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Lia Diskin e Laura Gorresio Roizman




 semeando cultura de paz
       nas escolas
2ª
                          ed
                          içã
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      Lia Diskin
Laura Gorresio Roizman
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    Os autores são responsáveis pela escolha e apresentação dos fatos contidos neste livro, bem como pelas opiniões nele
    expressas, que não são necessariamente as da UNESCO, nem comprometem a Organização. As indicações de nomes e a
    apresentação do material ao longo deste livro não implicam a manifestação de qualquer opinião por parte da UNESCO a
    respeito da condição jurídica de qualquer país, território, cidade, região ou de suas autoridades, nem tampouco a
    delimitação de suas fronteiras ou limites.
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      Lia Diskin
Laura Gorresio Roizman
Governo do Estado de Sergipe               Conselho Editorial da UNESCO no Brasil            ASSOCIAÇÃO PALAS ATHENA
           Governador                                 Vincent Defourny
           João Alves Filho                           Bernardo Kliksberg                                Conselho Deliberativo 2005/2009
                                                      Juan Carlos Tedesco                               Ana Maria de Lisa Bragança; Aparecida Elci Ferreira;
           Secretária Estadual do Combate à Pobreza   Adama Ouane                                       Daniela Maria Moreau; João Roberto Moris;
           e da Assistência Social                    Célio da Cunha                                    Judith Berenstein; Laura Gorresio Roizman;
           Maria Selma Mesquita                                                                         Luiz Carlos Andrade Santos; Luiz Henrique F. S. Góes;
                                                      Comitê para a área de Ciências Humanas            Maria Elvira Ribeiro Tuppy; Maria José Piva R. Correa;
                                                      e Sociais                                         Maria José Sesti Neves; Márcia Regina Gambôa;
                                                      Carlos Alberto Vieira                             Mariangela Vassalo; Neusa Serra;
                                                      Marlova Jovchelovicth Noleto                      Nilce Cappoccia e Raimunda de Assis Oliveira.
                                                      Rosana Sperandio Pereira
                                                                                                        Conselho para Assuntos Econômicos e Fiscais
                                                                                                        2005/2009
                                                                                                        Mariliza Doll de Moraes
                                                                                                        Nazih Curi Meserani
4                                                                                                       Roberto de Almeida Gallego
                                                      Organização das Nações Unidas
                                                      para a Educação, a Ciência e a Cultura

                                                      Representação no Brasil
                                                      SAS, Quadra 5, Bloco H, Lote 6,
                                                      Ed. CNPq / IBICT / UNESCO, 9º andar               Rua Leôncio de Carvalho, 99
                                                      70070-914 – Brasília – DF                         04003-010 São Paulo - SP
                                                      Tel: (55-61) 2106-3500 • Fax: (55-61) 3322-4261   Tel: (55-11) 3266-6188 • Fax: (55-11) 3287-8941
                                                      E-mail: grupoeditorial@unesco.org.br              E-mail: palascomunicacao@uol.com.br




    © UNESCO, 2006

    Diskin, Lia
         Paz, como se faz?: semeando cultura de paz nas escolas / Lia Diskin e Laura Gorresio Roizman — Brasília: Governo do Estado de
    Sergipe, UNESCO, Associação Palas Athena, 2002.
         95p.
         BR/2006/PI/H/9
    1. Educação 2. Paz I. Roizman, Laura Gorresio II. UNESCO III. Título

                                                                                                                                             CDD 370
Coordenação e textos
                        Lia Diskin e Laura Gorresio Roizman

                               Coordenação de pesquisa
                                Aparecida Elci Ferreira

                                        Edição
                                      Áurea Lopes

                                  Projeto gráfico
                       Luciano Pessoa • www.lgpessoa.com

                                      Ilustrações
                                Darci Arrais Campioti
                              Silvio Paulo Ariente Filho

                                  Jogos cooperativos
                                  Fábio Otuzi Brotto
                                                                                             5
                                    Pesquisadores
                           Alessandro de Oliveira Campos
                               Eliane de Cássia Souza
                               Fabíola Marono Zerbini

                                       Revisão
                               Lucia Benfatti Marques


                    Agradecemos aos amigos e colaboradores
                que nos auxiliaram na concretização deste trabalho
         Ana Maria de Lisa Bragança • Arnaldo Omair Bassoli Jr. • Beatriz Miranda •
   Cid Marcus Vasques • Cyntia Malaguti • Edith Ferraz Abreu • Erivan Moraes de Oliveira •
Fernanda Saguas Presas • George Hauach Barcat • Isabel Marques • José Romão Trigo Aguiar •
           Luiz Carlos Andrade Santos • Maluh Barciotte • Maria Enid Mussolini •
           Maria Teresa Faria Micucci • Neusa Maria Valério • Paulina Berenstein •
           Raimunda de Assis Oliveira • Rita Mendonça • Rosa Itálica Miglionico •
   Sonia Maria Nice Granolla • Suely Alonso Prestes Correa • Thereza Cavalcanti Vasques •
                     Vera Lúcia Paes de Almeida • Vera Lúcia Quartarola
A paz no cotidiano
            Sessenta anos depois da fundação das Nações Unidas e da                      Para que isso seja possível, precisamos enfrentar um de nossos
    UNESCO, o mundo ainda se encontra diante do grande desafio de                 maiores desafios, qual seja, o de transformar os valores da Cultura de
    transformar a cultura predominante de violência em Cultura de Paz.            Paz em práticas concretas na vida cotidiana, oferecendo e criando
    Hoje, o problema central consiste em encontrar os meios de mudar              condições para que cada indivíduo seja capaz de:
    definitivamente atitudes, valores e comportamentos, a fim de promover a
                                                                                            Respeitar a vida e a dignidade de cada pessoa, sem nenhum
    paz e a justiça social, a segurança e a solução não violenta de conflitos.
                                                                                  tipo de discriminação;
    E é para isso que a UNESCO vem empreendendo esforços desde a sua criação.
                                                                                           Praticar a não-violência ativa, repelindo a violência em
            Mesmo atuando em uma variedade distinta de campos, a missão
                                                                                  quaisquer de suas formas (física, sexual, psicológica, econômica e social),
    central da UNESCO é a construção da paz: “O propósito da Organização é
                                                                                  especialmente em relação aos mais fracos e vulneráveis, como crianças
    contribuir para a paz e a segurança, promovendo cooperação entre as
                                                                                  e adolescentes;
    nações por meio da educação, da ciência e da cultura, visando favorecer
    o respeito universal à justiça, ao estado de direito e aos direitos humanos              Compartilhar o tempo e os recursos materiais, cultivando a
    e a liberdades fundamentais afirmados aos povos do mundo”.                    generosidade, a fim de terminar com a exclusão, a injustiça e a opressão
                                                                                  política e econômica;
           Para atingir tal objetivo, a UNESCO trabalha cooperando com os
    governos em seus três níveis, com o Poder Legislativo e a sociedade civil,               Defender a liberdade de expressão e a diversidade cultural,
6   construindo uma rede de parcerias, mobilizando a sociedade,                   privilegiando sempre a escuta e o diálogo, sem ceder ao fanatismo, nem
    aumentando a conscientização e educando para a Cultura de Paz.                à maledicência e à rejeição ao próximo;
    Exemplo disso é o Programa Abrindo Espaços – desenvolvido em diversos
                                                                                            Promover um consumo responsável e um modelo de
    estados e municípios do Brasil e, mais recentemente, em parceria
                                                                                  desenvolvimento que tenha em conta a importância de todas as formas
    também com o Governo Federal –, uma estratégia de abertura das
                                                                                  de vida e o equilíbrio dos recursos naturais do planeta;
    escolas públicas nos finais de semana, com atividades de arte, esporte,
    cultura, lazer e cidadania, que se caracteriza como um eficiente                       Contribuir para o desenvolvimento das comunidades,
    programa de inclusão social com forte componente de educação,                 propiciando a plena participação das mulheres e o respeito aos princípios
    promoção da cultura de paz e redução da violência.                            democráticos para criar novas formas de solidariedade.
            Isso nos permite entender que o Programa Cultura de Paz está                  A Cultura de Paz se insere em um marco de respeito aos direitos
    voltado não apenas para a prevenção das guerras, que, em sua forma            humanos e constitui terreno fértil para que se possam assegurar os
    tradicional, está distante de nosso cotidiano. Ele se direciona também        valores fundamentais da vida democrática, como a igualdade e a justiça
    para as guerras anônimas, travadas na violência, com as quais nos             social. Essa evolução exige a participação de cada um de nós para que
    defrontamos diariamente. Estamos falando em prevenir e combater todo          seja possível dar aos jovens e às gerações futuras, valores que os ajudem
    tipo de violência, exploração, crueldade, desigualdade e opressão que         a forjar um mundo mais digno e harmonioso, um mundo de igualdade,
    ocorre em nosso cotidiano.                                                    solidariedade, liberdade e prosperidade.




                                                                                  A PA Z E S T Á E M N O S S A S M Ã O S
A UNESCO no Brasil tem procurado desenvolver vários programas         política pública, com visíveis benefícios para a sociedade sergipana,
ancorados na construção de uma Cultura de Paz, cujo foco principal é a       especialmente para os jovens. A sábia decisão dos gestores públicos do
educação, de forma a oferecer subsídios e experiências para a                Estado, de abrir as escolas nos finais de semana à comunidade, trará
formulação e aperfeiçoamento de políticas públicas. Além disso, a            resultados que poderão ser capazes de influenciar positivamente os
Organização tem realizado pesquisas em áreas temáticas de grande             indicadores sociais de Sergipe, sobretudo aqueles relacionados à
relevância como as da juventude, violência e cidadania – produzindo          educação e à redução da violência, a exemplo do que já ocorreu com
conhecimentos importantes sobre drogas, violências e as diferentes           experiências semelhantes em outras unidades da federação.
juventudes do Brasil. Acrescente-se, nessa linha, a elaboração e
                                                                                     Com esta publicação acreditamos estar colocando à disposição
publicação da série Mapas da Violência; também compõem o conjunto
                                                                             dos educadores e educadoras do Estado de Sergipe um reconhecido
de insumos produzidos para auxiliar governos e a própria sociedade na
                                                                             instrumento que, ao lado de outros, certamente haverá de permitir
reflexão sobre a realidade em que vivemos e na busca de caminhos que
                                                                             trabalhar os valores da cultura de paz na escola, de forma a contribuir
tenham a educação e a paz como pilares de sociedades mais justas e
                                                                             para a formação de mentes e mentalidades cada vez mais solidárias e
humanas.
                                                                             respeitadoras dos direitos e limites do outro. Com esta iniciativa,
        A publicação deste manual, destinado às escolas, aos professores     reiteramos nossa convicção de que a construção de uma sociedade
e lideranças da sociedade civil, tem o objetivo precípuo de espalhar as      menos violenta, mais igual e justa só será possível se for assumida como
sementes da paz, bem como ampliar e fortalecer a possibilidade de            tarefa de todos, sem nunca perder de vista o respeito aos direitos humanos   7
trabalharmos em parceria a construção da cultura de paz ancorada na          e à diversidade, concretamente traduzidos na vida de cada cidadão.
educação. Nele são apresentados exercícios, jogos, reflexões que fazem
deste pequeno guia um valioso instrumento para auxiliar professores, pais,
alunos, comunidades a trabalhar os valores essenciais da Cultura de Paz.
       Este manual foi originalmente publicado em 2002, em parceria                                 Marlova Jovchelovitch Noleto
com o Governo do Estado do Rio de Janeiro, no âmbito do Programa                                    Coordenadora Geral da Área Programática
Escolas de Paz e já auxiliou um grande número de educadores na                                      da UNESCO no Brasil
promoção do diálogo e na conscientização e mobilização para o
engajamento e prática dos valores da Cultura de Paz.
        Neste momento, a UNESCO considera muito oportuna a sua
reedição no contexto do Projeto Abrindo Espaços no Estado de Sergipe
que, apesar de ser uma experiência com apenas um ano de implantação,
revela aspectos promissores para vir a institucionalizar-se como sólida
Por uma cultura de paz
       Como se faz para alcançar a paz? Antes da modernidade,         ou no apoio e incentivo às ações educativas do cotidiano, ricas e
esta era uma questão mais individual que coletiva. Com a              criativas, que contribuam para a reflexão e o desenvolvimento de
modernidade e todos os avanços que se seguiram, como a expansão       práticas sociais voltadas para a construção e o fortalecimento da
do conhecimento e das tecnologias, o impulso da industrialização,     paz entre os homens e mulheres na sociedade contemporânea.
do capitalismo e da globalização, enfim, delineou-se um conjunto
                                                                             A parceria com a UNESCO, nesta reedição sem custos da
de mudanças que levou a sociedade ocidental a caminhos complexos
                                                                      cartilha “Paz como se Faz?”, cria a oportunidade de reforçar os
e a ter uma preocupação não somente no plano individual, mas
                                                                      programas e projetos do Estado voltados para o apoio à juventude
prioritariamente no plano coletivo. O grupo, mais que o indivíduo,
                                                                      e à construção da paz nas famílias e nas escolas de Aracaju,
passou a ser olhado com maior atenção.
                                                                      oferecendo um material de extrema riqueza e criatividade como
       Por outro lado, essas mudanças e transformações afetaram       reforço às reflexões e atividades desenvolvidas com e entre os
as estruturas econômicas, políticas e, principalmente, as             mais diversos grupos sociais que participam dos programas e
socioculturais. A paz transformou-se em uma preocupação das           projetos estaduais.
pessoas, porque cada um deve tomar para si essa responsabilidade,
                                                                             No rastro das preocupações sociais frente à crescente         9
e os estados e seus governantes passaram a encará-la de forma a
                                                                      violência, o Estado assume a responsabilidade de não somente
configurar se uma necessidade coletiva a ser construída em
                                                                      implantar políticas de repressão, mas, fundamentalmente,
parceria, numa busca incessante com a participação de todos.
                                                                      desenvolver programas de prevenção em busca de uma sociedade
       Então teríamos a seguinte questão: como se faz a paz?          mais harmônica, justa, democrática e pacífica.
Considerando a sua construção como um objetivo político dos
                                                                             Assim, procuramos junto à família e à escola reconstruir os
governos democráticos, ela se faz por meio de políticas públicas
                                                                      laços necessários para o fortalecimento de uma rede de
que busquem fortalecer a família, possibilitar o desenvolvimento
                                                                      solidariedade, vencendo o desafio de reduzir a violência e ampliar
autônomo dos indivíduos e das comunidades, a igualdade, a
                                                                      as práticas cotidianas de generosidade, compreensão, respeito à
inclusão socioeconômica e o acesso aos direitos básicos de
                                                                      vida e à diversidade cultural, de gênero, raça, sexo; e ainda
cidadania, dentre eles o direito à educação, à saúde e ao lazer.
                                                                      construção da autonomia e liberdade; democracia e participação;
       O desenvolvimento dessa visão e ações voltadas para a          igualdade e justiça. Dessa forma é possível entender a paz como
promoção da paz podem se constituir através do interesse e            um esforço e um desafio que precisa converter-se em processo
participação de cada indivíduo, de políticas, programas e projetos,   permanente de construção coletiva para todos nós.
A Educação para a Paz é um tesouro
       O objetivo desta cartilha consiste em fornecer alguns conceitos e           Embora a educação ambiental já faça parte do cotidiano do
práticas para se fazer Educação para a Paz.                                 educador, apenas agora estamos despertando para a necessidade vital
                                                                            de incluir a Educação para a Paz, e apoiar a UNESCO no movimento
        Ao contemplarmos o passado e o presente da humanidade,              gerador de mudanças de uma cultura que prega saberes, valores e ações
percebemos muitas marcas de violência. Mas temos boas notícias:             voltados para a violência, para uma cultura comprometida com a paz e
avançamos muito na implantação da democracia, na prática da                 a não-violência.
solidariedade e do voluntariado, nos direitos humanos, no cuidado com o
meio ambiente, na valorização da diversidade, dentre tantas outras ações            A Educação para a Paz é um “processo pelo qual se promovem
a favor da paz. Ao investir esforços na Educação para a Paz, acreditamos    conhecimentos, habilidades, atitudes e valores necessários para induzir
que podemos criar um futuro cada vez mais harmonioso.                       mudanças de comportamento que possibilitam às crianças, aos jovens e
                                                                            aos adultos a prevenir a violência (tanto em sua manifestação direta,
       Educar é empreender uma aventura criativa. Ao navegar no mar         como em sua forma estrutural); resolver conflitos de forma pacífica e
precisamos ter uma direção definida e precisa (“navegar é preciso”). Mas,   criar condições que conduzam à paz (na sua dimensão intrapessoal;
ao navegar nas correntes e tempestades da vida, dificilmente sabemos,       interpessoal; ambiental; intergrupal; nacional e/ou internacional)”.
com precisão, o caminho que devemos tomar (“viver não é preciso”). E
para educar, assim como para viver, é necessário aventurar-se.
                                                                            Referenciais interessantes emergem desta definição. A Educação para a
                                                                            Paz é um processo que dura toda nossa vida, permeia todas as idades,
                                                                                                                                                      11
                                                                            seu campo de atuação é por essência complexo e multifacetado. Além de
       Educar para a Paz é uma aventura que vai além da simples
                                                                            acontecer nas escolas, tem que estar presente em nosso cotidiano: nos
transferência de conhecimentos. Significa empreender uma linda jornada
                                                                            meios de comunicação, nas relações pessoais, na organização das
pelo mundo exterior e interior. Uma viagem repleta de desafios e muitas
                                                                            instituições, no meio da família.
belas paisagens.
                                                                                    A educação é um processo cultural no qual estamos totalmente
        Por onde iniciar esta jornada? Vamos olhar à nossa volta. Vivemos   imersos. Em contato com os aprendizes, quer estejamos ou não dentro do
em uma sociedade tecnocrática, que desencadeou profundos problemas          espaço de uma escola, a educação permeia tudo que nos cerca, os
sociais e ecológicos. Observando o papel da educação e da mídia,            gestos, olhares e palavras. As posturas e movimentos. Há um discurso
percebemos que cultivam valores tais como a competitividade, o sucesso      silencioso em nossa presença, que movimenta ideais, transmite valores e
a qualquer preço, a lógica fria, o consumo.                                 percepções.
       A cultura molda nossas idéias e atitudes. Para construir uma                Educar para a Paz requer o “querer bem” dos aprendizes. Não há
Cultura de Paz necessitamos, portanto, de uma nova coreografia: uma         educação sem transformação. Não há mudança sem encontro,
mudança em nossos padrões mentais e ações. Sabemos que as visões            acolhimento e espaço de partilha. Envolve, enfim, uma mudança
instrumentais e mecanicistas da educação, predominantes até pouco           profunda em nossos sistemas de pensamento e de ensino, pois não se
tempo, não têm sido capazes de reverter esses valores e responder aos       preocupa apenas com a transmissão de saberes, mas com a formação de
problemas mais essenciais da humanidade.                                    uma nova maneira de ser.
Manifesto 2000   Respeitar a vida                                     Educar para a Paz envolve a geração de oportunidades para
                                                               comunhão de significados e afetos. Assim como o agricultor deve arar,
                                                               afofar o terreno, deixá-lo rico em nutrientes e irrigá-lo, devemos criar
                                                               um ambiente propício e acolhedor para que as sementes da paz possam
                 Rejeitar a violência                          germinar. Isto envolve criatividade, abertura para promover uma
                                                               qualidade nova nos espaços de ensino/aprendizagem a fim de
                                                               transformá-los em locais de humanização e sensibilidade.

                 Ser generoso                                         E como descobrir o prazer de aprender nos espaços educativos?
                                                               Sem prescindir da lógica e da razão, devemos criar uma atmosfera de
                                                               liberdade e alegria. O humor, por exemplo, é um dos fatores importantes
                                                               para abrir as portas do conhecimento e da curiosidade.
                 Ouvir para compreender
                                                                       Tal descoberta é um desafio, pois historicamente a educação,
                                                               privilegiando o pensamento e a inteligência, desprezou as experiências
                                                               de afeto e desafeto, alegria e tristeza, aceitação e desprezo que ficaram
                 Preservar o planeta                           confinadas na memória corporal. Assim provocou-se uma grande ruptura,
                                                               tratando-se os educandos como simples recipientes de conhecimento.

                                                                      O primeiro passo está em permitir e incentivar a expansão do
                 Redescobrir a solidariedade                   movimento corporal dos aprendizes, geralmente aprisionados na rigidez
                                                               dos bancos escolares, nas cadeiras dos computadores, nos assentos dos
                                                               ônibus, dos carros. Se a educação for uma atividade prazerosa, propicia
                                                               confiança e curiosidade, aceita novos desafios, constrói a paz.
                 O Manifesto 2000 por uma Cultura de Paz e
                 Não-Violência foi esboçado por um grupo de            Para gerar atitudes inovadoras devemos ter a coragem de romper
                 laureados do prêmio Nobel da Paz. Milhões     padrões e criar novas formas de Ser, Conviver, Conhecer e Fazer. Ensinar
                                                               a criatividade e fazê-lo criativamente são caminhos fundamentais da
                 de pessoas em todo o mundo assinaram esse     Educação para a Paz.
                 manifesto e se comprometeram a cumprir os
                                                                      Uma pessoa saudável e autoconfiante permite a expressão e
                 seis pontos descritos acima, agindo no        incentiva a investigação do novo, do possível e desejável, mantendo uma
                 espírito da Cultura de Paz dentro de suas     atitude aberta para o encontro com a diversidade. Aprender a transitar
                 famílias, em seu trabalho, em suas cidades.   pelo “universo das diferenças” e levar os aprendizes conosco nessa
                                                               viagem exige reconhecer a existência dos preconceitos e abrir mão deles,
                 Tornaram-se, assim, mensageiros da
                                                               pois persistem arraigados, provocando injustiças sociais, econômicas e
                 tolerância, da solidariedade e do diálogo.    guerras, apesar da diversidade ser a raiz da vida e da cultura.
                 A Assembléia Geral das Nações Unidas                 Aliás, quando lemos os jornais ou ouvimos o noticiário, temos a
                 declarou o período de 2001 a 2010 a           impressão que um recurso natural espontâneo, “O Amor”, está à beira da
                 “Década Internacional da Cultura de Paz e     extinção. Crianças de rua, presídios abarrotados, filas intermináveis nos
                                                               hospitais. Dentro deste mundo carente, é uma pena que a educação
                 Não-Violência para as Crianças do Mundo”.     muitas vezes se esqueça que temos um desejo inato de contato e de nos
tornar significativos para os outros. Esta falta de afeto é ainda mais              Para concluir, não podemos nos esquecer que as palavras têm um
dolorosa nos setores vulneráveis da nossa sociedade: entre as crianças, os   poder muito grande, talvez seja por isso que todas as religiões do mundo
jovens e os idosos.                                                          recitam preces, mantras, cântigos sagrados. Os poetas e sábios de todos
                                                                             os tempos nos iluminaram com versos que nos acompanham por toda a
        A vida parece vazia quando nossos corações estão fechados.           vida, no transcorrer de gerações.
Educar para a Paz pede o exercício da compaixão. Nosso meio ambiente
tem sido muito agredido, da mesma maneira estão adoecidas a                         Na educação, na família, na sociedade, as palavras amigas nada
interioridade humana e as relações entre as pessoas. A Educação para a       custam a quem as profere e só enriquecem quem as recebe. Afinal, quem
Paz preocupa-se em minimizar essas dores. Não dispensa o rigor do            não gosta de ouvir expressões como: “você fez um bom trabalho”; “você
pensamento acadêmico, mas sem dúvida, o transcende.                          é capaz”, “sentimos falta de você”.
                                                                                     A Educação para a Paz está, em sua essência, comprometida com
       A Educação para a Paz é fundamental para resolver conflitos de        um futuro de bem-estar para a humanidade, e com o meio ambiente.
forma madura e saudável, visto que eles fazem parte do cotidiano de          Não se pode mudar os erros do passado, mas podemos construir um
todas as pessoas, em todos os tempos e lugares. É uma oportunidade de        futuro saudável, tão cheio de criatividade quanto a própria vida.
desenvolvermos conceitos positivos nas partes envolvidas, através da         E, talvez, a descoberta mais valiosa a ser feita pelo ser humano neste
compreensão do ponto de vista do outro. É também uma oportunidade            século seja que a palavra “NÓS” é a mais importante de todas.
de darmos suporte emocional aos envolvidos, demonstrando o valor da
confiança nas pessoas e nos processos que levam à paz.

        Em nossas escolas, grande parte das vezes, os estudantes
                                                                                     Laura Gorresio Roizman                                             13
                                                                                     É mãe da Renata e da Lílian, casada com Gilson.
acumulam saberes de seus professores e realizam uma troca de                         Na Associação Palas Athena coordena, entre outros, o Programa
informações. Quando a disciplina ou o curso termina os participantes                 para Formação de Educadores em Valores Universais, Ética e
esquecem uns dos outros, e a vida continua como se nada tivesse                      Cidadania. Doutora em Saúde Pública e Mestre em Ecologia pela
acontecido. Na proposta da Educação para a Paz devemos seguir um                     Universidade de São Paulo.
outro caminho: não importa a idade de seus educandos, o que vale é
criar laços de afeto e confiança mútua. Nós, seres humanos, somos
totalmente dependentes do afeto. Desde o primeiro instante de vida
precisamos do calor e do cuidado que nos conforta e legitima. Para nos
desenvolver de maneira saudável, precisamos da estrutura e da confiança
dos adultos.

       Entretanto, a grande Mãe é o planeta Terra que, vista do espaço, é
uma pérola azul navegando na imensidão do cosmos, um útero de
criação, que abriga uma vastidão de maravilhas naturais. E todos os seres
humanos alimentam-se, inteiramente dependentes, dos recursos do
planeta: da água, da terra e de uma variedade incontável de produtos
provenientes dela.

       Neste século, não podemos prescindir das questões relativas ao
bem-estar da sociedade e da natureza. O fato é que estamos indo longe
demais, ao servir a interesses imediatos de uma cultura que cultiva a
violência e a acumulação em detrimento do bem-estar social e ecológico.
respeitar a vida
                          “Observe atentamente o caminho que seu coração aponta
                                      e escolha esse caminho com todas as forças”
                                                                                                                        Provérbio hassídico


       Muito tempo passou, desde o início do universo, até surgir a vida humana. E ainda foi preciso muito mais para
que aflorassem, no mundo, as mentes inteligentes e capazes dos seres humanos. O mais impressionante é pensar que
a vida, que existe há tão pouco tempo, já está ameaçada. Dizem os biólogos que uma espécie viva está desaparecendo
do planeta a cada vinte minutos. Em centésimos de segundo, aquelas mesmas mentes inteligentes podem destruir                                  15
centenas de seres vivos: basta apertar um botão! Com freqüência, mostram as estatísticas, um simples apertar de
gatilho interrompe uma vida jovem, com sonhos, paixões, talentos.
       A violência nas grandes cidades vitima milhares de pessoas, principalmente jovens. Por isso temos que praticar
e disseminar, o máximo que pudermos, o resgate da vida, a defesa da vida, o respeito à vida. Precisamos começar
refletindo sobre algumas lições que a própria vida nos passa. Em primeiro lugar, é fundamental compreender que,
apesar dos surpreendentes avanços da ciência, é absolutamente impossível recriar todas as formas de vida em
laboratório. Infelizmente, sabemos destruir, com diversos tipos de armas — nucleares, químicas e biológicas — toda e
qualquer vida na Terra. Mas não sabemos como, nem por onde começar a restaurá-la.
       Podemos dizer que alguma coisa é viva quando ela gera a si mesma. Se batemos a bicicleta em um poste e
alguma parte se quebra, precisamos consertá-la, trocar peças, ajustá-la, refazer a pintura etc. Mas se ralamos o braço,
nosso corpo consegue se “consertar” sozinho, pois as células podem se reproduzir e cicatrizar a ferida. Apesar de tão
esplêndido, esse fenômeno passa totalmente desapercebido aos nossos olhos. Estamos tão acostumados a encontrar
outras pessoas caminhando à nossa frente, a ver as árvores alimentando os pássaros e insetos que esquecemos,
literalmente, de admirar a vida em seu mistério. O milagre se tornou comum: mulheres grávidas em países em guerra,
ovos eclodindo em terras áridas, a grama brotando das frestas do asfalto de cidades maltratadas pela violência.
       A vida é criativa. Observe as folhas de uma árvore. Se olhar atentamente, perceberá que não existe uma folha
igual à outra! O mesmo acontece quando observamos as multidões caminhando pelas ruas: quantas pessoas
diferentes umas das outras! Na família humana, em todo nosso planeta, abraçamos um número imenso de raças,
culturas, religiões, visões de mundo, valores…
E, logicamente, é impossível que todo mundo pense do           uma sensação imediata de paz, acolhimento, e harmonia com a
                         mesmo jeito: alguns gostam do verão, outros preferem o inverno…       Terra. O mesmo podemos dizer quando uma mãe abraça seu bebê.
                         O problema começa quando resulta difícil aceitar o ponto de vista     O amor é o combustível fundamental da humanidade, o alicerce da
                         do outro. Perdemos a paciência, nos tornamos intolerantes,            vida no planeta. É um bem-estar espontâneo, fácil, natural, que
                         discutimos e, sem querer, podemos utilizar a violência para lidar     precisa ser redescoberto. Cabe a cada um de nós empreender essa
                         com esse conflito. Em uma atitude imediatista e impensada,            viagem interior, ao encontro da bondade humana, virtude presente
                         corremos o risco de desrespeitar a vida, machucando nosso             em todas as culturas.
                         semelhante com palavras, gestos, atitudes… É exatamente assim
                                                                                                      Mas e no nosso organismo maior, a sociedade? Existe essa
                         que começam as brigas e as guerras. E é justamente esta espiral
                                                                                               mesma sintonia? O que seria de nós sem os empregados das usinas
                         de violência que queremos eliminar.
                                                                                               hidroelétricas que produzem energia? Sem os padeiros, médicos e
                                 Para compreender a arte da aceitação do outro, podemos        lixeiros? Músicos, jornalistas e camponeses? Dependemos uns dos
                         aprender com nossa maior mestra: a própria vida, bem maior do         outros para sobreviver… Infelizmente, esse fato é freqüentemente
                         universo, que insiste em pulsar a cada instante. Teima em se          esquecido, nos diversos cantos do planeta, a cada instante.
                         concretizar, perfeita e harmonicamente. Observe as bactérias, seres
                                                                                                      Se pudéssemos observar com uma lente de aumento a saúde
                         muito simples, de um passado remoto, que “moram” em todas as
                                                                                               da sociedade humana, perceberíamos muita dor e sofrimento.
                         células humanas, trabalhando no processo de produção de energia,
                                                                                               Muitos não encontram oportunidades de moradia, alimento,
                         como parceiras em nosso corpo. O que seria do cérebro sem os
                                                                                               trabalho. A desigualdade social é uma dura realidade de nossos
                         pulmões? Os rins sobreviveriam sem seu companheiro coração? Em
16                       nosso organismo, podemos afirmar sem pestanejar, existe respeito e
                                                                                               dias, uma situação de profundo desrespeito à vida.
                         ajuda mútua desde a pequena célula até os nossos órgãos mais                 Será que podemos fazer algo para construir um mundo mais
                         sofisticados. Todas as pequenas partes trabalham juntas, operando     justo, mais cooperativo? A injustiças e desigualdades são tantas
                         o milagre. Esse é apenas um exemplo de associação, cooperação.        que, muitas vezes, é mais cômodo nos sentirmos magoados e
                         Fenômenos de natureza amorosa que sustentam o princípio da vida.      revoltados… Mas, de alguma maneira, precisamos aprender que a
                                                                                               paz está em nossas mãos: a sociedade do futuro depende de nós!
                               Vamos continuar estudando a vida: ao caminhar em uma
                                                                                               Cabe a cada um de nós cuidar da vida, em seu aspecto pessoal,
                         mata ou à beira-mar, observando um pôr-do-sol, estabelecemos
                                                                                               social e planetário.
Vamos respeitar a vida
           cuidando…




                               … da natureza à nossa volta, lembrando que todo ser vivo
                          é um milagre.                                                             … do nosso corpo. E isso não significa “malhação” e
                                … de nossa comunidade, de nosso bairro, de nossa família.      cosméticos. Mas tratar e amar o corpo com a sabedoria que ele
                          Ouvindo os jovens, garantindo que possam se expressar e que          merece, sem contaminá-lo com substâncias perigosas à saúde.
                          sejam atores de seu próprio destino.                                       … das palavras que dizemos. Podemos ser violentos com as
                                 … da sensibilidade do nosso coração, oprimido em uma          pessoas dependendo das palavras que escolhemos e da maneira
                          sociedade onde existe guerra, destruição da natureza. Em paz, em     como nos expressamos.
                          cinco minutos de silêncio, podemos ouvir nosso coração dizer               … do nosso olhar. Os olhos são os espelhos da alma: revelam
                          qual é a melhor música para a nossa saúde, os melhores               a verdade dos sentimentos. No olhar não há mentira. Com ele
                          passatempos, as melhores leituras, como ajudar um semelhante.        dizemos “como você é chato!” ou “te amo!”
ATIVIDADE                  MODELO                              escolherem
                                                                       pedaços de
Colcha de Retalhos                                                     tecidos para
                                                                       pintar símbolos,
       Quantas vezes sentamos ao lado de nossos avós ou mesmo          cores ou imagens
de nossos pais para escutar aquelas longas histórias que               relacionadas às
compuseram a vida e a trajetória da nossa família e, portanto, a       suas lembranças.
trajetória de nossa vida? Quantas vezes paramos para pensar na         Esse é um
importância do nosso passado, nas origens de nossa família, e          momento
mais, de nossa comunidade? Indo um pouco mais longe, quantas           individual, que deve
vezes paramos para pensar de que forma a cultura da nossa cidade       levar o tempo necessário
e de nosso país influencia o nosso modo de ver as coisas?              para que cada um se sinta à
                                                                       vontade ao expressar o máximo de sua história de vida. Quando
       Pois é. Nós somos aquilo que vivemos. Somos um pouquinho
                                                                       todos terminarem, proponha a composição da primeira parte da
da vida de nossos pais e avós, somos também um pouquinho da
                                                                       Colcha de Retalhos, que pode ser feita costurando ou colando os
nossa casa, do nosso bairro, das pessoas que estão à nossa volta,
                                                                       trabalhos de cada um, sem ordem definida.
seja na cidade ou no país onde vivemos.
       Isso é o que se chama identidade cultural. E esta é uma               2ª Etapa — História da comunidade
atividade que ajuda a buscar essa identidade — o que significa
                                                                              Esta etapa exige muito diálogo entre os participantes, que
                                                                                                                                           17
buscar a nossa própria história, conhecermos a nós mesmos e a
                                                                       devem construir a história da comunidade onde vivem. Uma boa
tudo que nos rodeia. Buscar a identidade cultural é “entender para
                                                                       dica é pesquisar junto aos mais velhos, ou ainda utilizar os
respeitar” nossos sentimentos e os daqueles com quem
                                                                       resultados da atividade Conhecer para Preservar, do tópico
compartilhamos a vida.
                                                                       Preservar o Planeta.

MATERIAL                                                                     O grupo escolhe alguns fatos, acontecimentos e
                                                                       características da comunidade para representá-los também em
    • Tecido — lona, algodão, morim cortados em tamanho
      e formatos variados
                                                                       pedaços de tecido pintados. Pode-se reunir as pessoas em
                                                                       pequenos grupos para a criação coletiva do trabalho. Todas as
    • Tinta de tecido ou tinta guache (é bom lembrar que o guache
                                                                       pinturas, depois de terminadas, deverão ser costuradas ou coladas
      se dissolve em água!)
                                                                       compondo um barrado lateral na colcha.
    • Linha e agulha ou cola de tecido
                                                                             3ª Etapa — História da cidade, do país, da Terra
COMO          SE      FAZ
                                                                              A partir daqui, a idéia é dar continuidade à colcha de
      1ª Etapa — História de Vida                                      retalhos, criando novos barrados, de forma a complementá-la com
      Peça a todos os participantes para relembrar um pouco de         a história de vida da cidade, do país, do mundo e até a do
suas histórias pessoais e das histórias de suas famílias pensando      universo. Não há limites nem restrições. O objetivo principal é
em suas origens, em sentimentos e momentos marcantes, em               estimular nos participantes a vontade de conhecer e registrar a
sonhos... Enfim, em tudo aquilo que cada pessoa considera              vida, em suas diferentes formas e momentos. Desse modo, poderão
representativo de sua vida. Depois disso, peça para os participantes   se sentir parte da grande teia da vida.
18
Rejeitar a violência
                                             “O primeiro princípio da ação não-violenta é a
                                               não-cooperação com tudo que é humilhante”
                                                                                                    Mahatma Gandhi
        Assim que se vê livre da casca do ovo, a tartaruga marinha corre para o mar.
Imediatamente pronta para a vida, ela não tem dúvidas sobre o que fazer, nem erra o caminho
para o seu destino natural. Quem dera fosse assim com os humanos! Nós não só precisamos de
muita ajuda e treino até conseguir ficar em pé, como às vezes levamos anos para encontrar a
melhor direção a seguir. O ser humano, não há dúvida, não se cria nem se forma sozinho. Outras
pessoas nos alimentam, cuidam de nós quando ficamos doentes, nos dão o afeto que vai se                              19
tornar o alicerce de nossa identidade, nos ensinam a descobrir um passado com outras culturas e
civilizações que nos fazem entender as relações humanas. Relações experimentadas a cada dia,
na família, na escola, no trabalho, no lazer.
       Mas se está claro que dependemos dos outros para viver, que sempre estaremos junto com
os integrantes de qualquer grupo ao qual pertencermos, não é tão simples administrar essa
convivência. Não é fácil nos articular em sociedade de forma que todos possam crescer e
expressar seus desejos, sem ferir o direito dos outros fazerem a mesma coisa. Ou seja, estar
juntos exige cuidados, concessões mútuas, reciprocidade, confiança. Todos esses pilares do
convívio social sofrem abalos (algumas vezes fatais) quando atingidos por atitudes de violência,
destruição, exploração, humilhação. Nesses momentos, todos perdem, ninguém se beneficia.
Mesmo que a curto prazo pareça haver um “ganhador”, ele próprio pode ser o “perdedor” no
próximo confronto. E assim se delineia o infernal ciclo da violência, comprovado pelos casos de
vinganças e retaliações noticiados todos os dias na TV e nos jornais.
      Recorrer à violência significa abrir mão de tudo o que aprendemos e conquistamos
durante um processo milenar de civilização. Significa ignorar avanços como a abolição da
escravatura; a derrubada de regimes de governo opressores; a Declaração Universal dos Direitos
do Homem, com o reconhecimento de que todas as raças, culturas e expressões religiosas têm o
mesmo valor e enriquecem a diversidade humana; o direito universal à Educação e a usufruir o
patrimônio cultural de nossa espécie; a justiça que garante às mulheres o exercício pleno de suas
capacidades; os direitos dos trabalhadores de reivindicar melhores condições para o exercício de
suas profissões; a opção na Constituição Federal de garantir                   Gandhi costumava dizer: “Pode-se garantir que um conflito
     cidadania plena à infância e à juventude, regulamentada depois         foi solucionado segundo os princípios da não-violência se não
     pelo Estatuto da Criança e do Adolescente, que abriu caminhos          deixa nenhum rancor entre os inimigos e os converte em amigos”.
     sem precedentes para assegurar direitos individuais e sociais.         Embora pareça apenas um conjunto de palavras bonitas, essa
                                                                            diretriz foi testada na prática, com muitos de seus oponentes, que
            Sabemos que essas conquistas, entre outras, ainda não são
                                                                            se tornaram seus admiradores e até colaboradores.
     suficientes para atender às nossas necessidades de segurança,
     oportunidades, conhecimento, lazer, exercício de cidadania,                    Não é fácil dominar a própria violência, até porque não é
     liberdade, criatividade. Porém, a maior parte dessas vitórias foi      fácil reconhecer que somos potencialmente violentos — seja em
     possível porque pessoas se dispuseram a negociar, argumentar,          pensamentos, gestos ou omissões. Sempre arranjamos boas
     dialogar, buscar consenso, resistir e não cooperar com injustiça e     justificativas para nossas atitudes. “Você foi injusto comigo”,
     abuso de poder.                                                        “invadiu meu espaço”, “me traiu”. Essas são queixas que temos dos
                                                                            outros e os outros, de nós. Se compreendermos isso, se aceitarmos
            Na História, temos dois exemplos de compromissos com a
                                                                            que nem sempre estamos com a razão, faremos cobranças (aos
     liberdade e com a justiça sem apelo à força física: Mahatma
                                                                            outros e a nós mesmos!) mais justas e mais humanas.
     Gandhi e Martin Luther King. Cada um deles, em contextos
     sócio-políticos e geográficos distintos, enfrentou a opressão, a              Como um bumerangue que volta ao ponto de partida, o uso
     humilhação e a mentira. Cada um escolheu, à sua maneira,               da violência para compensar frustrações e desapontamentos
     métodos não-violentos de libertar seus povos, restabelecer o           resulta em sentimentos de impotência e em mais frustração. Ao
20   direito e encontrar saídas para o convívio pacífico. Esses homens      agredir alguém, damos a essa pessoa o direito de nos agredir
     provocaram transformações irreversíveis porque suas propostas          também, e acabamos por “armar” o outro com os mesmos
     não eram destruir o opressor, e sim libertar as pessoas da opressão.   instrumentos dos quais queremos nos desvencilhar.
            Para isso, é preciso entender que existe diferença entre a             Esse círculo vicioso só se quebra se resistirmos ao ímpeto
     injustiça e o injusto, a maldade e aquele que a pratica.               emocional, ao ódio e à raiva — barreiras que ofuscam sentimentos
                                                                            preciosos como a compaixão, a solidariedade e a capacidade de
                                                                            perdão. “Perdi a cabeça”, “fiquei fora de mim”. Não são essas as
                                                                            expressões que usamos toda vez que agredimos alguém? E o que
 Se dirigimos nossa indignação ao alvo                                      elas querem dizer? Que reconhecemos ter agido por impulso, de
                                                                            modo irrefletido e ignorante. Mais ainda, que não aceitamos esse
        errado, isto é, se combatemos o                                     comportamento como digno de nós mesmos — e, igualmente, não
        agressor, em vez de combater a                                      o aceitamos no outro.
    agressão, perdemos a oportunidade
 de estabelecer uma nova relação com
     o outro. Além de, em grande parte
        dos casos, alimentarmos o ciclo
  vicioso da violência, quando a vítima
  reage, se tornando um novo agressor.
Nós humanos, assim como os primatas, somos sensíveis ao       que são patrimônio de todos — e não apenas de alguns. Há
princípio de empatia, uma espécie de tendência para se colocar no    violência nos discursos que domesticam e criam resignação, ao
lugar da outra pessoa. Esse sentimento nos faz solidários ao         repetir uma e outra vez que "o mundo é assim mesmo, sempre
sofrimento das outras pessoas, sobretudo se formos nós os agentes    houve guerra e injustiça", desencorajando qualquer proposta nova
dessa aflição. Nessas circunstâncias, experimentamos um misto de     de organização social e de uma cidadania ativa e responsável.
arrependimento, vergonha e compaixão. Pensamos em fazer
                                                                            A violência não é uma expressão de justiça, de felicidade,
qualquer coisa para voltar atrás e evitar o acontecido. Tal
                                                                     nem de amizade. Estas promovem o acolhimento e a troca, buscam
sensação, apesar de dolorosa, mostra a aspiração natural de não
                                                                     o convívio, o estar junto para partilhar e aprender, para criar,
desejar prejudicar ninguém.
                                                                     desafiar e construir futuros nunca imaginados, mas sempre
        A violência, entretanto, nem sempre tem um alvo preciso ou   possíveis. Esse desejo foi, até agora, o sustentáculo da nossa
um agressor identificável. Há violência nos preconceitos que         espécie — o que confirma e renova a nossa esperança.
impedem uma pessoa de exercer seus direitos e desenvolver suas
potencialidades pelo simples fato de ter uma raça, um gênero,
uma cultura, uma condição social, uma religião, uma capacidade
física especial. Há violência nos sistemas políticos e econômicos
que reforçam disparidades de oportunidades, erodindo o tecido
social e gerando exclusão, desemprego, miséria e indignidade.
       Há violência nos desvios de recursos públicos que deveriam                                                                        21
promover plena sociabilidade, fundada na segurança que nasce da
liberdade e da igualdade de acesso aos bens naturais e culturais
Hey Joe                    ATIVIDADE                 MODELO
               de Bill Roberts, versão Ivo Meirelles e Marcelo Yuka
                                                                      Música: Hey Joe
    “Hey Joe onde é que você vai com essa arma aí na mão
        Hey Joe esse não é o atalho pra sair dessa condição                  Esta música traz reflexões bastante atuais sobre violência,
                 Dorme com tiro acorda ligado tiro que tiro           exclusão social, racismo. Mas também faz pensar sobre cidadania.
                   Trik-trak boom pra todo lado meu irmão             A atividade consiste em reunir o grupo para ouvir a canção e
                                                                      depois fazer um debate. É necessário que tenham cópias da letra
                 Só desse jeito consegui impor minha moral            ou que se coloque um cartaz com a letra à vista de todos.
     Eu sei que sou caçado e visto sempre como um animal
                                                         (…)
                                  Mas eu vou me mandando
                                                                      DISCUSSÃO                  GER AL
   Hey Joe assim você não curte o brilho intenso da manhã
                                                                      Depois de escutar a música, convida-se os participantes a
 Hey Joe o que teu filho vai pensar quando a fumaça baixar
                                                                      responder as seguintes perguntas:
                           Fumaça de fumo fogo de revólver
                       E é assim que eu faço eu faço eu faço          • Que sentimento esta música lhe traz?
22                      Eu faço a minha história meu irmão
                    Aqui estou por causa dele e vou te dizer          • O que mais chamou sua atenção? Com o quê você mais se
                                                                      identificou?
          Talvez eu não tenha vida mas é assim que vai ser
                           Armamento pesado corpo fechado             • Quais são os aspectos positivos e os negativos da realidade
                             Menos de 5% dos caras do local           retratada?
                São dedicados a alguma atividade marginal
             E impressionam quando aparecem nos jornais               • Você consegue perceber, no texto, duas formas de pensar
                                                                      diferentes em relação à violência e à vida? Com qual você se
                                 Tapando a cara com trapos            identifica mais?
                                       Com uma uzi na mão
                                                         (…)
                                        Sinto muito cumpadi
                                       Mas é burrice pensar
                                             Que esses caras
                             É que são os donos da biografia
                                    Já que a grande maioria
                                     Daria um livro por dia
                        Sobre arte, honestidade e sacrifício”.
DISCUSSÃO                 POR TRECHOS                                   E é assim que eu faço eu faço eu faço
      Alguém lê os trechos abaixos e os participantes respondem         Eu faço a minha história meu irmão”
às perguntas seguintes:
                                                                          • O que significa “fazer a própria história”?
      Trecho 1
                                                                         • Se você identificou duas posições diferentes na música,
   “Hey Joe onde é que você vai                                     com qual delas você pretende escrever a sua história de vida?
   com essa arma aí na mão
   Hey Joe esse não é o atalho                                             • Retrate, por meio da arte (desenho, pintura etc.), a sua
   pra sair dessa condição”                                         linha de vida, reservando um bom espaço para a sua perspectiva
                                                                    de futuro… Discuta com o grupo se existem pontos em comum
      • Que “condição” é essa?                                      entre as linhas de vida e as perspectivas futuras de todo o grupo.
                                                                    Será que algo pode ser feito em conjunto?
      • Você imagina outros “atalhos” para sair dessa “condição”?
                                                                          • O grupo vê possibilidades de se ajudar mutuamente para
      Trecho 2                                                      alcançar algum objetivo?
   “Menos de 5% dos caras do local
                                                                           • Construindo a sua história, de que forma você pode          23
   São dedicados a alguma atividade marginal
                                                                    contribuir para uma Cultura de Paz?
   E impressionam quando aparecem nos jornais
   Tapando a cara com trapos
   Com uma uzi na mão”

      • O que este trecho retrata?

      • Como você vê esta realidade
         no seu bairro,
         na sua escola,
         com seus amigos e parentes?

      Trecho 3
   “Mas é burrice pensar
   Que esses caras
   É que são os donos da biografia
   Já que a grande maioria
   Daria um livro por dia
   Sobre arte, honestidade e sacrifício
24
Ser generoso
        “A generosidade - o amor - é o fundamento de toda socialização porque
     abre um espaço para o outro ser aceito como ele é. E, a partir daí, podermos
           desfrutar sua companhia na criação do mundo comum, que é o social”
                                                                                                                    Humberto Maturana

       Todos os dias nos beneficiamos de milhares de atos generosos e nem percebemos! Alimentos com maior valor nutritivo, roupas
mais adequadas ao nosso clima, novos medicamentos para aliviar a dor ou erradicar uma doença, casas feitas com materiais mais
baratos e ecologicamente sustentáveis... Isso acontece porque, todos os dias, centenas de fundações sem fins lucrativos oferecem
seus recursos econômicos para incentivar a pesquisa e fazer descobertas cujo propósito é melhorar a vida das pessoas. A                 25
generosidade está presente mesmo nas coisas menos imediatas para a sobrevivência humana. Nos museus de arte, por exemplo,
grande parte das obras, que estão lá para enriquecer nosso senso estético e cultural, vem de doações particulares. Famílias que têm o
privilégio de possuir objetos valiosos abrem mão deles por entender que são demasiado preciosos para decorar apenas uma
residência, onde seriam apreciados por poucas pessoas.
      Apesar desse “anonimato” característico de muitas ações generosas (quem ajuda não conhece o ajudado; quem recebe ajuda
não sabe quem ajudou), felizmente, a generosidade, em si, está cada vez mais “visível”. Basta ligar a TV para conferir: a cada pouco
pipoca uma campanha de solidariedade e os noticiários mostram variados programas de trabalho voluntário. Adultos, jovens e
crianças de todas as classes sociais, raças e crenças estão dedicando seu tempo e seu talento a ações comunitárias, populações
menos favorecidas, doentes internados em hospitais, instituições que atendem crianças necessitadas de cuidados especiais,
programas de reforço escolar e alfabetização eletrônica... Enfim, estão participando de propostas que abrem caminho para uma
sociedade mais democrática, cujos recursos e conquistas possam ser usufruídos por todos.
       A generosidade não é um direito, tampouco um dever. Não é regida por leis. É fruto da nobreza de caráter, uma virtude que
nos faz sentir parte de algo maior que nós mesmos, que nossa família ou que nosso país. Ela nos humaniza e nos mostra que, no
essencial, somos todos iguais: evitamos sofrer; buscamos felicidade, paz, justiça, realização; desejamos ser queridos e respeitados.
Ninguém, em são juízo, fica indiferente ante as inundações na Ásia ou a miséria na África. Nos sentimos irmanados com esses povos,
embora tão distantes, e sentimos vontade de fazer algo. Não importa a forma da contribuição — alimentos, conhecimentos, dinheiro,
tempo, conforto espiritual. Só o fato de participar da reparação já renova nossas forças e fortalece àqueles que auxiliamos.
Entretanto, a generosidade não se expressa apenas nos momentos de aflição. Na semana passada, uma colega de trabalho fez
aniversário e nossa turma deu a ela uma caixa de bombons. Contente com a surpresa, ela abriu a caixa, pegou um e ofereceu o
restante para nós, dizendo que eles eram mais gostosos quando compartilhados. Foi um gesto e tanto! Todos ficamos duplamente
Ninguém é tão pobre que não tenha algo para dar; ninguém é tão rico que possa dispensar um sorriso.
     felizes: pela felicidade que proporcionamos a ela lembrando de seu                                                                                                         espalhados pelo mundo. Mas também nós não precisamos ser
     aniversário e pela atitude generosa com que nos retribuiu.                                                                                                                 igual a eles. Apenas tomar suas obras como base para pensar:
                                                                                                                                                                                “E eu, o que poderia fazer? O que tenho a oferecer?” Você
            Uma das características mais evidentes da generosidade é
                                                                                                                                                                                pode até não ter reparado. Mas seguramente tem uma palavra
     essa naturalidade que dispensa qualquer tipo de recompensa, que
                                                                                                                                                                                de estímulo, um gesto amigo, um livro que pode ser útil a
     se satisfaz em si mesma. Outra é a liberdade: ninguém é obrigado
                                                                                                                                                                                outra pessoa. E seguramente tem alguém por perto precisando
     a ser desprendido nem a estar disponível para os outros. Mas todos
                                                                                                                                                                                dessa força. Ninguém é tão pobre que não tenha algo para
     gostaríamos de ter essas atitudes porque inspiram confiança e
                                                                                                                                                                                dar; ninguém é tão rico que possa dispensar um sorriso
     criam uma atmosfera amigável à nossa volta. Isto nos leva a
                                                                                                                                                                                amistoso.
     pensar que a generosidade também é contagiante. Envolve a quem
     dá e a quem recebe, eleva a auto-estima de ambos.
            Do lado oposto, a avareza e o egoísmo causam                                                                                                                                  ATIVIDADE                 MODELO
     distanciamento e desconforto. Os egoístas só pensam em seus
     próprios interesses; imaginam que o mundo foi criado para                                                                                                                  Tsuru (garça, em japonês)
     satisfazê-los e as pessoas, para servi-los. São incapazes de
     perceber as aspirações dos outros — “as suas são mais urgentes e                                                                                                                  O Tsuru é um dos mais conhecidos símbolos da paz.
     importantes”. É como se estivessem ofuscados pelo brilho de si                                                                                                             Segundo uma antiga tradição oriental, fazer mil garças em
     próprios, impedidos de enxergar os outros e, conseqüentemente, de                                                                                                          origami é um ato de esperança. Dai surgiu o hábito de fazer
26   criar vínculos afetivos sinceros e duradouros. Quem tem atitudes                                                                                                           uma corrente de Tsurus para realizar desejos: a recuperação
     gananciosas machuca os que estão a seu lado e termina sozinho.                                                                                                             de um doente, a felicidade no casamento, a entrada para a
                                                                                                                                                                                universidade, a conquista de um emprego. A primeira
            Às vezes, somos egoístas e só vamos nos dar conta disso                                                                                                             referência sobre essa tradição foi encontrada no livro
     depois de ver o estrago causado, a pessoa querida magoada, a                                                                                                               Senbazuru Orikata (Dobradura de mil garças), de Ro Ko An,
     situação difícil de remediar. Se não ficarmos atentos, acabaremos                                                                                                          publicado em 1797.
     incorporando esse comportamento que prejudica quem está à
     nossa volta e a nós mesmos! Para mudar esse quadro, é preciso ser                                                                                                                Mas foi uma menina chamada Sadako Sassaki que
     forte. É necessário encarar a questão com honestidade e resistir à                                                                                                         imortalizou a corrente dos mil Tsurus como símbolo eterno de
     tentação de encontrar desculpas para manter esse hábito.                                                                                                                   paz e harmonia. Sadako nasceu em Hiroshima logo após a
                                                                                                                                                                                cidade ter sido atingida por uma bomba nuclear, na Segunda
            Ninguém está condenado a repetir os erros. Podemos nos                                                                                                                 Guerra Mundial. Por causa das radiações, essa garotinha
     reeducar continuamente, se estivermos abertos aos outros e à                                                                                                                                            adquiriu uma doença fatal. Aos 10
     realidade. E não faltam referências de generosidade e                                                                                                                                                  anos, ao saber da lenda do Tsuru,
     altruísmo para nos inspirar e encorajar. Irmã                                                                                                                                                         ela decidiu fazer mil pássaros de
     Dulce e Betinho, por exemplo, são                                                                                                                                                                    dobradura para ter saúde suficiente
     excelentes modelos. Ler seus livros e                                                                                                                                                              para viver. Mas, quando chegou no
     acompanhar as obras que eles                                                                                                                                                                      pássaro de número 964, Sadako morreu.
     fundaram e que beneficiam                                                                                                                                                                        Foram seus amigos e parentes que
     milhares de pessoas, inclusive a                                                                                                                                                               terminaram a corrente.
     nós mesmos, é uma boa forma de começar a
     compreender o potencial da generosidade. Não                                                                                                                                                        A dobradura Tsuru é bastante fácil de
     há tantas irmãs Dulces nem tantos Betinhos                                                                                                                                                 fazer, se orientada por uma pessoa que
conheça a técnica de origami ou que já tenha feito um Tsuru.
           Portanto, é recomendável que pelo menos uma pessoa do grupo                                                                       1
           conheça o Tsuru para orientar quem nunca fez. Os pássaros
           prontos podem ser amarrados com um barbante, formando uma
           corrente de Tsurus para ser enviada a lugares que necessitam de
           paz, como presídios, hospitais. Ou para decorar a escola, numa                Uma linha pontilhada e   Uma linha tracejada
                                                                                         tracejada indica dobra    indica dobra VALE.
           mensagem de generosidade para a comunidade.                                        MONTANHA.
                                                                                                                                                   Dobre o papel ao meio.

           MATERIAL
           • Folhas de papel quadradas e barbante
                                                                                          2                                 Dobre
                                                                                                                            novamente ao
                                                                                                                            meio e volte.


      3                                               4
                                                                                                        5                                6

     A. Dobre para o centro seguindo a linha.     Coloque o dedo por dentro, no local indicado
     B. Dobre para trás.                          pela seta, abra e junte as pontas A e B.
                                                                                                                                                                            27
                                                                                                                       Dobre os dois
                          Levante a ponta                                                                              lados para o
7                         observando as linhas:            8                                        9                  centro seguindo            A. Dobre essa ponta
                          montanha e vale (veja                                                                        a linha.                   seguindo a linha e volte.
                          a figura seguinte).                                                                                                     B. Abra as duas abas que
                                                                                        Verifique                                                 foram dobradas na etapa 5.
                                                                                        se o seu
                                                                                        trabalho
                                               Repita o
                                                                                        ficou
                                         procedimento
                                                                                        assim.
                                            da etapa 7,
                                          para o outro
                                                                                                                                             13
                                                  lado.



       10                                 11                                  12


                                                                       Abra
                                                                       ligeiramente
    Dobre as                                                           cada lado da
                                   Dobre as                            figura,
    duas abas                                                                                                            A. Dobre a ponta para baixo, seguindo a
                                   abas                                levantando as
    superiores                                                                                                           linha, e volte à posição inicial.
                                   inferiores                          pontas para
    para o                                                                                                               B. Faça o bico embutindo a ponta para
                                   para trás.                          cima, conforme
    centro.                                                                                                              dentro do vinco.
                                                                       as setas.
                                                                                                                         Observe o desenho no detalhe.
OUVIR PARA
COMPREENDER
                             “Em um diálogo não há a tentativa de fazer prevalecer
                                  um ponto de vista particular, mas a de ampliar a
                                              compreensão de todos os envolvidos”
                                                                                                                 David Bohm
       Da mesma forma que a riqueza da natureza está em sua biodiversidade, a riqueza da humanidade está em                   29
suas múltiplas culturas. As diferentes histórias dos povos articulam saberes, experiências, modos de ver e de
sentir o mundo pela tradição oral ou escrita, pela arte, pela espiritualidade, pela ciência. Seria impossível
compilar a trajetória de todas as culturas porque muitas já desapareceram completamente. Outras deixaram
fragmentos de suas atividades e aspirações por meio dos quais nos comunicam um repertório de informações.
Povos pré-históricos, por exemplo, “falam” conosco em suas pinturas feitas nas cavernas: contam sobre suas
estratégias de caça, seus alimentos, suas crenças e sua organização social.
      Comunicar, transmitir vivências e habilidades é uma característica da condição humana — o que permite a
cada geração apresentar novos desafios. Somos curiosos e criativos — quando não estamos atrás de respostas
para nossas dúvidas, levantamos novas dúvidas para responder.
       Entretanto, compreender o passado e mesmo o que está hoje à nossa volta requer de nossa parte uma
abertura, uma disposição para estabelecer pontes de ligação e nos aproximarmos dos outros, sejam eles pessoas,
culturas, animais ou a própria natureza. Tudo e todas as coisas, pela simples presença, estão “expressando”,
“comunicando” algo que podemos compreender se estamos receptivos. Se estamos disponíveis ao diálogo, que
não precisa ser constituído por palavras. Em certas ocasiões, olhares, gestos, toques e até silêncios são mais
eloqüentes que discursos!
      Às vezes acreditamos já saber o que os outros têm para nos dizer. E com isso perdemos a magnífica
oportunidade de aprender e experimentar coisas novas. Os preconceitos, a intolerância, os fanatismos, as
supostas “certezas” são os maiores entraves para estabelecer linhas de comunicação e relacionamentos
confiáveis, onde a reciprocidade e o respeito mútuo semeiam o terreno do entendimento. Culturas diferentes,
predatória da natureza. Quando a percepção sintoniza apenas
                                                                            interesses particulares, desarticulados das necessidades coletivas,
                                                                            ou seja, do bem comum, existe confronto e desentendimento.
     …na história da nossa espécie, o                                       Frutos da violação dos direitos fundamentais, que promovem
     que nos une é muito maior do que                                       igualdade de oportunidades para todos.
                                                                                   A capacidade de ampliar a percepção da realidade, de
     o que nos separa.                                                      conhecer, compreender e de criar vínculos significativos com os
                                                                            outros é própria da condição humana. Do mesmo modo que é
                                                                            próprio da aprendizagem descobrir diferenças, identificar
                                                                            semelhanças, encontrar complementaridades. Assim, para entender
                                                                            em que mundo estamos e para onde desejamos seguir é preciso
                                                                            reconhecer que existe uma infinidade de protagonistas no cenário
       crenças diferentes, modos de pensar diferentes, valores diferentes   da vida. E que todos têm o legítimo direito de expressar suas
       não são necessariamente fonte de divisão, muito menos de             identidades e de buscar espaços comuns de associação.
       confronto. Afirmar a própria identidade pela negação dos outros
                                                                                   Visitar feiras de imigrantes, participar de diferentes
       empobrece e compromete o desenvolvimento pessoal. Com essa
                                                                            festividades populares, assistir a diversas formas de culto, ir a
       atitude, em vez de valorizar a originalidade, as diferenças que
                                                                            exposições de artesanato regional, experimentar comidas de
       todos temos a oferecer, gastamos nossa energia em confrontos
30     com tudo aquilo que é diferente.
                                                                            outras comunidades ou países, conhecer a história de povos
                                                                            distantes pesquisando a música e expressões de sua arte — essas
              Cada um de nós dispõe de uma “janela” para ver e sentir o     são maneiras de ampliar a nossa compreensão da pluralidade do
       mundo. E tudo aquilo que percebemos vem “carregado” da nossa         mundo. Mundo onde os conflitos e as desigualdades resultam da
       história particular e única. Isso é o que nos torna singulares.      relação de dominação que impõe determinada ordem sócio-
       Porém, às vezes nossa “janela” fica estreita demais, não             política, étnica, religiosa ou econômica. Essa imposição propõe um
       percebemos realmente o que acontece. Estamos tão ocupados com        “enquadramento” que desrespeita as peculiaridades dos povos
       nós mesmos que somos incapazes de entender as pessoas. Há            pautados por um repertório de valores diferente do “estabelecido”,
       alguns dias estava aguardando para atravessar a rua quando vi um     e que buscam manifestar sua identidade, sua autonomia e seu
       garoto correr entre os carros, atrás de uma bola. Ele conseguiu      sentido de vida.
       pegá-la e foi direto para um carro onde uma menina sentada no
                                                                                   Em tempos de globalização das comunicações, o isolamento
       colo da mãe esperava de braços abertos. A mulher, sem dizer uma
                                                                            seria uma opção suicida. Mas a interdependência planetária exige
       palavra, estendeu a mão com umas moedas para o garoto. Ao que
                                                                            um compromisso por parte de todas as nações. O compromisso de
       ele, sem jeito, respondeu: “Não, senhora, sua filha deixou cair a
                                                                            preservar a diversidade cultural — o mais precioso patrimônio
       bola e eu apenas a devolvi!”
                                                                            construído pela humanidade — e de impedir qualquer forma de
              Ampliar a percepção, abrir espaços novos de conhecimento      exclusão, promovendo o acesso aos bens naturais, sociais,
       e compromisso com a realidade são instrumentos essenciais para       culturais e científicos. O particular e o universal não são
       democratizar nossas relações, tanto no plano mundial quanto no       excludentes, podem e devem alimentar-se mutuamente,
       doméstico, com outros povos e também com outras espécies. A          humanizando as relações entre próximos e distantes,
       arrogância originada da percepção estreita das coisas deu origem     democratizando o conhecimento e criando oportunidades novas de
       a atrocidades e barbáries como a escravatura e a exploração          convívio amparado na justiça e na ética solidária.
O espírito da compreensão pressupõe partilhar saberes,           horários para iniciar e para terminar a conversa.
cooperar na construção de projetos de cidadania planetária, criar
                                                                               • Pode-se deixar a conversa correr livremente ou escolher,
parcerias com culturas regionais, promover a difusão de histórias
                                                                        em conjunto, um tema que reflita uma ansiedade do grupo ou um
ancestrais. O espírito da compreensão implica aprender em
                                                                        problema enfrentado pela comunidade. O assunto que vai ser
conjunto, abraçar junto, pensar e sentir junto, ficar incluído, fazer
                                                                        tratado deve ficar perfeitamente claro para todos, de modo que a
parte. Perceber nosso horizonte comum é reafirmar as sábias
                                                                        conversa não desvie para temas que estão fora da área de
palavras de Terêncio, escritor romano de comédias: “Sou humano,
                                                                        interesse de todos.
nada do que é humano me é alheio”.
                                                                               • Num diálogo, todos falam. E todos escutam. É preciso
                                                                        saber silenciar, lembrando que todos necessitam aprender e ser
        ATIVIDADE                   MODELO                              fonte de aprendizado, uns com os outros.
                                                                               • Dialogar não significa concordar, submeter-se à outra
Grupos de diálogo                                                       pessoa. Mas respeitar o pensamento do outro que, apesar de
                                                                        diferente, vai ajudar na compreensão do fato.
       Praticar o diálogo em grupo é uma forma proveitosa de                   • Procure evitar interrupções e conversas paralelas,
exercitar a compreensão do outro. E também pode ser um recurso          reforçando essa atitude de respeito ao outro.
eficaz para desenvolver ações conjuntas na resolução de
problemas da comunidade. Pode-se formar um único grande grupo                 • Ajude as pessoas a não perder o objetivo inicial, não se
de diálogo ou círculos menores, divididos por faixas etárias ou por     desviar da discussão proposta.                                              31
áreas de interesse.                                                           • Cada diálogo supõe uma conclusão que beneficie o maior
       Até que todos possam confiar uns nos outros, o grupo deve        número possível de pessoas. Mas também não é respeitoso excluir
escolher uma pessoa para atuar como moderadora, conduzindo a            opiniões diferentes da maioria. Dialogar é dar a devida importância
atividade segundo alguns princípios de democratização da                ao que aflige a todos.
expressão. O moderador precisa ser uma pessoa madura, que não                  • No final da atividade, dê oportunidade para que as
assuma atitudes autoritárias. Mas ter habilidade para acolher as        pessoas agradeçam, reconhecendo o aprendizado que um
diversas opiniões, mesmo que conflitantes, sem tender a                 possibilitou ao outro.
neutralizar essas diferenças.
                                                                        Fonte: boletim do programa Ribeirão Preto pela Paz, ano 1, julho de 2000.
       Veja como fazer isso, segundo a proposta do programa
Ribeirão Preto pela Paz, criado no Estado de São Paulo, dentro do
projeto Coopera Ribeirão — Construindo Comunidades
Colaborativas:
      • Em grupos formados por pessoas que acabam de se
conhecer, é recomendável iniciar o diálogo com uma breve
apresentação de cada participante.
      • Por uma questão de organização, é preciso estabelecer
32
preservar o planeta
        “O homem não teceu a teia da vida. Ele é apenas um de seus fios.
                        O que quer que faça à teia, ele faz a si mesmo”
                                                                                                                  Chefe Seattle


       Uma das mais fascinantes imagens que nossos olhos podem admirar graças à evolução da tecnologia é,
sem dúvida, a vista da Terra no espaço! Nosso planeta reluz como uma pérola azul mergulhada em um mar
infinito, cujo mistério desafia a mente humana. Sabemos apenas que o universo é absurdamente imenso e, por
mais que telescópios poderosos insistam em procurar sinais de vida pelas galáxias, pelo menos até agora, não                      33
temos notícias de que exista vida inteligente em outro lugar. Só aqui na Terra!
       Olhando o planeta bem de perto, somos brindados com outra beleza: a fina camada de solo que recobre
sua superfície. Essa terra foi palco de muitas histórias, desde que surgiu o primeiro homem das cavernas. Sobre
ela floresceram as mais variadas culturas, seus sonhos, seus ódios, seus amores. Fósseis delicadamente
escondidos nas suas entranhas comprovam que ela foi o útero e o berço de muitas e diferentes espécies já
desaparecidas.
       Foi neste planeta azul que a espécie humana surgiu e evoluiu, dotada de um cérebro muito sofisticado!
Aprendemos matemática e filosofia; descobrimos, criamos e inventamos coisas incríveis e belas como o raio
laser e os painéis grafitados. Porém, ainda tiramos “nota baixa” em uma das mais importantes lições: preservar
nosso planeta, nossa casa. Esquecemos que dependemos da Terra para nossa sobrevivência, assim como um
bebê precisa da mãe para se desenvolver com saúde. Parecemos não notar que neste planeta estão a água que
bebemos, o solo em que plantamos, o ar que respiramos!
       Aqui convivemos com as algas que produzem oxigênio; com as bactérias que reaproveitam as folhas
mortas da floresta; com os pássaros que carregam sementes para que árvores possam brotar em lugares
distantes. E todos colaboram, sem exigências, para a continuidade da vida. Ao contrário de nós, humanos.
Apesar de termos o cérebro tão desenvolvido (maior do que o dos macacos!), somos os seres que mais destróem
seus semelhantes. Por que eliminamos uma espécie viva a cada vinte minutos? Por que inventamos armas
capazes de acabar com a vida no planeta rapidamente? Por que um quarto da água doce do mundo não pode
ser reaproveitada?
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Semeando cultura de paz nas escolas

  • 1. Lia Diskin e Laura Gorresio Roizman semeando cultura de paz nas escolas
  • 2. ed içã o Lia Diskin Laura Gorresio Roizman
  • 3. 2 Os autores são responsáveis pela escolha e apresentação dos fatos contidos neste livro, bem como pelas opiniões nele expressas, que não são necessariamente as da UNESCO, nem comprometem a Organização. As indicações de nomes e a apresentação do material ao longo deste livro não implicam a manifestação de qualquer opinião por parte da UNESCO a respeito da condição jurídica de qualquer país, território, cidade, região ou de suas autoridades, nem tampouco a delimitação de suas fronteiras ou limites.
  • 4. ed içã o 3 Lia Diskin Laura Gorresio Roizman
  • 5. Governo do Estado de Sergipe Conselho Editorial da UNESCO no Brasil ASSOCIAÇÃO PALAS ATHENA Governador Vincent Defourny João Alves Filho Bernardo Kliksberg Conselho Deliberativo 2005/2009 Juan Carlos Tedesco Ana Maria de Lisa Bragança; Aparecida Elci Ferreira; Secretária Estadual do Combate à Pobreza Adama Ouane Daniela Maria Moreau; João Roberto Moris; e da Assistência Social Célio da Cunha Judith Berenstein; Laura Gorresio Roizman; Maria Selma Mesquita Luiz Carlos Andrade Santos; Luiz Henrique F. S. Góes; Comitê para a área de Ciências Humanas Maria Elvira Ribeiro Tuppy; Maria José Piva R. Correa; e Sociais Maria José Sesti Neves; Márcia Regina Gambôa; Carlos Alberto Vieira Mariangela Vassalo; Neusa Serra; Marlova Jovchelovicth Noleto Nilce Cappoccia e Raimunda de Assis Oliveira. Rosana Sperandio Pereira Conselho para Assuntos Econômicos e Fiscais 2005/2009 Mariliza Doll de Moraes Nazih Curi Meserani 4 Roberto de Almeida Gallego Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura Representação no Brasil SAS, Quadra 5, Bloco H, Lote 6, Ed. CNPq / IBICT / UNESCO, 9º andar Rua Leôncio de Carvalho, 99 70070-914 – Brasília – DF 04003-010 São Paulo - SP Tel: (55-61) 2106-3500 • Fax: (55-61) 3322-4261 Tel: (55-11) 3266-6188 • Fax: (55-11) 3287-8941 E-mail: grupoeditorial@unesco.org.br E-mail: palascomunicacao@uol.com.br © UNESCO, 2006 Diskin, Lia Paz, como se faz?: semeando cultura de paz nas escolas / Lia Diskin e Laura Gorresio Roizman — Brasília: Governo do Estado de Sergipe, UNESCO, Associação Palas Athena, 2002. 95p. BR/2006/PI/H/9 1. Educação 2. Paz I. Roizman, Laura Gorresio II. UNESCO III. Título CDD 370
  • 6. Coordenação e textos Lia Diskin e Laura Gorresio Roizman Coordenação de pesquisa Aparecida Elci Ferreira Edição Áurea Lopes Projeto gráfico Luciano Pessoa • www.lgpessoa.com Ilustrações Darci Arrais Campioti Silvio Paulo Ariente Filho Jogos cooperativos Fábio Otuzi Brotto 5 Pesquisadores Alessandro de Oliveira Campos Eliane de Cássia Souza Fabíola Marono Zerbini Revisão Lucia Benfatti Marques Agradecemos aos amigos e colaboradores que nos auxiliaram na concretização deste trabalho Ana Maria de Lisa Bragança • Arnaldo Omair Bassoli Jr. • Beatriz Miranda • Cid Marcus Vasques • Cyntia Malaguti • Edith Ferraz Abreu • Erivan Moraes de Oliveira • Fernanda Saguas Presas • George Hauach Barcat • Isabel Marques • José Romão Trigo Aguiar • Luiz Carlos Andrade Santos • Maluh Barciotte • Maria Enid Mussolini • Maria Teresa Faria Micucci • Neusa Maria Valério • Paulina Berenstein • Raimunda de Assis Oliveira • Rita Mendonça • Rosa Itálica Miglionico • Sonia Maria Nice Granolla • Suely Alonso Prestes Correa • Thereza Cavalcanti Vasques • Vera Lúcia Paes de Almeida • Vera Lúcia Quartarola
  • 7. A paz no cotidiano Sessenta anos depois da fundação das Nações Unidas e da Para que isso seja possível, precisamos enfrentar um de nossos UNESCO, o mundo ainda se encontra diante do grande desafio de maiores desafios, qual seja, o de transformar os valores da Cultura de transformar a cultura predominante de violência em Cultura de Paz. Paz em práticas concretas na vida cotidiana, oferecendo e criando Hoje, o problema central consiste em encontrar os meios de mudar condições para que cada indivíduo seja capaz de: definitivamente atitudes, valores e comportamentos, a fim de promover a Respeitar a vida e a dignidade de cada pessoa, sem nenhum paz e a justiça social, a segurança e a solução não violenta de conflitos. tipo de discriminação; E é para isso que a UNESCO vem empreendendo esforços desde a sua criação. Praticar a não-violência ativa, repelindo a violência em Mesmo atuando em uma variedade distinta de campos, a missão quaisquer de suas formas (física, sexual, psicológica, econômica e social), central da UNESCO é a construção da paz: “O propósito da Organização é especialmente em relação aos mais fracos e vulneráveis, como crianças contribuir para a paz e a segurança, promovendo cooperação entre as e adolescentes; nações por meio da educação, da ciência e da cultura, visando favorecer o respeito universal à justiça, ao estado de direito e aos direitos humanos Compartilhar o tempo e os recursos materiais, cultivando a e a liberdades fundamentais afirmados aos povos do mundo”. generosidade, a fim de terminar com a exclusão, a injustiça e a opressão política e econômica; Para atingir tal objetivo, a UNESCO trabalha cooperando com os governos em seus três níveis, com o Poder Legislativo e a sociedade civil, Defender a liberdade de expressão e a diversidade cultural, 6 construindo uma rede de parcerias, mobilizando a sociedade, privilegiando sempre a escuta e o diálogo, sem ceder ao fanatismo, nem aumentando a conscientização e educando para a Cultura de Paz. à maledicência e à rejeição ao próximo; Exemplo disso é o Programa Abrindo Espaços – desenvolvido em diversos Promover um consumo responsável e um modelo de estados e municípios do Brasil e, mais recentemente, em parceria desenvolvimento que tenha em conta a importância de todas as formas também com o Governo Federal –, uma estratégia de abertura das de vida e o equilíbrio dos recursos naturais do planeta; escolas públicas nos finais de semana, com atividades de arte, esporte, cultura, lazer e cidadania, que se caracteriza como um eficiente Contribuir para o desenvolvimento das comunidades, programa de inclusão social com forte componente de educação, propiciando a plena participação das mulheres e o respeito aos princípios promoção da cultura de paz e redução da violência. democráticos para criar novas formas de solidariedade. Isso nos permite entender que o Programa Cultura de Paz está A Cultura de Paz se insere em um marco de respeito aos direitos voltado não apenas para a prevenção das guerras, que, em sua forma humanos e constitui terreno fértil para que se possam assegurar os tradicional, está distante de nosso cotidiano. Ele se direciona também valores fundamentais da vida democrática, como a igualdade e a justiça para as guerras anônimas, travadas na violência, com as quais nos social. Essa evolução exige a participação de cada um de nós para que defrontamos diariamente. Estamos falando em prevenir e combater todo seja possível dar aos jovens e às gerações futuras, valores que os ajudem tipo de violência, exploração, crueldade, desigualdade e opressão que a forjar um mundo mais digno e harmonioso, um mundo de igualdade, ocorre em nosso cotidiano. solidariedade, liberdade e prosperidade. A PA Z E S T Á E M N O S S A S M Ã O S
  • 8. A UNESCO no Brasil tem procurado desenvolver vários programas política pública, com visíveis benefícios para a sociedade sergipana, ancorados na construção de uma Cultura de Paz, cujo foco principal é a especialmente para os jovens. A sábia decisão dos gestores públicos do educação, de forma a oferecer subsídios e experiências para a Estado, de abrir as escolas nos finais de semana à comunidade, trará formulação e aperfeiçoamento de políticas públicas. Além disso, a resultados que poderão ser capazes de influenciar positivamente os Organização tem realizado pesquisas em áreas temáticas de grande indicadores sociais de Sergipe, sobretudo aqueles relacionados à relevância como as da juventude, violência e cidadania – produzindo educação e à redução da violência, a exemplo do que já ocorreu com conhecimentos importantes sobre drogas, violências e as diferentes experiências semelhantes em outras unidades da federação. juventudes do Brasil. Acrescente-se, nessa linha, a elaboração e Com esta publicação acreditamos estar colocando à disposição publicação da série Mapas da Violência; também compõem o conjunto dos educadores e educadoras do Estado de Sergipe um reconhecido de insumos produzidos para auxiliar governos e a própria sociedade na instrumento que, ao lado de outros, certamente haverá de permitir reflexão sobre a realidade em que vivemos e na busca de caminhos que trabalhar os valores da cultura de paz na escola, de forma a contribuir tenham a educação e a paz como pilares de sociedades mais justas e para a formação de mentes e mentalidades cada vez mais solidárias e humanas. respeitadoras dos direitos e limites do outro. Com esta iniciativa, A publicação deste manual, destinado às escolas, aos professores reiteramos nossa convicção de que a construção de uma sociedade e lideranças da sociedade civil, tem o objetivo precípuo de espalhar as menos violenta, mais igual e justa só será possível se for assumida como sementes da paz, bem como ampliar e fortalecer a possibilidade de tarefa de todos, sem nunca perder de vista o respeito aos direitos humanos 7 trabalharmos em parceria a construção da cultura de paz ancorada na e à diversidade, concretamente traduzidos na vida de cada cidadão. educação. Nele são apresentados exercícios, jogos, reflexões que fazem deste pequeno guia um valioso instrumento para auxiliar professores, pais, alunos, comunidades a trabalhar os valores essenciais da Cultura de Paz. Este manual foi originalmente publicado em 2002, em parceria Marlova Jovchelovitch Noleto com o Governo do Estado do Rio de Janeiro, no âmbito do Programa Coordenadora Geral da Área Programática Escolas de Paz e já auxiliou um grande número de educadores na da UNESCO no Brasil promoção do diálogo e na conscientização e mobilização para o engajamento e prática dos valores da Cultura de Paz. Neste momento, a UNESCO considera muito oportuna a sua reedição no contexto do Projeto Abrindo Espaços no Estado de Sergipe que, apesar de ser uma experiência com apenas um ano de implantação, revela aspectos promissores para vir a institucionalizar-se como sólida
  • 9. Por uma cultura de paz Como se faz para alcançar a paz? Antes da modernidade, ou no apoio e incentivo às ações educativas do cotidiano, ricas e esta era uma questão mais individual que coletiva. Com a criativas, que contribuam para a reflexão e o desenvolvimento de modernidade e todos os avanços que se seguiram, como a expansão práticas sociais voltadas para a construção e o fortalecimento da do conhecimento e das tecnologias, o impulso da industrialização, paz entre os homens e mulheres na sociedade contemporânea. do capitalismo e da globalização, enfim, delineou-se um conjunto A parceria com a UNESCO, nesta reedição sem custos da de mudanças que levou a sociedade ocidental a caminhos complexos cartilha “Paz como se Faz?”, cria a oportunidade de reforçar os e a ter uma preocupação não somente no plano individual, mas programas e projetos do Estado voltados para o apoio à juventude prioritariamente no plano coletivo. O grupo, mais que o indivíduo, e à construção da paz nas famílias e nas escolas de Aracaju, passou a ser olhado com maior atenção. oferecendo um material de extrema riqueza e criatividade como Por outro lado, essas mudanças e transformações afetaram reforço às reflexões e atividades desenvolvidas com e entre os as estruturas econômicas, políticas e, principalmente, as mais diversos grupos sociais que participam dos programas e socioculturais. A paz transformou-se em uma preocupação das projetos estaduais. pessoas, porque cada um deve tomar para si essa responsabilidade, No rastro das preocupações sociais frente à crescente 9 e os estados e seus governantes passaram a encará-la de forma a violência, o Estado assume a responsabilidade de não somente configurar se uma necessidade coletiva a ser construída em implantar políticas de repressão, mas, fundamentalmente, parceria, numa busca incessante com a participação de todos. desenvolver programas de prevenção em busca de uma sociedade Então teríamos a seguinte questão: como se faz a paz? mais harmônica, justa, democrática e pacífica. Considerando a sua construção como um objetivo político dos Assim, procuramos junto à família e à escola reconstruir os governos democráticos, ela se faz por meio de políticas públicas laços necessários para o fortalecimento de uma rede de que busquem fortalecer a família, possibilitar o desenvolvimento solidariedade, vencendo o desafio de reduzir a violência e ampliar autônomo dos indivíduos e das comunidades, a igualdade, a as práticas cotidianas de generosidade, compreensão, respeito à inclusão socioeconômica e o acesso aos direitos básicos de vida e à diversidade cultural, de gênero, raça, sexo; e ainda cidadania, dentre eles o direito à educação, à saúde e ao lazer. construção da autonomia e liberdade; democracia e participação; O desenvolvimento dessa visão e ações voltadas para a igualdade e justiça. Dessa forma é possível entender a paz como promoção da paz podem se constituir através do interesse e um esforço e um desafio que precisa converter-se em processo participação de cada indivíduo, de políticas, programas e projetos, permanente de construção coletiva para todos nós.
  • 10. A Educação para a Paz é um tesouro O objetivo desta cartilha consiste em fornecer alguns conceitos e Embora a educação ambiental já faça parte do cotidiano do práticas para se fazer Educação para a Paz. educador, apenas agora estamos despertando para a necessidade vital de incluir a Educação para a Paz, e apoiar a UNESCO no movimento Ao contemplarmos o passado e o presente da humanidade, gerador de mudanças de uma cultura que prega saberes, valores e ações percebemos muitas marcas de violência. Mas temos boas notícias: voltados para a violência, para uma cultura comprometida com a paz e avançamos muito na implantação da democracia, na prática da a não-violência. solidariedade e do voluntariado, nos direitos humanos, no cuidado com o meio ambiente, na valorização da diversidade, dentre tantas outras ações A Educação para a Paz é um “processo pelo qual se promovem a favor da paz. Ao investir esforços na Educação para a Paz, acreditamos conhecimentos, habilidades, atitudes e valores necessários para induzir que podemos criar um futuro cada vez mais harmonioso. mudanças de comportamento que possibilitam às crianças, aos jovens e aos adultos a prevenir a violência (tanto em sua manifestação direta, Educar é empreender uma aventura criativa. Ao navegar no mar como em sua forma estrutural); resolver conflitos de forma pacífica e precisamos ter uma direção definida e precisa (“navegar é preciso”). Mas, criar condições que conduzam à paz (na sua dimensão intrapessoal; ao navegar nas correntes e tempestades da vida, dificilmente sabemos, interpessoal; ambiental; intergrupal; nacional e/ou internacional)”. com precisão, o caminho que devemos tomar (“viver não é preciso”). E para educar, assim como para viver, é necessário aventurar-se. Referenciais interessantes emergem desta definição. A Educação para a Paz é um processo que dura toda nossa vida, permeia todas as idades, 11 seu campo de atuação é por essência complexo e multifacetado. Além de Educar para a Paz é uma aventura que vai além da simples acontecer nas escolas, tem que estar presente em nosso cotidiano: nos transferência de conhecimentos. Significa empreender uma linda jornada meios de comunicação, nas relações pessoais, na organização das pelo mundo exterior e interior. Uma viagem repleta de desafios e muitas instituições, no meio da família. belas paisagens. A educação é um processo cultural no qual estamos totalmente Por onde iniciar esta jornada? Vamos olhar à nossa volta. Vivemos imersos. Em contato com os aprendizes, quer estejamos ou não dentro do em uma sociedade tecnocrática, que desencadeou profundos problemas espaço de uma escola, a educação permeia tudo que nos cerca, os sociais e ecológicos. Observando o papel da educação e da mídia, gestos, olhares e palavras. As posturas e movimentos. Há um discurso percebemos que cultivam valores tais como a competitividade, o sucesso silencioso em nossa presença, que movimenta ideais, transmite valores e a qualquer preço, a lógica fria, o consumo. percepções. A cultura molda nossas idéias e atitudes. Para construir uma Educar para a Paz requer o “querer bem” dos aprendizes. Não há Cultura de Paz necessitamos, portanto, de uma nova coreografia: uma educação sem transformação. Não há mudança sem encontro, mudança em nossos padrões mentais e ações. Sabemos que as visões acolhimento e espaço de partilha. Envolve, enfim, uma mudança instrumentais e mecanicistas da educação, predominantes até pouco profunda em nossos sistemas de pensamento e de ensino, pois não se tempo, não têm sido capazes de reverter esses valores e responder aos preocupa apenas com a transmissão de saberes, mas com a formação de problemas mais essenciais da humanidade. uma nova maneira de ser.
  • 11. Manifesto 2000 Respeitar a vida Educar para a Paz envolve a geração de oportunidades para comunhão de significados e afetos. Assim como o agricultor deve arar, afofar o terreno, deixá-lo rico em nutrientes e irrigá-lo, devemos criar um ambiente propício e acolhedor para que as sementes da paz possam Rejeitar a violência germinar. Isto envolve criatividade, abertura para promover uma qualidade nova nos espaços de ensino/aprendizagem a fim de transformá-los em locais de humanização e sensibilidade. Ser generoso E como descobrir o prazer de aprender nos espaços educativos? Sem prescindir da lógica e da razão, devemos criar uma atmosfera de liberdade e alegria. O humor, por exemplo, é um dos fatores importantes para abrir as portas do conhecimento e da curiosidade. Ouvir para compreender Tal descoberta é um desafio, pois historicamente a educação, privilegiando o pensamento e a inteligência, desprezou as experiências de afeto e desafeto, alegria e tristeza, aceitação e desprezo que ficaram Preservar o planeta confinadas na memória corporal. Assim provocou-se uma grande ruptura, tratando-se os educandos como simples recipientes de conhecimento. O primeiro passo está em permitir e incentivar a expansão do Redescobrir a solidariedade movimento corporal dos aprendizes, geralmente aprisionados na rigidez dos bancos escolares, nas cadeiras dos computadores, nos assentos dos ônibus, dos carros. Se a educação for uma atividade prazerosa, propicia confiança e curiosidade, aceita novos desafios, constrói a paz. O Manifesto 2000 por uma Cultura de Paz e Não-Violência foi esboçado por um grupo de Para gerar atitudes inovadoras devemos ter a coragem de romper laureados do prêmio Nobel da Paz. Milhões padrões e criar novas formas de Ser, Conviver, Conhecer e Fazer. Ensinar a criatividade e fazê-lo criativamente são caminhos fundamentais da de pessoas em todo o mundo assinaram esse Educação para a Paz. manifesto e se comprometeram a cumprir os Uma pessoa saudável e autoconfiante permite a expressão e seis pontos descritos acima, agindo no incentiva a investigação do novo, do possível e desejável, mantendo uma espírito da Cultura de Paz dentro de suas atitude aberta para o encontro com a diversidade. Aprender a transitar famílias, em seu trabalho, em suas cidades. pelo “universo das diferenças” e levar os aprendizes conosco nessa viagem exige reconhecer a existência dos preconceitos e abrir mão deles, Tornaram-se, assim, mensageiros da pois persistem arraigados, provocando injustiças sociais, econômicas e tolerância, da solidariedade e do diálogo. guerras, apesar da diversidade ser a raiz da vida e da cultura. A Assembléia Geral das Nações Unidas Aliás, quando lemos os jornais ou ouvimos o noticiário, temos a declarou o período de 2001 a 2010 a impressão que um recurso natural espontâneo, “O Amor”, está à beira da “Década Internacional da Cultura de Paz e extinção. Crianças de rua, presídios abarrotados, filas intermináveis nos hospitais. Dentro deste mundo carente, é uma pena que a educação Não-Violência para as Crianças do Mundo”. muitas vezes se esqueça que temos um desejo inato de contato e de nos
  • 12. tornar significativos para os outros. Esta falta de afeto é ainda mais Para concluir, não podemos nos esquecer que as palavras têm um dolorosa nos setores vulneráveis da nossa sociedade: entre as crianças, os poder muito grande, talvez seja por isso que todas as religiões do mundo jovens e os idosos. recitam preces, mantras, cântigos sagrados. Os poetas e sábios de todos os tempos nos iluminaram com versos que nos acompanham por toda a A vida parece vazia quando nossos corações estão fechados. vida, no transcorrer de gerações. Educar para a Paz pede o exercício da compaixão. Nosso meio ambiente tem sido muito agredido, da mesma maneira estão adoecidas a Na educação, na família, na sociedade, as palavras amigas nada interioridade humana e as relações entre as pessoas. A Educação para a custam a quem as profere e só enriquecem quem as recebe. Afinal, quem Paz preocupa-se em minimizar essas dores. Não dispensa o rigor do não gosta de ouvir expressões como: “você fez um bom trabalho”; “você pensamento acadêmico, mas sem dúvida, o transcende. é capaz”, “sentimos falta de você”. A Educação para a Paz está, em sua essência, comprometida com A Educação para a Paz é fundamental para resolver conflitos de um futuro de bem-estar para a humanidade, e com o meio ambiente. forma madura e saudável, visto que eles fazem parte do cotidiano de Não se pode mudar os erros do passado, mas podemos construir um todas as pessoas, em todos os tempos e lugares. É uma oportunidade de futuro saudável, tão cheio de criatividade quanto a própria vida. desenvolvermos conceitos positivos nas partes envolvidas, através da E, talvez, a descoberta mais valiosa a ser feita pelo ser humano neste compreensão do ponto de vista do outro. É também uma oportunidade século seja que a palavra “NÓS” é a mais importante de todas. de darmos suporte emocional aos envolvidos, demonstrando o valor da confiança nas pessoas e nos processos que levam à paz. Em nossas escolas, grande parte das vezes, os estudantes Laura Gorresio Roizman 13 É mãe da Renata e da Lílian, casada com Gilson. acumulam saberes de seus professores e realizam uma troca de Na Associação Palas Athena coordena, entre outros, o Programa informações. Quando a disciplina ou o curso termina os participantes para Formação de Educadores em Valores Universais, Ética e esquecem uns dos outros, e a vida continua como se nada tivesse Cidadania. Doutora em Saúde Pública e Mestre em Ecologia pela acontecido. Na proposta da Educação para a Paz devemos seguir um Universidade de São Paulo. outro caminho: não importa a idade de seus educandos, o que vale é criar laços de afeto e confiança mútua. Nós, seres humanos, somos totalmente dependentes do afeto. Desde o primeiro instante de vida precisamos do calor e do cuidado que nos conforta e legitima. Para nos desenvolver de maneira saudável, precisamos da estrutura e da confiança dos adultos. Entretanto, a grande Mãe é o planeta Terra que, vista do espaço, é uma pérola azul navegando na imensidão do cosmos, um útero de criação, que abriga uma vastidão de maravilhas naturais. E todos os seres humanos alimentam-se, inteiramente dependentes, dos recursos do planeta: da água, da terra e de uma variedade incontável de produtos provenientes dela. Neste século, não podemos prescindir das questões relativas ao bem-estar da sociedade e da natureza. O fato é que estamos indo longe demais, ao servir a interesses imediatos de uma cultura que cultiva a violência e a acumulação em detrimento do bem-estar social e ecológico.
  • 13.
  • 14. respeitar a vida “Observe atentamente o caminho que seu coração aponta e escolha esse caminho com todas as forças” Provérbio hassídico Muito tempo passou, desde o início do universo, até surgir a vida humana. E ainda foi preciso muito mais para que aflorassem, no mundo, as mentes inteligentes e capazes dos seres humanos. O mais impressionante é pensar que a vida, que existe há tão pouco tempo, já está ameaçada. Dizem os biólogos que uma espécie viva está desaparecendo do planeta a cada vinte minutos. Em centésimos de segundo, aquelas mesmas mentes inteligentes podem destruir 15 centenas de seres vivos: basta apertar um botão! Com freqüência, mostram as estatísticas, um simples apertar de gatilho interrompe uma vida jovem, com sonhos, paixões, talentos. A violência nas grandes cidades vitima milhares de pessoas, principalmente jovens. Por isso temos que praticar e disseminar, o máximo que pudermos, o resgate da vida, a defesa da vida, o respeito à vida. Precisamos começar refletindo sobre algumas lições que a própria vida nos passa. Em primeiro lugar, é fundamental compreender que, apesar dos surpreendentes avanços da ciência, é absolutamente impossível recriar todas as formas de vida em laboratório. Infelizmente, sabemos destruir, com diversos tipos de armas — nucleares, químicas e biológicas — toda e qualquer vida na Terra. Mas não sabemos como, nem por onde começar a restaurá-la. Podemos dizer que alguma coisa é viva quando ela gera a si mesma. Se batemos a bicicleta em um poste e alguma parte se quebra, precisamos consertá-la, trocar peças, ajustá-la, refazer a pintura etc. Mas se ralamos o braço, nosso corpo consegue se “consertar” sozinho, pois as células podem se reproduzir e cicatrizar a ferida. Apesar de tão esplêndido, esse fenômeno passa totalmente desapercebido aos nossos olhos. Estamos tão acostumados a encontrar outras pessoas caminhando à nossa frente, a ver as árvores alimentando os pássaros e insetos que esquecemos, literalmente, de admirar a vida em seu mistério. O milagre se tornou comum: mulheres grávidas em países em guerra, ovos eclodindo em terras áridas, a grama brotando das frestas do asfalto de cidades maltratadas pela violência. A vida é criativa. Observe as folhas de uma árvore. Se olhar atentamente, perceberá que não existe uma folha igual à outra! O mesmo acontece quando observamos as multidões caminhando pelas ruas: quantas pessoas diferentes umas das outras! Na família humana, em todo nosso planeta, abraçamos um número imenso de raças, culturas, religiões, visões de mundo, valores…
  • 15. E, logicamente, é impossível que todo mundo pense do uma sensação imediata de paz, acolhimento, e harmonia com a mesmo jeito: alguns gostam do verão, outros preferem o inverno… Terra. O mesmo podemos dizer quando uma mãe abraça seu bebê. O problema começa quando resulta difícil aceitar o ponto de vista O amor é o combustível fundamental da humanidade, o alicerce da do outro. Perdemos a paciência, nos tornamos intolerantes, vida no planeta. É um bem-estar espontâneo, fácil, natural, que discutimos e, sem querer, podemos utilizar a violência para lidar precisa ser redescoberto. Cabe a cada um de nós empreender essa com esse conflito. Em uma atitude imediatista e impensada, viagem interior, ao encontro da bondade humana, virtude presente corremos o risco de desrespeitar a vida, machucando nosso em todas as culturas. semelhante com palavras, gestos, atitudes… É exatamente assim Mas e no nosso organismo maior, a sociedade? Existe essa que começam as brigas e as guerras. E é justamente esta espiral mesma sintonia? O que seria de nós sem os empregados das usinas de violência que queremos eliminar. hidroelétricas que produzem energia? Sem os padeiros, médicos e Para compreender a arte da aceitação do outro, podemos lixeiros? Músicos, jornalistas e camponeses? Dependemos uns dos aprender com nossa maior mestra: a própria vida, bem maior do outros para sobreviver… Infelizmente, esse fato é freqüentemente universo, que insiste em pulsar a cada instante. Teima em se esquecido, nos diversos cantos do planeta, a cada instante. concretizar, perfeita e harmonicamente. Observe as bactérias, seres Se pudéssemos observar com uma lente de aumento a saúde muito simples, de um passado remoto, que “moram” em todas as da sociedade humana, perceberíamos muita dor e sofrimento. células humanas, trabalhando no processo de produção de energia, Muitos não encontram oportunidades de moradia, alimento, como parceiras em nosso corpo. O que seria do cérebro sem os trabalho. A desigualdade social é uma dura realidade de nossos pulmões? Os rins sobreviveriam sem seu companheiro coração? Em 16 nosso organismo, podemos afirmar sem pestanejar, existe respeito e dias, uma situação de profundo desrespeito à vida. ajuda mútua desde a pequena célula até os nossos órgãos mais Será que podemos fazer algo para construir um mundo mais sofisticados. Todas as pequenas partes trabalham juntas, operando justo, mais cooperativo? A injustiças e desigualdades são tantas o milagre. Esse é apenas um exemplo de associação, cooperação. que, muitas vezes, é mais cômodo nos sentirmos magoados e Fenômenos de natureza amorosa que sustentam o princípio da vida. revoltados… Mas, de alguma maneira, precisamos aprender que a paz está em nossas mãos: a sociedade do futuro depende de nós! Vamos continuar estudando a vida: ao caminhar em uma Cabe a cada um de nós cuidar da vida, em seu aspecto pessoal, mata ou à beira-mar, observando um pôr-do-sol, estabelecemos social e planetário. Vamos respeitar a vida cuidando… … da natureza à nossa volta, lembrando que todo ser vivo é um milagre. … do nosso corpo. E isso não significa “malhação” e … de nossa comunidade, de nosso bairro, de nossa família. cosméticos. Mas tratar e amar o corpo com a sabedoria que ele Ouvindo os jovens, garantindo que possam se expressar e que merece, sem contaminá-lo com substâncias perigosas à saúde. sejam atores de seu próprio destino. … das palavras que dizemos. Podemos ser violentos com as … da sensibilidade do nosso coração, oprimido em uma pessoas dependendo das palavras que escolhemos e da maneira sociedade onde existe guerra, destruição da natureza. Em paz, em como nos expressamos. cinco minutos de silêncio, podemos ouvir nosso coração dizer … do nosso olhar. Os olhos são os espelhos da alma: revelam qual é a melhor música para a nossa saúde, os melhores a verdade dos sentimentos. No olhar não há mentira. Com ele passatempos, as melhores leituras, como ajudar um semelhante. dizemos “como você é chato!” ou “te amo!”
  • 16. ATIVIDADE MODELO escolherem pedaços de Colcha de Retalhos tecidos para pintar símbolos, Quantas vezes sentamos ao lado de nossos avós ou mesmo cores ou imagens de nossos pais para escutar aquelas longas histórias que relacionadas às compuseram a vida e a trajetória da nossa família e, portanto, a suas lembranças. trajetória de nossa vida? Quantas vezes paramos para pensar na Esse é um importância do nosso passado, nas origens de nossa família, e momento mais, de nossa comunidade? Indo um pouco mais longe, quantas individual, que deve vezes paramos para pensar de que forma a cultura da nossa cidade levar o tempo necessário e de nosso país influencia o nosso modo de ver as coisas? para que cada um se sinta à vontade ao expressar o máximo de sua história de vida. Quando Pois é. Nós somos aquilo que vivemos. Somos um pouquinho todos terminarem, proponha a composição da primeira parte da da vida de nossos pais e avós, somos também um pouquinho da Colcha de Retalhos, que pode ser feita costurando ou colando os nossa casa, do nosso bairro, das pessoas que estão à nossa volta, trabalhos de cada um, sem ordem definida. seja na cidade ou no país onde vivemos. Isso é o que se chama identidade cultural. E esta é uma 2ª Etapa — História da comunidade atividade que ajuda a buscar essa identidade — o que significa Esta etapa exige muito diálogo entre os participantes, que 17 buscar a nossa própria história, conhecermos a nós mesmos e a devem construir a história da comunidade onde vivem. Uma boa tudo que nos rodeia. Buscar a identidade cultural é “entender para dica é pesquisar junto aos mais velhos, ou ainda utilizar os respeitar” nossos sentimentos e os daqueles com quem resultados da atividade Conhecer para Preservar, do tópico compartilhamos a vida. Preservar o Planeta. MATERIAL O grupo escolhe alguns fatos, acontecimentos e características da comunidade para representá-los também em • Tecido — lona, algodão, morim cortados em tamanho e formatos variados pedaços de tecido pintados. Pode-se reunir as pessoas em pequenos grupos para a criação coletiva do trabalho. Todas as • Tinta de tecido ou tinta guache (é bom lembrar que o guache pinturas, depois de terminadas, deverão ser costuradas ou coladas se dissolve em água!) compondo um barrado lateral na colcha. • Linha e agulha ou cola de tecido 3ª Etapa — História da cidade, do país, da Terra COMO SE FAZ A partir daqui, a idéia é dar continuidade à colcha de 1ª Etapa — História de Vida retalhos, criando novos barrados, de forma a complementá-la com Peça a todos os participantes para relembrar um pouco de a história de vida da cidade, do país, do mundo e até a do suas histórias pessoais e das histórias de suas famílias pensando universo. Não há limites nem restrições. O objetivo principal é em suas origens, em sentimentos e momentos marcantes, em estimular nos participantes a vontade de conhecer e registrar a sonhos... Enfim, em tudo aquilo que cada pessoa considera vida, em suas diferentes formas e momentos. Desse modo, poderão representativo de sua vida. Depois disso, peça para os participantes se sentir parte da grande teia da vida.
  • 17. 18
  • 18. Rejeitar a violência “O primeiro princípio da ação não-violenta é a não-cooperação com tudo que é humilhante” Mahatma Gandhi Assim que se vê livre da casca do ovo, a tartaruga marinha corre para o mar. Imediatamente pronta para a vida, ela não tem dúvidas sobre o que fazer, nem erra o caminho para o seu destino natural. Quem dera fosse assim com os humanos! Nós não só precisamos de muita ajuda e treino até conseguir ficar em pé, como às vezes levamos anos para encontrar a melhor direção a seguir. O ser humano, não há dúvida, não se cria nem se forma sozinho. Outras pessoas nos alimentam, cuidam de nós quando ficamos doentes, nos dão o afeto que vai se 19 tornar o alicerce de nossa identidade, nos ensinam a descobrir um passado com outras culturas e civilizações que nos fazem entender as relações humanas. Relações experimentadas a cada dia, na família, na escola, no trabalho, no lazer. Mas se está claro que dependemos dos outros para viver, que sempre estaremos junto com os integrantes de qualquer grupo ao qual pertencermos, não é tão simples administrar essa convivência. Não é fácil nos articular em sociedade de forma que todos possam crescer e expressar seus desejos, sem ferir o direito dos outros fazerem a mesma coisa. Ou seja, estar juntos exige cuidados, concessões mútuas, reciprocidade, confiança. Todos esses pilares do convívio social sofrem abalos (algumas vezes fatais) quando atingidos por atitudes de violência, destruição, exploração, humilhação. Nesses momentos, todos perdem, ninguém se beneficia. Mesmo que a curto prazo pareça haver um “ganhador”, ele próprio pode ser o “perdedor” no próximo confronto. E assim se delineia o infernal ciclo da violência, comprovado pelos casos de vinganças e retaliações noticiados todos os dias na TV e nos jornais. Recorrer à violência significa abrir mão de tudo o que aprendemos e conquistamos durante um processo milenar de civilização. Significa ignorar avanços como a abolição da escravatura; a derrubada de regimes de governo opressores; a Declaração Universal dos Direitos do Homem, com o reconhecimento de que todas as raças, culturas e expressões religiosas têm o mesmo valor e enriquecem a diversidade humana; o direito universal à Educação e a usufruir o patrimônio cultural de nossa espécie; a justiça que garante às mulheres o exercício pleno de suas capacidades; os direitos dos trabalhadores de reivindicar melhores condições para o exercício de
  • 19. suas profissões; a opção na Constituição Federal de garantir Gandhi costumava dizer: “Pode-se garantir que um conflito cidadania plena à infância e à juventude, regulamentada depois foi solucionado segundo os princípios da não-violência se não pelo Estatuto da Criança e do Adolescente, que abriu caminhos deixa nenhum rancor entre os inimigos e os converte em amigos”. sem precedentes para assegurar direitos individuais e sociais. Embora pareça apenas um conjunto de palavras bonitas, essa diretriz foi testada na prática, com muitos de seus oponentes, que Sabemos que essas conquistas, entre outras, ainda não são se tornaram seus admiradores e até colaboradores. suficientes para atender às nossas necessidades de segurança, oportunidades, conhecimento, lazer, exercício de cidadania, Não é fácil dominar a própria violência, até porque não é liberdade, criatividade. Porém, a maior parte dessas vitórias foi fácil reconhecer que somos potencialmente violentos — seja em possível porque pessoas se dispuseram a negociar, argumentar, pensamentos, gestos ou omissões. Sempre arranjamos boas dialogar, buscar consenso, resistir e não cooperar com injustiça e justificativas para nossas atitudes. “Você foi injusto comigo”, abuso de poder. “invadiu meu espaço”, “me traiu”. Essas são queixas que temos dos outros e os outros, de nós. Se compreendermos isso, se aceitarmos Na História, temos dois exemplos de compromissos com a que nem sempre estamos com a razão, faremos cobranças (aos liberdade e com a justiça sem apelo à força física: Mahatma outros e a nós mesmos!) mais justas e mais humanas. Gandhi e Martin Luther King. Cada um deles, em contextos sócio-políticos e geográficos distintos, enfrentou a opressão, a Como um bumerangue que volta ao ponto de partida, o uso humilhação e a mentira. Cada um escolheu, à sua maneira, da violência para compensar frustrações e desapontamentos métodos não-violentos de libertar seus povos, restabelecer o resulta em sentimentos de impotência e em mais frustração. Ao 20 direito e encontrar saídas para o convívio pacífico. Esses homens agredir alguém, damos a essa pessoa o direito de nos agredir provocaram transformações irreversíveis porque suas propostas também, e acabamos por “armar” o outro com os mesmos não eram destruir o opressor, e sim libertar as pessoas da opressão. instrumentos dos quais queremos nos desvencilhar. Para isso, é preciso entender que existe diferença entre a Esse círculo vicioso só se quebra se resistirmos ao ímpeto injustiça e o injusto, a maldade e aquele que a pratica. emocional, ao ódio e à raiva — barreiras que ofuscam sentimentos preciosos como a compaixão, a solidariedade e a capacidade de perdão. “Perdi a cabeça”, “fiquei fora de mim”. Não são essas as expressões que usamos toda vez que agredimos alguém? E o que Se dirigimos nossa indignação ao alvo elas querem dizer? Que reconhecemos ter agido por impulso, de modo irrefletido e ignorante. Mais ainda, que não aceitamos esse errado, isto é, se combatemos o comportamento como digno de nós mesmos — e, igualmente, não agressor, em vez de combater a o aceitamos no outro. agressão, perdemos a oportunidade de estabelecer uma nova relação com o outro. Além de, em grande parte dos casos, alimentarmos o ciclo vicioso da violência, quando a vítima reage, se tornando um novo agressor.
  • 20. Nós humanos, assim como os primatas, somos sensíveis ao que são patrimônio de todos — e não apenas de alguns. Há princípio de empatia, uma espécie de tendência para se colocar no violência nos discursos que domesticam e criam resignação, ao lugar da outra pessoa. Esse sentimento nos faz solidários ao repetir uma e outra vez que "o mundo é assim mesmo, sempre sofrimento das outras pessoas, sobretudo se formos nós os agentes houve guerra e injustiça", desencorajando qualquer proposta nova dessa aflição. Nessas circunstâncias, experimentamos um misto de de organização social e de uma cidadania ativa e responsável. arrependimento, vergonha e compaixão. Pensamos em fazer A violência não é uma expressão de justiça, de felicidade, qualquer coisa para voltar atrás e evitar o acontecido. Tal nem de amizade. Estas promovem o acolhimento e a troca, buscam sensação, apesar de dolorosa, mostra a aspiração natural de não o convívio, o estar junto para partilhar e aprender, para criar, desejar prejudicar ninguém. desafiar e construir futuros nunca imaginados, mas sempre A violência, entretanto, nem sempre tem um alvo preciso ou possíveis. Esse desejo foi, até agora, o sustentáculo da nossa um agressor identificável. Há violência nos preconceitos que espécie — o que confirma e renova a nossa esperança. impedem uma pessoa de exercer seus direitos e desenvolver suas potencialidades pelo simples fato de ter uma raça, um gênero, uma cultura, uma condição social, uma religião, uma capacidade física especial. Há violência nos sistemas políticos e econômicos que reforçam disparidades de oportunidades, erodindo o tecido social e gerando exclusão, desemprego, miséria e indignidade. Há violência nos desvios de recursos públicos que deveriam 21 promover plena sociabilidade, fundada na segurança que nasce da liberdade e da igualdade de acesso aos bens naturais e culturais
  • 21. Hey Joe ATIVIDADE MODELO de Bill Roberts, versão Ivo Meirelles e Marcelo Yuka Música: Hey Joe “Hey Joe onde é que você vai com essa arma aí na mão Hey Joe esse não é o atalho pra sair dessa condição Esta música traz reflexões bastante atuais sobre violência, Dorme com tiro acorda ligado tiro que tiro exclusão social, racismo. Mas também faz pensar sobre cidadania. Trik-trak boom pra todo lado meu irmão A atividade consiste em reunir o grupo para ouvir a canção e depois fazer um debate. É necessário que tenham cópias da letra Só desse jeito consegui impor minha moral ou que se coloque um cartaz com a letra à vista de todos. Eu sei que sou caçado e visto sempre como um animal (…) Mas eu vou me mandando DISCUSSÃO GER AL Hey Joe assim você não curte o brilho intenso da manhã Depois de escutar a música, convida-se os participantes a Hey Joe o que teu filho vai pensar quando a fumaça baixar responder as seguintes perguntas: Fumaça de fumo fogo de revólver E é assim que eu faço eu faço eu faço • Que sentimento esta música lhe traz? 22 Eu faço a minha história meu irmão Aqui estou por causa dele e vou te dizer • O que mais chamou sua atenção? Com o quê você mais se identificou? Talvez eu não tenha vida mas é assim que vai ser Armamento pesado corpo fechado • Quais são os aspectos positivos e os negativos da realidade Menos de 5% dos caras do local retratada? São dedicados a alguma atividade marginal E impressionam quando aparecem nos jornais • Você consegue perceber, no texto, duas formas de pensar diferentes em relação à violência e à vida? Com qual você se Tapando a cara com trapos identifica mais? Com uma uzi na mão (…) Sinto muito cumpadi Mas é burrice pensar Que esses caras É que são os donos da biografia Já que a grande maioria Daria um livro por dia Sobre arte, honestidade e sacrifício”.
  • 22. DISCUSSÃO POR TRECHOS E é assim que eu faço eu faço eu faço Alguém lê os trechos abaixos e os participantes respondem Eu faço a minha história meu irmão” às perguntas seguintes: • O que significa “fazer a própria história”? Trecho 1 • Se você identificou duas posições diferentes na música, “Hey Joe onde é que você vai com qual delas você pretende escrever a sua história de vida? com essa arma aí na mão Hey Joe esse não é o atalho • Retrate, por meio da arte (desenho, pintura etc.), a sua pra sair dessa condição” linha de vida, reservando um bom espaço para a sua perspectiva de futuro… Discuta com o grupo se existem pontos em comum • Que “condição” é essa? entre as linhas de vida e as perspectivas futuras de todo o grupo. Será que algo pode ser feito em conjunto? • Você imagina outros “atalhos” para sair dessa “condição”? • O grupo vê possibilidades de se ajudar mutuamente para Trecho 2 alcançar algum objetivo? “Menos de 5% dos caras do local • Construindo a sua história, de que forma você pode 23 São dedicados a alguma atividade marginal contribuir para uma Cultura de Paz? E impressionam quando aparecem nos jornais Tapando a cara com trapos Com uma uzi na mão” • O que este trecho retrata? • Como você vê esta realidade no seu bairro, na sua escola, com seus amigos e parentes? Trecho 3 “Mas é burrice pensar Que esses caras É que são os donos da biografia Já que a grande maioria Daria um livro por dia Sobre arte, honestidade e sacrifício
  • 23. 24
  • 24. Ser generoso “A generosidade - o amor - é o fundamento de toda socialização porque abre um espaço para o outro ser aceito como ele é. E, a partir daí, podermos desfrutar sua companhia na criação do mundo comum, que é o social” Humberto Maturana Todos os dias nos beneficiamos de milhares de atos generosos e nem percebemos! Alimentos com maior valor nutritivo, roupas mais adequadas ao nosso clima, novos medicamentos para aliviar a dor ou erradicar uma doença, casas feitas com materiais mais baratos e ecologicamente sustentáveis... Isso acontece porque, todos os dias, centenas de fundações sem fins lucrativos oferecem seus recursos econômicos para incentivar a pesquisa e fazer descobertas cujo propósito é melhorar a vida das pessoas. A 25 generosidade está presente mesmo nas coisas menos imediatas para a sobrevivência humana. Nos museus de arte, por exemplo, grande parte das obras, que estão lá para enriquecer nosso senso estético e cultural, vem de doações particulares. Famílias que têm o privilégio de possuir objetos valiosos abrem mão deles por entender que são demasiado preciosos para decorar apenas uma residência, onde seriam apreciados por poucas pessoas. Apesar desse “anonimato” característico de muitas ações generosas (quem ajuda não conhece o ajudado; quem recebe ajuda não sabe quem ajudou), felizmente, a generosidade, em si, está cada vez mais “visível”. Basta ligar a TV para conferir: a cada pouco pipoca uma campanha de solidariedade e os noticiários mostram variados programas de trabalho voluntário. Adultos, jovens e crianças de todas as classes sociais, raças e crenças estão dedicando seu tempo e seu talento a ações comunitárias, populações menos favorecidas, doentes internados em hospitais, instituições que atendem crianças necessitadas de cuidados especiais, programas de reforço escolar e alfabetização eletrônica... Enfim, estão participando de propostas que abrem caminho para uma sociedade mais democrática, cujos recursos e conquistas possam ser usufruídos por todos. A generosidade não é um direito, tampouco um dever. Não é regida por leis. É fruto da nobreza de caráter, uma virtude que nos faz sentir parte de algo maior que nós mesmos, que nossa família ou que nosso país. Ela nos humaniza e nos mostra que, no essencial, somos todos iguais: evitamos sofrer; buscamos felicidade, paz, justiça, realização; desejamos ser queridos e respeitados. Ninguém, em são juízo, fica indiferente ante as inundações na Ásia ou a miséria na África. Nos sentimos irmanados com esses povos, embora tão distantes, e sentimos vontade de fazer algo. Não importa a forma da contribuição — alimentos, conhecimentos, dinheiro, tempo, conforto espiritual. Só o fato de participar da reparação já renova nossas forças e fortalece àqueles que auxiliamos. Entretanto, a generosidade não se expressa apenas nos momentos de aflição. Na semana passada, uma colega de trabalho fez aniversário e nossa turma deu a ela uma caixa de bombons. Contente com a surpresa, ela abriu a caixa, pegou um e ofereceu o restante para nós, dizendo que eles eram mais gostosos quando compartilhados. Foi um gesto e tanto! Todos ficamos duplamente
  • 25. Ninguém é tão pobre que não tenha algo para dar; ninguém é tão rico que possa dispensar um sorriso. felizes: pela felicidade que proporcionamos a ela lembrando de seu espalhados pelo mundo. Mas também nós não precisamos ser aniversário e pela atitude generosa com que nos retribuiu. igual a eles. Apenas tomar suas obras como base para pensar: “E eu, o que poderia fazer? O que tenho a oferecer?” Você Uma das características mais evidentes da generosidade é pode até não ter reparado. Mas seguramente tem uma palavra essa naturalidade que dispensa qualquer tipo de recompensa, que de estímulo, um gesto amigo, um livro que pode ser útil a se satisfaz em si mesma. Outra é a liberdade: ninguém é obrigado outra pessoa. E seguramente tem alguém por perto precisando a ser desprendido nem a estar disponível para os outros. Mas todos dessa força. Ninguém é tão pobre que não tenha algo para gostaríamos de ter essas atitudes porque inspiram confiança e dar; ninguém é tão rico que possa dispensar um sorriso criam uma atmosfera amigável à nossa volta. Isto nos leva a amistoso. pensar que a generosidade também é contagiante. Envolve a quem dá e a quem recebe, eleva a auto-estima de ambos. Do lado oposto, a avareza e o egoísmo causam ATIVIDADE MODELO distanciamento e desconforto. Os egoístas só pensam em seus próprios interesses; imaginam que o mundo foi criado para Tsuru (garça, em japonês) satisfazê-los e as pessoas, para servi-los. São incapazes de perceber as aspirações dos outros — “as suas são mais urgentes e O Tsuru é um dos mais conhecidos símbolos da paz. importantes”. É como se estivessem ofuscados pelo brilho de si Segundo uma antiga tradição oriental, fazer mil garças em próprios, impedidos de enxergar os outros e, conseqüentemente, de origami é um ato de esperança. Dai surgiu o hábito de fazer 26 criar vínculos afetivos sinceros e duradouros. Quem tem atitudes uma corrente de Tsurus para realizar desejos: a recuperação gananciosas machuca os que estão a seu lado e termina sozinho. de um doente, a felicidade no casamento, a entrada para a universidade, a conquista de um emprego. A primeira Às vezes, somos egoístas e só vamos nos dar conta disso referência sobre essa tradição foi encontrada no livro depois de ver o estrago causado, a pessoa querida magoada, a Senbazuru Orikata (Dobradura de mil garças), de Ro Ko An, situação difícil de remediar. Se não ficarmos atentos, acabaremos publicado em 1797. incorporando esse comportamento que prejudica quem está à nossa volta e a nós mesmos! Para mudar esse quadro, é preciso ser Mas foi uma menina chamada Sadako Sassaki que forte. É necessário encarar a questão com honestidade e resistir à imortalizou a corrente dos mil Tsurus como símbolo eterno de tentação de encontrar desculpas para manter esse hábito. paz e harmonia. Sadako nasceu em Hiroshima logo após a cidade ter sido atingida por uma bomba nuclear, na Segunda Ninguém está condenado a repetir os erros. Podemos nos Guerra Mundial. Por causa das radiações, essa garotinha reeducar continuamente, se estivermos abertos aos outros e à adquiriu uma doença fatal. Aos 10 realidade. E não faltam referências de generosidade e anos, ao saber da lenda do Tsuru, altruísmo para nos inspirar e encorajar. Irmã ela decidiu fazer mil pássaros de Dulce e Betinho, por exemplo, são dobradura para ter saúde suficiente excelentes modelos. Ler seus livros e para viver. Mas, quando chegou no acompanhar as obras que eles pássaro de número 964, Sadako morreu. fundaram e que beneficiam Foram seus amigos e parentes que milhares de pessoas, inclusive a terminaram a corrente. nós mesmos, é uma boa forma de começar a compreender o potencial da generosidade. Não A dobradura Tsuru é bastante fácil de há tantas irmãs Dulces nem tantos Betinhos fazer, se orientada por uma pessoa que
  • 26. conheça a técnica de origami ou que já tenha feito um Tsuru. Portanto, é recomendável que pelo menos uma pessoa do grupo 1 conheça o Tsuru para orientar quem nunca fez. Os pássaros prontos podem ser amarrados com um barbante, formando uma corrente de Tsurus para ser enviada a lugares que necessitam de paz, como presídios, hospitais. Ou para decorar a escola, numa Uma linha pontilhada e Uma linha tracejada tracejada indica dobra indica dobra VALE. mensagem de generosidade para a comunidade. MONTANHA. Dobre o papel ao meio. MATERIAL • Folhas de papel quadradas e barbante 2 Dobre novamente ao meio e volte. 3 4 5 6 A. Dobre para o centro seguindo a linha. Coloque o dedo por dentro, no local indicado B. Dobre para trás. pela seta, abra e junte as pontas A e B. 27 Dobre os dois Levante a ponta lados para o 7 observando as linhas: 8 9 centro seguindo A. Dobre essa ponta montanha e vale (veja a linha. seguindo a linha e volte. a figura seguinte). B. Abra as duas abas que Verifique foram dobradas na etapa 5. se o seu trabalho Repita o ficou procedimento assim. da etapa 7, para o outro 13 lado. 10 11 12 Abra ligeiramente Dobre as cada lado da Dobre as figura, duas abas A. Dobre a ponta para baixo, seguindo a abas levantando as superiores linha, e volte à posição inicial. inferiores pontas para para o B. Faça o bico embutindo a ponta para para trás. cima, conforme centro. dentro do vinco. as setas. Observe o desenho no detalhe.
  • 27.
  • 28. OUVIR PARA COMPREENDER “Em um diálogo não há a tentativa de fazer prevalecer um ponto de vista particular, mas a de ampliar a compreensão de todos os envolvidos” David Bohm Da mesma forma que a riqueza da natureza está em sua biodiversidade, a riqueza da humanidade está em 29 suas múltiplas culturas. As diferentes histórias dos povos articulam saberes, experiências, modos de ver e de sentir o mundo pela tradição oral ou escrita, pela arte, pela espiritualidade, pela ciência. Seria impossível compilar a trajetória de todas as culturas porque muitas já desapareceram completamente. Outras deixaram fragmentos de suas atividades e aspirações por meio dos quais nos comunicam um repertório de informações. Povos pré-históricos, por exemplo, “falam” conosco em suas pinturas feitas nas cavernas: contam sobre suas estratégias de caça, seus alimentos, suas crenças e sua organização social. Comunicar, transmitir vivências e habilidades é uma característica da condição humana — o que permite a cada geração apresentar novos desafios. Somos curiosos e criativos — quando não estamos atrás de respostas para nossas dúvidas, levantamos novas dúvidas para responder. Entretanto, compreender o passado e mesmo o que está hoje à nossa volta requer de nossa parte uma abertura, uma disposição para estabelecer pontes de ligação e nos aproximarmos dos outros, sejam eles pessoas, culturas, animais ou a própria natureza. Tudo e todas as coisas, pela simples presença, estão “expressando”, “comunicando” algo que podemos compreender se estamos receptivos. Se estamos disponíveis ao diálogo, que não precisa ser constituído por palavras. Em certas ocasiões, olhares, gestos, toques e até silêncios são mais eloqüentes que discursos! Às vezes acreditamos já saber o que os outros têm para nos dizer. E com isso perdemos a magnífica oportunidade de aprender e experimentar coisas novas. Os preconceitos, a intolerância, os fanatismos, as supostas “certezas” são os maiores entraves para estabelecer linhas de comunicação e relacionamentos confiáveis, onde a reciprocidade e o respeito mútuo semeiam o terreno do entendimento. Culturas diferentes,
  • 29. predatória da natureza. Quando a percepção sintoniza apenas interesses particulares, desarticulados das necessidades coletivas, ou seja, do bem comum, existe confronto e desentendimento. …na história da nossa espécie, o Frutos da violação dos direitos fundamentais, que promovem que nos une é muito maior do que igualdade de oportunidades para todos. A capacidade de ampliar a percepção da realidade, de o que nos separa. conhecer, compreender e de criar vínculos significativos com os outros é própria da condição humana. Do mesmo modo que é próprio da aprendizagem descobrir diferenças, identificar semelhanças, encontrar complementaridades. Assim, para entender em que mundo estamos e para onde desejamos seguir é preciso reconhecer que existe uma infinidade de protagonistas no cenário crenças diferentes, modos de pensar diferentes, valores diferentes da vida. E que todos têm o legítimo direito de expressar suas não são necessariamente fonte de divisão, muito menos de identidades e de buscar espaços comuns de associação. confronto. Afirmar a própria identidade pela negação dos outros Visitar feiras de imigrantes, participar de diferentes empobrece e compromete o desenvolvimento pessoal. Com essa festividades populares, assistir a diversas formas de culto, ir a atitude, em vez de valorizar a originalidade, as diferenças que exposições de artesanato regional, experimentar comidas de todos temos a oferecer, gastamos nossa energia em confrontos 30 com tudo aquilo que é diferente. outras comunidades ou países, conhecer a história de povos distantes pesquisando a música e expressões de sua arte — essas Cada um de nós dispõe de uma “janela” para ver e sentir o são maneiras de ampliar a nossa compreensão da pluralidade do mundo. E tudo aquilo que percebemos vem “carregado” da nossa mundo. Mundo onde os conflitos e as desigualdades resultam da história particular e única. Isso é o que nos torna singulares. relação de dominação que impõe determinada ordem sócio- Porém, às vezes nossa “janela” fica estreita demais, não política, étnica, religiosa ou econômica. Essa imposição propõe um percebemos realmente o que acontece. Estamos tão ocupados com “enquadramento” que desrespeita as peculiaridades dos povos nós mesmos que somos incapazes de entender as pessoas. Há pautados por um repertório de valores diferente do “estabelecido”, alguns dias estava aguardando para atravessar a rua quando vi um e que buscam manifestar sua identidade, sua autonomia e seu garoto correr entre os carros, atrás de uma bola. Ele conseguiu sentido de vida. pegá-la e foi direto para um carro onde uma menina sentada no Em tempos de globalização das comunicações, o isolamento colo da mãe esperava de braços abertos. A mulher, sem dizer uma seria uma opção suicida. Mas a interdependência planetária exige palavra, estendeu a mão com umas moedas para o garoto. Ao que um compromisso por parte de todas as nações. O compromisso de ele, sem jeito, respondeu: “Não, senhora, sua filha deixou cair a preservar a diversidade cultural — o mais precioso patrimônio bola e eu apenas a devolvi!” construído pela humanidade — e de impedir qualquer forma de Ampliar a percepção, abrir espaços novos de conhecimento exclusão, promovendo o acesso aos bens naturais, sociais, e compromisso com a realidade são instrumentos essenciais para culturais e científicos. O particular e o universal não são democratizar nossas relações, tanto no plano mundial quanto no excludentes, podem e devem alimentar-se mutuamente, doméstico, com outros povos e também com outras espécies. A humanizando as relações entre próximos e distantes, arrogância originada da percepção estreita das coisas deu origem democratizando o conhecimento e criando oportunidades novas de a atrocidades e barbáries como a escravatura e a exploração convívio amparado na justiça e na ética solidária.
  • 30. O espírito da compreensão pressupõe partilhar saberes, horários para iniciar e para terminar a conversa. cooperar na construção de projetos de cidadania planetária, criar • Pode-se deixar a conversa correr livremente ou escolher, parcerias com culturas regionais, promover a difusão de histórias em conjunto, um tema que reflita uma ansiedade do grupo ou um ancestrais. O espírito da compreensão implica aprender em problema enfrentado pela comunidade. O assunto que vai ser conjunto, abraçar junto, pensar e sentir junto, ficar incluído, fazer tratado deve ficar perfeitamente claro para todos, de modo que a parte. Perceber nosso horizonte comum é reafirmar as sábias conversa não desvie para temas que estão fora da área de palavras de Terêncio, escritor romano de comédias: “Sou humano, interesse de todos. nada do que é humano me é alheio”. • Num diálogo, todos falam. E todos escutam. É preciso saber silenciar, lembrando que todos necessitam aprender e ser ATIVIDADE MODELO fonte de aprendizado, uns com os outros. • Dialogar não significa concordar, submeter-se à outra Grupos de diálogo pessoa. Mas respeitar o pensamento do outro que, apesar de diferente, vai ajudar na compreensão do fato. Praticar o diálogo em grupo é uma forma proveitosa de • Procure evitar interrupções e conversas paralelas, exercitar a compreensão do outro. E também pode ser um recurso reforçando essa atitude de respeito ao outro. eficaz para desenvolver ações conjuntas na resolução de problemas da comunidade. Pode-se formar um único grande grupo • Ajude as pessoas a não perder o objetivo inicial, não se de diálogo ou círculos menores, divididos por faixas etárias ou por desviar da discussão proposta. 31 áreas de interesse. • Cada diálogo supõe uma conclusão que beneficie o maior Até que todos possam confiar uns nos outros, o grupo deve número possível de pessoas. Mas também não é respeitoso excluir escolher uma pessoa para atuar como moderadora, conduzindo a opiniões diferentes da maioria. Dialogar é dar a devida importância atividade segundo alguns princípios de democratização da ao que aflige a todos. expressão. O moderador precisa ser uma pessoa madura, que não • No final da atividade, dê oportunidade para que as assuma atitudes autoritárias. Mas ter habilidade para acolher as pessoas agradeçam, reconhecendo o aprendizado que um diversas opiniões, mesmo que conflitantes, sem tender a possibilitou ao outro. neutralizar essas diferenças. Fonte: boletim do programa Ribeirão Preto pela Paz, ano 1, julho de 2000. Veja como fazer isso, segundo a proposta do programa Ribeirão Preto pela Paz, criado no Estado de São Paulo, dentro do projeto Coopera Ribeirão — Construindo Comunidades Colaborativas: • Em grupos formados por pessoas que acabam de se conhecer, é recomendável iniciar o diálogo com uma breve apresentação de cada participante. • Por uma questão de organização, é preciso estabelecer
  • 31. 32
  • 32. preservar o planeta “O homem não teceu a teia da vida. Ele é apenas um de seus fios. O que quer que faça à teia, ele faz a si mesmo” Chefe Seattle Uma das mais fascinantes imagens que nossos olhos podem admirar graças à evolução da tecnologia é, sem dúvida, a vista da Terra no espaço! Nosso planeta reluz como uma pérola azul mergulhada em um mar infinito, cujo mistério desafia a mente humana. Sabemos apenas que o universo é absurdamente imenso e, por mais que telescópios poderosos insistam em procurar sinais de vida pelas galáxias, pelo menos até agora, não 33 temos notícias de que exista vida inteligente em outro lugar. Só aqui na Terra! Olhando o planeta bem de perto, somos brindados com outra beleza: a fina camada de solo que recobre sua superfície. Essa terra foi palco de muitas histórias, desde que surgiu o primeiro homem das cavernas. Sobre ela floresceram as mais variadas culturas, seus sonhos, seus ódios, seus amores. Fósseis delicadamente escondidos nas suas entranhas comprovam que ela foi o útero e o berço de muitas e diferentes espécies já desaparecidas. Foi neste planeta azul que a espécie humana surgiu e evoluiu, dotada de um cérebro muito sofisticado! Aprendemos matemática e filosofia; descobrimos, criamos e inventamos coisas incríveis e belas como o raio laser e os painéis grafitados. Porém, ainda tiramos “nota baixa” em uma das mais importantes lições: preservar nosso planeta, nossa casa. Esquecemos que dependemos da Terra para nossa sobrevivência, assim como um bebê precisa da mãe para se desenvolver com saúde. Parecemos não notar que neste planeta estão a água que bebemos, o solo em que plantamos, o ar que respiramos! Aqui convivemos com as algas que produzem oxigênio; com as bactérias que reaproveitam as folhas mortas da floresta; com os pássaros que carregam sementes para que árvores possam brotar em lugares distantes. E todos colaboram, sem exigências, para a continuidade da vida. Ao contrário de nós, humanos. Apesar de termos o cérebro tão desenvolvido (maior do que o dos macacos!), somos os seres que mais destróem seus semelhantes. Por que eliminamos uma espécie viva a cada vinte minutos? Por que inventamos armas capazes de acabar com a vida no planeta rapidamente? Por que um quarto da água doce do mundo não pode ser reaproveitada?