Versão integral da edição n.º 15 do quinzenário “O Centro”, que se publica em Coimbra. Director: Jorge Castilho. 29.11.2006.
Não se esqueça de que pode ver o documento em ecrã inteiro, bastando para tal clicar na opção “full” que se encontra no canto inferior direito do ecrã onde visualiza os slides.
Também pode descarregar o documento original. Deve clicar em “Download file”. É necessário que se registe primeiro no slideshare. O registo é gratuito.
Para além de poderem ser úteis para o público em geral, estes documentos destinam-se a apoio dos alunos que frequentam as unidades curriculares de “Arte e Técnicas de Titular”, “Laboratório de Imprensa I” e “Laboratório de Imprensa II”, leccionadas por Dinis Manuel Alves no Instituto Superior Miguel Torga (www.ismt.pt).
Para saber mais sobre a arte e as técnicas de titular na imprensa, assim como sobre a “Intertextualidade”, visite http://www.mediatico.com.pt/manchete/index.htm (necessita de ter instalado o Java Runtime Environment), e www.youtube.com/discover747
Visite outros sítios de Dinis Manuel Alves em www.mediatico.com.pt , www.slideshare.net/dmpa,
www.youtube.com/mediapolisxxi, www.youtube.com/fotographarte, www.youtube.com/tiremmedestefilme, www.youtube.com/discover747 ,
http://www.youtube.com/camarafixa, , http://videos.sapo.pt/lapisazul/playview/2 e em www.mogulus.com/otalcanal
Ainda: http://www.mediatico.com.pt/diasdecoimbra/ , http://www.mediatico.com.pt/redor/ ,
http://www.mediatico.com.pt/fe/ , http://www.mediatico.com.pt/fitas/ , http://www.mediatico.com.pt/redor2/, http://www.mediatico.com.pt/foto/yr2.htm ,
http://www.mediatico.com.pt/manchete/index.htm ,
http://www.mediatico.com.pt/foto/index.htm , http://www.mediatico.com.pt/luanda/ ,
http://www.biblioteca2.fcpages.com/nimas/intro.html
1. Inscreva-se em: Atelier de Pintura Iniciação em Artes Plásticas Conferências de Anatomia Artística
Mais de 250 obras de arte em catálogo
Visite-nos
em www.aelima.com ou Rua Gil Vicente, 86-A – Coimbra
Exposição de fotografia de João Igor
e de pintura de Luís Sargento até 21 de Dezembro Telefone: 239 781 486 – Telemóvel: 917 766 093
DIRECTOR J O R G E C A S T I L H O
João Araújo,
D.O.
Livraria Minerva Galeria
OSTEOPATA
Figueira da Foz – Consultas à 6.ª feira Edições Minerva Coimbra
Marcações pelo telefone: 965 096 849
Rua Joaquim Sotto Mayor, 120 - Lj. 3 Rua de Macau, 52 – Telefone: 239 716 204
Rua dos Gatos, 10 – Telefone: 239 826 259
| Taxa Paga | Devesas – 4400 V. N. Gaia |
Autorizado a circular em invólucro
email: livrariaminerva@mail.telepac.pt
de plástico fechado (DE53742006MPC)
Coimbra
ANO I N.º 15 (II série) De 29 de Novembro a 12 de Dezembro de 2006 € 1 euro
BISPO DE COIMBRA EM ENTREVISTA AO CENTRO
(iva incluído)
As mulheres não
devem ser padres,
tal como os homens
não podem ser madres PÁG. 4 a 6
DEFENDEU CAVACO SILVA EM COIMBRA, AO INAUGURAR OBRAS DO POLIS Poluição rodoviária
mata milhares
É urgente requalificar de pessoas
as nossas cidades
PÁG. 3
SOBRETUDO POR CAUSA
DO MAU ORDENAMENTO
Coimbra exposta
a vários
riscos naturais
PÁG. 2 PÁG. 3
ASSINE O “CENTRO” BAIXA DE COIMBRA LIVROS
Assinantes E GANHE OBRA DE ARTE
EM MARCHA A REABILITAÇÃO LIVRARIAS CADA VEZ MAIS
do “Centro” AMPLAS E DINÂMICAS
Apenas
com 10% 1.300 Coimbra
de desconto
na compra
habitantes estimula
em 14
de livros
PÁG. 2 e 3
hectares PÁG. 24 a leitura
PÁG. 8 a 12
2. 2 COIMBRA DE 29 DE NOVEMBRO A 12 DE DEZEMBRO DE 2006
DEFENDEU CAVACO SILVA EM COIMBRA, AO INAUGURAR OBRAS DO POLIS
É urgente requalificar as cidades
O Presidente da República afirmou para as energias renováveis e reduzir a
no passado domingo, em Coimbra, ser sua dependência energética do exterior,
urgente avançar com a requalificação em especial do petróleo”.
das cidades, frisando que a qualidade de “Temos de tirar mais partido dos nos-
vida nestes espaços urbanos pode cons- sos recursos naturais e de apostar numa
tituir “um factor de competitividade” de maior produção de energia a partir de
Portugal no mundo global. fontes renováveis. Mas temos, igual-
“Acredito que a qualidade de vida das mente de melhorar a eficiência no con-
cidades portuguesas pode ser um impor- sumo de energia. É necessário apostar
tante factor de competitividade de Por- numa maior eficiência energética nos
tugal no quadro da globalização. É urgen- edifícios, na indústria e nos transpor-
te avançar na requalificação das cidades tes”, sublinhou.
portuguesas”, afirmou Aníbal Cavaco Pela importância das questões am-
Silva, que presidiu à inauguração de três bientais e energéticas, Cavaco Silva dis-
obras do programa Polis em Coimbra . se ter decidido que a próxima jornada
Na sua perspectiva, “a melhoria da qua- do Roteiro para a Ciência será dedicada
lidade de vida nas cidades deve constitu- às tecnologias limpas.
ir um objectivo cimeiro da administração Ao intervir na sessão, o Presidente da
central, local e dos cidadãos”. Câmara de Coimbra, Carlos Encarna-
“As cidades, pelas suas capacidades ção, defendeu “uma mudança radical na
e recursos, são decisivas para o desen- política das cidades” e a conclusão das O Bispo de Coimbra benzendo a nova ponte pedonal “Pedro e Inês”
volvimento da nossa economia”, vincou obras previstas no âmbito do Polis, la-
o Chefe de Estado. mentando ainda a escassez de progra- mas palavras de ordem como “Sim à inaugurado vai ser inserido na Rede de
Classificando a intervenção Polis em mas para recuperar os centros das urbes. vida” e “Ajude aqueles que não se po- Cuidados Continuados Integrados, Aní-
Coimbra como “um bom exemplo de O Ministro do Ambiente, Ordena- dem defender”. bal Cavaco Silva louvou esta forma,
requalificação urbana”, Cavaco Silva mento do Território e do Desenvolvime- “especialmente meritória, de aproveita-
observou, contudo, que “apesar dos es- nto Regional, Nunes Correia, afirmou, PRESIDENTE APELA mentos dos recursos” existentes no con-
forços das últimas décadas nos domí- em resposta ao autarca social-democra- celho, assente na articulação entre a
nios das infra-estruturas de transportes ta, que os programas Polis “nunca pre- Santa Casa da Misericórdia e as estrutu-
AO DINAMISMO
e de energia , dos equipamentos sociais tenderam resolver todos os problemas ras públicas do Serviço Nacional de
DA SOCIEDADE CIVIL
e da habitação”, Portugal está confron- das cidades”. Antes de Coimbra, o Presidente da Saúde.
tado com “novos fenómenos de degra- “A maior responsabilidade na resolu- República, esteve em Arganil, onde “Por meio desta salutar articulação, a
dação do ambiente urbano e, mais em ção desses problemas cabe ao poder apelou ao dinamismo da sociedade Misericórdia e o Estado consegue m
geral, de perda da qualidade de vida nas local, às câmaras municipais. O Estado civil, considerando que quanto mais facilmente realizar aquilo que é o seu
cidades”. tem um papel supletivo”, referiu o activa ela for, mais legitimidade tem objectivo comum: promover o bem-
“À degradação do ambiente urbano membro do governo. para reclamar o apoio do Estado. -estar dos portugueses e contribuir para
juntou-se o alargamento das periferias No âmbito do Polis de Coimbra, fo- “O país só tem a beneficiar com uma a melhoria da qualidade de vida dos
das grandes e médias cidades portugue- ram inaugurados no domingo a Ponte sociedade civil forte e dinâmica. Quan- cidadãos, em especial dos mais carenci-
sas e o surgimento de novos fenómenos Pedonal Pedro e Inês, o Centro de Inter- to maior dinamismo revelar, mais a ados, daqueles com maiores necessida-
de exclusão social. Face a esta situação, pretação Ambiental e a entrada poente sociedade civil dispõe de legitimidade des de saúde, dos mais idosos em parti-
é necessário agir com eficiência e deter- do Parque Verde do Mondego. par a reclamar o apoio do Estado. É cular”, salientou.
minação”, defendeu. Após a travessia da ponte pedonal da justo ajudar aqueles que mais ajudam”, Para o Presidente da República, “a cria-
No seu discurso, o Presidente da Re- margem esquerda para a direita, Cavaco frisou o Chefe de Estado. ção de unidades descentralizadas para
pública preconizou também “uma nova Silva era esperado por centenas de po- O Presidente da República discursa- cuidados continuados responde, assim,
atitude em matéria de energia nas cida- pulares, sendo visíveis na frente da mul- va na cerimónia de inauguração do aos desígnios de permitir a prestação
des”, sublinhando que Portugal “enfren- tidão dois cartazes onde se liam os dize- Hospital de Cuidados Continuados Dr. desses cuidados em meio apropriado e
ta um desafio crucial neste domínio: re- res “Despenalizar é aceitar o crime” e Fernando Valle, da Santa Casa da Mi- de fazê-lo mais próximo do local da resi-
duzir as emissões de gases com efeito “Não à interrupção voluntária da gravi- sericórdia de Arganil. dência, das pessoas e do ambiente que é
de estufa, cumprir as metas europeias dez”, tendo-se escutado também algu- Ao referir que o equipamento hoje mais familiar aos doentes”.
Assinantes do “Centro” com 10% de desconto
Director: Jorge Castilho
(Carteira Profissional n.º 99) na compra de livros
Propriedade: Audimprensa No sentido de proporcionar mais alguns desconto que proporcionamos aos assi- Se não quiser ter esse trabalho, bastará
Nif: 501 863 109 benefícios aos assinantes deste jornal, o nantes do “Centro” assume especial sig- ligar para o 239 854 150 para fazer a sua
“Centro” acaba de estabelecer um acordo nificado (isto é, só com o que poupa por assinatura, ou solicitá-la através do e-mail
Sócios: Jorge Castilho e Irene Castilho
com a livraria on line “livrosnet.com” (ver um filho fica pago o valor anual da assi- centro.jornal@gmail.com.
Inscrito na DGCS sob o n.º 120 930 rodapé na última página desta edição). natura). São apenas 20 euros por uma assinatura
Para além do desconto de 10%, o assi- Mas este desconto não se cinge aos ma- anual – uma importância que certamente recu-
Composição e montagem: Audimprensa
– Rua da Sofia, 95, 3.º
nante do “Centro” pode ainda fazer a enco- nuais escolares. Antes abrange todos os perará logo na primeira encomenda de livros.
3000-390 Coimbra - Telefone: 239 854 150 menda dos livros de forma muito cómoda, livros e produtos congéneres que estão à E, para além disso, como ao lado se indi-
Fax: 239 854 154 sem sair de casa, e nada terá a pagar de cus- disposição na livraria on line “livrosnet”. ca, receberá ainda, de forma automática e
e-mail: centro.jornal@gmail.com
tos de envio dos livros encomendados. Aproveite esta oportunidade, se já é assi- completamente gratuita, uma valiosa obra
Impressão: CIC - CORAZE Numa altura em que se aproxima o nante do “Centro”. de arte de Zé Penicheiro – trabalho original
Oliveira de Azeméis início de um novo ano lectivo, e em que Caso ainda não seja, preencha o boletim simbolizando os seis distritos da Região
Depósito legal n.º 250930/06
as famílias gastam, em média, 200 euros que publicamos na página seguinte e envie- Centro, especialmente concebido para este
Tiragem: 10.000 exemplares em material escolar por cada filho, este o para a morada que se indica. jornal pelo consagrado artista.
3. DE 29 DE NOVEMBRO A 12 DE DEZEMBRO DE 2006 COIMBRA 3
AFIRMADO EM DEBATE DO CONSELHO DA CIDADE SOBRETUDO POR CAUSA DO MAU ORDENAMENTO
Poluição rodoviária Coimbra exposta a vários
mata milhares de pessoas riscos naturais
- vai aumentar o estacionamento pago e a fiscalização Coimbra é uma cidade exposta a vários risco e no abandono das áreas rurais e dos
A poluição provocada pelas emissões nida Central, com ou sem metro, fechar a riscos naturais, mas a maior parte deles pequenos espaços agrícolas”.
dos escapes dos veículos automóveis mata rua da Sofia ao trânsito, e criar mais luga- resulta do mau ordenamento do território, Segundo o catedrático, as questões das
milhares de pessoas todos os anos. Este o res de estacionamento pagos, em que as concluiu um debate realizado na passada inundações “resolvem-se facilmente” se
alerta lançado por Massano Cardoso, Pro- duas primeiras horas teriam preço simbóli- quinta-feira, por iniciativa da Pró-Urbe. forem respeitados os leitos de cheias, man-
vedor do Ambiente e Qualidade de Vida, co, e as restantes teriam custos substancial- Intervindo no debate “Incêndios, inun- tidos os espaços verdes na cidade, e limpas
em debate promovido anteontem à noite mente mais elevados, para desincentivar o dações e outros riscos na cidade: que pre- as ruas e as sarjetas.
(segunda-feira) pelo Conselho da Cidade estacionamento na área urbana. venção”, Alexandre Tavares afirmou que O problema dos incêndios é, para Lúcio
de Coimbra, na Casa Municipal da Cul- O outro palestrante foi o Presidente da hoje se assiste “a um reflexo do que foi a Cunha, “uma questão muito difícil de re-
tura. Câmara de Coimbra, que revelou que vão ocupação da cidade” a partir da década solver a curto e médio prazo”, apontando a
Segundo Massano Cardoso, à medida ser, efectivamente criados, mais de mil de 70. falta de capacidade das autarquias e dos
que a Ciência evolui mais se descobrem os lugares de estacionamento pagos e que a “De 1985 até 2000, a expressão do pequenos proprietários para limpar as
terríveis malefícios da poluição do ar que fiscalização vai ser intensificada. espaço transformado, que era de 42 quiló- matas como um dos entraves à resolução
respiramos, pelo que importa tomar medi- Relativamente à polémica supressão da metros quadrados, passou para 90 quiló- daquele flagelo.
das para condicionar o trânsito automóvel Ecovia, Carlos Encarnação referiu que o metros quadrados, quebrando relações “A nova legislação sobre defesa da flo-
nos centro urbanos. serviço vai continuar, só que em novos com o meio físico e provocando alterações resta é óptima, mas está desfasada do país
A primeira intervenção coube a Álvaro moldes, com o recurso aos autocarros nor- em todo o concelho”, sublinhou o enge- real”, concluiu.
Seco, professor da Faculdade de Ciências mais, ficando os pequenos actualmente nheiro geólogo, que criticou também as Por seu turno, o professor José Manuel
da Universidade de Coimbra e especialista usados pela Ecovia para as carreiras com grandes movimentações de terras provoca- Mendes apelou a um maior envolvimento
em transportes, que defendeu ser quase menos passageiros, nomeadamente as noc- das recentemente pela construção de duas dos cidadãos nas questões de segurança e
escandaloso que existam milhares de luga- turnas. grandes superfícies na cidade, e a sua colo- defendeu a criação de uma estrutura de
res de estacionamento na cidade de Carlos Encarnação referiu ainda a enor- cação “em locais não naturais”. protecção civil mais integrada, através de
Coimbra, nomeadamente na zona central, me injustiça que constituem as avultadíssi- Para o geógrafo Lúcio Cunha, da Fa- “um sistema mais democratizado e orien-
que são gratuitos, o que representa um con- mas “indemnizações compensatórias” culdade de Letras da UC, os principais pro- tado para a prevenção, em vez do socorro”.
vite para que as pessoas tragam os carros pagas aos transportes colectivos de Lisboa blemas que se têm registado em Coimbra – “Não há desastres naturais, existem é
para o centro urbano. e do Porto, enquanto os de Coimbra nada inundações, incêndios, aluimentos – “estão desastres políticos, morais e culturais”,
Defendeu que é urgente rasgar a Ave- recebem. no crescimento da cidade para áreas de sublinhou o catedrático.
APENAS 20 EUROS POR UMA ASSINATURA ANUAL! Rua da Sofia. 95 - 3.º
3000–390 COIMBRA
Assine o jornal “Centro” Poderá também dirigir-nos o seu pedido de
assinatura através de:
telefone 239 854 156
e ganhe valiosa obra de arte fax 239 854 154
ou para o seguinte endereço de e-mail:
centro.jornal@gmail.com
Nesta campanha de lançamento do jornal praias magníficas até às serras verdejantes) e, importante vai acontecendo nesta Região, no
“Centro” temos uma aliciante proposta para ainda, de gente hospitaleira e trabalhadora. País e no Mundo. Para além da obra de arte que desde já lhe
os nossos leitores. Não perca, pois, a oportunidade de receber Tudo isto, voltamos a sublinhá-lo, por oferecemos, estamos a preparar muitas outras
De facto, basta subscreverem uma assina- já, GRATUITAMENTE, esta magnífica obra APENAS 20 EUROS! regalias para os nossos assinantes, pelo que os
tura anual, por apenas 20 euros, para automa- de arte, que está reproduzida na primeira pági- Não perca esta campanha promocional, e 20 euros da assinatura serão um excelente
ticamente ganharem uma valiosa obra de arte. na, mas que tem dimensões bem maiores do ASSINE JÁ o “Centro”. investimento.
Trata-se de um belíssimo trabalho da auto- que aquelas que ali apresenta (mais exacta- Para tanto, basta cortar e preencher o O seu apoio é imprescindível para que o
ria de Zé Penicheiro, expressamente concebi- mente 50 cm x 34 cm). cupão que abaixo publicamos, e enviá-lo, “Centro” cresça e se desenvolva, dando voz a
do para o jornal “Centro”, com o cunho bem Para além desta oferta, passará a receber acompanhado do valor de 20 euros (de prefe- esta Região.
característico deste artista plástico – um dos directamente em sua casa (ou no local que nos rência em cheque passado em nome de
mais prestigiados pintores portugueses, com indicar), o jornal “Centro”, que o manterá AUDIMPRENSA), para a seguinte morada: CONTAMOS CONSIGO!
reconhecimento mesmo a nível internacional, sempre bem informado sobre o que de mais Jornal “Centro”
estando representado em colecções espalha-
das por vários pontos do Mundo.
Neste trabalho, Zé Penicheiro, com o seu
traço peculiar e a inconfundível utilização de Desejo receber uma assinatura do jornal CENTRO (26 edições).
uma invulgar paleta de cores, criou uma obra
que alia grande qualidade artística a um pro- Para tal envio: cheque vale de correio no valor de 20 euros.
fundo simbolismo.
De facto, o artista, para representar a Região
Centro, concebeu uma flor, composta pelos seis Nome:
distritos que integram esta zona do País: Aveiro,
Morada:
Castelo Branco, Coimbra, Guarda, Leiria e Viseu.
Cada um destes distritos é representado por Localidade: Cód. Postal: Telefone:
um elemento (remetendo para respectivo patri-
mónio histórico, arquitectónico ou natural). Profissão: e-mail:
A flor, assim composta desta forma tão ori-
ginal, está a desabrochar, simbolizando o Desejo receber recibo na volta do correio N.º de contribuinte:
crescente desenvolvimento desta Região Cen-
tro de Portugal, tão rica de potencialidades, de Assinatura:
História, de Cultura, de património arquitec-
tónico, de deslumbrantes paisagens (desde as
4. 4 ENTREVISTA DE 29 DE NOVEMBRO A 12 DE DEZEMBRO DE 2006
As mulheres não devem ser padres, tal
BISPO DE COIMBRA EM ENTREVISTA AO CENTRO
Homem de uma invulgar
simplicidade e simpatia
que normalmente conduz o carro
e aparece nos locais de forma
discreta, D. Albino Cleto
é o actual Bispo de Coimbra.
Nasceu em Manteigas, em plena
Serra da Estrela, em 1935.
Foi ordenado padre em 1959
e colocado no Seminário
de Almada, onde esteve 19 anos.
Assume-se como beirão, embora
tenha vivido quase meio século
na capital. Foi na Universidade
Clássica de Lisboa que se
licenciou, em Filologia Românica.
Em 1978 foi colocado como prior
na Basílica da Estrela. Tornou-se
bispo em 1983 e durante 15 anos
foi Auxiliar do Cardeal Patriarca
D. António Ribeiro. Nunca
imaginou ser colocado
em Coimbra, mas confessa
que rapidamente se adaptou
e gosta de aqui estar, tendo-se
criado uma empatia natural.
Na entrevista que nos concedeu
nenhuma pergunta ficou
sem resposta. Aqui fica o essencial
dessa conversa informal.
sou amigo, que obteve essa dispensa tam e entre si estão abertas generosa- mas a mãe nem precisa de pegar nele
Jorge Castilho por ter vindo da Igreja Protestante. Por- mente à fecundidade – quer ela seja para dizer que a criança está doente, pois
tanto não critico essa atitude, mas não física, com a geração de um filho, quer a mulher tem uma intuição que o homem
CASAMENTO DE PADRES me abro à preocupação de termos mui- de outra ordem. nunca terá. Por isso, no campo da educa-
E DE HOMOSSEUXUAIS tos padres, porque correríamos o risco ção cristã para a Fé, a mulher na Igreja é
de estarmos a garantir a função, em vez O PAPEL DA MULHER decisiva como mãe, como catequista,
Notícia recentes davam conta de de conseguirmos a paixão. Evidente- NA IGREJA como líder de aprendizagem. Já vejo que
que o Papa iria convocar a Cúria para mente que o padre realiza funções, mas o homem, pela sua constituição psicoló-
tratar do problema do celibato… não queremos que ela seja um funcioná- E quanto ao papel da Mulher no seio gica, está muito mais dotado, e as mulhe-
Uma questão como a do celibato rio. Por isso é preferível termos menos da Igreja? res pedem-lho, para enfrentar situações
nunca o Papa a resolveria apenas com padres, mas que sejam verdadeiramente Respeito a posição tomada pelo Papa discordantes. Infelizmente identificamos
os cardeais da Cúria. O Papa quis dialo- apaixonados, que não discutam a nome- João Paulo II, que a considerou uma homem com força e mulher com senti-
gar sobre questões atinentes, como, por ação para esta ou aquela terra, que não questão, para ele, definitivamente estu- mento. Está errado isso.
exemplo, o pedido de dispensa de pa- tenham preocupações primariamente de dada. Respeito os motivos que ele adian- Contudo, nestes últimos tempos as
dres que pensam seguir outro caminho, família. Por outro lado, hoje posso dizer tou. O facto de a Igreja, durante séculos mulheres têm vindo a conquistar lu-
ou o reingresso de padres que, por viu- estas coisas mais à vontade, pois muitas e desde o seu início, ter ligado o sacerdó- gares em profissões que sempre fo-
vez ou qualquer outro motivo, gostariam coisas que eu via fazer o meu velho cio apenas a homens, torna essa questão ram exclusivamente masculinas. Aliás,
de ser reintegrados. É ainda o caso de prior, hoje são feitas por leigos na dioce- do âmbito teológico. No âmbito pastoral desde há séculos que as mulheres se
muitos vindos de outras confissões cris- se e isso tranquiliza-me. Para concluir esta penso que a Igreja ainda vai caminhar entregam também à Religião, ingres-
tãs. Aliás, em Outubro do ano passado, questão: queira Deus que haja muitos muito, confiando às Mulheres trabalhos sam em ordens, fazem votos… O que
no Sínodo em que participei (e onde ha- padres e que eles sejam apaixonados; importantes, não só no campo da cate- é que entende que as impede de pode-
via quase trezentos bispos de todo o mas se amanhã houver uma mudança na quização, da acção caritativa, como tam- rem exercer o munus sacerdotal?
Mundo), o Papa ouviu uma posição legislação da Igreja, isso não me pertur- bém no campo da liturgia e até da admi- Olhe, quando raparigas me fazem
que, tendo embora bastantes votos no ba nada. nistração dos sacramentos. Penso que a essa pergunta, eu respondo-lhes: “Sim,
sentido de lhe pedir que a questão seja E o que pensa dos casamentos en- Igreja ainda irá confiar às mulheres tare- tu poderás ser padre quando eu puder
reconsiderada, a maioria foi no sentido tre homossexuais? fas que agora ainda lhe estão vedadas. ser madre!...”. Elas ficam irritadíssi-
de manter o celibato. Lamento-os. Respeito a situação Mas essa posição não é rígida, mas! Mas eu explico-lhes: “Aí estão
E a sua opinião sobre o assunto? dessas pessoas que considero uma atendendo ao papel de igualdade que duas funções que nunca serão confundí-
Sou nitidamente favorável à manu- excepção naquilo que é a norma da a mulher tem vindo a conquistar? veis. Agora pensa o que tu, como rapa-
tenção do celibato, e explico por quê: Humanidade. E não gosto de lhe cha- Nós temos ainda uma carga muito riga, poderás fazer como Madre, que eu
julgo que o que nós precisamos, antes mar casamento, embora reconheça nes- grande, vinda de séculos, que identifica nunca poderei fazer, porque Madre é
de termos bastantes padres, é termos pa- te sentido que há países que aceitam igualdade com missão. Ora eu creio que Mãe. E eu garanto-te que tu gostarás
dres verdadeiramente apaixonados. Eu essa situação a que eu chamo uma ami- igualdade deve ser na dignidade, no peso que um homem se assuma sempre como
não critico outras confissões cristãs – e zade. Porque o conceito que eu tenho e na construção da família e do Mundo. Pai”. Agora a questão é que a Igreja
mesmo na Igreja há um sector na região casamento pressupõe a diferença de Mas não significa necessariamente iden- identifique sacerdócio com paternidade.
da Síria, Palestina e parte da Turquia, sexos. Não sou capaz de definir casa- tidade de tarefas. Deixe-me dar-lhe um Então eu digo-lhes: “Pergunta a Nosso
onde os padres católicos são casados. mento a não ser como a união de pesso- exemplo: às vezes um pai pega no filho Senhor Jesus Cristo e aos teólogos se
Como até em Lisboa há um, de quem as de sexo diferente que se complemen- bebé e não se apercebe que ele tem febre, isto tem mesmo de ser assim. João
5. DE 29 DE NOVEMBRO A 12 DE DEZEMBRO DE 2006 ENTREVISTA 5
como os homens não devem ser madres
Paulo II disse que sim. Se daqui a ama- bispo muito simpático e eu dirige-me a rios em Portugal. Era responsável por liaridade – lá está, que sejam mais pais
nhã a igreja identificar sacerdócio com ele, que me disse que estava ali a presi- um Seminário em Almada, quando ele e pastores do que funcionários.
maternidade, então tu serás Madre sa- dir a uma peregrinação de alemães e se atingiu o auge: 173 alunos. Acompanhei
cerdotisa, mas nunca Padre”. apresentou como Ratzinger. Ora o nome o decréscimo até bater no número míni- IGREJA EM PORTUGAL
dele já era então muito falado. Passados mo: apenas 11 alunos. Mas ainda tive a POUCO AFECTADA
PAPA NÃO É CONSERVADOR anos, fui recebido por ele, já então Car- alegria de ver crescer o número e, sobre- PELA CRISE
deal para a Congregação da Fé, sempre tudo, mudar aquilo a que podemos cha-
Não acha o actual Papa mais con- muito simpático, nunca inquisidor. mar a qualidade. É que os 20 que eu dei- Perante a crise generalizada que se
servador do que João Paulo II? xei quando passei essa responsabilidade vive e o decréscimo dos católicos pra-
Não, de maneira nenhuma!… SACERDOTES a outro padre, eram rapazes amadureci- ticantes, qual é a situação da Igreja
Mas é essa a imagem que ele trans- FUNCIONÁRIOS dos, alguns dos quais com a tropa já Católica?
mite… feita, vindos de liceus e universidades. Não temos sentido problemas, em
Olhe que ela está a evoluir. Repare que, O sr. Bispo não receia que, com a E no Seminário de Coimbra? Portugal. Primeiramente porque, graças
apesar do que recentemente se disse, de a crise de vocações a que se assiste, com No Seminário de Coimbra temos 26 a Deus, os cristãos têm consciência da
Missa poder voltar ao missal anterior ao a falta de padres, haja jovens que (tal – um número que não é tranquilizante sua obrigação, sejam eles da cidade ou
Concílio, o Papa acaba de ter um gesto como sucede noutras áreas, como no porque vêm de 5 Dioceses. Somos dos de aldeia. Hoje já não há a velha côn-
que não leva a antever isso, ao nomear ensino), enveredem pelo sacerdócio que tem menos gente em Portugal. De grua, que se pedia uma vez por ano, mas
como responsável por essa área o cardeal não por convicção mas por oportunis- qualquer modo o número está a crescer. há o contributo mensal de quem, sentin-
brasileiro de São Paulo, que não defende mo, para tentarem assegurar o futuro? Mas deixe-me dizer-lhe que esta cri- do-se “sócio do clube”, sente-se tam-
essa perspectiva. Também a nomeação do Não receio isso porque o crivo hoje se sacerdotal é tipicamente da Europa e bém membro de uma comunidade. E
seu novo Secretário de Estado, mostra está muito mais apertado. Desde o cha- da América do Norte, do mundo ociden- assim contribui mensalmente, por vezes
que o Papa quer janelas abertas. Não é mado pré-Seminário, que é o acompa- tal. Porque no mundo oriental e na semanalmente, para a sua comunidade.
que o anterior as fechasse, mas este talvez nhamento do adolescente ou do jovem América Latina (com excepção do Bra- Em segundo lugar, porque continua
tenha maior abertura. O que eu sinto é que antes de ingressar no Seminário, como sil) está a crescer imenso. funcionar muito o brio “de ter bem tra-
este Papa é antes do mais um intelectual, depois, ao longo de pelo menos sete tado o nosso prior, porque gostamos
nesse aspecto bastante diferente de João anos de Seminário, há um diálogo muito CRISE DE VOCAÇÕES MAIOR dele, não o queremos perder” – o que
Paulo II, que também era um universitá- grande, quer quanto à motivação quer ENTRE AS MULHERES leva muita gente a ser generosa, às
rio, mas um homem muito mais vivencial. quanto às capacidades do candidato. vezes até mais para o prior do que para
Por isso, na sua maneira de intervir, este Por outro lado, os próprios candida- E o que se passa quanto às ordens a igreja paroquial.
Papa pensa e repensa as coisas, e os seus tos, se porventura se deixassem fascinar religiosa femininas? Por último, se diminuem os párocos,
gestos são a conta-gotas. No campo da por esse tipo de vida a que o povo chama Preocupa-me muito, a mim e a outros é maior o número de contribuintes para
abertura às mulheres, o Papa tem de ter “uma vida limpinha”, estão bem consci- bispos, o decréscimo das vocações fe- uma mesma caixa. Isto tem equilibrado
muita atenção a uma riqueza da Igreja que encializados de outras exigências e limi- mininas. Paradoxalmente, em Coimbra, as coisas.
é a unidade. Ora, como ele é um apaixo- tações que de cada vez são maiores. O a congregação feminina que tem mais e Volta meia volta surgem casos de
nado pelos caminhos ecuménicos e tenta, povo hoje é muito mais exigente do que melhores vocações é a das Carmelitas, pessoas que se queixam de que o
a todo transe, a unidade com a Igreja em tempos idos. A situação económica provavelmente por ser a mais exigente, pároco não quis fazer o funeral de um
Ortodoxa, o Papa encontra aí um obstácu- do padre, que é desafogada, já não é pela radicalidade da consagração. familiar, o baptizado do filho, por não
lo, pois para os ortodoxos a hipótese de como a do antigo prior da aldeia, que era Mas congregações femininas têm se estar perante católicos praticantes.
um sacerdócio feminino seria pior do que o único senhor que tinha carro e que não muito poucas candidatas, porque au- Não lhe parece que e Igreja deveria
o assalto a Constantinopla. tinha que dar contas ao povo sobre os mentou o número de congregações. E ser mais tolerante?
Mas se o Papa pensa e repensa, signi- dinheiros gastos ou a hora da missa. acontece um outro fenómeno: são muito Tolerante a Igreja deve ser. Agora não
fica que a afirmação que ele fez recente- Hoje já não é assim. Quer a partir dos mais questionadas as raparigas na sua confundamos tolerância com laxismo.
mente sobre o islamismo, e que levan- educadores, quer a partir dos próprios. decisão, do que os rapazes. A um rapaz Efectivamente, muitos dos serviços reli-
tou esta onda mundial de protestos, foi há uma situação séria. que decida ingressar no Seminário, giosos que nos são pedidos, nós olha-
bem pensada… Mas para esclarecer melhor o que dizem “Isso é lá contigo”. Uma rapariga mos para eles como actos sagrados,
Não sei. Há quem o pense… Mas eu disse atrás, não significa que eu tenha que diga em sua casa, ou no seu grupo enquanto quem os pede por vezes vê
admito que não, porque tenho verificado desprezo por qualquer funcionário. A de amigas, que quer ser freira, é terri- apenas neles um gesto tradicional, de
que o Papa, quando está no meio univer- minha preocupação não é tanto pelos velmente cercada, tentando dissuadi-la. civilidade. Por exemplo, numa missa de
sitário, quase se esquece de que é Papa. candidatos, mas antes com o povo. Voltando aos padres, o seu número funeral, verificamos muitas vezes que
Pude verificá-lo durante breves minutos Porque o povo cristão não tolera ainda reduzido estará a provocar que se as pessoas não participam, pelo que
no Sínodo dos Bispos, o ano passado. hoje um padre que seja meramente fun- quebre a ligação estreita que antiga- facilmente se conclui que não são prati-
Durante três semanas, raro foi o dia em cionário, mas no fundo é isso que por mente existia entre eles e o povo… cantes, não estão ali por um acto de fé,
que o Papa não esteve no Sínodo. vezes está a pedir. Quando diz “Que- Temos paróquias em Portugal com mas apenas por um acto protocolar que
Habitualmente calado, sempre muito remos um padre, mesmo que seja casa- menos de cem habitantes, pelo que lhe a família do defunto gostou de fazer.
atento aos textos e às afirmações. Mas do, o que o povo por vezes quer é os não daríamos um pároco, mesmo que o Outro exemplo: baptismos que nos
houve um dia em que uma questão secun- serviços a horas – a missa todos os dias, tivéssemos. E entre 100 e 500 habitantes, são pedidos por famílias que não têm a
dária, relacionada com a “Última Ceia, o funeral como o povo entende. Mas um número incontável. Mas, de facto, há mínima prática cristã. E outras situa-
Primeira Missa ou não?”, o Papa tomou a depois de servido, corre-se o risco de o um empobrecimento de uma das maiores ções: casamentos que não têm funda-
palavra, dizendo: “Não me ouçam como povo dizer: “Não gostamos deste riquezas culturais e religiosas de mento de estabilidade…
Papa, vou falar-vos como professor!”. padre”. Portugal, que era a familiaridade entre o Mas isso não é uma atitude prepo-
Ora eu estou convencido de que na pastor e os paroquianos. Hoje há casos tente e arbitrária da Igreja?
Alemanha, o seu País, ele preparou muito NÚMERO DE SEMINARISTAS de um só padre que cuida de duas ou três Não! Para que, por exemplo, o casa-
bem uma lição e fez uma citação… ESTÁ A AUMENTAR paróquias, ou então um grupo de padres mento seja efectivamente um sacramen-
O sr. Bispo conheceu-o antes de ele que cuida de todo um concelho (por to, portanto um acto sagrado no qual o
ser Papa? A verdade é que os seminários es- exemplo, o de Tábua, que tem 13 paró- próprio Deus garante que se comprome-
Sim, estive com ele variadíssimas tão quase vazios… quias, está entregue a dois padres). te, supõe-se que nós também nos com-
vezes, e sempre de passagem. Encon- Permita que o corrija: não têm os Interessante é que os paroquianos per- prometemos a fazer o acto como deve
trei-me com ele quando estava com um altos números que tinham há 30 anos, guntam sempre: “Mas quem é o nosso?”. ser. Se eu tenho noivos que não se com-
grupo de peregrinos portugueses na Ba- mas estão em lento crescimento. Aliás, Temos pedido aos padres que culti- prometem a ser generosos tendo filhos,
sílica de São Paulo. Reparámos num eu acompanhei toda a crise dos seminá- vem os laços de proximidade e de fami- (Continua na página seguinte)
6. 6 ENTREVISTA DE 29 DE NOVEMBRO A 12 DE DEZEMBRO DE 2006
Bispo de Coimbra em entrevista ao “Centro”
(Continuado da página anterior) como ainda há pouco sucedeu com
ou a serem fiéis a quem agora dizem Ciudad Rodrigo, em Espanha, sendo
que sim, eu duvido muito que esteja a chamado a pronunciar-me. Promover
fazer um acto como Deus o quer. cursos, dialogar com a senhora Ministra
Quando eu baptizo uma criança cujos da Cultura, conversar com a Polícia
pais me não garantem que a vão educar Judiciária sobre a segurança das igrejas
cristãmente, tenho a sensação de que eu e dos seus conteúdos – eis algumas das
próprio estou a faltar ao respeito a um minhas tarefas.
acto religioso que, por natureza, é o
ingresso na Igreja. POSIÇÃO SOBRE O ABORTO
Por isso, o que eu lamento é que al-
guns padres não saibam ser, delicada- Outro tema incontornável, pela
mente, exigentes, e sejam, porventura, sua actualidade, é o do aborto. Qual é
funcionários, apresentando simples- a posição do sr. D. Albino Cleto?
mente a regra e condenando, sem mais, Fiel à vida! Portanto, não concordo
a pessoa que vem pedir. O que se deve com a facilitação que a lei prevê, pelas
fazer sempre é, com paciência e delica- razões que a Conferência Episcopal tem
deza, explicar às pessoas a exigência de aduzido, e que são, fundamentalmente,
uma acto sagrado. o princípio da dignidade do embrião
Não lhe parece que há muitos cató- como vida humana. O conceito de pes-
licos que encaram a confissão como soa é discutível, porque entra na área
uma espécie de “lavandaria das al- jurídica, mas eu entendo que não pode
mas”, onde vão regularmente redi- depender de qualquer conceito jurídico
mir-se de actos condenáveis que pra- de pessoa o respeito que eu tenho obri-
ticam no seu quotidiano? gação de ter por uma vida em embrião.
Admito que haja alguns que o façam. Aquilo que tem sido publicado pela
Mas eu costumo dizer que a confissão Conferência Episcopal, eu partilho
não é limpar o pó do móvel, mas antes inteiramente. Acrescento apenas uma
dar ao móvel um tónico para que ele coisa: faço isto não como um jogo que
melhore. Se só limpo o pó do móvel, ele vamos ter para ver quem ganha, mas
fica exactamente igual. Quando aplico como um serviço à vida em toda a sua
um tónico, é para melhorar, para ama- amplitude. O que significa que, depois
nhã ser mais forte. do referendo, seja o resultado qual for,
eu sei que, como bispo, vou continuar
com esta luta, que vai ser uma luta de
décadas. Porque sinto, muito sincera-
O FENÓMENO DAS SEITAS
mente, a vida ferida e ameaçada.
E A PRÁTICA CATÓLICA
As seitas proliferam em Portugal e
por esse mundo fora. Não terá isso a
ver com o facto de a Igreja Católica
PRINCIPAL PREOCUPAÇÃO
se não ter actualizado, a ida à missa
É MANTER A IGREJA VIVA
ocupado pouco com a formação, a co- temos o termómetro nos chamados
ser encarada como um ritual de meçar pela instrução religiosa. Na seita, ofertórios nacionais, um dos quais, em Qual é a sua maior preocupação
sacrifício, enquanto as sessões das sei- com meia dúzia de verdades o crente Maio, é sempre para a comunicação como Bispo de Coimbra?
tas são uma festa (embora quase sem- considera-se esclarecido. social da Igreja. O resultado é mínimo! É uma preocupação que tenho parti-
pre com um ingresso bem caro…), de Em contrapartida, em tudo o que é sen- lhado com padres e leigos, e que é esta:
onde as pessoas saem mais alegres? timento, o povo é generoso: os seminá- construir, para que a Igreja, no futuro
Estou de acordo. O fenómeno de mi- rios, porque lhes dão padres, as próximo, se mantenha viva e não
A OPULÊNCIA DE FÁTIMA
gração de católicos para as seitas (que Pregando a Igreja Católica a fruga- Missões, porque “coitadinhos dos preti- dependa das estruturas que estão a desa-
felizmente em Portugal não é tão acen- lidade, a temperança, a modéstia, co- nhos”. Se pedir dinheiro ao povo para parecer. Daí a necessidade de formação
tuado como no Brasil e outros países), mo se compreende que esteja a erigir construir a sua igreja ou capelinha, está na Fé, nomeadamente dos leigos. Por
tem várias causas, algumas situadas na em Fátima uma basílica “faraónica? paga a construção, porque aí entra o isso temos uma escola de leigos e cur-
igreja de onde saem, outras nas seitas Uma das condicionantes que a Igreja brio local. sos destinados a aprofundar a mensa-
para onde vão. Mas, de facto, tenho de tem é o respeito pela vontade dos doa- gem cristã.
reconhecer que a Igreja Católica, sobre- dores. Poderá dizer-me: “Mas os bispos Por outro lado, preocupa-me a prepa-
tudo nos países onde é tradicionalmente têm a liberdade de a alterar”. Ora procu- ração de muitos desses leigos para cola-
maioritária, tornou-se pesada. Há um ramos não o fazer. Portanto, compreen- borarem com os respectivos párocos na
VALORIZAÇÃO
rito que para ser universal está muito do que haja muita gente que em Fátima realização de tarefas de várias ordem:
DO PATRIMÓNIO DA IGREJA
marcado, as missas têm de ser iguais, dá boas ofertas com a condição de Entre outras responsabilidades, o da administração e também da celebra-
porque o país era tradicionalmente fiel serem gastas em Fátima, porque se sr. D. Albino Cleto é responsável pelo ção da fé, sendo eles próprios a presidir
não houve desenvolvimento e criativi- forem, por exemplo, para a Universi- património artístico da Igreja… a momentos de oração e a realizar actos
dade litúrgica, fazem-se as coisas hoje dade Católica, já não dão. Nós respeita- Não! Sou coordenador de acções de sagrados, como presidir a funerais, pre-
como se faziam há cem anos. Outro fac- mos isso, de maneira que os dinheiros valorização do património, porque cada parar baptismo e casamentos, celebrar o
tor é que, com a idade, as pessoas con- que são para sustentação do clero, o diocese é absolutamente autónoma domingo quando não é possível o padre
tinuam como anónimas. Entram na povo ainda hoje faz uma diferença quanto ao seu património, tal como estar presente.
missa e saem da missa sem ninguém enorme. Por exemplo, se der o dinheiro cada paróquia o é. A minha intervenção E aqui já as mulheres têm também
lhes dizer “Olá! Como é que se chama? para Santo António, ele não pode ser é a de coordenar esse trabalho nas vári- um importante papel. Aliás, enquanto
Como está?”. Por outro lado, as seitas utilizado na festa de Nossa Senhora de as dioceses. Em muitas dioceses o os homens serão melhores na parte
são mais flexíveis, as pessoas sentem-se Fátima. Daí que, na mentalidade portu- inventário está feito, em outras está em administrativa, para orientar obras, na
mais acarinhadas. E também não posso guesa, há determinados sectores que curso. E já mesmo informatizado. parte da educação das crianças e jovens
negar que há um factor que considero para nós são fundamentais, mas que no Por outro lado, às vezes há uma acho as mulheres com prioridade, pois
positivo, mas que nos está a levar muita pensar do povo não têm grande peso. exposição, até no estrangeiro, que pede têm muito melhores qualidades para
gente. Na Igreja Católica temo-nos pre- Um deles é a comunicação social. Nós algumas peças para uma exposição – esse efeito.
7. DE 29 DE NOVEMBRO A 12 DE DEZEMBRO DE 2006 OPINIÃO 7
É um facto que ninguém tem as mãos propósito de eliminar alunos e docentes O INFERIOR ENSINO SUPERIOR
limpas nem está em condições de atirar do ensino superior iraquianos de forma (…) As escassas informações ontem
a primeira pedra... mas o PS esteve a impedir o desenvolvimento daquele tornadas públicas sobre os resultados da
sempre acantonado em modelos anacró- povo e impor o predomínio da indústria avaliação realizada pela ENQA (sigla
nicos. Sócrates, que representa o PS militar sem qualquer oposição ou obstá- que dá por identificada, a Rede Europeia
itações
modernizado a lutar por um país de pro- culo mobilizador da opinião pública na para a Garantia da Qualidade no Ensino
gresso, é também uma esperança de defesa da paz e que justifica os assassi- Superior) despertam-me imensa curiosi-
mudança e revitalização do sector co- natos dos universitários como forma de dade para ler o documento integral. Não
municacional. Mas os rumores... são os intimidar perante tal postura. posso crer que a síntese das conclusões
mau presságio. Obrigar os operadores (…) Esta denúncia foi negada por divulgadas corresponda à substância do
de televisão a manter as grelhas de pro- alguns dos órgãos de comunicação so- trabalho levado a cabo pelos peritos
gramação a 48 horas da sua emissão é cial do mundo ocidental. Contudo, em internacionais. A serem apenas estas,
um absurdo, um anacronismo e um 23 de Maio do presente ano, o Professor estaríamos mais uma vez, sob o manto
atentado aos interesses dos espectado- Jasim Fiadh al-Shammari do Departa- daquele adágio que parece ser um cartão
CÓDIGO DE SILÊNCIO res, ainda que tudo apareça sob o res- mento de Psicologia da Faculdade de de certificado que tanto reconforta os
(…) guardo do argumento esfarrapado de Letras da Universidade Al- Mustansi- portugueses “o que é internacional, é
Na tropa como na bola e no seminário, que “é preciso avisar o público das alte- riya, em Bagdad foi assassinado na pro- bom”. Exactamente, o contrário do slo-
enfim em sítios onde os homens tinham rações da programação com 48 horas de ximidade do campus universitário, sem gan que os produtores industriais e
umas certas cumplicidades e davam as antecedência”. (…) desencadear uma pesquisa policial sis- comerciais portugueses fazem defesa de
vidas uns pelos outros, estabelecia-se um Emídio Rangel tematizada. honra:”o que é português, é bom”.
código de silêncio em que nenhum bufa- CM 25/11/06 (…) A guerra preventiva é uma das Tudo somado, a grande conclusão é es-
va o companheiro, amigo camarada e mais ignóbeis formas de guerra. ta Dez anos de avaliação nacional das
palhaço. O FARDO DAS FARDAS Nuno Grande diferentes unidades de ensino superior e
Até na mafia ou no supremo havia, e (…) Não vale a pena discutir mais (médico e professor universitário) de centenas de cursos realizadas pelas
há ah!, um código de honra em que sobre se foi “passeio” de amigos e ca- JN 23/11/06 diversas CAEs (Comissões de Avaliação
bufar era pior do que trair. Assim se maradas, ou “manifestação ilegal”. Externa), nomeadas pela CNAVES – o
fizeram grandes scorceses, puzzos e tí- Não vale a pena zangarmo-nos mais MORTE NAS ESTRADAS Conselho Nacional de Avaliação do
tulos nacionais mais de metade do jazz, com a questão de confundir as fardas (…) Ao longo do séc. XX as estradas Ensino Superior, pouco ou nada acrescen-
do rock e da construção civil se erigiu à (símbolo da especificidade militar) com europeias fizeram mais de vinte e cinco taram à qualidade do ensino. Mas seria
volta de princípios tão firmes como os as reivindicações (sinal daquilo que, no milhões de mortos. Uma verdadeira car- necessário uma comissão internacional de
de um aperto de mão. Qualquer gaja domínio militar, se aproxima da esfera nificina para a qual Portugal contribuiu peritos para chegar a esta conclusão?
minimamente inteligente, e olhem que civil, da segurança social às retribuições). generosamente. Sem discutir o conteúdo de muitos dos
elas não nos ficam atrás por gosto, co- Não vale sequer a pena olhar para E se é verdade que a sinistralidade mil e quinhentos relatórios de avaliação so-
nhece o valor do silêncio, em cada trás. tem muitas causas, não duvido que, no bre outros tantos cursos de instituições pú-
amante, em cada esquina. O que importa é ver, com muita cla- conjunto, reproduzem práticas e atitu- blicas e privadas, não bastaria uma súmula
Quando a diáspora inclemente nos reza e realismo, o que poderão ser as des que dizem muito sobre a nossa cul- de alguns, para extrair essa conclusão?
obrigou a emigrar, porque éramos po- nossas forças armadas, num país sem tura cívica, o exercício dos nossos direi- Nesse espaço de dez anos há cursos
bres, desditosos ou politicamente incor- guerras, sem meios, com ameaças não tos de cidadania e sobre a nossa relação que foram repetidamente avaliados.
rectos, houve os que fizeram pela vida, convencionais e prioridades de desen- com os outros. Não é por acaso que a Algumas comissões deixavam de forma
nos seus desgraçados factos caros por volvimento civil, que não passam pela sinistralidade rodoviária acompanha de bem patente a fraca evolução entre a pri-
medida, nos seus poemas estrangeira- compra de equipamento bélico. perto o desenvolvimento social e cultu- meira e segunda avaliação. E, sobretudo,
dos por encomenda, nos seus tiques Cada governo fica, nesta área, prisio- ral de cada país. registavam, por outras palavras, “a passi-
politiqueiros de serviço, nas nossas neiro de opções que foram tomadas a Por tudo isto, julgo que a redução da vidade dos vários governos” na avalia-
prostituições travestidas de charmes e prazo, por outros, e que originam laços morte na estrada não é vitória de um ção que ao ministério da tutela teria de
vícios. (…) nem sempre desejados, mas que devem governo, de uma polícia, de uma insti- competir quanto à tomada de medidas e
Rui Reininho ser cumpridos. tuição. Mas uma vitória de todos. De exigência pelo seu cumprimento. Vários
JN 25/11/06 Cada governo que se constituiu de- pais, de professores, dos vários agentes aspectos não eram competência das
pois das guerras de África, sabe que pre- culturais e formadores. E também do CAEs, mas de equipas de fiscalização,
UMA TV ANACRÓNICA cisa de reformar o sistema de forças, a Governo e das Polícias. porventura, nunca accionadas. Por outro
Os rumores sobre o conteúdo do sua doutrina e as suas armas, mas tam- Talvez nunca houvesse uma guerra lado, sempre os vários governos se recu-
anteprojecto de proposta de Lei da Te- bém conhece a necessidade de, num onde fosse tão necessária a participação saram a aplicar as sanções que obvia-
levisão, que já tem a bênção do PSD, meio que necessita de tranquilidade, não de todos. E deve ser a única que não mente deveriam ser executadas. (…)
não auguram nada de bom. Parece uma criar revoluções, quebras bruscas, ou tem oposição interna. A não ser nós pró- Paquete de Oliveira
maldição dos governos socialistas que projectos que seriam óptimos, em teoria, prios, enquanto condutores. A começar (sociólogo e professor universitário)
ao longo destes anos de Democracia mas difíceis de aplicar, na prática. logo na atitude perante as histórias trá- JN 23/11/06
dificilmente conseguiram acertar o Não é diferente com a actual equipa. gicas que se contam. É sempre a irres-
passo com as experiências comunica- (…) ponsabilidade dos outros, a inconsciên- COISAS FIXES
cionais mais bem sucedidas na Europa e Nuno Rogeiro cia dos outros, a bebedeira dos outros. (…) Estavas numa manifestação de
nos EUA. JN 24/11/06 Se conseguirmos dar um passo em fren- estudantes e nos ombros de uns amigos,
O PS resistiu até ao limite ao apareci- te e percebermos de forma definitiva segurando um cartaz que dizia: “Queremos
mento de novas estações de rádio e A IGNÓBIL GUERRA que não são os outros, mas somos nós, a tipo coisas fixes.” Quero dizer-te, miúdo
quando a situação se tornou insustentá- PREVENTIVA coisa muda de figura. com ar esperto, que é a coisa mais inteli-
vel lá aceitou a criação de rádios locais, A noção de guerra preventiva, desen- Ganharemos a consciência que neste gente (aliás, a única) que veio dessas mani-
sem a dimensão necessária para servi- volvida pela Administração Norte- esforço não existem inocentes e não festações. Espero que sigas por aí: que
rem com qualidade os seus públicos. -Americana para justificar a invasão do entregaremos aos outros a nossa própria queiras trabalhar muito e bem, a coisa fixe
O PS evitou até onde pôde a quebra Iraque. teve a anuência dos países que responsabilidade na prevenção e con- que mais tipo de coisas fixes te pode trazer.
do monopólio do Estado na televisão e se reuniram nos Açores para apoiar e trolo dos nossos quotidianos para que a Espero que continues na onda do
a abertura de novas estações de televi- justificar essa decisão. estrada não seja o primeiro passo para a “queremos”, no sentido mais fixe que
são no País. O PS foi ‘pivô’ de quase (…) brutalidade e o sofrimento. tem: as coisas chegam-nos porque
todas as estratégias de ‘regulamenta- Em Junho do ano corrente a revista Na luta contra a sinistralidade rodovi- “queremos” fazê-las, nunca nos são da-
ção’ de conteúdos nos meios de Co- Science revelava que há uma lista de ária não há inocentes. Vamos ser todos, das. De ti só me desagradou que esti-
municação Social e de tentativas de investigadores universitários iraquianos mas todos, a responder moral e civica- vesses aos ombros de colegas. Permite-
controlo, sob as capas mais diversas, condenados a serem clandestinamente mente se para o próximo ano o número me um conselho: vai sempre por teu pé.
dos órgãos do Estado. O passado do PS executados pela circunstância de serem de mortos voltar a ultrapassar o milhar. Se for preciso, manifesta-te por isso.
na área da Comunicação Social não é iraquianos e universitários. Francisco Moita Flores Ferreira Fernandes
recomendável. Estas execuções inscrevem-se no CM 20/11/06 CM 24/11/06
8. 8 LIVROS DE 29 DE NOVEMBRO A 12 DE DEZEMBRO DE 2006
NUM PAÍS COM POUCOS LEITORES SAEM 14 MIL TÍTULOS POR ANO
Editam-se em Portugal
mais de mil títulos por mês
A falta de estatísticas sobre o merca- publicar um livro que já saiu há cinco
do livreiro português é um dos proble- anos”, constatou Carlos Ferreira, subli-
mas que os editores enfrentam actual- nhando que actualmente os editores
mente, afirmou à agência Lusa Mário funcionam “de forma impressionista”.
Moura, presidente do segundo Con- “É preciso ter uma ideia precisa do
gresso de Editores que decorreu há dias sector para se saber o que se vai editar”,
em Lisboa. rematou.
Mário Moura referiu que se está a edi- O presidente da UEP recordou ainda
tar em Portugal sem haver qualquer dado que a ministra da Cultura, Isabel Pires
estatístico credível sobre o mercado. de Lima, já assumiu publicamente o
“Há oito anos que não temos dados compromisso de reunir dados sobre o
estatísticos sobre o sector. sector, numa parceria com o INE, a
Baseamo-nos apenas em palpites e UEP, a Associação Portuguesa de Edi-
conversas”, lamentou Mário Moura, tores e Livreiros (APEL) e o Instituto
também editor da Pergaminho. Português do Livro e das Bibliotecas
O presidente da União de Editores (IPLB).
Portugueses (UEP), Carlos da Veiga A falta de formação dos livreiros, a
Ferreira, também referiu à agência Lusa ausência de apoios do Governo, a
o mesmo problema: “Há falta de estatís- ausência de espaço nas livrarias que
ticas em Portugal que nos permitam tra- responda à quantidade de novos livros
balhar”. que são editados, assim como a questão
Referindo que se editam em média da lei do preço fixo, que já tem dez
cerca de 14 mil novos títulos por ano – o anos, foram outros problemas aponta-
que dá mais de mil livros por mês –, o dos pelos dois responsáveis.
responsável da UEP afirmou que esses O segundo Congresso de Editores,
dados estatísticos permitiriam conhecer, que decorreu na Fundação Calouste
por exemplo, “o estado da concorrência”. Gulbenkian, foi dedicado ao “livro e o
“A falta de informação é tão grave futuro”, e contou com a participação de
que corremos o risco de um editor cerca de 70 editores portugueses.
ACABA DE SER LANÇA NA GALIZA “Oficina do Livro”
Autores portugueses em antologia multilingue muda de donos
Poemas de autores portugueses fo- Fiama Hasse Pais Brandão e Nuno Jú- ternacional de Tradução e Poética, A editora Oficina dos Livros, que tem
ram publicados numa antologia multi- dice. Antonio Dominguez Rey, referiu que a um volume de negócios de 10 milhões
lingue agora editada na Galiza e que Miguel Anxo Fernán-Vello, director obra tem “mais de 500 páginas nas de euros, acaba de ver adquiridos 75
contempla as cinco línguas e tradições da editora, destacou na cerimónia de cinco línguas iberoamericanas”, sendo por cento do seu capital pela empresa
poéticas ibéricas, a par da poesia criada apresentação o facto de ser esta “a pri- 46 os autores galegos, portugueses e portuguesa Explorer Investments.
na América latina em castelhano e em meira vez que se publica uma antologia brasileiros antologiados. Em comunicado, a editora e distribu-
português. multilingue com as cinco línguas ibéri- Justificando o título da antologia, idora anunciou que a Explorer Invest-
A obra, intitulada “El otro medio cas em pé de igualdade com o castelha- explicou que os autores da primeira ments, uma sociedade gestora de fun-
siglo (1950-2000). Antologia incomple- no e o português-brasileiro” da América metade do século XX “são mais conhe- dos, adquiriu 75 por cento do capital,
ta de poesia iberoamericana”, tem chan- Latina. cidos” e entre 1950 e 2000 há muitos ficando os restantes 25 por cento nas
cela da editora galega Espiral Maior e A antologia, assinalou, reproduz “um que “merecem sê-lo”. mãos de António Lobato Faria, que
foi apresentada na passada semana em panorama simultaneamente completo e Entre os poetas brasileiros seleccio- mantém a direcção da Oficina do Livro.
Santiago de Compostela. incompleto”, com a novidade de “repre- nados figuram Affonso Ávila, Ferreira A Oficina do Livro, responsável pelas
Trata-se de uma iniciativa da Asso- sentar todos os territórios de poéticas ibé- Gullar, Augusto de Campos, Adélia chancelas Casa das Letras, Oficina do
ciación de Amigos da Universidade ricas – o basco, o catalão, o galego, o por- Prado, Wally Salomão, António Cícero Livro e Estrela Polar, edita autores como
Libre Iberoamericana na Galiza (AULI- tuguês e o castelhano –, conjuntamente e Alexei Bueno. Miguel Sousa Tavares, Margarida Rebelo
GA) inserida no âmbito do VII Semi- com os poetas ibero-americanos de ex- Autores de língua castelhana antolo- Pinto, Gunter Grass e Herman Hesse.
nário de Tradução e Poética que decor- pressão portuguesa e castelhana” de paí- giados foram, de Espanha, José Ángel Além de deter agora a maioria do
reu em Rianxo (Corunha). ses como a Argentina, Cuba, Venezuela, Valente, Cláudio Rodriguez e Arturo capital da editora, a Explorer Invest-
Os autores portugueses selecciona- Uruguai, Colômbia, México, Nicarágua, Maccanti, e, da América Latina, Juan ments adquiriu participações em dife-
dos para a obra foram Carlos de Oli- Chile, Honduras, Costa Rica e Equador. Gelman, Olga Orozco e Roberto Juar- rentes sectores, como a Alfasom, na
veira, Eugénio de Andrade, Mário Ce- É uma publicação “rica, não apenas roz, entre muitos outros. área de comunicação audiovisual, e a
sariny, António Ramos Rosa, Alexandre na quantidade de poemas e textos de Da língua catalã, dois dos representa- rede de ginásios Holmes Place.
O’Neill, David Mourão-Ferreira, Fer- expressão poética que incorpora, mas dos são Josep M. Llompart e Pere Gim- Os novos accionistas, em parceria
nando Guimarães, Ana Hatherly, Fer- também pelos ensaios e estudos que os ferrer, do basco Juan Maria Lekuona e com a actual gestão, “apostam no surgi-
nando Echevarría, Herberto Hélder, acompanham”, realçou. Koldo Aguirre e do galego Manuel Ma- mento de novas oportunidades de negó-
Albano Martins, António Osório, Ruy Por seu lado, o presidente da AULI- ria, Uxío Novoneira e Xosé Luís Mén- cio num sector em crescimento e trans-
Belo, Pedro Tamen, Casimiro de Brito, GA e director do VII Seminário In- dez Ferrin. formação”, refere ainda o comunicado.
9. DE 29 DE NOVEMBRO A 12 DE DEZEMBRO DE 2006 LIVROS 9
LIVRARIAS CADA VEZ MAIS AMPLAS E DINÂMICAS
Coimbra convida à leitura
Longe vai o tempo em que dade, lêem a contracapa de um livro ou pessoas pela oferta variada, mas também bra que surgiu a ideia de oferecer café
as livrarias eram um local de mera mesmo o seu interior. pelos momentos de conforto, pausa e aos clientes – de notar que o café, aqui,
aquisição de livros. O habitual É o caso, por exemplo, da Livraria descontracção que proporcionam. Aliás, é mesmo gratuito –, convidando-os a
conceito de livraria tem vindo Almedina, no Estádio Cidade de Coim- poder-se-á afirmar que o novo conceito sentarem-se e, confortavelmente, con-
a modificar-se gradualmente, bra, da FNAC (Fórum Coimbra) ou da de livraria surge precisamente neste con- sultarem obras do seu interesse. Foi
fruto da emergência de uma nova Bertrand (Dolce Vita). O objectivo é texto, ou seja, da necessidade de evasão também esta a primeira livraria de Coim-
tendência, onde as livrarias “fugir ao conceito tradicional de livraria” ao stress quotidiano e de aliciar as pesso- bra a começar com tertúlias. Romance,
e “criar um espaço onde as pessoas se as para a leitura, numa era em que a ima- poesia, ficção, ciências sociais e huma-
se alargam para dar origem
sintam bem”, como nos afirma Eva gem e a televisão predominam. nas, arte e temas da actualidade são dis-
a espaços mais agradáveis,
Moutinho, gerente da Almedina. Para Tânia, 23 anos, conhece a Almedina cutidos regularmente desde há cinco
lúdicos e pedagógicos. ela, “a cafetaria é mais um motivo para do Estádio Cidade de Coimbra há pouco anos. Além disto, fazem-se sessões de
O cliente-leitor tem, assim, as pessoas virem à loja” e é também tempo e já o considera muito bom. “É leitura pedagógicas com as Escolas
a oportunidade não só “uma forma de as cativar”. “Tanto acon- fantástico”, exclama, acrescentando que (existe, inclusive, na livraria, um espaço
de comprar uma obra, tece as pessoas virem tomar um café aca- tenciona voltar “para ler e tomar café”. infantil para as crianças), lançamentos
mas também de a desfolhar bando por levar um livro, como o contrá- Como estudante de Arquitectura, mos- de livros, palestras e conferências, onde
calmamente no local de venda, rio, virem comprar um livro e aproveita- tra-se impressionada com o aproveita- se debatem temas que “são preocupação
e de participar noutras actividades rem para tomar um café”, continua. No mento do espaço. Por sua vez, André da cidade”, como refere Isabel Garcia,
de âmbito cultural nele promovidas. topo das vendas estão, no entanto, os Serrão, funcionário da loja, parece ser gestora da livraria. “Interessa-nos que a
Coimbra viu nascer, num curto livros, como nos garante André Serrão, da mesma opinião, quando afirma, satis- cidade venha até nós”, continua, “por-
espaço de tempo, vários espaços funcionário da loja, ou não fosse a feito, que gosta de ali trabalhar e que “a que é com as pessoas que uma livraria
como estes, de grandes dimensões, Almedina uma livraria por excelência. modernização é um estímulo”. se mantém viva”.
onde se alia o prazer de tomar Além da cafetaria, a Almedina dispõe Mas toda esta dinâmica cultural não é Há também que “manter viva a cultu-
um café ao de ler um livro. de um auditório onde se realizam apre- apenas privilégio das novas livrarias, ra, partilhar experiências e conhecimen-
A iniciativa, porém, parece sentações de obras, exposições de pin- que se enquadram no conceito de “gran- tos”, conclui. E porque o leque de alter-
não ser nova nem ser exclusiva tura, ciclos de conferências ou eventos de dimensão”. Existem livrarias, como nativas culturais da livraria é vasto,
para crianças. A título de exemplo, os a Minerva Coimbra, situada na Rua de importa ainda fazer referência às ses-
das grandes superfícies livreiras.
museus foram tema de discussão neste Macau (Bairro de Norton de Matos), sões de música ao vivo e às exposições
espaço até bem pouco tempo e agora que, num espaço bem mais reduzido, de pintura e escultura.
Flávia Diniz fala-se sobre arquitectura. De recordar conseguem ser tão polivalentes e dili- Relativamente à recente abertura de
também o forte pilar jurídico sobre o gentes quanto as outras. novas livrarias de grandes dimensões
Ler um livro num café ou tomar café qual sempre assentou esta livraria, e ao em Coimbra, Isabel Garcia considera
numa livraria? Eis um dilema com que qual dedica um espaço considerável. que é uma mais-valia para todos: “A
qualquer amante das letras certamente Procura-se, desta forma, abordar diver- cidade só tem a ganhar com isso”, afir-
TAMBÉM AS LIVRARIAS NÃO
já se confrontou. Isto, porque, hoje em sos tipos de públicos, não subestiman- ma, acrescentando que ninguém fica a
SE MEDEM PELO TAMANHO
dia, já existem livrarias com cafetaria, do, no entanto, o atendimento persona- Em algumas livrarias mais tradicio- perder porque “como editores, também
um espaço onde as pessoas podem sen- lizado, como ressalva a gerente. nais, que gozam de uma área menor, podemos pôr lá os nossos livros” e
tar-se e tomar um café, ao mesmo São espaços inovadores que exploram existe também lugar para a criatividade “todos temos os nossos públicos e fre-
tempo que se colocam a par da actuali- as várias vertentes da cultura, atraindo as e a proactividade. Foi na Minerva Coim- quentadores habituais”.
AUTOR É PROFESSOR DA UNIVERSIDADE DE COIMBRA
PRESENTE EM COIMBRA DESDE 1970
Livro sobre robôs industriais lançado
nos Estados Unidos e na Europa
Um manual académico sobre progra- agência Lusa o físico Carlos Fiolhais, que
Livraria Bertrand
mação de robôs industriais, da autoria do interveio na sessão de lançamento em Remonta a 1970 a presença da Li- Dolce Vita e no Forum Coimbra. Há
docente de Coimbra Norberto Pires, com Coimbra, a par com o Autor e Joana Teles vraria Bertrand em Coimbra, contando, a assinalar o facto da loja localizada
inúmeras aplicações na indústria e outras (Matemática), Luís Menezes (vice-presi- actualmente, com cerca de 30 colabora- no centro comercial Dolce Vita tra-
ainda em fase laboratorial, é apresentado dente do Conselho Científico da Facul- dores nas suas quatro livrarias. Em zer para esta cidade um conceito di-
depois de amanhã (dia 1 Dezembro), na dade de Ciências e Tecnologia (FCTUC), Outubro desse ano, esta centenária rede ferente: a Mega Store, onde, para
Universidade de Estugarda (Alemanha). e Fernando Guerra (Pró-Reitor da UC). livreira inaugura a sua primeira livraria além do comércio livreiro, recupera
O autor é o responsável pelo Laborató- O professor da FCTUC apresenta tam- nesta cidade, num dos seus locais de a tradição das tertúlias, onde nomes
rio de Robótica Industrial do Departa- bém, entre outros, sistemas de controlo de eleição: o Largo da Portagem. como Alexandre Herculano ou Eça
mento de Engenharia Mecânica da Univer- robôs pela voz ou através de um PDA ou No entanto, com o surgimento na de Queirós outrora pontificaram,
sidade de Coimbra, e a obra (escrita em de canetas digitais, que ainda se encon- urbe conimbricense das grandes su- com a existência de um café, assim
inglês), intitula-se “Industrial Robots Pro- tram em fase laboratorial. perfícies, facultando a criação de como de um auditório.
gramming – Building Applications for the “Os exemplos estão todos documenta- centros comerciais capazes de gerar Sob o lema “desde 1732 que o
Factories of the Future” (Programação de dos. O livro encontra-se associado a um grandes fluxos de público, dá-se uma convidamos a ler”, a Livraria Ber-
Robôs Industriais – Construir Aplicações sítio na web com o software que usamos e forte aposta, como forma de acompa- trand é uma das principais referên-
par a as Fábricas do Futuro). Já à venda, que pode ser descarregado”, disse ainda o nhamento do desenvolvimento das cias em redes livreiras cuja história
desde Outubro, na América e em alguns engenheiro físico, ao frisar que a obra “é cidades onde se encontra, com a se confunde com a das próprias livra-
países da Europa, onde foi publicado pela utilizável em qualquer parte do mundo e abertura, no final da década de 90, da rias em Portugal.
editora internacional de obras científicas vai manter-se actualizada”. loja situada no CoimbraShopping. Para a Livraria Bertrand, Coimbra
Springer, o livro foi lançado na passada se- Segundo Carlos Fiolhais – galardoado Na sequência desta sua política é uma cidade e região de enorme im-
mana em Coimbra, na Livraria Almedina- recentemente com o Prémio Rómulo de comercial, recentemente, em 2005 e portância e, por esse facto, onde pre-
Estádio. Carvalho, instituído este ano pela Uni- 2006, reforçou a sua presença e visi- tende cimentar a sua presença e re-
“É um livro de ponta, de um cientista versidade de Évora – o livro “tem interes- bilidade em Coimbra, investindo no forçar a sua imagem.
que trabalha com a indústria”, disse à se e amplitude e público internacional”.
10. 10 LIVROS DE 29 DE NOVEMBRO A 12 DE DEZEMBRO DE 2006
Lançado primeiro livro de poesia
de Manuel dos Santos
Manuel dos Santos acaba de lançar o
seu primeiro livro de poesias, intitulado
“Algumas coisas com importância”, e
editado pela MinervaCoimbra.
A apresentação, que decorreu no
anfiteatro da Escola Superior Agrária de
Coimbra, esteve a cargo de Alfredo
Maia, Presidente do Sindicato dos
Jornalistas, que aludiu à obra no sse-
guintes termos:
“Este «Algumas coisas com impor-
tância» interpela-nos acerca do modo
como cada um de nós rege os seus dias
nessa marcha do tempo – incessante,
complexa, armadilhada com contradi-
ções, animada por avanços e conquistas
e angustiada por retrocessos”.
De acordo com Alfredo Maia, Ma-
nuel dos Santos faz do seu livro “um
manifesto de exortação e de resistên-
cia”, levando os leitores ao ‘questiona- deliberada com certos modos de pensar Pedrinha, Condeixa-a-Nova. Possui o
mento’ e ao “combate, aqui e ali polvi- e de fazer poesia”, na qual o poeta mer- curso de Regente Agrícola pela Escola
lhado com estrofes de esperança e de gulha, lançando mão de metáforas e Agrícola de Coimbra e a licenciatura
amizade”, sempre “animado pela con- repudiando “a inutilidade ofensiva da em Biologia pela Universidade de
vicção de que cada um de nós tem o palavra que não germina, que não pro- Coimbra. Foi técnico do Ministério
dever irrenunciável de sonhar, de pro- duz, que não transforma, mas que ludi- da Agricultura até 1989 e, desde
por, de agir, de resistir”. bria, que atraiçoa”. então, tem sido responsável pelo
A escrita de Manuel dos Santos suge- Manuel Ferreira dos Santos nasceu Instituto da Conservação da Natu-
re, segundo Alfredo Maia, uma “rotura em Coimbra em 1950 e reside em Eira reza na região Centro.
CONFESSA O ESCRITOR NO MÉXICO
Lobo Antunes incapaz de falar da guerra de Angola
O escritor português António Lobo ros 350, na feira Internacional do Livro forte porque vivemos juntos os momen- mortos, penso que não tenho esse direi-
Antunes confessou, na passada sexta- de Guadalajara (FIL), no México. tos mais horríveis das nossas vidas. Isto to. Mas, evidentemente, que isso mudou
feira, que nunca fez um livro sobre a “Eu todos os meses almoço com os deu-nos uma ligação muito forte”, asse- muito em mim”, acrescentou.
guerra que viveu de perto em Angola, oficiais da companhia. Somos poucos, gurou o escritor. Assinala que tem prazer na leitura,
vivência que o marcou para sempre mas quatro, e nunca falamos da guerra. Lobo Antunes estudou Medicina e não acontecendo o mesmo com a escri-
de que é incapaz de falar. Falamos de outras coisas mas não por tradição familiar optou pela Psi- ta, a actividade pela qual foi reconheci-
“O mais importante da guerra para disso”, assinalou Lobo Antunes. quiatria, profissão que compatibilizou do internacionalmente.
mim, e para além de continuar com os “Ainda hoje, quando estou com eles - com a escrita. Em Fevereiro de 1961, “A primeira parte dos livros é muito
meus mortos no meu sangue (…) foi a os soldados, os oficiais, os sargentos - começou a guerra da independência de difícil e nunca se está seguro do que se
descoberta da camaradagem”, confes- existe entre nós uma ligação tão forte Angola e o escritor foi chamado para o está a fazer. Fica-se cheio de dúvidas.
sou, numa conferência de imprensa o que nada pode destruir. Não é amizade, Exército português como médico de Ficaria encantado de estar cheio de
escritor que está a participar, com out- não é amor, é uma coisa muito mais campanha. Naquela guerra, ficou ferido luminosas certezas mas não o estou. Es-
com gravidade e regressou a Lisboa. tou cheio de dúvidas”, assegura.
Já curado dedicou-se à Psiquiatria, “Creio que a única coisa que aprendi
profissão que só durante uma curta eta- com os anos é que tudo o que a vida te
pa da sua vida considerou interessante e dá é um certo conhecimento dela, que
que abandonou em 1986 para dedicar-se chega sempre demasiado tarde. E escre-
plenamente à Literatura. ver e viver necessita de toda uma vida
“A primeira vez que entrei num hospi- para aprendê-lo. Eu ainda estou a apren-
tal psiquiátrico tinha a impressão de estar der uma coisa e outra”, acrescenta.
num filme de Fellini e na casa da minha A sua trajectória literária foi reconheci-
avó”, declarou o escritor português. da com numerosas distinções como os
Sobre a guerra assinalou que “não há prémios Rosália de Castro, concedido em
ninguém que tenha passado por uma e 1998 pelo Círculo de Escritores Pen Club
que volte igual. (É) o absurdo, a injusti- da Galiza, o Grande Prémio de Romance
ça, ninguém ganha a guerra, todos per- outorgado em Junho de 2000 pela As-
dem, todos”. Considera que dos conflitos sociação Portuguesa de Escritores pela
bélicos “é impossível falar devido à cru- “Exortação aos Crocodilos” e Prémio de
eza das experiências que neles se vive”. Literatura Europeia do Estado Austríaco
“Jamais fiz um livro sobre a guerra. 2000. Os seus romances foram traduzi-
Poderia fazer-se um ensaio, um docu- dos para numerosos idiomas, inclusive
mento mas, por respeito para com os o coreano.