1) Piaget desenvolveu uma teoria do desenvolvimento cognitivo baseada em estágios, desde o sensório-motor até o operatório formal. 2) Ele propôs que a criança constrói ativamente seu conhecimento por meio da interação com o ambiente, processo que envolve assimilação e acomodação. 3) Para Piaget, a autonomia se desenvolve à medida que a criança torna-se capaz de coordenar diferentes perspectivas de forma cooperativa e respeitosa.
1. CURSO PREPARATÓRIO MAGISTÉRIO
PROFESSORA: ANA VITAL
TEÓRICOS DA EDUCAÇÃO
A-1000/07
PIAGET, VYGOTSKY, WALLON E O INTERACIONISMO
INTERACIONISMO EM PIAGET
Até o início do século XX assumia-se que as crianças
pensavam e raciocinavam da mesma maneira que os
adultos. A crença da maior parte das sociedades era a de
que qualquer diferença entre os processos cognitivos entre
crianças e adultos era sobretudo de grau: os adultos eram
superiores mentalmente, do mesmo modo que eram
fisicamente maiores, mas os processos cognitivos básicos
eram os mesmos ao longo da vida.
Piaget, a partir da observação cuidadosa de seus
próprios filhos e de muitas outras crianças, concluiu que em
muitas questões cruciais as crianças não pensam como os
adultos. Por ainda lhes faltarem certas habilidades, a
maneira de pensar é diferente, não somente em grau, como
em classe.
A teoria de Piaget do desenvolvimento cognitivo é uma
teoria de etapas, uma teoria que pressupõe que os seres
humanos passam por uma série de mudanças ordenadas e
previsíveis.
Pressupostos básicos de sua teoria:
o interacionismo, a idéia de construtivismo
seqüencial e os fatores que interferem no
desenvolvimento.
A criança é concebida como um ser dinâmico, que a
todo momento interage com a realidade, operando
ativamente com objetos e pessoas.
Essa interação com o ambiente faz com que construa
estrutura mentais e adquira maneiras de fazê-las funcionar.
O eixo central, portanto, é a interação organismo-meio e
essa interação acontece através de dois processos
simultâneos: a organização interna e a adaptação ao
meio, funções exercidas pelo organismo ao longo da vida.
A adaptação, definida por Piaget, como o próprio
desenvolvimento da inteligência, ocorre através da
assimilação e acomodação. Os esquemas de assimilação
vão se modificando, configurando os estágios de
desenvolvimento.
Assimilação e acomodação
Com Piaget, ficou claro que as crianças não raciocinam
como os adultos e apenas gradualmente se inserem nas
regras, valores e símbolos da maturidade psicológica. Essa
inserção se dá mediante dois mecanismos: assimilação e
acomodação.
O primeiro consiste em incorporar objetos do mundo
exterior a esquemas mentais preexistentes. Por exemplo: a
criança que tem a idéia mental de uma ave como animal
voador, com penas e asas, ao observar um avestruz vai
tentar assimilá-lo a um esquema que não corresponde
totalmente ao conhecido. Já a acomodação se refere a
modificações dos sistemas de assimilação por influência do
mundo externo. Assim, depois de aprender que um avestruz
não voa, a criança vai adaptar seu conceito "geral" de ave
para incluir as que não voam.
Considera, ainda, que o processo de desenvolvimento
é influenciado por fatores como: maturação (crescimento
biológico dos órgãos), exercitação (funcionamento dos
esquemas e órgãos que implica na formação de hábitos),
aprendizagem social (aquisição de valores, linguagem,
costumes e padrões culturais e sociais) e equilibração
(processo de auto regulação interna do organismo, que se
constitui na busca sucessiva de reequilíbrio após cada
desequilíbrio sofrido).
A educação na visão Piagetiana: com base nesses
pressupostos, a educação deve possibilitar à criança um
desenvolvimento amplo e dinâmico desde o período
sensório- motor até o operatório abstrato.
A escola deve partir dos esquemas de assimilação da
criança, propondo atividades desafiadoras que provoquem
desequilíbrios e reequilibrações sucessivas, promovendo a
descoberta e a construção do conhecimento.
Para construir esse conhecimento, as concepções
infantis combinam-se às informações advindas do meio, na
medida em que o conhecimento não é concebido apenas
como sendo descoberto espontaneamente pela criança,
nem transmitido de forma mecânica pelo meio exterior ou
pelos adultos, mas, como resultado de uma interação, na
qual o sujeito é sempre um elemento ativo, que procura
ativamente compreender o mundo que o cerca, e que busca
resolver as interrogações que esse mundo provoca.
É aquele que aprende basicamente através de suas
próprias ações sobre os objetos do mundo, e que constrói
suas próprias categorias de pensamento ao mesmo tempo
que organiza seu mundo. Não é um sujeito que espera que
alguém que possui um conhecimento o transmita a ele por
um ato de bondade.
Quando se fala em sujeito ativo, não se fala de alguém
que faz muitas coisas, nem ao menos de alguém que tem
uma atividade observável.
O sujeito ativo de que falamos é aquele que
compara, exclui, ordena, categoriza, classifica,
reformula, comprova, formula hipóteses, etc... em uma
ação interiorizada (pensamento) ou em ação efetiva
(segundo seu grau de desenvolvimento). Alguém que
esteja realizando algo materialmente, porém seguindo
um modelo dado por outro, para ser copiado, não é
habitualmente um sujeito intelectualmente ativo.
Principais objetivos da educação: formação de homens
"criativos, inventivos e descobridores", de pessoas críticas e
ativas, e na busca constante da construção da autonomia.
Devemos lembrar que Piaget não propõe um
método de ensino, mas, ao contrário, elabora uma teoria
do conhecimento e desenvolve muitas investigações cujos
resultados são utilizados por psicólogos e pedagogos.
Desse modo, suas pesquisas recebem diversas
interpretações que se concretizam em propostas
didáticas também diversas.
Implicações do pensamento piagetiano para a
aprendizagem
Os objetivos pedagógicos necessitam estar
centrados no aluno, partir das atividades do aluno.
Os conteúdos não são concebidos como fins em si
mesmos, mas como instrumentos que servem ao
desenvolvimento evolutivo natural.
primazia de um método que leve ao descobrimento
por parte do aluno ao invés de receber
passivamente através do professor.
A aprendizagem é um processo construído
internamente.
A aprendizagem depende do nível de
desenvolvimento do sujeito.
A aprendizagem é um processo de reorganização
cognitiva.
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2. Os conflitos cognitivos são importantes para o
desenvolvimento da aprendizagem.
A interação social favorece a aprendizagem.
As experiências de aprendizagem necessitam
estruturar-se de modo a privilegiarem a
colaboração, a cooperação e intercâmbio de pontos
de vista na busca conjunta do conhecimento.
Piaget não aponta respostas sobre o que e como
ensinar, mas permite compreender como a criança e o
adolescente aprendem, fornecendo um referencial para a
identificação das possibilidades e limitações de crianças e
adolescentes. Desta maneira, oferece ao professor uma
atitude de respeito às condições intelectuais do aluno e um
modo de interpretar suas condutas verbais e não verbais
para poder trabalhar melhor com elas.
Os Estágios Cognitivos Segundo Piaget
Piaget, quando postula sua teoria sobre o desenvolvimento
da criança, descreve-a, basicamente, em 4 estados, que ele
próprio chama de fases de transição (PIAGET, 1975). Essas
4 fases são :
Sensório-motor (0 – 2 anos);
Pré-operatório ( 2 – 7,8 anos);
Operatório-concreto ( 8 – 11 anos);
Operatório-formal (8 – 14 anos);
Sensório-motor
Neste estágio, a partir de reflexos neurológicos básicos, o
bebê começa a construir esquemas de ação para assimilar
mentalmente o meio. Também é marcado pela construção
prática das noções de objeto, espaço, causalidade e tempo.
As noções de espaço e tempo são construídas pela ação,
configurando assim, uma inteligência essencialmente
prática.
De acordo com Lino Macedo, em seu livro Ensaios
Construtivistas, (1991, p. 124) é assim que os esquemas
vão "pouco a pouco, diferenciando-se e integrando-se, no
mesmo tempo em que o sujeito vai se separando dos
objetos podendo, por isso mesmo, interagir com eles de
forma mais complexa." diz-se que o contato com o meio é
direto e imediato, sem representação ou pensamento.
Exemplos:
O bebê pega o que está em sua mão; "mama" o que é posto
em sua boca; "vê" o que está diante de si. Aprimorando
esses esquemas, é capaz de ver um objeto, pegá-lo e levá-
lo a boca.
Pré-operatório
É nesta fase que surge, na criança, a capacidade de
substituir um objeto ou acontecimento por uma
representação (PIAGET e INHELDER, 1982), e esta
substituição é possível, conforme PIAGET, graças à função
simbólica. Assim este estágio é também muito conhecido
como o estágio da Inteligência Simbólica.
Contudo, MACEDO (1991) lembra que a atividade sensório-
motora não está esquecida ou abandonada, mas refinada e
mais sofisticada, pois verifica-se que ocorre uma crescente
melhoria na sua aprendizagem, permitindo que a mesma
explore melhor o ambiente, fazendo uso de mais e mais
sofisticados movimentos e percepções intuitivas.
A criança deste estágio:
É egocêntrica, centrada em si mesma, e não
consegue se colocar, abstratamente, no lugar do
outro.
Não aceita a idéia do acaso e tudo deve ter uma
explicação (é fase dos "por quês").
Já pode agir por simulação, "como se".
Possui percepção global sem discriminar detalhes.
Deixa se levar pela aparência sem relacionar fatos.
Exemplos:
Mostram-se para a criança, duas bolinhas de massa iguais e
dá-se a uma delas a forma de salsicha. A criança nega que
a quantidade de massa continue igual, pois as formas são
diferentes. Não relaciona as situações.
Operatório-concreto
Neste estágio a criança desenvolve noções de tempo,
espaço, velocidade, ordem, casualidade, ..., sendo então
capaz de relacionar diferentes aspectos e abstrair dados da
realidade. Apesar de não se limitar mais a uma
representação imediata, depende do mundo concreto para
abstrair.
Um importante conceito desta fase é o desenvolvimento da
reversibilidade, ou seja, a capacidade da representação de
uma ação no sentido inverso de uma anterior, anulando a
transformação observada.
Exemplos:
Despeja-se a água de dois copos em outros, de formatos
diferentes, para que a criança diga se as quantidades
continuam iguais. A resposta é afirmativa uma vez que a
criança já diferencia aspectos e é capaz de "refazer" a ação.
Operatório-formal
È neste momento que as estruturas cognitivas da criança
alcançam seu nível mais elevado de desenvolvimento. A
representação agora permite à criança uma abstração total,
não se limitando mais à representação imediata e nem às
relações previamente existentes. Agora a criança é capaz de
pensar logicamente, formular hipóteses e buscar soluções,
sem depender mais só da observação da realidade.
Em outras palavras, as estruturas cognitivas da criança
alcançam seu nível mais elevado de desenvolvimento e
tornam-se aptas a aplicar o raciocínio lógico a todas as
classes de problemas.
Exemplos:
Se lhe pedem para analisar um provérbio como "de grão em
grão, a galinha enche o papo", a criança trabalha com a
lógica da idéia (metáfora) e não com a imagem de uma
galinha comendo grãos.
A) Autonomia para Piaget
Jean Piaget, na sua obra discute com muito cuidado a
questão da autonomia e do seu desenvolvimento. Para
Piaget a autonomia não está relacionada com isolamento
(capacidade de aprender sozinho e respeito ao ritmo próprio
- escola comportamentalista), na verdade entende Piaget
que o florescer do pensamento autônomo e lógico operatório
é paralelo ao surgimento da capacidade de estabelecer
relações cooperativas. Quando os agrupamentos
operatórios surgem com as articulações das intuições, a
criança torna-se cada vez mais apta a agir
cooperativamente.
No entender de Piaget ser autônomo significa estar apto a
cooperativamente construir o sistema de regras morais e
operatórias necessárias à manutenção de relações
permeadas pelo respeito mútuo.
Jean Piaget caracterizava "Autonomia como a
capacidade de coordenação de diferentes perspectivas
sociais com o pressuposto do respeito recíproco".
(Kesselring T. Jean Piaget. Petrópolis: Vozes, 1993:173-
189).
Para Piaget (1977), a constituição do princípio de
autonomia se desenvolve juntamente com o processo de
desenvolvimento da autoconsciência. No início, a
inteligência está calcada em atividades motoras, centradas
no próprio indivíduo, numa relação egocêntrica de si para si
mesmo. É a consciência centrada no eu. Nessa fase a
criança joga consigo mesma e não precisa compartilhar com
o outro. É o estado de anomia. A consciência dorme, diz
Piaget, ou é o indivíduo da não consciência. No
desenvolvimento e na complexificação das ações, o
indivíduo reconhece a existência do outro e passa a
reconhecer a necessidade de regras, de hierarquia, de
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3. autoridade. O controle está centrado no outro. O indivíduo
desloca o eixo de suas relações de si para o outro, numa
relação unilateral, no sentido então da heteronomia. A
verdade e a decisão estão centradas no outro, no adulto.
Neste caso a regra é exterior ao indivíduo e, por
conseqüência, sagrada A consciência é tomada emprestada
do outro. Toda consciência da obrigação ou do caráter
necessário de uma regra supõe um sentimento de respeito à
autoridade do outro. Na autonomia, as leis e as regras são
opções que o sujeito faz na sua convivência social pela
auto-determinação. Para Piaget, não é possível uma
autonomia intelectual sem uma autonomia moral, pois
ambas se sustentam no respeito mútuo, o qual, por sua vez,
se sustenta no respeito a si próprio e reconhecimento do
outro como ele mesmo.
A falta de consciência do eu e a consciência centrada na
autoridade do outro impossibilitam a cooperação, em relação
ao comum pois este não existe. A consciência centrada no
outro anula a ação do indivíduo como sujeito. O indivíduo
submete-se às regras, e pratica-as em função do outro.
Segundo Piaget este estágio pode representar a passagem
para o nível da cooperação, quando, na relação, o indivíduo
se depara com condições de possibilidades de identificar o
outro como ele mesmo e não como si próprio. (PIAGET,
Jean. Biologia e conhecimento. Porto: Rés Editora, 1978).
"Na medida em que os indivíduos decidem com
igualdade - objetivamente ou subjetivamente, pouco importa
-, as pressões que exercem uns sobre os outros se tornam
colaterais. E as intervenções da razão, que Bovet tão
justamente observou, para explicar a autonomia adquirida
pela moral, dependem, precisamente, dessa cooperação
progressiva. De fato, nossos estudos têm mostrado que as
normas racionais e, em particular, essa norma tão
importante que é a reciprocidade, não podem se
desenvolver senão na e pela cooperação. A razão tem
necessidade da cooperação na medida em que ser racional
consiste em 'se' situar para submeter o individual ao
universal. O respeito mútuo aparece, portanto, como
condição necessária da autonomia, sobre o seu duplo
aspecto intelectual e moral. Do ponto de vista intelectual,
liberta a criança das opiniões impostas, em proveito da
coerência interna e do controle recíproco. Do ponto de vista
moral, substitui as normas da autoridade pela norma
imanente à própria ação e à própria consciência, que é a
reciprocidade na simpatia." (Piaget, 1977:94). (PIAGET,
Jean. O julgamento moral na criança. Editora Mestre Jou.
São Paulo, 1977).
Como afirma Kamii, seguidora de Piaget, "A essência da
autonomia é que as crianças se tornam capazes de
tomar decisões por elas mesmas. Autonomia não é a
mesma coisa que liberdade completa. Autonomia
significa ser capaz de considerar os fatores relevantes
para decidir qual deve ser o melhor caminho da ação.
Não pode haver moralidade quando alguém considera
somente o seu ponto de vista. Se também consideramos
o ponto de vista das outras pessoas, veremos que não
somos livres para mentir, quebrar promessas ou agir
irrefletidamente"
(Kamii C. A criança e o número. Campinas: Papirus).
Kamii também coloca a autonomia em uma perspectiva
de vida em grupo. Para ela, a autonomia significa o
indivíduo ser governado por si próprio. É o contrário de
heteronomia, que significa ser governado pelos outros. A
autonomia significa levar em consideração os fatores
relevantes para decidir agir da melhor forma para todos. Não
pode haver moralidade quando se considera apenas o
próprio ponto de vista.
Bibliografia:
KAMII, Constance. ―A criança e o número: implicação
educacionalista da teoria de Piaget para a atuação junto a
escolares de 4 a 6 anos. Campinas, São Paulo: Papirus,
1991).
MORIN, Edgar. Os sete saberes necessários a educação do
futuro. São Paulo : Cortez, 2000.
OLIVEIRA, M. K. O problema a afetividade em Vigotsky. In:
Dela la Taille, Piaget, Vigotsky e Wallon: Teorias
psicogenéticas em discussão. São Paulo: Summus, 1992.
PIAGET, Jean. Para onde vai a educação? Rio de Janeiro,
Olympio – Unesco, 1973.
PIAGET, J. e GRECO, P. Aprendizagem e conhecimento.
São Paulo: Freitas Bastos, 1974.
VYGOTSKY, L.S. Pensamento e linguagem. 2ª ed. São
Paulo: Martins Fontes, 1989.
Vera Lúcia Camara F. Zacharias, mestre em educação,
pedagoga, diretora de escola aposentada, com vasta
experiência na área educacional em geral, palestrante,
realiza assessoria e capacitação de profissionais nos
mais diversos segmentos da área educacional
O SÓCIO-INTERACIONISMO DE VYGOTSKY
Se fosse necessário definir o caráter específico da
teoria de Vygotsky mediante uma série de palavras chaves,
seria preciso que fossem mencionadas ao menos as
seguintes: sociabilidade do homem, interação social, signo (
para Vygotsky (1998) os signos são estímulos artificiais,
criados pela cultura, com a finalidade de auxílio
mnemônico) e instrumento, cultura, história e funções
mentais superiores.
E, se fosse necessário organizar essas palavras em
uma única expressão, poderíamos dizer que a teoria de
Vygotsky é uma "teoria sócio-histórico-cultural do
desenvolvimento das funções mentais superiores", ainda
que ela seja mais conhecida com o nome de "teoria
histórico-cultural".
Para Vygotsky o ser humano se caracteriza por
uma sociabilidade primária. Henri Wallon expressa a mesma
idéia de modo mais categórico: "Ele (o indivíduo) é
geneticamente social". (Wallon, 1959).
Na época de Vygotsky este princípio não passava
de um postulado, uma hipótese puramente teórica. Porém,
atualmente, pode-se afirmar que a tese de uma
sociabilidade primária, e, em parte, geneticamente
determinada, possui quase um estatuto de fato científico
estabelecido como resultado da convergência de duas
correntes de investigação: por um lado, as investigações
biológicas, como as relativas ao papel que desempenha a
sociabilidade na antroprogênese; por outro lado, as recentes
investigações empíricas sobre o desenvolvimento social da
primeira infância que demonstram amplamente a tese de
uma sociabilidade primária e precoce.
A sociabilidade da criança é o ponto de partida das
interações sociais com o meio que o rodeia. Os problemas
de interesse da psicologia da interação social são
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4. atualmente bastante conhecidos e, por esse motivo, nos
limitaremos aqui a mencionar brevemente algumas
particularidades da concepção de Vygotsky. Por origem e
por natureza o ser humano não pode existir nem
experimentar o desenvolvimento próprio de sua espécie
como uma ilha isolada, tem necessariamente seu
prolongamento nos demais; de modo isolado não é um ser
completo.
Para o desenvolvimento da criança
principalmente na primeira infância, o que se reveste de
importância primordial são as interações assimétricas, isto é,
as interações com os adultos portadores de todas as
mensagens da cultura.
Isso significa simplesmente que algumas das
categorias de funções mentais superiores, assim
chamadas porque referem-se a mecanismos intencionais,
ações conscientemente controladas, processos voluntários
que dão ao sujeito a possibilidade de independência em
relação às características do momento e espaço presente,
(atenção voluntária, memória lógica, pensamento verbal e
conceitual, emoções complexas, etc.),não poderiam surgir e
constituir-se no processo do desenvolvimento sem a
contribuição construtora das interações sociais.
As assertivas de sua teoria são:
O homem é um ser histórico-social, ou mais
abrangentemente, um ser histórico-cultural,
moldado pela cultura que ele próprio cria;
O indivíduo é determinado nas interações sociais-
determinado e determinante de outros indivíduos
A atividade mental é exclusivamente humana e
resultante da aprendizagem social, da
interiorização da cultura e das relações sociais;
O desenvolvimento é um longo processo marcado
por saltos qualitativos que ocorrem em três
momentos: da filogênese (origem da espécie) para
a sociogênese( origem da sociedade), da
sociogênese para ontogênese ( origem do
homem), e da ontogênese para microgênese (
origem do indivíduo único);
O desenvolvimento mental é, em sua essência, um
processo sociogenético;
A atividade cerebral superior não é apenas uma
atividade nervosa, mas algo que interiorizou
significados sociais derivados das atividades
culturais e mediadas por signos;
A atividade cerebral é sempre mediada por signos
e instrumentos ;
A linguagem é o principal mediador na formação e
desenvolvimento das funções psicológicas
superiores;
A linguagem compreende várias formas de
expressão: oral, gestual, artística, matemática e
musical;
O processo de interiorização dasfunções
psicológicas superiores é histórico, e as estruturas
de percepção, atenção voluntária, a memória, as
emoções , o pensamento, a linguagem , a
resolução de problemas e o comportamento
assumem diferentes formas, de acordo com o
contexto histórico da cultura;
A cultura é interiorizada sob a forma de sistemas
neurofísicos, que permitem a formação e o
desenvolvimento dos processos mentais
superiores.
Conclusões importantes para a educação
Em primeiro lugar, nos encontramos ante uma
solução original do problema da relação entre
desenvolvimento e aprendizagem: inclusive quanto se trata
de uma função em grande parte determinada pela herança
(como ocorre com a linguagem), a contribuição do meio
social (isto é da aprendizagem) prossegue tendo um caráter
construtor e, portanto, não se reduz unicamente ao papel de
ativador, como no caso do instinto, nem tão pouco a de
estímulo ao desenvolvimento que se limita a acelerar ou
retardar as formas de comportamento que aparecem sem
ele.
A contribuição da aprendizagem consiste no fato de
colocar à disposição do indivíduo um poderoso instrumento:
a língua. No processo de aquisição este instrumento se
converte em uma parte integrante das estruturas psíquicas
do indivíduo (a evolução da linguagem). Porém, existe algo
mais: as novas aquisições (a linguagem), de origem social,
operam em interação com outras funções mentais, por
exemplo, o pensamento. Deste encontro nascem funções
novas, como o pensamento verbal.
A análise de Vygotsky sob as relações entre
desenvolvimento e aprendizagem no que respeita à
aquisição da linguagem nos leva a definir o primeiro
modelo de desenvolvimento nestes termos: em um
processo natural de desenvolvimento, a aprendizagem se
apresenta como um meio que fortalece esse processo
natural, coloca à sua disposição os instrumentos criados
pela cultura que ampliam as possibilidades naturais do
indivíduo e reestruturam suas funções mentais.
O papel dos adultos, enquanto representantes da
cultura no processo de aquisição da linguagem pela criança
e de apropriação de uma parte da cultura ( a língua), nos
leva a descrever um novo tipo de interação que
desempenha um papel determinante na teoria de Vygotsky.
Com efeito, além da interação social, há nesta teoria uma
interação com os produtos da cultura. Esses tipos de
interação manifestam-se em forma de interação
sóciocultural.
No conjunto das aquisições da cultura, ele centra
sua análise naquelas que têm por objeto controlar os
processos mentais e comportamentos do homem. Se trata
dos diferentes instrumentos e técnicas (inclusive
tecnologias) que o homem assimila e orienta face a si
mesmo para influir em suas próprias funções mentais. Deste
modo é criado um sistema gigantesco de " estímulos
artificiais e exteriores" mediante os quais o homem domina
seus próprios estados interiores. A cultura cria um número
cada vez maior de poderosos auxiliares externos
(instrumentos, aparatos, tecnologias) que apóiam os
processos psicológicos.
Além dos auxiliares externos, existem os
instrumentos psicológicos contidos nas obras culturais que
podemos interiorizar. Tratam-se dos sistemas semióticos,
procedimentos e técnicas conceituais dos meios de
comunicação, operações e estruturas de caráter intelectual
que se dão em todas as aquisições da cultura.
Esse enfoque pode ser explicado mediante o
exemplo de um instrumento tal como a língua escrita. A
língua escrita e a cultura livresca mudam profundamente os
modos de funcionamento da percepção, da memória e do
pensamento. Ao apropriar-se da língua escrita o indivíduo se
apropria das técnicas oferecidas por sua cultura, e que, a
partir deste momento, se tornam "técnicas interiores".
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6. pedagoga Izabel Galvão, também da USP. Ela diz que a
afetividade é um dos principais elementos do
desenvolvimento humano.
Movimento
Segundo a teoria de Wallon, as emoções dependem
fundamentalmente da organização dos espaços para se
manifestarem. A motricidade, portanto, tem caráter
pedagógico tanto pela qualidade do gesto e do movimento
quanto por sua representação. Por que, então, a disposição
do espaço não pode ser diferente? Não é o caso de quebrar
a rigidez e a imobilidade adaptando a sala de aula para que
as crianças possam se movimentar mais? Mais que isso,
que tipo de material é disponibilizado para os alunos numa
atividade lúdica ou pedagógica? Conforme as idéias de
Wallon, a escola infelizmente insiste em imobilizar a criança
numa carteira, limitando justamente a fluidez das emoções e
do pensamento, tão necessária para o desenvolvimento
completo da pessoa.
Inteligência
Estudos realizados por Wallon com crianças entre 6 e 9
anos mostram que o desenvolvimento da inteligência
depende essencialmente de como cada uma faz as
diferenciações com a realidade exterior. Primeiro porque, ao
mesmo tempo, suas idéias são lineares e se misturam —
ocasionando um conflito permanente entre dois mundos, o
interior, povoado de sonhos e fantasias, e o real, cheio de
símbolos, códigos e valores sociais e culturais. Nesse
conflito entre situações antagônicas ganha sempre a
criança. É na solução dos confrontos que a inteligência
evolui. Wallon diz que o sincretismo (mistura de idéias num
mesmo plano), bastante comum nessa fase, é fator
determinante para o desenvolvimento intelectual. Daí se
estabelece um ciclo constante de boas e novas descobertas.
O eu e o outro
A construção do eu na teoria de Wallon depende
essencialmente do outro. Seja para ser referência, seja para
ser negado. Principalmente a partir do instante em que a
criança começa a viver a chamada crise de oposição, em
que a negação do outro funciona como uma espécie de
instrumento de descoberta de si própria. Isso se dá aos 3
anos de idade, a hora de saber que "eu" sou. "Manipulação
(agredir ou se jogar no chão para alcançar o objetivo),
sedução (fazer chantagem emocional com pais e
professores) e imitação do outro são características comuns
nessa fase", diz a professora Angela Bretas, da Escola de
Educação Física da Universidade Estadual do Rio de
Janeiro. "Até mesmo a dor, o ódio e o sofrimento são
elementos estimuladores da construção do eu", emenda
Heloysa Dantas. Isso justifica o espírito crítico da teoria
walloniana aos modelos convencionais de educação.
Wallon considera a pessoa como um todo. Afetividade,
emoções, movimento e espaço físico se encontram num
mesmo plano wallon na escola: humanizar a inteligência
Wallon na Escola: humanizar a inteligência
Diferentemente dos métodos tradicionais (que
priorizam a inteligência e o desempenho em sala de aula), a
proposta walloniana põe o desenvolvimento intelectual
dentro de uma cultura mais humanizada. A abordagem é
sempre a de considerar a pessoa como um todo. Elementos
como afetividade, emoções, movimento e espaço físico se
encontram num mesmo plano. As atividades pedagógicas e
os objetos, assim, devem ser trabalhados de formas
variadas. Numa sala de leitura, por exemplo, a criança pode
ficar sentada, deitada ou fazendo coreografias da história
contada pelo professor. Os temas e as disciplinas não se
restringem a trabalhar o conteúdo, mas a ajudar a descobrir
o eu no outro. Essa relação dialética ajuda a desenvolver a
criança em sintonia com o meio.
Fernando Tadeu Santos
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