Este documento apresenta uma introdução à análise da imagem escrita por Martine Joly. Resume os principais pontos teóricos abordados pela autora, incluindo a definição de imagem na perspectiva semiótica de Peirce e Barthes, as funções comunicativas da imagem, e a metodologia proposta para análise de imagens baseada na retórica visual. A autora parte da abordagem semiótica e destaca a importância do contexto na interpretação das imagens.
1. +
Introdução
à análise
da imagem
Martine Joly
Programa de Pós-Graduação em Informação e Comunicação em Saúde - PPGICS
Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde - ICICT
Fiocruz
Disciplina: Teoria e metodologia dos discursos: uma introdução Juliana Lofego
Professora: Inesita Araújo Maio /2011
2. +
MARTINE JOLY
Professora na Universidade Michel de Montaigne –
Bordeaux III. Contribui e participa na elaboração de
estudos sobre a imagem e o audiovisual, na França e em
países estrangeiros.
Livros publicados em português:
Dicionário de imagem (JOLY et al, 2011)
Introdução à análise da imagem (JOLY, 2008)
A imagem e os signos (JOLY, 2005)
A imagem e a sua interpretação (JOLY, 2003)
3. +
Roteiro
Da autora, no livro Da apresentação
Definição do objeto: usos e Princípios teóricos e
significações de imagem; definições
teoria semiótica
Análise da imagem: premissas,
implicações (exemplos,
Análise da imagem: desafios e
classificação das funções
métodos comunicativas)
Estudo de imagens em Imagem na publicidade e
publicidade e exemplo metodologia de análise
(retórica da imagem)
Interação e
complementaridade entre Sugestão de leitura e
imagem e palavra considerações
A autora parte da abordagem semiótica,
e se detém em mensagem visual única e fixa
5. +
Princípios teóricos
Linguística e semiologia Semiótica
Saussure (1857-1913) França Peirce (1839-1914) EUA
(estudo de linguagens particulares. - p.30) (filosofia das linguagens - p.30)
Teoria dos signos
Significado (conceito)
Significante (som)
Relação do signo com 3 polos:
Significado (interpretante)
Relação som/sentido é arbitrária
Significante Objeto
Relação foto/sentido é motivada (representamen) (referente)
(pela semelhança)
SAUSSURE (1974) PEIRCE (1978)
6. +
Tipos de signo – Peirce (1978)
Ícone – relação de analogia entre significante e referente
Índice – relação causal/física com o que representa
Símbolo – relação de convenção com referente
A IMAGEM COMO SIGNO PERTENCE A
SUBCATEGORIA ÍCONE,
PELA ANALOGIA QUALITATIVA
ENTRE SIGNIFICANTE E REFERENTE
A imagem não constitui todo o ícone, mas é signo icônico
7. +
Signos icônicos - tipos de ícone
Imagem
Desenho, foto, pintura – retoma as qualidades formais do
referente (cor, forma, proporção)
Diagrama
Possui analogia de relação, interna ao objeto
Metáfora
Relação a partir de paralelismo qualitativo
8. +
Definição teórica de imagem
Peirce (1978)
Não corresponde a todos tipos de ícone
Corresponde à imagem visual (é signo icônico)
Não é apenas visual
Com a semiologia das imagens (meados séc XX):
Imagem como sinônimo de REPRESENTAÇÃO VISUAL
Barthes (1964)
Questões sobre os sentidos e a linguagem das imagens
Pesquisa se imagem contém signos e quais são eles
9. +
Imagem como representação
imagens visuais, mentais, virtuais
que tem semelhança / analogia a outra coisa
Distinção fundamental entre imagens(p.39/40) :
Fabricadas – “imitam mais ou menos corretamente um modelo”
ou propõem um modelo. Em imagens científicas, a imitação
perfeita provoca ilusão da realidade: imagem virtual.
Gravadas / registradas – se assemelham ao que representam.
Foto, vídeo, filme - consideradas perfeitamente semelhantes e
confiáveis por partirem da própria coisa.
O esquecimento do caráter representativo causa confusão
entre imagem e coisa
Há circulação da imagem entre ícone, índice e símbolo
(semelhança – traço – convenção)
10. +
Análise da imagem: desafios e métodos
Precede à análise considerar recusas ou necessidades,
objetivos e funções, para determinar ferramentas
Conduta analítica deve levar em conta:
Função da mensagem
Horizonte de expectativa (publicidade hoje / Anos 50)
Diversos tipos de contexto (produção, emissão, recepção)
Funções da análise:
Pedagógica: escola, universidade, trabalho, mídia
Verificabilidade: marketing, publicidade. Desempenho, eficácia e
rentabilidade.
“Não existe um método absoluto para análise,
mas opções a serem feitas ou inventadas
em função dos objetivos” (p.50)
11. +
Horizonte de expectativa (p.61)
Expectativa ligada a contexto – condiciona a interpretação
Interpretação pressupõe interação entre:
Leis internas e externas ao texto
Contexto institucional de produção e recepção
Contexto da experiência e percepção estética
(JAUSS, 1970; 1978)
12. +
Interpretação
Confusão: percepção e interpretação
“Nova crítica” nos anos 60 - interação autor-
obra-público
(BARTHES, 1964; JAUSS, 1978; ECO, 1992)
Buscar pontos comuns com outros “leitores”.
Mais plausível quando feita em grupo – limites
mais razoáveis
Arte – como analisar afetivo e emotivo?
Permutação (princípios da oposição e
segmentação): procedimento clássico para
pesquisar a natureza dos elementos que
compõem a mensagem
13. +
Análise de um quadro
Presença / ausência
Imaginação
Associações mentais (sentido,
gramaticais, eufônicas,
rítmicas)
“Função” explícita / implícita
Bourdieu (1965) foto de família
Usina da Horta de Ebro – Picasso,1909 p.63
14. +
Funcões da imagem (p.56)
Imagem: mensagem visual composta de signos, linguagem,
ferramenta de expressão e comunicação
JAKOBSON (1963)- seis fatores inalienáveis da comunicação
contexto
emissário mensagem destinatário
contato
código
Originam funções linguísticas diferentes
denotativa/cognitiva/referencial
emotiva ou poética conotativa
fática
expressiva metalinguística
15. + Classificar tipos de imagens por sua
função comunicativa (p.57)
Ajuda a questionar e determinar o contexto da análise, mas
examinar e criticar caso a caso. Mais de uma por mensagem.
Expressiva/emotiva: subjetiva, centra-se no emissor
Denotativa/cognitiva/referencial:
centra-se no conteúdo de que fala
Poética: sonoridade e ritmo da mensagem / perceptível
Fática: centra-se no contato, no canal.
Metalinguística: exame do código empregado
Conativa: manifesta implicação do destinatário no discurso
17. +
Imagem protótipo
Publicidade
Objeto de observação para semiologia da imagem (anos 60)
Barthes (1964) – Na publicidade signos de forma franca,
enfática, intencional. Campo privilegiado de observação
Semiologia como corpus teórico novo para a publicidade
Ferramentas teóricas:
Teorias comportamentais (behaviorismo)
Pesquisas das motivações
Eficácia da publicidade
18. +
Barthes (1964)
Cria análise que parte do significado
para encontrar significantes, os signos
que compõem a imagem (e serve de
base para outros desenvolvimentos
teóricos) p.72
observação da composição visual
(pressentimento da existência de
signos plásticos, codificados socio-
culturalmente)
Imagem “pura” remete a costume de
fazer compras, ideia estereótipo da
Itália, natureza morta
MSG literal: compra, massa, molho
(comida caseira);
MSG simbólica: compartilha saber
preexistente
19. +
Metodologia proposta (e exemplificada)
Descrição de diferentes tipos de materiais que constituem a
mensagem (funções comunicativas, tipos de signos...)
Transcrever percepções visuais para linguagem verbal –
parcial, simples, evidente, mas fundamental
Preferencialmente em grupo (ver o coletivo e pessoal)
Percebido/nomeado – unidades culturais detectadas
(semelhança/analogia, recorte do real)
Nomeado/percebido – fazer publicitário: encontrar um
equivalente visual para projeto verbal (escolhas)
20. +
Diferentes categorias de signos
Signos icônicos
Imagens heterogêneas / semelhança
Signos plásticos
Compreende cores, formas, texturas, composição interna.
Signos linguísticos
Linguagem verbal
“... a imagem é composta de diferentes tipos de signos: linguísticos,
icônicos, plásticos, que juntos concorrem para a construção de
uma significação global e implícita...” (p.50)
21. +
Retórica da imagem
Retórica clássica - arte/técnica de falar bem (em público).
Expectativa, verossímel ≠ verdadeiro
Nova retórica – reavaliação como fundamento da literatura e
arte. Eixos sintagmáticos e paradigmáticos. Autores russos.
Barthes (1970) – funcionamento da imagem em termos de
retórica com 2 acepções :
INVENTIO (invenção) –argumentação, busca de ideias, persuasão
especificidade da conotação na imagem
ECOLUTIO (estilo) – figuras de estilo:
figuras de frase (sintagma) – inversão, elipse, repetição, antítese,
litotes, exclamação e gradação
figuras de palavras (paradigma) – metáfora, metonímia
22. +
Leitura da imagem
Conceitualização e formalização da leitura simbólica da
imagem por Barthes (1964)
Retórica da conotação – provocar uma significação segunda a
partir de uma significação primeira (signo pleno) p.83
significante significado
significante significado
Qualquer forma de expressão e comunicação é conotativa
A dinâmica do signo possui evoluções perpétuas de sentido
A imagem, como signo, participa de uma linguagem diferente
das próprias coisas
A conotação não é própria à imagem, mas é constitutiva da
significação pela imagem
23. +
Retórica e publicidade
Importância de Jacques Durand (1970)
Análise de mais de mil anúncios publicitários
Figuras de retórica valem para linguagem verbal e visual
Inventário e classificação a serviço de projeto analítico
Classificação segundo:
Eixos: sintagma (figuras de frase) e paradigmas (figuras de palavras)
Tipos de operações: adjunção, supressão, substituição, intercâmbio
Relação entre variantes: identidade, semelhança, diferença, oposição,
falsa homologia, duplo sentido, paradoxo
Comuns na publicidade: metáforas visuais e hipérboles
Estilo (ecolutio) a serviço de uma argumentação específica (inventio)
25. +
Jogo entre formas e sentidos
Estratégias e ferramentas
de estilo, disposição e persuasão (pp.89-114)
1. Contexto
2. Descrição geral – enumera signos icônicos dispostos no anúncio
3. Mensagem plástica: suporte, enquadramento, moldura/ limites,
composição/ diagramação, ângulo de tomada/ objetiva, formas, cores
e iluminação, textura
4. Mensagem icônica: os motivos, pose do modelo (elipse)
5. Mensagem linguística
1. Ancoragem (deter sentido/legenda) ou revezamento (suprir carências
expressivas das imagens)
2. Imagem das palavras (hierarquia, ordem de leitura, tipografia, fonte,
cor...)
3. Conteúdo linguístico
26. +
Considerações
Texto linear, histórico, mas que às vezes deixa a impressão
de questões inconclusas
Leitura com separação marcada entre argumentação da
autora e relato de teorias / diferentes fontes e tamanhos
Referência e indicação de leituras mais profundas sobre
temas abordados
Texto claro mas leitura difícil, pela própria complexidade
teórica
Leitura indispensável para quem quer trabalhar com análise
de imagem
27. +
Bibliografia citada
BARTHES, R. Réthorique de l´image. In: Communications, n° 4. Paris:
Seuil, 1964.
BARTHES, R. L´ancienne réthorique. In: Communications, n° 16,
Recherches réthoriques. Paris: Seuil, 1970.
BOURDIEU, P. La photographie, un art moyen. Paris: Minuit, 1965.
DURAND, J. Réthorique et publicité. In: Communications, n° 15, L´
analyse des images. Paris: Seuil, 1970.
JAKOBSON, R. Essais de linguistique générale. Paris: Seuil, 1963.
JAUSS, H. Pour une esthéthique de la réception. Trad. Franc. Paris:
Gallimard, 1978.
PEIRCE, C. Écrits sur le signe. Paris: Seuil, 1978.
SAUSSURE, F. Cours de linguistique générale. Paris: Payot, 1974.