1. Gôndola Vila Morena
o contêiner como opção de moradia
Residencial no Bixiga
1.000 pessoas
Memorial Justificativo
500 contêineres Um novo conceito de
moradia no centro de
São Paulo
9.450 m2 Projeto 4 – Fau-Mack
Carlos Elson Cunha
Projessor de projeto: Luiz Ackel
2. Por que uma vila?
Porque incentiva o encontro entre os vizinhos. A forte rede social e o convívio
entre os moradores do Bixiga nos levaram a respeitar esse modo de morar. Nosso
projeto incentiva a inclusão, o contato e a visualização entre todos. Busca-se aqui
a vida em aldeia, com todos seus benefícios e custos.
Um de tais custos é, claramente, a redução da privacidade. Numa vila os vizinhos
sabem mais sobre a vida uns dos outros: quando chegamos, quando saímos, se
fizemos compra e, mesmo, se trazemos novos amigos ou amores à nossa
residência.
Ao mesmo tempo nós também envolvemo-nos com o grupo, em maior ou menor
grau, o que demanda uma refinada arte da convivência a fim de se ter menos
dissabores.
Todavia, essa vida em aldeia tem seus benefícios, um deles sendo a forte rede de
segurança informal, uma vez que na vila qualquer desconhecido prontamente é
identificado e pode ser abordado por qualquer morador com a singela pergunta:
“Quem o senhor está procurando, moço?”
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3. Por que uma vila? (continuação)
Jane Jacobs já ensinava, há 50 anos, que os olhos são a mais importante
ferramenta da segurança de um bairro. Poder ver onde estão seus filhos e ver
quem está chegando é grande fator intimidador dos mal-intencionados. Diferente
do silêncio de corredores assépticos e frios, as passarelas e ruas que interligam as
moradias em nosso projeto, é uma praça viva onde raramente alguém agirá em
secreto. Assim, a sensação de paisagem devassada, aberta, gera proteção aos
moradores.
Buscamos na vila italiana a inspiração para nosso projeto. Vizinhas
faladoras, crianças ruidosas, homens encontrando seus pares, amigos ou
não, para resolver questões de emprego, conserto de ferramentas e toda sorte de
interesses corriqueiros. Essa é a vida que buscamos para nossa quadra no Bixiga.
Propor uma habitação coletiva numa vila a céu aberto é inverter a lógica
construtiva do condomínio fechado. É criar uma alternativa na cultura residencial
em São Paulo, visando reduzir guetos, fomentando um morar cosmopolita em
que todos os níveis sociais e econômicos compartilhem o mesmo espaço.
Uma vila, porque vivemos num país tropical e temos condições de viver a céu
aberto com maior contato com a natureza. A vila permite maior contato com o
sol, o vento e o céu.
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4. Como se lidou com os de mobilidade Os contêineres são falhos como
reduzida? residência?
Usamos a cota da Rua Santo Amaro Não, se aceitarmos outros parâmetros
para ceder o primeiro pavimento aos de morar. É verdade que possuem
moradores em tais condições. várias restrições: são
estreitos, possuem pé-direito fixo (a
Nesta primeira passarela haverá 14 menos que se abra o forro entre duas
apartamentos duplos (56 m2) e 28 peças assentadas uma sobre a
apartamentos simples (28 m2) assim outra, dobrando a altura interna) e são
os cadeirantes ou outros deficientes de metal – o que favorece calor
podem não só chegar em casa sem interno.
mudar de piso como terão unidades
horizontais, sem escadas internas. Entretanto é verdadeiro também que
qualquer modo construtivo possui
suas restrições – assim como
vantagens. Na Europa já há propostas
de apartamentos em containeres de
luxo, o que dissocia o container da
visão simplista de ser uma solução
meramente “barata”. Ela pode ser
boa, se bem pensada e trabalhada.
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5. Se o piso térreo é aberto, como se dará a segurança?
O complexo não terá muro. Os condôminos depois decidirão se haverá
alguma cerca viva de menos de um metro de altura na parte baixa do terreno
(Rua Jaceguai e Rua da Abolição.
A segurança se dará por porteiros nas 3 torres de acesso com escadas e
elevadores.
Os moradores terão circulação privativa para seus apartamentos (há uma
portaria na Rua Santo Amaro para conferir quem se dirige aos
apartamentos, não para quem vai usar a pista de skate). Assim o uso da
cobertura como área de lazer, é reservado aos moradores e seus convidados.
No bloco A se prevê pista de cooper e ciclovia.
No bloco B e C decks com poltronas ou divãs de madeira para se tomar
sol, ler um livro, abrir o notebook, e fumar. Mesas poderão ser usadas para
se jogar baralho, dominó, xadrez etc ou, no caso de alunos de
arquitetura, fazer projetos nos fins-de-semana e madrugada.
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6. Por que contêineres?
Por uma provocação.
Porque acreditamos ser possível morar sem dever ao banco por 30
anos. Porque achamos injusto um trabalhador pagar juros que, ao
final do financiamento, somaram mais de duas vezes o valor
original do imóvel (o container custa aproximadamente 40%
menos que uma construção convencional).
Porque entendemos ser papel do arquiteto apontar caminhos
novos. Porque este tipo de construção já é muito usado em outros
países e se provou válido. Porque a cidade e as pessoas precisam
de cor. Porque há um crescimento cultural quando entendemos ser
viável morar diferente.
Em outras palavras, romper modelos é saudável quando envolve
abrirmos a mentes a novas opções que estimulam nossa
criatividade.
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7. É possível viver-se confortavelmente num contêiner?
O amplo uso deles em unidades corporativas mostra que sim.
Centros de administração em canteiros de obras, centros de apoio em
eventos, unidades ambulantes de todo tipo de atividade empresarial
(estandes promocionais, centros de jornalismo em coberturas
esportivas, unidades médicas etc), são todos prova de que podemos
obter alto conforto interno nas peças.
Tais usos focam principalmente a mobilidade, mas demonstram ser
possível aliar uma boa ventilação, iluminação e qualidade de vida
internamente.
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8. Por que mudar a mão de direção na Rua da Abolição?
Um empreendimento de tal magnitude necessita de uma circulação
racional.
Entendemos que o sentido horário é a melhor maneira de se dar a
volta no terreno para os visitantes que venham de automóvel. Isto
porque a Rua Jaceguai é uma artéria de forte movimento e não faria
sentido inverte-la.
Assim propomos: mão dupla de direção na Rua da Abolição, de
modo que um motorista possa sair do conjunto por ela, seguir pela
Rua Nestor, entrar na Rua Japurá (cuja mão propomos uma
inversão), entrar na Rua Bixiga (também invertida), atingir a Rua
Santo Amaro, seguir no sentido Praça Pérola Byington, dobrar a
esquina com a Rua Jaceguai e chegar novamente ao lugar de
saída, na Rua da Abolição.
Estas alterações permitem que o grande fluxo de pessoas
motorizadas afetem o mínimo possível o entorno.
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9. Como ficou a relação com o teatro Oficina?
É justo que nosso cliente use a seu bel-prazer a área pela qual pagou – assim
como é justo que o teatro siga sua vida em paz. Cedemos 3 metros no limite
entre as duas áreas como um jardim baixo, que entendemos ser uma fronteira
gentil e não oclusiva.
Entrementes a Vila Morena possui dois projetores de cinema aberto que usam
empenas dos vizinhos. Uma é a empena maior, do vizinho na Rua da
Abolição e outra é a empena do próprio Oficina. Assim a relação cultural deve
levar os moradores a verem com simpatia o tradicional teatro, uma vez que a
Vila tem espaços culturais para uso constante.
Exemplo disso é o palco junto à empena da Rua da Abolição. Este palco pode
ser usado para todo tipo de evento que a comunidade considere
interessante, até mesmo encenações teatrais ou óperas a céu aberto.
Entendemos que o uso da parede como tela não traga conflito, caso
houver, basta erguermos um painel rente às empenas, mas dentro da Vila
Morena.
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10. Por que vigas metálicas com um metro de largura?
No bloco A, o maior de todos, as vigas encontram pilares que
ladeiam a construção até seu teto. O motivo é que temos um
assentamento de 150 metros e não se pode correr o risco de em um
eventual afundamento do terreno afetar a segurança dos moradores.
Nos blocos B e C, de menor proporção, as estruturas surgem apenas
na base das unidades.
Entendemos que ali, nos blocos B e C, há mais segurança, sendo que
uma eventual depressão do solo pode ser bem suportada pelas seis
colunas simples.
A largura das vigas do bloco A se explica por dois motivos: buscamos
o maior vão livre possível e, simultâneamente, as vigas encobrem os
encanamentos de água, esgoto e elétrica que ocorrem na parte
inferior do primeiro pavimento. Tais ductos também passam por trás
das vigas, se dirigindo ao solo.
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11. Não é opressivo eliminar o estacionamento em um conjunto tão grande?
Não se tivermos em conta a ampla malha de linhas de ônibus na Av. Brigadeiro
Luiz Antonio e Rua Maria Paula; a proximidade do metrô, concluímos que a região
central da cidade permite o trânsito de pessoas em transporte coletivo com
razoável conforto.
Outrossim, nossa proposta aponta para o rompimento de paradigmas, uma vez
que a questão ambiental tem sido tratada com seriedade. A inexistência de
estacionamento leva milhares de pessoas a pensar nas vantagens de andar a pé, de
bicicleta, motocicleta ou ônibus. Aos que consideram deficiente o transporte
público em São Paulo respondemos que nosso projeto move o pensamento em
comunidade e a ação cidadã ativa, ou seja, é papel dos contribuintes exigir
qualidade no transporte coletivo.
Não podemos simplesmente construir visando o automóvel e reclamar da
qualidade de vida em São Paulo. É papel do cidadão cobrar do governo a
contrapartida por seus impostos quando, simultaneamente, abre mão do uso do
carro a favor de uma cidade menos poluída e congestionada. Viver sem carro não
equivale a viver pior. Não no centro da cidade. Aos que precisam de veículo para o
seu dia-a-dia, o mercado oferece estacionamentos por toda a região, de modo que o
custo de usá-lo recai apenas sobre seu proprietário.
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12. Dados de área e ocupação
Área do terreno 9.414 m2
Área de 1 contêiner 2,40m larg x 12m 28,8 m2
Quantidade contêineres 56 x 6 pavimentos 336 unidades
bloco 1
Quantidade de contêineres 18 x 6 pavimentos 108 unidades
bloco 2
Quantidade de contêineres 18 x 6 pavimentos 108 unidades
Bloco 3
Total geral 552 unidades
População total 552 x 2 1.104 moradores
Apartamentos duplos horizontais: destinado aos 56 m2 28 unidades
de mobilidade reduzida
bloco 1
Apartamentos kit (um só contêiner) 56 unidades
bloco 1
Duplex - bloco 1 126 unidades
Kit - bloco 2 108 unidades
Kit - bloco 3 108 unidades
Taxa de ocupação 9.414 x 0,7 6.590 m2
Taxa de ocupação real 2.576 (unidades) + 825 m2 3.401 m2
Área permeável 9.414 m2 – 3.514 m2 5.900 m2
Coeficiente de ocupação 2,5 x 9414 23.535 m2
Ocupação real: área construída 552 x 28m2 + áreas de serviço 16.281 m2
comunitário
13. Gôndola Vila Morena
o contêiner como opção de moradia
Residencial no Bixiga
1.000 pessoas
Ao Professor Luiz Ackel
500 contêineres
Meu agradecimento por apoiar
a ousadia de um projeto que
9.450 m2 buscou fugir dastorresde
concreto.