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COMUNICAÇÕES DE PESQUISA
CONQUISTAR UM CORPO: A CLÍNICA PSICANALÍTICA NOS NOVOS DISPOSITIVOS
DE SAÚDE MENTAL
Nuria Malajovich Muñoz
Psicanalista, professora adjunta da UFF-PURO, professora orientadora do estágio curricular de
Psicologia no CAPS de Rio das Ostras, coordenadora da pesquisa “Psicopatologia, Corpo e
Subjetividade: a experiência do corpo próprio na perspectiva dos usuários dos novos dispositivos de
Saúde Mental”.
Alessandra Martins de Araújo
Aluna do curso de graduação em Psicologia da UFF-PURO, estagiária do CAPS de Rio das Ostras.
Iuri Trindade Cabral da Silva
Aluno do curso de graduação em Psicologia da UFF-PURO, estagiário do CAPS de Rio das Ostras.
Luciana Cano Fernandes
Aluna do curso de graduação em Psicologia da UFF-PURO, estagiária do CAPS de Rio das Ostras.
Resumo
Apresentam-se, neste trabalho, as principais coordenadas de pesquisa clínica, em fase inicial, sobre
o corpo nas psicoses. Objetiva-se analisar, a partir do referencial psicanalítico, as estratégias
utilizadas pelos usuários dos novos dispositivos assistenciais em saúde mental para regular a relação
com o corpo próprio e com o mundo, destacando as manobras que efetuam para se ligar ao corpo e a
função que o dispositivo de cuidado ocupa nessa empreitada.
Palavras-chave: psicose, corpo, subjetividade.
Abstract
We present in this work the main coordinates of a clinical research about the body in psychosis.
Based on psychoanalysis, it aims to analyze the strategies made by users of the new mental health
care devices to regulate the relationship with their own body and with the world, highlighting the
maneuvers they perform to connect to the body and the function of the devices in this endeavor.
Keywords: psychosis, body, subjectivity.
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A constituição do corpo próprio não pode ser pensada sem a articulação com a linguagem e
sua organização: “o sujeito, a partir do momento em que fala, já está implicado por essa fala em seu
corpo. A raiz do conhecimento é esse engajamento no corpo” (Lacan, 1962-1963/2005, p.241). Uma
manobra específica faz da linguagem a via de acesso aos órgãos que, por não poderem ser tomados
em sua materialidade, são alcançados em termos representacionais. A linguagem, ao cortar a carne,
mortifica o corpo-organismo, deixando para sempre um resto não assimilado. A extração de pedaços
do corpo promovida pelo seu encontro com a linguagem provoca uma perda de gozo e permite
passar da “desordem dos pequenos a” (Ibid., p. 132), a um corpo unificado e animado pela libido. O
simbólico tem a importante função de dar suporte à relação essencialmente descompassada do ser
humano com a sua imagem e, ao mesmo tempo, criar uma distância necessária entre ambos.
Em seu último ensino, Lacan (1975-76/2007) indica que, para além da identificação à
imagem, é necessária a formação de uma concepção de corpo, ou seja, é a partir da apreensão do
corpo pelo pensamento que se estabelece uma relação com o outro e com o mundo, “a ideia de si
como um corpo tem um peso (...) há alguma coisa que suporta o corpo como imagem” (p. 146). O
corpo não tem nenhuma consistência ou suporte fora da linguagem, sendo na relação com o Outro
que irão se produzir identificações que servirão de suporte corporal. Ao introduzir um elemento
externo, exterior ao organismo, a linguagem condensa um gozo e produz um corpo. A unidade
corporal resulta assim de uma complexa operação que articula três elementos heterogêneos: o
significante, o gozo e a imagem.
O desapossamento do corpo
O sentimento de desapossamento em relação ao corpo próprio surge nas psicoses como efeito
de uma especularização “estranha, fora de simetria, fora-de-espaço” (Lacan, 1962-63/2005, p.135).
A inconsistência da linguagem e a não extração do objeto a provocam efeitos na possibilidade de
adquirir e gozar de um corpo e experimentá-lo em articulação ao mundo. Na falta do corpo
simbólico, caberá a cada sujeito encontrar meios próprios para inserir seu corpo como imagem “na
cena, no palco do mundo” (Ibid., p.43).
Pessoas com transtornos psicóticos costumam experimentar sensações e pensamentos
intrusivos dos quais não se veem como autores, vivenciar modificações corporais, não se reconhecer
ou não sentir que o seu corpo lhes pertence, ou ainda, sentir-se fora do corpo. Não é incomum que
relatem ainda ter tido, antes da eclosão do primeiro episódio, a vivência de alterações na apreensão
de si como corpo. Freud (1914/1998) já chamava a atenção para o lugar da hipocondria na fase
anterior à eclosão do primeiro episódio, sugerindo que esta fosse considerada uma manifestação
psicopatológica específica ao campo das psicoses. Os fenômenos hipocondríacos decorreriam da
falta de função simbólica para os órgãos, ou seja, de uma impossibilidade de articulação do corpo a
partir da linguagem (Freud, 1915/1998). A hipocondria teria como função localizar o excesso
pulsional em um órgão, de modo a produzir um furo que estabilize o corpo.
O desenlace do corpo próprio pode ser descrito sob a forma de um deixar-cair, termo
cunhado por Lacan (1966/2003) para exemplificar o exercício que Schreber se impunha de manter o
seu pensamento permanentemente articulado para evitar que seu ser se tornasse “texto dilacerado”
(p. 221). Nos momentos de desconexão, experimentava seu corpo cair como um dejeto, um resto. A
partir das recordações de James Joyce, Lacan (1975-76/2007) prossegue sua análise do deixar-cair,
indicando que este fenômeno caracteriza um modo de relação com o corpo característico da
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estruturação psicótica. Em sua juventude, Joyce foi agredido por seus colegas de turma, após uma
discussão acerca de qual seria o melhor poeta de língua inglesa. Embora bastante machucado ele não
experimenta raiva, mas, ao contrário, sente que “alguma força o estava despojando daquela raiva
subitamente tecida tão facilmente quanto um fruto é despojado de sua casca madura” (Joyce, 1992,
p.87). Esse episódio leva Lacan a tecer a hipótese de tratar-se de um fenômeno psicótico: “a forma
de Joyce deixar cair a relação com o corpo próprio é totalmente suspeita para um analista” (Lacan,
1975-76/2007, p.146).
O enlace com o corpo se torna problemático na ausência de uma operação que lhe confira
unidade, adquirindo consistência e localizando a libido. Em termos freudianos, é preciso que uma
nova ação psíquica advenha (Freud, 1914/1998) para que o corpo se invista de uma imagem fechada
e unificada. Na esquizofrenia, a linguagem incide sem mediação no corpo, o simbólico é real
(Lacan, 1954/1998). Ou seja, a ausência de organização da linguagem impede a formação do corpo
como imagem, despedaçando-o. A incidência do real se marca pela presença do gozo no corpo,
tendo como efeito o seu despedaçamento. Embora na vertente paranóica, o corpo se apresente como
imagem, a sua prevalência deixa o sujeito à mercê da relação especular com o semelhante. Se essa
relação confere unidade à imagem, o sujeito anseia por ver-se também completo. Alienando-se na
imagem do outro, fica captado imaginariamente, selando seu desconhecimento: o outro é para o
sujeito um obstáculo ou um reflexo. Os fenômenos paranóicos revelam assim a estrutura narcísica
na qual se fundam, e a cola imaginária na qual se sustentam. A defenestração melancólica (Lacan,
1962-63/2005) exemplifica um outro modo problemático de se relacionar com o corpo, fazendo-o
cair como dejeto. A desconexão da cadeia significante ocorre no momento em que se atravessa a
janela, produzindo-se uma identificação com o objeto. O ataque melancólico visa à destruição, por
meio da imagem, daquilo que é transcendido no objeto a. A passagem ao ato melancólico procura
separar o sujeito do objeto com o qual o ser é identificado, mesmo que isso se faça ao preço de sua
extinção.
A partir dessas três modalidades clínicas, conseguimos acessar os problemas decorrentes de
ter o objeto a à disposição (Lacan, 1967) e situar a importância de encontrar manobras que permitam
dar um uso ao corpo. Vemos esboçar-se, assim, uma direção clínica de trabalho que consiste em
auxiliar os sujeitos a encontrar meios de realizar uma remontagem da cena que compõe o mundo a
partir de algum artifício que permita a composição ou a sustentação de um corpo (Mandil, 2008).
Essas soluções apresentam-se como estratégias complexas de regulação, visando produzir uma
cifragem de gozo que possibilite uma reordenação do corpo na sua relação com o mundo. Essa
orientação lança nova luz sobre algumas saídas contemporâneas, como o recurso ao uso de
substâncias químicas como forma de regulação do gozo no corpo, tal como ocorre na toxicomania e
no alcoolismo (Naspartek, 2005), a criação de um escudo através da expansão do corpo na
obesidade (Recalcati, 2003), ou ainda, pequenas invenções, como anéis, faixas, colares, de modo a
realizar uma amarração corporal (Miller, 2003).
Do corpo-mobília à invenção de um corpo
Com a reforma psiquiátrica, a mortificação causada pela vida asilar ganha luz, assim como
suas graves consequências para o corpo e para a subjetividade. Basaglia (1968/2005) demonstrou
que o corpo ocupa, na organização institucional sustentada pela prática psiquiátrica tradicional, um
lugar de confirmação das hipóteses científicas sobre a doença mental. A lógica da internação
psiquiátrica produz uma doença específica: a incorporação de elementos da organização hospitalar
como parte composta do corpo. A vida institucional transforma o sujeito em um corpo-mobília,
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sugerindo que a composição do corpo como arquitetura asilar pode ser uma via extrema de se fazer
um corpo.
A prática clínica desenvolvida no campo da saúde mental toma uma direção diferente das
estereotipias da vida asilar. A partir de um complexo movimento social e de um vasto campo
científico de saberes e práticas, buscam-se formas mais inclusivas de prover o cuidado às pessoas
com transtorno mental. A orientação psicanalítica, sobretudo lacaniana, tem procurado demonstrar
um modo de operar nos dispositivos da reforma respondendo à necessidade postulada pelo próprio
Freud (1918) de adaptação da técnica psicanalítica às condições produzidas pelas transformações da
sociedade. A Psicanálise deve assim responder às mudanças ocasionadas na civilização e se engajar
na tentativa de encontrar soluções para as diferentes formas através das quais o mal-estar se
manifesta.
Lacan (1953) enfatizou a importância dos analistas alcançarem “em seu horizonte a
subjetividade de sua época” (p.322). Essa recomendação se aplica àqueles para quem o dispositivo
clássico não funciona, conservando os princípios éticos que sustentam o fazer clínico. Trata-se de
refabricar as ferramentas sem abrir mão de um modo específico de intervenção, apostando no
estabelecimento de uma atribuição subjetiva no caso a caso, independentemente de sua gravidade ou
do tipo de sintoma apresentado. Como demonstramos anteriormente (Muñoz, 2010), a Psicanálise
em sua aplicação ao campo da saúde mental objetiva a produção de novas e diversas formas de
subjetivação que permitam uma maior atuação sobre si e sobre o entorno, criando instrumentos que
permitam estabelecer para cada um uma mediação eficaz na relação com o mundo.
A abordagem das manifestações clínicas das psicoses a partir de sua forma de habitar o
mundo e das elaborações narrativas que dela derivam revelam formas particulares de organização
subjetiva e modos diferentes de se posicionar diante da linguagem e da alteridade. Opera-se assim
uma profunda modificação no edifico psicopatológico e na abordagem do adoecimento psicótico.
Valoriza-se a dimensão daquele que experimenta os fenômenos construindo o conhecimento e a
direção do tratamento a partir das indicações do próprio sujeito. Interessa-nos investigar como os
usuários de serviços de saúde mental têm podido lidar com a repetição e com o adoecimento,
verificando efeitos na vivência subjetiva do corpo e inventariando os recursos por eles encontrados
para contornar os impasses que se colocam. O trabalho realizado nos novos dispositivos
assistenciais pode contribuir para a elucidação das complexas relações das pessoas com transtornos
psicóticos com o corpo e com a subjetividade. Trata-se de verificar de que modo os usuários destes
serviços vivenciam o corpo em articulação com o seu cotidiano, isto é, tendo em vista a relação com
o meio em que se inserem e destacando os desafios e soluções que utilizam para se localizar no
mundo. A solução neurótica seria apenas um sintoma entre outros capazes de unir Simbólico,
Imaginário e Real, cabendo investigar outras formas pelas quais se consegue produzir um
enlaçamento desses três registros. Trata-se de inventar recursos nas psicoses para promover uma
articulação entre o real do corpo, o simbólico da palavra e a superfície corporal enquanto imagem
que a sustenta. Queremos assim compreender como os sujeitos vivenciam alterações corporais, que
soluções encontram para produzir um continente, além de examinar de que maneira os dispositivos
de cuidado auxiliam os sujeitos na difícil conquista do corpo próprio.
REFERÊNCIAS
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BASAGLIA, F. (2005) “Corpo e instituição: considerações psicopatológicas e antropológicas em
psiquiatria institucional” in Escritos selecionados em Saúde Mental e Reforma Psiquiátrica. Rio de
Janeiro, Garamond.
FREUD, S. (1989) Obras psicológicas completas de Sigmund Freud. Edição Standard Brasileira.
Rio de Janeiro: Imago. (1914) “Sobre o narcisismo; uma introdução”. (1915) “O inconsciente”.
(1919 [1918]) “Linhas de progresso na terapia psicanalítica”.
JOYCE, J. (1992) Um retrato do artista quando jovem. São Paulo: Siciliano.
LACAN, J. (1953/1998) “Função e campo da fala e da linguagem” in Escritos. Rio de Janeiro, Jorge
Zahar.
_________ (1954/1998) “Resposta ao comentário de Jean Hyppolite sobre a ‘Verneinung’ de
Freud” in Escritos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar.
(1962-63/2005) O seminário, livro 10. A angústia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar.
________ (1966/2003). Apresentação das Memórias de um doente dos nervos in Outros escritos.
Rio de Janeiro: Jorge Zahar.
_________ (1967). Petit discours aux psychiatres. Bibliothèque Pas-tout Lacan. Disponível em:
<http://www.ecole-lacanienne.net/pastoutlacan60.php>. Acesso em: 11/8/2009.
__________ (1975-76/2007) O seminário, livro 23. O sinthoma. Rio de Janeiro: Jorge Zahar.
MANDIL, R A. (2008) “Formas de relação com o corpo próprio” in Latusa digital, n° 32.
MILLER, J.-A. (2003) “A invenção psicótica” in Opção Lacaniana, n° 36. São Paulo, Eólia.
MUÑOZ, N. M. (2010) “Do amor à amizade na psicose: contribuições da psicanálise ao campo da
saúde mental”. Revista Latinoamericana de Psicopatologia Fundamental, v. 13, p. 87-101.
NASPARTEK, F (2005). Introducion a la clinica con toxicomanias y alcoholismo. Buenos Aires,
Grama.
RECALCATI, M. (2003) Clínica del vacío. Madrid: Editorial Síntesis.

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 COMUNICAÇÕES DE PESQUISA CONQUISTAR UM CORPO: A CLÍNICA PSICANALÍTICA NOS NOVOS DISPOSITIVOS DE SAÚDE MENTAL Nuria Malajovich Muñoz Psicanalista, professora adjunta da UFF-PURO, professora orientadora do estágio curricular de Psicologia no CAPS de Rio das Ostras, coordenadora da pesquisa “Psicopatologia, Corpo e Subjetividade: a experiência do corpo próprio na perspectiva dos usuários dos novos dispositivos de Saúde Mental”. Alessandra Martins de Araújo Aluna do curso de graduação em Psicologia da UFF-PURO, estagiária do CAPS de Rio das Ostras. Iuri Trindade Cabral da Silva Aluno do curso de graduação em Psicologia da UFF-PURO, estagiário do CAPS de Rio das Ostras. Luciana Cano Fernandes Aluna do curso de graduação em Psicologia da UFF-PURO, estagiária do CAPS de Rio das Ostras. Resumo Apresentam-se, neste trabalho, as principais coordenadas de pesquisa clínica, em fase inicial, sobre o corpo nas psicoses. Objetiva-se analisar, a partir do referencial psicanalítico, as estratégias utilizadas pelos usuários dos novos dispositivos assistenciais em saúde mental para regular a relação com o corpo próprio e com o mundo, destacando as manobras que efetuam para se ligar ao corpo e a função que o dispositivo de cuidado ocupa nessa empreitada. Palavras-chave: psicose, corpo, subjetividade. Abstract We present in this work the main coordinates of a clinical research about the body in psychosis. Based on psychoanalysis, it aims to analyze the strategies made by users of the new mental health care devices to regulate the relationship with their own body and with the world, highlighting the maneuvers they perform to connect to the body and the function of the devices in this endeavor. Keywords: psychosis, body, subjectivity.
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 A constituição do corpo próprio não pode ser pensada sem a articulação com a linguagem e sua organização: “o sujeito, a partir do momento em que fala, já está implicado por essa fala em seu corpo. A raiz do conhecimento é esse engajamento no corpo” (Lacan, 1962-1963/2005, p.241). Uma manobra específica faz da linguagem a via de acesso aos órgãos que, por não poderem ser tomados em sua materialidade, são alcançados em termos representacionais. A linguagem, ao cortar a carne, mortifica o corpo-organismo, deixando para sempre um resto não assimilado. A extração de pedaços do corpo promovida pelo seu encontro com a linguagem provoca uma perda de gozo e permite passar da “desordem dos pequenos a” (Ibid., p. 132), a um corpo unificado e animado pela libido. O simbólico tem a importante função de dar suporte à relação essencialmente descompassada do ser humano com a sua imagem e, ao mesmo tempo, criar uma distância necessária entre ambos. Em seu último ensino, Lacan (1975-76/2007) indica que, para além da identificação à imagem, é necessária a formação de uma concepção de corpo, ou seja, é a partir da apreensão do corpo pelo pensamento que se estabelece uma relação com o outro e com o mundo, “a ideia de si como um corpo tem um peso (...) há alguma coisa que suporta o corpo como imagem” (p. 146). O corpo não tem nenhuma consistência ou suporte fora da linguagem, sendo na relação com o Outro que irão se produzir identificações que servirão de suporte corporal. Ao introduzir um elemento externo, exterior ao organismo, a linguagem condensa um gozo e produz um corpo. A unidade corporal resulta assim de uma complexa operação que articula três elementos heterogêneos: o significante, o gozo e a imagem. O desapossamento do corpo O sentimento de desapossamento em relação ao corpo próprio surge nas psicoses como efeito de uma especularização “estranha, fora de simetria, fora-de-espaço” (Lacan, 1962-63/2005, p.135). A inconsistência da linguagem e a não extração do objeto a provocam efeitos na possibilidade de adquirir e gozar de um corpo e experimentá-lo em articulação ao mundo. Na falta do corpo simbólico, caberá a cada sujeito encontrar meios próprios para inserir seu corpo como imagem “na cena, no palco do mundo” (Ibid., p.43). Pessoas com transtornos psicóticos costumam experimentar sensações e pensamentos intrusivos dos quais não se veem como autores, vivenciar modificações corporais, não se reconhecer ou não sentir que o seu corpo lhes pertence, ou ainda, sentir-se fora do corpo. Não é incomum que relatem ainda ter tido, antes da eclosão do primeiro episódio, a vivência de alterações na apreensão de si como corpo. Freud (1914/1998) já chamava a atenção para o lugar da hipocondria na fase anterior à eclosão do primeiro episódio, sugerindo que esta fosse considerada uma manifestação psicopatológica específica ao campo das psicoses. Os fenômenos hipocondríacos decorreriam da falta de função simbólica para os órgãos, ou seja, de uma impossibilidade de articulação do corpo a partir da linguagem (Freud, 1915/1998). A hipocondria teria como função localizar o excesso pulsional em um órgão, de modo a produzir um furo que estabilize o corpo. O desenlace do corpo próprio pode ser descrito sob a forma de um deixar-cair, termo cunhado por Lacan (1966/2003) para exemplificar o exercício que Schreber se impunha de manter o seu pensamento permanentemente articulado para evitar que seu ser se tornasse “texto dilacerado” (p. 221). Nos momentos de desconexão, experimentava seu corpo cair como um dejeto, um resto. A partir das recordações de James Joyce, Lacan (1975-76/2007) prossegue sua análise do deixar-cair, indicando que este fenômeno caracteriza um modo de relação com o corpo característico da
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 estruturação psicótica. Em sua juventude, Joyce foi agredido por seus colegas de turma, após uma discussão acerca de qual seria o melhor poeta de língua inglesa. Embora bastante machucado ele não experimenta raiva, mas, ao contrário, sente que “alguma força o estava despojando daquela raiva subitamente tecida tão facilmente quanto um fruto é despojado de sua casca madura” (Joyce, 1992, p.87). Esse episódio leva Lacan a tecer a hipótese de tratar-se de um fenômeno psicótico: “a forma de Joyce deixar cair a relação com o corpo próprio é totalmente suspeita para um analista” (Lacan, 1975-76/2007, p.146). O enlace com o corpo se torna problemático na ausência de uma operação que lhe confira unidade, adquirindo consistência e localizando a libido. Em termos freudianos, é preciso que uma nova ação psíquica advenha (Freud, 1914/1998) para que o corpo se invista de uma imagem fechada e unificada. Na esquizofrenia, a linguagem incide sem mediação no corpo, o simbólico é real (Lacan, 1954/1998). Ou seja, a ausência de organização da linguagem impede a formação do corpo como imagem, despedaçando-o. A incidência do real se marca pela presença do gozo no corpo, tendo como efeito o seu despedaçamento. Embora na vertente paranóica, o corpo se apresente como imagem, a sua prevalência deixa o sujeito à mercê da relação especular com o semelhante. Se essa relação confere unidade à imagem, o sujeito anseia por ver-se também completo. Alienando-se na imagem do outro, fica captado imaginariamente, selando seu desconhecimento: o outro é para o sujeito um obstáculo ou um reflexo. Os fenômenos paranóicos revelam assim a estrutura narcísica na qual se fundam, e a cola imaginária na qual se sustentam. A defenestração melancólica (Lacan, 1962-63/2005) exemplifica um outro modo problemático de se relacionar com o corpo, fazendo-o cair como dejeto. A desconexão da cadeia significante ocorre no momento em que se atravessa a janela, produzindo-se uma identificação com o objeto. O ataque melancólico visa à destruição, por meio da imagem, daquilo que é transcendido no objeto a. A passagem ao ato melancólico procura separar o sujeito do objeto com o qual o ser é identificado, mesmo que isso se faça ao preço de sua extinção. A partir dessas três modalidades clínicas, conseguimos acessar os problemas decorrentes de ter o objeto a à disposição (Lacan, 1967) e situar a importância de encontrar manobras que permitam dar um uso ao corpo. Vemos esboçar-se, assim, uma direção clínica de trabalho que consiste em auxiliar os sujeitos a encontrar meios de realizar uma remontagem da cena que compõe o mundo a partir de algum artifício que permita a composição ou a sustentação de um corpo (Mandil, 2008). Essas soluções apresentam-se como estratégias complexas de regulação, visando produzir uma cifragem de gozo que possibilite uma reordenação do corpo na sua relação com o mundo. Essa orientação lança nova luz sobre algumas saídas contemporâneas, como o recurso ao uso de substâncias químicas como forma de regulação do gozo no corpo, tal como ocorre na toxicomania e no alcoolismo (Naspartek, 2005), a criação de um escudo através da expansão do corpo na obesidade (Recalcati, 2003), ou ainda, pequenas invenções, como anéis, faixas, colares, de modo a realizar uma amarração corporal (Miller, 2003). Do corpo-mobília à invenção de um corpo Com a reforma psiquiátrica, a mortificação causada pela vida asilar ganha luz, assim como suas graves consequências para o corpo e para a subjetividade. Basaglia (1968/2005) demonstrou que o corpo ocupa, na organização institucional sustentada pela prática psiquiátrica tradicional, um lugar de confirmação das hipóteses científicas sobre a doença mental. A lógica da internação psiquiátrica produz uma doença específica: a incorporação de elementos da organização hospitalar como parte composta do corpo. A vida institucional transforma o sujeito em um corpo-mobília,
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 sugerindo que a composição do corpo como arquitetura asilar pode ser uma via extrema de se fazer um corpo. A prática clínica desenvolvida no campo da saúde mental toma uma direção diferente das estereotipias da vida asilar. A partir de um complexo movimento social e de um vasto campo científico de saberes e práticas, buscam-se formas mais inclusivas de prover o cuidado às pessoas com transtorno mental. A orientação psicanalítica, sobretudo lacaniana, tem procurado demonstrar um modo de operar nos dispositivos da reforma respondendo à necessidade postulada pelo próprio Freud (1918) de adaptação da técnica psicanalítica às condições produzidas pelas transformações da sociedade. A Psicanálise deve assim responder às mudanças ocasionadas na civilização e se engajar na tentativa de encontrar soluções para as diferentes formas através das quais o mal-estar se manifesta. Lacan (1953) enfatizou a importância dos analistas alcançarem “em seu horizonte a subjetividade de sua época” (p.322). Essa recomendação se aplica àqueles para quem o dispositivo clássico não funciona, conservando os princípios éticos que sustentam o fazer clínico. Trata-se de refabricar as ferramentas sem abrir mão de um modo específico de intervenção, apostando no estabelecimento de uma atribuição subjetiva no caso a caso, independentemente de sua gravidade ou do tipo de sintoma apresentado. Como demonstramos anteriormente (Muñoz, 2010), a Psicanálise em sua aplicação ao campo da saúde mental objetiva a produção de novas e diversas formas de subjetivação que permitam uma maior atuação sobre si e sobre o entorno, criando instrumentos que permitam estabelecer para cada um uma mediação eficaz na relação com o mundo. A abordagem das manifestações clínicas das psicoses a partir de sua forma de habitar o mundo e das elaborações narrativas que dela derivam revelam formas particulares de organização subjetiva e modos diferentes de se posicionar diante da linguagem e da alteridade. Opera-se assim uma profunda modificação no edifico psicopatológico e na abordagem do adoecimento psicótico. Valoriza-se a dimensão daquele que experimenta os fenômenos construindo o conhecimento e a direção do tratamento a partir das indicações do próprio sujeito. Interessa-nos investigar como os usuários de serviços de saúde mental têm podido lidar com a repetição e com o adoecimento, verificando efeitos na vivência subjetiva do corpo e inventariando os recursos por eles encontrados para contornar os impasses que se colocam. O trabalho realizado nos novos dispositivos assistenciais pode contribuir para a elucidação das complexas relações das pessoas com transtornos psicóticos com o corpo e com a subjetividade. Trata-se de verificar de que modo os usuários destes serviços vivenciam o corpo em articulação com o seu cotidiano, isto é, tendo em vista a relação com o meio em que se inserem e destacando os desafios e soluções que utilizam para se localizar no mundo. A solução neurótica seria apenas um sintoma entre outros capazes de unir Simbólico, Imaginário e Real, cabendo investigar outras formas pelas quais se consegue produzir um enlaçamento desses três registros. Trata-se de inventar recursos nas psicoses para promover uma articulação entre o real do corpo, o simbólico da palavra e a superfície corporal enquanto imagem que a sustenta. Queremos assim compreender como os sujeitos vivenciam alterações corporais, que soluções encontram para produzir um continente, além de examinar de que maneira os dispositivos de cuidado auxiliam os sujeitos na difícil conquista do corpo próprio. REFERÊNCIAS
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 BASAGLIA, F. (2005) “Corpo e instituição: considerações psicopatológicas e antropológicas em psiquiatria institucional” in Escritos selecionados em Saúde Mental e Reforma Psiquiátrica. Rio de Janeiro, Garamond. FREUD, S. (1989) Obras psicológicas completas de Sigmund Freud. Edição Standard Brasileira. Rio de Janeiro: Imago. (1914) “Sobre o narcisismo; uma introdução”. (1915) “O inconsciente”. (1919 [1918]) “Linhas de progresso na terapia psicanalítica”. JOYCE, J. (1992) Um retrato do artista quando jovem. São Paulo: Siciliano. LACAN, J. (1953/1998) “Função e campo da fala e da linguagem” in Escritos. Rio de Janeiro, Jorge Zahar. _________ (1954/1998) “Resposta ao comentário de Jean Hyppolite sobre a ‘Verneinung’ de Freud” in Escritos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar. (1962-63/2005) O seminário, livro 10. A angústia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar. ________ (1966/2003). Apresentação das Memórias de um doente dos nervos in Outros escritos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar. _________ (1967). Petit discours aux psychiatres. Bibliothèque Pas-tout Lacan. Disponível em: <http://www.ecole-lacanienne.net/pastoutlacan60.php>. Acesso em: 11/8/2009. __________ (1975-76/2007) O seminário, livro 23. O sinthoma. Rio de Janeiro: Jorge Zahar. MANDIL, R A. (2008) “Formas de relação com o corpo próprio” in Latusa digital, n° 32. MILLER, J.-A. (2003) “A invenção psicótica” in Opção Lacaniana, n° 36. São Paulo, Eólia. MUÑOZ, N. M. (2010) “Do amor à amizade na psicose: contribuições da psicanálise ao campo da saúde mental”. Revista Latinoamericana de Psicopatologia Fundamental, v. 13, p. 87-101. NASPARTEK, F (2005). Introducion a la clinica con toxicomanias y alcoholismo. Buenos Aires, Grama. RECALCATI, M. (2003) Clínica del vacío. Madrid: Editorial Síntesis.