O documento discute o conceito de "habitus" desenvolvido por Pierre Bourdieu. Segundo Bourdieu, o habitus representa a socialização duradoura de um indivíduo que determina suas atitudes e ações. Isso permite classificar as pessoas de acordo com sua classe social, já que os membros de cada classe compartilham um mesmo habitus.
2.
“às diferentes posições que os grupos ocupam no espaço social
correspondem estilos de vida, sistemas de diferenciação que
são a retradução simbólica de diferenças objetivamente
inscritas nas condições de existência” (BOURDIEU, 1983, p. 82).
O “HABITUS” ESTÁ INSCRITO NO
COMPORTAMENTO DAS CLASSES SOCIAIS
3.
Existe mais de um critério de
classificação de “classes
sociais”. Na interpretação de
corrente marxista, os indivíduos,
grosso modo, são classificados em
classes sociais de acordo com sua
posse ou não dos meios de
produção.
Numa interpretação de cunho
weberiano a classificação dos
indivíduos está ligado a questões
para além da renda; considerando,
por exemplo, a fama, “nome de
família”, a educação.
CLASSIFICAÇÃO DOS INDIVÍDUOS
PARA OS CLÁSSICOS
4.
Uma grande colaboração teórica para a classificação dos
indivíduos, vem do sociólogo, Pierre Bourdieu. Para esse
estudioso a classe social de um indivíduo é perceptível a partir
de seu habitus. Por habitus entende, grosso modo, como a
socialização mais duradoura e marcante na vida do indivíduo, a
qual lhe dará uma predisposição à determinadas
atitudes/ações [gosto, comportamento, valores, etc.].
BOURDIEU
5.
Maria não tem classe! Ao gritar
com João, perdeu, de vez, a classe
que tinha”. Quem nunca ouviu
afirmações como essa? Alguém poderia
dizer que esta frase não faz sentido nos
termos sociológicos. Que trata-se de uma
expressão cotidiana que deriva do
conceito de classe, porém de forma
completamente deturpada.
A colaboração de Bourdieu nos
fornece elementos para a
compreensão da frase inicial, a qual
atesta que Maria não tem classe
devido ao fato de ter gritado com
João.
O ponto inicial para
compreendermos que tal afirmativa
não é por completo descabida é
entender que o locutor fala de um
lugar; fala de dentro da classe que
pertence. Ele, ao contrário do
sociólogo, não se distancia dela [ou
busca se distanciar]. Logo está
querendo dizer que Maria está
agindo de maneira inadequada à
classe que ele pertence. Para esse
indivíduo [locutor], o critério adotado
para classificação está marcado
pelo que Bourdieu percebeu ao
estudar a sociedade capitalista: o
habitus de classe.
6.
Nesse sentido, notamos que afirmar que “Maria não tem classe”
seria, na verdade, um julgamento de que Maria não pertence,
por suas atitudes demonstradas, a classe do locutor. Este
possivelmente pertencente a classe média ou alta da
sociedade, já que dentre os indivíduos dessas classes gritar não
seria resultado de seu habitus de classe.
7.
Por que
indivíduos de
classe baixa
mesmo
comprando
produtos de
marcas caras
continuam
parecendo
pobres? Por
que a piriquete
pode ser
interpretada
como uma
tentativa de
seu uma
“mulher
poderosa”?
8. Quando a mídia busca influenciar os indivíduos a um
comportamento de consumo aparentemente padrão
(como, por exemplo, a forma de vestir o corpo) o
resultado se materializa de forma diferenciada sobre
cada classe social. Isso ocorre devido tais classes
absorverem (devido seus habitus distintos) essas
mensagens a partir de “seu mundo próprio”. A
mensagem é a mesmo, a compreensão desta que
muda de classe para classe (certamente varia de
indivíduo para indivíduo, mas de forma menos intensa).
9.
Quando o indivíduo de uma dada classe social absorve uma
propaganda (que o influencia a comprar uma dada roupa de
marca cara), à absorve de sua maneira, a partir da forma com
que percebe o mundo social (ou melhor, da maneira de sua
classe social). Assim, cada classe social, sob a mesma influência,
recebe a influência midiática de forma diferenciada e o
resultado será igualmente diversos, próprio da classe social.
Assim, o celular comprado pelo menino da periferia pobre será
usado da forma que julgar mais adequado [como por exemplo,
ligar o som dentro de um ônibus para que todos ouçam].
10.
A “piriquete”, por exemplo, parece ser
uma absorção de uma propaganda
(muitas vezes via telenovelas), que vende
um ideal de mulher poderosa, chic, fina,
“com classe”, sempre frequentando
festas importantes e de “auto nível”,
independente... A mulher, desprovida de
educação escolar, residente da periferia
pobre, sem “gosto refinado” e
incapacitada de frequentar festas de
“auto nível”, de comprar as mesmas
roupas daquela, absorve a propaganda
a partir de sua perspectiva de mundo, de
acordo com suas possibilidades, e sem se
desprender de seus costumes anteriores
(como a exibição do corpo, as
constantes "ficadas", etc.), tornando o
resultado final (desta “imitação”)
diferente da típica “mulher poderosa” das
telenovelas globais (visto que é,
geralmente por esse meio que elas tem
acesso ao suposto perfil da mulher
poderosa): nasce, assim, a piriquete!