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A Estrada Marginal que, prolongando a
AvenidadaÍndiaatéaointeriordaVilade
Cascais, alterou o panorama turístico da
Costa do Sol, custou perto de 40 000 con-
tos e ficou a dever-se ao espírito esclareci-
do do Engenheiro Duarte Pacheco e à su-
perintendência do abalizado Engenheiro
Paulo Serpa Pinto Marques.
DeacordocomopareceremitidopeloMi-
nistériodasObrasPúblicasdeentão,ano-
víssima estrada devia complementar os
novos acessos através da auto-estrada
que nessa altura se começou a construir,
oferecendo os melhores “preceitos técni-
cos de construção e de conservação”, bem
como os mais modernos fundamentos de
uma fruição estética e paisagística que su-
portasse o desenvolvimento turístico da
região. Pretendia-se, com a construção
bem planeada da Estrada Marginal, ofe-
recer aos viajantes os melhores panora-
mas da Costa do Sol, com curvas e rectas
que “foram estudadas para promover um
efeito cenográfico que a torne encantado-
ra, concorrendo para o incremento e ex-
pansão da fama da Costa do Sol”.
De facto, a construção da Estrada Margi-
nal veio alterar por completo os contornos
urbanos dos actuais Concelhos de Cascais
eOeiras.Paraalémdefacilitaroacessoau-
tomóvel relativamente a Lisboa, abrindo
assim as portas para um incremento urba-
nizador que se consubstancializa no
PUCS–PlanodeUrbanizaçãodaCostado
Sol (que esteve em vigor até 1997!) o novo
arruamento foi planeado e construído
com um efectivo leque de preocupações
patrimoniais.
A filosofia do projecto original, no qual
teve interferência directa o próprio Mi-
nistro das Obras Públicas, era a de reno-
var totalmente a paisagem turística da zo-
na a ocidente de Lisboa sem, no entanto,
descurar a conservação do aspecto das
partes urbanas antigas da Vila de Cascais
e de outras partes do Concelho.
Como se pode ler na grande maioria das
obras de referência da propaganda da-
quela época, Duarte Pacheco pretendia
me-lhorar e embelezar sem arrasar e des-
truir, “porque são exactamente as feições
simples do casario, das vielas, becos, etc.,
e das grandes edificações antiquadas, que
causam no espírito dos turistas impressõ-
es agradáveis, por estarem fartos de ver
nos seus países artísticos edifícios, gran-
des boulevards e praças, etc.”
A Estrada Marginal dos anos 40 possui
assim uma dupla polaridade urbana: a
componente de gestão de tráfego, que as-
sim encontra uma forma agradável e rá-
pida de aceder ao Concelho de Cascais; e
uma componente turística, que se funda-
menta na necessidade de recriar um am-
biente de excepção através da conjuga-
ção da modernidade construtiva com os
aspectos mais tradicionais do patrimó-
nio histórico e arquitectónico existente
na região.
MEMÓRIAS
Pedra & Cal n.º 19 Julho . Agosto . Setembro 2003
32
A Construção da Estrada Marginal – 1940
O Monte Estoril no final do séc. XIX. Antes da construção da Estrada Marginal.
A Estrada Marginal em Caxias
na data da inauguração.
O ano de 1937 foi fulcral no panorama das obras públicas do Concelho de Cascais. Com a promul-
gação do Decreto n.º 27 704, fica instituída a Zona de Turismo de Cascais, conhecida como Costa do
Sol, e inicia-se o projecto de construção da novíssima Estrada Marginal. A paisagem muda radical-
mente, mas o traçado da nova via articula-se com as existências tradicionais do Concelho de Cascais.
Outros tempos!…
Tema de Capa
Quando o progresso
se une à tradição
Cascais
Um
Século
de
Turismo
MEMÓRIAS
33
Pedra & Cal n.º 19 Julho . Agosto . Setembro 2003
O próprio perfil do novo arrua-
mento, com os seus 20 quilóme-
tros de comprimento, e com
uma faixa de rodagem betumi-
nosa com cerca de 12 metros de
largura, complementada com
passeios laterais empedrados
com dois metros, dá-lhe um as-
pecto de grande imponência,
que contrasta com os envelhe-
cidos traçados das antigas es-
tradas de traça real que prolife-
ram em toda a envolvência de
Lisboa.
As principais consequências da
construção da Estrada Margi-
nal são bem visíveis nos muitos
documentos emitidos pelo Mi-
nistériodasObrasPúblicas.An-
tevendo a radical alteração da
face urbana dos concelhos que a
atravessa, Duarte Pacheco ad-
voga a criação simultânea de
umaalternativarodoviáriaatra-
vés da nova auto-estrada do Es-
toril,queaindaconstruiunotro-
ço que ia desde a zona das Amo-
reiras até ao Estádio Nacional,
na Cruz Quebrada, bem como a
aprovaçãodoreferidoPUCS.Entendiaele
que, com os novos acessos, se assistiria
a um aumento substancial da área urbani-
zada e que, por isso, eram necessárias
medidas que garantissem a harmonia do
conjunto e o equilíbrio urbano no espaço
envolvente.
Longe de se aperceber da longevidade
dos seus actos, Duarte Pacheco faleceu
prematuramente com o seu projecto se-
miconstruído. À inauguração da Estrada
Marginal, em 1940, já não se juntou a
inauguração da nova auto-estrada; e aos
avanços da urbanização, o PUCS não con-
seguiu dar uma resposta consequente.
AoofereceraCascaisascondiçõesquelhe
permitiram vir a usufruir de uma posição
de grande privilégio no panorama turísti-
co nacional, a inauguração da Estrada
Marginal trouxe consigo a urbanização
maciça, a destruição do património, e
uma mole de população totalmente des-
provida de laços efectivos com o seu es-
paço de habitação.
Actualmente, com os seus congestiona-
mentos constantes e o seu perfil pensado
para serenos passeios de fim-de-tarde, a
Marginal transformou-se numa espécie
de via longitudinal onde imperam os aci-
dentes, e onde a paisagem se tem vindo a
“betonizar” paulatinamente…
Tema de Capa
JOÃO ANÍBAL HENRIQUES,
Departamento de Património
da Fundação Cascais.
A Estrada Marginal na Vila de Cascais na data da inauguração.
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O Estoril antes da Marginal:
O enterro do General Sanjurjo em 1936.
A Estrada Marginal em Caxias
na data da inauguração.
Comissão
de
Propaganda
de
Cascais
Guilherme
Cardoso
–
Cascais
Passado
a
Preto
e
Branco
Cascais
Um
Século
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Turismo
Cascais
de
Sempre
C.M.C.
Guilherme
Cardoso
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Passado
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Quando o progresso se une à tradição - Construção da Estrada Marginal em 1940

  • 1. A Estrada Marginal que, prolongando a AvenidadaÍndiaatéaointeriordaVilade Cascais, alterou o panorama turístico da Costa do Sol, custou perto de 40 000 con- tos e ficou a dever-se ao espírito esclareci- do do Engenheiro Duarte Pacheco e à su- perintendência do abalizado Engenheiro Paulo Serpa Pinto Marques. DeacordocomopareceremitidopeloMi- nistériodasObrasPúblicasdeentão,ano- víssima estrada devia complementar os novos acessos através da auto-estrada que nessa altura se começou a construir, oferecendo os melhores “preceitos técni- cos de construção e de conservação”, bem como os mais modernos fundamentos de uma fruição estética e paisagística que su- portasse o desenvolvimento turístico da região. Pretendia-se, com a construção bem planeada da Estrada Marginal, ofe- recer aos viajantes os melhores panora- mas da Costa do Sol, com curvas e rectas que “foram estudadas para promover um efeito cenográfico que a torne encantado- ra, concorrendo para o incremento e ex- pansão da fama da Costa do Sol”. De facto, a construção da Estrada Margi- nal veio alterar por completo os contornos urbanos dos actuais Concelhos de Cascais eOeiras.Paraalémdefacilitaroacessoau- tomóvel relativamente a Lisboa, abrindo assim as portas para um incremento urba- nizador que se consubstancializa no PUCS–PlanodeUrbanizaçãodaCostado Sol (que esteve em vigor até 1997!) o novo arruamento foi planeado e construído com um efectivo leque de preocupações patrimoniais. A filosofia do projecto original, no qual teve interferência directa o próprio Mi- nistro das Obras Públicas, era a de reno- var totalmente a paisagem turística da zo- na a ocidente de Lisboa sem, no entanto, descurar a conservação do aspecto das partes urbanas antigas da Vila de Cascais e de outras partes do Concelho. Como se pode ler na grande maioria das obras de referência da propaganda da- quela época, Duarte Pacheco pretendia me-lhorar e embelezar sem arrasar e des- truir, “porque são exactamente as feições simples do casario, das vielas, becos, etc., e das grandes edificações antiquadas, que causam no espírito dos turistas impressõ- es agradáveis, por estarem fartos de ver nos seus países artísticos edifícios, gran- des boulevards e praças, etc.” A Estrada Marginal dos anos 40 possui assim uma dupla polaridade urbana: a componente de gestão de tráfego, que as- sim encontra uma forma agradável e rá- pida de aceder ao Concelho de Cascais; e uma componente turística, que se funda- menta na necessidade de recriar um am- biente de excepção através da conjuga- ção da modernidade construtiva com os aspectos mais tradicionais do patrimó- nio histórico e arquitectónico existente na região. MEMÓRIAS Pedra & Cal n.º 19 Julho . Agosto . Setembro 2003 32 A Construção da Estrada Marginal – 1940 O Monte Estoril no final do séc. XIX. Antes da construção da Estrada Marginal. A Estrada Marginal em Caxias na data da inauguração. O ano de 1937 foi fulcral no panorama das obras públicas do Concelho de Cascais. Com a promul- gação do Decreto n.º 27 704, fica instituída a Zona de Turismo de Cascais, conhecida como Costa do Sol, e inicia-se o projecto de construção da novíssima Estrada Marginal. A paisagem muda radical- mente, mas o traçado da nova via articula-se com as existências tradicionais do Concelho de Cascais. Outros tempos!… Tema de Capa Quando o progresso se une à tradição Cascais Um Século de Turismo
  • 2. MEMÓRIAS 33 Pedra & Cal n.º 19 Julho . Agosto . Setembro 2003 O próprio perfil do novo arrua- mento, com os seus 20 quilóme- tros de comprimento, e com uma faixa de rodagem betumi- nosa com cerca de 12 metros de largura, complementada com passeios laterais empedrados com dois metros, dá-lhe um as- pecto de grande imponência, que contrasta com os envelhe- cidos traçados das antigas es- tradas de traça real que prolife- ram em toda a envolvência de Lisboa. As principais consequências da construção da Estrada Margi- nal são bem visíveis nos muitos documentos emitidos pelo Mi- nistériodasObrasPúblicas.An- tevendo a radical alteração da face urbana dos concelhos que a atravessa, Duarte Pacheco ad- voga a criação simultânea de umaalternativarodoviáriaatra- vés da nova auto-estrada do Es- toril,queaindaconstruiunotro- ço que ia desde a zona das Amo- reiras até ao Estádio Nacional, na Cruz Quebrada, bem como a aprovaçãodoreferidoPUCS.Entendiaele que, com os novos acessos, se assistiria a um aumento substancial da área urbani- zada e que, por isso, eram necessárias medidas que garantissem a harmonia do conjunto e o equilíbrio urbano no espaço envolvente. Longe de se aperceber da longevidade dos seus actos, Duarte Pacheco faleceu prematuramente com o seu projecto se- miconstruído. À inauguração da Estrada Marginal, em 1940, já não se juntou a inauguração da nova auto-estrada; e aos avanços da urbanização, o PUCS não con- seguiu dar uma resposta consequente. AoofereceraCascaisascondiçõesquelhe permitiram vir a usufruir de uma posição de grande privilégio no panorama turísti- co nacional, a inauguração da Estrada Marginal trouxe consigo a urbanização maciça, a destruição do património, e uma mole de população totalmente des- provida de laços efectivos com o seu es- paço de habitação. Actualmente, com os seus congestiona- mentos constantes e o seu perfil pensado para serenos passeios de fim-de-tarde, a Marginal transformou-se numa espécie de via longitudinal onde imperam os aci- dentes, e onde a paisagem se tem vindo a “betonizar” paulatinamente… Tema de Capa JOÃO ANÍBAL HENRIQUES, Departamento de Património da Fundação Cascais. A Estrada Marginal na Vila de Cascais na data da inauguração. A Estrada Marginal na actualidade. A Estrada Marginal em 1943. O Estoril antes da Marginal: O enterro do General Sanjurjo em 1936. A Estrada Marginal em Caxias na data da inauguração. Comissão de Propaganda de Cascais Guilherme Cardoso – Cascais Passado a Preto e Branco Cascais Um Século de Turismo Cascais de Sempre C.M.C. Guilherme Cardoso – Estoril Passado a Preto e Branco