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MENSAGEM
Fernando Pessoa
FERN
A
N
DOPESSO
A
Fernando Antônio Nogueira Pessoa foi
um poeta, filósofo, dramaturgo, ensaísta, tradutor,
publicitário, astrólogo, inventor, empresário,
correspondente comercial, crítico literário e
comentarista político português.
Das quatro obras que publicou em vida, três são
na língua inglesa e apenas uma em língua
portuguesa, intitulada Mensagem.
Enquanto poeta, escreveu sob diversas
personalidades – heterónimos, como Ricardo
Reis, Álvaro de Campos e Alberto Caeiro –, sendo
estes últimos objeto da maior parte dos estudos
sobre a sua vida e obra.
N
ascim
ento 1
3/06/1
888
m
orte30/1
1
/1
935
M
EN
SA
G
A
M-1
934
01 – HISTÓRICO NACIONAL
Grandes navegações
Era das conquistas
02 – MÍSTICO UNIVERSAL
Sebastianismo
Questões existenciais
DO
ISN
ÍVEISDElEIT
U
RA
O mundo conduz-se por mentiras (mitos); quem quiser
despertá-lo ou conduzi-lo terá que mentir-lhe
delirantemente, e fá-lo-á com tanto mais êxito quanto mais
mentir a si mesmo e se compenetrar da verdade da mentira
que criou. Temos, felizmente, o mito sebastianista, com
raízes profundas no passado e na alma portuguesa. Nosso
trabalho é pois mais fácil; não temos de criar um mito, senão
que renová-lo. Comecemos por nos embebedar desse
sonho, por o integrar em nós, por o encarar. Feito isto, o
sonho se derramará sem esforço em tudo o que dissermos
ou escrevermos, e a atmosfera estará criada, em que todos
os outros, como nós, o respirem. Então, se dará na Alma da
nação, o fenômeno imprevisível de onde nascerão as Novas
Descobertas, a criação do Mundo novo, o Quinto Império.
Terá regressado El-rei D.Sebastião.
-jornal do comércio e das colônias – 28/05/1926
QUARENTA E QUATRO POEMAS
Divididos em três partes
● PARTE UM =BRASÃO (19 poemas)
-Os Campos = 2 poemas
-Os Castelos = 8 poemas
-As Quinas = 5 poemas
-A Coroa =1poema
-O Timbre =3 poemas
● PARTE DOIS =MAR PORTUGUÊS (12 poemas)
● PARTE TRÊS =O ENCOBERTO (13 poemas)
-Os Símbolos = 5 poemas
-Os Avisos =3 poemas
-Os Tempos =5 poemas
EST
RU
T
U
RADAOBRA
QUARENTA E QUATRO POEMAS
Divididos em três partes
● PARTE UM =BRASÃO (19 poemas)
ESTRU
T
U
RADAOBRA
Crédito: Poesia comentada –
Mensagem – Fernando
pessoa (p. 22)
PARTEU
M=BRA
SÃO
I.OS CAMPOS
PRIM EIRO / O DOS CASTELOS
A Europa jaz,posta nos cotovelos:
De Oriente a Ocidente jaz,fitando,
E toldam-lhe românticos cabelos
Olhos gregos,lembrando.
O cotovelo esquerdo é recuado;
O direito é em ângulo disposto.
Aquele diz Itália onde é pousado;
Este diz Inglaterra onde, afastado,
A mão sustenta, em que se apoia o rosto.
Fita,com olhar sphyngico e fatal,
O Ocidente,futuro do passado.
O rosto com que fita é Portugal.
Descrição da Europa e sua
localização, onde Portugal ocupa
um lugar de destaque, olhando
para o futuro.
Semelhança com os versos d’Os
Lusíadas:
Eis aqui,quasi cume da cabeça
De Europa toda, o Reino Lusitano,
Onde a Terra se acaba e o Mar começa
E onde Febo repousa no Oceano.
Bellun sine bello
PARTEU
M=BRA
SÃO
I.OS CAMPOS
SEGUNDO / O DAS QUINAS
Os Deuses vendem quando dão.
Compra-se a glória com desgraça.
Ai dos felizes,porque são
Só o que passa!
Baste a quem baste o que Ihe basta
O bastante de Ihe bastar!
A vida é breve, a alma é vasta:
Ter é tardar.
Foi com desgraça e com vileza
Que Deus ao Cristo definiu:
Assim o opôs à Natureza
E Filho o ungiu..
Referência ao espaço onde se
localizam as quinas, símbolos de
glórias conquistadas com esforço
e sofrimento
Bellun sine bello
Referência à uma lenda segundo
a qual Lisboa teria sido fundada
por Ulisses, herói grego
d’Odisséia.
P
ARTEU
M=BRA
SÃO
Bellun sine bello
II.OS CASTELOS
PRIMEIRO / ULISSES
O mytho é o nada que é tudo.
O mesmo sol que abre os céus
É um mytho brilhante e mudo — -
O corpo morto de Deus,
Vivo e desnudo.
Este, que aqui aportou,
Foi por não ser existindo.
Sem existir nos bastou.
Por não ter vindo foi vindo
E nos criou.
Assim a lenda se escorre
A entrar na realidade,
E a fecundá-la decorre.
Em baixo,a vida,metade
De nada, morre.
Outra referência aos tempos
primitivos de formação de Portugal.
Viriato foi um antigo chefe dos
(povo que habitava a
que resistiu às legiões
Lusitanos
península)
romanas.
P
ARTEU
M=BRA
SÃO
Bellun sine bello
II.OS CASTELOS
SEGUNDO / VIRIATO
Se a alma que sente e faz conhece
Só porque lembra o que esqueceu,
Vivemos,raça,porque houvesse
Memória em nós do instinto teu.
Nação porque reencarnaste,
Povo porque ressuscitou
Ou tu,ou o de que eras a haste —
Assim se Portugal formou.
Teu ser é como aquela fria
Luz que precede a madrugada,
E é já o ir a haver o dia
Na antemanhã,confuso nada.
PARTEU
M=BRA
SÃO
II.OS CASTELOS
TERCEIRO / O CONDE D.HENRIQUE
Todo começo é involuntário.
Deus é o agente.
O herói a si assiste, vário
E inconsciente.
À espada em tuas mãos achada
Teu olhar desce.
«Que fareieu com esta espada?»
Ergueste-a,e fez-se.
D. Henrique casou-se com a filha
bastarda de Afonso VI, rei de Leão e
castelo, e herdou o território do
Minho ao Tejo, que formava o
condado Portucalense.
casamento nasceu D.
Desse
Afonso
Henrique,primeiro rei de Portugal.
Bellun sine bello
PARTEU
M=BRA
SÃO
II.OS CASTELOS
QUARTO / D.TAREJA
As naçôes todas são mystérios.
Cada uma é todo o mundo a sós.
Ó mãe de reis e avó de impérios,
Vela por nós!
Teu seio augusto amamentou
Com bruta e natural certeza
O que,imprevisto,Deus fadou.
Por ele reza!
Dê tua prece outro destino
A quem fadou o instinto teu!
O homem que foi o teu menino
Envelheceu.
Mas todo vivo é eterno infante
Onde estás e não há o dia.
No antigo seio,vigilante,
De novo o cria
D. Tareja é D. Teresa, esposa do conde
D. Henrique e mãe de D. Afonso
Henriques, primeiro rei de Portugal.
Daí a afirmação de que ela é mãe de
reis e avó de impérios
Bellun sine bello
PARTEU
M=BRA
SÃO
Pai,foste cavaleiro.
Hoje a vigília é nossa.
Dá-nos o exemplo inteiro
E a tua inteira força!
Dá, contra a hora em que, errada,
Novos infiéis vençam,
A bênção como espada,
A espada como benção!
D. Afonso Henriques tornou-se D.
Afonso I, primeiro rei de Portugal e
notabilizou-se por suas lutas e
vitórias contra os mouros e defesa
do cristianismo. No poema, é
“pai” do povo
referido como
português
Bellun sine bello
II.OS CASTELOS
QUINTO / D.AFONSO HENRIQUES
D. Dinis foi o sexto rei de Portugal.
Era amante das letras e foi um dos
mais importantes trovadores do
trovadorismo português. É visto
como um rei premonitório ao fundar
a marinha portuguesa e ter
mandado plantar o pinhal de Leiria,
de onde sairia a madeira para a
construção dos navios, como se
estivesse prevendo as navegações
portuguesas
P
ARTEU
M=BRA
SÃO
Bellun sine bello
II.OS CASTELOS
SEXTO / D.DINIS
Na noite escreve um seu Cantar de Amigo
O plantador de naus a haver,
E ouve um silêncio múrmuro consigo:
É o rumor dos pinhais que,como um trigo
De Império, ondulam sem se poder ver.
Arroio,esse cantar,jovem e puro,
Busca o oceano por achar;
E a fala dos pinhais, marulho obscuro,
É o som presente desse mar futuro,
É a voz da terra ansiando pelo mar.
PARTEU
M=BRA
SÃO
O homem e a hora são um só
Quando Deus faz e a história é feita.
O mais é carne, cujo pó
A terra espreita.
Mestre, sem o saber, do Templo
Que Portugal foi feito ser,
Que houveste a glória e deste o exemplo
De o defender.
Teu nome, eleito em sua fama,
É,na ara da nossa alma interna,
A que repele,eterna chama,
A sombra eterna.
D. João I foi o décimo rei de Portugal
e fundador da dinastia de Avis
que
(apoiada
substituiu
pela burguesia)
a dinastia Afonsina
(apoiada pelos nobres)
Bellun sine bello
II.OS CASTELOS
SÉTIMO (I) / D.JOÃO,O PRIMEIRO
PARTEU
M=BRA
SÃO
II.OS CASTELOS
SÉTIMO (II) / D. FILIPA DE LENCASTRE
Que enigma havia em teu seio
Que só gênios concebia?
Que arcanjo teus sonhos veio
Velar,maternos,um dia?
Volve a nós teu rosto sério,
Princesa do Santo Graal,
Humano ventre do Império,
Madrinha de Portugal!
D. Filipa de Lencastre foi mulher de
D. João I e rainha de Portugal. Era
vista como mãe dos nobres (“só
gênios concebia) e representante de
alta espiritualidade (princesa do
santo Graal)
Bellun sine bello
PARTEU
M=BRA
SÃO
III.AS QUINAS
PRIMEIRA / D.DUARTE,REI DE PORTUGAL
Meu dever fez-me, como Deus ao mundo.
A regra de ser Rei almou meu ser,
Em dia e letra escrupuloso e fundo.
Firme em minha tristeza,tal vivi.
Cumpri contra o Destino o meu dever.
Inutilmente? Não, porque o cumpri.
D. Duarte, filho mais velho de D. João
I, foi o décimo primeiro rei de
Portugal. Era um intelectual, amante
das letras e sem vocação para
governar. (cumpri contra o destino o
meu dever)
Bellun sine bello
PARTEU
M=BRA
SÃO
III.AS QUINAS
SEGUNDA / D.FERNANDO,INFANTE DE PORTUGAL
Deu-me Deus o seu gládio, porque eu faça
A sua santa guerra.
Sagrou-me seu em honra e em desgraça,
Às horas em que um frio vento passa
Por sobre a fria terra.
Pôs-me as mãos sobre os ombros e doirou-me A
fronte com o olhar;
E esta febre de Além, que me consome,
E este querer grandeza são seu nome
Dentro em mim a vibrar.
E eu vou,e a luz do gládio erguido dá
Em minha face calma.
Cheio de Deus, não temo o que virá,
Pois venha o que vier,nunca será
Maior do que a minha alma.
D. Fernando era irmão de D. Duarte.
Foi feito prisioneiro pelos mouros e
sofreu torturas até a morte,
tornando-se um mártir associado a
defesa da fé cristã. (Deu-me Deus o
seu gládio, porque eu faça a sua
santa guerra)
Bellun sine bello
PARTEU
M=BRA
SÃO
III.AS QUINAS
TERCEIRA / D.PEDRO,REGENTE DE
PORTUGAL
Claro em pensar, e claro no sentir,
É claro no querer;
Indiferente ao que há em conseguir
Que seja só obter;
Dúplice dono,sem me dividir,
De dever e de ser —
Não me podia a Sorte dar guarida
Por não ser eu dos seus.
Assim vivi,assim morri,a vida,
Calmo sob mudos céus,
Fiel à palavra dada e à ideia tida.
Tudo o mais é com Deus!
D. Pedro foi outro irmão de D. Duarte.
Quando o rei D. Duarte morreu,
deixou um filho (D.Afonso) de apenas
5 anos. D. Pedro foi regente de
Portugal até D. Afonso ter idade para
governar. Apesar de ter entregue o
poder ao sobrinho, foi vítima de um
complô que o acusava de querer
usurpar o trono e assassinado.
Bellun sine bello
PARTEU
M=BRA
SÃO
III.AS QUINAS
QUARTA / D.JOÃO,INFANTE DE PORTUGAL
Não fuialguém. Minha alma estava estreita
Entre tão grandes almas minhas pares,
Inutilmente eleita,
Virgemente parada;
Porque é do português,paide amplos mares,
Querer, poder só isto:
O inteiro mar, ou a orla vã desfeita —
O todo,ou o seu nada.
D. João foi o último dos oito filhos de
D. João I e dona Filipa de Lancastre.
Foi o mais apagado da dinastia (não
fui alguém) e parece simbolizar o
extremismo da alma portuguesa (o
todo ou o seu nada)
Bellun sine bello
PARTEU
M=BRA
SÃO
III.AS QUINAS
QUINTA / D.SEBASTIÃO,REI DE PORTUGAL
Louco, sim, louco, porque quis grandeza
Qual a Sorte a não dá.
Não coube em mim minha certeza;
Por isso onde o areal está
Ficou meu ser que houve, não o que há.
Minha loucura,outros que me a tomem
Com o que nela ia.
Sem a loucura que é o homem
Mais que a besta sadia,
Cadáver adiado que procria?
D.Sebastião foi o décimo sexto rei de
Portugal e era tomado por sonhos de
grandeza que beiravam o fanatismo.
Prometeu ao povo português que
faria de Portugal o “quinto império”.
M orreu tentando conquistar o
Marrocos, na batalha de Alcácer-
Quibir.
Seu corpo foi deixado no campo de
batalha e quando Portugal foi
dominada pelos espanhóis (de 1580
a 1640) surgiu a história de que D.
Sebastião estava vivo e voltaria para
libertar o povo português e cumprir
suas promessas de grandeza. Nascia
assim o mito do Sebastianismo.
Bellun sine bello
D. Nuno Álvares Pereira foi o mais
fiel amigo de D. João I e seu maior
defensor
. Notabilizou-se por
façanhas militares e conquistou
muitos títulos e cargos. No final,
repartiu todos os seus bens,
renunciou a todos os títulos e
cargos e refugiou-se no convento
do Carmo. Observe que o poema
que representa a coroa do brasão
português não traz um rei como
personagem.
P
ARTEU
M=BRA
SÃO
Bellun sine bello
IV.A COROA
NUN’ÁLVARES PEREIRA
Que auréola te cerca?
É a espada que,volteando.
Faz que o ar alto perca
Seu azul negro e brando.
Mas que espada é que,erguida,
Faz esse halo no céu?
É Excalibur,a ungida,
Que o ReiArtur te deu.
Esperança consumada,
S.Portugal em ser,
Ergue a luz da tua espada
Para a estrada se ver!
PARTEU
M=BRA
SÃO
V.O TIMBRE
A CABEÇA DO GRIFO / O INFANTE D.
HENRIQUE
Em seu trono entre o brilho das esferas,
Com seu manto de noite e solidão,
Tem aos pés o mar novo e as mortas eras —
O único imperador que tem, deveras,
O globo mundo em sua mão.
D.Henrique foi outro filho de D.João
I e ficou conhecido como “O
navegador”. Teria criado uma escola
de navegação, um observatório
astronômico e um estaleiro para
construção de navios, contribuindo
muito para a expansão marítima
portuguesa.
Bellun sine bello
PARTEU
M=BRA
SÃO
V.O TIMBRE
UMA ASA DO GRIFO / D.JOÃO,O SEGUNDO
Braços cruzados, fita além do mar.
Parece em promontório uma alta serra —
O limite da terra a dominar
O mar que possa haver além da terra.
Seu formidável vulto solitário
Enche de estar presente o mar e o céu
E parece temer o mundo vário
Que ele abra os braços e lhe rasgue o véu
D. João II foi o décimo terceiro rei de
Portugal. Continuou a obra do
infante D. Henrique apoiando e
expedições
flnanciado várias
marítimas.
Bellun sine bello
PARTEU
M=BRA
SÃO
V.O TIMBRE
A OUTRA ASA DO GRIFO / AFONSO DE
ALBUQUERQUE
De pé,sobre os países conquistados
Desce os olhos cansados
De ver o mundo e a injustiça e a sorte.
Não pensa em vida ou morte
Tão poderoso que não quer o quanto
Pode,que o querer tanto
Calcara mais do que o submisso mundo
Sob o seu passo fundo.
Três impérios do chão lhe a Sorte apanha.
Criou-os como quem desdenha.
Afonso de Albuquerque foi um
militar que expandiu o império
português e se tornou temido e
respeitado em todo o Oriente (de pé
sobre os países conquistados)
Bellun sine bello
PARTEDO
IS=M
A
RPORT
U
G
U
ÊS
Essa segunda parte começa com
nova referência ao infante D.
Henrique, o navegador. Também é
reforçada a ideia de que a expansão
do império português é obra de
Deus (Deus quer, o homem sonha, a
obra nasce)
No final do poema já se anuncia a
decadência desse império
conquistado (o império se desfez)
Possessio maris
I.O INFANTE
Deus quer, o homem sonha, a obra nasce.
Deus quis que a terra fosse toda uma,
Que o mar unisse,já não separasse.
Sagrou-te,e foste desvendando a espuma,
E a orla branca foide ilha em continente,
Clareou, correndo, até ao fim do mundo,
E viu-se a terra inteira,de repente, Surgir,
redonda,do azul profundo.
Quem te sagrou criou-te português..
Do mar e nós em ti nos deu sinal.
Cumpriu-se o Mar, e o Império se desfez.
Senhor,falta cumprir-se Portugal!
PARTEDO
IS=M
A
RPORT
U
G
U
ÊS
O poema começa com uma
referência aos mistérios e medos em
relação ao mar antes das
navegações. A “linha severa da
longínqua costa” se transforma em
árvores, sons e cores “quando a nau
se aproxima”
Também se percebe uma apologia à
natureza humana que está sempre
em busca de “formas invisíveis”
movidos pela “esperança”
Possessio maris
II.HORIZONTE
O mar anterior a nós, teus medos
Tinham coral e praias e arvoredos.
Desvendadas a noite e a cerração,
As tormentas passadas e o mistério,
Abria em flor o Longe,e o Sul sidério
'Splendia sobre as naus da iniciação.
Linha severa da longínqua costa —
Quando a nau se aproxima ergue-se a encosta
Em árvores onde o Longe nada tinha;
Mais perto, abre-se a terra em sons e cores:
E,no desembarcar,há aves,flores,
Onde era só,de longe a abstrata linha
O sonho é ver as formas invisíveis
Da distância imprecisa,e,com sensíveis
Movimentos da esperança e da vontade,
Buscar na linha fria do horizonte
A árvore, a praia, a flor, a ave, a fonte —
Os beijos merecidos da Verdade.
PARTEDO
IS=M
A
RPO
RT
U
G
U
ÊS
Padrão era um monumento de
pedra que os portugueses fixavam
nas terras conquistadas.
Diogo cão foi um notável
conquistador a serviço de D. João
II.
O poema faz referência às
conquistas portuguesas (o mar
sem fim é português) ao mesmo
tempo que anuncia que ainda há
muito a conquistar (o porto
sempre por achar)
Possessio maris
III.PADRÃO
O esforço é grande e o homem é pequeno.
Eu,Diogo Cão,navegador,deixei
Este padrão ao pé do areal moreno
E para diante naveguei.
A alma é divina e a obra é imperfeita.
Este padrão sinala ao vento e aos céus
Que,da obra ousada,é minha a parte feita:
O por-fazer é só com Deus.
E ao imenso e possível oceano
Ensinam estas Quinas, que aqui vês,
Que o mar com fim será grego ou romano:
O mar sem fim é português.
E a Cruz ao alto diz que o que me há na alma
E faz a febre em mim de navegar
Só encontrará de Deus na eterna calma
O porto sempre por achar.
PARTEDO
IS=M
A
RPO
RT
U
G
U
ÊS Três vezes do leme as mãos ergueu,
Três vezes ao leme as reprendeu,
E disse no fim de tremer três vezes:
«Aquiao leme sou mais do que eu:
Sou um povo que quer o mar que é teu;
E mais que o mostrengo, que me a alma teme
E roda nas trevas do fim do mundo,
M anda a vontade,que me ata ao leme,
De El-ReiD.João Segundo!»
O monstrengo referido nesse
poema equivale a figura do gigante
Adamastor d’Os Lusíadas. Ambos
as dificuldades e
vencidos pelos
em sua empreitada
simbolizam
perigos
portugueses
marítima.
Possessio maris
IV.O MONSTRENGO
mostrengo que está no fim do mar
Na noite de breu ergueu-se a voar;
A roda da nau voou três vezes,
Voou três vezes a chiar,
E disse:«Quem é que ousou entrar
Nas minhas cavernas que não desvendo,
Meus tetos negros do fim do mundo?»
E o homem do leme disse, tremendo:
«El-ReiD.João Segundo!»
«De quem são as velas onde me roço?
De quem as quilhas que vejo e ouço?»
Disse o mostrengo, e rodou três vezes,
Três vezes rodou imundo e grosso.
«Quem vem poder o que só eu posso,
Que moro onde nunca ninguém me visse
E escorro os medos do mar sem fundo?»
E o homem do leme tremeu,e disse:
«El-ReiD.João Segundo!»
O poema é uma espécie de
homenagem a Bartolomeu Dias, o
primeiro navegador a “
dobrar”o cabo
das tormentas, hoje conhecido como
cabo da boa esperança.
Esse lugar era marcado por violentas
tempestades e de difícil travessia.
P
ARTEDO
IS=M
A
RPO
RT
U
G
U
ÊS
Possessio maris
V.EPITÁFIO DE BARTOLOMEU DIAS
Jaz aqui, na pequena praia extrema,
O Capitão do Fim. Dobrado o Assombro,
O mar é o mesmo:já ninguém o tema!
Atlas,mostra alto o mundo no seu ombro.
Este poema se refere a outros
navegadores não portugueses que
também desbravaram o mar, como
Cristóvão Colombo.
Observe que o poeta exalta a
superioridade dos portugueses no
final do poema quando afirma que a
por uma
navegadores é
luz
glória destes
“auréola dada
emprestada”
P
ARTEDO
IS=M
A
RPO
RT
U
G
U
ÊS
Possessio maris
VI.OS COLOMBOS
Outros haverão de ter
O que houvermos de perder.
Outros poderão achar
O que, no nosso encontrar,
Foi achado, ou não achado,
Segundo o destino dado.
Mas o que a eles não toca
É a Magia que evoca
O Longe e faz dele história.
E por isso a sua glória
É justa auréola dada
Por uma luz emprestada.
VII.OCIDENTE
Com duas mãos — o Ato e o Destino —
Desvendamos. No mesmo gesto,ao céu
Uma ergue o fecho trêmulo e divino
E a outra afasta o véu.
Fosse a hora que haver ou a que havia
A mão que ao Ocidente o véu rasgou,
Foi a alma a Ciência e corpo a Ousadia
Da mão que desvendou.
Fosse Acaso, ou Vontade, ou Temporal
A mão que ergueu o facho que luziu,
Foi Deus a alma e o corpo Portugal
Da mão que o conduziu..
Novamente um poema que exalta
em tom ufanista as navegações e as
conquistas do povo português que
“rasgou o véu” dos mares ao
Ocidente.
Também aparece novamente a ideia
de que tudo foi obra do desejo
divino (foi Deus a alma)
PARTEDO
IS=M
A
RPO
RT
U
G
U
ÊS
Possessio maris
PARTEDO
IS=M
A
RPO
RT
U
G
U
ÊS
Violou a Terra.M as eles não
O sabem, e dançam na solidão;
E sombras disformes e descompostas,
Indo perder-se nos horizontes,
Galgam do vale pelas encostas
Dos mudos montes.
Fernão de Magalhães montou uma
esquadra com a qual descobriu a
passagem interoceânica
conhecida como estreito
atlântico/pacífico que hoje é
de
Magalhães e fez a primeira viagem
a circundar a terra (ele não chegou
ao final dessa viagem, tendo sido
morto por índios nas Filipinas, mas
seus comandados completaram
esse feito histórico)
Possessio maris
VIII.FERNÃO DE MAGALHÃES
No vale clareia uma fogueira.
Uma dança sacode a terra inteira.
E sombras desformes e descompostas
Em clarões negros do vale vão
Subitamente pelas encostas,
Indo perder-se na escuridão.
De quem é a dança que a noite aterra?
São os Titãs,os filhos da Terra,
Que dançam na morte do marinheiro
Que quis cingir o materno vulto —
Cingiu-o, dos homens, o primeiro —,
Na praia ao longe por fim sepulto.
Dançam, nem sabem que a alma ousada
Do morto ainda comanda a armada,
Pulso sem corpo ao leme a guiar
As naus no resto do fim do espaço:
Que até ausente soube cercar
A terra inteira com seu abraço.
IX.ASCENSÃO DE VASCO DA GAMA
Os Deuses da tormenta e os gigantes da terra
Suspendem de repente o ódio da sua guerra
E pasmam. Pelo vale onde se ascende aos céus
Surge um silêncio,e vai,da névoa ondeando os véus,
Primeiro um movimento e depois um assombro.
Ladeiam-no, ao durar, os medos, ombro a ombro, E
ao longe o rastro ruge em nuvens e clarões.
Embaixo, onde a terra é, o pastor gela, e a flauta
Cai-lhe,e em êxtase vê,à luz de mil trovões,
O céu abriro abismo à alma do Argonauta.
Vasco da Gama foi o comandante da
expedição portuguesa que
descobriu a rota marítima para a
índia. Essa viagem aconteceu entre
julho de 1497 e maio de 1498,
quando os portugueses chegaram
em Calecute, na Índia.
O feito de Vasco da Gama está
imortalizado nos versos d’Os
Lusíadas e abriu as portas para as
grandes conquistas portuguesas
PA
RTEDO
IS=M
A
RPO
RT
U
G
U
ÊS
Possessio maris
X.MAR PORTUGUÊS
Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso,ó mar!
Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.
O mais conhecido e mais célebre
dos poemas de Mensagem. Na
primeira parte temos a exaltação
ufanista das conquistas
portuguesas em uma temática
épica. Na segunda parte, temos a
“mensagem” lírica universal de que
“tudo vale a pena se a alma não é
pequena”
PARTEDO
IS=M
A
RPO
RT
U
G
U
ÊS
Possessio maris
PA
RTEDO
IS=M
A
RPO
RT
U
G
U
ÊS
Não sei a hora, mas sei que há a hora,
Demore-a Deus, chame-lhe a alma embora
Mistério.
Surges ao sol em mim, e a névoa finda:
A mesma, e trazes o pendão ainda
Do Império.
Este poema faz referência a
D.
expedição desastrada de
Sebastião e funciona como uma
metáfora da queda final do império
português, que ficaria sob domínio
espanhol de 1580 a 1640.
Tem-se também a referência ao
surgimento do mito do
sebastianismo (vejo entre a cerração
teu vulto baço que torna)
Possessio maris
XI.A ÚLTIMA NAU
Levando a bordo El-Rei D. Sebastião,
E erguendo,como um nome,alto o pendão
Do Império,
Foi-se a última nau,ao sol aziago
Erma, e entre choros de ânsia e de pressago
Mistério.
Não voltou mais.A que ilha indescoberta Aportou?
Voltará da sorte incerta
Que teve?
Deus guarda o corpo e a forma do futuro,
Mas Sua luz projeta-o,sonho escuro
E breve.
Ah,quanto mais ao povo a alma falta,
Mais a minha alma atlântica se exalta
E entorna,
E em mim,num mar que não tem tempo ou
espaço,Vejo entre a cerração teu vulto baço
Que torna.
XII.PRECE
Senhor, a noite veio e a alma é vil.
Tanta foi a tormenta e a vontade!
Restam-nos hoje, no silêncio hostil,
O mar universal e a saudade.
Mas a chama, que a vida em nós criou,
Se ainda há vida ainda não é finda.
O frio morto em cinzas a ocultou:
A mão do vento pode erguê-la ainda.
Dá o sopro,a aragem — ou desgraça ou ânsia —
Com que a chama do esforço se remoça,
E outra vez conquistaremos a Distância —
Do mar ou outra,mas que seja nossa!
Em forma de prece (oração) o poeta
lamenta a derrocada do império
português (Senhor, a noite veio) e
pede um sopro divino que reacenda
a “chama” do esforço e da coragem
que fizeram a glória passada de
Portugal.
PARTEDO
IS=M
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G
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Possessio maris
P
A
RTET
RÊS=OENCO
BER
T
O
Pax in Excelsis
I. OS SÍMBOLOS
PRIMEIRO / D.SEBASTIÃO
Esperai! Cai no areal e na hora adversa
Que Deus concede aos seus
Para o intervalo em que esteja a alma imersa
Em sonhos que são Deus.
Que importa o areal e a morte e a desventura
Se com Deus me guardei?
É O que eu me sonhei que eterno dura
É Esse que regressarei.
Emissor é o próprio D. Sebastião
anunciando sua volta (É esse que
regressarei). Novamente vemos um
sebastianismo messiânico. D.
Sebastião representa a vontade
divina, o messias que vai redimir os
homens.
I. OS SÍMBOLOS
SEGUNDO / O QUINTO IMPÉRIO
Triste de quem vive em casa,
Contente com o seu lar,
Sem que um sonho,no erguer de asa
Faça até mais rubra a brasa
Da lareira a abandonar!
Triste de quem é feliz!
Vive porque a vida dura.
Nada na alma lhe diz
Mais que a lição da raiz
Ter por vida a sepultura.
Eras sobre eras se somem
No tempo que em eras vem.
Ser descontente é ser homem.
Que as forças cegas se domem
Pela visão que a alma tem!
PARTET
RÊS=OENCO
BERTO
Pax in Excelsis
E assim, passados os quatro
Tempos do ser que sonhou,
A terra será teatro
Do dia claro,que no atro
Da erma noite começou.
Grécia,Roma,Cristandade,
Europa — os quatro se vão
Para onde vaitoda idade.
Quem vem viver a verdade
Que morreu D.Sebastião?
Na concepção espiritualista de
Fernando pessoa, os impérios
também são espirituais. Assim, os
quatro primeiros seriam o grego, o
romano, o cristão e o europeu pós
renascimento (pensamento laico).
Caberia assim a Portugal ser o
quinto e definitivo império.
I. OS SÍMBOLOS
TERCEIRO / O DESEJADO
Onde quer que, entre sombras e dizeres,
Jazas,remoto,sente-te sonhado,
E ergue-te do fundo de não-seres
Para teu novo fado!
Vem, Galaaz com pátria,erguer de novo,
Mas já no auge da suprema prova,
A alma penitente do teu povo
À Eucaristia Nova.
Mestre da Paz,ergue teu gládio ungido,
Excalibur do Fim, em jeito tal
Que sua Luz ao mundo dividido
Revele o Santo Graal!
PARTET
RÊS=OENCO
BERTO
Pax in Excelsis
Nova referência ao mito
sebastianista, agora comparado a
Galaaz, personagem lendário
medieval, cavaleiro sem pecado que
parte em busca do Santo Graal para
restituir a luz ao mundo e triunfo do
espírito superior.
PARTET
RÊS=OENCO
BERTO
Pax in Excelsis
I. OS SÍMBOLOS
QUARTO / AS ILHAS AFORTUNADAS
Que voz vem no som das ondas
Que não é a voz do mar?
E a voz de alguém que nos fala,
Mas que,se escutarmos,cala,
Por ter havido escutar.
E só se, meio dormindo,
Sem saber de ouvir ouvimos
Que ela nos diz a esperança
A que, como uma criança
Dormente, a dormir sorrimos.
São ilhas afortunadas
São terras sem ter lugar,
Onde o Rei mora esperando.
Mas, se vamos despertando
Cala a voz.e há só o mar.
Referência metafórica a ilhas
imaginárias onde repousa o espírito
de D. Sebastião e de onde se ouve
sua voz que procura despertar a
nação portuguesa.
Uma vez despertada a nação, essa
voz se calaria e restaria o mar,
símbolo da grandeza de Portugal.
P
ARTET
RÊS=OENCO
BER
T
O
Pax in Excelsis
I. OS SÍMBOLOS
QUINTO / O ENCOBERTO
Que símbolo fecundo
Vem na aurora ansiosa?
Na Cruz Morta do Mundo
A Vida, que é a Rosa.
Que símbolo divino
Traz o dia já visto?
Na Cruz,que é o Destino,
A Rosa que é o Cristo.
Que símbolo final
Mostra o sol já desperto?
Na Cruz morta e fatal
A Rosa do Encoberto.
O encoberto é uma forma como é
nominado D. Sebastião. Novamente
a sua figura é associada a um
“símbolo divino” que trará a luz ao
povo português.
P
ARTET
RÊS=OENCO
BER
T
O
Pax in Excelsis
II.OS AVISOS
PRIMEIRO / O BANDARRA
Sonhava, anônimo e disperso,
O Império por Deus mesmo visto,
Confuso como o Universo
E plebeu como Jesus Cristo.
Não foi nem santo nem herói,
Mas Deus sagrou com Seu sinal
Este, cujo coração foi
Não português,mas Portugal.
Nesta sequência, Fernando
Pessoa refere-se a “profecias”
sobre a volta de D. Sebastião.
Nesse primeiro, refere-se a
Gonçalo Anes, sapateiro e poeta a
quem chamavam de Bandarra e
que profetizara a vinda de um rei
“
encoberto” redentor da
humanidade.
PARTET
RÊS=OENCO
BERTO
O céu estrela o azul e tem grandeza.
Este,que teve a fama e à glória tem,
Imperador da língua portuguesa,
Foi-nos um céu também.
No imenso espaço seu de meditar,
Constelado de forma e de visão,
Surge, prenúncio claro do luar,
El-Rei D.Sebastião.
Mas não,não é luar:é luz do etéreo.
É um dia,e,no céu amplo de desejo,
A madrugada irreal do Quinto Império
Doira as margens do Tejo.
Pax in Excelsis
II.OS AVISOS
SEGUNDO / ANTÔNIO VIEIRA
Pe. Vieira, autor barroco, foi o maior
orador da língua portuguesa. Além de
seus famosos Sermões, também
escreveu alguns textos proféticos
onde preconizava a volta de D.
Sebastião, como aparece na segunda
estrofe.
PARTET
RÊS=OENCO
BERTO
II.OS AVISOS
TERCEIRO
Escrevo meu livro à beira-mágoa.
Meu coração não tem que ter.
Tenho meus olhos quentes de água.
Só tu,Senhor,me dás viver.
Só te sentir e te pensar
Meus dias vácuos enche e doura.
Mas quando quererás voltar?
Quando é o Rei? Quando é a Hora?
Quando virás a ser o Cristo
De a quem morreu o falso Deus,
E a despertar do mal que existo
A Nova Terra e os Novos Céus?
Quando virás,ó Encoberto,
Sonho das eras português,
Tornar-me mais que o sopro incerto
De um grande anseio que Deus fez?
Ah, quando quererás voltando,
Fazer minha esperança amor?
Da névoa e da saudade quando?
Quando, meu Sonho e meu Senhor?
Mais um poema em forma de
prece onde o poeta se dirige a um
senhor (em que se confunde a
figura de Deus e de D. Sebastião)
questionando quando ele voltará
para tornar seu sonho realidade.
Pax in Excelsis
PARTET
RÊS=OENCO
BERTO
III. OS TEMPOS
PRIMEIRO / NOITE
A nau de um deles tinha-se perdido
No mar indefinido.
O segundo pediu licença ao Rei
De, na fé e na lei
Da descoberta,ir em procura
Do irmão no mar sem fim e a névoa escura.
Tempo foi.Nem primeiro nem segundo
Volveu do fim profundo
Do mar ignoto à pátria por quem dera
O enigma que fizera.
Então o terceiro a El-Rei rogou
Licença de os buscar, e El-Rei negou.
Como a um cativo,o ouvem a passar
Os servos do solar.
E,quando o veem, veem a figura
Da febre e da amargura,
Com fixos olhos rasos de ânsia
Fitando a proibida azul distância.
Senhor,os dois irmãos do nosso Nome
— O Poder e o Renome —
Ambos se foram pelo mar da idade
À tua eternidade;
E com eles de nós se foi
O que faz a alma poder ser de herói.
Queremos ir buscá-los,desta vil
Nossa prisão servil:
É a busca de quem somos, na distância
De nós;e,em febre de ânsia,
A Deus as mãos alçamos.
Mas Deus não dá licença que partamos.
Simbolicamente, o poeta representa o
declínio de Portugal na figura de três
irmãos. Os dois primeiros (Poder e
renome – representando a Glória)
perderam-se no mar.Portugal (o nome)
anseia sair em busca dos irmãos, mas
depende da vontade de Deus.
Pax in Excelsis
P
A
RTET
RÊS=OENCO
BER
T
O
Pax in Excelsis
III. OS TEMPOS
SEGUNDO / TORM ENTA
Que jaz no abismo sob o mar que se ergue?
Nós,Portugal,o poderser
.
Que inquietação do fundo nos soergue?
O desejar poderquerer
.
Isto,e o mistério de que a noite é o fausto...
Mas súbito,onde o vento ruge,
O relâmpago,farolde Deus,um hausto
Brilha e o mar escuro estruge.
Aqui a realidade portuguesa, com
seus conflitos e agitações, é
comparada com uma tormenta. No
meio dessa tormenta surge o
“relâmpago, farol de Deus” como
uma luz a combater as trevas e
fomentar a esperança de dias
melhores.
PARTET
RÊS=OENCO
BERTO
Ilha próxima e remota,
Que nos ouvidos persiste,
Para a vista não existe.
Que nau,que armada,que frota
Pode encontrar o caminho
A praia onde o mar insiste,
Se à vista o mar é sozinho?
Pax in Excelsis
III. OS TEMPOS
TERCEIRO / CALMA
Que costa é que as ondas contam
E se não pode encontrar
Por mais naus que haja no mar?
O que é que as ondas encontram
E nunca se vê surgindo?
Este som de o mar praiar
Onde é que está existindo?
Haverá rasgões no espaço
Que deem para outro lado,
E que,um deles encontrado,
Aqui, onde há só sargaço,
Surja uma ilha velada,
O país afortunado
Que guarda o Rei desterrado
Em sua vida encantada?
Depois da tormenta vem a calmaria
e Portugal poderá encontrar “o país
afortunado/que guarda o Rei
desterrado”
PA
RTET
RÊS=OENCO
BERT
O
Pax in Excelsis
III. OS TEMPOS
QUARTO / ANTEMANHÃ
O mostrengo que está no fim do mar
Veio das trevas a procurar
A madrugada do novo dia
Do novo dia sem acabar
E disse:Quem é que dorme a lembrar
Que desvendou o Segundo Mundo
Nem o Terceiro quere desvendar?
E o som na treva de ele rodar
Faz mau o sono,triste o sonhar,
Rodou e foi-se o mostrengo servo
Que seu senhor veio aquibuscar.
Que veio aqui seu senhor chamar —
ChamarAquele que está dormindo
E foi outrora Senhor do Mar.
Antemanhã é o momento anterior
ao nascer do dia. Nesse novo dia, a
pátria novamente vai vencer “o
monstrengo que está no fim do
mar” e reconquistar suas glórias. É
chegada a hora de despertar
“Aquele que está dormindo/e foi
outrora Senhor do Mar.” Ou seja, é
hora de Portugal despertar.
PARTET
RÊS=OENCO
BERTO
Pax in Excelsis
III. OS TEMPOS
QUINTO / NEVOEIRO
Nem rei nem lei,nem paz nem guerra,
Define com perfil e ser
Este fulgor baço da terra
Que é Portugal a entristecer —
Brilho sem luz e sem arder,
Como o que o fogo-fátuo encerra.
Ninguém sabe que coisa quer.
Ninguém conhece que alma tem,
Nem o que é mal nem o que é bem.
(Que ânsia distante perto chora?)
Tudo é incerto e derradeiro.
Tudo é disperso, nada é inteiro.
Ó Portugal,hoje és nevoeiro...
É a Hora!
Valete,Frates.
Neste último poema, o poeta
sintetiza o momento de tristeza e
apatia vivida pelo
cegado
povo
pelo
português,
nevoeiro.
No entanto, apesar do nevoeiro,
o dia já chegou e o poeta incita
os portugueses a se levantarem:
“E a hora”
.
O poema e o livro se encerram
com a expressão latina “Valete,
Fratres”, que significa – Adeus,
irmãos.
CO
N
T
EX
T
OSÓCIO
CUL
TUR
A
L
Estes poemas foram elaborados entre 1913
e 1934, período marcado por rupturas e
mudanças culturais que caracterizaram o
modernismo português.
Os poemas contrastam essa realidade
portuguesa do início do século XX com a
trajetória de ascensão e queda do império
português na época das grandes
navegações.
EStRU
tU
RanaRRatIVa
VOZ LÍRICA – oscilação entre a voz que
representa o próprio poeta e vozes de
personagens históricos portugueses.
elevada,
usada na
LINGUAGEM – linguagem culta,
reproduzindo inclusive a grafia
época dos acontecimentos.
ESTILO – reprodução do estilo clássico
dominante no período abordado nos poemas.
EStRU
tU
RanaRRatIVa
TEMPO – Os poemas abordam a trajetória de
ascensão e queda do império português em
contraste com a realidade do início do sec.XX
ESPAÇO – referências a espaços reais do
império português e também a lugares
fictícios (ilhas) onde repousa o espírito
sebastianista e o quinto império
ESCOLA – Embora o livro tenha sido escrito e
publicado dentro do modernismo português,
seu estilo e linguagem se identificam mais
com o estilo clássico

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  • 2. FERN A N DOPESSO A Fernando Antônio Nogueira Pessoa foi um poeta, filósofo, dramaturgo, ensaísta, tradutor, publicitário, astrólogo, inventor, empresário, correspondente comercial, crítico literário e comentarista político português. Das quatro obras que publicou em vida, três são na língua inglesa e apenas uma em língua portuguesa, intitulada Mensagem. Enquanto poeta, escreveu sob diversas personalidades – heterónimos, como Ricardo Reis, Álvaro de Campos e Alberto Caeiro –, sendo estes últimos objeto da maior parte dos estudos sobre a sua vida e obra. N ascim ento 1 3/06/1 888 m orte30/1 1 /1 935
  • 3. M EN SA G A M-1 934 01 – HISTÓRICO NACIONAL Grandes navegações Era das conquistas 02 – MÍSTICO UNIVERSAL Sebastianismo Questões existenciais DO ISN ÍVEISDElEIT U RA
  • 4. O mundo conduz-se por mentiras (mitos); quem quiser despertá-lo ou conduzi-lo terá que mentir-lhe delirantemente, e fá-lo-á com tanto mais êxito quanto mais mentir a si mesmo e se compenetrar da verdade da mentira que criou. Temos, felizmente, o mito sebastianista, com raízes profundas no passado e na alma portuguesa. Nosso trabalho é pois mais fácil; não temos de criar um mito, senão que renová-lo. Comecemos por nos embebedar desse sonho, por o integrar em nós, por o encarar. Feito isto, o sonho se derramará sem esforço em tudo o que dissermos ou escrevermos, e a atmosfera estará criada, em que todos os outros, como nós, o respirem. Então, se dará na Alma da nação, o fenômeno imprevisível de onde nascerão as Novas Descobertas, a criação do Mundo novo, o Quinto Império. Terá regressado El-rei D.Sebastião. -jornal do comércio e das colônias – 28/05/1926
  • 5. QUARENTA E QUATRO POEMAS Divididos em três partes ● PARTE UM =BRASÃO (19 poemas) -Os Campos = 2 poemas -Os Castelos = 8 poemas -As Quinas = 5 poemas -A Coroa =1poema -O Timbre =3 poemas ● PARTE DOIS =MAR PORTUGUÊS (12 poemas) ● PARTE TRÊS =O ENCOBERTO (13 poemas) -Os Símbolos = 5 poemas -Os Avisos =3 poemas -Os Tempos =5 poemas EST RU T U RADAOBRA
  • 6. QUARENTA E QUATRO POEMAS Divididos em três partes ● PARTE UM =BRASÃO (19 poemas) ESTRU T U RADAOBRA Crédito: Poesia comentada – Mensagem – Fernando pessoa (p. 22)
  • 7. PARTEU M=BRA SÃO I.OS CAMPOS PRIM EIRO / O DOS CASTELOS A Europa jaz,posta nos cotovelos: De Oriente a Ocidente jaz,fitando, E toldam-lhe românticos cabelos Olhos gregos,lembrando. O cotovelo esquerdo é recuado; O direito é em ângulo disposto. Aquele diz Itália onde é pousado; Este diz Inglaterra onde, afastado, A mão sustenta, em que se apoia o rosto. Fita,com olhar sphyngico e fatal, O Ocidente,futuro do passado. O rosto com que fita é Portugal. Descrição da Europa e sua localização, onde Portugal ocupa um lugar de destaque, olhando para o futuro. Semelhança com os versos d’Os Lusíadas: Eis aqui,quasi cume da cabeça De Europa toda, o Reino Lusitano, Onde a Terra se acaba e o Mar começa E onde Febo repousa no Oceano. Bellun sine bello
  • 8. PARTEU M=BRA SÃO I.OS CAMPOS SEGUNDO / O DAS QUINAS Os Deuses vendem quando dão. Compra-se a glória com desgraça. Ai dos felizes,porque são Só o que passa! Baste a quem baste o que Ihe basta O bastante de Ihe bastar! A vida é breve, a alma é vasta: Ter é tardar. Foi com desgraça e com vileza Que Deus ao Cristo definiu: Assim o opôs à Natureza E Filho o ungiu.. Referência ao espaço onde se localizam as quinas, símbolos de glórias conquistadas com esforço e sofrimento Bellun sine bello
  • 9. Referência à uma lenda segundo a qual Lisboa teria sido fundada por Ulisses, herói grego d’Odisséia. P ARTEU M=BRA SÃO Bellun sine bello II.OS CASTELOS PRIMEIRO / ULISSES O mytho é o nada que é tudo. O mesmo sol que abre os céus É um mytho brilhante e mudo — - O corpo morto de Deus, Vivo e desnudo. Este, que aqui aportou, Foi por não ser existindo. Sem existir nos bastou. Por não ter vindo foi vindo E nos criou. Assim a lenda se escorre A entrar na realidade, E a fecundá-la decorre. Em baixo,a vida,metade De nada, morre.
  • 10. Outra referência aos tempos primitivos de formação de Portugal. Viriato foi um antigo chefe dos (povo que habitava a que resistiu às legiões Lusitanos península) romanas. P ARTEU M=BRA SÃO Bellun sine bello II.OS CASTELOS SEGUNDO / VIRIATO Se a alma que sente e faz conhece Só porque lembra o que esqueceu, Vivemos,raça,porque houvesse Memória em nós do instinto teu. Nação porque reencarnaste, Povo porque ressuscitou Ou tu,ou o de que eras a haste — Assim se Portugal formou. Teu ser é como aquela fria Luz que precede a madrugada, E é já o ir a haver o dia Na antemanhã,confuso nada.
  • 11. PARTEU M=BRA SÃO II.OS CASTELOS TERCEIRO / O CONDE D.HENRIQUE Todo começo é involuntário. Deus é o agente. O herói a si assiste, vário E inconsciente. À espada em tuas mãos achada Teu olhar desce. «Que fareieu com esta espada?» Ergueste-a,e fez-se. D. Henrique casou-se com a filha bastarda de Afonso VI, rei de Leão e castelo, e herdou o território do Minho ao Tejo, que formava o condado Portucalense. casamento nasceu D. Desse Afonso Henrique,primeiro rei de Portugal. Bellun sine bello
  • 12. PARTEU M=BRA SÃO II.OS CASTELOS QUARTO / D.TAREJA As naçôes todas são mystérios. Cada uma é todo o mundo a sós. Ó mãe de reis e avó de impérios, Vela por nós! Teu seio augusto amamentou Com bruta e natural certeza O que,imprevisto,Deus fadou. Por ele reza! Dê tua prece outro destino A quem fadou o instinto teu! O homem que foi o teu menino Envelheceu. Mas todo vivo é eterno infante Onde estás e não há o dia. No antigo seio,vigilante, De novo o cria D. Tareja é D. Teresa, esposa do conde D. Henrique e mãe de D. Afonso Henriques, primeiro rei de Portugal. Daí a afirmação de que ela é mãe de reis e avó de impérios Bellun sine bello
  • 13. PARTEU M=BRA SÃO Pai,foste cavaleiro. Hoje a vigília é nossa. Dá-nos o exemplo inteiro E a tua inteira força! Dá, contra a hora em que, errada, Novos infiéis vençam, A bênção como espada, A espada como benção! D. Afonso Henriques tornou-se D. Afonso I, primeiro rei de Portugal e notabilizou-se por suas lutas e vitórias contra os mouros e defesa do cristianismo. No poema, é “pai” do povo referido como português Bellun sine bello II.OS CASTELOS QUINTO / D.AFONSO HENRIQUES
  • 14. D. Dinis foi o sexto rei de Portugal. Era amante das letras e foi um dos mais importantes trovadores do trovadorismo português. É visto como um rei premonitório ao fundar a marinha portuguesa e ter mandado plantar o pinhal de Leiria, de onde sairia a madeira para a construção dos navios, como se estivesse prevendo as navegações portuguesas P ARTEU M=BRA SÃO Bellun sine bello II.OS CASTELOS SEXTO / D.DINIS Na noite escreve um seu Cantar de Amigo O plantador de naus a haver, E ouve um silêncio múrmuro consigo: É o rumor dos pinhais que,como um trigo De Império, ondulam sem se poder ver. Arroio,esse cantar,jovem e puro, Busca o oceano por achar; E a fala dos pinhais, marulho obscuro, É o som presente desse mar futuro, É a voz da terra ansiando pelo mar.
  • 15. PARTEU M=BRA SÃO O homem e a hora são um só Quando Deus faz e a história é feita. O mais é carne, cujo pó A terra espreita. Mestre, sem o saber, do Templo Que Portugal foi feito ser, Que houveste a glória e deste o exemplo De o defender. Teu nome, eleito em sua fama, É,na ara da nossa alma interna, A que repele,eterna chama, A sombra eterna. D. João I foi o décimo rei de Portugal e fundador da dinastia de Avis que (apoiada substituiu pela burguesia) a dinastia Afonsina (apoiada pelos nobres) Bellun sine bello II.OS CASTELOS SÉTIMO (I) / D.JOÃO,O PRIMEIRO
  • 16. PARTEU M=BRA SÃO II.OS CASTELOS SÉTIMO (II) / D. FILIPA DE LENCASTRE Que enigma havia em teu seio Que só gênios concebia? Que arcanjo teus sonhos veio Velar,maternos,um dia? Volve a nós teu rosto sério, Princesa do Santo Graal, Humano ventre do Império, Madrinha de Portugal! D. Filipa de Lencastre foi mulher de D. João I e rainha de Portugal. Era vista como mãe dos nobres (“só gênios concebia) e representante de alta espiritualidade (princesa do santo Graal) Bellun sine bello
  • 17. PARTEU M=BRA SÃO III.AS QUINAS PRIMEIRA / D.DUARTE,REI DE PORTUGAL Meu dever fez-me, como Deus ao mundo. A regra de ser Rei almou meu ser, Em dia e letra escrupuloso e fundo. Firme em minha tristeza,tal vivi. Cumpri contra o Destino o meu dever. Inutilmente? Não, porque o cumpri. D. Duarte, filho mais velho de D. João I, foi o décimo primeiro rei de Portugal. Era um intelectual, amante das letras e sem vocação para governar. (cumpri contra o destino o meu dever) Bellun sine bello
  • 18. PARTEU M=BRA SÃO III.AS QUINAS SEGUNDA / D.FERNANDO,INFANTE DE PORTUGAL Deu-me Deus o seu gládio, porque eu faça A sua santa guerra. Sagrou-me seu em honra e em desgraça, Às horas em que um frio vento passa Por sobre a fria terra. Pôs-me as mãos sobre os ombros e doirou-me A fronte com o olhar; E esta febre de Além, que me consome, E este querer grandeza são seu nome Dentro em mim a vibrar. E eu vou,e a luz do gládio erguido dá Em minha face calma. Cheio de Deus, não temo o que virá, Pois venha o que vier,nunca será Maior do que a minha alma. D. Fernando era irmão de D. Duarte. Foi feito prisioneiro pelos mouros e sofreu torturas até a morte, tornando-se um mártir associado a defesa da fé cristã. (Deu-me Deus o seu gládio, porque eu faça a sua santa guerra) Bellun sine bello
  • 19. PARTEU M=BRA SÃO III.AS QUINAS TERCEIRA / D.PEDRO,REGENTE DE PORTUGAL Claro em pensar, e claro no sentir, É claro no querer; Indiferente ao que há em conseguir Que seja só obter; Dúplice dono,sem me dividir, De dever e de ser — Não me podia a Sorte dar guarida Por não ser eu dos seus. Assim vivi,assim morri,a vida, Calmo sob mudos céus, Fiel à palavra dada e à ideia tida. Tudo o mais é com Deus! D. Pedro foi outro irmão de D. Duarte. Quando o rei D. Duarte morreu, deixou um filho (D.Afonso) de apenas 5 anos. D. Pedro foi regente de Portugal até D. Afonso ter idade para governar. Apesar de ter entregue o poder ao sobrinho, foi vítima de um complô que o acusava de querer usurpar o trono e assassinado. Bellun sine bello
  • 20. PARTEU M=BRA SÃO III.AS QUINAS QUARTA / D.JOÃO,INFANTE DE PORTUGAL Não fuialguém. Minha alma estava estreita Entre tão grandes almas minhas pares, Inutilmente eleita, Virgemente parada; Porque é do português,paide amplos mares, Querer, poder só isto: O inteiro mar, ou a orla vã desfeita — O todo,ou o seu nada. D. João foi o último dos oito filhos de D. João I e dona Filipa de Lancastre. Foi o mais apagado da dinastia (não fui alguém) e parece simbolizar o extremismo da alma portuguesa (o todo ou o seu nada) Bellun sine bello
  • 21. PARTEU M=BRA SÃO III.AS QUINAS QUINTA / D.SEBASTIÃO,REI DE PORTUGAL Louco, sim, louco, porque quis grandeza Qual a Sorte a não dá. Não coube em mim minha certeza; Por isso onde o areal está Ficou meu ser que houve, não o que há. Minha loucura,outros que me a tomem Com o que nela ia. Sem a loucura que é o homem Mais que a besta sadia, Cadáver adiado que procria? D.Sebastião foi o décimo sexto rei de Portugal e era tomado por sonhos de grandeza que beiravam o fanatismo. Prometeu ao povo português que faria de Portugal o “quinto império”. M orreu tentando conquistar o Marrocos, na batalha de Alcácer- Quibir. Seu corpo foi deixado no campo de batalha e quando Portugal foi dominada pelos espanhóis (de 1580 a 1640) surgiu a história de que D. Sebastião estava vivo e voltaria para libertar o povo português e cumprir suas promessas de grandeza. Nascia assim o mito do Sebastianismo. Bellun sine bello
  • 22. D. Nuno Álvares Pereira foi o mais fiel amigo de D. João I e seu maior defensor . Notabilizou-se por façanhas militares e conquistou muitos títulos e cargos. No final, repartiu todos os seus bens, renunciou a todos os títulos e cargos e refugiou-se no convento do Carmo. Observe que o poema que representa a coroa do brasão português não traz um rei como personagem. P ARTEU M=BRA SÃO Bellun sine bello IV.A COROA NUN’ÁLVARES PEREIRA Que auréola te cerca? É a espada que,volteando. Faz que o ar alto perca Seu azul negro e brando. Mas que espada é que,erguida, Faz esse halo no céu? É Excalibur,a ungida, Que o ReiArtur te deu. Esperança consumada, S.Portugal em ser, Ergue a luz da tua espada Para a estrada se ver!
  • 23. PARTEU M=BRA SÃO V.O TIMBRE A CABEÇA DO GRIFO / O INFANTE D. HENRIQUE Em seu trono entre o brilho das esferas, Com seu manto de noite e solidão, Tem aos pés o mar novo e as mortas eras — O único imperador que tem, deveras, O globo mundo em sua mão. D.Henrique foi outro filho de D.João I e ficou conhecido como “O navegador”. Teria criado uma escola de navegação, um observatório astronômico e um estaleiro para construção de navios, contribuindo muito para a expansão marítima portuguesa. Bellun sine bello
  • 24. PARTEU M=BRA SÃO V.O TIMBRE UMA ASA DO GRIFO / D.JOÃO,O SEGUNDO Braços cruzados, fita além do mar. Parece em promontório uma alta serra — O limite da terra a dominar O mar que possa haver além da terra. Seu formidável vulto solitário Enche de estar presente o mar e o céu E parece temer o mundo vário Que ele abra os braços e lhe rasgue o véu D. João II foi o décimo terceiro rei de Portugal. Continuou a obra do infante D. Henrique apoiando e expedições flnanciado várias marítimas. Bellun sine bello
  • 25. PARTEU M=BRA SÃO V.O TIMBRE A OUTRA ASA DO GRIFO / AFONSO DE ALBUQUERQUE De pé,sobre os países conquistados Desce os olhos cansados De ver o mundo e a injustiça e a sorte. Não pensa em vida ou morte Tão poderoso que não quer o quanto Pode,que o querer tanto Calcara mais do que o submisso mundo Sob o seu passo fundo. Três impérios do chão lhe a Sorte apanha. Criou-os como quem desdenha. Afonso de Albuquerque foi um militar que expandiu o império português e se tornou temido e respeitado em todo o Oriente (de pé sobre os países conquistados) Bellun sine bello
  • 26. PARTEDO IS=M A RPORT U G U ÊS Essa segunda parte começa com nova referência ao infante D. Henrique, o navegador. Também é reforçada a ideia de que a expansão do império português é obra de Deus (Deus quer, o homem sonha, a obra nasce) No final do poema já se anuncia a decadência desse império conquistado (o império se desfez) Possessio maris I.O INFANTE Deus quer, o homem sonha, a obra nasce. Deus quis que a terra fosse toda uma, Que o mar unisse,já não separasse. Sagrou-te,e foste desvendando a espuma, E a orla branca foide ilha em continente, Clareou, correndo, até ao fim do mundo, E viu-se a terra inteira,de repente, Surgir, redonda,do azul profundo. Quem te sagrou criou-te português.. Do mar e nós em ti nos deu sinal. Cumpriu-se o Mar, e o Império se desfez. Senhor,falta cumprir-se Portugal!
  • 27. PARTEDO IS=M A RPORT U G U ÊS O poema começa com uma referência aos mistérios e medos em relação ao mar antes das navegações. A “linha severa da longínqua costa” se transforma em árvores, sons e cores “quando a nau se aproxima” Também se percebe uma apologia à natureza humana que está sempre em busca de “formas invisíveis” movidos pela “esperança” Possessio maris II.HORIZONTE O mar anterior a nós, teus medos Tinham coral e praias e arvoredos. Desvendadas a noite e a cerração, As tormentas passadas e o mistério, Abria em flor o Longe,e o Sul sidério 'Splendia sobre as naus da iniciação. Linha severa da longínqua costa — Quando a nau se aproxima ergue-se a encosta Em árvores onde o Longe nada tinha; Mais perto, abre-se a terra em sons e cores: E,no desembarcar,há aves,flores, Onde era só,de longe a abstrata linha O sonho é ver as formas invisíveis Da distância imprecisa,e,com sensíveis Movimentos da esperança e da vontade, Buscar na linha fria do horizonte A árvore, a praia, a flor, a ave, a fonte — Os beijos merecidos da Verdade.
  • 28. PARTEDO IS=M A RPO RT U G U ÊS Padrão era um monumento de pedra que os portugueses fixavam nas terras conquistadas. Diogo cão foi um notável conquistador a serviço de D. João II. O poema faz referência às conquistas portuguesas (o mar sem fim é português) ao mesmo tempo que anuncia que ainda há muito a conquistar (o porto sempre por achar) Possessio maris III.PADRÃO O esforço é grande e o homem é pequeno. Eu,Diogo Cão,navegador,deixei Este padrão ao pé do areal moreno E para diante naveguei. A alma é divina e a obra é imperfeita. Este padrão sinala ao vento e aos céus Que,da obra ousada,é minha a parte feita: O por-fazer é só com Deus. E ao imenso e possível oceano Ensinam estas Quinas, que aqui vês, Que o mar com fim será grego ou romano: O mar sem fim é português. E a Cruz ao alto diz que o que me há na alma E faz a febre em mim de navegar Só encontrará de Deus na eterna calma O porto sempre por achar.
  • 29. PARTEDO IS=M A RPO RT U G U ÊS Três vezes do leme as mãos ergueu, Três vezes ao leme as reprendeu, E disse no fim de tremer três vezes: «Aquiao leme sou mais do que eu: Sou um povo que quer o mar que é teu; E mais que o mostrengo, que me a alma teme E roda nas trevas do fim do mundo, M anda a vontade,que me ata ao leme, De El-ReiD.João Segundo!» O monstrengo referido nesse poema equivale a figura do gigante Adamastor d’Os Lusíadas. Ambos as dificuldades e vencidos pelos em sua empreitada simbolizam perigos portugueses marítima. Possessio maris IV.O MONSTRENGO mostrengo que está no fim do mar Na noite de breu ergueu-se a voar; A roda da nau voou três vezes, Voou três vezes a chiar, E disse:«Quem é que ousou entrar Nas minhas cavernas que não desvendo, Meus tetos negros do fim do mundo?» E o homem do leme disse, tremendo: «El-ReiD.João Segundo!» «De quem são as velas onde me roço? De quem as quilhas que vejo e ouço?» Disse o mostrengo, e rodou três vezes, Três vezes rodou imundo e grosso. «Quem vem poder o que só eu posso, Que moro onde nunca ninguém me visse E escorro os medos do mar sem fundo?» E o homem do leme tremeu,e disse: «El-ReiD.João Segundo!»
  • 30. O poema é uma espécie de homenagem a Bartolomeu Dias, o primeiro navegador a “ dobrar”o cabo das tormentas, hoje conhecido como cabo da boa esperança. Esse lugar era marcado por violentas tempestades e de difícil travessia. P ARTEDO IS=M A RPO RT U G U ÊS Possessio maris V.EPITÁFIO DE BARTOLOMEU DIAS Jaz aqui, na pequena praia extrema, O Capitão do Fim. Dobrado o Assombro, O mar é o mesmo:já ninguém o tema! Atlas,mostra alto o mundo no seu ombro.
  • 31. Este poema se refere a outros navegadores não portugueses que também desbravaram o mar, como Cristóvão Colombo. Observe que o poeta exalta a superioridade dos portugueses no final do poema quando afirma que a por uma navegadores é luz glória destes “auréola dada emprestada” P ARTEDO IS=M A RPO RT U G U ÊS Possessio maris VI.OS COLOMBOS Outros haverão de ter O que houvermos de perder. Outros poderão achar O que, no nosso encontrar, Foi achado, ou não achado, Segundo o destino dado. Mas o que a eles não toca É a Magia que evoca O Longe e faz dele história. E por isso a sua glória É justa auréola dada Por uma luz emprestada.
  • 32. VII.OCIDENTE Com duas mãos — o Ato e o Destino — Desvendamos. No mesmo gesto,ao céu Uma ergue o fecho trêmulo e divino E a outra afasta o véu. Fosse a hora que haver ou a que havia A mão que ao Ocidente o véu rasgou, Foi a alma a Ciência e corpo a Ousadia Da mão que desvendou. Fosse Acaso, ou Vontade, ou Temporal A mão que ergueu o facho que luziu, Foi Deus a alma e o corpo Portugal Da mão que o conduziu.. Novamente um poema que exalta em tom ufanista as navegações e as conquistas do povo português que “rasgou o véu” dos mares ao Ocidente. Também aparece novamente a ideia de que tudo foi obra do desejo divino (foi Deus a alma) PARTEDO IS=M A RPO RT U G U ÊS Possessio maris
  • 33. PARTEDO IS=M A RPO RT U G U ÊS Violou a Terra.M as eles não O sabem, e dançam na solidão; E sombras disformes e descompostas, Indo perder-se nos horizontes, Galgam do vale pelas encostas Dos mudos montes. Fernão de Magalhães montou uma esquadra com a qual descobriu a passagem interoceânica conhecida como estreito atlântico/pacífico que hoje é de Magalhães e fez a primeira viagem a circundar a terra (ele não chegou ao final dessa viagem, tendo sido morto por índios nas Filipinas, mas seus comandados completaram esse feito histórico) Possessio maris VIII.FERNÃO DE MAGALHÃES No vale clareia uma fogueira. Uma dança sacode a terra inteira. E sombras desformes e descompostas Em clarões negros do vale vão Subitamente pelas encostas, Indo perder-se na escuridão. De quem é a dança que a noite aterra? São os Titãs,os filhos da Terra, Que dançam na morte do marinheiro Que quis cingir o materno vulto — Cingiu-o, dos homens, o primeiro —, Na praia ao longe por fim sepulto. Dançam, nem sabem que a alma ousada Do morto ainda comanda a armada, Pulso sem corpo ao leme a guiar As naus no resto do fim do espaço: Que até ausente soube cercar A terra inteira com seu abraço.
  • 34. IX.ASCENSÃO DE VASCO DA GAMA Os Deuses da tormenta e os gigantes da terra Suspendem de repente o ódio da sua guerra E pasmam. Pelo vale onde se ascende aos céus Surge um silêncio,e vai,da névoa ondeando os véus, Primeiro um movimento e depois um assombro. Ladeiam-no, ao durar, os medos, ombro a ombro, E ao longe o rastro ruge em nuvens e clarões. Embaixo, onde a terra é, o pastor gela, e a flauta Cai-lhe,e em êxtase vê,à luz de mil trovões, O céu abriro abismo à alma do Argonauta. Vasco da Gama foi o comandante da expedição portuguesa que descobriu a rota marítima para a índia. Essa viagem aconteceu entre julho de 1497 e maio de 1498, quando os portugueses chegaram em Calecute, na Índia. O feito de Vasco da Gama está imortalizado nos versos d’Os Lusíadas e abriu as portas para as grandes conquistas portuguesas PA RTEDO IS=M A RPO RT U G U ÊS Possessio maris
  • 35. X.MAR PORTUGUÊS Ó mar salgado, quanto do teu sal São lágrimas de Portugal! Por te cruzarmos, quantas mães choraram, Quantos filhos em vão rezaram! Quantas noivas ficaram por casar Para que fosses nosso,ó mar! Valeu a pena? Tudo vale a pena Se a alma não é pequena. Quem quer passar além do Bojador Tem que passar além da dor. Deus ao mar o perigo e o abismo deu, Mas nele é que espelhou o céu. O mais conhecido e mais célebre dos poemas de Mensagem. Na primeira parte temos a exaltação ufanista das conquistas portuguesas em uma temática épica. Na segunda parte, temos a “mensagem” lírica universal de que “tudo vale a pena se a alma não é pequena” PARTEDO IS=M A RPO RT U G U ÊS Possessio maris
  • 36. PA RTEDO IS=M A RPO RT U G U ÊS Não sei a hora, mas sei que há a hora, Demore-a Deus, chame-lhe a alma embora Mistério. Surges ao sol em mim, e a névoa finda: A mesma, e trazes o pendão ainda Do Império. Este poema faz referência a D. expedição desastrada de Sebastião e funciona como uma metáfora da queda final do império português, que ficaria sob domínio espanhol de 1580 a 1640. Tem-se também a referência ao surgimento do mito do sebastianismo (vejo entre a cerração teu vulto baço que torna) Possessio maris XI.A ÚLTIMA NAU Levando a bordo El-Rei D. Sebastião, E erguendo,como um nome,alto o pendão Do Império, Foi-se a última nau,ao sol aziago Erma, e entre choros de ânsia e de pressago Mistério. Não voltou mais.A que ilha indescoberta Aportou? Voltará da sorte incerta Que teve? Deus guarda o corpo e a forma do futuro, Mas Sua luz projeta-o,sonho escuro E breve. Ah,quanto mais ao povo a alma falta, Mais a minha alma atlântica se exalta E entorna, E em mim,num mar que não tem tempo ou espaço,Vejo entre a cerração teu vulto baço Que torna.
  • 37. XII.PRECE Senhor, a noite veio e a alma é vil. Tanta foi a tormenta e a vontade! Restam-nos hoje, no silêncio hostil, O mar universal e a saudade. Mas a chama, que a vida em nós criou, Se ainda há vida ainda não é finda. O frio morto em cinzas a ocultou: A mão do vento pode erguê-la ainda. Dá o sopro,a aragem — ou desgraça ou ânsia — Com que a chama do esforço se remoça, E outra vez conquistaremos a Distância — Do mar ou outra,mas que seja nossa! Em forma de prece (oração) o poeta lamenta a derrocada do império português (Senhor, a noite veio) e pede um sopro divino que reacenda a “chama” do esforço e da coragem que fizeram a glória passada de Portugal. PARTEDO IS=M A RPO RT U G U ÊS Possessio maris
  • 38. P A RTET RÊS=OENCO BER T O Pax in Excelsis I. OS SÍMBOLOS PRIMEIRO / D.SEBASTIÃO Esperai! Cai no areal e na hora adversa Que Deus concede aos seus Para o intervalo em que esteja a alma imersa Em sonhos que são Deus. Que importa o areal e a morte e a desventura Se com Deus me guardei? É O que eu me sonhei que eterno dura É Esse que regressarei. Emissor é o próprio D. Sebastião anunciando sua volta (É esse que regressarei). Novamente vemos um sebastianismo messiânico. D. Sebastião representa a vontade divina, o messias que vai redimir os homens.
  • 39. I. OS SÍMBOLOS SEGUNDO / O QUINTO IMPÉRIO Triste de quem vive em casa, Contente com o seu lar, Sem que um sonho,no erguer de asa Faça até mais rubra a brasa Da lareira a abandonar! Triste de quem é feliz! Vive porque a vida dura. Nada na alma lhe diz Mais que a lição da raiz Ter por vida a sepultura. Eras sobre eras se somem No tempo que em eras vem. Ser descontente é ser homem. Que as forças cegas se domem Pela visão que a alma tem! PARTET RÊS=OENCO BERTO Pax in Excelsis E assim, passados os quatro Tempos do ser que sonhou, A terra será teatro Do dia claro,que no atro Da erma noite começou. Grécia,Roma,Cristandade, Europa — os quatro se vão Para onde vaitoda idade. Quem vem viver a verdade Que morreu D.Sebastião? Na concepção espiritualista de Fernando pessoa, os impérios também são espirituais. Assim, os quatro primeiros seriam o grego, o romano, o cristão e o europeu pós renascimento (pensamento laico). Caberia assim a Portugal ser o quinto e definitivo império.
  • 40. I. OS SÍMBOLOS TERCEIRO / O DESEJADO Onde quer que, entre sombras e dizeres, Jazas,remoto,sente-te sonhado, E ergue-te do fundo de não-seres Para teu novo fado! Vem, Galaaz com pátria,erguer de novo, Mas já no auge da suprema prova, A alma penitente do teu povo À Eucaristia Nova. Mestre da Paz,ergue teu gládio ungido, Excalibur do Fim, em jeito tal Que sua Luz ao mundo dividido Revele o Santo Graal! PARTET RÊS=OENCO BERTO Pax in Excelsis Nova referência ao mito sebastianista, agora comparado a Galaaz, personagem lendário medieval, cavaleiro sem pecado que parte em busca do Santo Graal para restituir a luz ao mundo e triunfo do espírito superior.
  • 41. PARTET RÊS=OENCO BERTO Pax in Excelsis I. OS SÍMBOLOS QUARTO / AS ILHAS AFORTUNADAS Que voz vem no som das ondas Que não é a voz do mar? E a voz de alguém que nos fala, Mas que,se escutarmos,cala, Por ter havido escutar. E só se, meio dormindo, Sem saber de ouvir ouvimos Que ela nos diz a esperança A que, como uma criança Dormente, a dormir sorrimos. São ilhas afortunadas São terras sem ter lugar, Onde o Rei mora esperando. Mas, se vamos despertando Cala a voz.e há só o mar. Referência metafórica a ilhas imaginárias onde repousa o espírito de D. Sebastião e de onde se ouve sua voz que procura despertar a nação portuguesa. Uma vez despertada a nação, essa voz se calaria e restaria o mar, símbolo da grandeza de Portugal.
  • 42. P ARTET RÊS=OENCO BER T O Pax in Excelsis I. OS SÍMBOLOS QUINTO / O ENCOBERTO Que símbolo fecundo Vem na aurora ansiosa? Na Cruz Morta do Mundo A Vida, que é a Rosa. Que símbolo divino Traz o dia já visto? Na Cruz,que é o Destino, A Rosa que é o Cristo. Que símbolo final Mostra o sol já desperto? Na Cruz morta e fatal A Rosa do Encoberto. O encoberto é uma forma como é nominado D. Sebastião. Novamente a sua figura é associada a um “símbolo divino” que trará a luz ao povo português.
  • 43. P ARTET RÊS=OENCO BER T O Pax in Excelsis II.OS AVISOS PRIMEIRO / O BANDARRA Sonhava, anônimo e disperso, O Império por Deus mesmo visto, Confuso como o Universo E plebeu como Jesus Cristo. Não foi nem santo nem herói, Mas Deus sagrou com Seu sinal Este, cujo coração foi Não português,mas Portugal. Nesta sequência, Fernando Pessoa refere-se a “profecias” sobre a volta de D. Sebastião. Nesse primeiro, refere-se a Gonçalo Anes, sapateiro e poeta a quem chamavam de Bandarra e que profetizara a vinda de um rei “ encoberto” redentor da humanidade.
  • 44. PARTET RÊS=OENCO BERTO O céu estrela o azul e tem grandeza. Este,que teve a fama e à glória tem, Imperador da língua portuguesa, Foi-nos um céu também. No imenso espaço seu de meditar, Constelado de forma e de visão, Surge, prenúncio claro do luar, El-Rei D.Sebastião. Mas não,não é luar:é luz do etéreo. É um dia,e,no céu amplo de desejo, A madrugada irreal do Quinto Império Doira as margens do Tejo. Pax in Excelsis II.OS AVISOS SEGUNDO / ANTÔNIO VIEIRA Pe. Vieira, autor barroco, foi o maior orador da língua portuguesa. Além de seus famosos Sermões, também escreveu alguns textos proféticos onde preconizava a volta de D. Sebastião, como aparece na segunda estrofe.
  • 45. PARTET RÊS=OENCO BERTO II.OS AVISOS TERCEIRO Escrevo meu livro à beira-mágoa. Meu coração não tem que ter. Tenho meus olhos quentes de água. Só tu,Senhor,me dás viver. Só te sentir e te pensar Meus dias vácuos enche e doura. Mas quando quererás voltar? Quando é o Rei? Quando é a Hora? Quando virás a ser o Cristo De a quem morreu o falso Deus, E a despertar do mal que existo A Nova Terra e os Novos Céus? Quando virás,ó Encoberto, Sonho das eras português, Tornar-me mais que o sopro incerto De um grande anseio que Deus fez? Ah, quando quererás voltando, Fazer minha esperança amor? Da névoa e da saudade quando? Quando, meu Sonho e meu Senhor? Mais um poema em forma de prece onde o poeta se dirige a um senhor (em que se confunde a figura de Deus e de D. Sebastião) questionando quando ele voltará para tornar seu sonho realidade. Pax in Excelsis
  • 46. PARTET RÊS=OENCO BERTO III. OS TEMPOS PRIMEIRO / NOITE A nau de um deles tinha-se perdido No mar indefinido. O segundo pediu licença ao Rei De, na fé e na lei Da descoberta,ir em procura Do irmão no mar sem fim e a névoa escura. Tempo foi.Nem primeiro nem segundo Volveu do fim profundo Do mar ignoto à pátria por quem dera O enigma que fizera. Então o terceiro a El-Rei rogou Licença de os buscar, e El-Rei negou. Como a um cativo,o ouvem a passar Os servos do solar. E,quando o veem, veem a figura Da febre e da amargura, Com fixos olhos rasos de ânsia Fitando a proibida azul distância. Senhor,os dois irmãos do nosso Nome — O Poder e o Renome — Ambos se foram pelo mar da idade À tua eternidade; E com eles de nós se foi O que faz a alma poder ser de herói. Queremos ir buscá-los,desta vil Nossa prisão servil: É a busca de quem somos, na distância De nós;e,em febre de ânsia, A Deus as mãos alçamos. Mas Deus não dá licença que partamos. Simbolicamente, o poeta representa o declínio de Portugal na figura de três irmãos. Os dois primeiros (Poder e renome – representando a Glória) perderam-se no mar.Portugal (o nome) anseia sair em busca dos irmãos, mas depende da vontade de Deus. Pax in Excelsis
  • 47. P A RTET RÊS=OENCO BER T O Pax in Excelsis III. OS TEMPOS SEGUNDO / TORM ENTA Que jaz no abismo sob o mar que se ergue? Nós,Portugal,o poderser . Que inquietação do fundo nos soergue? O desejar poderquerer . Isto,e o mistério de que a noite é o fausto... Mas súbito,onde o vento ruge, O relâmpago,farolde Deus,um hausto Brilha e o mar escuro estruge. Aqui a realidade portuguesa, com seus conflitos e agitações, é comparada com uma tormenta. No meio dessa tormenta surge o “relâmpago, farol de Deus” como uma luz a combater as trevas e fomentar a esperança de dias melhores.
  • 48. PARTET RÊS=OENCO BERTO Ilha próxima e remota, Que nos ouvidos persiste, Para a vista não existe. Que nau,que armada,que frota Pode encontrar o caminho A praia onde o mar insiste, Se à vista o mar é sozinho? Pax in Excelsis III. OS TEMPOS TERCEIRO / CALMA Que costa é que as ondas contam E se não pode encontrar Por mais naus que haja no mar? O que é que as ondas encontram E nunca se vê surgindo? Este som de o mar praiar Onde é que está existindo? Haverá rasgões no espaço Que deem para outro lado, E que,um deles encontrado, Aqui, onde há só sargaço, Surja uma ilha velada, O país afortunado Que guarda o Rei desterrado Em sua vida encantada? Depois da tormenta vem a calmaria e Portugal poderá encontrar “o país afortunado/que guarda o Rei desterrado”
  • 49. PA RTET RÊS=OENCO BERT O Pax in Excelsis III. OS TEMPOS QUARTO / ANTEMANHÃ O mostrengo que está no fim do mar Veio das trevas a procurar A madrugada do novo dia Do novo dia sem acabar E disse:Quem é que dorme a lembrar Que desvendou o Segundo Mundo Nem o Terceiro quere desvendar? E o som na treva de ele rodar Faz mau o sono,triste o sonhar, Rodou e foi-se o mostrengo servo Que seu senhor veio aquibuscar. Que veio aqui seu senhor chamar — ChamarAquele que está dormindo E foi outrora Senhor do Mar. Antemanhã é o momento anterior ao nascer do dia. Nesse novo dia, a pátria novamente vai vencer “o monstrengo que está no fim do mar” e reconquistar suas glórias. É chegada a hora de despertar “Aquele que está dormindo/e foi outrora Senhor do Mar.” Ou seja, é hora de Portugal despertar.
  • 50. PARTET RÊS=OENCO BERTO Pax in Excelsis III. OS TEMPOS QUINTO / NEVOEIRO Nem rei nem lei,nem paz nem guerra, Define com perfil e ser Este fulgor baço da terra Que é Portugal a entristecer — Brilho sem luz e sem arder, Como o que o fogo-fátuo encerra. Ninguém sabe que coisa quer. Ninguém conhece que alma tem, Nem o que é mal nem o que é bem. (Que ânsia distante perto chora?) Tudo é incerto e derradeiro. Tudo é disperso, nada é inteiro. Ó Portugal,hoje és nevoeiro... É a Hora! Valete,Frates. Neste último poema, o poeta sintetiza o momento de tristeza e apatia vivida pelo cegado povo pelo português, nevoeiro. No entanto, apesar do nevoeiro, o dia já chegou e o poeta incita os portugueses a se levantarem: “E a hora” . O poema e o livro se encerram com a expressão latina “Valete, Fratres”, que significa – Adeus, irmãos.
  • 51. CO N T EX T OSÓCIO CUL TUR A L Estes poemas foram elaborados entre 1913 e 1934, período marcado por rupturas e mudanças culturais que caracterizaram o modernismo português. Os poemas contrastam essa realidade portuguesa do início do século XX com a trajetória de ascensão e queda do império português na época das grandes navegações.
  • 52. EStRU tU RanaRRatIVa VOZ LÍRICA – oscilação entre a voz que representa o próprio poeta e vozes de personagens históricos portugueses. elevada, usada na LINGUAGEM – linguagem culta, reproduzindo inclusive a grafia época dos acontecimentos. ESTILO – reprodução do estilo clássico dominante no período abordado nos poemas.
  • 53. EStRU tU RanaRRatIVa TEMPO – Os poemas abordam a trajetória de ascensão e queda do império português em contraste com a realidade do início do sec.XX ESPAÇO – referências a espaços reais do império português e também a lugares fictícios (ilhas) onde repousa o espírito sebastianista e o quinto império ESCOLA – Embora o livro tenha sido escrito e publicado dentro do modernismo português, seu estilo e linguagem se identificam mais com o estilo clássico