SlideShare une entreprise Scribd logo
1  sur  3
Linha Cruzada
Luis Fernando Veríssimo
Um telefone toca num fim de tarde, começo de noite. . .
* Alô?
* Pronto.
Ele: - Voz estranha... Gripada?
Ela: - Faringite.
Ele: - Deve ser o sereno. No mínimo tá saindo todas as noites pra badalar.
Ela: - E se estivesse? Algum problema?
Ele: - Não, imagina! Agora, você é uma mulher livre.
Ela: - E você? Sua voz também está diferente. Faringite?
Ele: - Constipado.
Ela: - Constipado? Você nunca usou esta palavra na vida.
Ele: - A gente aprende.
Ela: - Tá vendo? A separação serviu para alguma coisa.
Ele: - Viver sozinho é bom. A gente cresce.
Ela: - Você sempre viveu sozinho. Até quando casado só fez o que quis.
Ele: - Maldade sua, pois deixei de lado várias coisas quando a gente se
casou.
Ela: - Evidente! Só faltava você continuar rebolando nas discotecas com as
amigas.
Ele: - Já você não abriu mão de nada. Não deixou de ver novela, passear no
shopping,
comprar jóias, conversar ao telefone com as amigas durante horas.
. . . Silêncio. . .
Ela: - Comprar jóias? De onde você tirou essa idéia? A única coisa que
comprei em quinze anos de casamento foi um par de brincos.
Ele: - Quinze anos? Pensei que fosse bem menos.
Ela: - A memória dos homens é um caso de polícia!
Ele: - Mas conversar com as amigas no telefone...
Ela: - Solidão, meu caro, cansaço... Trabalhar fora, cuidar das crianças e
ainda preparar o jantar para o HERÓI que chega à noite... Convenhamos,
não chega a ser uma roda-gigante de emoções ...
Ele: - Você nunca reclamou disso.
Ela: - E você me perguntou alguma vez?
Ele: - Lá vem você de novo... As poucas coisas que eu achava que estavam
certas... Isso também era errado!?
Ela: - Evidente, a gente não conversava nunca...
Ele: - Faltou diálogo, é isso? Na hora, ninguém fala nada. Aparece um
impasse e as mulheres não reclamam. Depois, dizem que Faltou diálogo.
As mulheres são de Marte!
Ela: - E vocês são de Saturno!
. . . Silêncio. . .
Ele: - E aí, como vai a vida?
Ela: - Nunca estive tão bem. Livre para pensar, ninguém pra Me dizer o que
devo fazer...
Ele: - E isso é bom?
Ela: - Pense o que quiser, mas quinze anos de jornada são de enlouquecer
qualquer uma.
Ele: - Eu nunca fui autoritário!
Ela: - Também nunca foi compreensivo!
Ele: - Jamais dei a entender que era perfeito. Tenho minhas limitações como
qualquer mortal...
Ela: - Limitado e omisso como qualquer mortal.
Ele: - Você nunca foi irônica.
Ela: - Isso a gente aprende também.
Ele: - Eu sempre te apoiei.
Ela: - Lógico. Se não me engano foi no segundo mês de casamento que você
lavou a única louça da tua vida. Um apoio inestimável... Sinceramente, eu
não sei o que faria sem você? Ou você acha que fazer vinte caipirinhas numa
tarde para um bando de marmanjos que assistem ao jogo da Copa do
Mundo era realmente o meu grande objetivo na vida?
Ele: - Do que você está falando?
Ela: - Ah, não lembra?
Ele: - Ana, eu detesto futebol.
Ela: - Ana!? Esqueceu meu nome também? Alexandre, você ficou louco?
Ele: - Alexandre? Meu nome é Ronaldo!
. . . Silêncio. . .
Ele: - De onde está falando?
Ela: - 2578 9922
Ele: - Não é o 2578 9222?
Ela: - Não.
Ele: - Ah, desculpe, foi engano.
Depois de um tempo ambos caem na gargalhada.
Ele: Quer dizer que você faz uma ótima caipirinha, hein?
Ela: - Modéstia à parte... Mas não gosto, prefiro vinho tinto.
Ele: - Mesmo? Vinho é a minha bebida preferida!
Ela: - E detesta futebol?
Ele: - Deus me livre... 22 caras correndo atrás de uma bola... Acho ridículo!
Ela: - Bem, você me dá licença, mas eu vou preparar o jantar.
Ele: - Que pena... O meu já está pronto. Risoto, minha especialidade!
Ela: - Mentira! É o meu prato predileto...
Ele: - Mesmo! Bem, a porção dá pra dois, e estou abrindo um Chianti
também. Você não gostaria de...
Ela: - Adoraria!
Ele dá o endereço.
... CUIDADO COM AS LINHAS CRUZADAS...

Contenu connexe

Tendances

A lenda-dos-ovos-de-pascoa
A lenda-dos-ovos-de-pascoaA lenda-dos-ovos-de-pascoa
A lenda-dos-ovos-de-pascoaMaria Ferreira
 
O sapo que queria beber leite
O sapo que queria beber leiteO sapo que queria beber leite
O sapo que queria beber leiteProfessora Cida
 
O segredo da onça pintada
O segredo da onça pintadaO segredo da onça pintada
O segredo da onça pintadaSandrastos
 
Livro - Uma história de páscoa - Ana Maria Machado
Livro - Uma história de páscoa - Ana Maria MachadoLivro - Uma história de páscoa - Ana Maria Machado
Livro - Uma história de páscoa - Ana Maria MachadoRenata Grechia
 
A magia da estrela do outono
A magia da estrela do outonoA magia da estrela do outono
A magia da estrela do outonoCarla Ferreira
 
Eu posso... Cartazes comportamentos assertivos
Eu posso... Cartazes comportamentos assertivosEu posso... Cartazes comportamentos assertivos
Eu posso... Cartazes comportamentos assertivosCelina Sousa
 
O rei batoteiro- ilustrações por carla antunes
O rei batoteiro- ilustrações por carla antunesO rei batoteiro- ilustrações por carla antunes
O rei batoteiro- ilustrações por carla antunesIsa Crowe
 
AEIOU - HISTÓRIA DAS CINCO VOGAIS
AEIOU - HISTÓRIA DAS CINCO VOGAISAEIOU - HISTÓRIA DAS CINCO VOGAIS
AEIOU - HISTÓRIA DAS CINCO VOGAISgigilu
 
Quando me sinto... zangado
Quando me sinto... zangadoQuando me sinto... zangado
Quando me sinto... zangadoLurdesRFernandes
 
Cadê meu travesseiro LIVRO
Cadê meu travesseiro LIVROCadê meu travesseiro LIVRO
Cadê meu travesseiro LIVRONeuda Mendes
 
Ciclo do livro- livro em pdf
Ciclo do livro- livro em pdfCiclo do livro- livro em pdf
Ciclo do livro- livro em pdfIsa Crowe
 
A Horta Do Sr Lobo
A Horta Do Sr LoboA Horta Do Sr Lobo
A Horta Do Sr LoboLuzia Couto
 

Tendances (20)

As flores-da-primavera-pdf
As flores-da-primavera-pdfAs flores-da-primavera-pdf
As flores-da-primavera-pdf
 
A lenda-dos-ovos-de-pascoa
A lenda-dos-ovos-de-pascoaA lenda-dos-ovos-de-pascoa
A lenda-dos-ovos-de-pascoa
 
Ser amigo
Ser amigoSer amigo
Ser amigo
 
O sapo que queria beber leite
O sapo que queria beber leiteO sapo que queria beber leite
O sapo que queria beber leite
 
O segredo da onça pintada
O segredo da onça pintadaO segredo da onça pintada
O segredo da onça pintada
 
O Coelho Sem Orelhas
O Coelho Sem OrelhasO Coelho Sem Orelhas
O Coelho Sem Orelhas
 
Eu e o meu pai
Eu e o meu paiEu e o meu pai
Eu e o meu pai
 
Livro - Uma história de páscoa - Ana Maria Machado
Livro - Uma história de páscoa - Ana Maria MachadoLivro - Uma história de páscoa - Ana Maria Machado
Livro - Uma história de páscoa - Ana Maria Machado
 
A magia da estrela do outono
A magia da estrela do outonoA magia da estrela do outono
A magia da estrela do outono
 
O cabelo de lelê
O cabelo de lelêO cabelo de lelê
O cabelo de lelê
 
O livro da família
O livro da famíliaO livro da família
O livro da família
 
Eu posso... Cartazes comportamentos assertivos
Eu posso... Cartazes comportamentos assertivosEu posso... Cartazes comportamentos assertivos
Eu posso... Cartazes comportamentos assertivos
 
O rei batoteiro- ilustrações por carla antunes
O rei batoteiro- ilustrações por carla antunesO rei batoteiro- ilustrações por carla antunes
O rei batoteiro- ilustrações por carla antunes
 
AEIOU - HISTÓRIA DAS CINCO VOGAIS
AEIOU - HISTÓRIA DAS CINCO VOGAISAEIOU - HISTÓRIA DAS CINCO VOGAIS
AEIOU - HISTÓRIA DAS CINCO VOGAIS
 
Quando me sinto... zangado
Quando me sinto... zangadoQuando me sinto... zangado
Quando me sinto... zangado
 
A casinha do tatu
A casinha do tatuA casinha do tatu
A casinha do tatu
 
Cadê meu travesseiro LIVRO
Cadê meu travesseiro LIVROCadê meu travesseiro LIVRO
Cadê meu travesseiro LIVRO
 
Ciclo do livro- livro em pdf
Ciclo do livro- livro em pdfCiclo do livro- livro em pdf
Ciclo do livro- livro em pdf
 
O sapo no inverno
O sapo no invernoO sapo no inverno
O sapo no inverno
 
A Horta Do Sr Lobo
A Horta Do Sr LoboA Horta Do Sr Lobo
A Horta Do Sr Lobo
 

Similaire à Linha cruzada - Luis Fernando Veríssimo

04. la na terra do contrário
04. la na terra do contrário04. la na terra do contrário
04. la na terra do contrárioJulio Carrara
 
Dialogos noturnos-cena 1
Dialogos noturnos-cena 1Dialogos noturnos-cena 1
Dialogos noturnos-cena 1Evelyn
 
Cena1-Diálogos Noturnos
Cena1-Diálogos NoturnosCena1-Diálogos Noturnos
Cena1-Diálogos NoturnosEvelyn
 
O incrivel homem de 4 olhos
O incrivel homem de 4 olhosO incrivel homem de 4 olhos
O incrivel homem de 4 olhosarturdecarvalho
 
Portifolio Carolina Oliveira
Portifolio Carolina OliveiraPortifolio Carolina Oliveira
Portifolio Carolina OliveiraGusmachado
 
A morte---pedro-bial-6906
A morte---pedro-bial-6906A morte---pedro-bial-6906
A morte---pedro-bial-6906Magno Vicente
 
Pedro Bial analisa a morte
Pedro Bial analisa a mortePedro Bial analisa a morte
Pedro Bial analisa a morteMaria Nobre
 
A morte---pedro-bial-6906
A morte---pedro-bial-6906A morte---pedro-bial-6906
A morte---pedro-bial-6906Magno Vicente
 
Artur azevedo a porta do botica
Artur azevedo   a porta do boticaArtur azevedo   a porta do botica
Artur azevedo a porta do boticaTulipa Zoá
 
As preces sao_imutavis_tuna_kiremitci
As preces sao_imutavis_tuna_kiremitciAs preces sao_imutavis_tuna_kiremitci
As preces sao_imutavis_tuna_kiremitciSá Editora
 

Similaire à Linha cruzada - Luis Fernando Veríssimo (14)

Cordélia brasil pronto
Cordélia brasil prontoCordélia brasil pronto
Cordélia brasil pronto
 
04. la na terra do contrário
04. la na terra do contrário04. la na terra do contrário
04. la na terra do contrário
 
Dialogos noturnos-cena 1
Dialogos noturnos-cena 1Dialogos noturnos-cena 1
Dialogos noturnos-cena 1
 
Cena1-Diálogos Noturnos
Cena1-Diálogos NoturnosCena1-Diálogos Noturnos
Cena1-Diálogos Noturnos
 
Pegadas de sangue
Pegadas de sanguePegadas de sangue
Pegadas de sangue
 
O incrivel homem de 4 olhos
O incrivel homem de 4 olhosO incrivel homem de 4 olhos
O incrivel homem de 4 olhos
 
Portifolio Carolina Oliveira
Portifolio Carolina OliveiraPortifolio Carolina Oliveira
Portifolio Carolina Oliveira
 
António Lobo Antunes
António Lobo AntunesAntónio Lobo Antunes
António Lobo Antunes
 
A morte---pedro-bial-6906
A morte---pedro-bial-6906A morte---pedro-bial-6906
A morte---pedro-bial-6906
 
Pedro Bial analisa a morte
Pedro Bial analisa a mortePedro Bial analisa a morte
Pedro Bial analisa a morte
 
A morte---pedro-bial-6906
A morte---pedro-bial-6906A morte---pedro-bial-6906
A morte---pedro-bial-6906
 
As moças pronto
As moças prontoAs moças pronto
As moças pronto
 
Artur azevedo a porta do botica
Artur azevedo   a porta do boticaArtur azevedo   a porta do botica
Artur azevedo a porta do botica
 
As preces sao_imutavis_tuna_kiremitci
As preces sao_imutavis_tuna_kiremitciAs preces sao_imutavis_tuna_kiremitci
As preces sao_imutavis_tuna_kiremitci
 

Plus de Luisa Cristina Rothe Mayer

Marco referencia bachiller en lenguas res cfe 142 2011
Marco referencia bachiller en lenguas res cfe 142 2011Marco referencia bachiller en lenguas res cfe 142 2011
Marco referencia bachiller en lenguas res cfe 142 2011Luisa Cristina Rothe Mayer
 
López estrada deslauriers 2011 entrevista cualitativa
López estrada deslauriers 2011 entrevista cualitativaLópez estrada deslauriers 2011 entrevista cualitativa
López estrada deslauriers 2011 entrevista cualitativaLuisa Cristina Rothe Mayer
 
Feldman 2010 Didáctica general - aportes para el desarrollo curricular
Feldman 2010 Didáctica general - aportes para el desarrollo curricularFeldman 2010 Didáctica general - aportes para el desarrollo curricular
Feldman 2010 Didáctica general - aportes para el desarrollo curricularLuisa Cristina Rothe Mayer
 
Diseño curricular de Lenguas Extranjeras 2001 - ciudad de buenos aires
Diseño curricular de Lenguas Extranjeras 2001 - ciudad de buenos airesDiseño curricular de Lenguas Extranjeras 2001 - ciudad de buenos aires
Diseño curricular de Lenguas Extranjeras 2001 - ciudad de buenos airesLuisa Cristina Rothe Mayer
 
El valor de las narrativas docentes para repensar la escuela secundaria - Alén
El valor de las narrativas docentes para repensar la escuela secundaria - AlénEl valor de las narrativas docentes para repensar la escuela secundaria - Alén
El valor de las narrativas docentes para repensar la escuela secundaria - AlénLuisa Cristina Rothe Mayer
 
Daniel Cassany Prácticas letradas contemporáneas - claves para su desarrollo
Daniel Cassany Prácticas letradas contemporáneas - claves para su desarrolloDaniel Cassany Prácticas letradas contemporáneas - claves para su desarrollo
Daniel Cassany Prácticas letradas contemporáneas - claves para su desarrolloLuisa Cristina Rothe Mayer
 
Carles tomas i puig del hipertexto al hipermedia
Carles tomas i puig del hipertexto al hipermediaCarles tomas i puig del hipertexto al hipermedia
Carles tomas i puig del hipertexto al hipermediaLuisa Cristina Rothe Mayer
 
Calsamiglia y Valls - Las cosas del decir - Manual de análisis del discurso
Calsamiglia y Valls - Las cosas del decir - Manual de análisis del discursoCalsamiglia y Valls - Las cosas del decir - Manual de análisis del discurso
Calsamiglia y Valls - Las cosas del decir - Manual de análisis del discursoLuisa Cristina Rothe Mayer
 
Benveniste el aparato formal de la enunciacion
Benveniste el aparato formal de la enunciacionBenveniste el aparato formal de la enunciacion
Benveniste el aparato formal de la enunciacionLuisa Cristina Rothe Mayer
 
Beaugrande dressler - Introducción a la lingüística del texto
Beaugrande dressler - Introducción a la lingüística del textoBeaugrande dressler - Introducción a la lingüística del texto
Beaugrande dressler - Introducción a la lingüística del textoLuisa Cristina Rothe Mayer
 
Bajtín - el problema de los géneros discursivos
Bajtín - el problema de los géneros discursivosBajtín - el problema de los géneros discursivos
Bajtín - el problema de los géneros discursivosLuisa Cristina Rothe Mayer
 
Arnoux - La lectura y la escritura en la universidad
Arnoux - La lectura y la escritura en la universidadArnoux - La lectura y la escritura en la universidad
Arnoux - La lectura y la escritura en la universidadLuisa Cristina Rothe Mayer
 

Plus de Luisa Cristina Rothe Mayer (20)

Nap lenguas extranjeras res 181 2012 anexo 01
Nap lenguas extranjeras res 181 2012 anexo 01Nap lenguas extranjeras res 181 2012 anexo 01
Nap lenguas extranjeras res 181 2012 anexo 01
 
Marco referencia bachiller en lenguas res cfe 142 2011
Marco referencia bachiller en lenguas res cfe 142 2011Marco referencia bachiller en lenguas res cfe 142 2011
Marco referencia bachiller en lenguas res cfe 142 2011
 
López estrada deslauriers 2011 entrevista cualitativa
López estrada deslauriers 2011 entrevista cualitativaLópez estrada deslauriers 2011 entrevista cualitativa
López estrada deslauriers 2011 entrevista cualitativa
 
Feldman 2010 Didáctica general - aportes para el desarrollo curricular
Feldman 2010 Didáctica general - aportes para el desarrollo curricularFeldman 2010 Didáctica general - aportes para el desarrollo curricular
Feldman 2010 Didáctica general - aportes para el desarrollo curricular
 
Dussel 2010 el currículum
Dussel 2010 el currículumDussel 2010 el currículum
Dussel 2010 el currículum
 
Dussel 2005 escuela igualdad diversidad
Dussel 2005 escuela igualdad diversidadDussel 2005 escuela igualdad diversidad
Dussel 2005 escuela igualdad diversidad
 
Diseño curricular de Lenguas Extranjeras 2001 - ciudad de buenos aires
Diseño curricular de Lenguas Extranjeras 2001 - ciudad de buenos airesDiseño curricular de Lenguas Extranjeras 2001 - ciudad de buenos aires
Diseño curricular de Lenguas Extranjeras 2001 - ciudad de buenos aires
 
Camilloni y otros El saber didáctico
Camilloni y otros El saber didáctico Camilloni y otros El saber didáctico
Camilloni y otros El saber didáctico
 
El valor de las narrativas docentes para repensar la escuela secundaria - Alén
El valor de las narrativas docentes para repensar la escuela secundaria - AlénEl valor de las narrativas docentes para repensar la escuela secundaria - Alén
El valor de las narrativas docentes para repensar la escuela secundaria - Alén
 
Daniel Cassany - describir el escribir entero
Daniel Cassany - describir el escribir enteroDaniel Cassany - describir el escribir entero
Daniel Cassany - describir el escribir entero
 
Daniel Cassany Prácticas letradas contemporáneas - claves para su desarrollo
Daniel Cassany Prácticas letradas contemporáneas - claves para su desarrolloDaniel Cassany Prácticas letradas contemporáneas - claves para su desarrollo
Daniel Cassany Prácticas letradas contemporáneas - claves para su desarrollo
 
Daniel Cassany el codigo escrito
Daniel Cassany el codigo escritoDaniel Cassany el codigo escrito
Daniel Cassany el codigo escrito
 
Carles tomas i puig del hipertexto al hipermedia
Carles tomas i puig del hipertexto al hipermediaCarles tomas i puig del hipertexto al hipermedia
Carles tomas i puig del hipertexto al hipermedia
 
Calsamiglia y Valls - Las cosas del decir - Manual de análisis del discurso
Calsamiglia y Valls - Las cosas del decir - Manual de análisis del discursoCalsamiglia y Valls - Las cosas del decir - Manual de análisis del discurso
Calsamiglia y Valls - Las cosas del decir - Manual de análisis del discurso
 
Benveniste el aparato formal de la enunciacion
Benveniste el aparato formal de la enunciacionBenveniste el aparato formal de la enunciacion
Benveniste el aparato formal de la enunciacion
 
Beaugrande dressler - Introducción a la lingüística del texto
Beaugrande dressler - Introducción a la lingüística del textoBeaugrande dressler - Introducción a la lingüística del texto
Beaugrande dressler - Introducción a la lingüística del texto
 
Bajtín - el problema de los géneros discursivos
Bajtín - el problema de los géneros discursivosBajtín - el problema de los géneros discursivos
Bajtín - el problema de los géneros discursivos
 
Arnoux - La lectura y la escritura en la universidad
Arnoux - La lectura y la escritura en la universidadArnoux - La lectura y la escritura en la universidad
Arnoux - La lectura y la escritura en la universidad
 
Paratexto - Maite Alvarado
Paratexto - Maite AlvaradoParatexto - Maite Alvarado
Paratexto - Maite Alvarado
 
Um bom professor_faz_toda_diferenca
Um bom professor_faz_toda_diferencaUm bom professor_faz_toda_diferenca
Um bom professor_faz_toda_diferenca
 

Linha cruzada - Luis Fernando Veríssimo

  • 1. Linha Cruzada Luis Fernando Veríssimo Um telefone toca num fim de tarde, começo de noite. . . * Alô? * Pronto. Ele: - Voz estranha... Gripada? Ela: - Faringite. Ele: - Deve ser o sereno. No mínimo tá saindo todas as noites pra badalar. Ela: - E se estivesse? Algum problema? Ele: - Não, imagina! Agora, você é uma mulher livre. Ela: - E você? Sua voz também está diferente. Faringite? Ele: - Constipado. Ela: - Constipado? Você nunca usou esta palavra na vida. Ele: - A gente aprende. Ela: - Tá vendo? A separação serviu para alguma coisa. Ele: - Viver sozinho é bom. A gente cresce. Ela: - Você sempre viveu sozinho. Até quando casado só fez o que quis. Ele: - Maldade sua, pois deixei de lado várias coisas quando a gente se casou. Ela: - Evidente! Só faltava você continuar rebolando nas discotecas com as amigas. Ele: - Já você não abriu mão de nada. Não deixou de ver novela, passear no shopping, comprar jóias, conversar ao telefone com as amigas durante horas. . . . Silêncio. . . Ela: - Comprar jóias? De onde você tirou essa idéia? A única coisa que comprei em quinze anos de casamento foi um par de brincos. Ele: - Quinze anos? Pensei que fosse bem menos. Ela: - A memória dos homens é um caso de polícia! Ele: - Mas conversar com as amigas no telefone... Ela: - Solidão, meu caro, cansaço... Trabalhar fora, cuidar das crianças e ainda preparar o jantar para o HERÓI que chega à noite... Convenhamos, não chega a ser uma roda-gigante de emoções ... Ele: - Você nunca reclamou disso. Ela: - E você me perguntou alguma vez? Ele: - Lá vem você de novo... As poucas coisas que eu achava que estavam certas... Isso também era errado!? Ela: - Evidente, a gente não conversava nunca... Ele: - Faltou diálogo, é isso? Na hora, ninguém fala nada. Aparece um impasse e as mulheres não reclamam. Depois, dizem que Faltou diálogo. As mulheres são de Marte! Ela: - E vocês são de Saturno! . . . Silêncio. . .
  • 2. Ele: - E aí, como vai a vida? Ela: - Nunca estive tão bem. Livre para pensar, ninguém pra Me dizer o que devo fazer... Ele: - E isso é bom? Ela: - Pense o que quiser, mas quinze anos de jornada são de enlouquecer qualquer uma. Ele: - Eu nunca fui autoritário! Ela: - Também nunca foi compreensivo! Ele: - Jamais dei a entender que era perfeito. Tenho minhas limitações como qualquer mortal... Ela: - Limitado e omisso como qualquer mortal. Ele: - Você nunca foi irônica. Ela: - Isso a gente aprende também. Ele: - Eu sempre te apoiei. Ela: - Lógico. Se não me engano foi no segundo mês de casamento que você lavou a única louça da tua vida. Um apoio inestimável... Sinceramente, eu não sei o que faria sem você? Ou você acha que fazer vinte caipirinhas numa tarde para um bando de marmanjos que assistem ao jogo da Copa do Mundo era realmente o meu grande objetivo na vida? Ele: - Do que você está falando? Ela: - Ah, não lembra? Ele: - Ana, eu detesto futebol. Ela: - Ana!? Esqueceu meu nome também? Alexandre, você ficou louco? Ele: - Alexandre? Meu nome é Ronaldo! . . . Silêncio. . . Ele: - De onde está falando? Ela: - 2578 9922 Ele: - Não é o 2578 9222? Ela: - Não. Ele: - Ah, desculpe, foi engano. Depois de um tempo ambos caem na gargalhada. Ele: Quer dizer que você faz uma ótima caipirinha, hein? Ela: - Modéstia à parte... Mas não gosto, prefiro vinho tinto. Ele: - Mesmo? Vinho é a minha bebida preferida! Ela: - E detesta futebol? Ele: - Deus me livre... 22 caras correndo atrás de uma bola... Acho ridículo! Ela: - Bem, você me dá licença, mas eu vou preparar o jantar. Ele: - Que pena... O meu já está pronto. Risoto, minha especialidade! Ela: - Mentira! É o meu prato predileto... Ele: - Mesmo! Bem, a porção dá pra dois, e estou abrindo um Chianti também. Você não gostaria de... Ela: - Adoraria! Ele dá o endereço.
  • 3. ... CUIDADO COM AS LINHAS CRUZADAS...