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ANO I N.º 16 (II série) De 13 a 26 de Dezembro de 2006 € 1 euro (iva incluído)
Natal
Origens
Contos
Tradições
Poemas “Natividade”
Josefa de Óbidos
PÁGINAS 4 A 12 (1630 – 1684)
INICIATIVA DO CONSERVATÓRIO
DE COIMBRA
Música
vai invadir
a cidade
Quinta-feira na Baixa
Sexta-feira no “Dolce Vita”
Perspectiva do futuro Conservatório PÁGINA 11
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PÁG. 2 e 3
PÁG. 18 PÁG. 15
2. 2 ENTREVISTA DE 13 A 26 DE DEZEMBRO DE 2006
CONFIRMANDO A OPINIÃO DE D. ALBINO CLETO EM ENTREVISTA AO “CENTRO”
Cardeal de São Paulo admite que a Igreja
reconsidere celibato dos padres
Na anterior edição do “Centro” publicá- Reiterando o que D. Albino Cleto referi- apresentou a demissão por motivos de
mos uma desenvolvida entrevista com o ra ao “Centro”, o cardeal brasileiro salien- idade.
Bispo de Coimbra, D. Albino Cleto, onde o tou na entrevista que existem alguns padres Com a recente nomeação, Hummes
questionámos sobre o celibato dos padres casados e que a proibição do matrimónio passa a ser o brasileiro com maior influên-
(relativamente ao qual ele manifestou con- só foi adoptada depois da instituição do cia no Vaticano e aumentará as suas possi-
cordância) e sobre o alegado conservado- sacerdócio. bilidades de se tornar Papa se houver outro
rismo do novo Papa, de que ele discordou. Cláudio Hummes, que chegou a ser conclave antes de completar 80 anos, limi-
Para sustentar que o Papa Bento XVI não é considerado um dos prováveis sucessores te para a participação dos cardeais na esco-
conservador, D. Albino Cleto aludiu mes- de João Paulo II no conclave que elegeu lha papal.
mo ao facto de ele ter acabado de nomear Bento XVI, disse que a Igreja Católica não Filho de imigrantes alemães, nascido
como responsável pela Congregação para é “estacionária, sim uma instituição que em 1934 na cidade de Montenegro, no Es-
o Clero o cardeal brasileiro Cláudio muda quando deve mudar”. tado do Rio Grande Sul, Cláudio Hummes
Hummes, que é conhecido pelas suas posi- Instado a comentar os recentes escânda- foi bispo na cidade de Santo André, na
ções progressistas. los de pedofilia, Cláudio Hummes referiu região metropolitana de São Paulo, entre
Ora sucede que apenas três dias depois que o tema preocupa a Igreja. 1975 a 1996.
da edição do “Centro”, o jornal “O Estado “Ainda que se trate de um só caso – fri- D. Cláudio Hummes é considerado um
de São Paulo” publicava uma entrevista sou – já seria uma grande preocupação, cardeal progressista em relação às questões
com o referido cardeal Cláudio Hummes, principalmente por causa das vítimas”. sociais, embora alguns o achem um tanto
confirmando a opinião que nos fora dada “É injusto e hipócrita generalizar os conservador no que se refere à doutrina da
por D. Albino Cleto. escândalos de pedofilia, pois mais de 99 Igreja.
Assim, nessa entrevista o cardeal por cento dos sacerdotes não têm nada a No final da década de 70 apoiou as pri-
Hummes afirma que a Igreja poderá rever ver com isso”, salientou. meiras greves operárias contra o regime
o celibato para admitir sacerdotes casados. Segundo o cardeal, a pedofilia é um pro- militar de então (1964-1985), acolheu líde-
“Apesar de o celibato fazer parte da his- blema de toda a sociedade, uma vez que res perseguidos, entre eles Lula da Silva, e
Cláudio Hummes
tória e da cultura católicas, a Igreja pode entrevista ainda no Brasil, antes de partir existem casos de abuso sexual de crianças autorizou a realização de reuniões secretas
rever esta questão, pois o celibato não é um para o Vaticano (onde foi assumir o rele- nas suas próprias famílias. nas igrejas da diocese.
dogma, sim uma norma disciplinar”, disse vante cargo que o torna como responsável Dom Cláudio Hummes, de 72 anos, Depois de passar dois anos em For-
o cardeal. pelos assuntos relativos a 400 mil padres substitui no cargo o cardeal colombiano taleza, capital do Estado do Ceará, Cláudio
Dom Cláudio Hummes concedeu esta espalhados por todo o mundo). Dario Castrillón Hoyos, de 77 anos, que Hummes substituiu, em 1998, D. Paulo
Evaristo Arns, um dos mais destacados re-
IGREJAS SEPARADAS HÁ MAIS DE 800 ANOS ligiosos progressistas do Brasil, na Ar-
quidiocese de São Paulo.
Papa recebe hoje em Roma o Primaz ortodoxo grego Ao contrário de seu antecessor em São
Paulo, manteve sempre distância em rela-
O chefe da igreja ortodoxa grega, mon- duas igrejas estiveram também no centro “O facto de os cristãos latinos nele
ção à Teologia da Libertação, uma corren-
senhor Christodoulos, inicia hoje (quar- dos encontros, no final de Novembro, em terem participado enche os católicos de
te da Igreja, nomeadamente na América
ta-feira, dia 13) uma visita histórica ao Istambul, entre Bento XVI e o Patriarca um profundo arrependimento”, subli-
Latina, que adaptou conceitos marxistas à
Vaticano, durante a qual se encontrará ecuménico ortodoxo Bartolomeu I, no nhou o Pontífice.
doutrina católica.
com o Papa Bento XVI, anunciou a ar- âmbito da visita do Papa à Turquia. A igreja grega, uma das mais conser-
Seguidor das orientações de João Paulo
quidiocese de Atenas. Tradicionalmente anti-papista, a igre- vadoras no seio da Igreja Ortodoxa, re-
II, o arcebispo de São Paulo é contra a
Trata-se do primeiro encontro oficial ja da Grécia melhorou no entanto as suas clamara insistentemente um arrependi-
eutanásia, os métodos contraceptivos, as
em Roma entre um Primaz da Igreja relações com a Santa Sé depois de uma mento do Vaticano pelas “crueldades que
investigações científicas com células esta-
Ortodoxa grega e um Papa. visita de João Paulo II a Atenas, em Maio os seus fiéis infligiram aos ortodoxos
minais e a ordenação de mulheres.
Numa entrevista ao jornal grego “Na- de 2001, em que manifestou o arrependi- durante a Quarta Cruzada”.
O cardeal brasileiro fala cinco idiomas e
tional Herald”, Christodoulos afirmou mento da Igreja Católica pelos erros Durante a visita do chefe da Igreja
ocupa actualmente 12 cargos em organis-
que este encontro com o Papa acontece cometidos contra os ortodoxos. Ortodoxa grega ao Vaticano, que termina
mos do Vaticano, o que o faz passar, em
no âmbito dos esforços de aproximação Na altura, o Papa evocou a “pilhagem sábado, o Papa deverá oferecer a Chris-
média, uma semana por mês em Roma,
entre as Igrejas Católica e Ortodoxa, dramática da cidade imperial de Constan- todoulos dois pedaços da corrente que
com destaque para a participação no
separadas desde 1054. tinopla, que era um bastião da Cristandade terá mantido prisioneiro o apóstolo Paulo
Conselho do Diálogo Inter-religioso na
As tentativas de reconciliação entre as no Oriente”, pelos cruzados em 1.204. antes da sua execução em Roma.
Cúria Romana.
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Oliveira de Azeméis
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3. DE 13 A 26 DE DEZEMBRO DE 2006 3
EDITORIAL
NA SOCIEDADE PORTUGUESA
DE AUTORES
São hoje entregues
Espírito natalício
os Prémios Pen Clube
Os Prémios do PEN Clube Português
relativos a obras publicadas em 2005 nas
modalidades de poesia, ensaio, narrativa,
Quero especialmente aludir às atitudes o milagre de assim descobrir, no seu ínti- primeira obra e tradução vão ser entre-
Jorge Castilho de reconciliação e, sobretudo, aos gestos mo, o espírito natalício, que será a mais gues hoje (quarta-feira, dia 13) na
de presença que há muito andam ausentes reconfortante de todas as prendas – para Sociedade Portuguesa de Autores (SPA),
jorge.castilho@zmail.pt
Se fôssemos analisar as causas, certa- – entre familiares, na maioria das situa- si e para os que lhe sentiam a falta… em Lisboa.
mente chegaríamos a conclusões decep- ções, mas igualmente entre amigos. Os vencedores da edição 2005 foram
cionantes. Mesmo os que não se identificam *** António Ramos Rosa, na Poesia (“Géne-
A verdade, porém, é que, neste caso e com uma religião são crentes, no senti- se”), Pedro Eiras, no Ensaio (“Esquecer
nesta altura, mais importantes que as do de acreditarem na bondade do seu Esta edição do “CENTRO” assinala a Fausto”), Fiama Hasse Pais Brandão e
causas são as consequências. próximo – às vezes, ostensivamente, tão quadra festiva, procurando fazê-lo com a Hélder Macedo, na Ficção (“Contos da
Estou a referir-me ao chamado “espí- distante… possível originalidade. Daí que tenhamos Imagem” e “Sem nome”, respectivamen-
rito natalício” e às coisas positivas que Por isso, seria bom que o Natal por seleccionado alguns poemas alusivos ao te) e Ana Cristina Oliveira, na primeira
podem encontrar-se entre a multiplici- todos fosse assinalado – através de uma Natal, dois contos muito interessantes obra (“Continentes Negros”).
dade de fenómenos que se manifestam a mensagem, de um telefonema, de uma (um de Mia Couto, num comovente José Bento e Miguel Serras Pereira par-
propósito do Natal. visita… “Natal” africano, outro de Maria Ondina tilham o Grande Prémio da Tradução, pe-
Que importa se a dádiva a quem pre- Não tenho dúvidas que para muitos, Braga, numa tocante vivência asiática). E las suas versões da obra magna da novelís-
cisa não é feita com propósito verdadei- sobretudo para os que habitualmente es- ainda uma crónica de Eça de Queirós, tica espanhola, “Dom Quixote”, de Miguel
ramente solidário, antes com o intuito tão mais sós, essa oferta provocará muito sobre o Natal londrino por ele testemu- de Cervantes.
de cumprir obrigação anual, como se se mais alegria do que qualquer objecto nhado em fins do séc- XIX. À excepção do destinado à primeira
tratasse do pagamento de um imposto? valioso. Para além disso, reproduzimos pintu- obra, no valor de 2.500 euros, os prémios
Relevante é que ela se concretize! Por isso aqui deixo um veemente ras de alguns dos nossos mais reputados têm todos uma dotação de 5 mil euros.
E não estou a referir-me às prendas, apelo: roube algum tempo aos embrulhos artistas que mostram a forma como eles, O Presidente da República, Cavaco
às coisas materiais, já que essas assumi- e utilize-o a visitar (ou a escrever, a tele- em épocas bem distintas, sentiram o Silva, e o Director do Instituto Português
ram, na maior parte dos casos, uma ver- fonar, a enviar um e-mail ou sms..) àque- Natal. do Livro e das Bibliotecas (IPLB), Jorge
tente que tem muito mais a ver com o les que gostam de si e de quem tem anda- Desta forma singela, a todos os nossos Manuel Martins, deverão assistir à cerimó-
consumismo do que com a religião – ou do afastado! Leitores, Assinantes e Anunciantes dese- nia de entrega dos prémios, marcada para
mesmo com a fraternidade. Vai ver que custa pouco. E pode dar-se jamos um Natal com saúde e muito feliz! as 18h30.
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ria de Zé Penicheiro, expressamente concebi- na, mas que tem dimensões bem maiores do ASSINE JÁ o “Centro”. as para os nossos assinantes, pelo que os 20 euros
do para o jornal “Centro”, com o cunho bem que aquelas que ali apresenta (mais exacta- Para tanto, basta cortar e preencher o da assinatura serão um excelente investimento.
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mais prestigiados pintores portugueses, com Para além desta oferta, passará a receber acompanhado do valor de 20 euros (de prefe- “Centro” cresça e se desenvolva, dando voz a
reconhecimento mesmo a nível internacional, directamente em sua casa (ou no local que nos rência em cheque passado em nome de esta Região.
estando representado em colecções espalha- indicar), o jornal “Centro”, que o manterá AUDIMPRENSA), para a seguinte morada: CONTAMOS CONSIGO!
das por vários pontos do Mundo.
Neste trabalho, Zé Penicheiro, com o seu
traço peculiar e a inconfundível utilização de
uma invulgar paleta de cores, criou uma obra Desejo receber uma assinatura do jornal CENTRO (26 edições).
que alia grande qualidade artística a um pro-
fundo simbolismo. Para tal envio: cheque vale de correio no valor de 20 euros.
De facto, o artista, para representar a Re-
gião Centro, concebeu uma flor, composta
pelos seis distritos que integram esta zona do Nome:
País: Aveiro, Castelo Branco, Coimbra,
Morada:
Guarda, Leiria e Viseu.
Cada um destes distritos é representado Localidade: Cód. Postal: Telefone:
por um elemento (remetendo para respecti-
vo património histórico, arquitectónico ou Profissão: e-mail:
natural).
A flor, assim composta desta forma tão ori- Desejo receber recibo na volta do correio N.º de contribuinte:
ginal, está a desabrochar, simbolizando o
crescente desenvolvimento desta Região Cen- Assinatura:
tro de Portugal, tão rica de potencialidades, de
História, de Cultura, de património arquitec-
4. 4 NATAL DE 13 A 26 DE DEZEMBRO DE 2006
Natal: origem e
O Natal surge como o aniversário tes, que são dados pelo Pai Natal ou O nascimento de Jesus começou a ser burro e feno, e colocou na gruta as ima-
do nascimento de Jesus Cristo, pelo Menino Jesus, dependendo da tra- celebrado no século III, data das primei- gens do Menino Jesus, da Virgem Maria
Filho de Deus, sendo dição de cada país. ras peregrinações a Belém, para se visi- e de S. José. Com isto, pretendeu tornar
actualmente uma das festas tar o local onde Jesus nasceu. mais acessível e clara a celebração do
católicas mais importantes. No século IV começaram a surgir Natal, para que as pessoas pudessem
representações do nascimento de Jesus visualizar o que se terá passado em
PRESÉPIO
Inicialmente, a Igreja Católica
não comemorava o Natal. A palavra “presépio” significa “um em pinturas, relevos ou frescos. Belém durante o nascimento de Jesus.
lugar onde se recolhe o gado, curral, es- Passados nove séculos, mais precisa- Nos finais do século XV, graças a um
Foi em meados do século IV d. C.
tábulo”. Contudo, esta também é a mente no ano de 1223, S. desejo crescente de fazer reconstruções
que se começou a festejar
designação dada à representação Francisco de Assis decidiu plásticas da Natividade, as figuras de
o nascimento do Menino Jesus, artística do nascimento do celebrar a missa da véspera Natal libertam-se das paredes das igre-
tendo o Papa Júlio I fixado Menino Jesus num estábulo, de Natal com os cidadãos de jas, surgindo em pequenas figuras, o
a data no dia 25 de Dezembro, acompanhado pela Virgem Ma- Assis de forma diferente. que permite criar cenas diferentes.
já que se desconhece a verdadeira ria, S. José e uma vaca e Assim, esta missa, em Surgem, assim, os presépios.
data do seu nascimento. um jumento – a que muitas vez de ser celebrada no A criação do cenário que hoje é
Uma das explicações para vezes se acrescentam outras interior de uma igreja, conhecido como presépio, provavel-
a escolha do dia 25 de Dezembro figuras, como pastores, foi celebrada numa mente, deu-se já no século XVI.
como sendo o dia de Natal ovelhas, anjos, os Reis gruta, que se situava Segundo o inventário do Castelo de
prende-se como facto de esta data Magos. na floresta de Grécio, Piccolomini em Celano, o primeiro pre-
coincidir com a Saturnália perto da cida- sépio criado num lar particular surgiu
dos romanos e com as festas de. S. Francis- em 1567, na casa da Duquesa de
germânicas e célticas do Solstício co transportou Amalfi, Constanza Piccolomini.
de Inverno. Sendo todas estas para essa No século XVIII, a recriação da cena
festividades pagãs, a Igreja viu gruta um do nascimento de Jesus estava comple-
aqui uma oportunidade boi e um tamente inserida nas tradições de
Nápoles e da Península Ibérica, incluin-
de cristianizar a data, colocando
do Portugal.
em segundo plano a sua conotação
Aliás, há quem considere que no
pagã. Algumas zonas optaram nosso País foram feitos alguns dos mais
por festejar o acontecimento belos presépios de todo o mundo, sendo
em 6 de Janeiro, mas gradualmente de destacar os realizados pelos esculto-
esta data foi sendo associada res e barristas Machada de Castro e
à chegada dos Reis Magos e não António Ferreira, no século XVIII.
ao nascimento de Jesus Cristo.
O Natal é, assim, dedicado
pelos cristãos a Cristo,
ÁRVORE DE NATAL
que é o verdadeiro Sol de Justiça A Árvore de Natal é um pi-
(Mateus 17,2; Apocalipse 1,16), nheiro ou abeto, enfeitado e ilu-
e transformou-se numa minado, especialmente nas casas
das festividades centrais particulares, na noite de Natal.
da Igreja, equiparada A tradição da Árvore de Natal
desde cedo à Páscoa. tem raízes muito mais longínquas
Apesar de ser uma festa cristã, do que o próprio Natal.
o Natal, com o passar Os romanos enfeitavam árvo-
do tempo, converteu-se res em honra de Saturno, deus
da agricultura, mais ou menos na
numa festa familiar
mesma época em que hoje
com tradições pagãs,
preparamos a Ár-
em parte germâni- vore de Natal. Os
cas e em parte egípcios traziam ga-
romanas. lhos verdes de pal-
meiras para dentro
Sob influência francis- de suas casa no dia
cana, espalhou-se, a mais curto do ano
partir de 1233, o cos- (que é em Dezem-
tume de, em toda a bro), como símbo-
cristandade, se cons- lo de triunfo da
truírem presépios, já vida sobre a
que estes reconstituí- morte. Nas cul-
am a cena do nasci- turas célticas,
mento de Jesus. os druídas tin-
A árvore de Natal sur- ham o costume de
ge no século XVI, sendo decorar velhos carva-
enfeitada com luzes sím- lhos com maçãs doura-
bolo de Cristo, Luz do das para festividades
Mundo. Uma outra tradição também celebradas na
de Natal é a troca de presen- mesma época do ano.
5. DE 13 A 26 DE DEZEMBRO DE 2006 NATAL 5
simbologia
A primeira referência a uma “Árvore de Belchior e Gaspar). O rei da Judeia, tolos, traiu Jesus por 30 dinheiros. Depois Quanto ao número e nomes dos Reis
Natal” surgiu no século XVI e foi nesta Herodes, sabendo que chegada do Messias de ter celebrado a última ceia e instituído a Magos são tudo suposições sem base
altura que ela se vulgarizou na Europa era anunciada para essa época pelos anti- Eucaristia, Cristo teve de comparecer histórica, aliás algumas pinturas dos pri-
Central, há notícias de árvores de Natal na gos profetas, ordenou que todos os recém- perante o sumo-sacerdote dos Judeus, meiros séculos mostram 2, 4 e até
Lituânia em 1510. nascidos fossem assassinados. Perante isto, Caifás, e em seguida perante a justiça mesmo 12 Reis Magos adorando Jesus.
Diz-se que foi Lutero (1483-1546), José (pai adoptivo de Jesus) e Maria deci- romana, representada por Pôncio Pilatos. Foi uma tradição posterior aos Evan-
autor da reforma protestante, que após um diram fugir para o Egipto, para salvarem a Condenado pelo primeiro, abandonado gelhos que lhes deu o nome de Baltasar,
passeio, pela floresta no Inverno, numa Gaspar e Belchior (ou Melchior), tendo-
noite de céu limpo e de estrelas brilhantes se também atribuído a cada um caracte-
trouxe essa imagem à família sob a forma rísticas próprias.
de Árvore de Natal, com uma estrela bri- Belchior (ou Melchior) seria o represen-
lhante no topo e decorada com velas, isto tante da raça branca (europeia) e descende-
porque para ele o céu devia ter estado ria de Jafé; Gaspar representaria a raça
assim no dia do nascimento do Menino amarela (asiática) e seria descendente de
Jesus. Sem; por fim, Baltasar representaria todos
O costume começou a enraizar-se. Na os de raça negra (africana) e descenderia de
Alemanha, as famílias, ricas e pobres, Cam. Estavam assim representadas todas
decoravam as suas árvores com frutos, as raças bíblicas (e as únicas conhecidas na
doces e flores de papel (as flores vermelhas altura: os semitas, os jafetitas e camitas.
representavam o conhecimento e as bran- Pode então dizer-se que a adoração dos
cas representavam a inocência). Isto per- Reis Magos ao Menino Jesus simboliza a
mitiu que surgisse uma indústria de deco- homenagem de todos os homens na Terra
rações de Natal, em que a Turíngia se espe- ao Rei dos reis, mesmo os representantes
cializou. do tronos, senhores da Terra, curvam-se
No início do século XVII, a Grã- perante Cristo, reconhecendo assim a sua
Bretanha começou a importar da Ale- divina realeza.
manha a tradição da Árvore de Natal O dia de Reis celebra-se a 6 de Janeiro,
pelas mãos dos monarcas de Hannover. partindo-se do princípio que foi neste dia
Contudo a tradição só se consolidou nas que os Reis Magos chegaram finalmente
Ilhas Britânicas após a publicação pela junto ao Menino Jesus. Em alguns países é
“Illustrated London News”, de uma no dia 6 de Janeiro que se entregam os pre-
imagem da Rainha Vitória e Alberto sentes.
com os seus filhos, junto à Árvore de Ao chegarem ao seu destino, os Reis
Natal no castelo de Windsor, no Natal Magos deram como presentes ao Menino
de 1846. Jesus: Ouro (oferecido por Belchior), para
Esta tradição espalhou-se por toda a representar a Sua nobreza; incenso (ofere-
Europa e chegou aos EUA aquando da cido por Gaspar), que representa a divinda-
guerra da independência pelas mãos dos de de Jesus; e Mirra (oferecido por
soldados alemães. A tradição não se conso- Baltasar), simbolizando o sofrimento que
lidou uniformemente dada a divergência Cristo enfrentaria na Terra (a mirra é uma
erva amarga).
“Presépio”
Gregório Lopes, c.1490-1550, Museu Nacional de Arte Antiga, Lisboa
de povos e culturas. Contudo, em 1856, a
Casa Branca foi enfeitada com uma árvore Assim, os Reis Magos homenagearam
de Natal e a tradição mantém-se desde vida de Jesus. Só depois da morte de He- pelo segundo, coberto de ultrajes pelo povo Jesus como rei (ouro), como deus (incen-
1923. rodes, esta família voltou para Nazaré, na subiu ao Calvário, onde morreu crucifica- so) e como homem (mirra).
Como o uso da árvore de Natal tem ori- Galileia. Aqui Jesus cresceu, ajudando seu do entre dois ladrões. Ressuscitou ao 3.º Coloca-se a questão de saber como é
gem pagã, este predomina nos países nór- pai adoptivo no trabalho de carpinteiro. dia e apareceu a muitos dos seus discípu- que os Reis Magos associaram o apareci-
dicos e no mundo anglo-saxónico. Nos Aos 30 anos, Jesus começou a sua missão, los, encarregando-os de espalhar a sua dou- mento da Estrela com o nascimento de
países católicos, como Portugal, a tradição sendo baptizado por seu primo S. João trina pelo mundo inteiro. Quarenta dias Jesus. A verdade é que existem várias teo-
da árvore de Natal foi surgindo pouco a Baptista, nas águas do Jordão. Em seguida, depois da sua ressurreição, subiu aos céus rias, mas não há como saber qual delas é a
pouco ao lado dos já tradicionais presépios. dirigiu-se para o deserto onde permaneceu na presença dos seus discípulos. correcta. Uma dessas teorias considera que
durante 40 dias em jejum e onde resistiu às os Reis Magos descobriram a relação entre
tentações de Satanás. Começou por pregar o novo astro e o nascimento de Cristo.
o Evangelho ou a “boa nova” na Galileia,
MENINO JESUS REIS MAGOS
Jesus, em hebreu, Jehoshua, abreviado depois dirigiu-se para Jerusalém, lugar Os Reis Magos teriam vindo do Oriente, Mais explicações sobre esta questão e
em Jeshua, que quer dizer “Javé, é a salva- onde se deparou com uma hostilidade cres- guiados por uma estrela, para adorar o outras relacionadas com os Reis Magos
ção”, o filho de Deus, segundo o cente por parte dos fariseus. Na sua missão, Deus Menino, em Belém são dadas através de textos apócrifos, isto
Evangelho, e o Messias anunciado pelos Jesus foi acompanhado pelos seus discípu- A designação “Mago” era dada, entre é, textos não reconhecidos pela Igreja.
profetas. Nasceu em Belém da Virgem los, os doze apóstolos, com estes percorreu os Orientais, à classe dos sábios ou erudi- Contudo estes textos foram, de um
Maria, em 25 de Dezembro do ano de 749 as cidades da Judeia e da Galileia, pregan- tos, contudo esta palavra também era modo geral, escritos nos séculos II e III da
de Roma, embora o cálculo feito no século do a caridade, o amor de Deus e do próxi- usada para designar os astrólogo. Isto fez era cristã, para preencherem lacunas
VI pelo frade Dionísio, e que serve de cro- mo e realizando inúmeros milagres. As com que, inicialmente, se pensasse que sobre a vida de Jesus e de outras persona-
nologia da era cristã, colocou o nascimen- ideias defendidas por Jesus Cristo fizeram estes magos eram sábios astrólogos, mem- gens do Novo Testamento, assim objecti-
to, erradamente, no ano de 754. Jesus mor- enfurecer os fariseus e os sacerdotes bros da classe sacerdotal de alguns povos vo destes era saciar a curiosidade religio-
reu crucificado, no ano 33 da era moderna. judeus, que acusaram-no perante o gover- orientais. sa, transformando o vago em concreto,
Segundo os Evangelhos, o presépio que nador romano, Pôncio Pilatos, de se dizer Posteriormente, a Igreja atribuiu-lhes o independentemente da veracidade dos fac-
serviu de berço ao Menino Jesus foi visita- Rei dos Judeus e de querer derrubar o apelido de “Reis”, em virtude da aplicação tos, daí não estarem incluídos nos chama-
do pelos Reis Magos do Oriente (Baltasar, governo estabelecido. Judas, um dos após- liberal que se lhes fez do Salmo 71,10. dos Livros Canónicos.
6. 6 NATAL DE 13 A 26 DE DEZEMBRO DE 2006
O menino no sapatinho
Mia Couto * desirmanada lhe fazia de cobertor. O sendo aqueles seus exclusivos e únicos O marido azedava e começou a ame-
frio estreitasse e a mulher se levantava sapatos, ele se despromoveria para um açar: se era para lhe desalojar o definiti-
Era uma vez o menino pequenito, tão de noite para repuxar a trança dos ataca- chinelado? vo pé, então, o melhor seria desfaze-
minimozito que todos seus dedos eram dores. Assim lhe calçava um aconche- – Sim – respondeu a mulher. – Eu já rem-se do vindouro. A mãe, estarrecida,
mindinhos. Dito assim, fino modo, ele, go. Todas as manhãs, de prevenção, ela lhe dei os meus chinelos. fosse o fim de todos os mundos:
quando nasceu, nem foi dado à luz mas avisava os demais e demasiados: Mas não dava jeito naqueles areais – Vai o quê fazer?
a uma simples fresta de claridade. – Cuidado, já dentrei o menino no do bairro. Ela devia saber. A pessoa – Vou é desfazer.
De tão miserenta, a mãe se alegrou sapato. pisa o chão e não sabe se há mais Ela prometia-lhe um tempo, na espe-
com o destamanho do rebento – assim ra que o bebé graudasse. Mas o assunto
pediria apenas os menores alimentos. A azedava e até degenerou em soco, pun-
mulher, em si, deu graças: que é bom a hos ciscando o escuro. Os olhos dela,
criança nascer assim desprovida de amendoídos ainda, continuaram esprei-
peso que é para não chamar os maus tando o improvisado berço. Ela sabia
espíritos. E suspirava, enquanto con- que os anjos da guarda estão a preços
templava a diminuta criatura. que os pobres nem ousam.
Olhar de mãe, quem mais pode apa- Até que o ano findou, esgotada a últi-
gar as feiuras e defeitos nos viventes? ma folha do calendário. Vinda da igreja,
Ao menino nem se lhe ouvia o choro. a mãe descobriu-se do véu e anunciou
Sabia-se de sua tristeza pelas lágrimas. que iria compor a árvore de Natal. Sem
Mas estas, de tão leves, nem lhe des- despesa nem sobrepeso. Tirou à lenha
ciam pelo rosto. As lagriminhas subiam um tosco arbusto. Os enfeites eram tam-
pelo ar e vogavam suspensas. Depois, pinhas de cerveja, sobras da bebedeira
se fixavam no tecto e ali se grutavam, do homem. Junto à árvore ela rezou
missangas tremeluzentes. com devoção de Eva antes de haver a
Ela pegava no menino, com uma só macieira. Pediu a Deus que fosse dado
mão. E falava, mansinho, para essa con- ao seu menino o tamanho que lhe era
cha. devido. Só isso, mais nada. Talvez,
Na realidade, não falava: assobiava, depois, um adequado berço. Ou quem
feita uma ave. Dizia que o filho não sabe, um calçado novo para o seu
tinha entendimento para palavra. Só lín- homem. Que aquele sapato já espreitava
gua de pássaro lhe tocaria o reduzido pelo umbigo, o buraco na frente autori-
coração. Quem podia entender? Ele há zando o frio.
dessas coisas tão subtis, incapazes Na sagrada antenoite, a mulher fez
mesmo de existir. Como essas estrelas como aprendera dos brancos: deixou o
que chegam até nós mesmo depois de sapatinho na árvore para uma qualquer
terem morrido. A senhora não se impor- improbabilíssima oferta que lhe miracu-
tava com os dizquedizeres. lasse o lar.
Ela mesmo tinha aprendido a ser de No escuro dessa noite, a mãe não
outra dimensão, florindo como o capim: dormiu, seus ouvidos não esmoreceram.
sem cor nem cheiro. Despontavam as primeiras horas
A mãe só tinha fala na igreja. No quando lhe pareceu escutar passos na
resto, pouco falava. O marido, descren- sala. E depois, o silêncio. Tão espesso
te de tudo, nem tinha tempo para ser que tudo se afundou e a mãe foi engoli-
desempregado. O homem era um fiorra- da pelo cansaço.
po, despacha-gargalos, entorna-fundos. “Adoração dos Magos” Acordou cedo e foi directa ao arbus-
Vasco Fernandes (Grão Vasco), activo entre 1501 e 1540
Do bar para o quarto, de casa para a cer- to de Natal. Dentro do sapato, porém, só
vejaria. o vago vazio, a redonda concavidade do
Pois, aconteceu o seguinte: dadas as Que ninguém, por descuido, o calças- areia em baixo que em cima do pé. nada. O filho desaparecera? Não para os
dimensões de sua vida e não havendo se. Muito-muito, o marido quando vol- – Além disso, eu é que paguei os tais olhos da mãe. Que ele tinha sido levado
berço à medida, a mãe colocou o meni- tava bêbado e queria sair uma vez mais, sapatos. por Jesus, rumo aos céus, onde há um
ninho num sapato. E cujo era o esquer- desnoitado, sem distinguir o mais Palavras. Porque a mãe respondia mundo apto para crianças. Descida em
do do único par, o do marido. De então esquerdo do menos esquerdo. A mulher com sentimentos: seus joelhos, agradeceu a bondade divi-
em diante, o homem passou a calçar de não deixava que o berço fugisse da vis- – Veja o seu filho, parece o Jesuzinho na. De relance, ainda notou que lá no
um só pé. Só na ida isso o incomodava. lembrança dela. Porque o marido já se empalhado, todo embrulhadinho nos tecto já não brilhavam as lágrimas do
Na volta, ele nem se apercebia de ter outorgava, cheio de queixa: bichos de cabedal. seu menino. Mas ela desviou o olhar,
pés, dois na mesma direcção. – Então, ando para aqui improvisar Ainda o filho estava melhor que que essa é a competência de mãe: o não
Em casa, na quentura da palmilha, o um coxinho? Cristo – ao menos um sapato já não é enxergar nunca a curva onde o escuro
miúdo aprendia já o lugar do pobre: nos – É seu filho, pois não? bicho em bruto. Era o argumento dela faz extinguir o mundo.
embaixos do mundo. Junto ao chão, tão – O diabo que te descarregue! mas ele, nem querendo saber, subia de
rés e rasteiro que, em morrendo, dispen- E apontava o filhote: o individuozito tom: * Retirado de “Na Berma de Nenhuma Estrada”
saria quase o ser enterrado. Uma peúga interrompia o seu calçado? Pois que, – Cá se fazem, cá se apagam! (2ª Edição), Lisboa, Editorial Caminho, 2001
Festas Felizes
7. DE 13 A 26 DE DEZEMBRO DE 2006 NATAL 7
Natal Chinês
Por Maria Ondina Braga * Com um sorriso meio complacente traduzia em inglês para a senhora Tung, sim, mas racionalmente, atraindo a von-
meio contrariado, a irmã Chen-Mou que achava isto enternecedor e gratifi- tade do homem à da sua companheira e
A senhora Tung chegava dois dias desconversava, passando a bandeja dos cava a velha generosamente. exaltando essa atracção. Como o Céu
antes da consoada. Costumava vê-la logo bolos à superiora, que separava uns tan- Quando por fim atravessávamos a alagando a Terra na estação própria.
de manhã, com a irmã jardineira, no tos para o convento. Os restantes comê- cerca a caminho de casa, sob uma lua Retomávamos a marcha em direcção
pátio maior, a admirar as laranjeiras anãs los-íamos nós, ao fim da Missa do Galo, branca, espantada, anunciadora do aos nossos aposentos. Difícil para mim
nos vasos de loiça. Via-a casualmente a com chocolate quente. Inverno para a madrugada, a senhora responder às dúvidas da senhora Tung,
contemplar, embevecida, o presépio do O chocolate era a esperada surpresa Tung abria-se em confidências. nem ela parecia esperar resposta. Mu-
convento. Encontrava-a por fim à mesa. da directora. A senhora Tung chamava- A menina sabia... ? a «menina» era a dava, rápida, de assunto, aludindo ao
A senhora Tung viajava todos os anos lhe, em ar de gracejo, «chá de Paris». No irmã Chen-Mou, a subdirectora do colé- tempo, à viagem de regresso, às saboro-
da Formosa para Macau, na época do fim das três missas vinham outra vez as gio ?, sabia que ela continuava a vene- sas guloseimas da criada macaísta.
Natal, a fim de festejar o nascimento de três freiras ao refeitório do colégio para rar a Deusa da Fecundidade. Tratava-se Já em casa, convidava-me a ir ver o
Cristo na companhia da sua primogéni- trocarem connosco o beijo da paz e nos de uma pequena divindade, toda nua e seu presépio. O quarto cheirava forte-
ta, a irmã Chen-Mou. oferecerem a tigela fumegante do cho- toda de oiro. Fora ela quem lhe dera fil- mente a incenso. Em cima da cómoda,
Nesses dias, com as meninas em colate. Vinham e partiam logo (tarde hos. Estéril durante sete anos, a senhora entre flores, lá estava o Menino Jesus,
férias, o refeitório do colégio parecia demais para se demorarem), e Miss Lu, Tung recorrera à sua intercessão divina de cabaia de seda encarnada, sapatinhos
maior e mais desconfortável: só eu e fanática terceira-franciscana, sempre quando o marido já se preparava para de veludo preto, feições chinesas.
Miss Lu nos sentávamos à mesa com- atenta aos passos das monjas, sorvia à receber nova esposa. Não podia portan- Depois, timidamente, a senhora Tung
prida das professoras. Daí a presença da pressa o líquido escaldante, como quem to deixar de a amar. Toda a felicidade abria a gaveta... e surgia a deusa.
senhora Tung, que noutra ocasião pas- cumprisse um dever, e saía atrás delas. lhe provinha daí, dessa afortunada hora O Menino Jesus era de marfim. A
saria talvez despercebida (estirada a Ficávamos, assim, a senhora Tung e em que a deusa a escutara. Deusa da Fecundidade era de oiro. O
sala entre pátios de cimento e plantas eu, uma em frente da outra. À luz das Parava a meio do largo átrio enluara- Menino, de pé, de um palmo de altura,
verdes), se tornar nessa altura notável. trajando ricamente. A deusa, sentada,
Baixa, seca de carnes, de olhos aten- pequenina, nua.
ciosos, pensativos, a senhora Tung sor- Os olhos da senhora Tung atentavam
ria constantemente, falava inglês, gosta- nos meus, como se à procura de com-
va de comer, de fumar, de jogar ma- preensão, mas as suas palavras prontas
jong. As criadas cortejavam-na nos cor- (a deter as minhas?) eram de autocensu-
redores, preparavam-lhe pratos especi- ra. Não, não devia fazer aquilo. A filha
ais, levavam-lhe chá ao quarto. Além de asseverara que o Menino Jesus entriste-
ser mãe da subdirectora, tinha fama de cia, em cima da cómoda, por causa da
rica e distribuía moedas de prata a todo deusa, na gaveta. E quem sabia mais do
o pessoal na noite de festa. que a filha?
Nessa noite assistiam três freiras ao Eu já sentia frio, apesar da aguarden-
nosso jantar (a regra não lhes permitia te de arroz. O Inverno, ali, chegava de
comer connosco): a directora, a subdi- repente. A senhora Tung, no entanto,
rectora e a mestra dos estudos. E muito tinha as mãos quentes e as faces afo-
empertigada, segurando com ambas as gueadas.
mãos um tabuleiro de laca coberto com Despedíamo-nos. Eu sempre me ape-
um pano de seda, a senhora Tung rece- tecia dizer-lhe que estivesse sossegada,
bia-as à porta do refeitório, entregando que de certeza o Menino Jesus não ha-
cerimoniosamente o presente à filha, via de se entristecer, em cima da cómo-
que por sua vez o oferecia à directora. da, por causa da deusa, na gaveta. Mas
Eram bolos de farinha fina de arroz nunca lho disse nos três anos que passei
amassada com óleo de sésamo. Toda de o Natal com ela. Palpitava-me que a
“Adoração dos Magos”
Domingos António de Sequeira, 1768-1837, Colecção Particular
vermelho, de sapatos bordados e gan- senhora Tung se enervava com o assun-
chos de jade no cabelo, a senhora Tung, to. E que, de qualquer jeito, não me
quando a superiora colocava o tabuleiro velas olorosas do centro de mesa, os do, de olhar meditabundo, mãos cruza- acreditaria.
dos bolos na mesa, dobrava-se quase até seus olhos eram dois riscos tremulantes. das no colo. E as palavras saíam-lhe
ao chão. Rezava-se, depois. Para lá dos Sorríamos. Finalmente, o reposteiro ao lentas e soltas, como se falasse sozinha. In “ A China Fica ao Lado”,
pátios, à porta da cozinha, as criadas fundo da sala apartava-se. Uma das cri- ... E aquele mistério da virgindade de Lisboa, Panorama, 1968
espreitavam, curiosas. adas entrava, silenciosa. Servia-se Nossa Senhora! Virgem e mãe ao
Nem no primeiro, nem no segundo, vinho de arroz. mesmo tempo... Não se lia no Génesis:
(Maria Ondina Braga nasceu em 1932, em
nem no terceiro Natal que passei em Creio que o vinho de arroz figurava «O homem deixará o pai e a mãe para se Braga. Deixou esta cidade nos anos 50. Em
Macau, a senhora Tung era cristã, mas entre as bebidas proibidas no colégio e unir a sua mulher e os dois serão uma só Paris, cursou a Alliance Française e em Londres
todos os anos se nomeava catecúmena. A que chegava ali por portas travessas. O carne?» Não era essa a lei do Senhor? a Royal Society of Arts. Viajou, aprendeu e ensi-
seguir ao jantar falava-se nisso. A direc- certo, contudo, é que ambas o bebía- Por quê então a Mãe de Cristo diferente nou. Foi professora do ensino secundário em
Luanda, Goa e Macau, desenvolvendo também
tora, uma francesa de mãos engelhadas mos, a acompanhar os bolos de sésamo, das outras, num mundo de homens e de
actividade no domínio da tradução. De todas
que noutros tempos frequentara a no grande e deserto refeitório, na noite mulheres onde o Filho havia de vir pre- estas viagens resultaram páginas de escrita onde
Universidade de Pequim, perguntava em de Natal. gar o amor? A Deusa da Fecundidade, se combinam memória, conto, novela, romance e
chinês formal quando era o baptizado. O vinho de arroz queimava-me a gar- patrona dos lares, operava milagres, crónica, sem nunca esquecer as raízes minhotas).
Inclinando a cabeça para o peito, a ganta e fazia-me vir lágrimas aos olhos.
senhora Tung balbuciava, indicando a Quanto à senhora Tung, saboreava-o
irmã Chen-Mou. A filha... a filha sabia. devagar, molhando nele o bolo, e, como
Talvez se pudesse chamar cristã pelo mal provara o «chá de Paris», bebia
espírito, mas o coração atraiçoava-a. O dois cálices.
coração continuava apegado a antigas Entretanto, Aldegundes, a criada
devoções... Todavia, vestira-se de gala macaense mais antiga do colégio, apa-
para a festividade da meia-noite, tinha no recia com as especialidades da terra: Deseja-lhe Festas Felizes
quarto o Menino Jesus cercado de flores, aluares, fartes e coscorões, dizendo que
e a alma transbordava-lhe de alegria aluá era o colchão do Minino Jesus,
como se cristã verdadeiramente fosse. farte almofada, coscorão lençol. E eu
8. 8 NATAL DE 13 A 26 DE DEZEMBRO DE 2006
Ao Menino Deus
em metáfora
O Natal
Eça de Queirós * douradas, ondei-
am os dísticos
de doce tradicionais –
Romance O Natal, a grande festa doméstica da Merry Chris-
Inglaterra, foi este ano triste – dessa tmas! Mer-
– Quem quer fruta doce?
– Mostre lá! Que é isso? tristeza particular que oferece, por um ry Christ-
– É doce coberto; dia de calma ardente, a praça deserta de mas! alegre
É manjar divino. uma vila pobre... natal! ale-
– Vejamos o doce; O que nos estragou o Natal, não gre natal! e
Compraremos todo, foram decerto as preocupações políti- o mesmo
Se for todo rico. cas, apesar da sua negrura de borrasca. grito se re-
– Venha ao portal logo; Nem a rebelião do Transval em que os pete nos
Verá que não minto, Boers debutaram por exterminar o 94 shake-hands
Pois de várias sortes de linha, um dos mais experimentados e que se dão ao
É doce infinito. gloriosos regimentos da Inglaterra e que hóspede.
– Desculpa, minha alma. ameaça ensanguentar toda a África do Sob a cha-
Mas ah! Que diviso?! miné estala e dança
Sul numa guerra de raças; nem a situa-
Envolto em mantilhas,
ção da Irlanda, que já não é governada a grande fogueira
Um Infante lindo!
– Pois de que se admira, pela Inglaterra, mas pelo comité revolu- do Natal: a sua luz
Quando este Menino cionário da Liga Agrária – seriam inqui- rica faz parecer de ouro os cabelos
É doce coberto, etações suficientes para tirar o sabor louros, e de prata as barbas brancas.
É manjar divino? tradicional ao, plum-pudding do Natal. Tudo está enfeitado como numa
– Diga o como é doce, As desgraças públicas nunca impedem Páscoa sagrada: dos retratos dos avós
Que ignoro o prodígio. que os cidadãos jantem com apetite: e pendem ramos de flores de Inverno,
– Não sabe o mistério? misérias da pátria, enquanto não são as flores da neve, e todas as pratas da
“Santo Claus”
Ora vá ouvindo: tangíveis e senão apresentam, sob a casa cintilam sobre os aparadores,
de acordo com
Muito antes de Santa Ana, forma flamejante de obuses rebentando, numa solenidade patriarcal. Dos
o Harper’s Bazar
Teve este doce princípio, inuma cidade sitiada, não tirarão jamais grandes lustres balança-
de Dezembro
Porque já do Salvador
de1867
o sono ao patriota. se o ramo simbólico do
Se davam muitos indícios.
Não; o que estragou o Natal, foi sim- mistletoe, o ramo do amor
Mas na Anunciada dizem
plesmente a falta de neve. Um Natal doméstico: e ai das se-
Que houve mais expresso aviso,
E logo na Encarnação como este que passámos, com um sol de nhoras que um momento pa-
Se entrou por modo divino. uma palidez de convalescente, deslizan- rarem sob a sua ramagem! Quem assim
Esteve pois na Esperança do timidamente sobre uma imensa peça as surpreender tem direito a beijá-las Mas destas personagens que aparecem
Muitos tempos escondido; de seda azul desbotada, um Natal sem num grande abraço! Também, que vol- pelas consoadas, o meu predilecto é Father
Saiu da Madre de Deus, neve, um Natal sem casacos de peles, tas sábias, que estratégia complicada, Christmas – o papá Natal.
depois às Claras foi visto. parece tão insípido e tão desconsolado para evitar o ramo fatídico! Mas, pobres Esse, porém, só pode ser admirado em
Fazem dele estimação como seria em Portugal a noite de S. anjos! ou se enganam ou se assustam, e toda a sua glória, quando se abre a sala da
As freiras com tal capricho, João, noite de fogueiras e descantes, se a cada momento é sob o mistletoe um ceia: então lá está sobre o seu pedestal, ao
Que apuram para este doce houvesse no chão três palmos de neve e grito, um beijo, dois abraços que pren- centro da mesa – que lhe põe em torno,
Todos os cinco sentidos. caísse por cima o granizo até de madru- dem uma cinta fugitiva... com os cristais e os pratos, um amável bri-
Afirmam que no Calvário gada! Um desapontamento nacional! E o piano não se cala nestas noites! É lho da auréola caseira. Bem-vindo, papá
Terá seu termo finito,
Para compreender bem o encanto da alguma velha canção inglesa, em que se Natal! Boas noites, papá Natal!
Sendo que no Sacramento
neve deste famoso Natal inglês, basta fala de torneios e cavaleiros, ou uma O respeitável ancião, com o seu capuz
Há-de ter novo artifício.
Que seja doce este Infante, examinar alguma das pinturas, gravuras dança da Escócia, que se baila, com o até aos olhos, todo salpicado de neve, as
A razão o está pedindo, ou oleografias, que o têm popularizado. gentil cerimonial do passado. mãos escondidas nas largas mangas de
Porque é certo que é morgado, O assunto não varia na paisagem re- E por corredores e salas, as crianças, frade, o olho maganão e jovial, esgarça a
Sendo unigénito Filho! petida: é sempre a mesma entrada dum os bebés, com os cabelos ao vento, vesti- boca num riso de felicidade sem-fim, e as
Exposto ao rigor do tempo, parque, de aparência feudal, por véspe- dos de branco e cor-de-rosa, correm, can- suas enormes barbas de algodão pendem-
Quando tirita nuzinho, ras do Natal, antes da meia-noite; o céu tam, riem, vão a cada momento espreitar lhe até aos pés.
Um caramelo parece pesado de neve suspensa parece uma, os ponteiros do relógio monumental, por- Todas as crianças o querem abraçar, e
Pelo branco e pelo frio. gaza suja: e a perder de vista tudo está que à meia-noite chega Santo Claus, o ele não se recusa, porque é indulgente.
Tão doce é que, porque farte coberto da neve caída, uma neve bran- venerável Santo Claus que tem três mil E quanto mais a ceia se anima, mais o
Ao pecador mais faminto, ca, fofa, alta, que faz nos campos um anos de idade e um coração de pomba, e seu patriarcal riso se escancara; as boche-
Será de pão com espécies, grande silêncio. Junto à grade do par- que já a essa hora vem caminhando pela chas reluzem-lhe de escarlates, as barbas
Substancial doce divino.
que, uma mulher e duas crianças, ataba- neve da estrada, rindo com os seus velhos parecem crescer-lhe, e ali está, bonacheirão
É manjar tão soberano,
fadas nos seus farrapos, com lampiões botões, apoiado ao seu cajado, e com os e venerável, com a importância de um
Regalo tão peregrino,
Que os espíritos levanta, na mão, vão cantando as loas; e ao alforges cheios de bonecos. Amável Deus tutelar e amado, como a encarnação
Tornando aos mortos vivos. fundo, entre as ramagens despidas, Santo Claus! Por um tempo tão frio, sacramental da alegria doméstica.
Tão delicioso bocado ergue-se o maciço castelo, com as jane- naquela idade deixar a cabana de algodão E no entanto fora, na neve, as pobres cri-
Será de gosto infinito, las flamejando, abrasadas da grande luz que ele habita no país da Legenda, e vir anças cantam as loas: e com vigor as can-
Manjar real, verdadeiro, de dentro e da alegria que as habita. por sobre ondas do mar e ramagens de tam! É que elas sabem que não serão
Manjar branco, parecido! E toda a poesia do Natal está justa- florestas trazer a estes bebés o seu natal! esquecidas: e que daqui a pouco a grade se
Que é manjar dos Anjos, dizem mente nessas janelas resplandecendo na Também, como eles o adoram, o bom abrirá, e virá um criado, vergando ao peso
Talentos mui fidedignos, noite nevada. Claus! E apenas ele chegar, como corre- de toda a sorte de coisas boas, peças de
Por ser pão de ló, que aos Anjos Felizes aqueles para quem essas por- rão todos, em triunfo, a puxá-lo para o carne, empadas, vinho, queijos – e mesmo
Foi em figura oferecido tas difíceis se abrem! Logo ao entrar na pé do lume, a esfregar-lhe as decrépitas bonecas para os pequenos; porque Santo
Jerónimo Baía antecâmara os tectos, as ombreiras, os mãos regeladas, e oferecer-lhe uma taça Claus é um democrata, e, se enche os seus
(Frade beneditino e professor, espaldares das cadeiras, os troféus de de prata cheia de hidromel quente - que alforges para os ricos, gosta sobretudo de
nascido em Coimbra em 1620 caça, aparecem adornados das verduras ele bebe dum trago, o glutão! Depois os ver esvaziados no regaço dos pobres.
e falecido em Viana do Castelo em 1688, do Natal, das ramagens sagradas do car- abrem-se-lhe os alforges. Quantas Tudo isto é encantador. Mas tire-se-lhe a
pregador na corte de D. Afonso VI)
valho céltico; e pelas paredes, em letras maravilhas!... neve, e fica estragado. O Natal com uma