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Universidade Federal do Espírito Santo
             Centro de Ciências Humanas e Naturais
               Departamento de Línguas e Letras




Um olhar sobre o conto machadiano “Vênus! Divina Vênus!”, à
                     luz da onomástica.




                  Renata Oliveira Bomfim




                          Vitória, 2006.
Renata Oliveira Bomfim




Um olhar, sobre o conto machadiano “Vênus! Divina Vênus!”, à luz da onomástica.




                                                    Artigo apresentado ao Programa de
                                                    Pós-Graduação em Letras do
                                                    Departamento de Línguas e Letras
                                                    da Universidade Federal do Espírito
                                                    Santo. À disciplina Literatura
                                                    brasileira: textos canônicos, sob
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                                                    Wilberth Salgueiro, no Curso de
                                                    Mestrado em Estudos Literários.




                                   Vitória, 2006.
Resumo:


A onomástica tem sido objeto de estudo desde a antigüidade. Na atualidade é recurso
privilegiado na elaboração da estrutura narrativa. O tema desempenha papel
fundamental na obra de Machado de Assis e o jogo onomástico machadiano vai além,
enriquecido pela ironia e ambigüidade que fascinam e convidam à decifração. Este
artigo pretende, tendo como guia os nomes próprios dos personagens do conto “Vênus!
Divina Vênus”, analisar o papel que cada nome desempenha nos seus aspectos
psicológico, social e religioso. Além da questão onomástica, serão utilizados como pano
de fundo para a análise do conto, o mito grego de “Eros e Psique” e a Psicologia
Analítica de Carl Gustav Jung.



Palavras-chave: onomástica, significado, mito, rito, Carl Gustav Jung, psicossocial.
A onomástica na escrita machadiana.


                           O nome é um signo polissêmico e hipersêmico, que oferece
                           várias camadas de semas e cuja leitura varia à medida que a
                           narrativa se desenvolve e se desenrola. Não há mais um sentido
                           único de leitura, mas uma decifração e recriação permanentes,
                           feita de dedução e intuição, de sensibilidade e de exploração
                           das diferentes possibilidades de atualização daquilo que é dito
                           potencialmente pelo Nome. (Machado, 2003. p. 41)

O termo onomástico, vem do grego antigo (ὀνομαστική), e significa ato de nomear, dar
nome.1 No Minidicionário da Língua Portuguesa, Silveira Bueno descreve o termo como
relativo a nomes ou explicação dos nomes próprios. Mas o estudo da onomástica
encontra registro desde a antiguidade, em Crátilo, de Platão, já se discutia a natureza e a
justeza dos nomes. Na escrita machadiana, a onomástica é recurso privilegiado, os
nomes condensam variadas possibilidades de sentidos e ambigüidades.

Hellen Caldwel em “O que há num nome?”, aborda a questão onomástica na obra de
Machado, ela seleciona nomes em variadas obras estudando-lhes os significados e
correlacionando-os com personalidades da história e da literatura. Para esta autora,
Machado não nomeia seus personagens ao acaso e um estudo de seus romances e contos
revela sua destreza nesta matéria (p.55). Variados recursos onomásticos são utilizados
por Machado como, por exemplo, o emprego de sobrenomes portugueses que remetem
a figuras importantes dos primórdios do Brasil colonial, e os prenomes que remontam
ao calendário dos santos, como se espera de um país católico.

O conto “Vênus! Divina Vênus!”, publicado em Obra Completa vol. II, embora não seja
um dos contos mais conhecidos de Machado de Assis, aproxima- se de outras obras a
partir de alguns nomes e temáticas que aborda. Este artigo pretende, lançar um olhar
sobre os personagens centrais do referido conto, à luz da onomástica, assim como sobre
a trama que se desenrola a partir da inter- relação dos mesmos, desvelando
características psicológicas e sociais embutidas nos nomes.


Podemos encontrar o tema do triangulo amoroso em variadas obras de Machado, alguns
célebres como: o casal Sofia, Cristiano Palha, e Rubião, em Quincas Borba; Bento
Santiago, Capitu e Escobar em Dom Casmurro e Virgília, Lobo Neves e Brás Cubas em

1
    http://pt.wikipedia.org/wiki/Onom%C3%A1stica
Memórias Póstumas de Brás Cubas. No conto em questão falaremos do triângulo
constituído a partir de Ricardo, jovem poeta e herói da história, de Maria dos Anjos, sua
mãe, que abomina a idéia de uma nora, pois o quer só para si e, e das jovens pelas quais
Ricardo se apaixona as quais ele compara a Vênus de Milo.


Outro tema é a questão da divisão entre classes, em que Machado recria o mundo
carioca, denunciando uma sociedade pautada em títulos e apadrinhamentos. Este
aspecto pode ser percebido logo no início do conto, quando Machado descreve a
situação social e financeira da família, assim como, no preconceito por parte de Maria
dos Anjos, mãe de Ricardo, em relação à Marcela, primeira paixão do rapaz: “Ela é filha
de doutor, não há de querer lavar nem engomar”, e de Ricardo que, quando aconselhado
pela mãe a se casar com Felismina, sua prima, lhe diz: “— Ora, mamãe! Felismina! —
Não é rica, é pobre...” Marcela casa-se com Maciel, um jovem médico e tenor baiano e
Virgínia, a quem Ricardo pretende pedir em casamento, é filha de um tabelião e casa-se
com o bacharel Vieira. No decorrer da história percebe-se a jornada de Ricardo, em
busca de um outro lugar social, a partir da identidade que lhe é possível, a de poeta,
visto que não possui padrinhos ou títulos.

Segundo Antenor Nascentes (1952, p.261), Ricardo é um prenome de origens
germânica que combina os elementos “rik” (significando rei, príncipe, senhor ou rico)
e 'hardo' (significando príncipe, senhor forte) e, portanto, pode ser interpretado como
forte comandante. Ricardo é também prenome de inúmeras personalidades da história,
como por exemplo, os reis da Inglaterra Ricardo I, Ricardo II e Ricardo III e Ricardo
Coração de Leão. A origem germânica do nome Ricardo enuncia sua linhagem guerreira
e conquistadora. Neste ponto, a genialidade de Machado aguça-se e ele utiliza o nome
de modo inverso e irônico. Inicialmente, Ricardo não reflete a força de seu nome, ele é
descrito como um jovem sonhador, vaidoso e acomodado, que não luta por aquilo que
deseja, incapaz de vencer a própria timidez. No dito popular a etimologia do nome se
retifica, é costume chamar de Ricardão o homem que “rouba” ou “seduz” a mulher de
um outro.

A história deste conto encontra paralelo no mito grego de “Cupido e Psique” inserido
no romance Metamorfoses do escritor latino Lúcio Apuleio (p.209). Segundo Junito
Brandão de Sousa, etimologicamente em grego, Psique significa princípio vital, sopro,
é igualmente a alma personificada (pág. 209). Cupido geralmente é representado
alegoricamente como um menino alado e sem responsabilidades, ferindo a uns e a
outros com suas flechas inflamadas, e sempre disposto a cumprir os desejo e caprichos
de sua mãe Vênus.
De acordo com Antenor Nascentes (p.192), o nome de Maria é a transliteração em
grego do hebraico Maryam, mãe de amargura, mar amargo, princesa do mar, é o nome
da mãe de Jesus de Nazaré, que segundo a tradição cristã gerou virgem, sem a
implicação do ato sexual. Já não tendo um homem a quem pertencer, Maria fica ao
encargo “dos anjos”, criaturas celestiais e assexuadas, fazendo jus ao seu nome. Muito
embora seja dos anjos, ela não é um anjo de candura, busca manipular e manter o filho
sob seu domínio e tutela. Essa poderosa grande mãe abomina a idéia de partilhar o amor
do filho com outra pessoa, ela quer o filho só para si.


No romance Dom Casmurro, encontramos uma outra Maria, Maria da Glória. Esta
consagra Bentinho, seu filho, à igreja antes mesmo de ter nascido, e tenta obrigá-lo
seguir a vida de seminarista contra vontade. Segundo Luiz Alberto Pinheiro de Freitas,
em Capitolina, a que ama no lugar do outro, Bento foi criado para ser padre, o que
significava em tese, para não ter mulher, ou seja, a única mulher da sua vida seria sua
mãe.


No nosso conto, há a predominância do domínio materno e Ricardo que, “já não tem
pai”, fica desprovido de uma imagem masculina a quem referenciar- se, sua referência é
feminina, ou seja, é sua mãe e também é Vênus. E inspirado por esta imagem ele
mantém- se em seu quarto, empenhado em sonhar com o amor e a escrever versos: “São
sete e meia da manhã, e ele está escrevendo desde as sete horas”.


Embora seja filho de Maria dos Anjos, cuja madrinha é ninguém menos que Nossa
Senhora, Ricardo é um pagão, um adorador de Vênus, neste aspecto, fiel à origem
germânica do seu nome.


Maria dos Anjos, não aprova os arroubos poéticos do filho, à sua escrita ela chama
“malditos versos”, sente-se ameaçada, pois os versos são o passaporte o qual Ricardo
consegue inserção em outros espaços e grupos sociais.


O conto se passa no ano de 1859 no bairro dos Cajueiros, Rio de Janeiro, é domingo2 e
Maria dos Anjos vai à missa, deixa o café pronto para filho e recomenda que este o
tome antes que esfrie.


A primeira moça por quem Ricardo se apaixona e para quem ele escreve versos, mas
não tem coragem de entregar, chama-se Marcela. O nome de Marcela, segundo Antenor
2
    A palavra é originária do latim Dies Dominica, que significa "Dia do Senhor".
Nascentes (p.191), nos diz que Marcela tem origem latina e significa marcial. Também
designa uma erva da flora brasileira que tem propriedades calmantes, mas não é este o
efeito que a moça exerce sobre o rapaz. Neste ponto do texto inscreve-se uma questão
também recorrente nas figuras femininas machadianas, a vaidade e a sedução. Ciente de
seus encantos e de seu poder de atração, Marcela conclama Ricardo a exaltar sua beleza,
o seduz, mas sem nada prometer:
                       “Marcela perguntou-lhe logo com os olhos do costume:
                       — Que tal me acha?
                       — Linda, angélica, respondeu Ricardo pelo mesmo idioma”.


Para Luiz Alberto Pinheiro de Freitas, em “Sofia, metade gente e metade cobra” (pág.
111), ao nosso Machado não escapam as questões referentes às disputas narcísicas entre
os homens e mulheres. Segundo o autor a sedução implica utilizar todos os meios para
fazer com que o admirador se encante cada vez mais, que se entregue a uma admiração
sem quartel, que fique avassalado ao outro (p.108).
A vaidade feminina e a sedução marcam outros personagens como: Genoveva, do conto
“Noites de Almirante”, Marcela, do romance Memórias Póstumas de Brás Cubas, Sofia,
do romance Quincas Borba, entre outras.


A devota mãe confessa a Ricardo ter rezado por ele na missa, e pedido a Nossa Senhora,
sua madrinha, que acabasse sua paixão por “aquela moça”. Nesta passagem além de
afirmar seu grau de intimidade, quase parentesco com a Santa, Maria dos Anjos reza,
não para que o filho seja feliz, mas para que seu desejo prevaleça sobre o do filho. A
ideologia dominante da época machadiana mostra o casamento como meta das
mulheres, percebemos aqui mais uma inversão, é Ricardo quem busca casar-se.


Ao perceber o desejo do filho, Maria dos Anjos lhe escolhe uma noiva. Sugere que seja
uma moça do seu nível social e parecida com ela, sua prima Felismina. Ricardo fica
surpreso com a idéia da mãe, e utiliza o nome da prima como principal motivo que a
desqualifica para o papel de sua esposa: “basta-lhe o nome; é difícil achar outro tão
ridículo. Felismina!”. Para Ricardo, Felismina é o oposto de Marcela, enquanto a
primeira “é um anjo”, a outra “é prosaica, tem o nariz comprido e os ombros estreitos,
sem graça; os olhos parecem mortos, olhos de peixe podre, e fala arrastado. Parece da
roça”.


Segundo Nascentes (p.110), o nome Felismina está relacionado a feliz, assim como
resulta da junção de dois outros, o primeiro um adjetivo, feliz, que é sinônimo de
alegria, prazer, júbilo, contentamento e representa um sentimento humano, não
idealizado, o segundo é mina, com variados sentidos, pode designar tanto um
dispositivo de guerra, algo explosivo, capaz de abalar e fragmentar estruturas sólidas, e
por outro lado, significa um local rico em minerais, jazida, ou mina d’água.


Num dos recitais na casa do Dr. Viana, pai de Marcela, Ricardo é surpreendido com a
notícia do noivado desta com um jovem médico e tenor baiano, Maciel, segundo ele “o
diabo”. O nome Maciel, segundo Nascentes (p.183), nos diz que tem origem latina e
significa tanto cortesão, pessoa de alta categoria social, homem da corte, quanto
povoação de Portugal. Este “diabo” a que Ricardo se refere, pode também ser associado
a serpente que da macieira convence Eva a provar o fruto proibido, deflagrando o
pecado original. É também a serpente o símbolo da medicina. Este personagem mostra
estar em consonância com o significado de seu nome, pois, soube cortejar Marcela
adequadamente.

                        “Não foi logo para casa; vagou uma hora ou mais, entre o desânimo e o
                        furor, falando alto, jurando esquecê-la, desprezá-la. No dia seguinte,
                        almoçou mal, trabalhou mal, jantou mal, e trancou-se no quarto, à noite. A
                        consolação única eram os versos, que achava lindos. Releu-os com amor. E
                        a musa deu-lhe a força d’alma que a aventura de domingo lhe tirara”.


Refeito com ajuda da Vênus de Milo, Ricardo entrega-se novamente à paixão: Amor
cura amor. Todas tiveram a mesma madrinha — Vênus! Vênus! Divina Vênus!

Agora, estava enamorado de Virgínia, cujo nome para Nascentes (p.317), significa
jovem não casada, virgem. Ricardo deseja “penetrar-lhe a casa”, apresenta-se como
poeta ao pai da moça, um tabelião amante de fábulas:

                        Ricardo aturou toda essa rabugice do notário, para o fim de ser admitido em
                        casa dele — cousa fácil, porque o pai de Virgínia tinha algumas fábulas
                        antigas e outras inéditas e poucos ouvintes do ofício, ou verdadeiramente
                        nenhum.


Ricardo não se declarou diretamente para Virgínia, mas dava-lhe “versos às
escondidas”, a moça guardava, depois os lia e agradecia.


                      Muito mimosos, dizia sempre.
                      — Eu fui apenas secretário da musa, respondeu ele uma vez; os versos foram
                      ditados por ela. Conhece a musa?
                      — Não.
— Veja no espelho.


Ricardo esperava pedi-la ao pai em casamento assim que fizesse dezessete anos, mas
Virgínia adoeceu “de moléstia grave”, ficando entre a vida e a morte, e foi para a casa
da madrinha na Tijuca para recuperar-se. Lá, apaixona-se pelo sobrinho de sua
madrinha, o bacharel Vieira, recém chegado de São Paulo. Vieira, para Nascentes
(p.388), é um sobrenome de origem geográfica, ou topônimo, sob este aspecto, trata-se
de um outro fidalgo, mas Vieira também designa o nome de um molusco acéfalo, cuja
concha os romeiros usavam como insígnia, no chapéu3.


Esta nova desilusão atordoou completamente o rapaz que quase quebrou a Vênus de
Milo, jurou não fazer mais versos e acabar com mulheres e musas: “Que eram musas
senão mulheres?” Nesta parte do conto, percebe-se que a partir desta desilusão amorosa,
Ricardo passa a ser menos fantasioso e pautar sua vida na realidade, primeiro passo para
a vida adulta. Contou à mãe sobre sua decisão, sem entrar em pormenores, e a mãe de
pronto aprovou.


Logo após estes acontecimentos ele fica sabendo que a sua prima se casaria. Maria dos
Anjos volta à cena, pedindo ao rapaz colaboração em dinheiro para comprar um
“presentinho” para a noiva. Ele atende a solicitação e pergunta para a mãe com quem
Felismina irá se casar, a mãe lhe responde que será “com um moço da Estrada de
Ferro”.


Nosso herói, amadurecido pelas experiências, à medida que se apropria do seu desejo,
toma posse também do significado do seu nome, e como um guerreiro germano, um
Siegfried, lança mão de uma estratégia para conquistar Felismina. Faz amizade com o
noivo, é agora um guerreiro com sentimentos, com alma, Ricardo passa a ter ciúmes da
prima e não gosta que o noivo desta o chame de primo.


Ele passa a sonhar com Felismina e a figura da prima passa a persegui-lo. Agora,
fazendo jus ao nome, Ricardo dá continuidade ao seu plano, e parte para a conquista de
sua felicidade. Aproveitando a viagem do noivo ele vai visitar Felismina todas as noites
e percebe que algo nele se modifica: “os olhos falavam, os braços, as mãos, um diálogo
perpétuo, não espiritual, não filosófico, um diálogo fisiológico e familiar”.


É um despertar, seu poema agora está no corpo, Felismina não é mais uma imagem
idealizada de mulher, ela é real. É a mina que explode e revela a Ricardo uma riqueza
3
 PRIBERAM- Dicionário de língua portuguesa on-line:
http://www.priberam.pt/dlpo/definir_resultados.aspx
para além de dinheiro e títulos: “— Felismina! Exclamava ele. O nome dela há de ser a
chave de ouro. Rima com divina e cristalina”.


Familiaridade e pertencimento passam a fazer parte do universo de Ricardo, Felismina
pode ser associada à Psique, personagem do mito grego, que a partir de sua humanidade
desencadeia uma série de transformações na família olímpica, humaniza os deuses e se
diviniza, Cupido deixa de ser o “filhinho da mamãe” e passa a ser responsável por sua
vida.


Quando ao paixonado, Ricardo:


                     “sonhou que pegava da prima e subia com ela ao alto de um penedo, no meio
                     do oceano”. “Viu-a sem braços. Acordando de manhã, olhou para a Vênus de
                     Milo”:
                     — Vênus! Vênus! divina Vênus!”.


Num dos trechos do mito grego, Psique é levada para um rochedo onde pensa que se
casará com um monstro, não sabe que este monstro é Cupido, que ao tentar atingi-la
com sua flecha se feriu ficando perdidamente apaixonado por ela. Nesse ponto do mito
começa a história do casal, quando terão que administrar a relação com Vênus, assim
como perdas e ganhos além de pagar um preço pela realização amorosa.


Desta vez Ricardo declara o seu amor a Felismina, que já o amava. Maria dos Anjos,
sabendo que o filho desposaria a prima, pede-lhe explicações, afinal, a moça estava
prometida a um outro, ela reprova a atitude do filho, e cobra que o contrato seja
mantido. Ricardo lhe diz que não há explicações e os primos se casam. Ricardo “era
todo para a realidade do amor”.


O conto nos relata que Ricardo conservou a Vênus de Milo, apesar da modéstia de
Felismina: “E tu, criança amada, tão divina. Não és cópia da Vênus celebrada. És antes
seu modelo, Felismina”. “Deixou de poetar”, apesar dos protestos de seus admiradores:
“Então você não faz mais versos? — Não se pode fazer tudo, respondeu Ricardo,
acariciando os seus cinco filhos”.


Numa metáfora percebe-se no conto o tema arquetípico da luta do herói para separar-se
da grande mãe. O surgimento da individualidade implica não somente deixar a infância
para trás, mas também enfrentar e combater as forças do mundo e de nós mesmos que
são regressivas e estagnantes, Ricardo não conseguia externar seus sentimentos, essa
batalha é um rito de passagem que todo jovem deve enfrentar.


Este tema foi interpretado psicologicamente pelo psiquiatra suíço Carl Gustav Jung
como um paradigma da diferenciação do ego do inconsciente, traduz esforços para
separar a individualidade de uma pessoa de várias identificações. A primeira
identificação da criança é com a mãe. O pai é figura importante para que o filho se
separe de sua identificação inicial para com a mãe e para que adquira a identidade
masculina. Nos ritos de iniciação das comunidades primitivas quando o jovem atinge a
puberdade é separado da mãe, que ritualmente pranteia seu filho como se estivesse
morto, enquanto o garoto é isolado entre os homens por meses ou anos quando passa
por provações (p. 110).


A sociedade moderna ocidental é pobre em ritos que propiciem a maturação psíquica
dos indivíduos, assim torna-se duplamente heróico o processo de passagem para a idade
adulta. Ricardo ao fim do conto, provou ser digno de seu nome, lutou e pôde tomar
posse de uma grande riqueza, a sua individualidade. Jung denominou a este processo de
diferenciação psicológica individuação.


Este conto reflete a destreza de Machado de Assis no campo da onomástica, assim como
revela que a interpretação e a análise de sua obra dificilmente se esgotarão.
Referências Bibliográficas:


   1. ASSIS, Machado de. “Vênus! Divina Vênus!” Obra Completa, vol. II. Rio de
      Janeiro: Nova Aguilar, 1994.


   2. BRANDÃO, Junito de Souza. Mitologia Grega. Vol II. Ed. 10, Petrópolis - Rio
      de Janeiro. Editora Vozes: 1999.


   3. BUENO, Silveira. Minidicionário da Língua Portuguesa. Ed. rev. e atual.
      Helena Bonito C. Pereira, Rena Signer. São Paulo: FTD:LISA, 1996.


   4. CALDWELL, Helen. “O que há num nome?”. O Otelo brasileiro de Machado
      de Assis. Tradução: Fábio Fonseca de Melo. Rio de Janeiro: Ateliê Editorial.
      2002.


   5. FREITAS, Luiz Alberto Pinheiro de. “Capitolina, a que ama no lugar do outro”.
      Freud e machado de Assis - Uma interseção entre psicanálise e literatura. Rio de
      Janeiro: Editora Mauad, 2001.


   6. NASCENTES, Antenor. Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa: Rio de
      Janeiro: São José, 1952.


   7. NUPILL: Núcleo de Pesquisas em Informática, Literatura e Lingüística.
      http://www.cce.ufsc.br/~nupill/literatura/divinavenus.htm


   8. PLATÃO. “Crátilo”. In Teeteto-Crátilo. Ed 3, Belém: EDUFPA, 2001


   9. PRIBERAM-        Dicionário     de     Língua      Portuguesa      On-     line:
      http://www.priberam.pt/dlpo/definir_resultados.aspx


   10. STEINBERG, Warren. Aspectos Clínicos da Terapia Junguiana.          São Paulo:
       Cultrix. 1995.

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Artigo onomástica vênus divina vênus

  • 1. Universidade Federal do Espírito Santo Centro de Ciências Humanas e Naturais Departamento de Línguas e Letras Um olhar sobre o conto machadiano “Vênus! Divina Vênus!”, à luz da onomástica. Renata Oliveira Bomfim Vitória, 2006.
  • 2. Renata Oliveira Bomfim Um olhar, sobre o conto machadiano “Vênus! Divina Vênus!”, à luz da onomástica. Artigo apresentado ao Programa de Pós-Graduação em Letras do Departamento de Línguas e Letras da Universidade Federal do Espírito Santo. À disciplina Literatura brasileira: textos canônicos, sob orientação do Professor Doutor Wilberth Salgueiro, no Curso de Mestrado em Estudos Literários. Vitória, 2006.
  • 3. Resumo: A onomástica tem sido objeto de estudo desde a antigüidade. Na atualidade é recurso privilegiado na elaboração da estrutura narrativa. O tema desempenha papel fundamental na obra de Machado de Assis e o jogo onomástico machadiano vai além, enriquecido pela ironia e ambigüidade que fascinam e convidam à decifração. Este artigo pretende, tendo como guia os nomes próprios dos personagens do conto “Vênus! Divina Vênus”, analisar o papel que cada nome desempenha nos seus aspectos psicológico, social e religioso. Além da questão onomástica, serão utilizados como pano de fundo para a análise do conto, o mito grego de “Eros e Psique” e a Psicologia Analítica de Carl Gustav Jung. Palavras-chave: onomástica, significado, mito, rito, Carl Gustav Jung, psicossocial.
  • 4. A onomástica na escrita machadiana. O nome é um signo polissêmico e hipersêmico, que oferece várias camadas de semas e cuja leitura varia à medida que a narrativa se desenvolve e se desenrola. Não há mais um sentido único de leitura, mas uma decifração e recriação permanentes, feita de dedução e intuição, de sensibilidade e de exploração das diferentes possibilidades de atualização daquilo que é dito potencialmente pelo Nome. (Machado, 2003. p. 41) O termo onomástico, vem do grego antigo (ὀνομαστική), e significa ato de nomear, dar nome.1 No Minidicionário da Língua Portuguesa, Silveira Bueno descreve o termo como relativo a nomes ou explicação dos nomes próprios. Mas o estudo da onomástica encontra registro desde a antiguidade, em Crátilo, de Platão, já se discutia a natureza e a justeza dos nomes. Na escrita machadiana, a onomástica é recurso privilegiado, os nomes condensam variadas possibilidades de sentidos e ambigüidades. Hellen Caldwel em “O que há num nome?”, aborda a questão onomástica na obra de Machado, ela seleciona nomes em variadas obras estudando-lhes os significados e correlacionando-os com personalidades da história e da literatura. Para esta autora, Machado não nomeia seus personagens ao acaso e um estudo de seus romances e contos revela sua destreza nesta matéria (p.55). Variados recursos onomásticos são utilizados por Machado como, por exemplo, o emprego de sobrenomes portugueses que remetem a figuras importantes dos primórdios do Brasil colonial, e os prenomes que remontam ao calendário dos santos, como se espera de um país católico. O conto “Vênus! Divina Vênus!”, publicado em Obra Completa vol. II, embora não seja um dos contos mais conhecidos de Machado de Assis, aproxima- se de outras obras a partir de alguns nomes e temáticas que aborda. Este artigo pretende, lançar um olhar sobre os personagens centrais do referido conto, à luz da onomástica, assim como sobre a trama que se desenrola a partir da inter- relação dos mesmos, desvelando características psicológicas e sociais embutidas nos nomes. Podemos encontrar o tema do triangulo amoroso em variadas obras de Machado, alguns célebres como: o casal Sofia, Cristiano Palha, e Rubião, em Quincas Borba; Bento Santiago, Capitu e Escobar em Dom Casmurro e Virgília, Lobo Neves e Brás Cubas em 1 http://pt.wikipedia.org/wiki/Onom%C3%A1stica
  • 5. Memórias Póstumas de Brás Cubas. No conto em questão falaremos do triângulo constituído a partir de Ricardo, jovem poeta e herói da história, de Maria dos Anjos, sua mãe, que abomina a idéia de uma nora, pois o quer só para si e, e das jovens pelas quais Ricardo se apaixona as quais ele compara a Vênus de Milo. Outro tema é a questão da divisão entre classes, em que Machado recria o mundo carioca, denunciando uma sociedade pautada em títulos e apadrinhamentos. Este aspecto pode ser percebido logo no início do conto, quando Machado descreve a situação social e financeira da família, assim como, no preconceito por parte de Maria dos Anjos, mãe de Ricardo, em relação à Marcela, primeira paixão do rapaz: “Ela é filha de doutor, não há de querer lavar nem engomar”, e de Ricardo que, quando aconselhado pela mãe a se casar com Felismina, sua prima, lhe diz: “— Ora, mamãe! Felismina! — Não é rica, é pobre...” Marcela casa-se com Maciel, um jovem médico e tenor baiano e Virgínia, a quem Ricardo pretende pedir em casamento, é filha de um tabelião e casa-se com o bacharel Vieira. No decorrer da história percebe-se a jornada de Ricardo, em busca de um outro lugar social, a partir da identidade que lhe é possível, a de poeta, visto que não possui padrinhos ou títulos. Segundo Antenor Nascentes (1952, p.261), Ricardo é um prenome de origens germânica que combina os elementos “rik” (significando rei, príncipe, senhor ou rico) e 'hardo' (significando príncipe, senhor forte) e, portanto, pode ser interpretado como forte comandante. Ricardo é também prenome de inúmeras personalidades da história, como por exemplo, os reis da Inglaterra Ricardo I, Ricardo II e Ricardo III e Ricardo Coração de Leão. A origem germânica do nome Ricardo enuncia sua linhagem guerreira e conquistadora. Neste ponto, a genialidade de Machado aguça-se e ele utiliza o nome de modo inverso e irônico. Inicialmente, Ricardo não reflete a força de seu nome, ele é descrito como um jovem sonhador, vaidoso e acomodado, que não luta por aquilo que deseja, incapaz de vencer a própria timidez. No dito popular a etimologia do nome se retifica, é costume chamar de Ricardão o homem que “rouba” ou “seduz” a mulher de um outro. A história deste conto encontra paralelo no mito grego de “Cupido e Psique” inserido no romance Metamorfoses do escritor latino Lúcio Apuleio (p.209). Segundo Junito Brandão de Sousa, etimologicamente em grego, Psique significa princípio vital, sopro, é igualmente a alma personificada (pág. 209). Cupido geralmente é representado alegoricamente como um menino alado e sem responsabilidades, ferindo a uns e a outros com suas flechas inflamadas, e sempre disposto a cumprir os desejo e caprichos de sua mãe Vênus.
  • 6. De acordo com Antenor Nascentes (p.192), o nome de Maria é a transliteração em grego do hebraico Maryam, mãe de amargura, mar amargo, princesa do mar, é o nome da mãe de Jesus de Nazaré, que segundo a tradição cristã gerou virgem, sem a implicação do ato sexual. Já não tendo um homem a quem pertencer, Maria fica ao encargo “dos anjos”, criaturas celestiais e assexuadas, fazendo jus ao seu nome. Muito embora seja dos anjos, ela não é um anjo de candura, busca manipular e manter o filho sob seu domínio e tutela. Essa poderosa grande mãe abomina a idéia de partilhar o amor do filho com outra pessoa, ela quer o filho só para si. No romance Dom Casmurro, encontramos uma outra Maria, Maria da Glória. Esta consagra Bentinho, seu filho, à igreja antes mesmo de ter nascido, e tenta obrigá-lo seguir a vida de seminarista contra vontade. Segundo Luiz Alberto Pinheiro de Freitas, em Capitolina, a que ama no lugar do outro, Bento foi criado para ser padre, o que significava em tese, para não ter mulher, ou seja, a única mulher da sua vida seria sua mãe. No nosso conto, há a predominância do domínio materno e Ricardo que, “já não tem pai”, fica desprovido de uma imagem masculina a quem referenciar- se, sua referência é feminina, ou seja, é sua mãe e também é Vênus. E inspirado por esta imagem ele mantém- se em seu quarto, empenhado em sonhar com o amor e a escrever versos: “São sete e meia da manhã, e ele está escrevendo desde as sete horas”. Embora seja filho de Maria dos Anjos, cuja madrinha é ninguém menos que Nossa Senhora, Ricardo é um pagão, um adorador de Vênus, neste aspecto, fiel à origem germânica do seu nome. Maria dos Anjos, não aprova os arroubos poéticos do filho, à sua escrita ela chama “malditos versos”, sente-se ameaçada, pois os versos são o passaporte o qual Ricardo consegue inserção em outros espaços e grupos sociais. O conto se passa no ano de 1859 no bairro dos Cajueiros, Rio de Janeiro, é domingo2 e Maria dos Anjos vai à missa, deixa o café pronto para filho e recomenda que este o tome antes que esfrie. A primeira moça por quem Ricardo se apaixona e para quem ele escreve versos, mas não tem coragem de entregar, chama-se Marcela. O nome de Marcela, segundo Antenor 2 A palavra é originária do latim Dies Dominica, que significa "Dia do Senhor".
  • 7. Nascentes (p.191), nos diz que Marcela tem origem latina e significa marcial. Também designa uma erva da flora brasileira que tem propriedades calmantes, mas não é este o efeito que a moça exerce sobre o rapaz. Neste ponto do texto inscreve-se uma questão também recorrente nas figuras femininas machadianas, a vaidade e a sedução. Ciente de seus encantos e de seu poder de atração, Marcela conclama Ricardo a exaltar sua beleza, o seduz, mas sem nada prometer: “Marcela perguntou-lhe logo com os olhos do costume: — Que tal me acha? — Linda, angélica, respondeu Ricardo pelo mesmo idioma”. Para Luiz Alberto Pinheiro de Freitas, em “Sofia, metade gente e metade cobra” (pág. 111), ao nosso Machado não escapam as questões referentes às disputas narcísicas entre os homens e mulheres. Segundo o autor a sedução implica utilizar todos os meios para fazer com que o admirador se encante cada vez mais, que se entregue a uma admiração sem quartel, que fique avassalado ao outro (p.108). A vaidade feminina e a sedução marcam outros personagens como: Genoveva, do conto “Noites de Almirante”, Marcela, do romance Memórias Póstumas de Brás Cubas, Sofia, do romance Quincas Borba, entre outras. A devota mãe confessa a Ricardo ter rezado por ele na missa, e pedido a Nossa Senhora, sua madrinha, que acabasse sua paixão por “aquela moça”. Nesta passagem além de afirmar seu grau de intimidade, quase parentesco com a Santa, Maria dos Anjos reza, não para que o filho seja feliz, mas para que seu desejo prevaleça sobre o do filho. A ideologia dominante da época machadiana mostra o casamento como meta das mulheres, percebemos aqui mais uma inversão, é Ricardo quem busca casar-se. Ao perceber o desejo do filho, Maria dos Anjos lhe escolhe uma noiva. Sugere que seja uma moça do seu nível social e parecida com ela, sua prima Felismina. Ricardo fica surpreso com a idéia da mãe, e utiliza o nome da prima como principal motivo que a desqualifica para o papel de sua esposa: “basta-lhe o nome; é difícil achar outro tão ridículo. Felismina!”. Para Ricardo, Felismina é o oposto de Marcela, enquanto a primeira “é um anjo”, a outra “é prosaica, tem o nariz comprido e os ombros estreitos, sem graça; os olhos parecem mortos, olhos de peixe podre, e fala arrastado. Parece da roça”. Segundo Nascentes (p.110), o nome Felismina está relacionado a feliz, assim como resulta da junção de dois outros, o primeiro um adjetivo, feliz, que é sinônimo de alegria, prazer, júbilo, contentamento e representa um sentimento humano, não
  • 8. idealizado, o segundo é mina, com variados sentidos, pode designar tanto um dispositivo de guerra, algo explosivo, capaz de abalar e fragmentar estruturas sólidas, e por outro lado, significa um local rico em minerais, jazida, ou mina d’água. Num dos recitais na casa do Dr. Viana, pai de Marcela, Ricardo é surpreendido com a notícia do noivado desta com um jovem médico e tenor baiano, Maciel, segundo ele “o diabo”. O nome Maciel, segundo Nascentes (p.183), nos diz que tem origem latina e significa tanto cortesão, pessoa de alta categoria social, homem da corte, quanto povoação de Portugal. Este “diabo” a que Ricardo se refere, pode também ser associado a serpente que da macieira convence Eva a provar o fruto proibido, deflagrando o pecado original. É também a serpente o símbolo da medicina. Este personagem mostra estar em consonância com o significado de seu nome, pois, soube cortejar Marcela adequadamente. “Não foi logo para casa; vagou uma hora ou mais, entre o desânimo e o furor, falando alto, jurando esquecê-la, desprezá-la. No dia seguinte, almoçou mal, trabalhou mal, jantou mal, e trancou-se no quarto, à noite. A consolação única eram os versos, que achava lindos. Releu-os com amor. E a musa deu-lhe a força d’alma que a aventura de domingo lhe tirara”. Refeito com ajuda da Vênus de Milo, Ricardo entrega-se novamente à paixão: Amor cura amor. Todas tiveram a mesma madrinha — Vênus! Vênus! Divina Vênus! Agora, estava enamorado de Virgínia, cujo nome para Nascentes (p.317), significa jovem não casada, virgem. Ricardo deseja “penetrar-lhe a casa”, apresenta-se como poeta ao pai da moça, um tabelião amante de fábulas: Ricardo aturou toda essa rabugice do notário, para o fim de ser admitido em casa dele — cousa fácil, porque o pai de Virgínia tinha algumas fábulas antigas e outras inéditas e poucos ouvintes do ofício, ou verdadeiramente nenhum. Ricardo não se declarou diretamente para Virgínia, mas dava-lhe “versos às escondidas”, a moça guardava, depois os lia e agradecia. Muito mimosos, dizia sempre. — Eu fui apenas secretário da musa, respondeu ele uma vez; os versos foram ditados por ela. Conhece a musa? — Não.
  • 9. — Veja no espelho. Ricardo esperava pedi-la ao pai em casamento assim que fizesse dezessete anos, mas Virgínia adoeceu “de moléstia grave”, ficando entre a vida e a morte, e foi para a casa da madrinha na Tijuca para recuperar-se. Lá, apaixona-se pelo sobrinho de sua madrinha, o bacharel Vieira, recém chegado de São Paulo. Vieira, para Nascentes (p.388), é um sobrenome de origem geográfica, ou topônimo, sob este aspecto, trata-se de um outro fidalgo, mas Vieira também designa o nome de um molusco acéfalo, cuja concha os romeiros usavam como insígnia, no chapéu3. Esta nova desilusão atordoou completamente o rapaz que quase quebrou a Vênus de Milo, jurou não fazer mais versos e acabar com mulheres e musas: “Que eram musas senão mulheres?” Nesta parte do conto, percebe-se que a partir desta desilusão amorosa, Ricardo passa a ser menos fantasioso e pautar sua vida na realidade, primeiro passo para a vida adulta. Contou à mãe sobre sua decisão, sem entrar em pormenores, e a mãe de pronto aprovou. Logo após estes acontecimentos ele fica sabendo que a sua prima se casaria. Maria dos Anjos volta à cena, pedindo ao rapaz colaboração em dinheiro para comprar um “presentinho” para a noiva. Ele atende a solicitação e pergunta para a mãe com quem Felismina irá se casar, a mãe lhe responde que será “com um moço da Estrada de Ferro”. Nosso herói, amadurecido pelas experiências, à medida que se apropria do seu desejo, toma posse também do significado do seu nome, e como um guerreiro germano, um Siegfried, lança mão de uma estratégia para conquistar Felismina. Faz amizade com o noivo, é agora um guerreiro com sentimentos, com alma, Ricardo passa a ter ciúmes da prima e não gosta que o noivo desta o chame de primo. Ele passa a sonhar com Felismina e a figura da prima passa a persegui-lo. Agora, fazendo jus ao nome, Ricardo dá continuidade ao seu plano, e parte para a conquista de sua felicidade. Aproveitando a viagem do noivo ele vai visitar Felismina todas as noites e percebe que algo nele se modifica: “os olhos falavam, os braços, as mãos, um diálogo perpétuo, não espiritual, não filosófico, um diálogo fisiológico e familiar”. É um despertar, seu poema agora está no corpo, Felismina não é mais uma imagem idealizada de mulher, ela é real. É a mina que explode e revela a Ricardo uma riqueza 3 PRIBERAM- Dicionário de língua portuguesa on-line: http://www.priberam.pt/dlpo/definir_resultados.aspx
  • 10. para além de dinheiro e títulos: “— Felismina! Exclamava ele. O nome dela há de ser a chave de ouro. Rima com divina e cristalina”. Familiaridade e pertencimento passam a fazer parte do universo de Ricardo, Felismina pode ser associada à Psique, personagem do mito grego, que a partir de sua humanidade desencadeia uma série de transformações na família olímpica, humaniza os deuses e se diviniza, Cupido deixa de ser o “filhinho da mamãe” e passa a ser responsável por sua vida. Quando ao paixonado, Ricardo: “sonhou que pegava da prima e subia com ela ao alto de um penedo, no meio do oceano”. “Viu-a sem braços. Acordando de manhã, olhou para a Vênus de Milo”: — Vênus! Vênus! divina Vênus!”. Num dos trechos do mito grego, Psique é levada para um rochedo onde pensa que se casará com um monstro, não sabe que este monstro é Cupido, que ao tentar atingi-la com sua flecha se feriu ficando perdidamente apaixonado por ela. Nesse ponto do mito começa a história do casal, quando terão que administrar a relação com Vênus, assim como perdas e ganhos além de pagar um preço pela realização amorosa. Desta vez Ricardo declara o seu amor a Felismina, que já o amava. Maria dos Anjos, sabendo que o filho desposaria a prima, pede-lhe explicações, afinal, a moça estava prometida a um outro, ela reprova a atitude do filho, e cobra que o contrato seja mantido. Ricardo lhe diz que não há explicações e os primos se casam. Ricardo “era todo para a realidade do amor”. O conto nos relata que Ricardo conservou a Vênus de Milo, apesar da modéstia de Felismina: “E tu, criança amada, tão divina. Não és cópia da Vênus celebrada. És antes seu modelo, Felismina”. “Deixou de poetar”, apesar dos protestos de seus admiradores: “Então você não faz mais versos? — Não se pode fazer tudo, respondeu Ricardo, acariciando os seus cinco filhos”. Numa metáfora percebe-se no conto o tema arquetípico da luta do herói para separar-se da grande mãe. O surgimento da individualidade implica não somente deixar a infância para trás, mas também enfrentar e combater as forças do mundo e de nós mesmos que
  • 11. são regressivas e estagnantes, Ricardo não conseguia externar seus sentimentos, essa batalha é um rito de passagem que todo jovem deve enfrentar. Este tema foi interpretado psicologicamente pelo psiquiatra suíço Carl Gustav Jung como um paradigma da diferenciação do ego do inconsciente, traduz esforços para separar a individualidade de uma pessoa de várias identificações. A primeira identificação da criança é com a mãe. O pai é figura importante para que o filho se separe de sua identificação inicial para com a mãe e para que adquira a identidade masculina. Nos ritos de iniciação das comunidades primitivas quando o jovem atinge a puberdade é separado da mãe, que ritualmente pranteia seu filho como se estivesse morto, enquanto o garoto é isolado entre os homens por meses ou anos quando passa por provações (p. 110). A sociedade moderna ocidental é pobre em ritos que propiciem a maturação psíquica dos indivíduos, assim torna-se duplamente heróico o processo de passagem para a idade adulta. Ricardo ao fim do conto, provou ser digno de seu nome, lutou e pôde tomar posse de uma grande riqueza, a sua individualidade. Jung denominou a este processo de diferenciação psicológica individuação. Este conto reflete a destreza de Machado de Assis no campo da onomástica, assim como revela que a interpretação e a análise de sua obra dificilmente se esgotarão.
  • 12. Referências Bibliográficas: 1. ASSIS, Machado de. “Vênus! Divina Vênus!” Obra Completa, vol. II. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994. 2. BRANDÃO, Junito de Souza. Mitologia Grega. Vol II. Ed. 10, Petrópolis - Rio de Janeiro. Editora Vozes: 1999. 3. BUENO, Silveira. Minidicionário da Língua Portuguesa. Ed. rev. e atual. Helena Bonito C. Pereira, Rena Signer. São Paulo: FTD:LISA, 1996. 4. CALDWELL, Helen. “O que há num nome?”. O Otelo brasileiro de Machado de Assis. Tradução: Fábio Fonseca de Melo. Rio de Janeiro: Ateliê Editorial. 2002. 5. FREITAS, Luiz Alberto Pinheiro de. “Capitolina, a que ama no lugar do outro”. Freud e machado de Assis - Uma interseção entre psicanálise e literatura. Rio de Janeiro: Editora Mauad, 2001. 6. NASCENTES, Antenor. Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa: Rio de Janeiro: São José, 1952. 7. NUPILL: Núcleo de Pesquisas em Informática, Literatura e Lingüística. http://www.cce.ufsc.br/~nupill/literatura/divinavenus.htm 8. PLATÃO. “Crátilo”. In Teeteto-Crátilo. Ed 3, Belém: EDUFPA, 2001 9. PRIBERAM- Dicionário de Língua Portuguesa On- line: http://www.priberam.pt/dlpo/definir_resultados.aspx 10. STEINBERG, Warren. Aspectos Clínicos da Terapia Junguiana. São Paulo: Cultrix. 1995.