1. Inflamação
A inflamação (do Latim inflammatio, atear fogo) ou processo inflamatório é uma reação do organismo a
uma infecção ou lesão dos tecidos.
Em um processo inflamatório a região atingida fica avermelhada e quente. Isso ocorre devido a um aumento do
fluxo de sangue e demais líquidos corporais migrados para o local. Na área inflamada também ocorre o acúmulo
de células provenientes do sistema imunológico (leucócitos, macrófagos e linfócitos), com dor localizada
mediada por certas substâncias químicas produzidas pelo organismo. No processo, osleucócitos destroem o
tecido danificado e enviam sinais aos macrófagos, que ingerem e digerem osantígenos e o tecido morto. Em
algumas doenças esse processo pode apresentar caráter destrutivo.
A inflamação pode também ser considerada como parte do sistema imunitário, o chamado sistema imune inato,
assim denominado por sua capacidade para deflagrar uma resposta não-específica contra padrões de agressão
previamente e geneticamente definidos pelo organismo agredido. Esta definição se contrapõe à da imunidade
adquirida, ou aquela onde o sistema imune identifica agentes agressores específicos segundo seu
potencial antigênico. Nesse último caso, o organismo precisa entrar em contato com o agressor, identificá-lo
como estranho e potencialmente nocivo e só então produzir uma resposta.
Fisiopatologia (mecanismos de instalação)
Com a agressão tecidual se seguem imediatamente fenômenos vasculares mediados principalmente
pela histamina. O resultado é um aumento localizado e imediato da irrigação sanguínea, que se traduz em um
halo avermelhado em torno da lesão (hiperemia ou rubor). Em seguida tem início a produção local de
mediadores inflamatórios que promovem um aumento da permeabilidade capilar e também quimiotaxia,
processo químico pelo qual células polimorfonucleares, neutrófilos e macrófagos são atraídos para o foco da
lesão. Estas células, por sua vez, realizam a fagocitose dos elementos que estão na origem da inflamação e
produzem mais mediadores químicos, dentre os quais estão as citocinas (como, por exemplo, o fator de necrose
tumoral e as interleucinas), quimiocinas, bradicinina,prostaglandinas e leucotrienos. Também as plaquetas e o
sistema de coagulação do sangue são ativados visando conter possíveis sangramentos. Fatores de adesão são
expressos na superfície das células endoteliais que revestem os vasos sanguíneos internamente. Estes fatores
irão mediar a adesão e a diapedese de monócitoscirculantes e outras células inflamatórias para o local da lesão.
Em resumo, todos estes fatores atuam em conjunto, levando aos eventos celulares e vasculares da inflamação.
Resulta em um aumento do calibre de capilares responsáveis pela irrigação sanguínea local, produzindo mais
hiperemia e aumento da temperatura local (calor). O edema ou inchaço ocorre a partir do aumento da
permeabilidade vascular aos componentes do sangue, o que leva ao extravasamento do líquido intravascular
para o espaço intersticial extra-celular. A dor, outro sintoma característico da inflamação, é causada
primariamente pela estimulação das terminações nervosas por algumas destas substâncias liberadas durante o
processo inflamatório, por hiperalgesia (aumento da sensibilidade dolorosa) promovida pelas prostaglandinas e
pela bradicinina, mas também em parte por compressão relacionada ao edema.
Manifestações clínicas
Classicamente, a inflamação é constituída pelos seguintes sinais e sintomas:
1. Calor; aquecimento
2. Rubor; vermelhidão
3. Tumor; inchaço
4. Dor;
5. Perda de função.
2. Tipos
Pode-se classificar a inflamação em dois tipos principais, conforme sua velocidade de instalação: a aguda e a
crônica. Inflamação aguda é aquela que se instala rapidamente, como por exemplo após um acidente onde
ocorre lesão tecidual de forma súbita. A inflamação crônica se instala de forma lenta e insidiosa, como por
exemplo nas doenças reumatológicas tais como a artrite reumatoide e o lupus eritematoso sistêmico. Esta
classificação não diz respeito à gravidade do processo, mas apenas, como já dito acima, à velocidade de
instalação. Assim, podem existir processos inflamatórios agudos de baixo grau ou alto grau de gravidade, o
mesmo ocorrendo com a inflamação crônica.
Afora isto, é possível ainda classificar a inflamação segundo algumas de suas características peculiares, tal
como abaixo descrito:
1. Adesiva – inflamação na qual existe uma quantidade de fibrina que provoca a aderência entre tecidos
adjacentes.
2. Alérgica – desencadeada por mecanismos alérgicos, como sucede, por exemplo, na asma e na urticária.
3. Atrófica ou Esclerosante – aquela que evolui para a organização do exsudato inflamatório de que
resulta cicatrização e atrofia da região afetada.
4. Catarral – processo que é mais frequente na mucosa do aparelho respiratório mas que pode atingir
outras mucosas. É caracterizada, fundamentalmente, por hiperemia dos vasos, edema tissular e
secreção de muco de consistência viscosa.
5. Crupal – inflamação fibrinosa com produção de falsas membranas não diftéricas.
6. Eritematosa – inflamação congestiva da pele.
7. Estênica – forma aguda com fenômenos circulatórios e calor intensos.
8. Fibrinosa – forma exsudativa em que existe uma grande quantidade de fibrina coagulável.
9. Granulomatosa – processo crônico proliferativo com formação de tecido granuloso ou granulomas.
10. Hiperplásica ou Hipertrófica – cursa com neoformação de fibras de tecido conjuntivo.
11. Intersticial – variedade na qual a reação inflamatória se localiza preferencialmente no estroma e
no tecido conjuntivo de suporte de um órgão.
12. Necrótica – processo intenso com produção de um foco de necrose.
13. Inflamação parenquimatosa – aquela que atinge primordialmente a estrutura nobre e funcional de um
tecido ou seu parênquima.
14. Proliferativa – aquela em que o aspeto mais característico é o grande número de macrófagos com
neoformação tecidual.
15. Purulenta ou Supurativa – inflamação em que se forma pús.
16. Reativa – a forma que surge à volta de um corpo estranho.
17. Reumática – surge como resposta à existência de doenças reumatológicas, ou seja, acometendo
primordialmente as articulações.
18. Serosa – aquela em que a exsudação é essencialmente serosa ou de aspeto semelhante ao soro.
19. Térmica – provocada pelo calor.
20. Tóxica – devida a uma substância tóxica ou veneno.
21. Traumática – surge como consequência de um traumatismo.
Doenças inflamatórias
É sabido, atualmente, que processos inflamatórios tomam parte de um enorme número de doenças, muitas das
quais se desconheciam até recentemente quais os mecanismos causadores. Em outras, consideradas antes
como degenerativas ou próprias do envelhecimento, a inflamação veio a se tornar a mais importante explicação.
3. Doenças auto-imunes
A inflamação é um dos principais componentes das doenças auto-imunes. Este grupo de doenças se caracteriza
por uma resposta imunológica do organismocontra componentes próprios identificados como estranhos pelo
sistema imune. Disto resulta uma agressão inflamatória que assume características clínicas diversas, de acordo
com o tecido ou sistema afetado.
Dentre as mais conhecidas doenças deste grupo estão o lupus eritematoso sistêmico e a artrite reumatoide em
adultos. Em crianças podem ser citadas aartrite reumatoide juvenil e a febre reumática entre as mais importantes
e prevalentes.
Síndrome da Resposta Inflamatória Sistêmica
O termo Síndrome da Resposta Inflamatória Sistêmica (SRIS ou SIRS em língua inglesa) foi proposto para
descrever a reação inflamatória desencadeada pelo organismo frente a qualquer agressão seja ela de natureza
infecciosa ou não-infecciosa. Caracteriza-se pela presença de ao menos dois dos seguintes critérios clínicos:
1. Temperatura corporal > 38,5 °C (febre) ou <35 °C (hipotermia)
2. Frequência respiratória > 20 incursões respiratórias/minuto (hiperpneia ou taquipneia) ou uma pressão
parcial de CO2 no sangue arterial < 32mmHg.
3. Frequência cardíaca > 90 batimentos cardíacos/minuto.
4. Aumento ou redução significativos do número de células brancas (leucócitos) no sangue periférico
(>12.000 ou <4.000 células/mm3)
É fácil concluir que a ocorrência de SIRS isoladamente não é em si mesma de extrema gravidade, pois surge
eventualmente em condições clínicas benignas, como por exemplo em infeções localizadas ou após cirurgias.
Entretanto, em unidades de terapia intensiva e entre pacientes cujos sistemas de defesa do organismo
encontram-se comprometidos, a SIRS pode tornar-se de fato ameaçadora à vida especialmente quando vem
associada a outros fatores de gravidade.
Quando associada a comprovação clínica ou laboratorial de infecção, tem-se a definição de sepse ou sepsis.
Sepse associada a hipotensão arterial refratária é definida como choque séptico. Quando se verificam sinais de
ao menos uma insuficiência orgânica concomitante, tem-se então a sepse severa.
Asma
A asma é hoje considerada uma doença inflamatória das vias aéreas. Geralmente relacionada a estados de
hipersensibilidade, a asma leva a obstrução das vias aéreas ou brônquios por meio da produção de secreção
excessiva, edema da parede brônquica e broncoconstricção.
Aterosclerose
Anteriormente considerada como doença degenerativa ou relacionada ao envelhecimento, a aterosclerose veio a
se caracterizar nas últimas duas décadas, e a partir de pesquisas realizadas nos mais diversos campos da
medicina básica e clínica, como sendo causada por um processo inflamatório das artérias(aterosclerose
coronariana). Diversos fatores contribuem para sua gênese. Dentre eles estão o estresse mecânico
ao endotélio vascular causado pelahipertensão arterial, o estresse oxidativo levando a geração
de lipoproteínas oxidadas com elevado potencial aterogênico, um possível e ainda inexplicado estado
inflamatório crônico e a participação de micro-organismos como a Chlamydophila pneumoniae, bactéria
encontrada diversas vezes no interior deplacas de ateroma das artérias.
Tratamento
Existem drogas ou medicamentos capazes de interferir no processo reacional de defesa do organismo de modo
a minimizar o dano (agressão por parte dos próprios tecidos frente ao agente agressor) e dar maior conforto ao
4. paciente. Estes medicamentos são denominados anti-inflamatórios, podendo estes ser de natureza hormonal ou
não hormonal
Anti-inflamatórios hormonais
Anti-inflamatórios ditos hormonais (esteroides), também conhecidos como
glicocorticoides, corticoides ou corticosteroides, são agentes inibidores da produção de prostaglandinas e
leucotrienos pela ação inibitória sobre a enzima fosfolipase A2, por meio da liberação de lipocortina-1 (mediador
proteico anti-inflamatório). O resultado final da ação destes anti-inflamatórios é a parcial ou total redução da
liberação dos prostaglandinas e também dos leucotrienos. A lipocortina-1 atua por sequestrar
o substrato fosfolipídico e/ou inibir diretamente a enzima. Qualquer um desses mecanismos poderia contribuir
para a redução na produção tanto do fator ativador de plaquetas quanto dos eicosanoides, observada na
presença de corticoides. Os glicocortocoides reduzem a transcrição de várias proteínas inflamatórias, como
algumas citocinas, óxido-nítrico sintetase induzida e ciclooxigenase 2. Tal efeito explica grande parte de suas
ações farmacológicas.
Anti-inflamatórios não-hormonais
Anti-inflamatórios não-hormonais promovem inibição da ciclooxigenase, outra enzima envolvida na produção de
prostaglandinas. Não interferem com a geração de leucotrienos, mantendo parte do processo inflamatório
inalterado e ativo. Seu principal uso é na redução dos sintomas da inflamação como a dor e o edema no local.
Sinalização celular
A sinalização celular faz parte de um com
plexo sistema de comunicação que governa e coordena as actividades e funções celulares. A habilidade que as
células possuem em perceber e correctamente responder ao seu ambiente envolvente forma a base do
desenvolvimento, da reparação de tecidos, da imunidade e de outras funções de homeostasia em tecidos. Erros
existentes no processamento de informação celular são responsáveis por doenças como ocancro,
a autoimunidade e diabetes. Ao se entenderem melhor os processos de sinalização celular, muitas doenças
poderão ser tratadas de maneira mais eficaz e, em teoria, tecidos artificiais poderão ser fabricados.
A linha tradicional de investigação em biologia tem-se focado em estudar partes das vias de sinalização celular.
O estudo de sistemas biológicos ajuda na compreensão da estrutura subjacente das redes de sinalização e em
perceber como as mudanças nessas redes afectam a transmissão de informação.
Sinalização celular em organismos uni e multicelulares
A sinalização celular tem sido estudada de maneira mais profunda no contexto das doenças humanas e na
sinalização entre células de um único organismo. No entanto, a sinalização celular pode também ocorrer entre
células de organismos diferentes. Em muitos mamíferos, as células embrionárias trocam sinais com as células
[1]
do útero. No tracto gastrointestinal humano, as bactérias trocam sinais entre si e com as células epiteliares e
[2]
do sistema imunitário Durante o processo de reprodução em Saccharomyces cerevisiae, algumas células
enviam sinais peptídicos (factores de conjugação) para o meio ambiente onde se encontram. Estes factores de
conjugação podem-se ligar receptores da superfície celular de outros indivíduos da espécie, induzindo o
[3]
processo de reprodução.
Tipos de sinais
Alguns tipos de comunicação célula a célula requerem que estas estejam em contato direto. Algumas células
formam junções comunicantes que fazem a conexão entre os seus citoplasmas. No músculo cardíaco, estas
5. junções permitem a propagação do potencial de acção a partir do pacemaker cardíaco até outras regiões do
coração, fazendo com o órgão se contraia coordenadamente.
A via de sinalização Notch é um exemplo de sinalização justácrina em que duas células adjacentes têm que ter
contato físico para que se processe a comunicação. Este requerimento de contato direto permite um controle
preciso da diferenciação celular durante o desenvolvimento embrionário. Na espécieCaenorhabditis elegans,
duas células da gônada em desenvolvimento têm iguais hipóteses em terminar a sua diferenciação ou em se
tornar numa célula precursora uterina que continuará a dividir-se. A escolha de qual das células continua a
dividir-se é controlada por competição de sinais na superfície celular. Uma das células irá produzir maior
quantidade de uma proteína da superfície celular que ativará os receptores Notch na célula adjacente. Isto irá
ativar um sistema de feedback que reduz a expressão de receptores Notch na célula que se irá diferenciar e
[4]
aumentá-los na superfície da célula que continuará comocélula estaminal.
Muitos sinais celulares são transportados por moléculas que são libertadas por uma célula e que depois se
movem até entrarem em contato com outras células. Os sinais endócrinos são denominados de hormonas. As
hormonas são produzidas por células endócrinas e viajam pelo sangue para alcançar outras partes do corpo. A
especificidade da sinalização é controlada se determinada célula puder responder a um sinal específico.
A sinalização parácrina tem como alvo apenas as células que estão na vizinhança da célula emissora do sinal.
Os neurotransmissores são um exemplo deste tipo de sinalização. Algumas moléculas podem funcionar
simultaneamente como hormonas e neurotransmissores. Por exemplo, a epinefrina e a norepinefrina podem
funcionar como hormonas quando libertadas pela glândula adrenal, sendo transportadas através da corrente
sanguínea até ao coração. A norepinefrina pode também ser produzida pelos neurónios, funcionando como
[5]
neurotransmissores no cérebro. O estrogénio pode ser libertado pelo ovário e funcionar como hormona ou
[6]
actuar localmente via sinalização autócrina ou parácrina..
Receptores de sinais celulares
As células recebem informação do seu ambiente envolvente através de uma classe de proteínas
denominada receptores. O receptor Notch é uma proteína da superfície celular que possui esta função. Os
animais possuem um conjunto de genes que codificam proteínas sinalizadoras que interagem especificamente
com estes receptores Notch e que estimulam uma resposta em células que possuam estes receptores na sua
superfície. As moléculas que activam (ou em alguma casos, inibem) os receptores podem ser classificadas
como hormonas, neurotransmissores, citocinas ou factores de crescimento, mas todas elas são chamadas
de ligandos de receptores. Os detalhes da interacção receptor-ligando são essenciais no processo de
sinalização celular.
Classificação da comunicação intercelular
Em endocrinologia, o estudo da sinalização celular em animais, a sinalização intercelular está subdividida da
seguinte maneira:
Sinais endócrinos são produzidos por células endócrinas e viajam através do sistema circulatório até
chegarem a todas as partes do corpo.
Sinais parácrinos são enviados apenas às células na vizinhança da célula emissora.
Os neurotransmissores são um exemplo.
Sinais autócrinos apenas afectam as células que são do mesmo tipo celular que a célula emissora. Um
exemplo são as células do sistema imunitário.
sinais holócrinos são transmitidos através das membranas celulares, via componentes proteicos ou lipídicos,
integrais À membrana, e que são capazes de afectar quer a célula emissora quer as células imediatamente
adjacentes.
Luz como forma de comunicação celular
6. Um estudo científico, utilizando o ciliado Paramecium caudatum, sugere que diversas populações celulares usam
2 ou mais frequência de luz para efectuar transferência de informação, influenciando o input energético, a divisão
celular e o crescimento.