Palestra sobre As influências da religião e filosofia antiga grega na construção da doutrina escatológica católica realizada no evento As máscaras do sagrado da UFU (Universidade Federal de Uberlândia)
GEOGRAFIA - COMÉRCIO INTERNACIONAL E BLOCOS ECONÔMICOS - PROF. LUCAS QUEIROZ.pdf
Influência da religião grega na escatologia católica
1. As influências da religião e
filosofia antiga grega na
construção da doutrina
escatológica tradicional católica
2. "As religiões antigas não são nem
menos ricas espiritualmente nem
menos complexas e organizadas
intelectualmente do que as de
hoje. Elas são outras".
Jean-Pierre Vernant
3. O tema é relevante tanto para as pesquisas nas áreas de filosofia e
religião antiga grega, uma vez que a análises dos textos antigos
(Pitagóricos, Orfismo e Platão) possui grande interesse acadêmico
devido a sua influência no cristianismo primitivo, quanto para a área
de teologia sistemática, especificamente a escatologia moderna,
devido as críticas consistentes feitas pelos teólogos da libertação ao
modelo escatológico tradicional católico, sobretudo pela presença do
platonismo (dualismo corpo-alma) e temporalismo (espaço-tempo).
Justificativa
4. Evidenciar as influências da religião antiga grega (Mistérios de Elêusis,
Dionisismo e Orfismo) e de alguns elementos essenciais do
Pitagorismo e de Platão (corpo, alma, dualismo corpo-alma,
imortalidade da alma, destinos (lugar/estados) escatológicos da alma
e metempsicose (transmigração/reencarnação) da alma e seus
impactos na construção da doutrina escatológica tradicional católica.
Objetivo - Geral
5. Após evidenciar a influência que o cristianismo sofreu com o
helenismo propomos apresentar os problemas atuais que tal
influência causou na estruturação e definição da doutrina escatológica
tradicional católica, sobretudo a partir das críticas e argumentos dos
teólogos da libertação (Blank, Libânio e Boff), que propõem um novo
modelo escatológico, o da ressurreição imediata.
Objetivo - Específicos
6. A doutrina cristã católica serviu de elementos da religião antiga grega e da
filosofia antiga grega para construir seus conceitos escatológicos;
Os diversos fenômenos religiosos da Grécia antiga contribuíram para a
construção da consciência e visão cristã tradicional católica sobre o escatón;
Os conceitos fundamentais (corpo, alma, dualismo corpo-alma, destinos da
alma no pós-morte e transmigração da alma) presentes na escatologia
tradicional advém das correntes filosóficas supracitadas;
Possuem fundamento as críticas sobre platonismo e temporalismo no escatón.
Hipóteses
7. O método adotado para a busca das respostas a essa pesquisa,
fundamentou-se nos pressupostos de uma pesquisa exploratória e
bibliográfica da literatura disponível em língua portuguesa, das
diversas disciplinas que contribuem para o tema em questão, isto é:
mitologia, filosofia antiga grega, religião antiga grega, textos do
magistério da igreja e dos teólogos da libertação (Blank, Libânio e
Boff).
Metodologia
8. As referências bibliográficas utilizadas para embasar essa pesquisa
são: Vernant (2006 e 2008), Gazzinelli (2007), Reale (1994 e 2012),
Barnabé (2011), Sobrinho (2007), Cullumman (2011), Blank (2000),
Libânio (1985), Boff (1984) e Ratzinger (2005).
Fundamentação Teórica
9. 1) Contextualização sobre mito e religião na Grécia antiga;
2) Conceitos fundamentais dos principais movimentos da religião
antiga grega, isto é, os Mistérios de Elêusis, o Dionisismo e o
Orfismo.
3) Pitagorismo e de Platão e os seus elementos essenciais, tais como:
o corpo, a alma, o dualismo corpo-alma, a imortalidade da alma e
suas provas, os destinos (lugar/estados) escatológicos da alma e a
metempsicose (transmigração/reencarnação) da alma.
Temas que abordaremos
10. 4) A doutrina escatológica tradicional católica e os problemas atuais
enfrentados pela Igreja a partir de críticas da teologia da libertação
(Blank (1935), Libânio (1932-2014) e Boff (1938)), a cerca da presença
do platonismo (dualismo corpo-alma) e temporalismo (espaço-tempo)
na doutrina escatologia tradicional católica e qual a sua proposta para
um novo modelo escatológico, baseado na ressurreição imediata.
Temas que abordaremos
11. A religião grega é uma religião cívica, não há separação entre vida
pública ou privada, entre o social e o religioso, entre o natural e o
sobrenatural, entre o humano e o divino;
Não existe a necessidade de provar a existência de um deus e nem
que ele se revele;
O culto, o rito e o mito são expressões de honras aos deuses, que
nada mais é do que tudo aquilo que os homens se espelham, a
beleza, a força, a coragem, uma potência específica, etc.
Mito e Religião na Grécia Antiga
12. O sacerdote era uma autoridade pública dentro da sociedade;
Os saberes de cunho divino se dava por meio da tradição oral das
mulheres que contavam as histórias aos seus filhos e netos e por
meio dos poetas através de seus poemas e das grandes narrativas,
sendo este método um instrumento essencial para a religião antiga
grega, seja por meio dos mitos ou das grandes teogonias;
O mito tem o mesmo peso que o culto e o rito dentro da religião
antiga grega, e decifrá-lo é um ato/exercício religioso;
Mito e Religião na Grécia Antiga
13. O cidadão estabelece uma relação individual com o divino por meio
dos sacrifícios, a sua grande maioria cruento (sangue), realizados em
locais sagrados (templos), porém, alguns grupos, abolem os sacrifícios
com sangue substituindo por frutas, bolos, vegetais, etc.
O homem grego também consideram os heróis (Aquiles), como sendo
uma raça intermediária entre homens e deuses, semideuses, portanto,
também os cultuam, religiosamente, isto é, levanta-se estátuas, templos
sobre seus túmulos e visitam-nos como forma de lugar sagrado.
Mito e Religião na Grécia Antiga
14. Reconhecimentos pela cidade;
Organizados;
Caráter secreto;
Recrutamento aberto (“proselitista”);
O fiel depois de iniciado e dedicando-se aos ritos de mistérios, teria
privilégios no pós-morte;
Aquele que não foi iniciado tem o seu destino incerto no Hades;
Propunha uma mudança interior (não mudava o estilo de vida).
Mistérios de Elêusis
15. Faz parte da religião cívica (possuem suas festas no calendário grego,
porém como datas secundárias);
As mulheres possuem papel fundamental (sacerdotisas);
Voltada ao deus da loucura (“estranho, inapreensível e desconcertante”);
Possuía transe coletivo (artifício para aproximar homens e o deus);
Não propõe uma vida ascética, não promete sorte no além, nem
imortalidade da alma, porém, seu foco era diminuir a distância entre o
homem e deus, sem templo, sem sacerdote, sem acepção de pessoas.
Dionisismo
16. Não faz parte da religião cívica (está as margens do social);
Não cultua um deus em específico;
Sua tradição baseada em textos sagrados (Museu e Orfeu) com
conteúdo de teogonias, cosmogonias, antropogonias e escatologia;
Propunha um estilo de vida diferente (ascetismo e vegetarianismo);
Praticava ritos de cura e purificação da alma;
Tinha uma preocupação do destino da alma após a morte (lugar/estado)
e dava-se dicas do que deveria dizer na entrada no Hades;
Orfismo
17. Introduz elementos essenciais em sua doutrina tais como: dualismo
corpo-alma, imortalidade da alma, metempsicose (transmigração/
reencarnação) da alma e juízo após a morte que definia o
lugar/estado que a alma deveria habitar;
Introduz destinos após a morte, as almas virtuosas iriam para a ilha
dos bem-aventurados, as injustas para o tártaro (lugar intermediário) e
as incorrigíveis para os castigos eternos no Hades;
A interpretação dos textos eram verdadeiros atos/exercícios espirituais.
Orfismo
18. Seguidores de Pitágoras (560 a.C) e os ensinamentos de sua escola;
Crença na metempsicose (transmigração/reencarnação) da alma;
Propunha uma vida ascética, meditação, contemplação, com controle
respiratório (semelhante a Yoga), vegetarianismo e práticas missionárias
para purificação da alma;
Propunha uma melhor sorte no pós-morte a partir da mudança de vida;
Buscava a sabedoria e aplicação da razão como um elemento religioso;
Estabelecia claramente o dualismo corpo (inferior) e alma (superior).
Pitagorismo
19. Seguidores de Platão (428 a 347 a.C) e os ensinamentos de sua escola;
Estabelecia a importância de um lugar ultraterreno para a alma imortal
(se a alma foi justa irá para a Ilha dos bem-aventurados, se viveu
algumas injustiças irá para um lugar de expiação temporário (Tártaro) e
se foi completamente injusta irá para o castigo eterno no Hades);
Trabalhava os elementos essenciais escatológicos, tais como: corpo,
alma, dualismo corpo-alma, imortalidade da alma, estado/lugar da alma
após a morte e transmigração/reencarnação da alma (metempsicose).
Platonismo
20. Os textos de Platão (428 a 347 a.C) que abordam a visão ético-
religioso-ascética são: Fédon, Górgias e Fedro, e no livro X da
República;
Defesa da crença na imortalidade da alma e da importância de se
cuidar bem da alma, afirmando que o pior mal não implicava em
sofrer injustiça, mas em cometê-la, e, portanto, cada ação injusta
deixaria uma ferida na alma, de modo os juízes as reconheceriam e
indicaria o lugar/estado específico no pós-morte.
Platonismo
21. A doutrina tradicional católica ensina que no ato da morte termina
o tempo reservado para a vida aqui na terra, o tempo do mérito e
do demérito, fim da peregrinação definitiva (sem reencarnação);
A morte para os gregos era natural e necessária para o processo
de purificação através da metempsicose, para os judeus sempre foi
encarado como um sentido antinatural, anormal e contrário ao
propósito de Deus (salário do pecado), para os cristãos tem um
novo significado, a partir da morte de Cristo morto e ressuscitado;
Doutrina Escatológica Tradicional Católica
22. Modelo escatológico da doutrina tradicional católica:
O modelo tradicional trás alguns problemas do ponto de vista
filosófico, o primeiro sobre a presença do platonismo, pois após a
morte como fica o destino do corpo e da alma? O segundo sobre o
temporalismo, quanto tempo a alma esperará até o julgamento final?
Doutrina Escatológica Tradicional Católica
23. Sobre o platonismo a crítica está calcada na distinção do corpo e alma, e
que na morte apenas do corpo morreria, e alma teria seu destino no
pós-morte seguindo o modelo apresentado anteriormente.
Os teólogos da libertação (Blank (1935), Libânio (1932-2014) e Boff (1938)),
propõem que com a morte do homem, morreria não só o corpo, mas
também a alma uma morte total (corpo-alma), defendendo o argumento
que não há alma desencarnada e nem corpo sem espírito, e, portanto,
uma novo modelo de julgamento e de ressurreição imediata;
As críticas atuais a doutrina escatológica tradicional
24. Sobre o atemporalismo a crítica é que na dimensão extra terrena,
no lugar/estado do pós-morte (céu, inferno ou purgatório) as
noções de espaço e tempo não existe mais, então falar de lugar ou
de tempo de purgação é incoerente, pois se o tempo não existe
na dimensão atemporal, qual seria o período de purgação, ou de
espera entre o juízo particular (acontece imediatamente após a
morte) e o juízo final (acontece em um outro tempo), por isso a
proposição de um novo modelo escatológico faz-se necessário.
As críticas atuais a doutrina escatológica tradicional
25. Modelo escatológico da ressurreição imediata:
Com a proposição do modelo da ressurreição imediata não faz sentido
falarmos de um lugar/estado intermediário pois a ressurreição é imediata,
dessa maneira os juízos particular e final é substituído por um
autojulgamento (clarificação), restando a escolha de estar ou não com Deus.
As críticas atuais a doutrina escatológica tradicional
26. O purgatório é, portanto, resignificado, pois a ressurreição é
imediata, para Blank (1935) o autojulgamento seria o purgatório,
para Boff (1938) o purgatório já se inicia aqui na terra com todas as
dores e os sofrimentos do homem, para Libânio (1932-2014) o
purgatório seria um processo pessoal e histórico, em que o
homem vai superando suas contradições e egoísmo até o
momento final de encontro com Deus na eternidade;
As críticas atuais a doutrina escatológica tradicional
27. O inferno seria apenas um pressuposto para o autojulgamento,
uma possibilidade, mas que na verdade estaria vazio;
O céu é a única possibilidade concreta, visto que no auto
julgamento, todo homem, após a clarificação diante do próprio
Deus, escolheria estar com Ele e não fora Dele;
Esta nova perspectiva resignifica todos os questionamentos dos
homens sobre julgamentos (particular e final), justiça divina em
relação a injustiça terrena e recompensas baseada em sacrifícios.
As críticas atuais a doutrina escatológica tradicional
28. Percebemos que a religião antiga grega, através dos Mistérios de
Elêusis, o Dionisismo e o Orfismo, trouxeram vários elementos
escatológicos importantes para o universo grego que subsidiaram os
Pitagóricos e Platão, para elaborar conceitos como: corpo, alma,
dualismo corpo-alma, imortalidade da alma e suas provas, os
destinos (lugar/estados) escatológicos da alma e a metempsicose
(transmigração/reencarnação) da alma, elementos estes presentes na
doutrina escatológica tradicional católica e na consciência cristã.
Considerações finais
29. Nossa pesquisa levantou os problemas atuais enfrentados pela Igreja a
partir de críticas da teologia da libertação ao modelo tradicional
escatológico. Retratou-se, sobretudo a presença do platonismo e
temporalismo, ambos criticamos pelos teólogos analisados, o que
permitiu a proposição de um novo modelo escatológico, o da
ressurreição imediata, que resignifica os juízos particular e final, os
lugares do pós-morte: céu, inferno e purgatório, abrindo novas
perspectivas de estudos para a filosofia da religião e escatologia.
Considerações finais
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Bibliografia
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Rubens Garcia Nunes Sobrinho - Platão e a imortalidade: mito e
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Bibliografia
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Bibliografia
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COMPÊNDIO DO VATICANO II: Constituições, decretos e declarações.
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CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA. 11ª edição. Editora: Loyola, 2001.
BÍBLIA DE JERUSALÉM. 5ª impressão. Editora: Paulinas, 1991.
Bibliografia