1. “A SOBERANA VOCAÇÃO DE DEUS”
“Irmãos, quanto a mim, não julgo que o haja alcançado; mas uma coisa faço, e é que, esquecendo-me
das coisas que atrás ficam, e avançando para as que estão diante de mim, Prossigo para o alvo, pelo
prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus.” (Fp 3:13-14)
Há muitas coisas que gostaríamos que fossem apagadas do nosso passado. Existem certas lembranças amargas
que ressurgem inesperadamente com a tendência de sufocar o gozo presente e nos paralisar em nossa caminhada.
Ficar volvendo-se ao passado, “descobrindo defunto”, submetendo-se àquilo que não podemos alterar no curso de
nossa existência, é pura insensatez e causa profunda depressão e paralisia espiritual. Além disso, há também os
atalhos e desvios do caminho que se apresentam para desviar-nos das realidades espirituais, pois “a tendência das
coisas visíveis é desviar-nos das realidades invisíveis”. Outrossim, os diversos aspectos que se apresentam, tais
como: sentimentos de perda, de posse, de culpa, de angústia, etc., associando-se às frustrações passadas e os
prazeres ocos do mundo, constituem-se em tropeços para o progresso da vida cristã. “A religião de algumas
pessoas faz-me lembrar de um cavalinho de balanço, que se movimenta, mas não avança”, dizia Rowland Hill.
Porém, há um perigo destruidor se, ao invés de avançarmos para o alvo, ficarmos a mirar as derrotas e fracassos
do passado, bem como ter os nossos afetos voltados às coisas deste mundo. Somos advertidos pelo nosso Senhor
Jesus a este respeito: “Lembrai-vos da mulher de Ló”. (Lc 17:32) Não obstante Ló, sua mulher e suas duas
filhas serem advertidos pelo Senhor através de seus mensageiros para que “não olhassem para trás”, mas
fugissem para o monte a fim de não perecerem no caminho, contudo, nos é dito que “a mulher de Ló olhou
para trás e converteu-se numa estátua de sal”. (Gn 19:26) É interessante compreendermos o significado da
expressão “olhou para trás”. Esta expressão em hebraico significa literalmente “demorou-se”, indicando que os
desejos relativos à luxúria perdida eram bem mais fortes do que o interesse que a salvação gratuitamente
oferecida pelo Senhor lhe podia despertar¹. “Se você quer fugir de Deus, o diabo lhe emprestará tanto as
esporas como o cavalo.”, dizia Thomas Adams. Por isso o Senhor Jesus tomou como exemplo este fato para
advertir-nos quanto à época de sua volta. “a certeza da segunda vinda de Cristo deve tocar e impregnar cada
parte do nosso comportamento diário”, dizia John Blanchard. A igreja de Cristo aspira pela vinda do Seu
Amado. “E o Espírito e a esposa dizem: Vem. E quem ouve, diga: Vem. E quem tem sede, venha;
e quem quiser, tome de graça da água da vida.” (Ap 22:17) Alguém já disse que “a vontade do homem
é governada por aquilo que ele ama”. Precisamos considerar o que diz Cristo: “Porque onde está o teu tesouro,
ai estará também o teu coração”. (Mt 6:21) Um cristão anônimo ajuda-nos a repensar: “quanto mais do céu
desejamos, menos da terra cobiçamos”. Irmãos e irmãs, precisamos reavaliar nossa vocação cristã à luz da
Palavra de Deus. É imprescindível que atentemo-nos à carreira cristã que nos está proposta. Aqueles que não
sabem para onde estão indo, não importa qual o caminho a seguir, mas quanto aos filhos de Deus, eles foram
chamados para um alvo definido e supremo: a esquecerem as coisas que para trás ficam e avançar para as que
diante deles estão, prosseguindo para o alvo, para o prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus. Isto
não significa que jamais nos lembraremos das coisas passadas. Isto acontecerá somente quando estivermos com o
Senhor na Sua glória. “Todos os males decorrentes do pecado no mundo atual serão esquecidos no mundo
novo”. “E Deus limpará de seus olhos toda a lágrima; e não haverá mais morte, nem pranto, nem clamor,
nem dor; porque já as primeiras coisas são passadas.” (Ap 21:4) Se lermos com atenção alguns versos do
capítulo 3 da epístola aos Filipenses, nos versos 5 e 6 por exemplo, vemos o apóstolo Paulo lembrando do
passado. Ele estava lembrando de que teria motivos suficientes de gloriar-se na carne (v. 4). Surgiram as
lembranças de quando ele era religioso legalista (v.5), e até mesmo lembrou-se que outrora foi um fariseu tão
zeloso – e cego, é claro - que chegou a perseguir a igreja de Cristo (v. 6). Ele lembrou-se noutra ocasião em que
consentiu no apedrejamento e morte de Estevão. Ah! Como Paulo gostaria de esquecer de todas estas coisas! Mas
o que ele nos ensinou mais adiante (Fp 3:13-14), é que o que ele era no passado, e o que fez outroramente, não
poderiam interpor-se em tropeços em seu caminho, porque agora ele tinha um alvo supremo, um prêmio a
alcançar: “a soberana vocação de Deus em Cristo Jesus”. Ele tinha convicção de que a despeito do que ele fora e
praticara no passado, era devido exclusivamente à graça de Deus o que agora era. “Mas, pela graça de Deus, sou
o que sou...”, disse ele. (I Co 15:10ª) “A graça de Deus transforma o indigno...ela desfaz o que éramos e nos
torna o que somos”. Ao considerarmos o contexto dos versos de nossa reflexão, podemos ver que o apóstolo
Paulo estava tratando a respeito da perfeição. Vejamos os versos 12 e 15 do capítulo 3 da epístola aos Filipenses.
“Não que já a tenha alcançado, ou que seja perfeito; mas prossigo para alcançar aquilo para o
que fui também conquistado por Cristo Jesus. Por isso todos quantos já somos perfeitos,
sintamos isto mesmo; e, se sentis alguma coisa de outra maneira, também Deus vo-lo
revelará.” Conforme alguns estudiosos das Escrituras já observaram, é muito provável que houvesse um grupo
de “perfeccionistas” em Filipos, que sustentavam a perfeição quantitativa do cristão, o que Paulo desmentiu em
sua própria experiência conforme o verso 12. Então, alguém poderá questionar; porque Paulo disse no verso 15
que “todos, pois, que somos perfeitos, tenhamos este sentimento...” (?) Se fizermos a comparação deste
versículo com o mesmo versículo da tradução da NVI ², veremos uma palavra interessante; “Todos nós que
alcançamos a maturidade...”, assim expressa esta tradução. Creio que esta perfeição ou maturidade a que Paulo
referiu-se aqui, está relacionada à “soberana vocação de Deus em Cristo Jesus”, e esta é alcançada de fé em fé, de
2. glória em glória, até ao dia de Cristo Jesus. “Estou plenamente certo de que aquele que começou
boa obra em vós há de completá-la até ao dia de Cristo Jesus”. (Fp 1:6). “Deus cuida de nós,
purifica-nos e continua sua obra em nós, até levar-nos ao fim de sua promessa”. O texto de 1ª Pedro
5:10 é bem esclarecedor: “Ora, o Deus de toda a graça, que em Cristo vos chamou à sua eterna
glória, depois de terdes sofrido por um pouco, ele mesmo vos há de aperfeiçoar, firmar,
fortificar e fundamentar”. Alguém dentro deste contexto já refletiu: “os melhores cristãos que
existem entre nós são apenas cristãos em formação; de forma nenhuma são produtos acabados”. Na
verdade, em nós mesmos não somos perfeitos enquanto estivermos nesta terra, mas graças a Deus
temos a vida do Seu Filho, logo, temos nele a perfeição. A vida que agora vivemos na carne, vivemos
pela fé do Filho de Deus. “Porque nele habita corporalmente toda a plenitude da divindade; e
estais perfeitos nele, que é a cabeça de todo o principado e potestade;” (Cl 2:9-10). Já foi dito por
alguém que “o cristão perfeito é aquele que tendo consciência de seus próprios fracassos está
decidido a avançar para o alvo confiando somente na graça de Cristo”. Irmãos e irmãs, a soberana
vocação de Deus em Cristo Jesus era o prêmio que o apóstolo Paulo tanto almejava alcançar e trata-se
da conformidade à imagem do Filho de Deus. Esta também deve ser a aspiração de todo filho de Aba.
“Mas, quando aprouve a Deus, que desde o ventre de minha mãe me separou, e me chamou pela
sua graça, revelar seu Filho em mim...” (Gl 1:15-16ª) “aprouve a Deus revelar seu Filho em
mim” – não para mim, mas em mim -, esta é a soberana vocação de Deus em Cristo Jesus. Este alvo
supremo o apóstolo Paulo declarou às igrejas por onde passou. Podemos ver o que ele disse à igreja
da Galácia: “Porque em Cristo Jesus nem a circuncisão, nem a incircuncisão tem virtude
alguma, mas sim o ser uma nova criatura. Já estou crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu,
mas Cristo vive em mim; e a vida que agora vivo na carne, vivo-a na fé do Filho de Deus, o qual
me amou, e se entregou a si mesmo por mim.” (Gl 6:15,19-20ª). Vejamos também o que ele disse à
igreja de Corinto: “Assim que, se alguém está em Cristo, nova criatura é; as coisas velhas já
passaram; eis que tudo se fez novo.” (II Co 5:17). Paulo demonstrava esta aspiração não somente
com respeito a si próprio, mas desejava o mesmo pelos irmãos em geral; a igreja de Cristo. “Meus
filhinhos, por quem de novo sinto as dores de parto, até que Cristo seja formado em vós;” (Gl
4:19). Paulo estava decidido; ele não estava preocupado com sua sorte pessoal, mas regozijava-se na
esperança da glória que receberia de Deus em Cristo Jesus. “Segundo a minha intensa expectação e
esperança, de que em nada serei confundido; antes, com toda a confiança, Cristo será, tanto
agora como sempre, engrandecido no meu corpo, seja pela vida, seja pela morte. Porque para
mim o viver é Cristo, e o morrer é ganho.” (Fp 1:20-21). Observem irmãos; toda a vida de Paulo
(pensamentos, atos, atitudes, etc.) estava relacionada com Cristo que o conquistara. Irmãos e irmãs, ao
adentrarmo-nos num novo ano, que seja esta a mesma aspiração que tinha o apóstolo Paulo: “Para
mim, o viver é Cristo”. Cristãos, somos peregrinos e forasteiros neste mundo, logo estaremos no lar
que nosso SENHOR nos preparou. “Este mundo é nossa passagem, não nossa porção”, disse
Mathew Henry. E John Flavel também disse algo muito precioso: “Cristo acabou sua obra por nós?
Então não pode haver dúvidas que Ele também acabará sua obra em nós”. Isto é muito consolador
irmãos; “o que o SENHOR começou na alma ou no mundo Ele levará até ao fim” . William Gurnall
também disse: “A vida da glória de Cristo está inseparavelmente ligada à vida eterna de seus
santos”. Ó amados, a despeito de vossas aflições e adversidades da vida, “deixa que Deus ordene os
teus caminhos e espera nEle, o que quer que aconteça; nEle terás nos duros e maus dias tua
suficiente Força e direção. Quem no perene amor de Deus confia sobre a Rocha Inabalável edifica”.
“E sabemos que todas as coisas contribuem juntamente para o bem daqueles que amam a Deus,
daqueles que são chamados segundo o seu propósito. Porque os que dantes conheceu também os
predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito
entre muitos irmãos.” (Rm 8:28-29) Gostaria de concluir este estudo com a seguinte observação já
feita por alguém: “Olhar para Ele nos faz estar firmes e andar por fé. Andar pela fé que é do Filho de
Deus, e completarmos a carreira que nos está proposta: “Olhando firmemente para o Autor e
Consumador da fé, Jesus...”(Hb 12:2) Amém.
( NOTAS ) 1 “CONFORME COMENTÁRIO BÍBLICO VIDA NOVA”
2 NVI “BÍBLIA NOVA VERSÃO INTERNACIONAL”
Levi Cândido
Barueri, 11 de Janeiro de 2008