Este relatório descreve uma visita de estudo realizada por alunos do 11o ano ao litoral norte entre a Póvoa de Varzim e Esposende. O objetivo era observar os processos naturais e impactos da ação humana nesta região costeira, incluindo a destruição do cordão dunar e obras de proteção implementadas. A visita incluiu várias praias onde os alunos analisaram fenômenos como erosão e sedimentação.
1. Março de 2017
Relatório de visita de estudo ao Litoral Norte
Modelação do Litoral Norte – Destruição do cordão dunar
Grupo de trabalho:
Turma 11CT2
2. Março de 2017
Introdução
A visita de estudo realizada no dia 8 de março de 2017 enquadrou-se no âmbito do
projeto da biblioteca escolar, “Da Penha vê-se o mar”, em parceria com a disciplina de
Biologia e Geologia do 11º ano. O espaço físico percorrido situou-se numa primeira
instância, da parte da manhã, entre as cidades da Póvoa de Varzim e da Aguçadoura e da
parte da tarde entre o litoral de Ofir e de Esposende.
Como foi discutido durante as aulas, a ação humana (antrópica) tem-se revelado ao
longo dos tempos potencialmente danosa para os ecossistemas naturais. São exemplos
desta intervenção a destruição das dunas, a remoção de vegetação de diferentes zonas e
ocupação de zonas de risco geológico.
Nestas zonas litorais de praia, foi possível observar fenómenos, que faziam parte
dos objetivos propostos para esta atividade de contacto com a Natureza. De entre estes
fenómenos e espaços que perspectivamos tínhamos o intuito de observar, a meteorização,
erosão, transporte e sedimentação em zonas de praia, e em diversos ribeiros/rios que
existem na zona. O nosso objetivo foi também observar o resultado da ocupação antrópica
neste percurso e observar a zona dunar envolvente. Pretendíamos ainda analisar algumas
obras de engenharia aqui implementadas. Passaremos uma revisão também por espécies de
plantas mais marcantes e importantes para evitar a erosão das construções dunares.
Deste modo, ao longo do percurso efetuado e que descreveremos neste relatório
focaremos a nossa atenção em todos os processos de ocupação antrópica relacionados com
o desgaste litoral, abordaremos também os fenómenos naturais aliados e as diversas obras
de engenharia aqui construídas e os seus impactes ambientais. Esperemos que gostem desta
viagem da Póvoa de Varzim até Esposende...
3. Março de 2017
Objetivos da visita de estudo
Gerais:
● Mobilização da comunidade educativa no desenvolvimento de atitudes e valores em
torno da leitura e literacia dos oceanos bem como da dinâmica das zonas costeiras;
● Desenvolvimento curiosidade geográfica e geológica como promotora da educação
para a cidadania;
● Compreensão da importância da exploração de recursos naturais renováveis e não
renováveis no âmbito de um desenvolvimento sustentável e de respeito ecológico;
Específicos:
● Observação de aspetos da dinâmica sedimentar na faixa litoral norte;
● Relação entre os oceanos enquanto agentes de erosão e/ou meteorização portanto
como agentes modeladores do litoral;
● Aplicação de conhecimentos geológicos adquiridos em contexto de sala de aula sobre
os problemas de ordenamento de território
● Reconhecimento das zonas litorais como áreas muito vulneráveis e extremamente
manipuladas pela ação antrópica;
● Identificação dos riscos geológicos associados à dinâmica sedimentar na faixa litoral;
● Relação entre o recuo da linha de costa como resultado da ação de múltiplos fatores,
naturais e antropogénicos, designadamente para defender o litoral.
● Sensibilização para a conservação/preservação dos recursos geológicos;
4. Março de 2017
Litoral Norte
A área costeira corresponde à zona de transição entre a parte continental e a
marinha. Esta área é instável, dinâmica e sujeita a vários processos geológicos.
São múltiplos os fatores indutores de erosão costeira estando alguns destes
representados na seguinte tabela:
Na transição do continente para o oceano é possível distinguir duas costas distintas:
● Costa de arriba - alta e escarpada, com pouca ou sem vegetação, onde a linha de costa
se insere num relevo alto constituído por formações rochosas mais resistentes à erosão
marinha.
● Costa de praia - baixa e arenosa, onde a linha de costa se insere num relevo baixo e em
que as formações rochosas são menos resistentes. O percurso traçado para a visita de
estudo em observação corresponde a este tipo de costa
Ao longo do litoral norte é possível observar nas praias areias predominantemente
brancas, originárias de afloramentos graníticos muito frequentes na região. Estes granitos
têm origem no Holocénico, em que os mais atuais estão nos caudais e nos estuários,
enquanto os mais antigos se encontram nas dunas e praias de areia ou cascalho. Também
há presença de sedimentos do Quaternário antigo. Além dos sedimentos de origem
granítica pode haver, eventualmente, afloramentos de quartzo, xisto e conglomerados.
5. Março de 2017
Pressão urbanística na linha de costa
Pressão urbanística é um conceito que pretende representar todo o tipo de
comportamento humano, nomeadamente em termos de ordenamento territorial, que
possa comprometer a própria integridade física das populações e da linha de costa.
Quando, por motivos económicos em grande parte dos casos, o Homem coloniza as zonas
costeiras de forma tal que se aproxima em demasia do mar, mesmo ocupando zonas
dunares sensíveis, por exemplo, dizemos que está a ser gerada uma pressão urbanística.
A pressão urbanística associa-se ao aumento exponencial do risco geológico a que
qualquer individuo fica sujeito ao realizar determinada atividade (neste caso, ocupar
terrenos perigosamente próximos do mar).
Em primeiro lugar, a ocupação humana propriamente dita tem um enorme impacto
ambiental por alterar por completo a belíssima paisagem que qualquer linha de costa
constitui, artificializando-a (retirando-lhe o encanto natural), como por danificar o frágil
solo dunar, obrigado a sustentar grandes estruturas antrópicas, como é o caso das torres
de Ofir.
Em segundo lugar a aproximação excessiva do mar, pode tornar qualquer obra de
engenharia suscetível de colapso de duas formas: através de uma acção direta da abrasão
marinha, onde a própria ondulação com a transgressão do mar encarrega-se de danificar
as estruturas humanas ou devido a cedência dos sedimentos que constituem a base
natural de qualquer obra antrópica, mais uma vez provada pela constante erosão a que a
zona costeira está exposta.
Durante toda a visita foram inúmeros os casos de excessiva pressão urbanística. No caso
mais extremo temos por exemplo as torres de Ofir e um conjunto de habitações mais a
norte, onde desde já é possível verificar a destruição de alguns muros das próprias casas.
É natural que a grande causa desta pressão urbanística seja o interesse económico
sobrejacente a harmonia entre a espécie humana e o ambiente em geral. A falta de visão
do Homem fecha-o de tal modo em si e nos seus interesses que o impede de pensar no
futuro distante e no perigo a que as futuras gerações estarão sujeitas.
6. Março de 2017
O cordão dunar
Uma duna constitui uma larga acumulação de sedimentos por fenómenos
principalmente eólicos. Para efeito de estudo deste caso em concreto, devemos
considerar uma duna como uma barreira natural de defesa contra a erosão costeira.
Constituem verdadeiros muros naturais que impedem a excessiva transgressão marinha e
consequente desgaste da costa.
As dunas, ainda que consigam conter o mar, são fenómenos geológicos
extremamente delicados. E o Homem está a contribuir para a sua destruição.
Um corte eólico é uma abertura do cordão dunar e da sua vegetação que expõe
por completo as areias a acção do vento. Nestas zonas, a erosão é exponencialmente
mais elevada.
A ocupação dunar excessiva pode ser vista de duas formas: tanto na ocupação
antrópica das próprias dunas como no uso das mesmas para fins turísticos. As exímias
paisagens que proporcionam (fomos nós mesmos testemunhas disso mesmo) são
constantemente exploradas por indivíduos que, talvez por falta de informação,
involuntariamente contribuem para a formação de cortes eólicos. A pressão urbanística
crescente pode também indiciar esta mesma desagregação, uma vez que a construção de
edifícios pode arruinar a estabilidade geológico das dunas.
Tanto a informação de turistas como a própria fomentação de vida vegetal nas
dunas constituem dois métodos pouco dispendiosos para o combate a erosão costeira
por preservação das dunas. Outras formas de impedir a destruição das mesmas pode ser
a construção de vedações que minimizam o efeito do vento e de passadiços, que desta
forma evitam que turistas pisem tão delicado território. Durante a visita foi notável a
presença destas estruturas, o que indica um crescente esforço no que toca a preservação
das tão importantes e insubstituíveis dunas.
Importância da vegetação na construção das dunas
A vegetação tem um papel muito importante na formação e estabilização de um
sistema dunar. Ao contribuírem para a captura das areias, as plantas previnem a erosão
do litoral. As suas raízes proporcionam estabilidade aos sedimentos das dunas, uma vez
que melhoram a sua coesão. A vegetação dos ecossistemas dunares é constituída por
plantas adaptadas a condições muito exigentes, como as que existem nestes
ecossistemas, onde sobreviver não é tarefa nada fácil. De seguida referem-se algumas
dessas plantas que colonizam estes ambientes.
7. Março de 2017
Feno das areias
A primeira entre todas na formação de dunas é a
Elymus farctus, vulgarmente conhecida por feno das
areias, gramínea perene de crescimento relativamente
rápido que desempenha um papel fundamental
durante a acumulação de sedimentos, favorecendo a
colonização do espaço adjacente por outras espécies.
Feno das areias: Elymus farctus
Estorno
A planta mais importante é sem dúvida a
Ammophila arenaria, de nome vulgar, estorno,
muitas vezes chamada construtora das dunas
devido à sua enorme capacidade de retenção e
fixação de areia.
Junco
Junco, nome comum dado a numerosas espécies de
plantas monocotiledóneas, sobretudo as pertencentes às
famílias Juncaceaee e Cyperaceae. São plantas endógenas
fixadoras dos cordões dunares. A maioria dessas espécies
ocorre em habitats ligados às zonas húmidas
Morrião azul
Anagallis monelli é vulgarmente
conhecida por morrião azul, morrião
perene, morrião de areias. Pertence à
família das Primulaceae.
Estorno: Ammophila arenaria
Morrião azul: Anagallis monelli
8. Março de 2017
Cordeirinhos-da-praia
Os Cordeirinhos-da-praia (Otanthus maritimus) são pequenos arbustos típicos de dunas.
Podemos encontrá-los, por exemplo, nas dunas da paisagem protegida de Esposende.
Cordeirinhos-da-praia
Chorões
São consideradas plantas exóticas, dado que não são provenientes do local, mas de África
do Sul. São ainda consideradas plantas invasoras, que se expandem natural e
frequentemente em habitats naturais ou semi-naturais, produzindo alterações
significativas ao nível da composição, estrutura ou processos de ecossistemas, chegando
inclusivamente a eliminar outras espécies.
Chorão-das-praias: Carpobrotusedulis
9. Março de 2017
Obras de protecção das dunas:
1. Passadiços
Os passadiços são estruturas em madeira criados para o trânsito pedonal sobre as
dunas sem provocar no entanto a sua destruição.
Estas estruturas foram criadas com o objetivo de reduzir o pisoteio da erosão
dunar, permitindo a circulação de areias e a alimentação das dunas (dado que estas
estruturas são sobreelevadas). Protege também a fauna e a flora dunar, evitando a sua
destruição.
2. Paliçadas
São estruturas que deixando passar o vento apenas de forma parcial, facilitam a
germinação de plantas no cordão dunar, especialmente plantas autóctones que, não
sendo tão resistentes à adversidade do meio como, por exemplo, o chorão das praias,
têm a sua reprodução facilitada por estas construções artificiais, já que fazem com que os
sedimentos nas proximidades (importantes para a fixação das raízes) praticamente não
sofram erosão / transporte. Assim, as paliçadas constituem estruturas importantes no
aumento da vegetação dunar que permitem, por sua vez, diminuir a erosão das dunas,
dado que as raízes destas plantas agregam os sedimentos e as plantas fazem com que o
efeito erosivo do vento não seja tão forte.
Estas estruturas são colocadas acima do nível da água do mar e a seguir à linha de
vegetação, de modo a que as suas faces fiquem voltadas para os ventos. Isto permite
maximizar o seu efeito não constituindo, contudo, uma barreira opaca.
10. Março de 2017
Itinerário da visita
1º etapa
Praia da Fragosa
Praia do Esteiro
Praia do Quião
Praia da Aguçadoura
Praia da Barranha
2ª etapa
Praia de Ofir
3ª etapa
Praia de Esposende
O itinerário definido incidiu sobre um troço da faixa litoral norte compreendido
entre a praia da Fragosa, em Aver-O-Mar (Lat: 41.397293º; Long: 8.779129) e o Farol de
Esposende (Lat: 41.542054°; Long: -8.791062°).
Este percurso efetuou-se em duas etapas: a primeira iniciou-se na Praia da Fragosa
e terminou no campo de futebol do Aguçadora Futebol Clube. Realizou-se no período
antes de almoço dando lugar a uma caminhada de aproximadamente 5 Km, realizada na
sua maioria sob passadiços instalados nesta zona litoral.
A segunda etapa, realizada depois do almoço no parque de estacionamento em
frente ao AFC, compreendeu uma visita à faixa litoral de Ofir e posteriormente à faixa
litoral frontal ao Farol de Esposende.
11. Março de 2017
As praias observadas:
1. Praia da Fragosa
A Praia da Fragosa é uma extensa praia marítima na área urbana da Póvoa de
Varzim, localizada entre a Praia de Fragosinho e a Praia do Esteiro, na freguesia de Aver-
o-Mar. A Praia da Fragosa é uma praia bastante frequentada, de areia branca com alguns
penedos.
Nesta primeira paragem do percurso foi possível observar alguns afloramentos
rochosos, os quais formam esporões naturais. Consequentemente, há uma maior
deposição de sedimentos, nomeadamente areias a norte, causando a forte erosão a sul,
tendo em conta as correntes marítimas. Por esse motivo, a norte formou-se uma
excelente praia com um extenso areal, ao passo que a sul esta zona está suscetível à
erosão marinha.
Resultado de uma constante modelação por parte dos fatores naturais as rochas
são arquivos da história passada do nosso planeta. São o espelho de catástrofes e de
fenómenos mirabolantes que deixaram marcas inapagáveis e que perdurarão enquanto a
natureza o entender...
Por ser uma praia bastante sensível à ação antrópica com uma distância ténue entre
a urbanização e a linha de água, em especial a pressão urbanística, à implantação de
infraestruturas relacionadas com o turismo e o lazer, o areal começa a desgastar-se e a
diminuir pondo em risco não só habitações, mas como a extensão da praia.
Nesta parte do percurso, observou-se a existência de paliçadas. As paliçadas, tal
como já referido, são estruturas que têm como função diminuir a velocidade dos grãos de
areia transportados pelo vento, fazendo com que estes fiquem nas dunas permitindo o
aumento substancial de vegetação e a fixação de dunas muito importantes para o litoral.
Afloramentos rochosos na praia da Fragosa
12. Março de 2017
2. Praia do Esteiro
Esta foi a segunda praia por onde passámos. É constituída por areias brancas
(caracterizadas pela presença de minerais félsicos), evidencia alguns afloramentos
rochosos e um rio (rio Esteiro) que apresenta uma morfologia peculiar, sendo classificado
como meandrificado.
Nesta praia também nos foi possível observar a presença de moinhos, o que nos
leva a crer que nesta zona existe uma forte ação do vento. Deste modo, em épocas de
tempestade, é normal que a elevada ação eólica aliada à ação marítima cause estragos na
zona costeira, mesmo em zonas impensáveis, sendo possível observar, por exemplo,
fragmentos de passadiços.
Rios:
Os rios são agentes de relevo de primária importância e que espelham fenómenos tão
variados, maioritariamente lentos, mas que por vezes se enchem de uma
espetacularidade incrível com fenómenos de extraordinária violência.
A imagem traduz a alternância de zonas de
erosão e de deposição que ocorre nas margens
do rio Esteiro, na zona de praia, transformando
o leito num leito meandrificado.
Moinho antigo, já em ruínas.
13. Março de 2017
3. Praia do Quião
A Praia do Quião é uma extensa praia marítima da Póvoa de Varzim, localizada
entre a Praia de Coim e o Cabo de Santo André, na freguesia de Aver-o-Mar.
As dunas aqui existentes são protegidas por antigas masseiras, ou seja, covas onde
são plantadas vinhas que protegem a área central da ação erosiva e de transporte dos
ventos usada na agricultura.
No Quião Norte, de difícil acesso, pratica-se uma agricultura tradicional, onde a
apanha do sargaço para fertilizar as terras, ainda é prática comum.
Diáclases:
Estruturas presentes nas rochas da praia do Quião, as diáclases são superfícies de fratura
resultantes do alívio de pressão, causado pelo afloramento que as rochas sofrem à
superfície. Este fenómeno constitui uma forma de meteorização física. Permitem um
maior contacto da rocha com outros agentes de meteorização, quer física (que
desagregam o material rochoso), quer química (que alteram a composição mineralógica
da rocha). No contexto geográfico destas rochas, é de salientar a ação mecânica que as
ondas exercem sobre as rochas, bem como a água do mar (rica em sais diversos) que
contribui para a alteração química destas.
4. Praia da Aguçadoura
Depois de passarmos pela praia do Quião, chegamos à praia da Aguçadoura. A
Praia da Aguçadoura é uma praia marítima da Póvoa de Varzim. Esta possui um areal
extenso (embora estreito) e um sistema dunar na zona norte. Aqui é a foz da ribeira da
Barranha, que, tal como o rio Esteiro, possui um leito em meandros.
Afloramentos rochosos com diáclases.
14. Março de 2017
A praia é acedida pela Marginal do Cruzeiro e encontra-se entre a Praia de Paimó e
a Praia da Codicheira, na freguesia da Aguçadoura. A norte desta destaca-se a Praia do
Rio Alto. É em frente à Praia da Aguçadoura que está instalado o primeiro parque de
energia das ondas do mundo. Parte da praia, nas zonas das dunas foram escavadas para a
agricultura, nomeadamente, masseiras.
A praia da Aguçadoura é uma zona muito afetada pelas tempestades e com
evidências de erosão com forte intensidade.
Encontrámos na Praia da Aguçadoura um Muro do Gabião.
Muro de Gabião:
Um muro de gabião constitui um conjunto de gabiões, devidamente empacotados
e agregados, formando uma verdadeira parede. Um gabião é um conjunto de rochas
amontoadas bem seguras graças a uma armação de rede metálica que as contém. Apesar
de ser muitíssimo porosa (ou seja, tem muitos espaços vazios no próprio muro), a rede
metálica que envolve a estrutura assegura a consistência da estrutura. É, portanto, uma
obra de engenharia que visa harmonizar a eficiência na contenção de solos e o reduzido
impacto ambiental.
A eficiência de contenção relaciona-se com o facto do muro de gabião ser uma
estrutura rígida não móvel, que permite a drenagem de água pelas suas fissuras, não
pondo em risco, no entanto, a integridade da própria parede (devido a armação
metálica). Desta forma o risco de desagregação do solo é mais pequeno, que poderia
eventualmente desencadear deslizamentos de terras.
Em termos de impacto ambiental, recebe também nota máxima. Os grandes poros
do muro permitem o crescimento de vegetação que por sua vez também auxilia a própria
contenção do solo. O facto de impedir o movimento de terras, permite o natural fluxo dos
cursos de água até a foz.
Muro de Gabião
15. Março de 2017
5. Praia da Barranha
A Praia da Barranha é uma praia marítima de Aguçadoura.
Esta praia destaca-se pela enorme perceção dos inúmeros cortes eólicos que
existem nas dunas (que funcionariam como proteção).
Cortes eólicos:
Caminhos abertos nas dunas literalmente, de modo a facilitar a passagem dos banhistas.
Destroem a vegetação presente naquele
troço da duna bem como sujeitam a própria a
uma maior erosão, por parte do vento (por
exemplo).
Por sua vez, o aumento da erosão aplana a
costa, tornando possível o mais rápido recuo
da costa, em consequência do aumento
do nível médio das águas.
As dunas são acumulações naturais de areias
(podendo haver outros sedimentos detríticos em
menor quantidade) transportadas pelo vento e
que se acumulam em determinados locais
originando pequenas formações, por exemplo,
no litoral ou no deserto. Por serem constituídas
por sedimentos leves e não consolidados são
facilmente erodidas pelo mar e pelo vento.
Corte eólico
Dunas da praia da Barranha
16. Março de 2017
6. Praia de Ofir
A praia de Ofir situa-se na Freguesia de Fão, Concelho de Esposende, Distrito de
Braga.
Esta praia possui uma forte procura, dispondo de acessos viários pavimentados
assim como diversas infraestruturas de apoio aos banhistas, das quais se destaca a
calçada portuguesa que abre o acesso à praia e onde existem esplanadas.
Além destas infraestruturas é de destacar a existência de habitações em cima do
cordão dunar e que por isso se encontram numa zona sinalizada de elevado risco
geológico (dada a instabilidade do terreno em que assentam). É uma das praias mais
afetadas pela forte erosão e pela subida do nível médio da água do mar.
Nesta zona há dois esporões. Um junto às torres de Ofir e outro mais a Norte. Um
esporão constitui uma obra de engenharia pesada que visa proteger uma determinada
zona costeira da erosão e por conseguinte do seu recuo. Não é mais do que um massivo
muro transversal à costa, constituído por variados recursos litológicos.
No caso de Ofir, o impacto do esporão é notório. Arruinou por completo a dinâmica
do fluxo de sedimentos, causando uma desproporcionalidade no que toca à erosão e
sedimentação costeira, criando um fosso de tal forma grande entre ambos os processos
que torna a extensão da praia a norte muito superior à do sul.
Esta sedimentação e erosão diferenciais protegem somente uma fração da costa de
Ofir da erosão costeira, mas no geral, as consequências tendem para o negativo,
considerando o elevado custo da obra e o escasso benefício da mesma. Os efeitos
negativos causados pelo primeiro esporão levaram à construção de um segundo, que, tal
como o primeiro, protege somente um dos lados da praia. Em consequência entramos
num ciclo infinito de construção de esporões que nunca protege por completo toda a
zona do litoral. Devido ao fracasso dos esporões, foi necessário aplicar-se outras medidas,
tais como geocilindros com núcleo em areia e encostados ao pé das arribas de erosão.
Os geocilindros que observamos em Ofir enquadram-se numa perspetiva
geomorfológica da zona na qual efetuam a função de barreira ao avanço ríspido das águas
do mar. São assim muito importantes para a manutenção da segurança da zona e para o
combate às transgressões marinhas observadas nos últimos anos. Um cilindro geológico
ou geocilindro é revestido por uma tela muito resistente que cobre a areia evitando a sua
erosão.
17. Março de 2017
Geocilindros:
O papel dos
geocilindros que
impedem o avanço do
mar, protegendo as
zonas da costa. É
percetível a destruição
que o mar havia feito na
vedação da casa.
Habitação protegida pelos geocilindros.
Proximidade das construções antrópicas ao mar.
18. Março de 2017
Esporão a sul das Torres de Ofir:
O efeito dos esporões. De um lado é
visível a acumulação de sedimentos e
do outro, a erosão da praia provocada
pelo esporão que, fazendo barreira com
o mar, fá-lo mover-se com maior
energia, provocando o desgaste da
praia no outro lado.
O contraste da deposição e erosão. Na imagem esquerda verificamos que
existe sedimentação: o mar é travado e deposita na praia os sedimentos que
transporta. Na da direita é possível observar o poder destrutivo do mar que,
impedido de avançar pelo esporão, reage severamente, movendo-se com
maior energia, desgastando a praia a jusante.
19. Março de 2017
7. Esposende:
Este local que supostamente está protegido pela restinga de Ofir tem vindo a
reagir perante a sua redução. O cordão dunar de Ofir tem como função impedir o avanço
do nível médio da água do mar em relação à costa, tentando controlar o caudal do Rio
Cávado, para não destruir a ocupação antrópica. Deste modo protege o estuário do Rio
Cávado, que desagua em Esposende. Contudo, tanto o cordão dunar, como os esporões e
a restinga de Ofir se encontram com elevado grau de desgaste. A colocação de
geocilindros na restinga foi outra medida que contribuiu para proteger aquela área da
erosão.
Restinga de Ofir e molhe de Esposende:
A restinga é um local formado por depósitos arenosos paralelos à linha da costa,
de forma alongada, produzidos por processos naturais de sedimentação, que protegem as
infraestruturas antrópicas do avanço da maré.
«Com o intuito de recuperar a restinga de Ofir, que havia sido desgastada pelo mar
através do estuário do Cávado, construiu-se um molhe (estrutura longa e estreita que se
estende em direção ao mar) a norte da barra de Esposende, com a finalidade de reduzir a
erosão da restinga de Ofir, que se encontra ameaçada. Assim, a acumulação de areia
protege a costa do avanço da maré e protege o estuário do Cávado, dando mais
segurança ocupação antrópica.»
É de notar que, a atual costa em betão armado, outrora fora uma praia. As
medidas tomadas, que contribuíram para a proteção do estuário, permitem assim
preservar a atividade piscícola bem como o peculiar ecossistema do rio Cávado e,
consequentemente, a biodiversidade existente neste.
Molhe de Esposende
20. Março de 2017
Conclusão:
Após uma longa viagem pelo litoral norte, terminamos a nossa visita de estudo
com um resumo daquelas que foram as sensações do contacto direto com os fenómenos
que tivemos oportunidade de vislumbrar. Percorremos um itinerário apeado
relativamente extenso mas que nos foi muito útil e que contribuiu de todo o modo para o
sucesso da nossa aprendizagem. Foi um dia diferente em que a presença no local nos fez
ter a perspetiva real daquilo que, por vezes, temos apenas na nossa imaginação ou
através de meras representações projetadas.
Foi, portanto, um importante mecanismo, e da qual com certeza, todos retiramos
benefício, incluindo o próprio contacto com o corpo docente que se mostrou também
empenhado em proporcionar um ensino diferente mas com bases sólidas de
conhecimento para todos os alunos, desde o roteiro elaborado às explicações fornecidas
durante todo o percurso. E porque a visita de estudo se desenvolveu tendo por foco a
temática da ocupação antrópica das zonas litorais não podemos deixar de salientar aquilo
que nós podemos fazer pelo nosso planeta.
Ao longo de todo o percurso era notável a existência de cortes eólicos e de
ocupação dunar excessiva. A falta de vegetação em algumas zonas é ainda um fator a
considerar. Desde já a preservação do litoral deve ser uma preocupação a todos os níveis
pois o recuo da costa está a ocorrer a um impulso acelerado e que se preconiza imparável
se não houver uma mudança nos nossos comportamentos. Comportamentos esses que
devem incluir medidas de prevenção do aquecimento global na sua plenitude e que mais
propriamente na nossa zona costeira devem centrar-se mais na fixação dunar. A utilização
de vegetação autóctone e adequada é de extrema importância na fixação de areias
durante o processo de formação dunar, ajudando ainda nesse processo as estruturas em
paliçada, que pudemos observar em pontos do percurso efetuado. Também na
preservação do cordão dunar observámos passadiços que sendo estruturas importantes
que impedem o pisoteio das dunas contribuem para o crescimento saudável das dunas.
Sobre as obras de engenharia que têm sido desenvolvidas no litoral português, tais
como esporões, paredões, molhes, entre outros, deve haver um controlo daquelas que
favoreçam pontos de erosão elevada e que envolvam soluções temporárias. No entanto,
há outras que merecem ser destacadas, como a colocação de geocilindros nas praias,
como os que observamos na praia de Ofir, que parecem resultar positivamente na
retenção de areias e protecção das construções humanas.
Para além disso é aconselhável diminuir-se a densidade populacional e os
fenómenos de construção de prédios e moradias nas proximidades de zonas de risco
elevado e que posteriormente possam envolver custos financeiros e geológicos que
comprometam o nosso planeta. Gostávamos de salientar portanto o papel que cada um
21. Março de 2017
de nós tem na manutenção de uma Terra habitável e em que todos vivamos em harmonia
constante com a Natureza.
Foi um prazer apresentar esta nossa viagem por terras do nosso litoral extenso...
Mas em risco eminente.
22. Março de 2017
Bibliografia:
Guião da visita de estudo
http://www.infoescola.com/biomas/restinga/
http://mundoeducacao.bol.uol.com.br/geografia/afloramentos-rochosos.htm
http://www.oceanusinternacional.com/geocilindros.html
http://floresdoareal.blogspot.pt/2014/09/sistemas-dunares-do-litoral-parte-ii.html
https://pt.slideshare.net/RicardoFerDias/tema-4-atividade-geolgica-de-um-rio
https://pt.wikipedia.org/wiki/Praia_de_Ofir
http://www.scielo.mec.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1646-88722013000100003
http://repositorium.sdum.uminho.pt/bitstream/1822/31020/1/TESE%20Paula%20E
duarda%20Matos%20Neto%202013.pdf