1. euclides da Cunha, a amazônia e a barbárie
Jaime Ginzburg
a escala do seu enigma. Pensar o Bra-
imensidão da amazônia nos dá a está abandonada à corrupção, à econo-
mia imediatista e à irresponsabilidade.
sil a partir do ponto de vista da amazônia nesse sentido, o fato de ser disponibi-
é um desafio de reflexão exigente. o es- lizado um dossiê, como base de promo-
tado atual do debate sobre o assunto in- ção de um debate, em termos rigorosos
clui perspectivas sombrias de impotência, e interdisciplinares, é um fato raro a ser
para as quais as forças econômicas preda- considerado como gesto de intervenção,
tórias mais condenáveis controlam gran- contrário, em si mesmo, à apatia inerte
de parte da região. os problemas não se que se omite perante o desmatamento e
restringem à ordem política: no campo o imediatismo.
intelectual e acadêmico, a precariedade o extenso espaço geográfico da ama-
e escassez de recursos e dados para lidar zônia faz parte, de modo fundamental,
com questões referentes à experiência da experiência histórica e política brasi-
amazônica, em diversas disciplinas, é um leira. no entanto, estamos longe de com-
fenômeno histórico que merece atenção. preender com clareza como esse espaço
em 2005, em iniciativa importante, se constituiu ao longo de séculos, como
a revista Estudos Avançados publicou, esse presente medonho do desmatamen-
em seus números 53 e 54, estudos vol- to se relaciona com um passado muito
tados para a amazônia, incluindo pes- complexo, ou ainda, de que modos as
quisas de diversas disciplinas, ocupadas contradições sociais vividas concreta-
com questões prioritárias e estratégicas, mente por quem olha o Brasil a partir
como desmatamento, sustentabilidade e do sudeste ou do sul se relacionam com
ecossistemas. uma das principais linhas o contexto amazônico. Cabe interrogar
de reflexão no dossiê era a exigência de como a atual instável difusão midiática
considerar a presença histórica de forças de estereótipos ecológicos sobre a região
destrutivas no espaço amazônico. no se vincula com idealizações oitocentistas
artigo de Ferreira, venticinque e almei- fantasiosas a respeito de sua paisagem.
da, que integra o n.53 da revista, por as dificuldades de conferir ao debate
exemplo, tabelas e gráficos contribuem sobre a amazônia no Brasil a merecida
para a argumentação de que a escala de consistência estão ligadas a um proces-
ocupação predatória exige uma reação. so de amnésia histórica. Muito pouco
o trabalho de Philip Fearnside, por sua se sabe, no campo acadêmico brasileiro,
vez, é enfático em sua indignação com sobre como a experiência amazônica se
a escala do desmatamento, e avalia seu constitui em termos históricos e cultu-
impacto ambiental de modo tão meticu- rais. a tradição de incerteza é descon-
loso quanto alarmante. certante. o momento presente é ainda
a leitura de alguns artigos reunidos caracterizado pela precariedade de con-
pela revista sugere que a amazônia, em dições de compreensão das relações en-
larga medida – com exceção de esforços tre a vida intelectual do país e o espaço
isolados, episódicos ou individuais –, dessa região.
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2. a área de Letras guarda uma relação historiográfico e inserção canônica. en-
peculiar, entre as disciplinas do conheci- tão cabe interrogar se o problema proce-
mento, com a memória coletiva. Perce- de. Isto é, faz sentido falar em relações
bida a amnésia histórica e seu efeito ca- entre literatura e amazônia?
tastrófico, cabe observar que o interesse a pergunta é respondida de modo
de escritores pela região construiu uma pleno e afirmativo com a publicação do
base para um debate sólido sobre a in- livro A vingança da Hileia. Euclides da
serção da amazônia na cultura brasileira. Cunha, a Amazônia e a literatura mo-
Para além do interesse dos escritores, é derna, de Francisco Foot Hardman.
necessário o movimento do pesquisador dentro do livro, há três ensaios que
de historiografia e crítica, cuja dedica- podemos caracterizar como historiográ-
ção, pautada tanto pelo repertório largo ficos. “a amazônia como voragem da
como pela leitura particularizada, seja história: impasses de uma representação
capaz de sistematizar a presença da ama- literária” abre o livro cumprindo a tare-
zônia em obras literárias, de tal modo fa difícil e de alta relevância pedagógica
que entre em choque com o conserva- de sistematizar uma relação de escritores
dorismo político que governa a amnésia que se dedicaram a abordar elementos
e a destruição que atingem o espaço. da amazônia, e discute com a devida
os artigos da revista mencionada in- propriedade como suas contribuições
dicam a necessidade de uma contínua têm propriedades formais específicas.
e vigorosa pesquisa na amazônia, em “antigos modernistas” sistematiza estu-
campos de conhecimento como a bio- dos de escritores da passagem do século
logia, a geografia, a química, a medicina, XIX ao XX, examinando como naquele
as relações internacionais, a antropolo- momento se coloca o exigente proble-
gia, tendo em vista prioridades associa- ma da interpretação do Brasil. “espec-
das ao presente, e insuficiências graves tros da nação: figuras deslocadas entre
na capacidade da sociedade brasileira em saudades e soledades”, o mais desafiador
lidar com o espaço amazônico. como construção da forma de ensaio
É insuficiente também o conheci- dentro do volume, trabalha com a figura
mento da amazônia em alguns campos do deslocamento, para articular proble-
de ciências humanas. Há muito a ser fei- mas decisivos da literatura brasileira, in-
to por historiadores, cientistas políticos cluindo em seu movimento Machado de
e sociólogos da cultura. a insuficiência assis, Lima Barreto, Mário de andrade,
é abismal quando se refere ao campo oswald de andrade, euclides da Cunha
das Letras. embora escritores já tenham e Guimarães Rosa.
se comprometido com o interesse pelo o livro se equilibra entre um mo-
espaço amazônico, a lacuna de uma in- vimento de focalização em dois objetos
vestigação ampla e sistemática sobre as de investigação centrais e uma abertura
relações entre a amazônia e as Letras é para a reflexão ampla sobre o Brasil e a
decisiva. américa Latina. os objetos de investi-
trata-se de uma lacuna que nada tem gação, referidos no subtítulo da obra,
de casual, e que merece explicação crítica são euclides da Cunha e a amazônia.
e historiográfica. outras regiões do país o pesquisador já tinha enfrentado lar-
obtiveram há muitas décadas prestígio ga pesquisa sobre a região em seu tra-
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3. balho Trem-fantasma, e já naquele li- encontrar em poemas euclidianos ecos
vro euclides da Cunha aparecia, como de Álvares de azevedo, Gonçalves dias,
o engenheiro que fazia planos com seus Fagundes varela. Porém, como expli-
escritos amazônicos, com um projeto de cam os organizadores, seria inadequado
civilização. restringir euclides a uma “filiação estéti-
o livro se caracteriza como um vo- ca unívoca”, pois nele há “tensão entre
lume de crítica literária, centrado em várias afinidades” (p.42).
uma reflexão sobre diversos elementos o poema “Página vazia”, de 1897,
da produção de euclides da Cunha, em formula a problemática – própria para a
que cabe destacar a presença de obser- poesia moderna – de uma relação difícil
vações sobre poemas do autor. Pouco entre a guerra e a linguagem poética:
divulgada, a produção poética do au-
Quem volta da região assustadora
tor recebeu de Leopoldo M. Bernucci e
de onde eu venho, revendo inda na mente
Francisco Foot Hardman a organização
Muitas cenas do drama comovente
de uma edição cuidadosa, Poesia reunida
da Guerra despiedada e aterradora,
(são Paulo: ed. unesp, 2009). a edição
inclui importantes observações, comen-
Certo não pode ter uma sonora
tários críticos e notas sobre fontes.
estrofe, ou canto ou ditirambo ardente,
a dedicação de Hardman ao lança- Que possa figurar dignamente
mento, em um mesmo ano, de dois vo- em vosso Álbum gentil, minha senhora.
lumes voltados para euclides da Cunha, é
uma situação rara no ambiente intelectual e quando, com fidalga gentileza,
e editorial brasileiro. embora euclides Cedestes-me esta página, a nobreza
seja um autor reconhecido, seu estudo é da vossa alma iludiu-vos, não previstes
direcionado em geral ao conhecimento Que mais tarde nesta folha lesse
particularizado de Os sertões. no excelente Perguntaria: “Que autor é esse
ensaio “Brutalidade antiga: sobre história de uns versos tão mal feitos e tão tristes”?!
e ruína em euclides”, Hardman mostra (p.276)
conexões em geral pouco perceptíveis en-
tre textos de diferentes gêneros escritos entre a relação de delicadeza estabe-
pelo autor, incluindo poemas. Isso permi- lecida com a interlocutora e a imagem
te a inserção de Os sertões em um contexto “aterradora” do que foi vivido no passa-
de elaboração ampla de temas e questões, do, o sujeito lírico revê “na mente mui-
por parte de euclides, o que beneficia e tas cenas”, indicação do efeito perturba-
qualifica a interpretação de sua obra. dor do que vivenciou. o final do poema
os leitores de poesia que apreciam apresenta uma questão provocadora: a
comparações e analogias vão se interes- autoria de versos tão malfeitos, versos
sar muito pela Poesia reunida. euclides sobre a guerra. Conotativamente, o po-
da Cunha era muito culto, minucioso ema aponta para o problema das causas
e ponderado. Por exemplo, a leitura da guerra, das origens da destruição.
de Cenas da escravidão, de 1884, pode no ensaio “os sertões como poética
agradar admiradores de Castro alves: das ruínas”, sétimo capítulo de A vingan-
“Rasga as sombras da desgraça” (p.187). ça da Hileia, Hardman relaciona o poema
Interessados pelo romantismo poderão “Página vazia” com as imagens do final
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4. de “a luta”, considerando, com razão, reflexões de modo fluente. Isso ocorre
que, nesse poema escrito após o retorno por necessidade interna da atividade de
de Canudos, euclides prefigura “a visão pesquisa e pelos objetos escolhidos, e
distópica daquele conflito” (p.136). Hardman lança mão de repertório raro
o trabalho de Hardman se move de no andamento dos argumentos.
modo determinado contra o esqueci- trata-se de uma perspectiva para a
mento, contra a amnésia política, social qual as relações entre literatura e ama-
e cultural. É assim que podemos enten- zônia são relevantes historicamente, e
der o interesse pela amazônia, como o livro tem o discernimento de assumir
confronto pela sua constante exclusão uma posição muito firme com relação
do debate, no campo das questões con- à passagem do tempo. observamos no
sideradas prioritárias na cultura brasilei- livro manifestações de indignação com
ra, por parte do universo acadêmico; e o o passado recente e o presente. Por
interesse pelos poemas de euclides, tão exemplo, nas referências ao massacre do
pouco estudados e divulgados, consoli- Carandiru, aos meninos da Candelária,
dando sua integração à produção de um ao eldorado dos Carajás, aos sem-terra
intelectual consagrado mas não suficien- e sem-teto. e na referência a Galdino
temente compreendido. Pataxó Hã-Hã-Hãe, e seus “assassinos
o duplo movimento do pesquisador civilizados” (p.148). Isso significa que
se faz rumo a um espaço geopolítico, Hardman está interessado pela necessi-
que inclui a chamada região da Hileia, dade de articulação recíproca entre co-
e a um período de tempo, que inclui a nhecimentos do passado e conhecimen-
virada do século XIX para o XX. no en- tos do presente. de fato, o efeito final de
tanto, não se detém nessas marcações. leitura de A vingança da Hileia inclui a
Move-se, entre o passado colonial e o proposição de muitas interrogações re-
presente imediato, entre os extremos das novadoras de interpretação da sociedade
fronteiras e os confinamentos sem saída. brasileira. em que medida haveria algo
e com Hardman, a partir de euclides, nas forças aterradoras de Canudos que
“verificamos que vários espaços-tempos persiste na violência recente adotada no
se entrechocam na cena contemporânea Carandiru e na Candelária?
dessa modernidade de fronteira” (p.79), Provavelmente, um dado fundamen-
exigindo para a reflexão sobre o Brasil tal da perspectiva crítica do livro é a sua
ponderações sobre as concepções habi- negatividade constitutiva. suas categorias
tuais de espaço e tempo, ultrapassando mais constantes são ligadas a destruição
ranços e saturações conceituais. e descentramento: ruína, deslocamento,
Como mencionei anteriormente, A impasse, descrença, limite, além das refe-
vingança da Hileia se caracteriza como rências constantes à violência histórica.
um volume de crítica literária. sobre a a escolha da atitude metodológica é
perspectiva crítica que adota, é possível oportuna, não há aqui uma teoria unifi-
traçar alguns comentários. É uma pers- cada a ser imposta ou aplicada mecanica-
pectiva francamente interdisciplinar, em mente, pelo contrário, a reflexão se abre
que conhecimentos de história social, de modo apropriado à conceituação de
história intelectual, política econômi- acordo com as exigências dos objetos em
ca, geopolítica e filosofia impregnam as discussão. a ampla e erudita fundamen-
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5. que categorias negativas – apocalipse,
tragédia, violência, deslocamento, ruína
– estabelecem fios condutores da refle-
xão. a ênfase interpretativa, inteiramente
consistente com uma leitura competente
de Os sertões, é encontrar imagens de ca-
tástrofe em diversas produções literárias.
a sustentação dessa ênfase está no prin-
cípio de que “verifica-se que a barbárie
é aspecto constitutivo inerente à vida
civilizada moderna. Barbárie civilizada
(pelas leis e aparelhos policial-militares
do estado) é o que se tem como práti-
ca cotidiana e secular” (p.144). Isto é, a
HARDMAN, Francisco Foot. A vingança da
violência tem um papel não casual ou in-
Hileia. Euclides da Cunha, a Amazônia e a cidental, mas constitutivo dos processos
literatura moderna. São Paulo: históricos e sociais em pauta.
Editora Unesp, 2009. Com Francisco Foot Hardman, a
crítica de euclides da Cunha chega à
maturidade. o pesquisador consegue
tação bibliográfica inclui críticos com compreender e descrever com clareza a
que Hardman tem evidentes afinidades complexidade, diversidade interna e tam-
eletivas, e que beneficiaram a construção bém as linhas de continuidade fundamen-
tanto do vocabulário como da argumen- tais na produção do escritor. a estratégia
tação: Roberto vecchi, Idelber avelar, de unir a reflexão sobre euclides com um
ettore Finazzi-agró, Giorgio agamben questionamento sobre o significado da
e, antes, Walter Benjamin, responsável amazônia foi muito acertada. Quando
por formulações originais sobre história, Hardman descreve o estranhamento que
ruína e catástrofe. euclides vivencia em sua experiência no
a partir de Benjamin desenvolvo a espaço amazônico – ponto que já havia
ideia de que o livro de Hardman tem em proposto em Trem-fantasma –, sinaliza,
sua perspectiva um componente melan- em fragmento, um estranhamento que
cólico. Há ali muitas perdas não supe- impregna a relação da amazônia com
radas. não por acaso, vale lembrar, no o Brasil, a ambiguidade de sua inserção,
livro Trem-fantasma, Hardman descre- sua enormidade impactante, suas preca-
ve o escritor Manoel Rodrigues Ferreira riedades, sua constituição com tensões.
como um historiador da melancolia, um ao mesmo tempo, apresenta a percepção
sujeito que revisita ruínas de cemitério, inteligente e inquieta com que, em diver-
lê atestados de óbito, e nesses momentos sos gêneros textuais e adotando variados
encontra pequenos detalhes que podem procedimentos formais, euclides elabo-
constituir achados históricos. raria imagens críticas e perturbadoras de
Creio haver em A vingança da Hileia seu tempo.
um movimento similar ao que Hardman o livro libertou o escritor de ser re-
atribui a Rodrigues Ferreira, uma vez duzido por hábitos críticos classifica-
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6. tórios a que estávamos acostumados, e a mistificação da unidade nacional
recuperou com rigor e precisão inéditos configura o apagamento da violência,
relações de euclides com o contexto his- elimina diferenciações, simula homoge-
tórico, principalmente com um contexto neidades e manipula a memória coletiva.
que no campo da crítica literária é ainda Contra a unidade forçada, a interpreta-
muito pouco trabalhado, o amazônico. ção propõe a leitura textual de inspiração
o encontro do estudo de euclides da benjaminiana, que admite o fragmento
Cunha com leituras de Roberto vecchi e como força histórica de teor crítico.
Walter Benjamin permite dar visibilidade em lealdade às teses sobre história de
às imagens de ruína em diversos textos Benjamin, que refletem sobre catástrofe
do escritor. Hardman explica: histórica, Hardman avalia o trabalho de
na obra de euclides localizam-se vá- euclides da Cunha examinando o pro-
rios traços dessa unidade dramática blema de como narrar o massacre. For-
em que o tema da ruína – eterno re- mula o impasse rigorosamente: “Como
torno da natureza caótica e violenta escrever essa história, como representar a
sobre o tempo histórico dos empre- catástrofe sem apagá-la? [...] Mas o nar-
endimentos civilizados da humanida- rador não a transcreve. este é o seu limi-
de – aponta, assim, para a condenação te” (p.137). assim como não cabe uma
desses últimos ao jogo tumultuário e totalização da cultura brasileira, que re-
bruto dos elementos, ao choque ba-
presentaria uma unidade homogênea au-
bélico entre culturas descompassadas
toritária, não cabe uma narrativa totaliza-
em suas paisagens e épocas e ao enca-
dear trágico de fracassos e incomple- dora de Canudos, que poderia amenizar
tudes. (p.115) o impacto catastrófico do que ocorreu. É
no caráter problemático da narração que
essa poética das ruínas se coloca con-
se observa a desmedida na relação entre
tra a totalização estética. nesse sentido,
a linguagem e a experiência.
um problema fundamental enfrentado,
assim como Canudos tem um com-
para uma crítica estética e política de
ponente aterrador, também a amazônia
imagens do Brasil, é a análise de imagens
tem algo de excessivo, de desmedido.
unificadoras, mitos de unidade nacional.
Hardman comenta em euclides “o terror
Cito o autor: “na construção de uma
sublime diante da grande massa de água e
cultura brasileira unitária, apagam-se ras-
vegetação” (p.67). a natureza hiperbóli-
tros da violência sob forma de massacre,
ca, diante da qual os hábitos de percepção
batismo silenciador ou incorporação dos
e a linguagem coloquial parecem peque-
tiranos ancestrais da sujeição voluntária”
nos, convida a pensar o Brasil, de modos
(p.140). Mais adiante, dentro da mesma
imprevisíveis. Para Hardman, “a amazô-
linha de reflexão:
nia [...] ficaria como fantasma na história
unificações forçadas e unidades inte- do Brasil civilizado, assim como fantas-
ressadas contra as diferenças sociocul- mal na memória de euclides” (p.80).
turais e contra restos e rastros a serem
eliminados da memória, ou então, a
serem cristalizados como figurações de Jaime Ginzburg é professor do departa-
um passado já suplantado, ficam fora do mento de Letras Clássicas e vernáculas da
grande arcabouço de uma coletividade FFLCH-usP e pesquisador do CnPq.
de destinos superpostos... (p.307) @ – ginzburg@usp.br
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