O documento discute um projeto desenvolvido com crianças em processo de alfabetização que integrou as mídias jornal e informática à prática pedagógica. O projeto teve como objetivo criar um contexto de letramento e contribuiu para o desenvolvimento da leitura e escrita das crianças, além de inseri-las na comunidade blogueira. Os resultados indicaram melhorias significativas nas habilidades leitoras e escritoras dos alunos.
1. Ler e escrever no contexto midiático
(Reading and writing in the media context)
Zilda Muniz de Oliveira
Núcleo de Tecnologia Educacional de Rolim de Moura (NTE)
Zilda.muniz@yahoo.com.br
Resumo: A integração das mídias no currículo escolar constitui o principal objetivo desse
trabalho, que busca por meio da pesquisa ação apresentar os resultados de um projeto
desenvolvido com crianças em processo de alfabetização de uma escola pública, na qual, as
mídias jornal e informática foram integradas a prática pedagógica com a finalidade de criar
um contexto de letramento para o aprendizado da leitura e escrita. A utilização dessas mídias,
aliadas a pedagogia de projeto, garantiu a participação dos pais e contribuiu para o
desenvolvimento da competência leitora e escritora das crianças; além de inseri-las na
comunidade blogueira cujo hábito de ler e escrever passou a fazer parte da vida dos alunos
desenvolvendo habilidades específicas dessa modalidade emergente de comunicação.
Palavras-chave: Mídias; educação; leitura; escrita; crianças.
Introdução
Vivemos na sociedade da informação e do conhecimento, na qual os avanços
tecnológicos têm impulsionado o fortalecimento das mídias que por meio de diferentes
linguagens atuam de forma cada vez mais acelerada na propagação da informação e na
transmissão do conhecimento. Essa realidade impõe ao sistema educacional a
necessidade de formar cidadãos capazes de fazer uso dessas informações e tecnologias
para participar da sociedade e nela intervir para melhorar a qualidade de vida.
Nesse contexto, a integração das mídias na educação requer um olhar mais
abrangente, pois não se trata apenas de um recurso pedagógico, o qual o professor pode
ou não ter a opção de adotar em sua prática. A inserção das mídias e tecnologias no
currículo escolar se justifica uma vez que os alunos precisam ser preparados para usar
os sistemas culturais de representação do pensamento da nossa sociedade. De acordo
com Freire “Há necessidade de sermos homens e mulheres do nosso tempo que
empregam todos os recursos disponíveis para dar o grande salto que nossa educação
está a exigir”. (FREIRE, 1988, p. 47)
No entanto, não se trata de, numa concepção simplista, escolarizar as mídias, e
sim torná-las aliadas no processo pedagógico de modo que suas potencialidades sejam
utilizadas na criação de situações didáticas que favoreçam aos alunos a construção do
conhecimento. Para tanto, se faz necessário uma prática educativa pautada em projetos
de trabalho, como afirma Prado:
2. A pedagogia de projeto, deve permitir que o aluno aprenda fazendo e reconheça a
própria autoria naquilo que produz por meio de questão de investigação que lhes
impulsionam a contextualizar conceitos já conhecidos e descobrir outros que emergem
durante o desenvolvimento do projeto. (PRADO, 2003 p. 58)
As mídias, por se constituírem em sistemas de comunicação e informação da
nossa sociedade, apresentam os mais diversos assuntos em diferentes linguagens que
permitem aos alunos tanto interagir com essas linguagens na busca de respostas para a
construção de novos conhecimentos, quanto à possibilidade de expressar seus
pensamentos utilizando-se também dessas linguagens nos diversos meios de
comunicação. Esse contexto pode se configurar numa situação de letramento,
propiciando um ambiente rico para alfabetização dos alunos que de acordo com Lerner.
O necessário é fazer da escola um âmbito onde leitura e escrita sejam práticas vivas e
vitais, onde ler e escrever sejam instrumentos poderosos que permitem repensar o
mundo e reorganizar o próprio pensamento, onde interpretar e produzir textos sejam
direitos que é legítimo exercer e responsabilidade que é necessário assumir. (LERNER,
2002, p.12).
Considerando a necessidade de integração das mídias no currículo escolar, o
estudo que ora apresentamos torna-se relevante, uma vez que a formação inicial da
maioria dos professores aconteceu anterior a essa discussão e a formação em serviço
para o uso das mídias e tecnologias na prática pedagógica no estado de Rondônia e,
mais precisamente em Rolim de Moura, iniciou há três anos, e são poucos os
professores que têm experimentado utilizá-las em sua prática. Trabalhos dessa natureza
podem revelar conhecimento didático que contribua para melhorar o processo
educacional.
O presente trabalho tem como objetivo demonstrar a importância da integração
das mídias jornal e informática no currículo escolar para a construção de uma prática
pedagógica mais eficiente, partindo da hipótese de que é possível alfabetizar no
contexto midiático e que essas mídias por suas características próprias criam situações
de aprendizagem contextualizadas, dinâmicas e mais atrativas.
O texto aqui apresentado está organizado em formato de artigo relatório que no
primeiro momento se preocupa em caracterizar os sujeitos da pesquisa; na seqüência,
apresenta os instrumentos de coleta de dados; os procedimentos que revelam como o
trabalho foi desenvolvido; os resultados alcançados e por fim expõe a discussão e
conclusão desses resultados.
Sujeitos da pesquisa
Os sujeitos da pesquisa foram vinte alunos do segundo ano do ensino
fundamental dos anos iniciais, com idade variável entre 7 e 8 anos, que estudam na
escola Aluízio Pinheiro Ferreira, localizada na cidade de Rolim de Moura. São alunos
3. que chegaram à escola com faixa etária superior a 6 anos e por isso foram matriculados
diretamente no segundo ano do ensino fundamental. No início do projeto, 11 alunos
eram recém alfabéticos e 9 não estavam alfabetizados. Os alunos alfabéticos estavam
em níveis bem diferenciados, alguns apresentavam maior habilidade na leitura,
enquanto outros apresentavam na escrita. Já os alunos não alfabéticos, alguns não
conheciam as letras, enquanto outros, já conheciam o alfabeto, constituindo-se numa
turma bem heterogênea.
Instrumentos
Por se tratar de um estudo voltado para a prática pedagógica a metodologia
utilizada foi a da pesquisa ação, definida por Thiollent como:
Um tipo de pesquisa com base empírica que é concebida e realizada em estreita
associação com uma ação ou a resolução de um problema coletivo no qual os
pesquisadores e participantes representativos da situação ou do problema estão
envolvidos de modo cooperativo ou participativo. (THIOLLENT, 2005, p.16)
Assim, a sala de aula constitui-se num espaço rico de experimentação de novas
situações didáticas, onde o professor ajusta as atividades às necessidades de
aprendizagem dos alunos e num processo de ação reflexão, avalia o alcance das mesmas
e propõe novas situações de aprendizagem. Esse movimento constitui a dinâmica dessa
pesquisa.
Considerando o fato de não estar lotada em sala de aula e reconhecendo a
complexidade de refletir sobre a própria prática pedagógica, estabeleci parcerias com
outra professora1 titular de sala e uma professora colaboradora2 para o desenvolvimento
desse trabalho. Dessa forma, foi possível contar com um segundo olhar sobre essa
prática e principalmente poder discutir o planejamento das atividades a serem realizadas
com os alunos, assegurando também o registro imediato do diário de campo utilizado
como instrumento de coleta de informação para pesquisa.
O diário de campo foi utilizado com a função de possibilitar registros escritos
sobre a prática desenvolvida na sala de aula. Planejamento das atividades propostas,
avanços e dificuldades dos alunos frente às atividades realizadas. A análise documental
compreendida nessa pesquisa como as atividades realizadas pelos alunos, também foi
um recurso utilizado para coleta de dados. A análise dos dados aconteceu durante e após
a realização da pesquisa, com o objetivo de compreender as informações e replanejar as
ações à luz das teorias estudadas.
1
Juliana Seabra Laudares
2
Luzia Janaina do Carmo Lopes
4. Procedimentos
Com a intenção de propiciar uma situação que levasse os alunos a aderir à
proposta do projeto a ser desenvolvido, foi levado para sala, um jornal local que trazia
várias notícias sobre Rolim de Moura, visto que o conteúdo que os alunos estavam
estudando na disciplina de história era sobre o município de Rolim de Moura. Após ler
e comentar algumas notícias foi proposto aos mesmos a construção de uma página de
jornal impresso sobre Rolim de Moura, para circular na semana do aniversário da
cidade. A idéia foi aceita pela turma com muito entusiasmo.
Intencionalmente questionamos os alunos sobre quais procedimentos poderiam
ser tomados para que seus pais pudessem acompanhar e ajudar no desenvolvimento do
projeto. Muitas sugestões foram propostas pelos alunos; então apresentamos a idéia de
construção de uma página na internet, a criação de um blog, para publicar todas as
atividades. Dessa forma eles poderiam acessar o blog em casa e mostrar para os pais as
atividades realizadas e se os pais quisessem poderiam usar o espaço comentário para dar
sugestões, o que foi prontamente aceito pelas crianças.
A partir dessa sugestão, foram definidas juntamente com os alunos as possíveis
etapas do projeto, dentre elas destacamos: Criação do blog, reunião com os pais para
apresentação do projeto, leitura diária pela professora e pelos alunos de diferentes
jornais impressos , conhecimento da estrutura e organização de jornais, visita a um
jornal local, análise de notícias, anúncios, horóscopos, charges e outros, produção de
notícias coletivas, reescrita de notícias em duplas, escrita de legendas de fotografias,
manutenção do mural de “olho na notícia”, entrevistas com o prefeito da cidade,
pioneiros e um historiador, visita a vários pontos da cidade para registrar por meio de
fotografias, seleção das fotografias e escrita das legendas para serem publicadas na
página do jornal, publicação de fotos e atividades desenvolvidas no Blog do projeto,
encerramento do projeto e entrega aos alunos do jornal com a página publicada.
O Projeto Jornal Super Legal, nome escolhido pelos alunos, foi desenvolvido de
maio a agosto de 2010, todas as quartas e sextas feiras das 7:00 as 9:30. Os alunos
tiveram acesso a diferentes tipos de jornais de circulação regional e local. Nesses dias
foram desenvolvidas diversas atividades de leitura e escrita em que os alunos eram
agrupados respeitando seu nível de conhecimento. Para realização das atividades foi
utilizado além da sala de aula, o laboratório de informática e mesas no pátio da escola.
Resultados
A utilização das mídias informática e jornal por meio da modalidade de projeto
apresentaram resultados relevantes no desenvolvimento da leitura e da escrita dos
alunos em processo de alfabetização, os quais serão apresentados a seguir.
Após o desenvolvimento desse trabalho, observamos que os onze alunos que
iniciaram o projeto recém alfabéticos, lendo pausadamente e escrevendo poucas
palavras, apresentaram melhor fluência na leitura e maior habilidade na escrita. Em
relação aos não alfabéticos, seis alunos se alfabetizaram, dois chegaram ao final do
projeto quase alfabético, sendo que um desses alunos no início da pesquisa não
5. conhecia a maioria das letras. Uma aluna encontra-se ainda no nível silábico alfabético.
O pouco avanço dessa criança resulta do fato de faltar muito às aulas.
A leitura diária de jornal, feito tanto pela professora quanto pelos alunos,
permitiu a familiarização das crianças com esse portador de texto levando-os a adquirir
conhecimento sobre a função social, estrutura e organização do jornal. A apropriação
das características da linguagem da notícia também foi observada nas reescritas dos
alunos.
O gênero Charge, despertou grande interesse nos alunos, achavam engraçados os
desenhos em formato de caricatura e sempre mostravam aos colegas. Observando essa
curiosidade, convidamos um professor com habilidade em desenho para conversar com
os alunos, desenhar caricaturas e criar algumas charges. Essa situação os motivou a
interpretar charges e também a desenhar caricaturas.
Durante o desenvolvimento das atividades, os alunos tiveram a oportunidade de
conhecer e manusear os seguintes portadores de textos: mapa, globo terrestre e o
dicionário. Ampliaram o vocabulário ao se depararem com palavras desconhecidas e se
interessarem pelos significados. Aprenderam sobre a história e cultura de Rolim de
Moura ao lerem sobre o município e entrevistar algumas pessoas. Conheceram melhor a
cidade onde vivem ao visitar diferentes locais e fotografá-los bem como adquiriram
conhecimentos sobre o uso da câmera fotográfica e a produção de legendas de
fotografias.
Compreenderam também as potencialidades que a mídia informática oferece por
meio da criação de páginas pessoais na internet, pois durante o projeto os alunos
demonstraram interesse em terem seu próprio blog. O que nos levou a oferecer uma
oficina de blog aos pais, capacitando um total de treze mães juntamente com seus filhos.
Os blogs dos treze alunos encontram-se linkados no blog do projeto no seguinte
endereço: http://jornalsuperlegal.blogspot.com.
Os conteúdos procedimentais também fizeram parte da aprendizagem dos
alunos. Quando participaram da construção das etapas do projeto e da elaboração das
perguntas a serem feitas aos entrevistados, aprenderam sobre procedimentos de
planejamento e de entrevista. Ao realizar atividades em grupos aprenderam a respeitar o
saber do colega e aceitar sua contribuição, sendo essa última situação, necessário muito
investimento, uma vez que no início dos trabalhos, os alunos resistiam trabalhar em
duplas ou em pequenos grupos.
Discussão e conclusão
A escolha da mídia jornal se deu em função das necessidades de aprendizagem
dos alunos em relação a leitura, a escrita e também por ser o jornal de fácil acesso,
conter notícias locais e ser um portador de diversos gêneros textuais, o que possibilitou
criar boas situações de leitura e escrita, além de permitir o envolvimento dos pais.
Quanto à integração da mídia informática, a idéia era que funcionasse como um meio de
publicação das atividades desenvolvidas pelos educandos, acompanhamento do avanço
dos alunos por parte dos pais, divulgação dos trabalhos e participação dos pais com
sugestão para melhoria do projeto, uma vez que dos vinte alunos apenas dois não
6. possuíam computador conectado a internet, mesmo assim, poderiam ter acesso ao blog
utilizando o laboratório de informática da escola.
A opção pela metodologia de projetos teve por parte de nós, professoras, uma
intencionalidade pedagógica com objetivos voltados para as necessidades de
aprendizagem dos alunos, como afere o Programa de Formação Continuada Mídias na
Educação:
A integração das tecnologias de informação e comunicação às práticas pedagógicas com
projetos não acontece de forma espontânea. É algo que deve se realizar levando se em
consideração a natureza do projeto, a infra-estrutura da escola, o objetivo didático a ser
alcançado e o interesse dos estudantes. (MEC, 2010, p. 5)
Comparando o desenvolvimento dos alunos antes e após o projeto no que se
refere à competência leitora, é possível constatar um avanço quanto à capacidade de
interpretação dos textos lidos. Pois como destaca Solé “A leitura é um processo de
interação entre o leitor e o texto; neste processo tenta-se satisfazer os objetivos que
guiam sua leitura”. (SOLÉ, 1998, p.22). No início do projeto, essa interação entre leitor
e texto praticamente não ocorria. Os alunos estavam mais preocupados em decodificar
as letras para ler as palavras e dessa forma não se concentravam na mensagem do texto.
Com o desenvolvimento da fluência leitora a decodificação ocorre automaticamente,
permitindo aos alunos compreenderem o que estão lendo.
Em relação à escrita dos alunos alfabéticos, constata-se que os mesmos
desenvolveram-na significativamente, pois apresentavam muitas dificuldades em
controlar o que já havia escrito e o que ainda precisavam escrever e quais letras usar
para grafar determinados sons, fato esse muito comum em alunos recém alfabéticos.
Após vivenciarem inúmeras situações de escrita em que colocavam em jogo essas
habilidades, desenvolveram maior autonomia e conseguem escrever textos mais
coerentes, apesar de ainda apresentar problemas quanto a segmentação das palavras,
ortografia e pontuação, como pode se observar nos textos a seguir.
(01) Os alunos do 2º D fiseram um Progeto jornal eles saíram no jornal superlegal na pagina 4 do
jornal folha da mata os alunos visitaram o prefeito sebastião dias feras da prefeitura de rolim de
Moura tiramos fotos da farol e de outros lugares . ( Aluno A – Diário de Campo, 13/08/ 2010)
(2) Pit bull ataca criança de 11 anos. cleiton Rodrigues de 11 anos morre em ariquemes, 200 km de
Porto Velho. A criança foi socorrida mais não Resistiu. O garoto desiquilibro do murro de uma
inpresa de mola de caminhão o homen emcontrou por volta das 19:00 hora encontrou o copo do
menino. (Aluno B – Diário de Campo, 25/10/2010)
Magda Soares afirma que “Um indivíduo alfabetizado não é necessariamente um
indivíduo letrado; alfabetizado é aquele indivíduo que sabe ler e escrever [...]”
(SOARES, 2001, p.39). Com base na afirmação de Soares, podemos assegurar que dos
nove alunos que não estavam alfabéticos no início do projeto, oito chegaram ao final do
7. mesmo alfabetizados, ou seja, lendo e escrevendo, sendo que seis lêem e escrevem com
maior autonomia, enquanto dois lêem e escrevem com ajuda da professora.
O projeto possibilitou também aos alunos adquirirem conhecimentos sobre as
mídias trabalhadas, o que pode ser comprovado a partir das respostas a seguir: Ao ser
perguntado às crianças se devem ler tudo que está escrito num jornal, uma aluna
responde que sim. Questionada sobre o tempo, ela afirma que poderia se ler um pouco a
cada dia. Quando informada que todos os dias recebem-se uma nova edição do jornal,
não soube o que dizer. Diante da dúvida um aluno responde: “Então a gente lê, só o que
a gente quer”. A partir desse comentário a turma foi informada que todo leitor de jornal
faz uso desse procedimento e assim passamos a realizar todos os dias leituras de
manchete dos jornais para escolha do texto que deveria ser lido em voz alta pela
professora. Questionados sobre para que serve o jornal, uma aluna registrou: “Para
saber das notícias, para ler e para saber das coisas que acontece no mundo”, enquanto
outro aluno afirma que é “Para a gente ficar sabendo das notícias, de futebol e política”.
Além de compreenderem a função do portador de texto jornal, os alunos
demonstram também, compreensão da função da notícia, do anúncio, do blog e da
charge como revela o texto de uma aluna publicado em seu blog3.
(3) Aprendi que charge é um jeito engraçado de fazer caricaturas e falar sobre muitas coisas que
acontecem. As charges aparecem nos jornais. [...] Estou tentando fazer charge é um pouco dificil
mas é muito legal.
Durante o desenvolvimento das atividades de leitura de jornal na sala de aula foi
possível constatar o quanto esse portador de texto cria situação rica de comunicação e
interação textual entre os alunos. Por apresentar notícias de acontecimentos locais, a
leitura de jornal levou as crianças a estabelecerem relação do que estavam lendo ou
ouvindo com fatos que já conheciam, interagindo com o texto e atribuindo significados,
ao mesmo tempo em que informam sobre a realidade em que vivem.
O uso das mídias em sala de aula transcende as atividades planejadas e cria ricas
situações de aprendizagem. Ao ler a notícia escolhida pelas crianças no jornal Folha da
Mata “Vacina contra poliomielite”, um aluno sentiu necessidade de anotar no caderno o
dia, onde e para qual idade seria a vacina, pois queria levar para sua mãe. Diante dessa
situação foi solicitado da turma ajuda para organização dos dados no quadro. Nesse
momento a professora pede à turma que ajudem a escrever. Durante a escrita, surgiu a
dúvida de como grafar a palavra paralisia se com s ou z. Ao apresentar para as crianças
um dicionário, a professora questionou se sabiam de que livro se tratava. Os alunos
responderam: “é uma bíblia”, “Um livro de história”, “Um livro de respostas” e somente
uma criança conseguiu explicar a função do dicionário ao dizer que “Quando alguém
não sabe o significado da palavra, procura nesse livro” e a palavra em questão foi
procurada, permeada de questionamentos sobre como encontrar uma palavra no
3
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8. dicionário. Essa situação nos apontou a necessidade de planejar atividades em que os
alunos pudessem utilizar mais vezes o dicionário.
Em outra situação durante a leitura de uma notícia que falava sobre a falta de
internet em todo o estado de Rondônia, um aluno perguntou a professora se Rio Grande
do Sul ficava no estado de Rondônia. Essa situação nos levou a trazer para sala o mapa
do Brasil e o Globo terrestre para que os alunos localizassem o estado do Rio Grande do
Sul e chegassem à conclusão se este pertencia ou não ao estado de Rondônia. Foi um
momento de muitas aprendizagens, todos queriam localizar no mapa o estado onde pais,
tios e avós nasceram, ficaram surpresos com o tamanho dos estados e exclamavam
“Olha esse que grandão! é o estado do Amazonas” “olha aqui um monte de
pequenininhos!” apontando para alguns estados da região nordeste. Os alunos ficaram
encantados ao descobrir também os países que fazem fronteiras com o Brasil. Uma
aluna queria saber onde localizava o Egito. Foi apresentado a ela o globo terrestre e ao
ser explicado que o globo tem o formato do planeta terra e que ali poderiam encontrar
todos os países, os alunos se voltaram para o globo e começaram a localizar vários
países, inclusive os africanos onde estava acontecendo a copa. Ao localizar o Egito a
aluna exclamou “nossa é pequeno!” e explicou que queria saber onde ficava o Egito
porque tinha assistido a um filme com Cleópatra. Olhando para o globo, as crianças
dialogavam sobre suas descobertas e comentavam que no planeta terra tem mais água
do que terra, enquanto uma criança sugere: “então deveria ser planeta água!”
A integração das mídias na prática pedagógica não só possibilitou aos alunos
vivenciarem situações de letramento em relação às atividades planejadas como também
criou situações didáticas que não foram planejadas, no entanto não deixou de se
constituir num momento rico de aprendizagem, em que o mapa, o globo terrestre e o
dicionário vieram para sala de aula para atender uma necessidade de aprendizagem dos
alunos, e não para atender uma necessidade de ensino das professoras
A leitura de jornal também contribuiu para ampliar o vocabulário das crianças,
foram inúmeros os questionamentos sobre o significado de palavras diferentes em
situações de leitura. Diante da leitura que trazia como título “Acadêmica da Unir é
raptada e estuprada”, um aluno pergunta “O que é estuprada?” e uma aluna,
imediatamente responde “quando pega a pessoa à força”. Na leitura da manchete
“Maria.com no presídio - espetáculo” as crianças comentam: “é um circo no presídio”
enquanto outras afirmam tratar de “internet no presídio”. Em meio essa discussão, uma
aluna perguntou “o que é presídio?” a professora devolve a pergunta para turma. Um
aluno responde meu pai trabalha no presídio. A aluna que fez a pergunta fala “Eu acho
que é um lugar de trabalho” outra criança responde “é cadeia, é jaula” e outro aluno
comenta “é cadeia, porque jaula é de bicho” enquanto um explica: “presídio é o lugar
onde fica os presos”. Realizada a leitura do texto, compreenderam que se tratava de uma
apresentação teatral no presídio.
Com vista à elaboração do produto final do projeto, construção de uma página
de jornal impresso sobre Rolim de Moura, os alunos tiveram que ler notícias locais
publicadas nos jornais, textos sobre a história de Rolim de Moura, além de entrevistar o
prefeito municipal, a primeira professora e um historiador. Essas situações
possibilitaram aos alunos aprender um pouco mais sobre a história e cultura de Rolim
9. de Moura, como demonstra o texto da aluna Maria Eduarda publicado por ela em seu
Blog.
(4) Rolim de Moura era uma cidade com poucos habitantes e não tinha asfalto. Os rios eram mais
limpos e tinha bastante mata mas muitas arvores foram derrubadas para construir casas. Muitas
pessoas vieram de outras cidades para morar aqui e hoje tem muitos habitantes e a cidade está
crescendo. Rolim de moura tem muitos lugares legais e é uma cidade bonita. (HIDALGO,
2010)4
Enquanto a mídia jornal contextualizava e enriquecia as aprendizagens em sala
de aula, a mídia informática possibilitava a continuidade dessas aprendizagens fora da
sala, contribuindo assim, para o desenvolvimento de uma educação em tempo integral.
Essa possibilidade superou todas as nossas expectativas, uma vez que a priori o uso do
blog seria apenas para divulgação do projeto e publicação das atividades realizadas e
também para o acompanhamento e sugestão dos pais.
A criação do blog do projeto e a interação dos alunos com essa ferramenta,
despertou nos mesmos o interesse em criar seu próprio blog. Fato esse que levou
algumas mães a solicitar a nossa ajuda. Aproveitando o interesse das mães ministramos
uma oficina de blog, onde os alunos acompanhados de suas mães criavam o blog e
aprendiam a manuseá-lo. A princípio, a oficina foi realizada com sete mães,
posteriormente mais quatro e depois com duas, e o número de mães interessadas cresce
à medida que os alunos desenvolvem maior habilidade com o blog e comentam com os
colegas o que estão fazendo, aguçando o desejo dos alunos que ainda não possuem esse
recurso.
Com a criação dos blogs dos alunos vislumbramos uma possibilidade ampla de
trabalho com a escrita e leitura, e assim, passamos a acessar os blogs e deixar
comentários e até mesmo tarefas instigando-os a escrever ou ler sobre assuntos
discutidos em sala ou que lhes causavam interesse. Realizar tarefas pelo blog, escrever
sobre os assuntos que gostam, publicar fotos e imagem, deixar comentário nos blogs dos
colegas e no blog do jornal passou a fazer parte da rotina das crianças, como comenta a
mãe de uma aluna, num depoimento deixado no blog da filha.
(5) Com o projeto do jornal super legal, pude perceber o interesse maior da Beatriz pela leitura e
pela escrita. A cada dia que passa o interesse dela pelos estudos aumenta mais, sempre estou
vendo ela lendo livros, revistas, jornais, e toda semana ela pega livros de leitura na biblioteca pra
ler. Ela sempre quer ler para nós ouvirmos, eu e meu esposo ficamos muito feliz em saber que
este projeto ajudou a nossa filha e outras crianças a desenvolver e pegar o gosto pela leitura e
escrita. Sempre que ela participa do projeto ela tem o maior orgulho em dizer tudo que aprendeu,
quando ela não publica no blog ela escreve em seu diario, e todos os dias ela entra no blog para
ler os recados e também escrever, e ela passa para os tios, primos e amigos o blog dela e quando
fala com eles quer saber se eles fizeram uma visitinha em seu blog. E tenho o maior orgulho por
4
Vide Blog: <http://mariaeduardahydalgo.sonhosdemenina.zip.net>
10. ver minha filha se dedicando em tudo que faz; eu também aprendi muito com o projeto. (Joana,
2010).5
Além da participação dos pais no projeto, o blog também possibilitou o
envolvimento de muitas outras pessoas, como tio, avós dos alunos e professores de
diversos lugares do Brasil que passaram a acessar o blog do projeto e também dos
alunos para deixar comentários e elogiá-los, deixando-os cada vez mais estimulados. As
mídias podem potencializar imensamente a aprendizagem dos alunos, porém é preciso
estar atento aos perigos que estão expostos. Nesse trabalho, o acompanhamento e a
orientação dos pais foram fundamentais.
Por fim, destacamos que além da aprendizagem dos alunos, o mais importante
na realização desse trabalho, foram as possibilidades que a integração das mídias na
educação abriram para os educandos continuarem aprendendo na escola e fora da
escola, visto que o projeto encerrou com a publicação da página do jornal, mas os
alunos continuam escrevendo em seus blogs, visitando e deixando comentários nos
blogs dos colegas. Tanto o blog do Jornal quanto os Blogs dos alunos continuará sendo
usado pela professora titular da sala para novos trabalhos que já estão acontecendo. A
continuidade desse projeto se revela na sugestão dos alunos em fazer um vídeo do que
aprenderam sobre Rolim Moura para publicar nos Blogs e apresentar num canal de
televisão local.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
FREIRE, P. Educação e Mudança. 14 ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1988.
HIDALGO, M.E. Sonhos de Menina. Blog pessoal criado pela aluna Maria Eduarda a
partir da aplicação do projeto Jornal Super Legal. Disponível em:
<http://mariaeduardahydalgo.sonhosdemenina.zip.net>. acesso em: out. 2010.
JORNAL SUPER LEGAL. Blog criado pelas professoras para aplicação do projeto
Jornal Super Legal. Disponível em: <http://jornalsuperlegal.blogspot.com>. acesso em: out.
2010.
LERNER, D. Ler e escrever na escola o real, o possível e o necessário. Porto alegre:
Artmed, 2002.
MINISTÉRIOD DA EDUCAÇÃO. Especialização em Mídias na Educação:
Vivenciando o desenvolvimento de projetos com mídias integradas na educação.
Disponível em: http://200.130.6.210/webfolio/Mod83527/etapa1/pag12.html. Acesso
em: 30 set. 2010.
PRADO, M. Pedagogia de Projetos. Série “Pedagogia de Projetos e Integração de
Mídias” - Programa Salto para o Futuro, Set, 2003. Disponível em
5
Vide Blog: http://sonhodebia.blogspot.com