1. O documento discute a natureza híbrida do discurso épico, que combina elementos narrativos e líricos.
2. Apresenta conceitos como plano histórico, plano maravilhoso e matéria épica na composição da epopeia.
3. Discorre sobre elementos como proposição, invocação e cantos que caracterizam o gênero épico.
ATIVIDADE 2 - DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM MOTORA - 52_2024
Heroísmo épico
1. UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE
ENSINO DE POESIA ÉPICA
PARA JOVENS
Waldemar Valença Pereira
(Prof. Val Valença)
2. Como ler um poema épico ?
“O discurso épico
caracteriza-se por sua natureza híbrida,
isto é, por apresentar
uma dupla instância de enunciação,
a narrativa e a lírica,
mesclando por isso mesmo, em suas manifestações,
os gêneros narrativo e lírico.
Com a conversão da proposta aristotélica em teoria do
discurso épico, impõe-se o reconhecimento da
epopéia apenas por sua instância narrativa,
predominante na
elaboração discursiva da épica clássica,
fazendo com que a crítica, inadvertidamente,
arrolasse a epopéia ao gênero narrativo,
figurando-a ao lado de uma narrativa de ficção.”
(SILVA e RAMALHO, 2007,p.49).
3. Poema épico
1. Dupla semiotização do discurso épico
(eu lírico/narrador)
2. Plano histórico e Plano Maravilhoso
3. Matéria épica
4. Proposição, Invocação e Cantos
5. Heroísmo épico
4. 1. Dupla semiotização do discurso
(eu lírico/narrador)
O discurso híbrido (lírico e narrativo) é o que
definirá o discurso na epopeia.
A tendência mais para um ou outro polo, lírico
ou narrativo, não anula o discurso épico,
como julgou a crítica literária que compreendeu
o romance como a nova forma do épico.
5. 3. Matéria épica
A matéria épica, em formação, “pode estar
configurada como uma unidade autônoma que faz e se dá
pronta ao poeta, ou apenas como epos, referenciais históricos
e simbólicos dissociados no processo de formação da tradição
cultural, mas que podem ser unificados literariamente” .
(SILVA e RAMALHO, 2007, p.54)
A matéria épica não é um mero sinônimo de
epopeia (RAMALHO, 2013, p. 22), já que leitores encontram
também essa matéria (épica) em alguns romances (românticos
ou de cavalaria), telenovelas, filmes, letras de música,
propagandas,
6. 2. Plano maravilhoso
O plano maravilhoso é viabilizado pelo entendimento do conceito de
epos, ou seja, compreendido como uma articulação de referenciais
simbólicos e históricos ligados ao processo de formação cultural de
uma comunidade (SILVA e RAMALHO, 2007, p. 58).
Fontes: mítica tradicional, mítica literariamente elaborada, mítica
híbrida (RAMALHO, 2013, p. 119).
(+ ) Plano histórico
“Não se pode compreender a elaboração literária do plano
histórico de uma epopeia a não ser pela ótica que sabe
pertencer ao domínio das opções do(a) artista decidir que
fragmentos históricos serão revisitados, a partir de que ponto
de vista e com que recursos de referenciação.”
(RAMALHO, 2013, p. 110)
7. 4. Proposição, Invocação e Cantos
“Entende-se por “proposição épica” uma parte da epopeia, nomeada ou não, em
destaque ou integrada ao corpo do texto, através da qual o eu lírico/narrador
explicita o teor da matéria épica de que tratará a epopeia. (...) A ausência de
uma proposição, entretanto, não impede o reconhecimento de um texto como
epopeia.”
(RAMALHO, 2013, p. 32)
“A invocação, em geral, está posicionada na abertura das epopeias,
justamente por estar associada à necessidade de preparo e fôlego para dar
continuidade a uma criação que exige iluminação e perseverança.
Contudo, nem sempre isso ocorre de forma destacada, embora, muitas vezes,
a invocação mereça uma ou até mais estrofes só para si.”
(RAMALHO, 2013, p. 62)
8. Divisão em Cantos
“Em termos de nomeação,
aponto dois tipos:
a tradicional e a inventiva.
A divisão em cantos pode
ser, ainda, inexistente,
o que, absolutamente, não
impede que se reconheça o
caráter épico de um poema longo,
uma vez que, como já foi
salientado, é o reconhecimento
9. Divisão em Cantos
“Em termos de nomeação,
aponto dois tipos:
a tradicional e a inventiva.
A divisão em cantos pode
ser, ainda, inexistente, o que,
absolutamente, não impede que
se reconheça o caráter épico de
um poema longo, uma vez que,
como já foi salientado, é o
reconhecimento da matéria épica
10. O heroísmo épico
“A figura do herói épico
não escapou às transformações
que os conceitos de heroísmo e
de identidade sofreram com o
passar dos tempos. E isso se vê
perfeitamente nos perfis heroicos
que se reconhecem na trajetória
da épica universal.
Uma leitura crítica desse
percurso com foco no heroísmo traduz facilmente
a mudança na composição do perfil e das ações
heroicas, e a visível e paulatina relevância que o
enfrentamento de obstáculos gerados pelo próprio
cotidiano passou a ter em oposição à tradução dos
grandes feitos heroicos vinculados diretamente a
ações registradas pela história oficial como marcos
históricos.”
(RAMALHO, 2013, p. 142)
11. “Todas essas transformações abriram espaço para que a
ação heroica ganhasse outros contornos”.
“O heroísmo deixou de ter relevância apenas no
plano da História como sucessão de eventos
extraordinários e passou a se inserir no próprio
plano anônimo da história privada,
desde que as ações do sujeito heroico
fossem emblemáticas de uma capacidade
aí sim
extraordinária de enfrentamento da
nova realidade humano – existencial do mundo.”
(RAMALHO, 2013, p. 142)
12. Centro Internacional Multidisciplinar
de Estudos Épicos (CIMEEP)
Sobre o gênero épico, em âmbito nacional e
internacional,
sugerimos uma visita virtual,
no site do Centro Internacional
Multidisciplinar de Estudos Épicos
(CIMEEP),
idealizado e desenvolvido pela
professora universitária
Dr. ª Christina Bielinski Ramalho
13. Como analisar os poemas épicos ?
Século XIX
“A LÁGRIMA DE
UM CAETÉ”
(1849)
“OS TIMBIRAS”
(1857)
Século XIX
15. Gonçalves Dias (1823 - 1864)
Poeta brasileiro nascido, no
Maranhão, foi conhecido pela sua
poesia de feição romântica e
indianista. E Portugal forma-se em
Direito, retorna em 1845 ao Brasil,
sendo um dos poucos poetas
brasileiros de renome, na época,
que conseguiu viver mais do que
40 anos.
Sua obra literária começa a ser
publicada, sob uma proteção
imperial, de 1846 a 1851.
Seus poemas são repletos de
valorização da natureza exótica
brasileira e dos povos indígenas
que nela viviam. Outro tema
recorrente de sua poesia é o Amor.
Tornou-se muito conhecido
também pelos versos de sua
16. “Os Timbiras”
No poema são narrados ações de guerreiros
Timbiras (Tupinambás), sobretudo do chefe
Itajuba e do jovem guerreiro Jatir.
Itajuba ordena que Jurucey, seu mensageiro,
leve um pedido de paz para Gurupema,
chefe dos Gamellas (Tapuias), seu
arquirrival.
No quarto e último canto dessa obra
incompleta, o pedido de paz é rejeitado, e
17. Nísia Floresta (1810 - 1885)
Seu verdadeiro nome era Dionísia Gonçalves Pinto,
em homenagem ao seu pai, um advogado
português chamado Dionísio que casou com uma
brasileira de nome Clara. Nísia nasceu no Rio
Grande do Norte, em Papari, atualmente cidade
chamada de Nísia Floresta, em sua homenagem.
Ela foi uma escritora poliglota (português, italiano,
francês e inglês), em uma época em que a mulher
não possuiu acesso ao ensino superior. Nessa
mesma época, ela viúva, mãe de dois filhos e
diretora de escola primária, ela sob pseudônimos
fazia crônicas para jornais.
Tornou-se conhecida, na sociedade carioca, através
de publicações ousadas como, por exemplo, a
tradução livre da obra de Mary Stonecraft,
resultando em seu primeiro livro “O direito das
mulheres e a injustiça dos homens” (1832).
A publicação de “A lágrima de um Caeté”, em 1849,
18. “A lágrima de um Caeté”
Com 712 versos, o poema longo A lágrima de um Caeté
(1849) discursa sobre um “vulto de um homem”, mais tarde
identificado de modo épico como um índio Caeté que viveu e
que lutou contra a colonização portuguesa, ainda no século
XV e XVI.
É possível ver em A lágrima de um Caeté (1949) momentos
de divagação, em que o herói Caeté, inspirado na luta do outro
herói Nunes Machado, na Praieira (1848), inclusive
presenciando-a, pratica uma digressão temporal e rememora
ilustres personagens de outros conflitos pernambucanos
como a Insurreição Pernambucana (1817) e a Confederação do
Equador (1823).
Voltando ao presente, em 1848, ao ver o herói Nunes Machado
19. Continuação de
“A lágrima de um Caeté”
O Caeté presencia, ao sair da cidade pernambucana (Recife -
Goiana), partindo em direção à “boca da mata”, de onde ele
vagava, pronto para o combate contra portugueses e até
índios tabajaras, duas personificadas figuras femininas: a
Realidade e a Liberdade.
Primeiro vem a Realidade, com um rosto feio, que causa horror
ao Caeté, deixando-o receoso. Depois vem a Liberdade,
descrita como uma bela virgem, que o convida à batalha e à
vingança. Quando o Caeté tendia para aceitar a Liberdade
como escudeira, a Realidade consegue vencer no argumento,
mostrando ao Caeté, através de palavras, que a Liberdade é,
na verdade, um ilusório caminho, fadado ao insucesso.
Enfim, triste, mas principalmente resignado, o herói Caeté
resolve voltar à mata e terminar sua trajetória às margens do
21. Em “A lágrima de um Caeté”
analisaremos/investigaremos/discutiremos...
1. O heroísmo épico sob a perspectiva do
Eu lírico/ narrador revelado sobre a primeira
pessoa do plural (Nós/ nossa) por meio de
versos em métrica de decassílabo (10 sílabas
poéticas);
2. O heroísmo épico, sob a perspectiva do plano
maravilhoso (Anhangá – entidade mitológica
indígena dos Caetés), acompanhado da
personificação da Natureza que sorria no
antes da chegada de Cabral.
3 . Uma visão sobre a população
22. Em “Os Timbiras”
analisaremos/investigaremos/discutiremos...
1. Sob a perspectiva do heroísmo épico de
índios como Jurucei, o mensageiro, e Itajuba,
o chefe guerreiro dos Timbiras, investigaremos
a presença do eu lírico/ narrador que assume
a voz a partir da fala do herói em primeira
pessoa do singular.
2. Compreender o processo de composição do
heroísmo épico, em “Os Timbiras”, a partir da
consciência de que os índios não apresentam,
no momento da lírica narrativa, o
conhecimento da existência de povos
europeus e transitam entre confrontos físicos
28. O heroísmo épico
do tabajara Jurucei e seu pedido de paz
Obra “Os Timbiras” de Gonçalves Dias
Irás tu, Jurucei, por mim dizer-lhes:
Itajubá, o valente, o rei da guerra,
Fabricador das incansáveis lutas,
Em quanto a maça não sopesa em quanto
Dormem- lhe as setas no carcaz imóveis,
Of’rece-vos liança e paz; – não ama,
Tigre repleto, espedaçar mais presas,
Nem quer dos vossos derramar mais sangue.
Três grandes Tabas, onde heróis pululam,
Tantos e mais que vós, tanto e mais bravos,
30. O Caeté sob o plano histórico e maravilhoso
constrói o heroísmo épico, em decassílabos,
através de uma voz engajada
Se Anhangácontra nós mandava o
mal,
Para longe a cabana transferíamos;
Nossas eram as matas, suas frutas,
Seus regatos, seus rios, tudo era
Propriedade nossa… A Natureza
Por toda a parte bela nos sorria…
Sorria-nos o amor, o céu sorria-
31. O eu lírico/ narrador prossegue...
Onde estão, fero Luso ambicioso,
Estes bens, que eram nossos?
Porangaba perdi, perdi os
filhos;
Ai de mim! inda vivo!!
Com a Pátria lá foram esses
tesouros!
O pranto só me resta!..
Só me resta um sentir, um só
desejo,
Desejo de vingança!
Vingança de selvagem tão
tremenda,
32. Clique em um nome de uma obra abaixo
para investigar mais sobre
heroísmo épico e culturas indígenas,
agora com o auxílio do seus colegas e da internet,
e, assim, continue a viagem pelo mundo épico...
Caeté Timbiras
33. Caminhos para
“A lágrima de um Caeté”
http://www2.senado.leg.br/bdsf/handle
PROGRAMA DE
RÁDIO PÚBLICA
(Parte 01 e 02)
SOBRE
A VIDA E A OBRA
DA ESCRITORA
NÍSIA FLORESTA
PROGRAMA
REALIZADO PELA
TV NBR sobre Nísia
Floresta
https://www.youtube.com/watch?v=-fqz5fsFssE
35. Bibliografia
Imagens:
Ilustrações de Danieluiz feitas para o projeto <<
“A lágrima de um Caeté” na escola>>
http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Rugendas_-_C
http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/PesquisaO
Obras digitais:
A lágrima de um Caeté (Fragmentos) -
http://www.jornaldepoesia.jor.br/nfloresta02p.html
Os Timbiras
36. Obras impressas:
CALVINO, Ítalo. Por que ler os clássicos. Trad. de Nilson Moulin. 2a reimp. .
Rio de Janeiro: Companhia das Letras, 1999.
CEREJA, William Roberto. Ensino de literatura: uma proposta dialógica para
o trabalho com literatura. São Paulo: Atual, 2005.
CALVINO, Ítalo. Por que ler os clássicos. Trad. de Nilson Moulin. 2a reimp. .
Rio de Janeiro: Companhia das Letras, 1999.
CEREJA, William Roberto. Ensino de literatura: uma proposta dialógica para
o trabalho com literatura. São Paulo: Atual, 2005.
FLORESTA, Nísia. A lágrima de um Caeté (1849). Ed. atualizada com Notas e
Estudo Crítico de Constância Lima Duarte para a 4a edição. Natal: Fundação
José Augusto, 1997.
FUNARI, Pedro Paulo & PIÑÓN, Ana. A temática indígena na escola:
subsídios para os professores. São Paulo: Contexto, 2011.
GOMES, Carlos Magno. Ensino de literatura e cultura: do resgate à violência
doméstica. Jundiaí: Paco Editorial, 2014.
37. JOUVE, Vicent. Por que estudar literatura? Trad. Marcos Bagno e Marcos
Marcionilo. São Paulo: Parábola, 2012.
SILVA, Anazildo Vasconcelos. Semiotização literária do discurso. Rio de
Janeiro: Elo, 1984.
SILVA, Anazildo Vasconcelos & RAMALHO, Christina. História da epopéia
brasileira: teoria, crítica e percurso. Rio de Janeiro: Garamond, 2007.
Parâmetros curriculares nacionais: terceiro e quarto ciclos do ensino
fundamental: introdução aos parâmetros curriculares nacionais. Brasília:
MEC/SEF, 1998.
Ramalho, Christina. Poemas épicos: estratégias de leitura. Rio de Janeiro:
Uapê, 2013.
TODOROV, Tzvetan. A literatura em perigo. Trad. Caio Meira. 4a. ed. - Rio de
Janeiro: DIFEL, 2012.
ZILBERMAN, Regina & SILVA, Ezequiel Theodoro da. Leitura – perspectivas
interdisciplinares. São Paulo: Ática, 2005