3. ALGUNS PRESSUPOSTOS!
o negro na literatura brasileira
LITERATURA
NEGRA
sen$do
amplo
sen$do
estrito
qualquer
texto
que
tenha
o
negro
por
tema;
feita
por
negros
ou
afrodescendentes;
revela
a
condição
do
negro/afrodescendente;
é
perpassada
pela
visão
de
mundo
do
negro;
o
negro
é
visto
como
grupo
étnico
singular.
aspectos
sociais,
culturais
e
históricos
do
negro.
4. ALGUNS PRESSUPOSTOS!
o negro na literatura brasileira
LITERATURA
NEGRA
negro
como
objeto
negro
como
sujeito
visão
distanciada
[literatura
sobre
o
negro]
a$tude
engajada
[literatura
do
outro/negro]
o
negro
aparece
como
personagem
o
locutor
é
um
[d]enunciador
de
sua
condição
ideologia/estereó$pos
da
esté$ca
branca
sujeito
d
história:
definição
d
iden$dade
negra
5. PRECONCEITO E ESTEREÓTIPO!
o negro na literatura brasileira
origens do preconceito
nos
textos
do
início
da
colonização,
a
dicotomia
colonizador
x
colonizado
é
muito
clara
COLONIZADOR
COLONIZADO
civilizado
bárbaro
racional
irracional
decente
indecente
religioso
pagão
culto
inculto
6. PRECONCEITO E ESTEREÓTIPO!
o negro na literatura brasileira
origem bíblica
o
mito
bíblico
de
Cam,
presente
no
Velho
Testamento,
trata,
para
alguns,
da
origem
da
África
o preconceito de cor
seguindo
a
lógica
eurocêntrica
colonialista,
a
cor
negra
estaria
associada
ao
mal
e
à
feiura
a
cor
branca,
por
sua
vez,
encarnaria
a
bondade
e
a
beleza.
estereótipos raciais
três
são
os
estereó$pos
do
negro
que
perpassam
a
literatura
brasileira
[o
bom
negro,
o
negro
perverso
e
o
negro
sexualizado]
7. PRECONCEITO E ESTEREÓTIPO!
o negro na literatura brasileira
o bom negro
escravo
completamente
fiel
ao
senhor;
não
ques$ona
a
escravidão
nem
possui
a
liberdade
do
homem
livre;
Isaura,
protagonista
do
romance
de
Bernardo
Guimarães;
Bertoleza,
de
O
cor&ço.
o negro perverso
intrinsecamente
mau,
bárbaro
e
animalizado;
a
ins$tuição
o
animaliza;
de
outro
modo,
poderia
ser
um
bom
cidadão;
Pedro,
protagonista
de
O
demônio
familiar;
Amaro,
protagonista
de
Bom
Crioulo.
o negro sexualizado
extremamente
sensual,
perver$do;
seu
comportamento
provém
da
licenciosidade
das
senzalas
Firmo
e
Rita
Baiana,
personagens
de
O
cor&ço.
8. O NEGRO NO BARROCO!
o negro na literatura brasileira
9. O NEGRO NO BARROCO!
o negro na literatura brasileira
Quem
são
seus
doces
objetos?...
Pretos.
Tem
outros
bens
mais
maciços?...
Mes$ços.
Quais
destes
lhe
são
mais
gratos?...
Mulatos.
Dou
ao
demo
os
insensatos,
Dou
ao
demo
a
gente
asnal,
Que
es$ma
por
cabedal
Pretos,
mes$ços,
mulatos.
MATOS, Gregório de. Juízo anatômico da cidade. Disponível em: http://manoelneves.com
o
negro
é
estereo$pado:
a
cor
da
pele
é
índice
do
que
se
deve
desprezar
10. O NEGRO NO BARROCO!
o negro na literatura brasileira
Jelu,
vós
sois
rainha
das
mulatas.
E,
sobretudo,
vós
sois
rainha
das
putas.
Tendes
o
mando
sobre
as
dissolutas
Que
moram
nas
quitandas
dessas
gatas.
MATOS, Gregório de. Rainha das mulatas. Disponível em: http://www.elsonfroes.com.br/sonetario/matos.htm
o
negro
e
o
impuro,
o
bes$al,
o
sórdido
11. O NEGRO NO ROMANTISMO!
o negro na literatura brasileira
12. O NEGRO NO ROMANTISMO!
o negro na literatura brasileira
–
Não
gosto
que
a
cantes,
não,
Isaura.
Hão
de
pensar
que
és
maltratada,
que
és
uma
escrava
infeliz,
ví$ma
de
senhores
bárbaros
e
cruéis.
Entretanto
passas
aqui
uma
vida,
que
faria
inveja
a
muita
gente
livre.
Gozas
da
es$ma
de
teus
senhores.
Deram-‐te
uma
educação,
como
não
$veram
muitas
ricas
e
ilustres
damas,
que
eu
conheço.
És
formosa
e
tens
uma
cor
linda,
que
ninguém
dirá
que
gira
em
tuas
veias
uma
só
gota
de
sangue
africano.
GUIMARÃES, Bernardo. A escrava Isaura. São Paulo: Ática, 2001.
escravo
nobre,
que
vence
à
força
de
seu
branqueamento
e
a
custo
de
sacriccio
e
humilhação
13. O NEGRO NO ROMANTISMO!
o negro na literatura brasileira
EDUARDO:
Por
que,
minha
irmã?
Todos
devemos
perdoar-‐nos
mutuamente;
todos
somos
culpados
por
havermos
acreditado
ou
consen$do
no
fato
primeiro,
que
é
a
causa
de
tudo
isto.
O
único
inocente
é
aquele
que
não
tem
imputação,
e
que
fez
apenas
uma
travessura
de
criança,
levado
pelo
ins$nto
da
amizade.
Eu
o
corrijo,
fazendo
do
autômato
um
homem;
res$tuo-‐o
à
sociedade,
porém
expulso-‐o
do
seio
de
minha
família
e
fecho-‐lhe
para
sempre
a
porta
de
minha
casa.
(a
PEDRO)
Toma:
é
a
tua
carta
de
liberdade,
ela
será
a
tua
punição
de
hoje
em
diante,
porque
as
tuas
faltas
recairão
unicamente
sobre
$;
porque
a
moral
e
a
lei
te
pedirão
uma
conta
severa
de
tuas
ações.
Livre,
sen$rás
a
necessidade
do
trabalho
honesto
e
apreciarás
os
nobres
sen$mentos
que
hoje
não
compreendes.
(PEDRO
beija-‐lhe
a
mão.)
ALENCAR, José de. O demônio familiar. Disponível em: http://www.calendario.cnt.br/demoniofamiliar03.htm
negro
infan$lizado:
inimputável,
irresponsável,
serviçal
e
subalterno
14. O NEGRO NO ROMANTISMO!
o negro na literatura brasileira
"Minha
terra
é
lá
bem
longe,
"O
sol
faz
lá
tudo
em
fogo,
"Aquelas
terras
tão
grandes,
Das
bandas
de
onde
o
sol
vem;
Faz
em
brasa
toda
a
areia;
Tão
compridas
como
o
mar,
Esta
terra
é
mais
bonita,
Ninguém
sabe
como
é
belo
Com
suas
poucas
palmeiras
Mas
à
outra
eu
quero
bem!
Ver
de
tarde
a
papa-‐ceia!
Dão
vontade
de
pensar...
O
escravo
calou
a
fala,
O
escravo
então
foi
deitar-‐se,
Porque
na
úmida
sala
Pois
$nha
de
levantar-‐se
O
fogo
estava
a
apagar;
Bem
antes
do
sol
nascer,
E
a
escrava
acabou
seu
canto,
E
se
tardasse,
coitado,
Pra
não
acordar
com
o
pranto
Teria
de
ser
surrado,
O
seu
filhinho
a
sonhar!
Pois
bastava
escravo
ser.
ALVES, Castro. Canção do africano. Disponível em: http://www.revista.agulha.nom.br/calves08.html
negro
ví$ma:
idealizado;
pretexto
para
a
exaltação
da
liberdade
e
da
causa
abolicionista
15. O NEGRO NO NATURALISMO!
o negro na literatura brasileira
16. O NEGRO NO NATURALISMO!
o negro na literatura brasileira
Era
uma
pena,
decerto,
ver
aquele
rosto
de
mulher,
aquelas
formas
de
mulher,
aquela
estatuazinha
de
mármore,
entregue
às
mãos
grosseiras
de
um
marinheiro,
de
um
negro...
Muita
vez
o
pequeno
fora
seduzido,
arrastado.
CAMINHA, Adolfo. Bom Crioulo. São Paulo: Ática, 2005.
estereó$po:
negro
perver$do,
beberrão
e
brigador
17. O NEGRO NO NATURALISMO!
o negro na literatura brasileira
Uma
conversa
cerrada
travara-‐se
no
resto
da
fila
de
lavadeiras
a
respeito
da
Rita
Baiana.
—
É
doida
mesmo!...
censurava
Augusta.
Meter-‐se
na
pândega
sem
dar
conta
da
roupa
que
lhe
entregaram...
Assim
há
de
ficar
sem
um
freguês...
—
Aquela
não
endireita
mais!...
Cada
vez
fica
até
mais
assanhada!...
Parece
que
tem
fogo
no
rabo!
Pode
haver
o
serviço
que
houver,
aparecendo
pagode,
vai
tudo
pro
lado!
Olha
o
que
saiu
o
ano
passado
com
a
festa
da
Penha!...
—
Então
agora,
com
este
mulato,
o
Firmo,
é
uma
pouca-‐vergonha!
Est’ro
dia,
pois
você
não
viu?
levaram
ai
numa
bebedeira,
a
dançar
e
cantar
à
viola,
que
nem
sei
o
que
parecia!
Deus
te
livre!
—
Para
tudo
há
horas
e
há
dias!...
—
Para
a
Rita
todos
os
dias
são
dias
santos!
A
questão
é
aparecer
quem
puxe
por
ela!
—
Ainda
assim
não
e
má
criatura...
Tirante
o
defeito
da
vadiagem...
AZEVEDO, Aluísio. O cortiço. São Paulo: Ática, 2001.
estereó$po:
negra
sexualizada,
irresponsável,
perdulária,
festeira,
sem
vergonha,
vadia
18. O NEGRO NO NATURALISMO!
o negro na literatura brasileira
Firmo,
o
atual
amante
de
Rita
Baiana,
era
um
mulato
pachola,
delgado
de
corpo
e
ágil
como
um
cabrito;
capadócio
de
marca,
pernós$co,
só
de
maçadas,
e
todo
ele
se
quebrando
nos
seus
movimentos
de
capoeira.
AZEVEDO, Aluísio. O cortiço. São Paulo: Ática, 2001.
estereó$po:
negro
sexualizado,
vagabundo,
malandro,
espertalhão
19. O NEGRO NO NATURALISMO!
o negro na literatura brasileira
Bertoleza
é
que
con$nuava
na
cepa
torta,
sempre
a
mesma
crioula
suja,
sempre
atrapalhada
de
serviço,
sem
domingo
nem
dia
santo;
essa,
em
nada,
em
nada
absolutamente,
par$cipava
das
novas
regalias
do
amigo;
pelo
contrário,
à
medida
que
ele
galgava
posição
social,
a
desgraçada
fazia-‐se
mais
e
mais
escrava
e
rasteira.
João
Romão
subia
e
ela
ficava
cá
embaixo,
abandonada
como
uma
cavalgadura
de
que
já
não
precisamos
para
con$nuar
a
viagem.
AZEVEDO, Aluísio. O cortiço. São Paulo: Ática, 2001.
estereó$po:
negro
bom:
coitado,
sofre
sem
reclamar,
obedece
cegamente
ao
seu
algoz
20. O NEGRO NO SIMBOLISMO!
o negro na literatura brasileira
21. O NEGRO NO SIMBOLISMO!
o negro na literatura brasileira
Deus
meu!
Por
uma
questão
banal
da
química
biológica
do
pigmento
ficam
alguns
mais
rebeldes
e
curiosos
fósseis
preocupados,
a
ruminar
primi$vas
erudições,
perdidos
e
atropelados
pelas
longas
galerias
submarinas
de
uma
sabedoria
infinita,
esmagadora,
irrevogável!
Mas,
que
importa
tudo
isso?!
Qual
é
a
cor
da
minha
forma,
do
meu
sen$r?
Qual
é
a
cor
da
tempestade
de
dilacerações
que
me
abala?
Qual
a
dos
meus
sonhos
e
gritos?
Qual
a
dos
meus
desejos
e
febre?
—
Tu
és
dos
de
Cam,
maldito,
réprobo,
anatema$zado!
Falas
em
abstrações,
em
Formas,
em
Espiritualidades,
em
Requintes,
em
Sonhos!
Como
se
tu
fosses
das
raças
de
ouro
e
da
aurora,
se
viesses
dos
arianos,
depurado
por
todas
as
civilizações,
célula
por
célula,
tecido
por
tecido,
cristalizado
o
teu
ser
num
verdadeiro
cadinho
de
ideias,
de
sen$mentos
—
direito,
perfeito,
das
perfeições
oficiais
dos
meios
convencionalmente
ilustres!
SOUZA, João da Cruz e. Emparedado. Disponível em: http://manoelneves.com
denuncia-‐se,
denota$vamente,
o
preconceito
reves$do
de
ciência
[determinismo
biológico]
22. O NEGRO NO PRÉ-MODERNISMO!
o negro na literatura brasileira
23. O NEGRO NO PRÉ-MODERNISMO!
o negro na literatura brasileira
Ah!
Seria
doutor!
Resgataria
o
pecado
original
do
meu
nascimento
humilde,
amaciaria
o
suplício
premente,
cruciante
e
omnímodo
de
minha
cor...
BARRETO, Lima. Recordações do escrivão Isaías Caminha. São Paulo: Ática, 2001.
denúncia:
preconceito
racial
e
poucas
oportunidades
de
ascensão
social
dos
afrodescendentes
24. O NEGRO NO PRÉ-MODERNISMO!
o negro na literatura brasileira
Negrinha
era
uma
pobre
órfã
de
sete
anos.
Preta?
Não;
fusca,
mula$nha
escura,
de
cabelos
ruços
e
olhos
assustados.
Nascera
na
senzala,
de
mãe
escrava,
e
seus
primeiros
anos
vivera-‐os
pelos
cantos
escuros
da
cozinha,
sobre
velha
esteira
e
trapos
imundos.
O
corpo
de
Negrinha
era
tatuado
de
sinais,
cicatrizes,
vergões.
Ba$am
nele
os
da
casa
todos
os
dias,
houvesse
ou
não
houvesse
mo$vo.
LOBATO, Monteiro. Negrinha. Disponível
em:
hpp://www.releituras.com.br
denúncia
da
violência
de
que
é
ví$ma
o
negro
25. O NEGRO NO MODERNISMO!
o negro na literatura brasileira
26. O NEGRO NO MODERNISMO!
o negro na literatura brasileira
Você
é
tão
suave,
Vossos
lábios
suaves
Vagam
no
meu
rosto,
Fecha
meu
olhar.
Sol-‐posto.
É
a
escureza
suave
Que
vem
de
você,
Que
se
dissolve
em
mim.
LIMA, Jorge de. Poemas negros. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001.
celebração
da
beleza
negra
27. O NEGRO NO MODERNISMO!
o negro na literatura brasileira
Seu
branco,
dê
o
fora,
Deixe
os
nêgo
em
páis.
Nóis
tem
cachacinha,
Tem
coco
de
sobra,
Nóis
tem
iaiá
preta,
Nóis
dança
de
noite;
Nóis
reza
com
fé.
Seu
branco
é
demais.
Praquê
que
vancêis
Foi
rúim
pros
escravo,
Jogou
no
porão
Pra
gente
morrê
Com
falta
de
ar?
28. O NEGRO NO MODERNISMO!
o negro na literatura brasileira
Seu
branco
dê
o
fora,
Sinão
toma
pau
Aqui
no
quilombo
Quem
manda
primeiro
Deus
nosso
sinhô,
Depois
é
São
Cosme
Mais
São
Damião,
A
Virge
Maria,
Depois
semo
nóis.
Ezerço
de
branco
Não
vale
um
real,
Zumbi
aparece,
Mostrou
o
penacho,
Vai
branco
sumiu
Crúiz
credo
no
inferno.
Seu
branco,
dê
o
fora,
Não
volte
mais
não.
MENDES, Murilo Cantiga de Palmares. In.: História do Brasil. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2003.
celebração
do
cultura,
da
ideologia
e
da
visão
negra
do
mundo
29. O NEGRO NO MODERNISMO!
o negro na literatura brasileira
JOÃO
GRILO:
Muito
bem.
Falou
pouco,
mas
falou
bonito.
A
cor
pode
não
ser
das
melhores,
mas
o
senhor
fala
bem
que
faz
gosto.
MANUEL:
Muito
obrigado,
João,
mas
agora
é
sua
vez.
Você
é
cheio
de
preconceito
de
raça.
Vim
hoje
assim
de
propósito,
porque
sabia
que
ia
despertar
comentários.
Que
vergonha!
Eu,
Jesus,
nasci
branco
e
quis
nascer
judeu,
como
podia
ter
nascido
preto.
Para
mim
tanto
faz
um
branco
ou
um
preto.
Você
pensa
que
sou
americano
para
ter
preconceito
de
raça?
SUASSUNA, Ariano. Auto da Compadecida. Rio de Janeiro: Agir, 2001.
celebração
do
cultura,
da
ideologia
e
da
visão
negra
do
mundo
30. O NEGRO NO MODERNISMO!
o negro na literatura brasileira
Mas
irmão,
fica
sabendo
Piedade
não
é
o
que
eu
quero
Piedade
não
me
interessa
Os
fracos
pedem
piedade
Eu
quero
coisa
melhor
Eu
não
quero
mais
viver
No
porão
da
sociedade
Não
quero
ser
marginal
Quero
entrar
em
toda
a
parte
Quero
ser
bem
recebido
Basta
de
humilhações
Minha
alma
já
está
cansada
Eu
quero
o
sol
que
é
de
todos
Ou
alcanço
tudo
o
que
eu
quero
Ou
gritarei
a
noite
inteira
Como
gritam
os
vulcões
Como
gritam
os
vendavais
Como
grita
o
mar
E
nem
a
morte
terá
força
Para
me
fazer
calar!
ASSUNÇÃO, Carlos. Protesto.