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GRANDE ENTREVISTA




“Vivemos numa
sociedade um
bocado egoísta
Texto de João Madeira | 28 de Dezembro de 2012
Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra



Licenciada em Física, na vertente de in-     importante. Vocês jovens não compreendem,
vestigação científica, Maria do Rosário      mas os movimentos associativos eram uma
Cardoso Simões deslocou-se para Tomar        escola para a vida em termos de Política.
em 1979, devido à sua vocação como pro-      Para mim, foi uma experiência muito im-
fessora. Habituada às lides políticas des-   portante.
de que era jovem, deu aulas de Matemáti-
ca e de Ciências no Colégio Nun’Álvares.     JM Para além da Política, é a Física a sua
Uma vez que Tomar possui um riquíssimo       grande paixão?
património arquitetónico será interessan-    MRS (Risos). Essa da Física é boa. Principal-
te saber, em tempos de crise, como é que     mente a parte da Ciências é a minha grande
a Câmara de Tomar, e em particular a Ve-     vocação, tanto que tirei o curso de Física no
readora responsável pela Cultura e Edu-      ramo científico (Física Atómica e Nuclear).
cação, enquadram e integram as poten-
cialidades de uma cidade centenária com      JM Chegou a lecionar?
os desafios dos dias de hoje e os anseios    MRS Sim, cheguei a lecionar. Comecei a
dos seus habitantes. Esta Grande Entre-      ensinar no ex-Colégio Nuno Álvares, pre-
vista foi realizada no dia 28 de Dezembro    cisamente Física. Depois, quando o Colégio
de 2012.                                     foi comprado pelo Ministério da Educação,
                                             fui para o ensino público. Conforme as va-
João Madeira Boa tarde Doutora Maria do      gas fiquei num grupo em que comecei a dar
Rosário. Como é que a Política entra na      Matemática e Ciências, mas a Física fez sem-
sua vida?                                    pre parte dos meus interesses.
Maria do Rosário Simões Ainda jovem,
quando era aluna da Faculdade de Ciências,   JM Como Vereadora da Educação numa
ingressei num movimento associativo antes    Câmara Municipal, qual é a sua opinião
do 25 de Abril, que julgo ser extremamente   sobre a qualidade do ensino em Portugal?
MRS Eu vou caracterizar primeiro em              ramos que o importante são as bases, que
Tomar. No concelho eu acho que temos um          o relevante é apoiar as famílias para que os
nível de ensino acima da média. Neste mo-        seus filhos desde pequenos possam ter apoios
mento temos equipamentos muito bons, um          e as mesmas condições de quem não tem
corpo docente bom e pelo que vemos pelos         carências económicas. Assim sendo, e em-
resultados dos exames, que é a forma como        bora não seja uma competência própria da
podemos aferir externamente, é um ensino         Câmara em termos do pré-escolar, nós tam-
de qualidade e acima da média nacional.          bém apoiamos em termos de refeições, ATL
A nível nacional penso que a qualidade de        e transporte logo desde os primeiros anos de
ensino não tem sido facilitada pelas suces-      escola para situações que comprovadamente
sivas reformas e mudanças. Seria necessário,     sejam de carência económica.
tanto ao nível da educação como a outros
níveis, um consenso nacional para não se         JM Como surgiu a ideia da criação da Uni-
andar sempre a alterar as políticas quando       versidade Sénior?
se muda de Governo ou de Ministro. A edu-        MRS A Universidade Sénior despontou de
cação tem sofrido um bocado. Sendo esta          uma conversa com professores já reforma-
área e a formação profissional as principais     dos que se dispunham em ser voluntários
para o desenvolvimento de um país, penso         na UST. Através de um simples diálogo
que Portugal tem sido penalizado com as          apareceram, depois, mais professores que
sucessivas alterações, pois está sempre tudo     queriam preencher os seus tempos livres. O
a ser modificado. Um erro do português é         objectivo era a ocupação de pessoas acima
que não avalia aquilo que foi feito anterior-    dos 50 anos, tendo sido lançado o desafio à
mente, muda-se mas não há uma avaliação,         população. Neste momento temos 180 alu-
ou se há nós não a conhecemos. Existe a          nos, cerca de 20 professores em regime de
ideia de que é preciso estar constantemente      voluntariado e já andamos nesta experiência
a fazer-se de novo e isso não é bom porque       há cinco anos. Penso que esta iniciativa tem
há uma experiência acumulada. Subsistem          sido positiva, pelo menos pelo que é dito
sempre coisas positivas e, portanto, essas de-   pelas pessoas que frequentam a Universi-
vem ser aproveitadas e aquilo que está mal       dade Sénior.
deve ser melhorado ou alterado completa-
mente. Não temos muito o hábito de, em           JM Sei que tem também a seu cargo o da
Portugal, fazer a avaliação das políticas que    vereação da Cultura. Como é composta a
estão no terreno e, consequentemente, an-        divisão de Turismo, Cultura e Museologia
damos sempre a fazer experiências.               da Câmara Municipal de Tomar?
                                                 MRS A Divisão tem um chefe de Divisão e
JM Para além da atribuição de bolsas de          técnicos superiores (uns da área da Cultura,
estudo a estudantes do Ensino Superior,          outros da área do Turismo) e tem colabora-
residentes no Concelho de Tomar, que             dores a nível administrativo.
obtenham bom aproveitamento e com
dificuldades económicas, quais são as            JM Quais são os objetivos desta divisão?
propostas deste gabinete para fomentar o         MRS A divisão de Turismo, Cultura e Mu-
nível de educação dos tomarenses?                seologia assenta num princípio fundamental
MRS Nós damos bolsas de estudo a nível do        que é o desenvolvimento do Turismo, con-
ensino superior, mas é bom não esquecer-         sistindo num vetor que é estratégico para
mos que temos uma parte de apoio social às       Tomar. O crescimento desta área é impor-
famílias com carências económicas para os        tante para promover o que este concelho
alunos do pré-escolar e do primeiro ciclo.       tem ao nível do seu património (que é mui-
É muito importante focarmo-nos nos níveis        to). Na perspetiva de potenciar esta riqueza,
de ensino mais baixos até porque conside-        pretendemos que mais visitantes conheçam
Tomar, pois é assim que conseguimos que         MRS Não tendo uma base de auscultação,
haja um crescimento da economia local.          não gosto de fazer afirmações assim diretas.
Outro caso, que não é menos importante, e       No entanto, e pelo que me parece, tem
que na minha opinião até é mais relevante,      havido uma programação a nível cultural
é nós percebermos que à volta do Turismo e      que tem a capacidade de se dirigir a vários
da Cultura se podem criar situações para no-    setores da população, e com isso acho que
vas economias, porque quando dizemos que        os tomarenses não têm com que se queixar.
estas áreas são importantes, há que perceber
que existe a capacidade para o crescimento      JM Com a crise nacional e com as dificul-
da própria economia. Tomar tem todas as         dades financeiras que as autarquias estão
condições para que pequenas empresas pos-       a passar, como é que uma Vereadora da
sam criar emprego e viver disso. No fundo,      Cultura negoceia as verbas disponíveis
quando nós dizemos que há falta de empre-       para os eventos culturais?
sas em Tomar, efetivamente é verdade, mas       MRS Às vezes os recursos financeiros não
nós possuímos todos os recursos, e com al-      são os mais importantes. Tomar, do ponto
gum empreendedorismo conseguem-se criar         de vista cultural, tem muitas associações cul-
pequenas empresas que estejam aliadas, não      turais. Possui muito potencial não só a nível
só ao Património, mas inclusivamente aos        cultural, como também desportivo. O que
produtos regionais.                             me parece é que, como somos uma terra que
                                                felizmente beneficiamos de associações de
JM Com um Instituto Politécnico em              reconhecido valor nacional e internacional,
Tomar, não sente que deveria haver um           é sempre possível apresentarmo-nos com
melhor aproveitamento daquilo que lá            um programa cultural de qualidade, mesmo
se aprende, com parcerias com a CMT,            em situações em que os recursos financeiros
nomeadamente na reativação de certos            sejam menores.
ícones patrimoniais?
MRS A Câmara tem atividades, projetos e         JM Quais são as competências da Divisão
protocolos com o Instituto Politécnico de       Administrativa?
Tomar. Por outro lado recebemos também          MRS A Divisão Administrativa é a base da
ao nível dos nossos serviços, estagiários de    organização em termos dos aspetos adminis-
diferentes áreas. Eu acho que o IPT, como       trativos que dão respostas rápidas aos pedi-
uma entidade de ensino superior, é impor-       dos dos cidadãos. Passa também por coisas
tante do ponto de vista de também ele poder     mais importantes como em dar apoio aos
incentivar os jovens que lá são formados        eleitos, à reunião de Executivo Municipal e
para correrem riscos, serem criativos, inova-   à Assembleia Municipal.
dores e empreendedores, porque um esta-
belecimento de ensino superior é um pólo        JM Quais são as dificuldades mais comuns
importantíssimo para o desenvolvimento de       com que se confronta no exercício da sua
uma região, assim se consigam ligar todas as    profissão?
funcionalidades e sinergias possíveis com as    MRS Como eu tenho vários pelouros, várias
entidades da zona. O IPT está a alargar-se      competências delegadas pelo Senhor Presi-
do ponto de vista do desenvolvimento da         dente, porque inclusivamente tenho algumas
região e possui parcerias tanto a nível na-     de organização dos próprios serviços (re-
cional, como a nível internacional, e isso é    cursos humanos, divisão administrativa), as
muito importante.                               principais dificuldades neste tipo de tarefas
                                                que eu tenho são as comuns; acharmos que
JM Sente que os tomarenses estão satis-         podemos fazer mais (e é verdade) e melhor,
feitos com a quantidade de acontecimen-         e a de estarmos a responder a interesses e a
tos culturais que por aqui passam?              necessidades da população. É claro que em
todo este tipo de áreas em que eu intervenho     isso são os debates políticos.
existem coisas muito diferentes, com interes-
ses muito distintos, embora todas as áreas       JM Mas não julga que algumas medidas
se possam interligar. Eu não gosto muito de      são desnecessárias?
dizer que há poucos recursos financeiros         MRS Eu tenho dificuldade em dizer se são
porque eu sou da opinião que os recursos         desnecessárias ou não. O que eu acho, e o
financeiros são necessários, mas que o mais      que nós todos já sabemos, é que toda a fun-
importante é a atuação e a motivação das         ção pública já deveria ter sido reestruturada
pessoas. Porém, julgo que o fator humano         há muito tempo para que possa ser mais
é sempre o mais decisivo, juntamente com         eficiente. Se tivéssemos uma Administração
a conjunção de esforços e sinergias, porque      Pública mais eficaz, de certeza que não es-
a comunidade é o mais importante. Vivemos        banjávamos tanto dinheiro. Quem está den-
numa sociedade um bocado egoísta e às ve-        tro de um sistema como o da Administração
zes é difícil vermos e conseguirmos que as       Pública e aliás, quem está de fora também,
pessoas pensem mais no coletivo do que em        sabe que há muitos anos que falamos em
si próprias.                                     reformas administrativas. Isto pode não ser
                                                 o politicamente mais correto mas o que nós
JM Qual é a sua apreciação sobre os meios        vemos é que, por exemplo, uma freguesia
de comunicação locais? E sobre os nacio-         que tenha pouca gente nunca tem possibi-
nais?                                            lidades de se desenvolver, portanto a única
MRS Os meios de comunicação locais so-           maneira que tem para se desenvolver é agre-
frem do problema que sofre toda a comu-          gar-se a outras e estar em maior escala. Hoje
nicação, têm poucos recursos, vivem muito        se estivermos em escalas reduzidas não con-
da publicidade e também de subsídios. Neste      seguimos fazer nada. Eu dou um pequeno
momento, pelo que sei, todos estão a passar      exemplo: Uma freguesia que tenha pouca
por alguma situação de crise precisamente        gente e com poucos recursos, que respos-
porque está tudo interligado à situação de       tas é que consegue dar à população? Não
crise a nível nacional. De resto, eu acho que    consegue dar nenhumas, a verdade é esta.
os meios de comunicação social cumprem a         Podemos dizer que a Junta está mais perto
sua função.                                      da população, mas consegue dar-lhe alguma
Sobre os nacionais julgo estarem ligados aos     coisa? Consegue dar-lhe melhores condições
grandes senhores do dinheiro e, portanto, já     de vida? Consegue responder àquilo que as
é difícil percebermos se as notícias que são     pessoas necessitam? Não consegue.
publicadas a nível nacional correspondem
ou não à verdade. No fundo, o Jornalismo de      JM Mas essa é apenas uma das medidas.
Investigação até seria o mais importante e é     Também há o corte dos salários no setor
uma coisa que neste momento existe pouco.        público e o congelamento dos subsídios...
                                                 MRS Mas isso é muito simples, se o Governo
JM Qual é a sua opinião sobre a actuação         não tem dinheiro para pagar não pode pagar.
do Governo?                                      Para isto é que não há dinheiro mesmo. É
MRS Na minha opinião, e em relação à atua-       bom que as pessoas, entre o público e o pri-
ção deste Governo, acho que independente-        vado, comecem a pensar em duas coisas. No
mente da cor política de quem lá estivesse,      privado, quando a empresa deixa de ter con-
não se poderia deixar de fazer aquilo que este   dições para funcionar e deixa de ter dinheiro
executivo está a efetuar. Nós assistimos aos     para remunerar os seus funcionários, deixa
grandes debates das várias forças políticas,     de pagar. No setor público já estamos todos
em que aqueles que estão na oposição dizem       muito habituados que no final do mês temos
que nunca fariam assim mas nós já sabemos,       o salário, mas e se o Estado não tiver dinhei-
pela experiência, que isso é a Política, que     ro, como é que se faz? Temos que começar a
pensar que o setor público não é uma reali-      caso da sua educação. É importante também
dade diferente do privado, do ponto de vista     ajudar os mais idosos, pois cada vez mais
de ter ou não dinheiro para pagar, a questão     a população está envelhecida. Esta geração
central é esta. Numa situação real em que        tem uma experiência muito rica que deve
o que se possui são dívidas e quando nem         ser aproveitada. As atividades inter-gerações
sequer se tem dinheiro para restituir os juros   são muito importantes para que os legados e
dessas mesmas dívidas, o que devemos pen-        as tradições consigam ser reutilizadas e não
sar é que não há muito dinheiro para pagar       fiquem perdidas no tempo.
aos trabalhadores. Eu tenho quase a certeza
que deve haver meses que pouco dinheiro          JM Muito obrigado por me conceder um
lá existe para pagar salários. Mesmo aqui na     pouco do seu tempo para a concretização
Câmara, as transferências que vêm do Esta-       desta Grande Entrevista.
do não dão para pagar os vencimentos aos
trabalhadores. Os políticos foram os primei-
ros a ser cortados, em cinco por cento. Em
função do coletivo eu não acredito que haja
qualquer Governo, qualquer que seja a cor
política, que se não fosse mesmo necessário
cortasse os subsídios. Não acredito!

JM Para terminar, qual é a sua visão es-
tratégica para um próximo mandato, caso
seja reeleita?
MRS (Risos). Independentemente disso, para
Tomar e como cidadã desta cidade, sinto que
esta terra tem condições para se desenvolver
em termos de criação de emprego, aprovei-
tando as capacidades que detém do ponto
de vista do património e de um ensino de
qualidade incluindo o superior. É impor-
tante que a questão da educação esteja bem
enquadrada na cidade para se conseguir fo-
mentar, com a cooperação de entidades mais
dentro do assunto para isso (aqui na zona
temos a NERSANT), áreas como o em-
preendedorismo para que os cidadãos mais
jovens e as empresas possam exportar os
seus produtos. No próximo mandato, é im-
portante que a situação do desemprego seja
bem refletida e que possamos dar aos jovens
condições para criar em Tomar, empresas
inovadoras. No fundo o que me parece é
que em 2014, que é quando se inicia o novo
mandato, continue a ser importante o aspeto
do apoio social, o cuidado de olhar para as
pessoas, e que as crianças não sejam preju-
dicadas devido às carências sobre as quais as
suas famílias estão mergulhadas, naquilo que
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Entrevista

  • 1. GRANDE ENTREVISTA “Vivemos numa sociedade um bocado egoísta Texto de João Madeira | 28 de Dezembro de 2012 Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra Licenciada em Física, na vertente de in- importante. Vocês jovens não compreendem, vestigação científica, Maria do Rosário mas os movimentos associativos eram uma Cardoso Simões deslocou-se para Tomar escola para a vida em termos de Política. em 1979, devido à sua vocação como pro- Para mim, foi uma experiência muito im- fessora. Habituada às lides políticas des- portante. de que era jovem, deu aulas de Matemáti- ca e de Ciências no Colégio Nun’Álvares. JM Para além da Política, é a Física a sua Uma vez que Tomar possui um riquíssimo grande paixão? património arquitetónico será interessan- MRS (Risos). Essa da Física é boa. Principal- te saber, em tempos de crise, como é que mente a parte da Ciências é a minha grande a Câmara de Tomar, e em particular a Ve- vocação, tanto que tirei o curso de Física no readora responsável pela Cultura e Edu- ramo científico (Física Atómica e Nuclear). cação, enquadram e integram as poten- cialidades de uma cidade centenária com JM Chegou a lecionar? os desafios dos dias de hoje e os anseios MRS Sim, cheguei a lecionar. Comecei a dos seus habitantes. Esta Grande Entre- ensinar no ex-Colégio Nuno Álvares, pre- vista foi realizada no dia 28 de Dezembro cisamente Física. Depois, quando o Colégio de 2012. foi comprado pelo Ministério da Educação, fui para o ensino público. Conforme as va- João Madeira Boa tarde Doutora Maria do gas fiquei num grupo em que comecei a dar Rosário. Como é que a Política entra na Matemática e Ciências, mas a Física fez sem- sua vida? pre parte dos meus interesses. Maria do Rosário Simões Ainda jovem, quando era aluna da Faculdade de Ciências, JM Como Vereadora da Educação numa ingressei num movimento associativo antes Câmara Municipal, qual é a sua opinião do 25 de Abril, que julgo ser extremamente sobre a qualidade do ensino em Portugal?
  • 2. MRS Eu vou caracterizar primeiro em ramos que o importante são as bases, que Tomar. No concelho eu acho que temos um o relevante é apoiar as famílias para que os nível de ensino acima da média. Neste mo- seus filhos desde pequenos possam ter apoios mento temos equipamentos muito bons, um e as mesmas condições de quem não tem corpo docente bom e pelo que vemos pelos carências económicas. Assim sendo, e em- resultados dos exames, que é a forma como bora não seja uma competência própria da podemos aferir externamente, é um ensino Câmara em termos do pré-escolar, nós tam- de qualidade e acima da média nacional. bém apoiamos em termos de refeições, ATL A nível nacional penso que a qualidade de e transporte logo desde os primeiros anos de ensino não tem sido facilitada pelas suces- escola para situações que comprovadamente sivas reformas e mudanças. Seria necessário, sejam de carência económica. tanto ao nível da educação como a outros níveis, um consenso nacional para não se JM Como surgiu a ideia da criação da Uni- andar sempre a alterar as políticas quando versidade Sénior? se muda de Governo ou de Ministro. A edu- MRS A Universidade Sénior despontou de cação tem sofrido um bocado. Sendo esta uma conversa com professores já reforma- área e a formação profissional as principais dos que se dispunham em ser voluntários para o desenvolvimento de um país, penso na UST. Através de um simples diálogo que Portugal tem sido penalizado com as apareceram, depois, mais professores que sucessivas alterações, pois está sempre tudo queriam preencher os seus tempos livres. O a ser modificado. Um erro do português é objectivo era a ocupação de pessoas acima que não avalia aquilo que foi feito anterior- dos 50 anos, tendo sido lançado o desafio à mente, muda-se mas não há uma avaliação, população. Neste momento temos 180 alu- ou se há nós não a conhecemos. Existe a nos, cerca de 20 professores em regime de ideia de que é preciso estar constantemente voluntariado e já andamos nesta experiência a fazer-se de novo e isso não é bom porque há cinco anos. Penso que esta iniciativa tem há uma experiência acumulada. Subsistem sido positiva, pelo menos pelo que é dito sempre coisas positivas e, portanto, essas de- pelas pessoas que frequentam a Universi- vem ser aproveitadas e aquilo que está mal dade Sénior. deve ser melhorado ou alterado completa- mente. Não temos muito o hábito de, em JM Sei que tem também a seu cargo o da Portugal, fazer a avaliação das políticas que vereação da Cultura. Como é composta a estão no terreno e, consequentemente, an- divisão de Turismo, Cultura e Museologia damos sempre a fazer experiências. da Câmara Municipal de Tomar? MRS A Divisão tem um chefe de Divisão e JM Para além da atribuição de bolsas de técnicos superiores (uns da área da Cultura, estudo a estudantes do Ensino Superior, outros da área do Turismo) e tem colabora- residentes no Concelho de Tomar, que dores a nível administrativo. obtenham bom aproveitamento e com dificuldades económicas, quais são as JM Quais são os objetivos desta divisão? propostas deste gabinete para fomentar o MRS A divisão de Turismo, Cultura e Mu- nível de educação dos tomarenses? seologia assenta num princípio fundamental MRS Nós damos bolsas de estudo a nível do que é o desenvolvimento do Turismo, con- ensino superior, mas é bom não esquecer- sistindo num vetor que é estratégico para mos que temos uma parte de apoio social às Tomar. O crescimento desta área é impor- famílias com carências económicas para os tante para promover o que este concelho alunos do pré-escolar e do primeiro ciclo. tem ao nível do seu património (que é mui- É muito importante focarmo-nos nos níveis to). Na perspetiva de potenciar esta riqueza, de ensino mais baixos até porque conside- pretendemos que mais visitantes conheçam
  • 3. Tomar, pois é assim que conseguimos que MRS Não tendo uma base de auscultação, haja um crescimento da economia local. não gosto de fazer afirmações assim diretas. Outro caso, que não é menos importante, e No entanto, e pelo que me parece, tem que na minha opinião até é mais relevante, havido uma programação a nível cultural é nós percebermos que à volta do Turismo e que tem a capacidade de se dirigir a vários da Cultura se podem criar situações para no- setores da população, e com isso acho que vas economias, porque quando dizemos que os tomarenses não têm com que se queixar. estas áreas são importantes, há que perceber que existe a capacidade para o crescimento JM Com a crise nacional e com as dificul- da própria economia. Tomar tem todas as dades financeiras que as autarquias estão condições para que pequenas empresas pos- a passar, como é que uma Vereadora da sam criar emprego e viver disso. No fundo, Cultura negoceia as verbas disponíveis quando nós dizemos que há falta de empre- para os eventos culturais? sas em Tomar, efetivamente é verdade, mas MRS Às vezes os recursos financeiros não nós possuímos todos os recursos, e com al- são os mais importantes. Tomar, do ponto gum empreendedorismo conseguem-se criar de vista cultural, tem muitas associações cul- pequenas empresas que estejam aliadas, não turais. Possui muito potencial não só a nível só ao Património, mas inclusivamente aos cultural, como também desportivo. O que produtos regionais. me parece é que, como somos uma terra que felizmente beneficiamos de associações de JM Com um Instituto Politécnico em reconhecido valor nacional e internacional, Tomar, não sente que deveria haver um é sempre possível apresentarmo-nos com melhor aproveitamento daquilo que lá um programa cultural de qualidade, mesmo se aprende, com parcerias com a CMT, em situações em que os recursos financeiros nomeadamente na reativação de certos sejam menores. ícones patrimoniais? MRS A Câmara tem atividades, projetos e JM Quais são as competências da Divisão protocolos com o Instituto Politécnico de Administrativa? Tomar. Por outro lado recebemos também MRS A Divisão Administrativa é a base da ao nível dos nossos serviços, estagiários de organização em termos dos aspetos adminis- diferentes áreas. Eu acho que o IPT, como trativos que dão respostas rápidas aos pedi- uma entidade de ensino superior, é impor- dos dos cidadãos. Passa também por coisas tante do ponto de vista de também ele poder mais importantes como em dar apoio aos incentivar os jovens que lá são formados eleitos, à reunião de Executivo Municipal e para correrem riscos, serem criativos, inova- à Assembleia Municipal. dores e empreendedores, porque um esta- belecimento de ensino superior é um pólo JM Quais são as dificuldades mais comuns importantíssimo para o desenvolvimento de com que se confronta no exercício da sua uma região, assim se consigam ligar todas as profissão? funcionalidades e sinergias possíveis com as MRS Como eu tenho vários pelouros, várias entidades da zona. O IPT está a alargar-se competências delegadas pelo Senhor Presi- do ponto de vista do desenvolvimento da dente, porque inclusivamente tenho algumas região e possui parcerias tanto a nível na- de organização dos próprios serviços (re- cional, como a nível internacional, e isso é cursos humanos, divisão administrativa), as muito importante. principais dificuldades neste tipo de tarefas que eu tenho são as comuns; acharmos que JM Sente que os tomarenses estão satis- podemos fazer mais (e é verdade) e melhor, feitos com a quantidade de acontecimen- e a de estarmos a responder a interesses e a tos culturais que por aqui passam? necessidades da população. É claro que em
  • 4. todo este tipo de áreas em que eu intervenho isso são os debates políticos. existem coisas muito diferentes, com interes- ses muito distintos, embora todas as áreas JM Mas não julga que algumas medidas se possam interligar. Eu não gosto muito de são desnecessárias? dizer que há poucos recursos financeiros MRS Eu tenho dificuldade em dizer se são porque eu sou da opinião que os recursos desnecessárias ou não. O que eu acho, e o financeiros são necessários, mas que o mais que nós todos já sabemos, é que toda a fun- importante é a atuação e a motivação das ção pública já deveria ter sido reestruturada pessoas. Porém, julgo que o fator humano há muito tempo para que possa ser mais é sempre o mais decisivo, juntamente com eficiente. Se tivéssemos uma Administração a conjunção de esforços e sinergias, porque Pública mais eficaz, de certeza que não es- a comunidade é o mais importante. Vivemos banjávamos tanto dinheiro. Quem está den- numa sociedade um bocado egoísta e às ve- tro de um sistema como o da Administração zes é difícil vermos e conseguirmos que as Pública e aliás, quem está de fora também, pessoas pensem mais no coletivo do que em sabe que há muitos anos que falamos em si próprias. reformas administrativas. Isto pode não ser o politicamente mais correto mas o que nós JM Qual é a sua apreciação sobre os meios vemos é que, por exemplo, uma freguesia de comunicação locais? E sobre os nacio- que tenha pouca gente nunca tem possibi- nais? lidades de se desenvolver, portanto a única MRS Os meios de comunicação locais so- maneira que tem para se desenvolver é agre- frem do problema que sofre toda a comu- gar-se a outras e estar em maior escala. Hoje nicação, têm poucos recursos, vivem muito se estivermos em escalas reduzidas não con- da publicidade e também de subsídios. Neste seguimos fazer nada. Eu dou um pequeno momento, pelo que sei, todos estão a passar exemplo: Uma freguesia que tenha pouca por alguma situação de crise precisamente gente e com poucos recursos, que respos- porque está tudo interligado à situação de tas é que consegue dar à população? Não crise a nível nacional. De resto, eu acho que consegue dar nenhumas, a verdade é esta. os meios de comunicação social cumprem a Podemos dizer que a Junta está mais perto sua função. da população, mas consegue dar-lhe alguma Sobre os nacionais julgo estarem ligados aos coisa? Consegue dar-lhe melhores condições grandes senhores do dinheiro e, portanto, já de vida? Consegue responder àquilo que as é difícil percebermos se as notícias que são pessoas necessitam? Não consegue. publicadas a nível nacional correspondem ou não à verdade. No fundo, o Jornalismo de JM Mas essa é apenas uma das medidas. Investigação até seria o mais importante e é Também há o corte dos salários no setor uma coisa que neste momento existe pouco. público e o congelamento dos subsídios... MRS Mas isso é muito simples, se o Governo JM Qual é a sua opinião sobre a actuação não tem dinheiro para pagar não pode pagar. do Governo? Para isto é que não há dinheiro mesmo. É MRS Na minha opinião, e em relação à atua- bom que as pessoas, entre o público e o pri- ção deste Governo, acho que independente- vado, comecem a pensar em duas coisas. No mente da cor política de quem lá estivesse, privado, quando a empresa deixa de ter con- não se poderia deixar de fazer aquilo que este dições para funcionar e deixa de ter dinheiro executivo está a efetuar. Nós assistimos aos para remunerar os seus funcionários, deixa grandes debates das várias forças políticas, de pagar. No setor público já estamos todos em que aqueles que estão na oposição dizem muito habituados que no final do mês temos que nunca fariam assim mas nós já sabemos, o salário, mas e se o Estado não tiver dinhei- pela experiência, que isso é a Política, que ro, como é que se faz? Temos que começar a
  • 5. pensar que o setor público não é uma reali- caso da sua educação. É importante também dade diferente do privado, do ponto de vista ajudar os mais idosos, pois cada vez mais de ter ou não dinheiro para pagar, a questão a população está envelhecida. Esta geração central é esta. Numa situação real em que tem uma experiência muito rica que deve o que se possui são dívidas e quando nem ser aproveitada. As atividades inter-gerações sequer se tem dinheiro para restituir os juros são muito importantes para que os legados e dessas mesmas dívidas, o que devemos pen- as tradições consigam ser reutilizadas e não sar é que não há muito dinheiro para pagar fiquem perdidas no tempo. aos trabalhadores. Eu tenho quase a certeza que deve haver meses que pouco dinheiro JM Muito obrigado por me conceder um lá existe para pagar salários. Mesmo aqui na pouco do seu tempo para a concretização Câmara, as transferências que vêm do Esta- desta Grande Entrevista. do não dão para pagar os vencimentos aos trabalhadores. Os políticos foram os primei- ros a ser cortados, em cinco por cento. Em função do coletivo eu não acredito que haja qualquer Governo, qualquer que seja a cor política, que se não fosse mesmo necessário cortasse os subsídios. Não acredito! JM Para terminar, qual é a sua visão es- tratégica para um próximo mandato, caso seja reeleita? MRS (Risos). Independentemente disso, para Tomar e como cidadã desta cidade, sinto que esta terra tem condições para se desenvolver em termos de criação de emprego, aprovei- tando as capacidades que detém do ponto de vista do património e de um ensino de qualidade incluindo o superior. É impor- tante que a questão da educação esteja bem enquadrada na cidade para se conseguir fo- mentar, com a cooperação de entidades mais dentro do assunto para isso (aqui na zona temos a NERSANT), áreas como o em- preendedorismo para que os cidadãos mais jovens e as empresas possam exportar os seus produtos. No próximo mandato, é im- portante que a situação do desemprego seja bem refletida e que possamos dar aos jovens condições para criar em Tomar, empresas inovadoras. No fundo o que me parece é que em 2014, que é quando se inicia o novo mandato, continue a ser importante o aspeto do apoio social, o cuidado de olhar para as pessoas, e que as crianças não sejam preju- dicadas devido às carências sobre as quais as suas famílias estão mergulhadas, naquilo que lhes é um direito fundamental, como é o