1) O poema reflete sobre o corpo, a mente e a alma humana e sua relação.
2) Explora temas como a fragilidade da vida, a busca por significado e a finitude humana.
3) Expressa sentimentos de solidão, melancolia e esperança no amor como forma de dar sentido à existência.
1. O corpo, a mente e eu Meu corpo é um pobre caminheiro, Ao meu serviço está por algum tempo; Aos seus desejos devo estar atento, Tratar bem este velho companheiro. A minha mente, alegre e buliçosa, Por entre ideias muitas saltitante, A mim serve também...É o bastante Para lhe perdoar quando é vaidosa. Mas a quem servem estes servidores?!... Quem é este que deles é senhor, Se três no mesmo são os moradores?!... Sou reflexo de um Deus desconhecido, De quem sou um humilde servidor, E a todos os meus passos dá sentido...
2. A inimportância Macio e frágil é o corpo humano; Mas veste-se de roupas, carros, casas, Chega a vestir até robustas asas, Parece forte imune a qualquer dano... Frágil e tonta é a mente humana. (Mas de ilusões constrói as catedrais...) Desejos loucos nunca são demais E atrás deles se faz a vida insana. Mas a verdade é, mesmo que oculta, Mais nossa do que os nossos belos fatos, Mais crua do que os nossos belos sonhos: Tudo é inútil – eis o que resulta De todos nossos passos, nossos actos; Abismos nos esperam...são medonhos!
3. A Vida Corre lenta, lentamente A vida dos pequeninos... - Uma insensível corrente Puxa pelos seus destinos... Vão crescendo alegremente Como é bela a vida agora... - Mais forte fica a torrente Que os leva p'la vida fora... Quando um dia se dão conta Fortes teias os prenderam... - Algo ao fundo já desponta, 'Inda mal se aperceberam... Corre imparável e forte E mostra então onde os guia... - Corria a vida p'rá morte, A inexistência fria...
4. Eterna (in)existência… Eu, de matéria eterna construído, De eternal substância me alimento; Atravessando vou cada momento, E atravessado sou, nele perdido... Em nervos, carne, sangue, ossos, água, Organizado fui, e permaneço Por algum tempo...quanto? desconheço... E se o soubesse maior seria a mágoa. A mágoa de não ser também eterno; Mais do que eterno - livre e acordado, Fosse no Paraíso ou no Inferno... Porém quando partirem de viagem Os elementos todos que hoje sou, Serei menos real do que esta aragem...
5. O Ser Humano Este ser é concerteza, Magnífico descendente, Filho do amor ardente Dos Deuses pela Beleza. Antes de o Mundo existir Existia aí então Só na Divina Razão, A Beleza, por surgir. Muitos mundos foi criando, E Beleza foi surgindo... No nosso planeta lindo, Deus foi-se aperfeiçoando. Até criar a mulher, A máxima criação: Beleza com coração (Só p'ra quem amar souber...) Deuses Amor e Desejo, Ao vê-la se apaixonaram, De homens se mascararam, - E foi o primeiro beijo... Humanos são desde então Esta ‘stranha criatura: - Uma explêndida mistura De Céu, corpo e emoção.
6. A Lenha do Tempo Ardem serenas brasas na lareira, Arde também em mim serena chama; Tudo serenamente o Tempo inflama, E assim se vai ardendo a vida inteira. As cinzas que das brasas vão restando São um sinal de ter havido lume. E ainda servirão, dizem, de estrume; De mim, ao me apagar, que vai ficando?... Se penso no que fui e tudo foi, Sinto pena de tudo e de mim mesmo, Sinto que há nisto uma qualquer desgraça. Porque homem, malmequer, madeiro, boi, A tudo esta voragem leva a esmo: Lenha que o Tempo queima enquanto passa.
7. Numa rua da cidade Numa rua da cidade eu vi Uma mulher tremendamente só. Só sofrimento, angústia e dor Vinham daquele choro Que chamava baixinho pela mãe. Mas onde estará a mãe da velhinha, Onde estará o pai, que a não vêm ajudar? E Deus, principal culpado, Estará olhando para o lado? Família, amigos, vizinhos, Onde estarão todos? Por onde andará a humanidade inteira? Por onde andam os espíritos benfazejos Que nenhum a pode vir consolar? Pobre velhinha, agarrada à palavra mãe , Por nada mais ter, por nada ter Senão as suas dores, a sua solidão E talvez o medo de morrer… À volta o mundo gira imperturbável. Passam pela rua os outros, em suas vidas, E nada fazem. E nada podem fazer? Numa rua da cidade eu vi, e não salvei , Uma mulher tremendamente só.
8. Se Deus existe... Se Deus que é Deus A tudo o que existe Impávido assiste, Quem sou eu, simples eu, Ninguém, a bem dizer, P’ra me meter?! Mudar o mundo?! Salvar o mundo?! Melhorar o mundo?! Ora, não vos vistes ao espelho? Sabeis o que sois e por quanto tempo? O mundo é pouco, e vós nele, nada.
9. Melancolia… A vida que se escoa dia a dia Vai fazendo a contagem decrescente Para o meu fim e o fim de toda a gente; E vou murchando assim, sem alegria. Donde me virá esta inquietação? Que teima em fazer parte de mim? Pressentimento de qualquer coisa ruim Ou um vazio qualquer no coração? Por causa desta enorme insegurança Em face das tormentas que hão-de vir, Anseio por qualquer grande mudança. Mas eu no fundo sei que estou a ir Para longe da bem aventurança; Como não sei viver, vou a fingir.
10. Esperando o amor… Há muito já que não sentia Vontade de dizer a um papel (Para que Deus ou eu o leia um dia) O que me vai na alma, mel ou fel, Passa por mim o tempo de fazer (E porque havia eu de recusar?!) Aquilo que parece ter de ser: Vida comum, trabalho, tédio, lar... Assusta-me saber que existe em mim Outro modo esquecido de sentir; Hemisfério de luzes apagadas... Amor humano, amor divino, sim! Só eles poderão ainda vir Dar rumo certo às minhas pegadas.
11. Esperando o amor…(de novo) Sei muito bem que estou acorrentado Não sei se por destino ou por vontade A uma vida que me passa ao lado, Que não me deixará qualquer saudade. Quando tiver passado este deserto Onde a sede de amor me atormentou, Talvez esteja então muito mais perto Do que mais quis e a vida me negou. Caem de novo as folhas neste Outono; Prossegue a marcha certa desta vida; Natureza cansada mas sem sono. Até que um belo dia Alguém decida, Com determinação de quem é dono, Mudar a minha alma de guarida.
12. Esperando o amor…(ainda) A vida inteira em busca só de amor. A alma inteira em busca só de um bem. Num tempo que se esgota sem valor, Relembro o que perdi e já não vem. Que pouco vale ser normal por fora, Fingindo que esta vida tem sentido. Ver a vida que passa, hora a hora, Não pode devolver-me o bem perdido. Porque será que um dia desisti, Abandonei p’ra trás o coração?! Podia ser feliz e não vivi. Ainda terei ganas de acordar, Casar a minha alma com a vida? Ou meu destino inútil é errar?