2. A vidraça e os lençóis
Um casal, recém-casado, mudou-se para um bairro muito tranqüilo. Na primeira manhã que passavam
na casa, enquanto tomavam café, a mulher reparou através da janela em uma vizinha que pendurava
lençóis no varal e comentou com o marido:
- Que lençóis sujos ela está pendurando no varal! Está precisando de um sabão novo! Se eu tivesse
intimidade perguntaria se ela quer que eu a ensine a lavar as roupas!
O marido a tudo escutava, calado.
Alguns dias depois, novamente, durante o café da manhã, a vizinha pendurava lençóis no varal e a
mulher comentou com o marido:
- Nossa vizinha continua pendurando os lençóis sujos! Se eu tivesse intimidade, perguntaria se ela quer
que eu a ensine a lavar as roupas!
E assim, a cada dois ou três dias, a mulher repetia seu discurso, enquanto a vizinha pendurava suas
roupas no varal.
Passado um mês, a mulher se surpreendeu ao ver os lençóis muito brancos sendo estendidos e, toda
empolgada, foi dizer ao marido:
- Veja, ela aprendeu a lavar as roupas! Será que a outra vizinha a ensinou? Porque eu não fiz nada!
O marido calmamente respondeu:
- Não, hoje eu levantei mais cedo e lavei os vidros da nossa janela!
Moral
E assim é. Tudo depende da janela, através da qual observamos os fatos.
Antes de condenar, verifique se você fez alguma coisa para contribuir;
depois, verifique seus próprios defeitos e limitações. E, se necessitar, não se acanhe: lave sua vidraça.
Você jamais será o único a ter de fazê-lo...
3.
4. TIPOS DE TEXTOS
De acordo com as diferentes situações de uso, os enunciados se
organizam e se agrupam em tipos, conforme a finalidade da
comunicação. Quando um indivíduo utiliza a língua para se comunicar,
sempre o faz por meio de um tipo de texto, conscientemente ou não.
Nesse sentido, a língua se realiza por enunciados, orais ou escritos,
previamente dominados pelo indivíduo. Caso não fosse assim, a
comunicação se tornaria praticamente inviável.
Quando estabelecemos tipologias claras e concisas para os textos,
fica mais fácil interpretar e produzir textos que circulam em um
determinado ambiente social. Por exemplo: ao nos depararmos com o
texto a seguir, à primeira vista já sabemos que se trata de uma
receita. Pela forma e pela distribuição do texto no papel,
identificamos a parte dos ingredientes e a parte do “modo de fazer”.
Isso nos prepara para a leitura e, consequentemente, para a
interpretação. Veja:
5.
6. Existem muitas formas de classificar os textos de acordo com seus
tipos. A cada época da produção textual da humanidade, novas
classificações vão surgindo. Isso por causa das novas tecnologias que
aparecem ao longo dos anos. Na primeira metade do século XX, por
exemplo, não se pensava em textos como e-mail, blog ou homepage.
Alguns pesquisadores classificam os tipos de acordo com sua funcionalidade.
Vejamos:
Textos literários conto; novela; obra teatral; poema
Textos jornalísticos
notícia; artigo de opinião; reportagem;
entrevista
Textos de informação científica
definição; nota de enciclopédia; relato de
experimento científico; monografia;
biografia
Textos instrucionais receita; instrutivo
Textos epistolares carta; solicitação
Textos humorísticos história em quadrinhos
Textos publicitários aviso; folheto; cartaz; outdoor
7. Todos os textos que produzimos, orais ou escritos, apresentam um
conjunto de características relativamente estáveis, tenhamos ou não
consciência delas. Essas características configuram diferentes textos ou
GÊNEROS DO DISCURSO, que podem ser caracterizados por três
aspectos básicos: tema, modo composicional (a estrutura) e o estilo ( usos
específicos da língua).
Os gêneros do discurso são inúmeros. Vejamos alguns a partir do estudo
da tipologia.
8. TEXTO NARRATIVO
Esta é uma modalidade textual em que se conta um fato, fictício
ou real, ocorrido num determinado tempo e lugar, envolvendo certos
personagens. Há uma relação de anterioridade e posterioridade. O
tempo verbal predominante é o pretérito perfeito e mais-que-perfeito.
Em geral, a narrativa se desenvolve na prosa. O narrar surge da
busca de transmitir, de comunicar qualquer acontecimento ou
situação. A narração em primeira pessoa pressupõe a participação do
narrador ( narrador personagem) e em terceira pessoa mostra o que
ele viu ou ouviu ( narrador observador ).
Na narração encontramos ainda os personagens ( principais ou
secundários ), o espaço ( cenário) e o tempo da narrativa.
Exemplos: conto, fábula, crônica, reportagem, relato, romance,
piada, anedota, novela, etc.
9. No texto narrativo, os fatos são vividos por personagens em determinado
lugar e tempo. Além disso, há um narrador que assume duas perspectivas
básicas diante do texto agindo como uma personagem ou como um mero
observador. Leia o texto abaixo:
O Coveiro
Millôr Fernandes
Ele foi cavando, cavando, cavando, pois sua profissão - coveiro - era cavar. Mas, de
repente, na distração do ofício que amava, percebeu que cavara demais. Tentou sair da
cova e não conseguiu. Levantou o olhar para cima e viu que sozinho não conseguiria sair.
Gritou. Ninguém atendeu. Gritou mais forte. Ninguém veio. Enrouqueceu de gritar,
cansou de esbravejar, desistiu com a noite. Sentou-se no fundo da cova, desesperado. A
noite chegou, subiu, fez-se o silêncio das horas tardias. Bateu o frio da madrugada e, na
noite escura, não se ouviu um som humano, embora o cemitério estivesse cheio de pipilos
e coaxares naturais dos matos. Só pouco depois da meia-noite é que vieram uns passos.
Deitado no fundo da cova o coveiro gritou. Os passos se aproximaram. Uma cabeça ébria
apareceu lá em cima, perguntou o que havia: O que é que há?
O coveiro então gritou, desesperado: Tire-me daqui, por favor. Estou com um frio
terrível! Mas, coitado! - condoeu-se o bêbado - Tem toda razão de estar com frio.
Alguém tirou a terra de cima de você, meu pobre mortinho! E, pegando a pá, encheu-a e
pôs-se a cobri-lo cuidadosamente.
Reflexão: Nos momentos graves é preciso verificar muito bem para quem se apela.
10. TEXTO DESCRITIVO
A descrição usa um tipo de texto em que se faz um retrato falado de uma
pessoa, animal, objeto ou lugar. A classe de palavras mais utilizada nessa
produção é o adjetivo, pela sua função caracterizadora, dando ao leitor uma
grande riqueza de detalhes.
A descrição, ao contrário da narração, não supõe ação. É uma estrutura
pictórica, em que os aspectos sensoriais predominam. Assim como o pintor
capta o mundo exterior ou interior em suas telas, o autor de uma descrição
focaliza cenas ou imagens, conforme o permita sua sensibilidade.
Predominam na descrição a adjetivação, o presente e o pretérito
imperfeito.
Quanto à descrição de pessoas, podemos atribuir-lhes características
físicas ou psicológicas.
Exemplos: cardápio, folheto turístico, anúncio classificado, etc.
11. Exemplo de texto descritivo
A casa era grande, branca e antiga. Em sua frente havia um pátio quadrado. À
direita havia um laranjal onde noite e dia corria uma fonte. À esquerda era o
jardim de buxo, úmido e sombrio, com suas camélias e seus bancos de azulejo.
A meio da fachada que dava para o pátio havia uma escada de granito coberta
de musgo. Em frente dessa escada, do outro lado do pátio, ficava o grande
portão que dava para a estrada. A parte de trás da casa era virada ao poente
e das suas janelas debruçadas sobre pomares e campos via-se o rio que
atravessa a várzea verde e viam-se ao longe os montes azulados cujos cimos
em certas tardes ficavam roxos. Nas vertentes cavadas em socalco crescia a
vinha. À direita, entre a várzea e os montes, crescia a mata, a mata carregada
de murmúrios e perfumes e que os Outonos tornavam doirada.
Sophia de Mello Breyner Andresen, O Jantar do Bispo Calisto
12. DISSERTAR é o mesmo que desenvolver ou explicar um assunto, discorrer
sobre ele. Dependendo do objetivo do autor, pode ter caráter expositivo ou
argumentativo.
TEXTO DISSERTATIVO
Neste tipo de texto há posicionamentos pessoais e exposição de ideias.
Tem por base a argumentação, apresentada de forma lógica e coerente a fim
de defender um ponto de vista. Assim, a dissertação consiste na ordenação e
exposição de um determinado assunto. É a nossa conhecida “redação” de
cada dia. É a modalidade mais exigida nos concursos, já que exige dos
candidatos um conhecimento de leitura do mundo, como também um bom
domínio da norma culta.
Está estruturada basicamente assim:
1. Ideia principal ( introdução )
2. Desenvolvimento ( argumentos e aspectos que o tema envolve )
3. Conclusão ( síntese da posição assumida )
13. DISSERTATIVO-EXPOSITIVO
Apresenta um saber já construído e legitimado, ou um saber teórico.
Apresenta informações sobre assuntos, expõe, reflete, explica e avalia
ideias de modo objetivo. O texto expositivo apenas expõe ideias sobre um
determinado assunto. A intenção é informar, esclarecer.
Exemplos: aula, resumo, textos científicos, enciclopédia, textos
expositivos de revistas e jornais, etc.
DISSERTATIVO-ARGUMENTATIVO
Um texto dissertativo-argumentativo faz a defesa de ideias ou um ponto de
vista do autor. O texto, além de explicar, também persuade o interlocutor,
objetivando convencê-lo de algo. Caracteriza-se pela progressão lógica de
ideias. Geralmente utiliza linguagem denotativa. É tipo predominante em:
sermão, ensaio, monografia, dissertação, tese, ensaio, manifesto,
crítica, editorial de jornais e revistas.
14. Sou contra a redução da maioridade penal
A brutalidade cometida contra os dois jovens em São Paulo reacendeu a fogueira da redução
da idade penal. A violência seria resultado das penas que temos previstas em lei ou do sistema de
aplicação das leis? É necessário também pensar nos porquês da violência já que não há um único
crime.
De qualquer forma, um sistema socioeconômico historicamente desigual e violento só pode
gerar mais violência. Então, medidas mais repressivas nos dão a falsa sensação de que algo está
sendo feito, mas o problema só piora. Por isso, temos que fazer as opções mais eficientes e mais
condizentes com os valores que defendemos. Defendo uma sociedade que cometa menos crimes e
não que puna mais. Em nenhum lugar do mundo houve experiência positiva de adolescentes e adultos
juntos no mesmo sistema penal. Fazer isso não diminuirá a violência e formará mais quadros para o
crime. Além disso, nosso sistema penal como está não melhora as pessoas, ao contrário, aumenta
sua violência.
O Brasil tem 400 mil trabalhadores na segurança pública e 1,5 milhão na segurança privada
para uma população que supera 171 milhões de pessoas. O problema não está só na lei, mas na
capacidade para aplicá-la. Sou contra a redução da idade penal porque tenho certeza que ficaremos
mais inseguros e mais violentos. Sou contra porque sei que a possibilidade de sobrevivência e
transformação destes adolescentes está na correta aplicação do ECA. Lá estão previstas seis
medidas diferentes para a responsabilização de adolescentes que violaram a lei. Agora não podemos
esperar que adolescentes sejam capturados pelo crime para, então, querer fazer mau uso da lei.
Para fazer o bom uso do ECA é necessário dinheiro, competência e vontade.
15. Sou contra toda e qualquer forma de impunidade. Quem fere a lei deve ser responsabilizado. Mas
reduzir a idade penal, além de ineficiente para atacar o problema, desqualifica a discussão. Isso é
muito comum quando acontecem crimes que chocam a opinião pública, o que não respeita a dor das
vítimas e não reflete o tema seriamente.
Problemas complexos não serão superados por abordagens simplórias e imediatistas.
Precisamos de inteligência, orçamento e, sobretudo, um projeto ético e político de sociedade que
valorize a vida em todas as suas formas. Nossos jovens não precisam ir para a cadeia. Precisam sair
do caminho que os leva lá. A decisão agora é nossa: se queremos construir um país com mais prisões
ou com mais parques e escolas.
O ARTIGO DE OPINIÃO é um texto argumentativo, opinativo, de caráter persuasivo, o
qual dá ao autor maior liberdade de expressão. É claro que o domínio do assunto
abordado é imprescindível, além do respeito à linguagem formal.
Contudo, é um texto em que se observa a presença de ironias, citações intertextuais,
metáforas, provérbios e explicações diversas sobre o ponto de vista do autor em relação
ao tema proposto.
16. TEXTO INJUNTIVO/INSTRUCIONAL
Este tipo de texto indica como realizar uma determinada ação. Ele
normalmente pede, manda ou aconselha. Utiliza linguagem direta, objetiva e
simples. Os verbos são, na sua maioria, empregados no modo imperativo.
Bons exemplos deste tipo de texto são receitas médicas, receitas
culinárias, manuais e instruções para montagem ou uso de aparelhos e
instrumentos, ordens, pedidos, textos com regras de comportamento,
textos de orientação (ex: recomendações de trânsito, cartões com votos e
desejos (de natal, aniversário, etc.).
PREDIÇÃO
Caracterizado por predizer algo ou levar o interlocutor a crer em alguma
coisa, a qual ainda estar por ocorrer. É o tipo predominante nos gêneros:
previsões astrológicas, previsões meteorológicas, previsões
escatológicas/apocalípticas.
DIALOGAL / CONVERSACIONAL
Caracteriza-se pelo diálogo entre os interlocutores. É o tipo predominante
nos gêneros: entrevista, conversa telefônica, chat, etc.