Este documento contém dois textos literários. O primeiro texto descreve uma mulher olhando pela janela e observando a cidade coberta de lixo e pessoas gritando. O segundo texto fala sobre a cidade da Bahia, que sempre será um cenário de prazer e pecado para aqueles que vivem ou visitam a cidade. O documento também contém uma questão pedindo para justificar o uso de certas formas linguísticas encontradas nos textos.
3. TEXTO 01
prova aberta de língua portuguesa e literatura
A
mulher
do
médico
levantou-‐se
e
foi
à
janela.
Olhou
para
baixo,
para
a
rua
coberta
de
lixo,
para
as
pessoas
que
gritavam
e
cantavam.
Depois
levantou
a
cabeça
para
o
céu
e
viu-‐o
todo
branco,
Chegou
a
minha
vez,
pensou.
O
medo
súbito
fê-‐la
baixar
os
olhos.
A
cidade
ainda
ali
estava.
SARAMAGO.
J.
Ensaio
sobre
a
cegueira.
São
Paulo:
Companhia
das
Letras,
2008.
4. TEXTO 02
prova aberta de língua portuguesa e literatura
A
cidade
da
Bahia
cresceu,
modificou-‐se.
Mas
haveria
de
ser
para
sempre
um
cenário
de
prazer
e
pecado,
que
encantava
a
todos
os
que
nela
viviam
ou
a
visitavam,
fossem
seres
humanos,
anjos
ou
demônios.
Não
deixaria
de
ser,
nunca,
a
cidade
onde
viveu
o
Boca
do
Inferno.
MIRANDA,
A.
Boca
do
inferno.
São
Paulo:
Companhia
das
Letras,
1990.
5. COMANDO
prova aberta de língua portuguesa e literatura
JusYfique
o
emprego
das
formas
linguísYcas
abaixo
e
indique
o
referente
de
cada
unidade,
quando
o
caso
o
permiYr:
“à”
em
“foi
à
janela”;
“o”
em
“viu-‐o
todo
branco”;
“la”
em
“fê-‐la
baixar
os
olhos”;
“a”
em
“ou
a
visitavam”.
6. SOLUÇÃO COMENTADA
prova aberta de língua portuguesa e literatura
alternativa “a”
A
incidência
da
crase
se
deve
ao
fato
de,
na
forma
“à”,
haver
uma
preposição
“a”
que
se
relaciona
com
o
verbo
dinâmico
“ir”
[quem
vai,
vai
a
algum
lugar]
e
um
arYgo
definido
feminino
singular
“a”
que
se
relaciona
com
o
substanYvo
feminino
“janela”.
alternativa “b”
O
pronome
pessoal
oblíquo
átono
“o”
retoma
o
substanYvo
“céu”,
anteriormente
mencionado
e
funciona
como
objeto
direto
da
forma
verbal
“viu”.
alternativa “c”
A
forma
pronominal
“la”
[pronome
pessoal
oblíquo
átono]
retoma
o
sintagma
nominal
“a
mulher
do
médico”
e
completa
o
senYdo
o
senYdo
do
verbo
transiYvo
direto
“fez”.
alternativa “d”
O
pronome
pessoal
oblíquo
átono
“a”
retoma
o
sintagma
nominal
“a
cidade
da
Bahia”
e
funciona
como
objeto
direto
da
forma
verbal
“visitava”.
8. INSTRUÇÃO
prova aberta de língua portuguesa e literatura
No
“Manifesto
futurista”,
de
1909,
Marineb
afirma:
1.
Nós
queremos
cantar
o
amor
ao
perigo,
o
hábito
à
energia
e
à
temeridade.
2.
Os
elementos
essenciais
de
nossa
poesia
serão
a
coragem,
a
audácia
e
a
revolta.
3.
Tendo
a
literatura
até
aqui
enaltecido
a
imobilidade
pensaYva,
o
êxtase
e
o
sono,
nós
queremos
exaltar
o
movimento
agressivo,
a
insônia
febril,
o
passo
ginásYco,
o
salto
mortal,
a
bofetada
e
o
soco”.
TELLES,
G.
M.
Vanguardas
europeias
e
modernismo
brasileiro.
Rio
de
Janeiro:
Vozes,
1999.
9. INSTRUÇÃO
prova aberta de língua portuguesa e literatura
Leia
o
trecho
de
“Ode
triunfal”,
de
Álvaro
de
Campos,
e,
a
seguir,
faça
o
que
se
pede:
10. TEXTO
prova aberta de língua portuguesa e literatura
À
dolorosa
luz
das
grandes
lâmpadas
eléctricas
da
fábrica
Tenho
febre
e
escrevo.
Escrevo
rangendo
os
dentes,
fera
para
a
beleza
disto,
Para
a
beleza
disto
totalmente
desconhecida
dos
anYgos.
Ó
rodas,
ó
engrenagens,
r-‐r-‐r-‐r-‐r-‐r-‐r
eterno!
Forte
espasmo
reYdo
dos
maquinismos
em
fúria!
Em
fúria
fora
e
dentro
de
mim,
Por
todos
os
meus
nervos
dissecados
fora,
Por
todas
as
papilas
fora
de
tudo
com
que
eu
sinto!
Tenho
os
lábios
secos,
ó
grandes
ruídos
modernos,
De
vos
ouvir
demasiadamente
de
perto,
E
arde-‐me
a
cabeça
de
vos
querer
cantar
com
um
excesso
De
expressão
de
todas
as
minhas
sensações,
Com
um
excesso
contemporâneo
de
vós,
ó
máquinas!
PESSOA.
F.
Poesia
completa.
Rio
de
Janeiro:
Nova
Aguilar,
1999.
11. COMANDO
prova aberta de língua portuguesa e literatura
Exponha
as
marcas
futuristas
presentes
no
poema,
com
base
nas
afirmações
de
Marineb.
IdenYfique
formas
encontradas
pelo
poeta
para
realizar
linguisYcamente
uma
escrita
que
“range
os
dentes”
e
aponte
o
efeito
de
senYdo
produzido
por
essas
formas.
12. SOLUÇÃO COMENTADA
prova aberta de língua portuguesa e literatura
alternativa “a”
temaYzação
inovadora
da
escrita
literária
como
uma
criação
tão
febril
e
agressiva
como
os
maquinismos
das
fábricas
e
automóveis;
uso
de
linguagem
hiperbólica
a
revelar
o
entusiasmo
pelas
novidades
tecnológicas,
pelo
moderno;
uso
do
verso
livre
e
de
estrofes/estâncias
assistemáYcas;
uso
de
interjeições
que
elegem
objetos
tecnológicos
em
vez
de
pessoas
e
enYdades
míYcas
e
religiosas;
uso
de
imagens
inusitadas
referentes
a
objetos
considerados,
até
então,
não
poéYcos:
lâmpadas
elétricas,
fábricas,
engrenagens,
papilas,
máquinas
etc.;
exaltação
de
uma
beleza
nova
idenYficada
com
as
fábricas,
as
engrenagens,
as
máquinas,
as
cidades
cosmopolitas,
símbolos
da
energia
e
da
audácia
do
“moderno”,
no
início
do
século
XX.
13. SOLUÇÃO COMENTADA
prova aberta de língua portuguesa e literatura
alternativa “b”
A
escrita
que
“range
os
dentes”
pode
ser
percebida,
no
poema,
por
intermédio
de
dois
recursos
literários,
a
saber,
a
aliteração
[repeYção
da
consoante
“r”:
“pera”,
“rodas”,
“engrenagens”,
entre
outros]
e
a
onomatopeia
[“Ó
rodas,
ó
engrenagens,
r-‐r-‐r-‐r-‐r-‐r-‐r
eterno!“].
As
duas
figuras
fonéYcas
analisadas
anteriormente
sugerem
que
o
sujeito
poéYco
está
totalmente
integrado
com
um
ambiente
fabril,
moderno.
Isso
porque,
ao
escrever,
acaba
por
imitar
o
barulho
das
engrenagens
que
o
cercam.
Para
além
da
inserção
do
texto
nas
propostas
estéYcas
do
futurismo,
percebe-‐se
que
tal
recurso
é
igualmente
moderno
na
medida
em
que
traz
a
poesia
para
o
coYdiano
e
embebe
de
prosaísmo
e
de
oralidade.
14. OBSERVAÇÃO
prova aberta de língua portuguesa e literatura
Por
razões
didáYcas,
resolvi,
neste
arquivo,
apenas
as
questões
que
não
dependiam
da
leitura
dos
livros
indicados
no
processo
seleYvo
da
UFES.