuvantes
fornecem estímulos ao sistema imune, aumentando a sua resposta, quando
administrados junto com o Ag.
Anticorpo é sinônimo de imunoglobulina (Ig). Os anticorpos reagem
especificamente com a proteína que estimulou sua produção. Eles correspondem
6. cerca de 20% das proteínas plasmáticas. Os Ac originados em resposta a um único Ag
complexo (proteína com muitos epítopos) possuem estrutura química e especificidade
diferentes, pois são formados por clones diferentes de células B.
Estrutura dos anticorpos:
- Possuem 2 cadeias leves (L) e 2 cadeias pesadas (H), que estão ligadas por pontes
dissulfeto intermoleculares.
- As cadeias L podem ser: capa (κ) ou lambda (λ).
- As cadeias pesadas podem ser:
- γ: IgG
- α: IgA
- δ: IgD
- ε: IgE
- μ: IgM
- Os dois tipos de cadeias L são encontrados nas 5 classes de Ig, mas cada Ac só possui
um tipo de cadeia leve.
As Ig possuem partes com funções diferentes:
- Fab: liga-se ao Ag
- Fc: liga-se ao complemento, aos receptores encontrados nos macrófagos e em várias
outras células.
Estudos de seqüenciamento de aminoácidos das cadeias L e H de Ac diferentes
mostraram que elas são diferenciadas em regiões cuja sequência de aminoácidos é
muito variável (V) e regiões que são constantes (C).
As regiões C se ligam a proteínas do complemente e as V ligam-se aos Ag. As
regiões V são importantes para a capacidade de resposta a um enorme número de Ag
diferentes.
Numa análise tridimensional observou-se que os Ac apresentam segmentos
denominados domínios. A cadeia L é composta por um domínio V e um C, e a cadeia H
é composta por um domínio V e três ou mais domínios C. esses domínios são formados
por aminoácidos e estão ligados por segmento de cadeia polipeptídica.
7. Os Ac podem estar solúveis na circulação ou estar nas superfícies das células B.
Se as bactérias estiverem revestidas por Ac, pode aumentar a probabilidade de serem
pegas por células fagocíticas (opsonização).
Os Ac podem ativar o complemento e iniciar uma reação lítica, que destrói a
célula a qual eles estão ligados.
As 5 classes de Ac apresentam funções diferentes:
- IgM: É o Ac predominante na fase inicial de uma resposta imune. Possui 10 locais de
ligação a Ag, por isso é o Ac mais potente para aglutinar bactérias e ativar o
complemento.
- IgG: é o Ac mais prevalente no soro. Cruza a placenta permitindo a proteção materna
do RN.
- IgA: principal Ig das secreções, como saliva, leite, lágrimas e epitélio mucoso
(intestinal, respiratório e genital).
- IgD: encontra-se na superfícies das células B.
- IgE: relacionado aos processos alérgicos. Sua porção Fc liga-se a receptores de
mastócitos e basófilos na presença de Ag, ocorrendo a liberação de histamina.
Também protege contra infecções parasitárias.
Enfim, as Ig interagem com vários tipos de células por meio do receptor de Fc
presente nas células. Isso recruta as células e seus produtos, como macrófagos
inflamatórios e citocinas, para compor a resposta protetora contra Ag estranhos.
João Anderson França Machado