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A literatura, como manifestação artística, tem por finalidade recriar
a realidade a partir da visão de determinado autor (o artista), com base em
seus sentimentos, seus pontos de vista e suas técnicas narrativas.
A literatura nacional é marcada por romances que reproduzem imagens his-
tóricas brasileiras em seus diferentes aspectos e situações, como também
reconstituem os espaços geográficos. No caso específico do Rio Grande do
Sul, a relação com a história e a geografia se apresenta como um projeto
contínuo da ficção.
	 O Rio grande do Sul apareceu, pela primeira vez, em 1534, no mapa
de Gaspar de Viegas, o território, porém, permaneceria inexplorado durante
quase dois séculos. Caberia aos padres jesuítas, portugueses e espanhóis,
em distintas formas de ocupação, lançarem o fundamento básico para a
ocupação: a pecuária, cuja criação e comercialização tornaram-se motivo
para o aproveitamento da região. A fundação oficial aconteceria em 1737,
com a chegada da expedição militar do brigadeiro José da silva Pais, cons-
truindo-se a fortaleza Jesus-Maria-José, que garantiria o comércio de gado e
o contrabando de mercadorias espanholas transportadas pelo rio da Prata.
A definição dos limites territoriais entre portugueses e espanhóis não existia,
além disso, a distância do centro do país determinava a falta de tudo: re-
médios, igrejas, distrações, fatores que exigiam o imediato povoamento do
território.
	 A efetiva ocupação do território e a consolidação da independência
política de Argentina, Brasil e Uruguai asseguraram a paz externa, mas a pro-
víncia seria abalada pela guerra dos Farrapos que defendia o sistema re-
publicano, o fim da escravidão e pretendia a independência em relação ao
Império do Brasil. Iniciado em 1835, o movimento revolucionário estendeu-se
até 1845, com a assinatura da paz de ponche Verde, mediada por Caxias.
	 Face ao modo de ocupação, à distância do centro do país, ao analfa-
betismo, à ausência de editoras e livrarias, a literatura culta demorou a fixar-
-se no sul do país. A instalação de impressos no RS propiciou não somente
o desenvolvimento do jornalismo, mas o crescimento da literatura em geral,
através da divulgação das letras em forma de livros.
	 O ponto inicial da literatura gaúcha ficaria sob responsabilidade de
Delfina Benigna da Cunha, com a publicação do primeiro livro rio-grandense,
Poesias oferecidas às senhoras rio-grandenses, em 1834,no qual apresenta
temáticas ligadas ao sofrimento e à amargura com relação à vida, estilo que
o faz estabelecer uma ótica comparativa entre a poetisa de São José do Nor-
te e a francesa Desbordes Valmore.
	 As primeiras manifestações literárias do Rio Grande do Sul obede-
ceram à forma métrica. Numa época em que inexistiam editoras de livros,
um soneto podia se tornar público
por meio da declamação ou apare-
cer num rodapé de jornal. Por outro
lado, a poesia se alimentou também
da contribuição oral: cultivou-se a
familiaridade com o cancioneiro po-
pular, que se propagou enquanto se
mantiveram vivos a cultura rural de
onde proveio e os laços com a pro-
dução trovadoresca do Prata.
	 O início da literatura sul-rio-
-grandense ligou-se a esses mo-
tivos, contribuindo pela opção do
verso. A temática relacionou-se à
valorização do mundo gauchesco,
fundindo elementos de procedência
popular e da ideologia dos senhores
da terra e do gado. Essas manifesta-
ções pioneiras aconteceram à épo-
ca da Revolução Farroupilha
	 O movimento encontrou eco
nos setores do meio intelectual que
continuou explorar a veia gauchesca, firmando uma temática regional, com
participação da classe dominante, deu-se o nascimento das instituições lite-
rárias do sul. Conciliando a temática local, estimulada pelo ambiente revo-
lucionário e a influência poética do Romantismo Brasileiro, consolida-se a
literatura em versos no RS.
	 A partir da segunda metade do século XIX, a atuação do Rio Gran-
de em alguns conflitos
armados que ameaça-
vam a soberania brasi-
leira teria feito com que
o Estado passasse da
condição de rebelde à
de defensor do território
comum. Em 1851 o es-
tado teve de pegar em
armas contra Rosas, o
tirano de Buenos Aires,
e treze anos depois par-
LITERATURA NO RIO GRANDE DO SUL
“Parte 1”
Este caderno é
parte integrante do
informativo
Eco da Tradição
Nº 139
Março de 2013
O caderno Piá 21 é publicado mensalmente junto ao jornal Eco da Tradição, sob a responsabilidade da Vice-Presidente de Cultura do MTG - Neusa Marli Bonna Secchi
A produção e aplicação pedagógica do Caderno
Piá 21 é responsabilidade da
Profª Maria Arita Madruga Garcia
Graduada em Matemática pela
Universidade Católica de Pelotas
Mestre em Meteorologia pela
Universidade Federal de Pelotas
Professora da rede estadual de ensino
2
tia constrangido para a Guerra do Paraguai (1864-1870), situação tida como
fundamental para construir na sociedade gaúcha um sentimento de inte-
gração com relação ao cenário nacional. Na ordem cultural, mercê de tan-
tos estímulos e experiências dolorosas, mas sempre fecundos – apurou-se
o sentimento das peculiaridades brasileiras, o amor das tradições pátrias.
Dessa forma, à medida que esse sentimento de exclusão cede espaço ao
entendimento de que a região configura uma parte importante da unidade
nacional, começa a ocorrer uma maior identificação entre a intelectualidade
rio-grandense e os valores artísticos do centro do País, situação tida como
fundamental para que a produção local pudesse se engajar, ainda que tar-
diamente, na proposta do movimento romântico brasileiro de comprovar a
auto-suficiência cultural da Nação através da valorização de aspectos mais
característicos.
	 A fixação do ideário romântico no Rio Grande não seria possível sem
a contribuição da Sociedade Partenon Literário, fundada em 18 de junho de
1868. Reconhecida pela surpreendente atuação no âmbito provincial, quer
pelo que realizou como entidade de fins culturais, quer pelo que fizeram in-
dividualmente os seus agremiados, a instituição inaugura uma nova etapa
da vida mental gaúcha, uma vez que estimula e passa a centralizar debates
em torno da situação social, política e cultural do Rio Grande: Seus genero-
sos mentores quiseram-na espraiada a todos os domínios da inteligência,
orientando letras e artes, mitigando injustiças sociais, apontando rumos à
organização política.
	 Dentre os diversos campos de atuação, os integrantes dessa agre-
miação, em geral jovens pensadores motivados pelas ideias liberais em voga
na sua época, empenhavam-se ativamente em prol de causas humanitárias
como a campanha abolicionista e a divulgação da propaganda republicana,
assunto amplamente discutido através de publicações e reuniões regulares.
No entanto, mesmo que reconheça essas diferentes contribuições em âmbi-
to social, o historiador evidencia que seu foco limita-se à análise das efetivas
contribuições da instituição para o desenvolvimento da vida literária sulina.
	 O principal instrumento da agremiação para o desenvolvimento de
suas ideias foi a Revista Mensal do Partenon Literário, mantida de março
de 1869 a setembro de 1879, apesar de algumas interrupções. Dando con-
tinuidade à tarefa iniciada pelos predecessores O Guaíba (1856) e Arcádia
(1867), o periódico não só amplia o campo de atuação da imprensa literária
sulina, como passa a promover a descentralização e unificação da literatura
gaúcha, na medida em que sua circulação atinge as diversas localidades da
Província. Mais do que promover a divulgação de autores e obras, publican-
do contos, romances, poesias e demais produções daqueles que, ao longo
dos anos, firmar-se-iam como os grandes mentores intelectuais do Estado,
a ampla divulgação da revista estimula a constituição de um público leitor
fiel e atuante, formado tanto pelos colaboradores e membros da própria ins-
tituição, como pelos idealizadores de outros grupos e veículos de imprensa
que se formaram a partir de sua influência, como é o caso do periódico Mur-
múrios do Guaíba (1870) que, surgido a partir de dissidências entre alguns
membros do Partenon, foi de fundamental importância na tarefa de difundir
e sedimentar o ideário romântico no Rio Grande do Sul.
	 Um dos grandes nomes
dessa geração foi Apolinário Porto
Alegre. Sua estreia literária ocorre
nas páginas da Revista Mensal, em
1869, com a publicação dos primei-
ros capítulos do romance histórico
Os Palmares, narrativa que toma
por tema a resistência de um qui-
lombo do Norte do país às investi-
das armadas dos brancos, sendo
considerada como “uma obra de
pura imaginação, cujos cenários
lhe eram completamente estranhos.
Após esse início que se caracteri-
za justamente pelo distanciamento
quanto aos assuntos do Rio Grande,
Apolinário publicaria nesse mesmo
periódico o conto Mandinga, uma
história de encantamento, passada
nos arredores do Morro de Sant’Ana,
recanto porto-alegrense que lhe era
familiar.
	 A partir de julho de 1872 surgiria no periódico do Partenon a nar-
rativa O Vaqueano, que resgata através da figura do protagonista José de
Avençal a imagem do campeiro gaúcho dos primeiros tempos, e que teria
por maior mérito a fidelidade de seu autor no retratar a fisionomia moral do
homem rio-grandense. Destacando como valor a ficcionalização dos hábitos
e costumes das populações campeiras, o historiador afirma que essa obra
acabaria revelando um escritor muito atento à pesquisa acerca dos aspectos
mais característicos da cultura gaúcha, principalmente no que se refere à
recuperação de formas dialetais e elementos típicos da oralidade regional.
	 A obra de Bernardo Taveira Júnior também é considerada parte im-
portante do Romantismo rio-grandense. A permanência do escritor rio-gran-
dino nos cânones literários gaúchos se deve à publicação de Provincianas,
em 1886. Tomando por tema os costumes e tradições das populações do
Sul, as dezoito poesias do livro enfocam o cotidiano campeiro, revivendo o
mito do Monarca das Coxilhas na medida em que reapresenta o “guasca
largado” identificado como seu trabalho, o seu destino e seus folguedos.
	 Ainda que não seja o iniciador
da vertente regional nas letras do
Sul, Múcio Teixeira é reconhecido
como um dos grandes escritores
rio-grandenses, tendo se dedicado
à escrita dos diferentes gêneros e
estilos literários. Múcio Teixeira, so-
bretudo poeta, produziu teatro de
boa qualidade literária, como em O
Filho do Banqueiro, Tempestades
Morais, Montalvo, Álvaro, O Farra-
po, A Virtude no Crime. Sua estreia
literária se dá pelas páginas da Re-
vista Mensal, onde divulga os pri-
meiros poemas de Vozes trêmulas,
lançados em livro em 1873.
	 As primeiras manifestações re-
gionalistas na prosa coincidem com
o romance brasileiro e relaciona-
-se com o nativismo. Após anos de
1870 cessada a Guerra do Paraguai,
o Regionalismo tornou-se projeto li-
terário dominante do Brasil.
	 Na prosa de ficção, a inclina-
ção localista já ocorre em “O Corsário”, iniciador do Regionalismo brasileiro.
Alguns retornam no drama de César de Lacerda “O monarca das coxilhas”
comédia escrita no RS, mas publicada em Recife, no ano de 1867.
	 Ao publicar a Divina Pastora, em 1847, o escritor Caldre e Fião man-
tinha acesa a chama do seu amor pelo Rio Grande do Sul. Ele delineia o
contexto das aventuras narradas: entre a vila de São Leopoldo e a cidade
de Porto Alegre, passando por Viamão para cruzar o passo da Cavalhada no
rumo de Belém Velho.
	 Caldre e Fião apresentou,
em 1847, a sua “novela rio-gran-
dense”. A intriga está centralizada
em Édélia ( a divina pastora), don-
zela belíssima e virtuosa, apaixo-
nada por seu primo Almênio, bravo
guerreiro farroupilha que, irá casar
com Clarinda, filha de imigrantes
alemães no Vale dos Sinos. Ator-
mentando a vida de todos, aparece
Francisco, protótipo do vilão. É pre-
ciso entender que Caldre e Fião per-
tence a uma tradição que em seus
dias, já lançara raízes profundas na
literatura ocidental – a tradição do
“folhetim”. Foi assim que o romance
moderno, gênero burguês por exce-
lência, se estabeleceu através das
páginas dos jornais europeus. Tra-
tava-se de narrar uma sequência de
aventuras em sucessão episódica,
cuja leitura podia ser feita capítulo a capítulo, independentemente do resul-
tado final. Via de regra, cada episódio correspondia a um “ rodapé “ do jornal
em que o romance era publicado.
	 O que importa é registrar o ingresso do “gaúcho” na ficção brasileira,
em 1847 pela mão de Caldre e Fião. O bravo Almênio, protagonista de A Divi-
na Pastora surge como o antecedente de Blau Nunes, Cambarás e Amarais.
Embora constituindo a crônica do amor contrariado, Caldre e Fião projeta a
narrativa num contexto histórico real: a “Grande Revolução”, que deflagrada
em 1835, só concluirá na década seguinte em 1845,apenas dois anos antes
da publicação da Divina Pastora.
	 O Regionalismo, no Rio Grande do Sul, abrange, pois, um largo pe-
ríodo, cobre quase todo século XIX, mas também até os primeiros anos do
Modernismo. Surgem com força renovada: Aureliano de Figueiredo Pinto,
Cyro Martins, Ivan Pedro de Martins.
	 A temática gauchesca predomina a obra ficcional, que privilegia o
3
relato, o conto, o caso e a lendas. João Simões Lopes Neto
foi autor das narrativas Contos Gauchescos, Lendas do Sul e
Causos do Romualdo, compilou o Cancioneiro Guasca. Sua
fonte de inspiração foi o folclore, imprimindo riqueza poética
a linguagem do cancioneiro popular e densidade humana
ao tipo s regionais.
	 João Cezim-
bra Jacques faz
pesquisas de fol-
clore e escreve dois
livros sobre usos e
costumes: Ensaios
sobre os costumes
do Rio Grande do
Sul e Assuntos do
Rio Grande do Sul.
	 A ficção de Al-
cides Maya, roman-
cista gaúcho, um
dos primeiros rio-
-grandenses a obter
reconhecimento na-
cional de sua obra,
inclusive integrando
na Academia Brasi-
leira de Letras: “Ru-
ínas Vivas” (1910),
“Tapera” (1911) re-
flete um gaúcho
saudoso perdendo suas características tradicionais, num cli-
ma de epitáfio.
	 Ramiro For-
tes de Barcellos
(1851-1916) médi-
co, político, redator
do Jornal “A Fede-
ração” escreveu o
poemeto “Antonio
Chimango” sob o
pseudônimo de
“Amaro Juvenal”.
Atividades:
- Fazer seminários;
- Realizar debates literários;
- Organizar concursos de de-
senhos;
- Promover gincanas culturais
de conhecimentos sobre as
obras citadas;
BIBLIOGRAFIA
BAUMGARTEN, Carlos Alexandre. Literatura e
crítica na imprensa do Rio Grande do Sul: 1868 a
1880. Porto Alegre: EST, 1982.
CESAR, Guilhermino. História da Literatura no
Rio Grande do Sul. POA, 1956.
POSENATO, José Clemento. O regional e o uni-
versal na Literatura Gaúcha. POA.
ZIBERMAN, Regina, A literatura no Rio Grande
do Sul. Mercado Aberto
ZILBERMAN, Regina & MOREIRA, Maria Eunice.
O berço do cânone. Porto Alegre: Mercado Aber-
to, 1998.
	 Parabenizamos as autoras que tive-
ram a brilhante ideia de trazer o tema SAÚ-
DE para ser refletido, trabalhado n o trans-
correr do ano pelos tradicionalistas.
SAÚDE é um termo complexo e ao mesmo
tempo abrangente, envolve tanto o aspecto
psíquico, físico, social e espiritual.
	 O conceito de SAÚDE tem mudado
radicalmente nos últimos anos. Antigamen-
te SAÚDE significava apenas a ausência de
doenças, mas logo se percebeu que não
apresentar qualquer doença física aparente
não significava ter saúde. Gradativamente,
esse conceito foi se expandindo e incor-
porando as dimensões física, emocional,
mental, social e espiritual do ser humano.
	 Assim, o conceito de SAÚDE tor-
nou-se muito mais complexo e relaciona-
do com as várias dimensões que se fazem
parte do ser humano.
Nos dias de hoje é difícil conservar os mes-
mos níveis de saúde ao longo dos dias.
Cada momento, em função das coisas que
estamos vivendo, das demandas que esta-
mos enfrentando, a nossa saúde e o bem-
-estar são afetados.
	 A vida nos leva a um desafio de
buscar mais uma vez o equilíbrio orgânico,
mental, emocional e espiritual. São como
ciclos que se repetem e se sucedem.
	 A “qualidade de vida” é o método
usado para medir as condições de vida de
um ser humano que envolva o bem espiri-
tual, físico, psicológico; do relacionamento
social com a família e amigos, mas tam-
bém envolve saúde, educação, poder de
compra, habitação, saneamento básico e
outras circunstâncias da vida.
	 A qualidade de vida e saúde envol-
ve hábitos saudáveis e a melhor forma de
obtê-la é de se evitar as principais causas
da morte no mundo inteiro. As chamadas
“Doenças Crônicas não Transmissíveis”
(DCNT) são as doenças cardiovasculares,
cânceres, diabetes, obesidade, doenças
respiratórias, crônicas, depressão e esqui-
zofrenia.
Os principais fatores de risco conhecidos
para o desenvolvimento de DCNT desta-
cam-se: hábito alimentar, atividades físicas,
fumo, obesidade, pressão alta, diabetes,
colesterol e estresse.
	 O hábito de se fazer atividades fí-
sicas regularmente, proporciona uma sen-
sação de bem-estar físico e psicológico,
melhora o funcionamento do coração e do
sistema circulatório. Combate também a
obesidade ajudando manter o peso, cola-
bora com a pressão, com a glicose e man-
tém o colesterol sobre controle.
	 É importante ter uma alimentação
saudável, constituída de vários nutrientes:
proteínas, gorduras, carboidratos, vitaminas
e sais minerais. A falta de alguns nutrientes
pode causar o surgimento de doenças. Pre-
ferir em maior quantidade frutas, verduras,
legumes e cereais integrais, tornando a ali-
mentação saudável, variada e colorida.
	 Sabe-se que o saneamento básico
e o sistema de esgotos sanitários e a limpe-
za urbana são fatores ambientais que afe-
tam saúde. Com os grandes aglomerados
urbanos e a falta de espaço para lazer vem
surgindo problemas de obesidade e menor
bem-estar para a população. Nas grandes
aglomerações humanas as políticas públi-
cas devem ser levadas em consideração.
	 De acordo com a Organização
Mundial da Saúde, os principais determi-
nantes da saúde incluem o ambiente social
e econômico, físico e as características in-
dividuais de comportamento das pessoas.
	 As Políticas Públicas voltadas para
saúde nos últimos tempos têm sido de gran-
de importância para a população, mesmo
sendo aplicada de forma equitativa, através
de práticas assistencialistas e clientelistas,
refletindo relações que não incorporam o
reconhecimento dos direitos sociais.
	 O termo SAÚDE deve ser trabalhado
pelos tradicionalistas (patronagens, grupos
de danças, prendas e peões), integrando
a comunidade do CTG com as instituições
afins, com a finalidade divulgar, esclarecer
e informar sobre o tema.
Fazer parcerias com Secretaria da Saúde
do RS, Unidades de Saúde, SESI, SESC,
LIONS, EMATER, INSTITUTO DA MAMA ou
outras instituições.
	 Também profissionais, técnicos,
especialistas: enfermeiros, odontólogos,
nutricionistas, radiologistas, médicos, pro-
fessores de educação física, geriatras. Ins-
tituições e profissionais que uma vez so-
licitados poderão colaborar, fornecendo
materiais para divulgação, conscientização
e orientação.
SUGESTÕES DE ATIVIDADES
QUE PODERÃO SER FEITAS NO
CTG ENVOLVENDO TODA A
COMUNIDADE:
1. Manter um quadro-mural com informa-
ções sobre doenças, tipos de especialistas,
cuidados;
2. Realizar semana “Câncer de Mama”: le-
var especialista para falar sobre a doença,
ensinar fazer autoexame, importância da
prevenção;
3.promover palestras educativas preventi-
vas;
4. Exposição com gravuras sobre câncer de
boca ou pele;
5. Campanha do controle da pressão alta e
diabete: medição com esclarecimentos so-
bre as doenças;
6. Campanhas de vacinação junto ao CTG
(sarampo, hepatites, febre amarela);
7. Palestra: alimentação saudável;
8. Oficina: aproveitamento de alimentos
(frutas e verduras);
9. Promover aulas de ginástica, ioga no
CTG;
10. Campanha da limpeza pública.
	 Existem muitas outras ações que
poderão ser realizadas para despertar o
cuidado para com a saúde e desenvolver
o espírito de solidariedade e união entre os
participantes.
TEMA 2013: “MTG EM DEFESA DA SAÚDE E
BEM-ESTAR DO TRADICIONALISTA”
Texto: Neusa Bonna Secchi
Vice-Presidente de Cultura/MTG
4
	 Simões Lopes Neto foi um homem da cidade e muito polido, nada tinha
ver com o protótipo do homem do campo. Não conheceu a glória literária que no
seu caso é inteiramente póstuma.
	 As obras “Cancioneiro Guasca” (1910), “Contos Gauchescos” (1912) e as
“Lendas do Sul” (1913) foram impressas quando não lhe restavam quatro anos de
vida.
	 Existe um ponto de encontro entre vocação de Simões Lopes Neto e a
tradição cultural gaúcha — o admirável regionalista coleciona e transcreve boa
parte da tradição oral já ameaçada de esquecimento.
	 Simões Lopes Neto manteve o universo imaginário de seu protótipo des-
te gaúcho tradicional idealizado no cancioneiro popular e por todos os escritores
regionalistas que o precederam.
	 O ambiente de sua obra é o interior do gaúcho século XIX, valendo-se da
experiência e conhecimento da terra, seus usos e costumes, escrevendo com
técnica realista. Os seus personagens realisticamente fiéis à realidade, rudes e
primitivos. Essa fidelidade ao real fundamentou-se no tocante às expressões, no
seu abusivo, sem descaimento de sua narrativa, numa linguagem tipicamente
local.
	 Seus contos, sua linguagem representam a sensibilidade e um regionalis-
mo espontâneo como exímio contador de histórias. Tanto nos Contos Gauches-
cos como nas Lendas do Sul atribui uma inusitada força de convicção do cenário
imaginário.
	 No “Jogo do Osso” há uma minuciosa descrição de usos e costumes e
hábitos que identificam uma região culturalmente demarcada pelo caipirismo.
Em “As Trezentas onças”, Blau Nunes, o vaqueano para que ele se encarregue de
destrinchar seus causos na forma maliciosa do linguajar gaúcho, homem típico
crioulo, hospitaleiro, ingênuo, mas precavido. Tem no cenário, campo, tropeada,
cusco que acompanha o fiel companheiro, perda das 300 onças e, finalmente,
numa roda de chimarrão observa a guaiaca com o dinheiro que havia perdido.
Mostra o gaúcho, homem simples, rústico, mas com a honestidade prevalecen-
do.
	 O Mate “João Cardoso” destaca a tradição herdada dos indígenas, a hos-
pitalidade do mate na roda do chimarrão, bebida típica do gaúcho, o convívio,
solidariedade e a fraternidade do homem rural.
	 Simões Lopes Neto apresentou Lendas do Sul como contribuição ao po-
pulário rio-grandense, aproveitou-se do folclore para fazer obra de poesia, pois o
tom dominante é a nota interpretativa, principalmente nas três lendas principais:
M’boitatá, Salamanca do Jarau e Negrinho do Pastoreio.
Lenda M’Boitatá
	 A sua versão mais antiga é a de José Bernardino dos Santos onde o
autor traduz a expressão Bay-tatá por fogo serpente ou fogo que serpenteia
explicando que é a alma de um ilhéu, muito sovina, que para ver sua fortuna
multiplicada vendeu a alma para o diabo. E tanto chamou pelo diabo que
ele apareceu disfarçado num touro osco negro, com
guampa e olhos de fogo.
	 Desde então, conta-se entre a gauchada das
estâncias, que nos passeios e viagens à noite apare-
ce um fogo valente e às vezes em forma de cobra ou
pássaro que, voando na frente dos cavaleiros, impe-
de-lhe a marcha. Há crença entre a gente do campo
de que o Boitatá se deixa atrair pelo ferro.
	 O meio para livrar-se do ataque consiste em
desatar o laço e arrastá-lo pela presilha. O Boitatá
atraído pelo ferro da argola do laço deixa o andante e
segue atrás até amanhecer o dia.
	 Na versão de Simões Lopes Neto, a cobra de
fogo identifica-se com a cobra-grande que se alimen-
ta dos olhos dos bichos.
No RS o mito universal originou uma lenda, o que é
muito comum. Nessa Lenda gaúcha o Boitatá é o di-
lúvio que aparece também no folclore de muitos paí-
ses.
	 Hoje ainda acredita-se que em noites de cam-
pereadas a cobra de fogo está sempre rondando ce-
mitérios e os banhados para perseguir os campeiros.
Lenda Salamanca do Jarau
	 Ao abordar o tema da Salamanca do Jarau,
Simões Lopes Neto sentiu a profundeza de horizon-
tes históricos e lendários que se desdobravam além da sua visão evocativa.
Tema complexo, tramado de incidências e alusões, não podia ser tratado
como outras lendas, que tentou estilizar.
	 O Padre Teschauer não foi a única fonte explorada por Simões para
publicar a Salamanca do Jarau. O historiador jesuíta reproduzira Granada, às
vezes nos mesmos termos, limitando-se a transcrever passos inteiros com
leves alterações nos seus estudos sobre as lendas do ouro na Bacia do Uru-
guai. A leitura de Teschauer levara naturalmente Simões a consultar o livro
de Granada que aparece em 1896. O Padre reproduzira os dois temas princi-
pais, o do campeiro que penetra na furna recebendo a onça mágica e o do
sacristão de São Tomé ao topar a teiniaguá.
	 O admirável é justamente o faro certeiro com que aproveitou na ela-
boração da narrativa, agrupando-os de acordo com a ordem nova que lhe
ditava a inspiração, retocando-os e introduzindo sempre os rasgos de uma
interpretação pessoal. O sentido moral que anima a sua versão não destoa o
próprio corpo da lenda.
	 Simões Lopes desenvolveu com muita complexidade, formou-se um
recanto mais ou menos preciso com elementos que decorriam das supers-
tições locais. Temos o sacristão dado às artes mágicas e à história de um
lugar que mudou de nome e sentido. Faltam outros temas que viriam mais
tarde: Península Ibérica, as Mouras Encantadas, os Tesouros Escondidos
apresentados na forma de serpente, lagartixa, o carbúnculo ou teiuaguá dos
guaranis, elemento originário do Novo Mundo.
Lenda Negrinho do Pastoreio
	 A mais bela lenda, sem dúvida, na sua simplicidade crioula, publica-
da em 1906, no Correio Mercantil. Foi no ambiente pastoril que se formou o
mito do Negrinho do Pastoreio, num meio onde havia a dureza do mando,
fator de controle indispensável para a produção intensiva. A lenda nasceu
das lembranças dos campeiros, marcado pelo terror e crueldade, misturada
com o desejo de compensação e de desforço que devia vazar-se em forma
religiosa.
	 Para seu transplante lendário concorreram vários fatores, desde bai-
xas formas de crendices, ainda visível nos dias de hoje, até a profunda vibra-
ção de solidariedade humana que transformou símbolo de uma raça.
	 “A Lenda Negrinho do Pastoreio originou-se por piedade e como de-
safronta e castigo nos sofrimentos da escravidão” (Alcides Maia).
	 Simões Lopes a estilizou com aquele sopro de poesia, não foi infiel
a detalhes senão acentuar ainda mais o seu cunho crioulo e o seu profundo
sentido religioso. Introduziu no cenário Nossa Senhora a ser madrinha do
negrinho, madrinha dos que não tem, deu-lhe uma graça perfeita, mais luz.
	 O mito do Negrinho do Pastoreio é genuinamente rio-grandense,
nascido da escravidão e refletindo o meio pastoril, o poder, e a religiosidade
que é associada aos outros tantos casos de escravos considerados mártires.
O RS NO IMAGINÁRIO SOCIAL
“A INFLUÊNCIA DO IMAGINÁRIO NA FORMAÇÃO DO GAÚCHO”
Por: Neusa Bonna Secchi
Vice-Presidente de Cultura/MTG

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Literatura gaúcha no século XIX

  • 1. A literatura, como manifestação artística, tem por finalidade recriar a realidade a partir da visão de determinado autor (o artista), com base em seus sentimentos, seus pontos de vista e suas técnicas narrativas. A literatura nacional é marcada por romances que reproduzem imagens his- tóricas brasileiras em seus diferentes aspectos e situações, como também reconstituem os espaços geográficos. No caso específico do Rio Grande do Sul, a relação com a história e a geografia se apresenta como um projeto contínuo da ficção. O Rio grande do Sul apareceu, pela primeira vez, em 1534, no mapa de Gaspar de Viegas, o território, porém, permaneceria inexplorado durante quase dois séculos. Caberia aos padres jesuítas, portugueses e espanhóis, em distintas formas de ocupação, lançarem o fundamento básico para a ocupação: a pecuária, cuja criação e comercialização tornaram-se motivo para o aproveitamento da região. A fundação oficial aconteceria em 1737, com a chegada da expedição militar do brigadeiro José da silva Pais, cons- truindo-se a fortaleza Jesus-Maria-José, que garantiria o comércio de gado e o contrabando de mercadorias espanholas transportadas pelo rio da Prata. A definição dos limites territoriais entre portugueses e espanhóis não existia, além disso, a distância do centro do país determinava a falta de tudo: re- médios, igrejas, distrações, fatores que exigiam o imediato povoamento do território. A efetiva ocupação do território e a consolidação da independência política de Argentina, Brasil e Uruguai asseguraram a paz externa, mas a pro- víncia seria abalada pela guerra dos Farrapos que defendia o sistema re- publicano, o fim da escravidão e pretendia a independência em relação ao Império do Brasil. Iniciado em 1835, o movimento revolucionário estendeu-se até 1845, com a assinatura da paz de ponche Verde, mediada por Caxias. Face ao modo de ocupação, à distância do centro do país, ao analfa- betismo, à ausência de editoras e livrarias, a literatura culta demorou a fixar- -se no sul do país. A instalação de impressos no RS propiciou não somente o desenvolvimento do jornalismo, mas o crescimento da literatura em geral, através da divulgação das letras em forma de livros. O ponto inicial da literatura gaúcha ficaria sob responsabilidade de Delfina Benigna da Cunha, com a publicação do primeiro livro rio-grandense, Poesias oferecidas às senhoras rio-grandenses, em 1834,no qual apresenta temáticas ligadas ao sofrimento e à amargura com relação à vida, estilo que o faz estabelecer uma ótica comparativa entre a poetisa de São José do Nor- te e a francesa Desbordes Valmore. As primeiras manifestações literárias do Rio Grande do Sul obede- ceram à forma métrica. Numa época em que inexistiam editoras de livros, um soneto podia se tornar público por meio da declamação ou apare- cer num rodapé de jornal. Por outro lado, a poesia se alimentou também da contribuição oral: cultivou-se a familiaridade com o cancioneiro po- pular, que se propagou enquanto se mantiveram vivos a cultura rural de onde proveio e os laços com a pro- dução trovadoresca do Prata. O início da literatura sul-rio- -grandense ligou-se a esses mo- tivos, contribuindo pela opção do verso. A temática relacionou-se à valorização do mundo gauchesco, fundindo elementos de procedência popular e da ideologia dos senhores da terra e do gado. Essas manifesta- ções pioneiras aconteceram à épo- ca da Revolução Farroupilha O movimento encontrou eco nos setores do meio intelectual que continuou explorar a veia gauchesca, firmando uma temática regional, com participação da classe dominante, deu-se o nascimento das instituições lite- rárias do sul. Conciliando a temática local, estimulada pelo ambiente revo- lucionário e a influência poética do Romantismo Brasileiro, consolida-se a literatura em versos no RS. A partir da segunda metade do século XIX, a atuação do Rio Gran- de em alguns conflitos armados que ameaça- vam a soberania brasi- leira teria feito com que o Estado passasse da condição de rebelde à de defensor do território comum. Em 1851 o es- tado teve de pegar em armas contra Rosas, o tirano de Buenos Aires, e treze anos depois par- LITERATURA NO RIO GRANDE DO SUL “Parte 1” Este caderno é parte integrante do informativo Eco da Tradição Nº 139 Março de 2013 O caderno Piá 21 é publicado mensalmente junto ao jornal Eco da Tradição, sob a responsabilidade da Vice-Presidente de Cultura do MTG - Neusa Marli Bonna Secchi A produção e aplicação pedagógica do Caderno Piá 21 é responsabilidade da Profª Maria Arita Madruga Garcia Graduada em Matemática pela Universidade Católica de Pelotas Mestre em Meteorologia pela Universidade Federal de Pelotas Professora da rede estadual de ensino
  • 2. 2 tia constrangido para a Guerra do Paraguai (1864-1870), situação tida como fundamental para construir na sociedade gaúcha um sentimento de inte- gração com relação ao cenário nacional. Na ordem cultural, mercê de tan- tos estímulos e experiências dolorosas, mas sempre fecundos – apurou-se o sentimento das peculiaridades brasileiras, o amor das tradições pátrias. Dessa forma, à medida que esse sentimento de exclusão cede espaço ao entendimento de que a região configura uma parte importante da unidade nacional, começa a ocorrer uma maior identificação entre a intelectualidade rio-grandense e os valores artísticos do centro do País, situação tida como fundamental para que a produção local pudesse se engajar, ainda que tar- diamente, na proposta do movimento romântico brasileiro de comprovar a auto-suficiência cultural da Nação através da valorização de aspectos mais característicos. A fixação do ideário romântico no Rio Grande não seria possível sem a contribuição da Sociedade Partenon Literário, fundada em 18 de junho de 1868. Reconhecida pela surpreendente atuação no âmbito provincial, quer pelo que realizou como entidade de fins culturais, quer pelo que fizeram in- dividualmente os seus agremiados, a instituição inaugura uma nova etapa da vida mental gaúcha, uma vez que estimula e passa a centralizar debates em torno da situação social, política e cultural do Rio Grande: Seus genero- sos mentores quiseram-na espraiada a todos os domínios da inteligência, orientando letras e artes, mitigando injustiças sociais, apontando rumos à organização política. Dentre os diversos campos de atuação, os integrantes dessa agre- miação, em geral jovens pensadores motivados pelas ideias liberais em voga na sua época, empenhavam-se ativamente em prol de causas humanitárias como a campanha abolicionista e a divulgação da propaganda republicana, assunto amplamente discutido através de publicações e reuniões regulares. No entanto, mesmo que reconheça essas diferentes contribuições em âmbi- to social, o historiador evidencia que seu foco limita-se à análise das efetivas contribuições da instituição para o desenvolvimento da vida literária sulina. O principal instrumento da agremiação para o desenvolvimento de suas ideias foi a Revista Mensal do Partenon Literário, mantida de março de 1869 a setembro de 1879, apesar de algumas interrupções. Dando con- tinuidade à tarefa iniciada pelos predecessores O Guaíba (1856) e Arcádia (1867), o periódico não só amplia o campo de atuação da imprensa literária sulina, como passa a promover a descentralização e unificação da literatura gaúcha, na medida em que sua circulação atinge as diversas localidades da Província. Mais do que promover a divulgação de autores e obras, publican- do contos, romances, poesias e demais produções daqueles que, ao longo dos anos, firmar-se-iam como os grandes mentores intelectuais do Estado, a ampla divulgação da revista estimula a constituição de um público leitor fiel e atuante, formado tanto pelos colaboradores e membros da própria ins- tituição, como pelos idealizadores de outros grupos e veículos de imprensa que se formaram a partir de sua influência, como é o caso do periódico Mur- múrios do Guaíba (1870) que, surgido a partir de dissidências entre alguns membros do Partenon, foi de fundamental importância na tarefa de difundir e sedimentar o ideário romântico no Rio Grande do Sul. Um dos grandes nomes dessa geração foi Apolinário Porto Alegre. Sua estreia literária ocorre nas páginas da Revista Mensal, em 1869, com a publicação dos primei- ros capítulos do romance histórico Os Palmares, narrativa que toma por tema a resistência de um qui- lombo do Norte do país às investi- das armadas dos brancos, sendo considerada como “uma obra de pura imaginação, cujos cenários lhe eram completamente estranhos. Após esse início que se caracteri- za justamente pelo distanciamento quanto aos assuntos do Rio Grande, Apolinário publicaria nesse mesmo periódico o conto Mandinga, uma história de encantamento, passada nos arredores do Morro de Sant’Ana, recanto porto-alegrense que lhe era familiar. A partir de julho de 1872 surgiria no periódico do Partenon a nar- rativa O Vaqueano, que resgata através da figura do protagonista José de Avençal a imagem do campeiro gaúcho dos primeiros tempos, e que teria por maior mérito a fidelidade de seu autor no retratar a fisionomia moral do homem rio-grandense. Destacando como valor a ficcionalização dos hábitos e costumes das populações campeiras, o historiador afirma que essa obra acabaria revelando um escritor muito atento à pesquisa acerca dos aspectos mais característicos da cultura gaúcha, principalmente no que se refere à recuperação de formas dialetais e elementos típicos da oralidade regional. A obra de Bernardo Taveira Júnior também é considerada parte im- portante do Romantismo rio-grandense. A permanência do escritor rio-gran- dino nos cânones literários gaúchos se deve à publicação de Provincianas, em 1886. Tomando por tema os costumes e tradições das populações do Sul, as dezoito poesias do livro enfocam o cotidiano campeiro, revivendo o mito do Monarca das Coxilhas na medida em que reapresenta o “guasca largado” identificado como seu trabalho, o seu destino e seus folguedos. Ainda que não seja o iniciador da vertente regional nas letras do Sul, Múcio Teixeira é reconhecido como um dos grandes escritores rio-grandenses, tendo se dedicado à escrita dos diferentes gêneros e estilos literários. Múcio Teixeira, so- bretudo poeta, produziu teatro de boa qualidade literária, como em O Filho do Banqueiro, Tempestades Morais, Montalvo, Álvaro, O Farra- po, A Virtude no Crime. Sua estreia literária se dá pelas páginas da Re- vista Mensal, onde divulga os pri- meiros poemas de Vozes trêmulas, lançados em livro em 1873. As primeiras manifestações re- gionalistas na prosa coincidem com o romance brasileiro e relaciona- -se com o nativismo. Após anos de 1870 cessada a Guerra do Paraguai, o Regionalismo tornou-se projeto li- terário dominante do Brasil. Na prosa de ficção, a inclina- ção localista já ocorre em “O Corsário”, iniciador do Regionalismo brasileiro. Alguns retornam no drama de César de Lacerda “O monarca das coxilhas” comédia escrita no RS, mas publicada em Recife, no ano de 1867. Ao publicar a Divina Pastora, em 1847, o escritor Caldre e Fião man- tinha acesa a chama do seu amor pelo Rio Grande do Sul. Ele delineia o contexto das aventuras narradas: entre a vila de São Leopoldo e a cidade de Porto Alegre, passando por Viamão para cruzar o passo da Cavalhada no rumo de Belém Velho. Caldre e Fião apresentou, em 1847, a sua “novela rio-gran- dense”. A intriga está centralizada em Édélia ( a divina pastora), don- zela belíssima e virtuosa, apaixo- nada por seu primo Almênio, bravo guerreiro farroupilha que, irá casar com Clarinda, filha de imigrantes alemães no Vale dos Sinos. Ator- mentando a vida de todos, aparece Francisco, protótipo do vilão. É pre- ciso entender que Caldre e Fião per- tence a uma tradição que em seus dias, já lançara raízes profundas na literatura ocidental – a tradição do “folhetim”. Foi assim que o romance moderno, gênero burguês por exce- lência, se estabeleceu através das páginas dos jornais europeus. Tra- tava-se de narrar uma sequência de aventuras em sucessão episódica, cuja leitura podia ser feita capítulo a capítulo, independentemente do resul- tado final. Via de regra, cada episódio correspondia a um “ rodapé “ do jornal em que o romance era publicado. O que importa é registrar o ingresso do “gaúcho” na ficção brasileira, em 1847 pela mão de Caldre e Fião. O bravo Almênio, protagonista de A Divi- na Pastora surge como o antecedente de Blau Nunes, Cambarás e Amarais. Embora constituindo a crônica do amor contrariado, Caldre e Fião projeta a narrativa num contexto histórico real: a “Grande Revolução”, que deflagrada em 1835, só concluirá na década seguinte em 1845,apenas dois anos antes da publicação da Divina Pastora. O Regionalismo, no Rio Grande do Sul, abrange, pois, um largo pe- ríodo, cobre quase todo século XIX, mas também até os primeiros anos do Modernismo. Surgem com força renovada: Aureliano de Figueiredo Pinto, Cyro Martins, Ivan Pedro de Martins. A temática gauchesca predomina a obra ficcional, que privilegia o
  • 3. 3 relato, o conto, o caso e a lendas. João Simões Lopes Neto foi autor das narrativas Contos Gauchescos, Lendas do Sul e Causos do Romualdo, compilou o Cancioneiro Guasca. Sua fonte de inspiração foi o folclore, imprimindo riqueza poética a linguagem do cancioneiro popular e densidade humana ao tipo s regionais. João Cezim- bra Jacques faz pesquisas de fol- clore e escreve dois livros sobre usos e costumes: Ensaios sobre os costumes do Rio Grande do Sul e Assuntos do Rio Grande do Sul. A ficção de Al- cides Maya, roman- cista gaúcho, um dos primeiros rio- -grandenses a obter reconhecimento na- cional de sua obra, inclusive integrando na Academia Brasi- leira de Letras: “Ru- ínas Vivas” (1910), “Tapera” (1911) re- flete um gaúcho saudoso perdendo suas características tradicionais, num cli- ma de epitáfio. Ramiro For- tes de Barcellos (1851-1916) médi- co, político, redator do Jornal “A Fede- ração” escreveu o poemeto “Antonio Chimango” sob o pseudônimo de “Amaro Juvenal”. Atividades: - Fazer seminários; - Realizar debates literários; - Organizar concursos de de- senhos; - Promover gincanas culturais de conhecimentos sobre as obras citadas; BIBLIOGRAFIA BAUMGARTEN, Carlos Alexandre. Literatura e crítica na imprensa do Rio Grande do Sul: 1868 a 1880. Porto Alegre: EST, 1982. CESAR, Guilhermino. História da Literatura no Rio Grande do Sul. POA, 1956. POSENATO, José Clemento. O regional e o uni- versal na Literatura Gaúcha. POA. ZIBERMAN, Regina, A literatura no Rio Grande do Sul. Mercado Aberto ZILBERMAN, Regina & MOREIRA, Maria Eunice. O berço do cânone. Porto Alegre: Mercado Aber- to, 1998. Parabenizamos as autoras que tive- ram a brilhante ideia de trazer o tema SAÚ- DE para ser refletido, trabalhado n o trans- correr do ano pelos tradicionalistas. SAÚDE é um termo complexo e ao mesmo tempo abrangente, envolve tanto o aspecto psíquico, físico, social e espiritual. O conceito de SAÚDE tem mudado radicalmente nos últimos anos. Antigamen- te SAÚDE significava apenas a ausência de doenças, mas logo se percebeu que não apresentar qualquer doença física aparente não significava ter saúde. Gradativamente, esse conceito foi se expandindo e incor- porando as dimensões física, emocional, mental, social e espiritual do ser humano. Assim, o conceito de SAÚDE tor- nou-se muito mais complexo e relaciona- do com as várias dimensões que se fazem parte do ser humano. Nos dias de hoje é difícil conservar os mes- mos níveis de saúde ao longo dos dias. Cada momento, em função das coisas que estamos vivendo, das demandas que esta- mos enfrentando, a nossa saúde e o bem- -estar são afetados. A vida nos leva a um desafio de buscar mais uma vez o equilíbrio orgânico, mental, emocional e espiritual. São como ciclos que se repetem e se sucedem. A “qualidade de vida” é o método usado para medir as condições de vida de um ser humano que envolva o bem espiri- tual, físico, psicológico; do relacionamento social com a família e amigos, mas tam- bém envolve saúde, educação, poder de compra, habitação, saneamento básico e outras circunstâncias da vida. A qualidade de vida e saúde envol- ve hábitos saudáveis e a melhor forma de obtê-la é de se evitar as principais causas da morte no mundo inteiro. As chamadas “Doenças Crônicas não Transmissíveis” (DCNT) são as doenças cardiovasculares, cânceres, diabetes, obesidade, doenças respiratórias, crônicas, depressão e esqui- zofrenia. Os principais fatores de risco conhecidos para o desenvolvimento de DCNT desta- cam-se: hábito alimentar, atividades físicas, fumo, obesidade, pressão alta, diabetes, colesterol e estresse. O hábito de se fazer atividades fí- sicas regularmente, proporciona uma sen- sação de bem-estar físico e psicológico, melhora o funcionamento do coração e do sistema circulatório. Combate também a obesidade ajudando manter o peso, cola- bora com a pressão, com a glicose e man- tém o colesterol sobre controle. É importante ter uma alimentação saudável, constituída de vários nutrientes: proteínas, gorduras, carboidratos, vitaminas e sais minerais. A falta de alguns nutrientes pode causar o surgimento de doenças. Pre- ferir em maior quantidade frutas, verduras, legumes e cereais integrais, tornando a ali- mentação saudável, variada e colorida. Sabe-se que o saneamento básico e o sistema de esgotos sanitários e a limpe- za urbana são fatores ambientais que afe- tam saúde. Com os grandes aglomerados urbanos e a falta de espaço para lazer vem surgindo problemas de obesidade e menor bem-estar para a população. Nas grandes aglomerações humanas as políticas públi- cas devem ser levadas em consideração. De acordo com a Organização Mundial da Saúde, os principais determi- nantes da saúde incluem o ambiente social e econômico, físico e as características in- dividuais de comportamento das pessoas. As Políticas Públicas voltadas para saúde nos últimos tempos têm sido de gran- de importância para a população, mesmo sendo aplicada de forma equitativa, através de práticas assistencialistas e clientelistas, refletindo relações que não incorporam o reconhecimento dos direitos sociais. O termo SAÚDE deve ser trabalhado pelos tradicionalistas (patronagens, grupos de danças, prendas e peões), integrando a comunidade do CTG com as instituições afins, com a finalidade divulgar, esclarecer e informar sobre o tema. Fazer parcerias com Secretaria da Saúde do RS, Unidades de Saúde, SESI, SESC, LIONS, EMATER, INSTITUTO DA MAMA ou outras instituições. Também profissionais, técnicos, especialistas: enfermeiros, odontólogos, nutricionistas, radiologistas, médicos, pro- fessores de educação física, geriatras. Ins- tituições e profissionais que uma vez so- licitados poderão colaborar, fornecendo materiais para divulgação, conscientização e orientação. SUGESTÕES DE ATIVIDADES QUE PODERÃO SER FEITAS NO CTG ENVOLVENDO TODA A COMUNIDADE: 1. Manter um quadro-mural com informa- ções sobre doenças, tipos de especialistas, cuidados; 2. Realizar semana “Câncer de Mama”: le- var especialista para falar sobre a doença, ensinar fazer autoexame, importância da prevenção; 3.promover palestras educativas preventi- vas; 4. Exposição com gravuras sobre câncer de boca ou pele; 5. Campanha do controle da pressão alta e diabete: medição com esclarecimentos so- bre as doenças; 6. Campanhas de vacinação junto ao CTG (sarampo, hepatites, febre amarela); 7. Palestra: alimentação saudável; 8. Oficina: aproveitamento de alimentos (frutas e verduras); 9. Promover aulas de ginástica, ioga no CTG; 10. Campanha da limpeza pública. Existem muitas outras ações que poderão ser realizadas para despertar o cuidado para com a saúde e desenvolver o espírito de solidariedade e união entre os participantes. TEMA 2013: “MTG EM DEFESA DA SAÚDE E BEM-ESTAR DO TRADICIONALISTA” Texto: Neusa Bonna Secchi Vice-Presidente de Cultura/MTG
  • 4. 4 Simões Lopes Neto foi um homem da cidade e muito polido, nada tinha ver com o protótipo do homem do campo. Não conheceu a glória literária que no seu caso é inteiramente póstuma. As obras “Cancioneiro Guasca” (1910), “Contos Gauchescos” (1912) e as “Lendas do Sul” (1913) foram impressas quando não lhe restavam quatro anos de vida. Existe um ponto de encontro entre vocação de Simões Lopes Neto e a tradição cultural gaúcha — o admirável regionalista coleciona e transcreve boa parte da tradição oral já ameaçada de esquecimento. Simões Lopes Neto manteve o universo imaginário de seu protótipo des- te gaúcho tradicional idealizado no cancioneiro popular e por todos os escritores regionalistas que o precederam. O ambiente de sua obra é o interior do gaúcho século XIX, valendo-se da experiência e conhecimento da terra, seus usos e costumes, escrevendo com técnica realista. Os seus personagens realisticamente fiéis à realidade, rudes e primitivos. Essa fidelidade ao real fundamentou-se no tocante às expressões, no seu abusivo, sem descaimento de sua narrativa, numa linguagem tipicamente local. Seus contos, sua linguagem representam a sensibilidade e um regionalis- mo espontâneo como exímio contador de histórias. Tanto nos Contos Gauches- cos como nas Lendas do Sul atribui uma inusitada força de convicção do cenário imaginário. No “Jogo do Osso” há uma minuciosa descrição de usos e costumes e hábitos que identificam uma região culturalmente demarcada pelo caipirismo. Em “As Trezentas onças”, Blau Nunes, o vaqueano para que ele se encarregue de destrinchar seus causos na forma maliciosa do linguajar gaúcho, homem típico crioulo, hospitaleiro, ingênuo, mas precavido. Tem no cenário, campo, tropeada, cusco que acompanha o fiel companheiro, perda das 300 onças e, finalmente, numa roda de chimarrão observa a guaiaca com o dinheiro que havia perdido. Mostra o gaúcho, homem simples, rústico, mas com a honestidade prevalecen- do. O Mate “João Cardoso” destaca a tradição herdada dos indígenas, a hos- pitalidade do mate na roda do chimarrão, bebida típica do gaúcho, o convívio, solidariedade e a fraternidade do homem rural. Simões Lopes Neto apresentou Lendas do Sul como contribuição ao po- pulário rio-grandense, aproveitou-se do folclore para fazer obra de poesia, pois o tom dominante é a nota interpretativa, principalmente nas três lendas principais: M’boitatá, Salamanca do Jarau e Negrinho do Pastoreio. Lenda M’Boitatá A sua versão mais antiga é a de José Bernardino dos Santos onde o autor traduz a expressão Bay-tatá por fogo serpente ou fogo que serpenteia explicando que é a alma de um ilhéu, muito sovina, que para ver sua fortuna multiplicada vendeu a alma para o diabo. E tanto chamou pelo diabo que ele apareceu disfarçado num touro osco negro, com guampa e olhos de fogo. Desde então, conta-se entre a gauchada das estâncias, que nos passeios e viagens à noite apare- ce um fogo valente e às vezes em forma de cobra ou pássaro que, voando na frente dos cavaleiros, impe- de-lhe a marcha. Há crença entre a gente do campo de que o Boitatá se deixa atrair pelo ferro. O meio para livrar-se do ataque consiste em desatar o laço e arrastá-lo pela presilha. O Boitatá atraído pelo ferro da argola do laço deixa o andante e segue atrás até amanhecer o dia. Na versão de Simões Lopes Neto, a cobra de fogo identifica-se com a cobra-grande que se alimen- ta dos olhos dos bichos. No RS o mito universal originou uma lenda, o que é muito comum. Nessa Lenda gaúcha o Boitatá é o di- lúvio que aparece também no folclore de muitos paí- ses. Hoje ainda acredita-se que em noites de cam- pereadas a cobra de fogo está sempre rondando ce- mitérios e os banhados para perseguir os campeiros. Lenda Salamanca do Jarau Ao abordar o tema da Salamanca do Jarau, Simões Lopes Neto sentiu a profundeza de horizon- tes históricos e lendários que se desdobravam além da sua visão evocativa. Tema complexo, tramado de incidências e alusões, não podia ser tratado como outras lendas, que tentou estilizar. O Padre Teschauer não foi a única fonte explorada por Simões para publicar a Salamanca do Jarau. O historiador jesuíta reproduzira Granada, às vezes nos mesmos termos, limitando-se a transcrever passos inteiros com leves alterações nos seus estudos sobre as lendas do ouro na Bacia do Uru- guai. A leitura de Teschauer levara naturalmente Simões a consultar o livro de Granada que aparece em 1896. O Padre reproduzira os dois temas princi- pais, o do campeiro que penetra na furna recebendo a onça mágica e o do sacristão de São Tomé ao topar a teiniaguá. O admirável é justamente o faro certeiro com que aproveitou na ela- boração da narrativa, agrupando-os de acordo com a ordem nova que lhe ditava a inspiração, retocando-os e introduzindo sempre os rasgos de uma interpretação pessoal. O sentido moral que anima a sua versão não destoa o próprio corpo da lenda. Simões Lopes desenvolveu com muita complexidade, formou-se um recanto mais ou menos preciso com elementos que decorriam das supers- tições locais. Temos o sacristão dado às artes mágicas e à história de um lugar que mudou de nome e sentido. Faltam outros temas que viriam mais tarde: Península Ibérica, as Mouras Encantadas, os Tesouros Escondidos apresentados na forma de serpente, lagartixa, o carbúnculo ou teiuaguá dos guaranis, elemento originário do Novo Mundo. Lenda Negrinho do Pastoreio A mais bela lenda, sem dúvida, na sua simplicidade crioula, publica- da em 1906, no Correio Mercantil. Foi no ambiente pastoril que se formou o mito do Negrinho do Pastoreio, num meio onde havia a dureza do mando, fator de controle indispensável para a produção intensiva. A lenda nasceu das lembranças dos campeiros, marcado pelo terror e crueldade, misturada com o desejo de compensação e de desforço que devia vazar-se em forma religiosa. Para seu transplante lendário concorreram vários fatores, desde bai- xas formas de crendices, ainda visível nos dias de hoje, até a profunda vibra- ção de solidariedade humana que transformou símbolo de uma raça. “A Lenda Negrinho do Pastoreio originou-se por piedade e como de- safronta e castigo nos sofrimentos da escravidão” (Alcides Maia). Simões Lopes a estilizou com aquele sopro de poesia, não foi infiel a detalhes senão acentuar ainda mais o seu cunho crioulo e o seu profundo sentido religioso. Introduziu no cenário Nossa Senhora a ser madrinha do negrinho, madrinha dos que não tem, deu-lhe uma graça perfeita, mais luz. O mito do Negrinho do Pastoreio é genuinamente rio-grandense, nascido da escravidão e refletindo o meio pastoril, o poder, e a religiosidade que é associada aos outros tantos casos de escravos considerados mártires. O RS NO IMAGINÁRIO SOCIAL “A INFLUÊNCIA DO IMAGINÁRIO NA FORMAÇÃO DO GAÚCHO” Por: Neusa Bonna Secchi Vice-Presidente de Cultura/MTG