comentario da lição 12 da escola dominical lições sobre tiago
1. PECADO
Definição
O pecado é iniquidade, diz 1 João 3.4. A lei contra a qual se estima o pecado
não é simplesmente a lei mosaica, mas sim toda e qualquer revelação de
DEUS durante todos os tempos. Isto inclui os mandamentos específicos da
Bíblia (tanto os negativos quanto os positivos), os princípios bíblicos de
conduta (por exemplo, 1 Co 10.31) e leis que não se mencionam
especificamente na Bíblia Sagrada, mas que podem ser consideradas
diretrizes dadas pelos líderes indicados por DEUS (por exemplo, Hb 13.17; Ef
6.1). Portanto, o pecado não é somente alguma coisa contrária ao que DEUS
disse que o homem não deveria fazer, mas é também algo contrário ao que
DEUS não quer que o homem faça, com base nos princípios revelados. Dessa
forma, uma definição completa e inclusiva do pecado seria: o pecado é tudo o
que é contrário ao caráter de DEUS. Como a glória de DEUS é a revelação do
seu caráter, o pecado é uma insuficiência do homem em relação à glória ou ao
caráter de DEUS (Rm 3.23).
Os teólogos da Reforma ressaltam que o caráter de DEUS está revelado na lei
de DEUS. Eles ensinam que isto é apresentado tanto positivamente, e de uma
maneira geral nos Dez Mandamentos, que ordenam o amor a DEUS e o amor
aos homens (cf. Rm 13.8-10); e negativamente (exceto para o quarto e o
quinto mandamento) em uma forma mais específica nas oito proibições
contidas nas duas tábuas da lei. Com base nisto é que o catecismo curto de
Westminster define o pecado como "não querer conformar-se a, ou transgredir,
a lei de DEUS". No Sermão do monte, o Senhor JESUS CRISTO estabelece as
duas promulgações da lei, a negativa e a positiva, como a base da vida cristã e
o padrão da semelhança que DEUS deseja para seus filhos (Mt
5.17,21,22,27,28,43-48);
A Origem do Pecado
Em nenhum lugar foi dito que DEUS é o autor, ou o criador responsável pelo
pecado. Ele não tenta a ninguém para fazer o mal (Tg 1.13). Quando DEUS
diz: "Eu... crio o mal" (Is 45.7) Ele está falando de desgraças ou de
calamidades. Não é aceitável nenhum ponto de vista em que de alguma
maneira se faça DEUS o autor do pecado, mesmo no sentido de que Ele é
incapaz de evitar sua ocorrência ou aparição.
A Bíblia indica que o pecado originou-se em Satanás, em sua rebelião contra
DEUS. Tudo o que o Antigo Testamento dá a entender sobre a
responsabilidade de Satanás é que "se achou iniquidade" no rei de Tiro (Ez
28.15), uma evidente alusão ao diabo. Em seu orgulho, ele tentou tornar-se
semelhante ao Altíssimo (Is 14.12-14; cf. 1 Tm 3.6). Na experiência humana, o
pecado originou-se na tentação de Adão e Eva no Éden, quando eles
rebelaram-se contra DEUS ao dar ouvidos à voz de Satanás (Gn 3.1-6).
O efeito do pecado de Adão na vida moral dos seus descendentes é o
problema envolvido no chamado "pecado original" e é o tema de diferentes
pontos de vista.
A Extensão do Pecado
A Bíblia ensina o fato e a universalidade do pecado (1 Rs 8.46; Pv 20.9; Ec
7.20; Rm 3.23; 5.13,19; Ef 2.1-3; Tg 3.2; 1 Jo 1.8,10). Isto é o que significa a
depravação total ou a total incapacidade - a falta de mérito do homem aos
olhos de DEUS. O termo depravação refere-se à corrupção ou contaminação
da natureza humana como resultado do pecado de Adão. Segundo o
2. catecismo curto de Westminster, o pecado de Adão e Eva consiste tanto da
culpa do primeiro pecado de Adão quanto da consequente corrupção de toda a
sua natureza.
A depravação total está relacionada com a penetração da maldade no homem,
e em tudo o que ele faz, resultando na impossibilidade por parte do homem de
realizar o que é verdadeiramente e espiritualmente bom aos olhos do
santíssimo DEUS. No entanto, isto não significa que o homem seja totalmente
mau, de qualquer modo, e que ele não consiga fazer boas coisas. Ele pode
admirar e imitar muitas coisas que são nobres e realizar o bem, como atos de
justiça civil e social. Mas todo esse bem não tem a capacidade de obter os
favores de DEUS. O homem é incapaz de agir com motivos completamente
isentos de egoísmo, somente para glorificar seu Criador, e em seu estado de
pecado ele é totalmente incapaz de reconciliar-se com o justo Governante do
universo.
Esta doutrina apoia-se sobre afirmações claras da Bíblia Sagrada. Em Gn 6.5
está declarado que "viu o Senhor que a maldade do homem multiplicara-se
sobre a terra e que toda imaginação dos pensamentos de seu coração era só
má continuamente", e Gn 8.21 complementa: "porque a imaginação do coração
do homem é má desde sua meninice". Estes versículos revelam a natureza
interior do pecado do homem - no "coração"; sua constância - "continuamente";
sua abrangência - só "má"; e sua totalidade - toda a "imaginação". Isaías
confessa que todas as nossas boas obras são como trapo da imundícia (64.6),
ensinando que o homem não consegue realizar nenhuma boa obra que seja
realmente aceitável aos olhos de DEUS. O homem tem a tendência de pecar
desde seu nascimento, desde o momento da concepção (Salmos 5.15) e seu
"coração" (sua natureza interior) é mais enganosa e trapaceira do que qualquer
outra coisa, e é desesperadamente corrupta, incuravelmente enferma (Jr 17.9).
Em Rm, Paulo dedica a primeira parte (1.18-3.20) à prova das proposições de
que "todos pecaram e destituídos estão da glória de DEUS" (3.23). Ele
argumenta que os pagãos não têm desculpa (1.18-32), o homem moral e justo
permanece condenado por causa da desobediência à sua consciência (2.1-16)
e os judeus religiosos infringem todas as leis escritas de que eles se
vangloriam (2.17-3.8). O apóstolo conclui que todos são completamente
depravados, porque nenhum é justo, nenhum faz o bem, são todos inúteis e os
membros dos seus corpos são instrumentos da iniquidade (3.9-20). João
conclui que o mundo inteiro, exceto os filhos regenerados de DEUS,
permanecem (impotentes) sob o poder do maligno (1 Jo 5.19).
Terminologia
São inúmeros os termos que denotam o pecado e o mal em hebraico. Na
verdade, existem mais palavras para o mal do que para o bem. Há pelo menos
oito palavras básicas: (1) Heb. ra', "terrível" ou "temível" (Gn 28.17), "mau", é
usada para denotar alguma coisa nociva ou prejudicial e não se restringe a
coisas moralmente más. (2) Heb. rasha', "maldade" (Êx 2.13), que é sempre
usada no sentido de uma culpa moral resultante da confusão de uma vida sem
regras. (3) Heb. 'asham, "culpa" (Gn 26.10), quase sempre limitada ao ritual
relacionado com o Tabernáculo e com o Templo em Levítico, Números e
Ezequiel. (4) Heb. hata', hattat (Êx 20.20), que literalmente significa "errar o
caminho", "errar o alvo" (Jz 20.16; Jó 5.24; Pv 8.36), e inclui o conceito de
cometer um erro deliberadamente - e não simplesmente um engano inocente.
(5) Heb. 'awon, "iniquidade" (1 Sm 3.13), que frequentemente significa "culpa",
3. estando os dois conceitos - de iniquidade e de culpa - intimamente
relacionados. Tem a conotação de desonestidade, ou de afastar-se
intencionalmente do caminho correto da justiça de DEUS. (6) Heb. shagag,
shaga, "errar" (Is 28.7), quando usado em relação à lei, claramente implica que
o pecador, na sua ignorância, é responsável por conhecer a lei (Lv 5.18; cf.
4.3,13). (7) Heb. ía'o, "andar errado"(Ez 48.11), indica que o erro é sempre
deliberado e não acidental. (8) Heb. pasha', "rebelar-se" (2 Rs 3.5,7; Is 1.2),
que é normalmente traduzido como "prevaricar" (1 Rs 8.50; Jr 2.8,29). O uso
dessas palavras conduz a algumas conclusões relativas à doutrina do pecado
como revelada no Antigo Testamento: (1) A ideia de pecado é a de algo que é
fundamentalmente uma desobediência a DEUS. (2) Embora a desobediência
envolva tanto aspectos positivos quanto negativos, a ênfase está
definitivamente na aceitação positiva do mal e não simplesmente na omissão
negativa do bem. Em outras palavras, o pecado não é simplesmente errar o
alvo (como tantas vezes é definido), mas sim atingir o alvo errado
deliberadamente, e com conhecimento. (3) O pecado toma formas variadas, e
os israelitas tinham pleno conhecimento da forma particular que seu pecado
tomava, pela disponibilidade de tantas palavras variadas.
O Novo Testamento usa 13 palavras básicas para descrever o pecado: (1) Gr.
kakos, "mau" (Rm 13.3), denota o mal moral, embora em algumas ocasiões
seja usada para denotar o mal físico. (2) Gr. poneros "iniquidade" (Mt 5.45),
que com duas exceções é usada referindo-se à iniquidade moral. (3) Gr.
asebes, "impiedoso" (Rm 1.18), que é o oposto de ensebes, "piedoso", e,
frequentemente, aparece com outras palavras para pecado como em 1
Timóteo 1.9. (4) Gr. enochos, "culpado" (Tg 2.10; Mt 26.66), normalmente
denota uma culpa que é merecedora da morte. (5) Gr. hamartia, "prostituição"
ou "impureza" (1 Co 6.13), qualquer afastamento do caminho da justiça; é a
palavra mais abrangente para pecado. (6) Gr. adikia, "injustiça" (1 Co 6.9),
significa qualquer comportamento injusto no sentido mais amplo. (7) Gr.
anomos, "transgressor" (1 Tm 1.9), que significa o desrespeito à lei, algumas
vezes traduzida como iniquidade. (8) Gr. parabates, "transgressor" (Tg 2.9,11),
normalmente refere-se à transgressão da lei mosaica e sempre a alguma lei
específica. (9) Gr. agnoeo, "ser ignorante", algumas vezes usada para
descrever a ignorância inocente (Rm 1.13), e algumas vezes a ignorância
culpável (Rm 10.3; Ef 4.18). (10) Gr. planao, "desviar-se" (1 Pe 2.25), que
sempre significa errar com culpa ou ser enganado (por exemplo, Tt 3.3), com a
possível exceção de Tiago 5.19. (11) Gr. paraptoma, "uma ofensa" (Gl 6.1),
que na maior parte das referências é uma transgressão deliberada. (12) Gr.
hypocrites, "hipocrisia" (1 Tm 4.2). (13) Gr. parapipto, "recair" ou "desviar-se"
(Hb 6.6), que implica uma deliberada apostasia (q.v.). Algumas conclusões
podem ser obtidas a partir do uso dessas palavras, com respeito à doutrina do
pecado no Novo Testamento: (1) Sempre existe um padrão claro, contra o qual
se comete o pecado. (2) Em última análise, qualquer pecado é uma rebelião
contra DEUS e uma transgressão dos seus padrões.
(3) O mal pode assumir múltiplas formas.
(4) A responsabilidade do homem é definida e claramente compreendida.
Punição e Remédio
A Bíblia Sagrada afirma que a punição do pecado é a morte - tanto física
quanto espiritual (Ez 18.4,20; Rm 5.12; 6.16,21,23; Tg 1.15). Depois do
pecado, Adão e Eva acabaram morrendo fisicamente (Gn 2.17; 3.19), mas eles
4. imediatamente viveram a morte espiritual, a separação de DEUS (Gn 3.8-10;
cf. Ef 2.1,5,12; 4.18). O remédio para o pecado consta de duas partes: (1) o
perdão (q.v.), que apaga a culpa do pecado; e, (2) a justificação (q.v.) que é
uma declaração da justiça positiva imputada por DEUS sobre o crente. Tudo
isto se baseia na obra de CRISTO, em sua morte expiatória (Rm 3.24-26), e é
assegurado pela fé nele.
O pecado nunca será erradicado do crente nesta vida (1 Jo 1.8-10); O
ESPÍRITO SANTO é dado para que o crente possa impedir que o pecado reine
em seu corpo (Rm 6.1-13; 8.1-4). Seus inimigos, no entanto, são poderosos e
persistentes. As tentações deste mundo, o Diabo e a carne somente podem
ser enfrentados através da utilização da provisão de DEUS (Gl 5.16,24; Ef
6.10ss.). O pecado persistente na vida do cristão traz o castigo (Hb 12.6) e
algumas vezes a morte física (1 Co 11.30). A intercessão de CRISTO garante
a segurança da salvação do crente (Hb 7.25; 1 Jo 2.1), embora seja necessária
a confissão para a restauração da comunhão (1 Jo 1.9). As recompensas
podem ser perdidas se a comunhão não for mantida (1 Co 3.15).
PFEIFFER .Charles F. Dicionário Bíblico Wycliffe. Editora CPAD. pag. 1484-
1487.
2. O pecado de comissão (Gn 3.17-19).
A Ordem que Fixou Limites (2.15-17)
Quando DEUS colocou o homem no jardim (15), Ele lhe deu duas tarefas: para
lavrá-lo e o guardar. Em contexto agrícola, lavrar significa cultivar, ação que
inclui o ato de podar videiras.
Quando ordenou o SENHOR DEUS ao homem (16), Ele deixou claro sua
relação soberana com o homem e a relação subordinada do homem com Ele.
DEUS tinha este direito, porque Ele é o Criador e o homem é a criatura.
Para expressar proibição, aqui é empregada a maneira mais forte possível em
hebraico para colocar a árvore da ciência do bem e do mal (17) fora da alçada
do homem. Visto que o discurso direto é inerentemente pessoal, a ordem: Não
comerás, é pessoal e a qualidade do negativo hebraico a coloca em negação
permanente. A importância da ordem é aumentada pela severidade do castigo.
Isto é muito forte na sintaxe hebraica, sendo que a força é um tanto quanto
mantida na tradução com a palavra certamente.
George Herbert Livingston, B.D., Ph.D. Comentário Bíblico Beacon Vol. 1
Gênesis a Deuteronômio. pag. 37-38.
I - A autoridade de DEUS sobre o homem, como uma criatura que tinha razão
e liberdade de decisão. O Senhor DEUS ordenava que o homem, que agora
era uma pessoa pública, o pai e representante de toda a humanidade,
recebesse a lei, assim como tinha recentemente recebido uma natureza, para
si mesmo e para todos os seus. DEUS ordenava a todas as criaturas, de
acordo com a sua capacidade. O curso definido da natureza é uma lei, Salmos
148.6; 104.9. As feras têm seus respectivos instintos, mas o homem foi criado
capaz de desempenhar um serviço racional, e portanto recebeu, não somente
as ordens de um Criador, mas as ordens de um Príncipe e um Mestre. Embora
Adão fosse um homem grandioso, um homem muito bom e um homem muito
feliz, ainda assim o Senhor DEUS lhe deu ordens. E o mandamento não
representou nenhum menosprezo à sua grandeza, nem reprovação à sua
bondade, nem alguma diminuição de alguma forma à sua felicidade. Devemos
5. reconhecer o direito que DEUS tem de nos governar, e de que nossas próprias
obrigações sejam governadas por Ele. E nunca permitir que nenhuma vontade
própria nossa entre em contradição ou em competição com a santa vontade de
DEUS.
II - A declaração particular desta autoridade, ao prescrever ao homem o que
ele deveria fazer, e em que termos deveria estar com o seu Criador. Aqui
temos:
1. Uma confirmação da sua atual liberdade, com a concessão. “De toda árvore
do jardim comerás livremente”. Isto era não somente uma concessão de
liberdade a ele, de tomar os deliciosos frutos do paraíso como recompensa
pelos seus cuidados e esforços para lavrá-lo e guardá-lo (1 Co 9.7,10), mas,
além disto, uma garantia de vida para ele, vida imortal, desde que houvesse a
sua obediência. Pois, estando a árvore da vida colocada no meio do jardim (v.
9), como o seu coração e a sua alma, DEUS a visava particularmente com esta
concessão. E, por isto, quando, depois da sua rebelião, esta concessão é
cancelada, não se sabe de nenhuma outra árvore do jardim sendo proibida a
ele, exceto a árvore da vida (cap. 3.22), da qual está escrito que ele poderia ter
comido e vivido eternamente, isto é, nunca ter morrido, nem perdido jamais a
sua felicidade. “Permaneça santo como você é, em conformidade com a
vontade do seu Criador, e permanecerá feliz como é, desfrutando do favor do
seu Criador, seja neste paraíso ou em outro melhor”. Assim, mediante a
condição da obediência pessoal perfeita e perpétua, Adão teria assegurado o
paraíso a si mesmo e aos seus herdeiros, para sempre.
2. Um teste à sua obediência, com a dor da perda de toda a sua felicidade:
Mas da outra árvore, que está muito próxima à árvore da vida (pois está escrito
que ambas estão no meio do jardim), e que é chamada de árvore da ciência do
bem e do mal, dela não comerás. Porque, no dia em que dela comeres,
certamente morrerás. Como se Ele tivesse dito: “Saiba, Adão, que agora você
depende do seu próprio bom comportamento, você foi colocado no paraíso em
teste. Seja submisso, seja obediente, e viverá para sempre. Caso contrário,
você será tão infeliz como agora é feliz”. Aqui:
(1) Adão é ameaçado com a morte, em caso de desobediência: “Certamente
morrerás” - o que denota uma sentença segura e terrível, da mesma forma
como, na primeira parte deste concerto, “Comerás” indica uma concessão livre
e plena. Observe que: [1] Até mesmo Adão, em inocência, foi intimidado com
uma ameaça. O medo é um dos instrumentos da alma, pelo qual ela é
dominada e controlada. Se até ele, então, precisou desta barreira, muito mais
precisamos nós, agora. [2] A punição contida na ameaça é a morte: “Morrerás”,
isto é: A árvore da vida lhe será proibida, junto com todo o bem que ela
representa, junto com toda a felicidade que você tem, seja em posses ou em
expectativas. E você ficará sujeito à morte, e a todas as misérias que a
antecipam e acompanham. [3] Isto foi ameaçado como a consequência
imediata do pecado: “No dia em que dela comeres, certamente morrerás”, isto
é: “Você se tornará mortal, e passível de morrer. A concessão da imortalidade
será revogada, e aquela defesa será removida de você. Você se tornará odioso
até à morte, como um malfeitor condenado que está morto na lei” (Adão só
recebeu um indulto porque deveria ser a raiz da humanidade). “Na verdade, os
arautos e precursores da morte imediatamente o dominarão, e a sua vida, a
partir de então, será uma vida agonizante: e isto, certamente; é uma regra
definida, pois: A alma que pecar, essa morrerá’”.
6. (2) Adão é tentado com um mandamento positivo: não comer o fruto da árvore
da ciência. Agora, era muito adequado testar a sua obediência com um
mandamento como este: [1] Porque a razão deste mandamento se originava
puramente na vontade do Legislador. Adão tinha, na sua natureza, uma
aversão àquilo que era mau por si só, e, portanto, ele só é tentado em algo que
era mau porque era proibido. E, sendo uma questão pequena, era mais
adequada para testar a sua obediência. [2] Porque esta restrição está colocada
sobre os desejos da carne e da mente, que, na natureza corrupta do homem,
são as duas grandes fontes de pecado. Esta proibição controlava tanto o seu
apetite aos deleites sensoriais quanto a sua ambição de conhecimento curioso,
para que o seu corpo pudesse ser governado pela sua alma, e a sua alma,
pelo seu DEUS.
O homem tinha toda esta tranquilidade e felicidade no estado de inocência,
tendo tudo o que o coração pudesse desejar para torná-lo tranquilo e feliz.
Como DEUS foi bom para ele! Quantos favores Ele acumulou sobre ele! Como
eram fáceis as regras que Ele lhe deu! Como era generoso o concerto que Ele
fez com o homem! Ainda assim, o homem, uma criatura com honra, não
compreendeu os seus próprios interesses, mas logo se tornou como os
animais que perecem.
HENRY. Matthew. Comentário Matthew Henry Antigo Testamento Gênesis a
Deuteronômio. Editora CPAD. pag. 15-16.
3. O pecado de omissão (Tg 4.17).
Os pecados de omissão serão julgados por DEUS tanto quanto os demais
pecados cometidos. Como afirma Matthew Henry, “aquele que não faz o bem
que ele sabe que deve fazer e aquele que faz o mal que ele sabe que não
deve fazer serão condenados”.
Em segundo lugar, a partir do contexto desse enunciado do apóstolo Tiago,
entendemos que ele está afirmando aqui também que “pecados de omissão
podem facilmente se tornar pecados de comissão”.
Ou seja, além de ser um mal em si mesmo, o pecado de omitir-se
deliberadamente ainda pode ser praticado de forma a colaborar
conscientemente para outros males, de maneira que ele é, nesses casos,
também um pecado de comissão.
A frase ao final do texto sobre a falibilidade dos projetos humanos (Tg4.13-16).
Diz Tiago ao final desta passagem: “Aquele, pois, que sabe fazer o bem e o
não faz comete pecado” (Tg 4.17). Não que essa frase não possa ter alguma
relação com o tema da falibilidade dos projetos humanos, mas ele está mais
relacionado com o tema que vem a seguir. Antes, porém, de adentrarmos no
tema dos versículos 1 a 6 do capítulo 5, é preciso destacar algumas lições que
estão implícitas no enunciado do apóstolo sobre o pecado de omissão.
Alexandre Coelho e Silas Daniel. Fé e Obras, Ensinos de Tiago para uma Vida
Cristã Autêntica. Editora CPAD. pag. 138-139.
Tg 4.17 Somos ensinados a viver à altura das nossas convicções em toda a
nossa conduta, e, não importa se estamos tratando com DEUS ou com os
homens. Que nos empenhemos em nunca agir contra o nosso próprio
conhecimento (v. 17): “Aquele, pois, que sabe fazer o bem e o não faz comete
pecado”. E o pecado agravado; é pecado com testemunha; e significa ter a pior
testemunha contra a sua própria consciência. Observe:
7. 1. Isso está imediatamente conectado com a lição clara de dizer: “Se o Senhor
quiser, e se vivermos, faremos isto ou aquilo”. Eles talvez estejam dispostos a
dizer: “Isso é uma coisa muito óbvia; quem não sabe que todos dependemos
do DEUS Todo-poderoso para viver, para respirar e para todas as coisas?” Se
você de fato sabe isso, então sempre que você agir de forma contrária a essa
dependência, lembre-se disto:
“Aquele, pois, que sabe fazer o bem e o não faz comete pecado”.
2. Os pecados de omissão serão julgados, assim como os pecados cometidos.
Aquele que não faz o bem que ele sabe que deve fazer e aquele que faz o mal
que ele sabe que não deve fazer serão condenados. Que então nos
empenhemos para que a consciência seja corretamente informada, e que
então seja fiel e continuamente obedecida. Pois, “...se o nosso coração nos
não condena, temos confiança para com DEUS” (1 Jo 3.21); mas se “...dizeis:
Vemos (e não agimos de acordo com nossa vista), por isso, o vosso pecado
permanece” (Jo 9.41).
HENRY. Matthew. Comentário Matthew Henry Novo Testamento ATOS A
APOCALIPSE Edição completa. Editora CPAD. pag. 846.
Tg 4:17 A fim de resumir seu pensamento, Tiago acrescenta um provérbio
conclusivo que alguns supõem poderia ter sido um ensino de JESUS, por
causa do tom e do tema: Aquele, pois, que sabe o bem que deve fazer e não o
faz, comete pecado. Aparentemente, apenas reprova o pecado da omissão:
Quando uma pessoa sabe o que deveria fazer (e.g., dar algo a um pobre), mas
negligencia esse ato de caridade, não desperdiçou apenas uma oportunidade
de obedecer — tal pessoa pecou. No entanto, o contexto levanta esse ensino
da arena da verdade genérica e coloca-o nas vidas desses negociantes. Há
claramente algo que eles “sabem” que “devem” fazer e pelo que são
responsáveis (Lucas 12:47-48), que é obedecer a DEUS e segui-lo nos
negócios. Entretanto, seus interesses comerciais com frequência os induzem a
planejar segundo os padrões do mundo, e a acumular bens, à semelhança do
rico louco (Lucas 12:13-21). Nas Escrituras, fazer o bem frequentemente é
praticar atos de caridade (Tiago 1:21-25 e Gálatas 6:9). Portanto, Tiago pode
estar sugerindo que eles planejam segundo o mundo porque são motivados
pelo mundo, visto que DEUS tem seu próprio modo de investir dinheiro: dá-lo
aos pobres (Mateus 6:19-21). Se levassem a DEUS em consideração, não
estariam, com certeza, tentando melhorar seu padrão de vida; DEUS os
conduziria ao alívio dos que sofrem ao seu redor, isto é, a fazer o bem.
Tendo falado a cristãos cujos corações estavam sendo seduzidos pelo mundo,
Tiago dirige a atenção, a seguir, aos incrédulos ricos. Tiago os condena sem
rebuços, com linguagem parecida à do Senhor JESUS (Lucas 6:20-26), a fim
de desviar os cristãos da sedução das riquezas, e prepará-los para suportar o
teste do sofrimento nas mãos dos ricos.
Peter H. Davids. Comentário Bíblico Contemporâneo. Editora Vida. pag. 148.
Tg 4.17 Aparecem com frequência as oportunidades de fazermos bem aos
outros, especialmente no suprimento de suas necessidades físicas (ver Tia.
2:14 e ss.; 1:27, como parte da definição do autor do que é a fé religiosa),
simplesmente porque tal necessidade é universal. Na história intitulada a Bela
Lenda, vê-se um crente ocupado na contemplação de uma visão de CRISTO;
então surge a oportunidade de distribuir pão aos famintos, que interromperia o
8. seu êxtase. Aquele crente todavia, tinha uma ideia bem esclarecida de seus
deveres religiosos; e assim, de pronto deixou de lado sua visão mística a fim
de alimentar aos famintos. Ao retornar, encontrou CRISTO no mesmo lugar,
que aprovou o que ele fez, dizendo-lhe: se tivesses ficado, eu me teria ido
embora.
O autor sagrado vê claramente essa lição. Nossa fé religiosa não pode ser
guardada dentro de nós. Trata-se de uma experiência mística e deve continuar
como tal, pois temos contato com o ESPÍRITO SANTO no nível da alma, mas
deve ser algo prático, generoso, altruísta. Em outras palavras, deve ser uma
expressão de amor, tal como DEUS é amor e «deu» seu Filho a um mundo
necessitado. O trecho de Mat. 25:35 e ss. ensina a importante lição que
amamos a DEUS amando a outros, dando o necessário para eles, ajudando-os
em suas necessidades físicas. Poucos homens podem amar a DEUS
diretamente, mediante a contemplação da alma, mas todos podem amá-lo
indiretamente, amando ao próximo. É nesse ponto que deve começar o amor
de DEUS. Este comentário provê várias notas longas sobre o amor, com
poesias ilustrativas. Ver João 3:16 quanto ao «amor de DEUS»; ver João 14:21
e 15:10 quanto ao amor como «norma diretiva na família de DEUS»; ver Gál.
5:22 quanto ao amor como um dos aspectos do «fruto do ESPÍRITO»; e ver o
décimo terceiro capítulo da epístola aos Coríntios quanto ao «elogio ao amor».
O autor sagrado, pois, como que dizia: «Aquele que sabe que deve amar,
porém, não ama, está pecando». Consideremos, ainda, os seguintes pontos a
respeito:
1. Tal indivíduo talvez seja um bom teólogo teórico; mas não é um bom
discípulo de CRISTO, pois ele é o padrão de como todos nós devemos amar, e
ele «foi por toda a parte, fazendo o bem» (ver Atos 10:38). Se falharmos nesse
ponto, ainda não teremos avançado muito em nossa transformação moral
segundo a sua imagem, que resulta do desenvolvimento espiritual. À fé
devemos acrescentar a «gentileza fraternal» (ver II Ped. 1:6,7).
2. Para o autor sagrado, as boas obras são realizações dos exercícios
religiosos apropriados, bem como o cuidado com a santidade pessoal (obras
feitas no tocante a DEUS) e práticas de bondade em favor de outros (ver Tg.
2:14). Portanto, neste lugar, o autor sagrado pode ter querido incluir a ideia que
um homem deve ter cuidado com a natureza e a qualidade de suas práticas
religiosas, e certamente incluiríamos a santificação prática (ver I Ts. 4:3).
Porém, sua preocupação principal é a expressão do amor fraternal. Não fazer
isso, é pecar.
3. Fica subentendido, embora não seja uma interpretação direta, que ele quis
ensinar que cada crente tem uma missão sem-par a cumprir, sendo um
instrumento ímpar nas mãos de DEUS (ver Ap. 2:17). Tudo quanto faz parte de
sua existência diária, como seja, a sua expressão religiosa, etc., deveria ter por
alvo o cumprimento dessa missão. Ele deveria ocupar-se em cumprir sua
missão com grande intensidade de propósitos, realizando seu trabalho
específico, levando-o à perfeição; e isso para seu próprio benefício e para
beneficio de seus semelhantes. Mas, se vier a falhar nesse particular, estará
pecando contra DEUS, que lhe conferiu vida e lhe dá muitas oportunidades
para cumprir a sua missão.
4. JESUS falou de coisas «deixadas por fazer», mas que são mais urgentes e
eticamente vitais do que outras (ver Mt. 25:41-45). Assim é que com frequência
nos ocupamos de atividades que são legítimas, embora secundárias,
9. esquecendo-nos das questões primárias. Isso também é pecado, embora não
estejam sendo cometidos atos abertos de pecado. Mas há um desperdício das
energias da vida, que são desviadas para coisas de valor secundário, quando
nossas vidas deveriam ser dedicadas à realização de boas obras.
5. Assim também a passagem de I Sm. 12:23 mostra que o deixar de orar por
alguém, que também está em grande necessidade, é um pecado de omissão.
Esse princípio geral tem muitas aplicações possíveis. Um professor,
preguiçoso na realização de seus deveres, comete pecado contra aqueles a
quem deveria estar ajudando mais conscienciosamente. O pastor que
negligencia seus deveres e se contenta em apenas pregar no domingo,
também está pecando. Outro tanto faz o pastor ou mestre evangélico que se
recusa a aprimorar-se, mas antes, se torna espiritual e intelectualmente
preguiçoso, prejudicando seu povo; esses estarão pecando porque seu povo
fica estagnado em sua vida espiritual, por falta da instrução e do
encorajamento apropriados.
6. O homem que pode melhorar a vida espiritual de outros, impedindo que
caiam em pecado, se não o fizer, será culpado em parte desses pecados.
«Todo aquele que estiver em posição de impedir que sejam cometidos
pecados por parte de membros de sua casa, mas se refreia em fazê-lo, torna-se
culpado dos pecados daqueles» (Shabbath 54b).
7. Alguns estudiosos pensam que o pecado aqui focalizado não é o pecado de
omissão, mas antes, que é o pecado de alguém que sabe obviamente as
coisas boas que devem ser feitas, em qualquer dada situação, mas, ao invés
disso, praticam as coisas erradas. Porém, a maioria dos intérpretes prefere
continuar com a idéia do «pecado de omissão», como aquela falha aqui em
foco.
8. O pecado contra a luz (não corresponder à mesma) deve ser incluído na
aplicação deste versículo.
9. O pecado de não se aproximar de DEUS, por motivo de orgulho e de
egocentrismo, é um pecado básico de omissão.
10. Este versículo não é passagem estritamente legalista, que repreende aos
judeus cristãos por não estarem cumprindo as leis cerimoniais. Mas trata-se de
passagem elevadamente ética em sua natureza, e mui ampla em sua
aplicação. - «Embora a asserção possa parecer descabida entre nós,
provocando comentários contraditórios, não me cansarei de asseverar que
cada um de nós deveria fazer mais bem do que faz: e, portanto, nos devemos
humilhar ao extremo, por termos praticado tão pouco bem no mundo» (Woods,
in loc.).
«Aqueles que se dedicam a bons planos, e que observam devidamente suas
oportunidades de praticar o bem, usualmente percebem que suas
"oportunidades para tanto crescem de modo admirável. E quando uma pedra é
lançada em uma poça, um círculo segue-se a outro, estendendo-se quem sabe
até onde!» (Cotton Mather).
«Aquele servo, porém, que conheceu a vontade de seu senhor e não se
aprontou, nem fez segundo a sua vontade, será punido com muitos açoites»
(Luc. 12:47).
Quanto melhor instruídos ficamos, como crentes, tanto maior será a nossa
responsabilidade. «Se alguém quer vir após mim, a si mesmo se negue, tome
a sua cruz e siga-me» (Mat. 16:24). Geralmente aceitamos essa
responsabilidade mui superficialmente. De fato, dificilmente a aquilatamos
10. conforme devemos fazê-lo. Na moderna igreja evangélica, temos visto
pouquíssimo interesse pelas qualidades espirituais dos membros, mas muito
interesse pelo número deles.
«Por longo tempo, as táticas têm visado induzir o maior número possível, todos
quantos for possível, para que entrem no cristianismo. (Kierkegaard, citado por
P.T. Forsyth, Positive Preaching and Modem Mind, introdução).
O trecho de Rm. 1:21 mostra-nos que a grande rebelião dos pagãos contra
DEUS começou pelo pecado de omissão. Eles conheciam a DEUS, mas não o
glorificaram como tal. Não demoraram a fazer do «eu» o seu deus, tornando-se
vãos em suas imaginações. E não passou muito tempo para fazerem imagens
de feras, de pássaros, etc., a fim de adorá-las.
CHAMPLIN, Russell Norman, O Novo Testamento Interpretado versículo por
versículo. Editora Candeias. Vol. 6. pag. 72.
II - O PECADO DE ADQUIRIR BENS À CUSTA DA EXPLORAÇÃO ALHEIA
(Tg 5.13)
1. O julgamento divino sobre os comerciantes ricos (v.1).
Curiosamente, ao iniciar no capítulo 5 sua contundente condenação aos ricos
opressores, Tiago usa as mesmas palavras do versículo 9 do capítulo 4,
quando ele estava falando aos seus leitores sobre a necessidade de se
separarem do mundo e se submeterem à vontade de DEUS, e que isso inclui
indispensavelmente uma atitude de arrependimento sincero: “Senti as vossas
misérias, e lamentai, e chorai; converta-se o vosso riso em pranto, e o vosso
gozo, em tristeza”. Essa atitude é sintetizada na expressão “Humilhai-vos
perante o Senhor” (Tg 4.10a). No capítulo 5, ele conclama os ricos opressores
a essa mesma atitude, isto é, a essa humilhação diante de DEUS, ressaltando
que o juízo de DEUS é certo se não se arrependerem: “Eia, pois, agora vós
ricos, chorai e pranteai por vossas misérias, que sobre vós hão de vir” (Tg 5.1).
A contraposição à humildade é a soberba, que aparece aqui encarnada na vida
desses ricos opressores. Como salienta o teólogo Lawrence Richards ao
comentar essa passagem da Epístola de Tiago, “aqueles que confiam nas
riquezas e menosprezam os direitos dos outros para acumulá-las são a
antítese das pessoas humildes que DEUS deseja que os crentes se tornem.
Estes homens ricos personificam o sistema do mundo, que Tiago afirma ser
hostil a DEUS. Eles valorizam as coisas materiais, que não têm valor
duradouro, e desdenham os seres humanos, que DEUS afirma que têm valor
supremo. A sua vida na terra, que é uma vida de ‘delícias e deleites’, serve
apenas para prepará-los para o ‘dia de matança’ [Tg 5.5], o juízo divino”.
Sua vida de prazeres e luxo estava sendo para eles como o período de
engorda do gado para logo depois ser abatido (Tg 5.5).
Como afirmamos no capítulo 4, a Bíblia nos ensina que as riquezas em si não
são pecado, mas apenas o amor às riquezas, o apegar-se a elas, a avareza, a
cobiça, o egoísmo e a soberba. As Escrituras ensinam que o cristão que
“possui riquezas e bens não deve julgar-se rico em si, e sim administrador dos
bens de DEUS (Lc 12.31-48)”, e deve ser “generoso, pronto a ajudar o carente,
e rico em boas obras (Ef 4.28; 1 Tm 6.17-19)”.
Além do mais, uma vez que Tiago conclama os ricos opressores a prantearem
e chorarem, isso significa dizer, à luz do uso dessas mesmas expressões no
capítulo 4 (v. 9), que ele “espera que reconheçam sua dependência de DEUS e
se arrependam de seus pecados”; e “se assim o fizerem, então o ‘abatimento’
11. (Tg 1.10) provocado por sua ‘miséria’ os levará a se humilharem perante o
Senhor, e Ele os exaltará (Tg 4.10; cf. Tg 1.9)”.
Alexandre Coelho e Silas Daniel. Fé e Obras, Ensinos de Tiago para uma Vida
Cristã Autêntica. Editora CPAD. pag. 139-140.
Tg 5.1 Estes ricos provavelmente não são crentes, mas pessoas não-crentes e
ricas (talvez as mesmas pessoas a que se fez referência em 2.6). Muito
provavelmente, os ricos proprietários de terras são o objeto da repreensão
mordaz de Tiago. Estas pessoas vivem em ambientes de luxo, repletas de
alimentos e dinheiro. Mas há terríveis misérias, que sobre eles hão de vir não
se tratando de sofrimentos terrenos, mas eternos -, e eles devem se lamentar
de tristeza pelo que perderão. As palavras “chorai e pranteai” eram
frequentemente usadas no Antigo Testamento pelos profetas para descrever a
reação dos ímpios quando o Dia do Senhor (o dia do juízo de DEUS) chegasse
(veja Is 13.6; 15.3; Am 8.3). JESUS disse que entre aqueles que fossem
excluídos do reino de DEUS haveria pranto e ranger de dentes (Mt 8.12; 22.13;
24.51; 25.30).
Comentário do Novo Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. Vol. 2.
pag. 687.
Tg 5.1 No bloco anterior Tiago falou de pessoas seguras de si que pensam não
precisar de DEUS. É possível que agora tenha lembrado da objeção: “No
entanto, não deixam de ter êxito e prosperar. Têm todos os trunfos na mão e
os usam. Nós pessoas humildes temos de sofrer muito debaixo dessa
situação.” Em decorrência, Tiago apresenta neste trecho o que acontece com a
riqueza vinda de DEUS. No presente caso as pessoas de que se fala não são
primordialmente membros da igreja (ainda que vários do seu âmbito tiveram e
têm de se confrontar com a pergunta: “Senhor, sou eu?”). A princípio os ricos
fora da igreja não devem ter visto a carta (como também ocorreu com as
palavras proféticas sobre a Babilônia, Assíria, Tiro, etc. – Is 13-23; Jr 46-51;
etc. – que não foram proclamadas nessas cidades). Mas a palavra serviu para
deixar as coisas claras.
1 – “Vós ricos”, em grego ploúsios (v. 1).
Tg 5.1 a) No Sl 73.12 consta: “Os ímpios aumentam suas riquezas”. Lá se
mostra a figura de pessoas teimosas: “Falam com altivez.” “São sólidos como
um palácio.” Qualquer meio lhes convém. “Fazem o que bem entendem” (Sl
73.4,8). Na verdade não é válida a equação: rico = ímpio, pobre = devoto.
Também Abraão era rico (Gn 13.2). Mas com certeza os ricos estão
majoritariamente do outro lado. Muitos não teriam enriquecido se tivessem sido
escrupulosos nos métodos. Ademais é notório que o ser humano é sujeito a
transformar sua riqueza em ídolo e então pensar que já não precisa de DEUS.
Também nos evangelhos os ricos muitas vezes participavam da oposição (Mt
23.14; Lc 16.14). O próprio JESUS descreve em suas parábolas dois
personagens ricos para os quais a propriedade veio a ser fatal: o rico que
ignorava Lázaro que jazia à sua porta (Lc 16.19ss) e o rico agricultor que se
satisfazia com sua riqueza, acreditando poder usá-la exclusivamente em prol
de si mesmo (Lc 12.16-21). JESUS sentencia: “É mais fácil passar um camelo
pelo fundo de uma agulha do que entrar um rico no reino de DEUS” (Mt 19.24;
Lc 18.25). E Paulo escreve: “Ora, os que querem ficar ricos caem em tentação
e cilada” (1Tm 6.9).
12. b) Também hoje muitas pessoas são ateístas não tanto por causa de dúvidas
intelectuais, mas porque no fundo pensam não precisar de DEUS e por
confiarem nos bens, na boa posição, em suas capacidades. São esses seus
ídolos. Geralmente nem mesmo é necessária grande quantidade de bens,
posição e inteligência para que alguém se considere “rico” no sentido do
presente trecho. – Nenhum de nós está livre do risco de transformar suas
propriedades e garantias maiores ou menores em ídolos: conta bancária, casa,
bons ganhos constantes. Então existirá também o perigo de permanecermos
“sentados” em tudo isso. “A avareza é uma raiz de todos os males” (1Tm 6.10).
Leva a uma atitude errônea perante DEUS e pessoas.
c) Para a última jornada da história universal anuncia-se que o anticristo
controlará tudo e boicotará os que se mantêm fiéis a JESUS (Ap 13.17). Aqui
se explicita outra linha que perpassa a Escritura: há seres humanos cuja
consciência está presa a DEUS, que perseveram singela e inabalavelmente do
lado de DEUS e são prejudicados em todos os sentidos porque o diabo é o
“príncipe deste mundo”. Nos salmos eles são chamados de “necessitados” (Sl
10.2,12; 12.5; 34.2,7; 74.19-22; etc.). JESUS os chama de “pobres”. Mas
declara: “Bem-aventurados vós, os pobres” (Lc 6.20).
Fritz Grunzweig. Comentário Esperança Carta De Tiago. Editora Evangélica
Esperança.
«...Atendei agora...» Literalmente temos aqui «Vinde, agora...», no sentido de
«Vede, agora...», uma incisiva chamada à atenção, no estilo da diatribe. «...
chorai lamentando...» Em Tg. 4:9, a lamentação e o choro são vinculados ao
arrependimento, o que conduz à restauração da alma. Em contraste com isso,
aqui temos uma lamentação provocada pelo julgamento inevitável. Não há aqui
qualquer chamada ao arrependimento. «As lamentações, diferentemente de
Tg. 4:9, não são uma expressão de humilde arrependimento, e, sim, de
remorso e terror sem alívio» (Poteat, in loc.). Tudo isso, naturalmente, mostra a
intensidade com que o autor sagrado sentia os erros sociais em que os pobres
eram oprimidos pelos ricos.
Não é verdade que muitos são reduzidos a escravos virtuais, que recebem
salários ridículos por um trabalho árduo, que lhes consome longas horas? O
avanço do comunismo no mundo não tem resultado essencialmente do fato de
ser um bom sistema econômico, pois a experiência não tem demonstrado isso;
pelo contrário, seu progresso se deve aos abusos do capitalismo.
Consideremos os aluguéis que são cobrados, o preço das consultas aos
médicos, etc. Nessas, e noutras áreas, exerce-se uma feroz pressão
econômica, que muitos governos não conseguem controlar, ou se recusam a
fazê-lo.
«...chorai...» No grego é Maio», «chorar», com frequência usada com o sentido
de «chorar pelos mortos», sentido tristeza e desespero. Esse é: o choro
daqueles que antecipam um juízo severo, e não o choro dos penitentes.
(Comparar com Apo. 6:15-16 e Joel 1:5).
«...lamentando...» No grego, «ololudzo», termo usado para indicar «chorar em
voz alta», «uivos de lamentação». Era termo usado para descrever a palavra
anterior. O «choro» será em altos uivos de lamentação.
«...desventuras...» No grego é «talaiporia», «misérias». Há uma alusão direta
aos «sofrimentos dos condenados», ao julgamento, embora certas tristeza,
13. provocadas pelo infortúnio, talvez não estejam excluídas do pensamento do
autor sagrado.
«...sobrevirão...» No grego é usado o particípio presente—agora mesmo elas
começam a concretizar-se, imediatamente antes da «parousia» (ou segundo
advento de CRISTO).
CHAMPLIN, Russell Norman, O Novo Testamento Interpretado versículo por
versículo. Editora Candeias. Vol. 6. pag. 73.
2. O mal que virá (v.2).
Observação do Ev. Luiz Henrique - Creio eu que Tiago já poderia estar
prenunciando não só a vinda de JESUS no arrebatamento, mas poderia
também estar se referindo à destruição de Jerusalém que em breve
aconteceria. No ano 70 o general Tito invadiria Jerusalém e poria fogo inclusive
no templo. De que adiantaria agora as riquezas acumuladas pelos ricos? Tudo
seria destruido e tudo confiscado pelo governo romano. O mesmo se deu com
os crentes que não venderam suas propriedades para ajudar aos pobres e
necessitados da Igreja. Bem fez Barnabé que vendeu propriedade para ajudar
aos pobres e ganhou galardão no céu.
Tg 5.2 Ambos os verbos deste versículo e o primeiro verbo do versículo
seguinte estão no tempo perfeito. Ropes os descreve habilmente como
"declarações pitorescas e figurativas da verdadeira inutilidade desta riqueza à
vista daquele que conhece o valor do que é permanente e eterno" (op. cit., pág.
284). A riqueza deve ser usada para bons propósitos, não entesourada.
Charles F. Pfeiffer. Comentário Bíblico Moody. Editora Batista Regular. pag.
23.
Tg 5.2 a) O fato da mudança de tom. Tiago vê aproximar-se o que os ricos
ainda não veem: “Atenção, agora, ricos, chorai lamentando, por causa das
vossas desventuras, que vos sobrevirão!” Assim como em geral o dono da
casa ergue a taça no início de uma festividade e brinda como sinal de que a
festa está começando: “Atenção!”, assim Tiago convoca agora para o lamento.
Ainda estão “numa boa”. Porém isso acabará em breve. Devem preparar-se
desde já. Isso é semelhante às palavras de Jeremias, que já entoava o
lamento fúnebre (cf. Jr 4.19ss; etc.) quando muitos ainda se consideravam
seguros em Jerusalém. “Como o mundo jaz cego e morto! Dorme em
segurança e presume que a aflição do grande dia ainda está distante e remota”
(J. C. Rube; cf. também Lc 17.26-30).
Tg 5.2 b) A causa da guinada. “Vossa riqueza está apodrecida”: provavelmente
tem-se em mente as ricas reservas de víveres que foram estocados e agora se
deterioraram. Era muito melhor guardar esses estoques do que dá-los aos
pobres (Sl 41.2; Pv 19.17; Sir 4.1-6; Mt 5.42; 25.40; Lc 6.38; Gl 6.9s; Hb
13.16). Talvez também se visasse aguardar tempos em que se poderia vendê-los
a preços vis. – “Vossas roupas estão comidas de traças”: os antigos não
tinham dinheiro em moeda, como hoje. Acumulavam-se sobretudo valores
materiais, tecidos, vestes preciosas etc. Também João Batista convocou – de
forma audível para muitos em Israel – a um comportamento diferente (Lc 3.11).
Novamente somos lembrados aqui do Sermão do Monte (Mt 6.20).
Fritz Grunzweig. Comentário Esperança Carta De Tiago. Editora Evangélica
Esperança.
14. Tg 5.2 Essas palavras indicam a decadência das riquezas: o ouro e a prata,
apesar de serem naturalmente resistentes à ferrugem ou corrosão, serão
sobrenaturalmente corroídos. As riquezas representadas pelas vestes luxuosas
serão dilapidadas pelas traças terrenas, sendo totalmente consumidas no
julgamento, o qual é anunciado como algo iminente e inevitável.
«...roupagens comidas de traça...» Os povos orientais daquela época
gastavam grandes somas em dinheiro adquirindo roupas caras; e isso envolvia
tanto trajes femininos como masculinos. Tal era o perigo constante das traças
que estas logo podiam estragar e inutilizar tais roupas, enfetando-as. Porém, o
futuro julgamento ainda é uma perspectiva mais temível, quando o juízo
mostrar-se mais destruidor do que as traças terrenas. O julgamento é um
supercorrosivo.
Alguns intérpretes pensam que este versículo, do ponto de vista espiritual,
pronuncia denúncia contra as riquezas, como se estas fossem já sujeitas a
certa espécie de decadência: estão corroídas, perfuradas pelas traças e
enferrujadas. «A sua ferrugem testificará contra vós no dia do julgamento,
mostrando quão sem valor é aquilo em que confiais. E a inutilidade de vossas
riquezas será então a vossa ruína, porquanto continuais a amontoar para vós
mesmos somente o fogo do inferno». (Ropes, in loc.).
Notemos aqui os verbos no perfeito, «sesepen» (corruptas) e «gengonen»
(comidas pelas traças) e«katiotai»(enferrujadas, no segundo versículo), que
descrevem graficamente o «estado» de corrupção e inutilidade em que as
riquezas já se encontram, do ponto de vista espiritual. Mas há estudiosos que
pensam que esses verbos no perfeito indicam antes a «antecipação profética»,
como se o juízo já tivesse tido lugar. «Todas as vossas riquezas perecerão no
dia do juízo. Sua ferrugem testificará contra vós de antemão, sobre vossa
própria vindoura destruição; e o juízo, quando houver destruído vossas
possessões, cairá sobre vós. Tendes acumulado tesouros para os próprios
dias do julgamento!» (Huther, in loc.).
«Vossas riquezas estão se embolorando na corrupção, e vossas vestes,
guardadas em vã superfluidade, estão comidas pelas traças; embora ofusquem
aos homens com o seu resplendor, de fato, já estão cancerosas; são
abomináveis aos olhos de DEUS; a ira divina soprou sobre elas e as ressecou;
já começam a encolher-se e ser destruídas». (Bispo Wordsworth, in loc.).
Ê extremamente difícil perceber-se que as verdadeiras riquezas de um homem
são medidas por quanto ele dá de si mesmo, de suas possessões materiais e
não por quanto ele é capaz de reter para si mesmo. (Ver Marc. 8:35: «Quem
quiser, pois, salvar a sua vida, perdê-la-á; e quem perder a vida por causa de
mim e do evangelho, salvà-la-á»).
CHAMPLIN, Russell Norman, O Novo Testamento Interpretado versículo por
versículo. Editora Candeias. Vol. 6. pag. 73.
3. A corrosão das riquezas e o juízo divino (v.3).
No capítulo 5, Tiago mais uma vez chama a atenção para a transitoriedade e a
deterioração natural das riquezas (Tg 5.2,3). Ele já havia feito essa alusão no
capítulo 1, usando como analogia a beleza passageira da flor (w. 10,11).
Um aspecto importante das palavras de Tiago nos versículos 2 e 3 é que, ao
afirmar que as riquezas daqueles ricos opressores estavam apodrecidas, com
vestes comidas de traça e ouro e prata enferrujados, o apóstolo estava
15. destacando também que os bens daqueles homens haviam perdido o seu
propósito. “O fato de as vestes representarem o alimento das traças, o dinheiro
guardado se tornar manchado e o ouro e a prata enferrujarem, não sendo
utilizados por seus donos quando poderiam ter sido destinados aos pobres,
indica que foram afastados da função a qual DEUS lhes destinou. Se os ricos
aceitarem a vontade de DEUS como a sua própria, então usarão suas posses
para suprir as necessidades dos semelhantes (Tg 2.15,16) em vez de viver em
luxurias e deleites (Tg 5.5; cf.Tg4.3).
Alexandre Coelho e Silas Daniel. Fé e Obras, Ensinos de Tiago para uma Vida
Cristã Autêntica. Editora CPAD. pag. 141.
Tg 5.3 Os metais preciosos acumularam-se e estragaram-se sem ter sido
usados. Quando a riqueza não é usada para ajudar os outros, ela perde o seu
valor. Tiago nos adverte de que até mesmo o que parece ser mais indestrutível
(ouro e prata) estará condenado se não for colocado em um bom uso. A
inutilidade do ouro e da prata acumulados os comerá como fogo no inferno.
Então, se revelará a avareza, o egoísmo e a maldade dos ricos. Eles deixaram
de fazer o bem com o que tinham, e isto é pecado (4.17).
Poucas pessoas no mundo ocidental podem ler esta passagem com
entendimento e não ficar pelo menos marcadas pela sua verdade. Nós
provavelmente adicionamos uma nova dimensão ao problema, porque não
acumulamos para preservar para mais tarde, mas acumulamos para gastar, ou
até mesmo para desperdiçar. Os crentes da atualidade encontram-se
participando da tendência da sociedade de consumir tanto quanto possível
sem considerar as condições em outras partes do mundo, ou até mesmo o que
vamos deixar para os nossos filhos e netos. Será que a nossa ferrugem não
dará testemunho contra nós nos últimos dias?
Comentário do Novo Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. Vol. 2.
pag. 687-688.
Tg 5.3 “Vosso ouro e vossa prata enferrujaram”: os antigos ainda não tinham a
possibilidade de limpar metais nobres de outras substâncias da forma como
nós. Por isso era possível que em certas condições também ouro e prata
oxidassem. Todas as jóias e outros objetos metálicos de valor experimentavam
forte depreciação. Em suma: aquilo em que consiste a riqueza é passageiro,
está sujeito à transitoriedade geral, também hoje: muda o “clima” na economia
de um país. As ações caem. Empresas de renome pedem concordata ou têm
de ser vendidas com urgência; não resta muita coisa aos donos antigos.
Instala-se o desemprego. Bons cargos se perdem. Outros ramos da economia
são prejudicados também. Caem as receitas de impostos. Uma coisa está
ligada à outra. O chão treme sob os pés. Ou pode ser até mesmo que grasse
pelo país o arado da guerra e da revolução; grandes personalidades de ontem
tornam-se hoje mendigos.
c) Bens não usados transformam-se em acusação: “Sua ferrugem há de ser
por testemunho contra vós mesmos”: Na grande data do juízo de DEUS
servirão de testemunhas contra eles os mantimentos deteriorados e as roupas,
bem como o dinheiro estocado e depreciado, que não manteve seu brilho, por
assim dizer, por não circular nas mãos de terceiros. Também nós um dia
seremos questionados: “O que você fez com sua vida, com seus dons, com
sua profissão e sua propriedade, bem como com as pessoas necessitadas que
16. coloquei diante de você?” São perguntas dirigidas não apenas ao “mundo”,
mas também a nós. Isso inicia com as pessoas que encontramos, estendendo-se
até as tarefas de amplitude mundial. Em nossa época fala-se muito, mas
apenas se fala, de “ajuda para o desenvolvimento”. Várias pessoas a
transformam praticamente em substituto para o evangelho que perderam.
Talvez seja por isso que quase não suportamos mais ouvir a palavra. Não
obstante, um dia seremos questionados: Vocês ouviram muito sobre a miséria
daqueles povos distantes, mais do que no passado. E vocês também tinham
mais possibilidades de fazer algo, mais que no passado. O que foi que vocês
cristãos ocidentais abastados fizeram nessa área?
d) A conexão de nosso destino com o de nossos bens. “Sua ferrugem há de
devorar, como fogo, a vossa carne”: a ruína do que foi acumulado contagia
aquele que acumulou e que se prendeu às coisas acumuladas. O ídolo arrasta
o idólatra junto em sua própria ruína. É como quando um cachorro está
acorrentado na varanda de uma propriedade rural, e as construções se
desfazem em chamas. O pobre animal uiva e força a corrente, tentando se
soltar. Finalmente, porém, é esmagado na queda do telhado em chamas.
Assim acontece com o ser humano que se deixou amarrar a esse mundo e
seus bens. João escreve: “O mundo passa, bem como a sua concupiscência;
aquele, porém, que faz a vontade de DEUS permanece eternamente” (1Jo
2.17). É extremamente importante soltar-se do mundo e ligar-se a JESUS. Ele
declara: “A (vontade e a) obra de DEUS é esta: que creiais naquele que por ele
foi enviado.” (Jo 6.29). “Todo o que comete pecado é escravo do pecado… Se,
pois, o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres” (Jo 8.34,36).
Fritz Grunzweig. Comentário Esperança Carta De Tiago. Editora Evangélica
Esperança.
Tg 5.3 «...gastos de ferrugens..." O ouro e a prata não se desgastam dessa
maneira, pelo que sabemos que o autor sagrado falava sobre a «ferrugem
sobrenatural, sobre o eventual poder consumidor do julgamento, que reduzirá
as falsas riquezas dos homens ao nada.
«...para testemunho contra vós mesmos...» No dia do juízo, as falsas riquezas
de um homem, sendo consumidas, servirão de testemunho contra ele:
mostrarão como ele desbaratou a sua vida, servindo a si mesmo, enquanto
seus semelhantes padeciam necessidade. A estes o rico conveniente terá
ignorado, ao passo que o dinheiro lhe era abundante, deixando-o a gozar no
seu lazer. Esqueceu-se das necessidades do espírito e serviu antes ao corpo e
ao mundo. Deveria ser chamado por causa disso, a prestar contas; pois todos
os homens serão julgados segundo as suas obras (ver Rom. 2:6 e Apo. 20:12).
A redução das riquezas terrenas ao nada, no juizo, será um «sinal visível»,
claro e inequívoco, de que o indivíduo em questão merece o juízo que está
prestes a receber.
«...devorar, como fogo as vossas carnes...» A perecibilidade das riquezas
indica a ruína dos ricos: estes perecerão todos juntos; aquilo a que os ricos
deram tanto valor, e no que confiaram, será o motivo de sua perdição. A ideia
ou simbolismo apresentado é o de metais corroídos; e nesse processo, emana
grande calor, como de fogo, que consome o indivíduo que os amealhara. Ou
talvez devamos pensar em uma corrente enferrujada, enrolada e apertada em
torno do indivíduo, a qual consome o indivíduo com sua ferrugem envenenada.
(Ver Eclesiástico 34:31 quanto a uma figura simbólica um tanto similar).
17. Figuradamente, a «carne» indica o próprio homem, visto como alguém
destroçado no juízo, mas sem haver qualquer alusão literal à destruição do
corpo.
Alguns eruditos pensam que a palavra fogo, que há no versículo, está ligada
ao que se segue, e não ao que precede. Assim, ao invés de dizer-se que a
carne do homem foi comida como que pelo fogo, dever-se-ia imaginar:
«...ajuntastes fogo, amontoando vossos tesouros». A diferença, na estrutura da
sentença, depende de como a pontuarmos. Ocasionalmente isso se torna
questão de interpretação, porquanto os manuscritos originais não tinham
qualquer pontuação. Seja como for, um bom sentido é conseguido. No
segundo caso, o próprio tesouro é visto como algo imbuído das chamas da
Gehena, tornando-se o motivo mesmo da perdição do rico.
(Ver Isa. 30:33; Judite 16:17; Mat. 5:22 quanto ao fogo da Gehena. Tiago 3:6
alude a isso).
Quanto a outras passagens bíblicas com uma mensagem similar à que se vê
no presente versículo, ver Mat. 6:19; Marc. 10:21; Luc. 18:22; Rom. 2:5; Pro.
1:13; 2:7; Tobias 4:9; IV Esdras 6:5, 7:77; Testamento dos Doze Patriarcas,
Levi, 13:5).
«...nos últimos dias...» Essa expressão é compreendida de diversas maneiras
no N.T., a saber:
1. Pode significar «os dias do Messias», quando CRISTO viveu no seu primeiro
advento, pintado como algo que precederá imediatamente uma gigantesca
transformação nas condições das vidas dos homens. Isso significaria os
«últimos dias» da comunidade judaica, conforme ela existia nos tempos de
JESUS, antes de qualquer transformação revolucionária.
2. Também pode aludir à dispensação do evangelho, vista como algo que
precede cronologicamente o retorno de CRISTO, e quando, então, ele
estabelecerá o estado eterno.
3. Pode-se referir-se à «última porção» da dispensação desse evangelho.
4. Pode ser uma referência aos dias do juízo, propriamente dito. Os intérpretes
normalmente pensam na terceira ou na quarta dessas posições. Os ricos
seriam então vistos como ridículos, a amontoarem riquezas nos «dias
preliminares» mesmo do segundo advento de CRISTO, como se estivessem
fazendo algum negócio importante em seu leito de morte. Ou a ideia pode ser
o quão inútil é, para os ricos, viverem esse tipo de vida autocentralizada,
porque aquilo que eles amontoaram está destinado meramente à destruição
certa, quando do julgamento (o qual é visto como iminente, ver o sétimo
versículo).
Já que há uma referência à «parousia», no sétimo versículo, supomos que os
«últimos dias», deste versículo, indicam aqueles dias que antecederão
imediatamente a segunda vinda de CRISTO, quando ele vier para julgar. O
autor sagrado não sabia por quanto tempo perduraria a era da graça. Tal como
outros escritores sagrados do N.T., ele via a segunda vinda de CRISTO como
ocorrência não distante, e que talvez ocorresse até mesmo durante sua vida
terrena. (ver I Cor. 15:51 e I Tes. 4:15. Quanto a outras referências aos
«últimos dias», no N.T., ver João 6:39; 6:37; Atos 2:17; II Tim. 3:1; Heb. 1:2 e II
Ped. 3:3. Ver também a expressão «último tempo», em I Ped. 1:5,20).
CHAMPLIN, Russell Norman, O Novo Testamento Interpretado versículo por
versículo. Editora Candeias. Vol. 6. pag. 74.
18. III - O ESCASSO SALÁRIO DOS TRABALHADORES “CLAMA” A DEUS
(Tg 5.4-6)
1. O clamor do salário dos trabalhadores (v.4).
O principal pecado desses ricos opressores era, segundo a denúncia clara do
apóstolo Tiago, o não pagamento dos salários devidos. Tiago afirma que os
trabalhadores que ceifavam nas terras desses ricos, na hora de serem pagos
pelos seus trabalhos, em vez de receberem o salário combinado, tinham o seu
pagamento distorcido, reduzido, diminuído (Tg 5.4). E mais: além de
cometerem o pecado de não pagarem o salário devido, esses ricos estavam
cometendo indiretamente assassinato, conforme a denúncia contundente de
Tiago, que afirma que o não pagamento desses ricos aos pobres trabalhadores
lançara estes em uma situação de miséria e morte. Diz o apóstolo:
“Condenastes e matastes o justo; ele não vos resistiu” (Tg 5.6). Como
resultado dessa atitude, DEUS resistirá a esses ricos criminosos (Tg 4.6); seu
juízo virá sobre eles (Tg 5.1).
Desde o Antigo Testamento, ainda na Lei de Moisés, encontramos a proibição
divina de o empregador oprimir o empregado. Ela se encontra em
Deuteronômio 24.14, mesma passagem que assevera que o trabalhador tinha
direito ao salário devido e este não poderia ser de forma alguma atrasado.
Afirma expressamente o próprio DEUS, conforme registrado por Moisés: “No
seu dia, lhe darás o seu salário, e o sol se não porá sobre isso; porquanto
pobre é, e sua alma se atém a isso; para que não clame contra ti ao Senhor, e
haja em ti pecado”. Na Nova Versão Internacional, a mesma passagem é
assim vertida para o português: “Paguem-lhe o seu salário diariamente, antes
do pôr do sol, pois ele é necessitado e depende disso. Se não, ele poderá
clamar ao Senhor contra você, e você será culpado de pecado”.
Ao desrespeitarem esse mandamento divino, esses ricos opressores estavam
acumulando culpa sobre as suas cabeças, preparando-se para o juízo divino.
Seu enriquecimento era fraudulento, o que já era frisado no capítulo 2 da
Epístola de Tiago, quando o apóstolo afirma: “Mas vós desonrastes o pobre.
Porventura, não vos oprimem os ricos e não vos arrastam aos tribunais?” (Tg
2.6). Isto é, os ricos opressores chegaram às raias dos tribunais, devido a seu
crime, mas saíram vencedores. Essa é a razão pela qual Tiago afirma no
capítulo 5, versículo 6, que o inocente pobre “não vos resistiu”, isto é, não
resistiram aos ricos, mas foram condenados.
Como frisa o teólogo A. F. Harper, essa expressão “não vos resistiu” refere-se,
provavelmente, ao fato de que “o pobre não tinha uma defesa legal adequada”,
de maneira que, “nos tribunais, os ricos influentes têm condenado e devastado’
[condenado e matado] o pobre que não tem condições de pagar o salário de
um advogado ou o suborno para o juiz”. Conclui Harper: “O desamparo da
vítima somente aumenta a culpa do opressor. Quando o desejo por riqueza se
torna tão intenso ao ponto de tirar a vida de outra pessoa, a ganância tornou-se
assassina”.
Eis o centro da denúncia de Tiago no capítulo 5: a prática desses ricos maus
de “acumular fortuna pessoal deixando de pagar seus empregados (v.4) é a
base da acusação específica de Tiago quando menciona ‘matar o justo’ (v.6),
porque tirar o pão de um semelhante é cometer assassinato; privar um
empregado do salário é derramar seu sangue”. Sem o seu salário, esses
pobres trabalhadores, que dependiam exclusivamente desses salários para
sobreviver, não poderiam viver por muito tempo — definhariam até a morte.
19. Por fim, um dos ensinos importantes desse texto que abre o capítulo 5 de
Tiago é que DEUS está atento ao clamor dos que sofrem injustiças na terra.
DEUS não está alheio às injustiças que acontecem e, conforme assevera o
apóstolo, aqueles que praticam maldades contra inocentes, que oprimem os
outros, que promovem injustiças, receberão a sua paga inexoravelmente (Tg
5.1), ou ainda aqui na terra ou na eternidade se não se arrependerem.
Outra coisa que aprendemos é que, assim como Tiago se colocou como uma
voz contra esses opressores, uma voz em favor daqueles inocentes oprimidos,
o cristão deve também erguer sua voz contra as injustiças nesse mundo e a
favor das vítimas inocentes.
E se você está sofrendo alguma injustiça na sua vida, lembre- se: DEUS não
está blindado em um canto do Universo, surdo e cego, sem atentar para a sua
causa. Não! Ele simpatiza com a sua causa. Ele não suporta a injustiça, e Ele
sabe muito bem tudo o que você está passando. O Senhor dos Exércitos —
isto é, aquEle que peleja por nós — está ouvindo o seu clamor (Tg 5.4b).
Alexandre Coelho e Silas Daniel. Fé e Obras, Ensinos de Tiago para uma Vida
Cristã Autêntica. Editora CPAD. pag. 141-145.
Tg 5.4 Estes trabalhadores do campo trabalhavam para as pessoas ricas
durante o dia e seriam pagos no final do dia. Eram lavradores pobres. Muito
provavelmente, eles tinham sido forçados a sair das suas próprias terras por
execução de alguma hipoteca, e então eram contratados pelo proprietário rico
de uma propriedade maior. Eles viviam à margem da fome extrema — o salário
de hoje comprava a comida de amanhã. Se um trabalhador não recebesse o
seu pagamento, toda a sua família passaria fome. Se o proprietário se
recusasse a pagar, havia pouca coisa ou nada que o trabalhar pudesse fazer.
O dinheiro que deveria ter sido entregue ao trabalhador também era uma
evidência contra estas pessoas ricas. O clamor pelo salário retido dos
trabalhadores e dos que ceifaram entraram nos ouvidos do Senhor dos
Exércitos. O único recurso que os pobres tinham era clamar a DEUS. Se
estivermos enfrentando a opressão, a fé exige que nós nos lembremos de que
DEUS é a nossa força e o nosso defensor. Circunstâncias temporárias não
alteram a soberania de DEUS. DEUS nos protegerá do mal espiritual nesta
vida e nos dará as alegrias que nós desejamos na vida porvir. Ele nos
assegurará que a justiça será feita e julgará os opressores.
Comentário do Novo Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. Vol. 2.
pag. 688.
Tg 5:4 Além do mais, Tiago sabe que as riquezas acumuladas em geral
indicam injustiça. Na Palestina, em geral, tratava-se de injustiça contra os
trabalhadores rurais. Vede! o salário dos trabalhadores que ceifaram os vossos
campos, e que por vós foi retido com fraude, está clamando. O sistema
econômico da Palestina utilizava trabalhadores braçais diaristas, em vez de
escravos, em parte porque o escravo (Tiago 4:13-5:20) passaria a custar mais,
caso ele convertesse ao judaísmo. Esses trabalhadores contratados eram os
filhos jovens das famílias de camponeses expulsas de suas terras por causa
de bancarrota, quando as hipotecas das propriedades venceram e não havia
como pagá-las. Tais trabalhadores viviam da mão à boca. O salário de hoje é
para comprar o desjejum de amanhã. Quando o salário não era pago no fim do
dia, a família passava fome. A despeito de uma porção de mandamentos no
20. Antigo Testamento (Levítico 19:13; Deuteronômio 24:14-15), os ricos
descobriam jeitos de reter o salário dos trabalhadores (e.g., Jeremias 22:13;
Malaquias 3:5). O fazendeiro poderia retê-lo até o fim da época de colheita, a
fim de garantir que o camponês viria trabalhar; poderia apelar para uma
minúcia técnica a fim de provar que o contrato não foi cumprido; ou poderia
alegar estar cansado demais para pagar o salário no fim do dia. Se o
trabalhador reclamasse, o patrão o poria na lista negra; se fosse aos tribunais,
o rico teria os melhores advogados. Assim é que Tiago retrata o dinheiro no
bolso dos ricos, dinheiro que deveria ter sido usado para pagar os
trabalhadores que clamam por justiça. Os clamores não deixaram de ser
ouvidos por alguém: os clamores dos ceifeiros chegaram aos ouvidos do
Senhor Todo-poderoso. Visto tratar-se de ceifeiros, não pode haver desculpa
de falta de dinheiro; há montões de cereais para serem vendidos. O
trabalhador faminto apelou aos prantos para o único recurso que tem: DEUS.
Ao mencionar o Senhor Todo-poderoso, Tiago lembra seu leitor de Isaías 5:9,
onde as pessoas que adquirem grandes latifúndios são condenadas.
Todos os judeus sabiam o que acontecia às pessoas condenadas por Isaías, e
também sabiam que os ouvidos de DEUS estão abertos para os pobres (Salmo
17:1-6; 18:6; 31:2), de modo que a declaração de Tiago inclui a ameaça de
julgamento.
Peter H. Davids. Comentário Bíblico Contemporâneo. Editora Vida. pag. 150-
151.
Tg 5.4 a) Acumular bens ao invés de fazer o bem por meio deles. “Tesouros
acumulastes…”: O que acontecerá se – analisado à luz do dia – isso for
basicamente o denominador principal daquilo que queremos e praticamos?
Pessoas trabalhadoras e parcimoniosas correm esse perigo. Será que aquilo
que investimos na construção do reino de DEUS e em prol da carência de
nossos semelhantes se situa em patamares análogos ao que contribuímos
para a poupança da casa própria? – Como agravante é acrescentado: “nos
últimos dias.” Desde a vinda de JESUS na realidade vigoram os “últimos
tempos” (Hb 1.2). Quando, porém, colocamos a Bíblia aberta ao lado do jornal
nos dias de hoje, impõe-se a impressão de que agora se manifestam de
maneira notória os citados presságios do retorno de JESUS. Nesse caso, de
fato importa para nós algo diferente do que “ter sucesso na vida”. “Livra-te,
salva a tua vida” (Gn 19.17) e a de outros. JESUS declara: “Assim como foi
nos dias de Noé, será também nos dias do Filho do Homem: comiam, bebiam,
casavam e davam-se em casamento, até ao dia em que Noé entrou na arca, e
veio o dilúvio e destruiu a todos. O mesmo aconteceu nos dias de Ló…” (Lc
17.27s).
4 b) Violação não apenas do amor, mas igualmente do direito (cf. Lv 19.13; Dt
24.14; Jr 22.13). “Eis que o salário dos trabalhadores que ceifaram os vossos
campos e que por vós foi retido com fraude está clamando; e os clamores dos
cortadores penetraram até aos ouvidos do Senhor dos Exércitos”: não somente
deixaram de doar, mas tampouco deram o que era devido (até mesmo por um
serviço que lhes trouxe muitos rendimentos). Também nós cristãos temos de
nos submeter a interrogatório nesse aspecto. Paulo diz: “Não fiqueis devendo
nada a ninguém” (Rm 13.8). Talvez façamos muitas coisas voluntariamente no
sentido do amor cristão (o que possivelmente nos rende certo
reconhecimento). Contudo geralmente deixamos de fazer o que simplesmente
21. teria sido nosso dever e o que todos consideram óbvio (motivo pelo qual não
rende nenhuma admiração). Primeiro temos de satisfazer a justiça, antes de
praticarmos o amor. Primeiro temos de pagar as contas antigas e assalariar
com justiça nossos colaboradores, antes de fazermos grandes donativos. É
possível atuar ocasionalmente de maneira cristã, e ao mesmo tempo
negligenciar os pais idosos, o cônjuge e os próprios filhos. “Se alguém não tem
cuidado dos seus e especialmente dos da própria casa, tem negado a fé e é
pior do que o descrente” (1Tm 5.8). Como pregadores e pastores podemos ter
grande alcance pela mensagem falada e escrita e ter um nome, e ao mesmo
tempo negligenciar os enfermos, os idosos e a população de risco na própria
congregação e igreja. “O que se requer dos administradores é que cada um
deles seja encontrado fiel” (1Co 4.2). Somos administradores com tudo o que
temos e somos. Tudo é propriedade dada em custódia. Importa, então, ser fiel
no lugar em que DEUS nos colocou.
O salário retido “grita” a DEUS como o sangue de Abel (Gn 4.10) e como o
pecado de Sodoma (Gn 18.20). Surpreendentemente DEUS se importa
também com a realidade social e nosso comportamento em sociedade. Não
queremos ficar em dívida nem nos aproveitar da parte contrária, sejamos
empregadores ou empregados. Também categorias profissionais inteiras
devem receber o que lhes cabe, p.ex., a classe camponesa, porque “todo
trabalhador é digno de seu salário” (cf. Lc 10.7). Faz parte do “salário” também
a moradia digna e a obtenção do devido reconhecimento, sem ser degradado
para cidadão de segunda categoria.
Fritz Grunzweig. Comentário Esperança Carta De Tiago. Editora Evangélica
Esperança.
2. A regalia dos ricos que não temem a DEUS cessará (v.5)
Tg 5.5 Os estilos de vida dos ricos e famosos podem interessar aos meios de
comunicação, mas são nocivos para DEUS. Estes ricos, que tomaram as terras
dos pobres e depois se recusaram a pagar os seus merecidos salários,
mostraram uma enorme falta de consideração e um grande egoísmo. A isto,
eles acrescentaram uma atitude de desperdício e autoindulgência que DEUS
detesta. Uma vida de luxo e de satisfação de cada capricho não tem
basicamente nenhum valor. O dinheiro não significará nada quando CRISTO
retornar, de modo que nós devemos passar o nosso tempo acumulando
tesouros que terão valor no reino eterno de DEUS. O dinheiro em si não é o
problema; os líderes cristãos precisam de dinheiro para viver e sustentar as
suas famílias; os missionários precisam de dinheiro para ajudar a transmitir o
Evangelho; as igrejas precisam de dinheiro para realizar eficazmente o seu
trabalho. E o amor ao dinheiro que leva à iniquidade (I Tm 6.10) e que faz com
que alguns subjuguem a outros para conseguir mais. Esta é uma advertência a
todos os cristãos que são tentados a adotar padrões mundanos em lugar dos
padrões de DEUS (Rm 12.1,2) e um encorajamento a todos aqueles que são
oprimidos pelos ricos.
Para estas pessoas ricas, o seu tesouro é a riqueza mundana. Elas
aproveitaram a vida, banqueteando-se como no dia da matança de um animal.
Ironicamente, Tiago diz que elas são como animais gordos preparados para a
matança, no dia em que vier o julgamento de DEUS (veja Jr 12.1-3).
Comentário do Novo Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. Vol. 2.
pag. 688.
22. O mal do versículo 5 é mais uma faceta do espírito egoísta refletido nos
versículos 2-3. As riquezas condenam todo aquele que as usa para um prazer
puramente pessoal. A Bíblia Viva parafraseia as palavras de forma correta:
“Vocês gastaram seus anos aqui na terra divertindo-se, satisfazendo todos os
seus caprichos”. Há várias interpretações da frase num dia de matança (cf. Jr
12.3). As diferenças dependem do significado da preposição. Num (em um)
pode significar “em”, “no”, “por meio de”, “para”. Matthew Henry viu nessa frase
uma referência às festas judaicas em que muitos sacrifícios eram oferecidos.
“Vocês vivem como se cada dia fosse um dia de sacrifícios, uma festa; e,
dessa forma, seus corações são engordados e nutridos para a estupidez,
imbecilidade, orgulho e insensibilidade, em detrimento da miséria e aflição dos
outros”.
De acordo com o contexto parece que a preposição en em relação ao dia do
julgamento pode ser melhor traduzida por “para”. Uma tradução recente
interpreta esse versículo da seguinte maneira: “Vocês viveram na terra
luxuosamente, engordando-se como gado — e o dia para a matança chegou”.
Moffatt ressalta e aguça o conceito: “como para o dia de matança”. A finalidade
dessa seção inteira é resumida por Moffatt da seguinte maneira: “Vocês
precisam pagar com a sua vida pelo deleite cruel que custou a vida de suas
vítimas, as vítimas da sua opressão social e judicial”.
A. F. Harper. Comentário Bíblico Beacon. Tiago. Editora CPAD. Vol. 10. pag.
190.
Tg 5.5 Realizar festas dispendiosas enquanto outros passam fome. “Tendes
vivido regaladamente sobre a terra; tendes vivido nos prazeres; tendes
engordado o vosso coração”: Afirma-se: “Também tive de trabalhar. Afinal,
também devo ter o direito de aproveitar alguma coisa!” As pessoas moram
muito bem. Viajam em férias para locais longínquos. Afirma-se sobre o rico
agricultor que ele “não foi rico para DEUS” (Lc 12.21). Para si próprio, porém,
foi rico. Não deixou faltar nada em casa: “Alma minha, come e bebe!” Porém
para DEUS ele foi pobre, miserável. O que Tiago está escrevendo aqui não
pode ser repassado simplesmente às “instâncias” do mundo. Trata-se de um
questionamento que vale também para nós.
Novamente consta uma ênfase semelhante à do v. 3: ademais “no dia da
matança”. Primeiramente poderíamos imaginar o dia em que os animais
cevados eram mortos para banquetes e celebrações festivas. No entanto,
sofriam privações os trabalhadores que haviam recolhido a safra e aos quais
continuava sendo negado o salário, ou que era pecaminosamente mantido
baixo. Contudo no judaísmo daquele tempo, em consonância com passagens
como Jr 12.3, a expressão “o dia da matança” é significado consistente do
grande dia do juízo, no qual DEUS proclama e executa sua sentença. A
palavra significa: mesmo enquanto já está raiando o dia do juízo, procura-se
persistir no intuito de buscar divertimentos.
Fritz Grunzweig. Comentário Esperança Carta De Tiago. Editora Evangélica
Esperança.
3. O pobre não resiste à opressão do rico (v.6).
Um ponto importante a ser frisado aqui é o uso que Tiago faz do termo “justo”
no versículo 6, quando afirma “Condenastes e matastes o justo; ele não vos
23. resistiu”. A ideia clara do uso desse termo nessa passagem para se referir a
esses pobres trabalhadores oprimidos é que o apóstolo quer destacar a seus
leitores o fato de que eles não eram homens maus sofrendo alguma represália
dos seus chefes ricos pela sua maldade. Não. Eles eram homens inocentes.
Tiago não está aqui atribuindo alguma bondade inata aos pobres pelo simples
fato de serem pobres. Ele estava, sim, preocupado em enfatizar o fato de que
aqueles homens não mereciam o que seus empregadores estavam fazendo
com eles. Ele estava dizendo que aqueles pobres empregados haviam
trabalhado honestamente, ceifando as terras de seus senhores, mas
receberam em troca um salário aquém do combinado e de suas necessidades,
quando os seus empregadores tinham condições de pagar o salário prometido,
que garantia a subsistência daqueles pobres homens.
Portanto, o referido versículo não pode ser usado como argumento para
sustentar a Teologia da Libertação, que ensina o equívoco de que os pobres
são justos diante de DEUS pelo simples fato de serem pobres, o que não
encontra base alguma nas Sagradas Escrituras. Como afirma uma antiga e
precisa regra básica de hermenêutica bíblica, texto sem olhar o contexto é
pretexto.
Alexandre Coelho e Silas Daniel. Fé e Obras, Ensinos de Tiago para uma Vida
Cristã Autêntica. Editora CPAD. pag. 142-143.
Tg 5.6 A condenação e a morte de pessoas justas provavelmente eram tanto
ativas como passivas. As pessoas inconvenientes podem realmente ter sido
assassinadas, mas é mais provável que as pessoas pobres que não podiam
pagar as suas dívidas fossem lançadas na prisão ou forçadas a vender todas
as suas posses. Sem meios de sustento, e sem oportunidades até mesmo para
trabalhar para pagar suas dívidas, estas pessoas pobres e suas famílias
frequentemente morriam de fome. DEUS também considerava isto um
assassinato. De uma maneira ou de outra, no sistema injusto, isto era legal. O
pobre não tinha como resistir. O seu único recurso contra os ricos iníquos era
clamar a DEUS. As condições que Tiago está descrevendo podem parecer
desesperadoras. Muitos dos ricos não se arrependerão. Entretanto, os crentes
podem viver com esperança, porque CRISTO está voltando. Ele trará juízo e
justiça. Tiago agora passa a falar a respeito da volta de CRISTO.
Comentário do Novo Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. Vol. 2.
pag. 688-689.
O versículo 6 reflete a riqueza desonesta adquirida por meio de ações
fraudulentas da justiça. Em 2.6, Tiago refere-se aos ricos que “vos arrastam
aos tribunais”. Ele não vos resistiu provavelmente significa que o pobre não
tinha uma defesa legal adequada. Nos tribunais, os ricos influentes têm
“condenado e devastado” (Phillips) o pobre que não tem condições de pagar o
salário de um advogado ou o suborno para o juiz. O desamparo da vítima
somente aumenta a culpa do opressor. Quando o desejo por riqueza se torna
tão intenso a ponto de planejar tirar a vida de outra pessoa, a ganância tornou-se
assassina.
A. F. Harper. Comentário Bíblico Beacon. Tiago. Editora CPAD. Vol. 10. pag.
190.
24. Tg 5.6 O poder propiciado pela riqueza também é malversado em relação à
liberdade, honra e vida de terceiros. “Condenastes e matastes o justo”: aqui
devemos pensar primeiramente em JESUS. Foi condenado por aqueles que
possuíam influência, riqueza e poder. A perseguição ao jovem cristianismo por
parte do judaísmo igualmente se deu por meio de pessoas com influência,
riqueza e poder. O mesmo aconteceu durante a perseguição secular aos
cristãos por parte do poderoso Império Romano. Tampouco é diferente quando
cristãos sofrem nos dias de hoje. Acima de tudo isso valerá no último trajeto da
igreja de JESUS durante a tribulação do anticristo. – “Ele (porém) não se opõe
a vós”: também isso valia inicial e principalmente para JESUS. “Não se
contrapôs”. Não porque não tivesse poder, mas porque não o usou, em acordo
com a vontade do Pai: “Posso rogar a meu Pai, e ele me mandaria neste
momento mais de doze legiões de anjos. Como, porém, se cumpririam as
Escrituras? É assim que deve acontecer” (Mt 26.53s). O que vale para CRISTO
vale também para os cristãos. JESUS diz a Pedro: “Embainha a tua espada;
pois todos os que lançam mão da espada à espada perecerão” (Mt 26.52). É
assim que também temos de compreender a palavra de Rm 13.1ss, escrita aos
cristãos de Roma nos dias de alguém como Nero: “Quem resiste às
autoridades, resiste à ordem de DEUS”, sobretudo à ordem que ele deu a seu
Filho e aos seguidores dele para a caminhada: a ordem de sofrer (cf. Rm 13.2;
Mt 16.24; At 14.22). Por isso a igreja de JESUS, particularmente também na
tribulação do fim, está proibida de se defender: “Se alguém matar à espada,
necessário é que seja morto à espada. Aqui está a perseverança e a fidelidade
dos santos” (Ap 13.10; 14.12). É muito importante permanecer também sob
esse aspecto no caminho do discipulado de JESUS: “Ele não se contrapôs” (cf.
Ap 14.4).
Fritz Grunzweig. Comentário Esperança Carta De Tiago. Editora Evangélica
Esperança.
ELABORADO: Pb Alessandro Silva
(http://estudaalicaoebd.blogspot.com.br/) com algumas modificações do Ev.
Luiz Henrique.