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O ARTISTA  AUTISTA Oliver Sacks In: O Homem que confundiu sua mulher com um chapéu Organizado por Norma Escosteguy
JOSÉ,  21 anos, magro, de aparência frágil.  Era considerado  irremediavelmente retardado.   Estava hospitalizado porque tinha tido um de seus  violentos ataques. Ainda estava agitado e inquieto, quando foi visto pela primeira vez por  Oliver Sacks .  - Desenhe isto – pediu-lhe, entregando a José seu  relógio de bolso. - Ele é um idiota, não sabe dizer as horas – falou o assistente. - Não consegue nem falar. Dizem que  ele é  “autista”,  mas eu acho que ele não passa de um  idiota. José ficou pálido, talvez mais devido ao tom, do  que ao conteúdo dessas palavras. - Vamos – disse O.S. Eu sei que você vai conseguir.
De imediato calmo, José pegou o  relógio  cuidadosamente, como se fosse uma jóia, colocou-o à sua frente, concentrado e imóvel. José  desenhou  com tranqüilidade e concentração, rápido e minucioso, sem necessidade de apagar, desligado  de tudo o mais. José desenhou o relógio com notável fidelidade,  com todas as características essenciais: a hora, os  segundos, a presilha de forma trapezoidal. Os números  eram de tamanhos, forma e estilos diferentes. Sua compreensão geral revelou-se surpreendente. E havia uma estranha mistura da precisão exata,  até mesmo obsessiva, com curiosas (e engraçadas) elaborações e variações.
 
Oliver Sacks , após lhe ter receitado, por telefone, uma mudança nos  anti-convulsivantes ,  devido às crises, permaneceu intrigado com José e decidiu vê-lo de novo.  Foi recebido com um sorriso tímido, inesperado, que iluminou o rosto antes inexpressivo e indiferente. - Tenho pensado a seu respeito, disse. Quero ver mais desenhos. E mostrou-lhe uma revista ricamente ilustrada, que  utiliza com finalidades neurológicas , para  testar  seus pacientes. De um artigo sobre pescaria, onde havia um rio, pedras e árvores, destacou uma truta, que saltava, em  primeiro plano. - Desenhe isto, disse, apontando para o peixe. Ele sorriu e, com óbvia satisfação, desenhou seu próprio peixe.
 
O peixe de José era intensamente expressivo,  com uma boca grande e cavernosa, de baleia, um olhar humano, uma espécie de “peixe-gente”. Agora, tratava-se de compreender a imaginação, a memória visual, a atenção e até o humor de José – que  não eram esperadas num autista. Alguns anos antes, numa clínica especializada em neurologia infantil, quando apresentava “crises intratáveis”,  não tinha havido dúvidas de que se tratava de um autista.
As crianças autistas apresentam desempenhos e habilidades baseadas apenas em cálculos e memória, não em alguma coisa imaginativa  ou  pessoal. Seus desenhos – quando ocorrem, são meramente mecânicos, nunca criativos. ,[object Object],[object Object],[object Object]
A HISTÓRIA DE JOSÉ Aos oito anos , José apresentara  febre muito alta , associada com o início de crises incessantes, e subseqüentemente continuadas, e o rápido aparecimento de uma condição de  lesão cerebral  ou  autismo  ( desde o início houve dúvidas diagnósticas).  Seu líquor estivera anormal durante a fase aguda da doença, uma provável encefalite.  Os EEGs mostravam grave perturbação lobo-temporal, tanto à direita, como à esquerda (Fatores orgânicos).  Esta perturbação justificava suas crises convulsivas de tipos muito variados: grande mal, pequeno mal e “psicomotoras” complexas.
[object Object],[object Object],[object Object],Os lobos temporais estão associados também com as capacidades auditivas, e, em particular, com a percepção e produção da  fala.
José foi rotulado definitivamente como uma criança epiléptica, autista, retardada, talvez afásica. Foi considerado não educável, incurável e genericamente irremediável. Aos 9 anos,  “desligou-se” da escola, da sociedade, de tudo aquilo que para uma criança normal constituiria a “realidade”. Durante 13 anos não saíra de casa, aparentemente devido às “crises intratáveis”, apesar das várias tentativas medicamentosas.
Durante seu confinamento, não havia perdido de todo sua vida interior: demonstrava paixão por revistas ilustradas, especialmente de história natural, e, quando podia, entre crises e repreensões, encontrava tocos de lápis e  desenhava o que podia . Assim se mantivera seu único elo com a realidade. Mas nada disso teria sido revelado, se não tivesse tido uma crise de fúria repentina, assustadora e sem precedentes – um acesso em que os objetos foram estilhaçados – que levou José a um hospital pela primeira vez.
O que provocara esta fúria está longe de ser esclarecido: - uma erupção epilética (tal como se observa, em raras ocasiões, nas crises lobo-temporais muito graves); - simplesmente  uma “psicose”, como constava na sua ficha de admissão; - ou um pedido de socorro, extremo e desesperado, de uma alma torturada que se achava muda e sem uma forma direta para expressar sua difícil situação, suas necessidades.
O que ficou evidente foi que sua vinda para o hospital, com as crises “controladas” por novas e poderosas drogas, deu-lhe pela primeira vez algum espaço e liberdade, uma “libertação” fisiológica e psicológica de uma espécie que ele não conhecera desde os oito anos. ,[object Object],[object Object]
A  EVOLUÇÃO  DE JOSÉ Na terceira vez que  Oliver Sacks  decidiu vê-lo, não o mandou chamar e foi direto à enfermaria, sem avisá-lo.  José estava sentado, embalando-se, os olhos fechados, um quadro de regressão. O.S.  teve uma sensação de terror ao vê-lo, pois cultivara a noção de uma “rápida recuperação”. Foi preciso ver José numa posição regredida (como tornaria a ver, repetidas vezes), para observar que não havia um “despertar” simples para ele, e sim um caminho carregado de um sentimento de perigo, de duplo risco, tão aterrorizante quanto excitante –porque ele acabou amando as grades de  sua prisão.
Assim que José  ouviu Oliver Sacks  chamá-lo, saltou e, ansioso e voraz, seguiu-o até a sala de desenhos. O médico deu-lhe uma caneta e disse: “Aquele peixe que você desenhou”, sugeriu, fazendo um gesto no ar, “aquele peixe, você pode lembrá-lo e desenhá-lo de novo?” Ele fez que sim com a cabeça, ávido, e pegou a caneta. Já fazia três semanas: o que ele desenharia agora? Ele fechou os olhos por um momento – e então desenhou. Era uma truta, com narinas (humanas?), a cauda em forquilha, e lábios desenvolvidos. Ele ia pegar a caneta, quando José prosseguiu. Rapidamente, esboçou um pequeno peixe, um companheiro, dando cambalhotas, em óbvia brincadeira. Depois desenhou a superfície da água e uma súbita onda elevando-se.
 
Enquanto desenhava, José foi ficando excitado e emitiu  um grito estranho e misterioso . Repleto de reflexões e simultânea precaução, O.S. ofereceu a caneta de novo a José, apontando apenas com um gesto, um pássaro, num cartão de Natal que estava sobre a mesa. O  pássaro foi desenhado com precisão  e ele usou uma caneta vermelha para o peito. Os pés pareciam garras, fortemente agarradas ao tronco.  Mas, o que estava acontecendo?  O galinho seco do inverno desenvolvera-se no desenho e expandira-se em florescências. José havia transformado o inverno em primavera!
 
 
Então, ele  começou a falar  – embora fossem sons estranhos, hesitantes, extremamente ininteligíveis, que brotavam, espantando-o, às vezes, tanto quanto à equipe, pois todos o consideravam irreversivelmente mudo. E aqui também foi impossível afirmar o quanto era “orgânico”, o quanto era questão de motivação. Suas perturbações lobo-temporais tinham sido reduzidas – seus EEG nunca eram normais, mostrando alterações nas ondas lentas, pontudas, disritmia.  Mas eram bem melhores do que os iniciais, quando chegara.
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Último episódio : José foi removido para uma ala do hospital com uma equipe  projetada para pacientes autistas, que lhe oferecessem “um lar para o coração”. Quando Oliver Sacks foi vê-lo, acenou espontaneamente, mostrando a porta, queria sair. Ele seguiu na frente, mostrando o caminho para o jardim ensolarado, de vegetação exuberante. (Nunca mais havia saído de casa, desde os 8 anos.) Colocou a prancheta no chão e desenhou flores, que olhava atento aos detalhes. Mostrava seu amor por essa realidade. A mente de José não fora constituída para o abstrato, para o conceitual. Isso não lhe era acessível. Mas o caminho particular  da natureza é também um caminho para a realidade e para o verdadeiro.
No autismo infantil “clássico” (primário) que se manifesta totalmente antes dos três anos, a separação dos outros acontece tão cedo, que pode não haver memória da ligação. No autismo “secundário” , como o de José, causado por uma lesão cerebral num estágio mais adiantado da vida, há alguma memória, talvez uma certa nostalgia.  Isto pode explicar por que José foi mais acessível e pode mostrar, através dos desenhos, uma interação acontecendo .
Para a pessoa autista, o abstrato, o categórico, não tem interesse – o concreto e o singular é tudo. Entretanto, a imaginação autista não é rara. Quanto mais os vejo, diz  Oliver Sacks , mais me parecem uma estranha espécie entre nós, esquisita, original, totalmente voltada para dentro, diferente dos outros. José poderia fazer muitas coisas, mas só o fará se tiver alguém muito compreensivo, com meios e oportunidades, para guiá-lo. Como muitos outros autistas .
Perda da fala e de capacidades adquiridas. Ausência de contato afetivo. Atitudes bizarras. Dificuldades na mutualidade social:  olhar , sorriso, gestos, fala. Ecolalia.Dificuldade de contato físico. Atração por movimentos circulares. “ Flapping”. Marcha na ponta dos pés. Preferência por objetos inanimados. Insensibilidade a perigos e à dor. Crises clásticas. Ausência de empatia. Sintomas Após 2 anos e mais tarde Desde o nascimento (antes de 3 anos) Idade Fatores psicológicos Fatores orgânicos? Genética? Fatores orgânicos? Etiologia AUTISMO SECUNDÁRIO AUTISMO  PRIMÁRIO (Autismo de Kanner, 1943)
X Espectro variável Aprendizagem Etiológico, medicamentoso, Adequado às necessidades Centros especializados, intervenção precoce e intensiva, visando o desenvolvimento de capacidades, especialmente do olhar, compreensão de expressões faciais e convívio Tratamento X Espectro variável  70% com retardo Inteligência X 5 em cada 10 000 crianças 4 vêzes mais freqüente em meninos Incidência AUTISMO SECUNDÁRIO AUTISMO  PRIMÁRIO (Autismo de Kanner, 1943

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  • 1. O ARTISTA AUTISTA Oliver Sacks In: O Homem que confundiu sua mulher com um chapéu Organizado por Norma Escosteguy
  • 2. JOSÉ, 21 anos, magro, de aparência frágil. Era considerado irremediavelmente retardado. Estava hospitalizado porque tinha tido um de seus violentos ataques. Ainda estava agitado e inquieto, quando foi visto pela primeira vez por Oliver Sacks . - Desenhe isto – pediu-lhe, entregando a José seu relógio de bolso. - Ele é um idiota, não sabe dizer as horas – falou o assistente. - Não consegue nem falar. Dizem que ele é “autista”, mas eu acho que ele não passa de um idiota. José ficou pálido, talvez mais devido ao tom, do que ao conteúdo dessas palavras. - Vamos – disse O.S. Eu sei que você vai conseguir.
  • 3. De imediato calmo, José pegou o relógio cuidadosamente, como se fosse uma jóia, colocou-o à sua frente, concentrado e imóvel. José desenhou com tranqüilidade e concentração, rápido e minucioso, sem necessidade de apagar, desligado de tudo o mais. José desenhou o relógio com notável fidelidade, com todas as características essenciais: a hora, os segundos, a presilha de forma trapezoidal. Os números eram de tamanhos, forma e estilos diferentes. Sua compreensão geral revelou-se surpreendente. E havia uma estranha mistura da precisão exata, até mesmo obsessiva, com curiosas (e engraçadas) elaborações e variações.
  • 4.  
  • 5. Oliver Sacks , após lhe ter receitado, por telefone, uma mudança nos anti-convulsivantes , devido às crises, permaneceu intrigado com José e decidiu vê-lo de novo. Foi recebido com um sorriso tímido, inesperado, que iluminou o rosto antes inexpressivo e indiferente. - Tenho pensado a seu respeito, disse. Quero ver mais desenhos. E mostrou-lhe uma revista ricamente ilustrada, que utiliza com finalidades neurológicas , para testar seus pacientes. De um artigo sobre pescaria, onde havia um rio, pedras e árvores, destacou uma truta, que saltava, em primeiro plano. - Desenhe isto, disse, apontando para o peixe. Ele sorriu e, com óbvia satisfação, desenhou seu próprio peixe.
  • 6.  
  • 7. O peixe de José era intensamente expressivo, com uma boca grande e cavernosa, de baleia, um olhar humano, uma espécie de “peixe-gente”. Agora, tratava-se de compreender a imaginação, a memória visual, a atenção e até o humor de José – que não eram esperadas num autista. Alguns anos antes, numa clínica especializada em neurologia infantil, quando apresentava “crises intratáveis”, não tinha havido dúvidas de que se tratava de um autista.
  • 8.
  • 9. A HISTÓRIA DE JOSÉ Aos oito anos , José apresentara febre muito alta , associada com o início de crises incessantes, e subseqüentemente continuadas, e o rápido aparecimento de uma condição de lesão cerebral ou autismo ( desde o início houve dúvidas diagnósticas). Seu líquor estivera anormal durante a fase aguda da doença, uma provável encefalite. Os EEGs mostravam grave perturbação lobo-temporal, tanto à direita, como à esquerda (Fatores orgânicos). Esta perturbação justificava suas crises convulsivas de tipos muito variados: grande mal, pequeno mal e “psicomotoras” complexas.
  • 10.
  • 11. José foi rotulado definitivamente como uma criança epiléptica, autista, retardada, talvez afásica. Foi considerado não educável, incurável e genericamente irremediável. Aos 9 anos, “desligou-se” da escola, da sociedade, de tudo aquilo que para uma criança normal constituiria a “realidade”. Durante 13 anos não saíra de casa, aparentemente devido às “crises intratáveis”, apesar das várias tentativas medicamentosas.
  • 12. Durante seu confinamento, não havia perdido de todo sua vida interior: demonstrava paixão por revistas ilustradas, especialmente de história natural, e, quando podia, entre crises e repreensões, encontrava tocos de lápis e desenhava o que podia . Assim se mantivera seu único elo com a realidade. Mas nada disso teria sido revelado, se não tivesse tido uma crise de fúria repentina, assustadora e sem precedentes – um acesso em que os objetos foram estilhaçados – que levou José a um hospital pela primeira vez.
  • 13. O que provocara esta fúria está longe de ser esclarecido: - uma erupção epilética (tal como se observa, em raras ocasiões, nas crises lobo-temporais muito graves); - simplesmente uma “psicose”, como constava na sua ficha de admissão; - ou um pedido de socorro, extremo e desesperado, de uma alma torturada que se achava muda e sem uma forma direta para expressar sua difícil situação, suas necessidades.
  • 14.
  • 15. A EVOLUÇÃO DE JOSÉ Na terceira vez que Oliver Sacks decidiu vê-lo, não o mandou chamar e foi direto à enfermaria, sem avisá-lo. José estava sentado, embalando-se, os olhos fechados, um quadro de regressão. O.S. teve uma sensação de terror ao vê-lo, pois cultivara a noção de uma “rápida recuperação”. Foi preciso ver José numa posição regredida (como tornaria a ver, repetidas vezes), para observar que não havia um “despertar” simples para ele, e sim um caminho carregado de um sentimento de perigo, de duplo risco, tão aterrorizante quanto excitante –porque ele acabou amando as grades de sua prisão.
  • 16. Assim que José ouviu Oliver Sacks chamá-lo, saltou e, ansioso e voraz, seguiu-o até a sala de desenhos. O médico deu-lhe uma caneta e disse: “Aquele peixe que você desenhou”, sugeriu, fazendo um gesto no ar, “aquele peixe, você pode lembrá-lo e desenhá-lo de novo?” Ele fez que sim com a cabeça, ávido, e pegou a caneta. Já fazia três semanas: o que ele desenharia agora? Ele fechou os olhos por um momento – e então desenhou. Era uma truta, com narinas (humanas?), a cauda em forquilha, e lábios desenvolvidos. Ele ia pegar a caneta, quando José prosseguiu. Rapidamente, esboçou um pequeno peixe, um companheiro, dando cambalhotas, em óbvia brincadeira. Depois desenhou a superfície da água e uma súbita onda elevando-se.
  • 17.  
  • 18. Enquanto desenhava, José foi ficando excitado e emitiu um grito estranho e misterioso . Repleto de reflexões e simultânea precaução, O.S. ofereceu a caneta de novo a José, apontando apenas com um gesto, um pássaro, num cartão de Natal que estava sobre a mesa. O pássaro foi desenhado com precisão e ele usou uma caneta vermelha para o peito. Os pés pareciam garras, fortemente agarradas ao tronco. Mas, o que estava acontecendo? O galinho seco do inverno desenvolvera-se no desenho e expandira-se em florescências. José havia transformado o inverno em primavera!
  • 19.  
  • 20.  
  • 21. Então, ele começou a falar – embora fossem sons estranhos, hesitantes, extremamente ininteligíveis, que brotavam, espantando-o, às vezes, tanto quanto à equipe, pois todos o consideravam irreversivelmente mudo. E aqui também foi impossível afirmar o quanto era “orgânico”, o quanto era questão de motivação. Suas perturbações lobo-temporais tinham sido reduzidas – seus EEG nunca eram normais, mostrando alterações nas ondas lentas, pontudas, disritmia. Mas eram bem melhores do que os iniciais, quando chegara.
  • 22.
  • 23. Último episódio : José foi removido para uma ala do hospital com uma equipe projetada para pacientes autistas, que lhe oferecessem “um lar para o coração”. Quando Oliver Sacks foi vê-lo, acenou espontaneamente, mostrando a porta, queria sair. Ele seguiu na frente, mostrando o caminho para o jardim ensolarado, de vegetação exuberante. (Nunca mais havia saído de casa, desde os 8 anos.) Colocou a prancheta no chão e desenhou flores, que olhava atento aos detalhes. Mostrava seu amor por essa realidade. A mente de José não fora constituída para o abstrato, para o conceitual. Isso não lhe era acessível. Mas o caminho particular da natureza é também um caminho para a realidade e para o verdadeiro.
  • 24. No autismo infantil “clássico” (primário) que se manifesta totalmente antes dos três anos, a separação dos outros acontece tão cedo, que pode não haver memória da ligação. No autismo “secundário” , como o de José, causado por uma lesão cerebral num estágio mais adiantado da vida, há alguma memória, talvez uma certa nostalgia. Isto pode explicar por que José foi mais acessível e pode mostrar, através dos desenhos, uma interação acontecendo .
  • 25. Para a pessoa autista, o abstrato, o categórico, não tem interesse – o concreto e o singular é tudo. Entretanto, a imaginação autista não é rara. Quanto mais os vejo, diz Oliver Sacks , mais me parecem uma estranha espécie entre nós, esquisita, original, totalmente voltada para dentro, diferente dos outros. José poderia fazer muitas coisas, mas só o fará se tiver alguém muito compreensivo, com meios e oportunidades, para guiá-lo. Como muitos outros autistas .
  • 26. Perda da fala e de capacidades adquiridas. Ausência de contato afetivo. Atitudes bizarras. Dificuldades na mutualidade social: olhar , sorriso, gestos, fala. Ecolalia.Dificuldade de contato físico. Atração por movimentos circulares. “ Flapping”. Marcha na ponta dos pés. Preferência por objetos inanimados. Insensibilidade a perigos e à dor. Crises clásticas. Ausência de empatia. Sintomas Após 2 anos e mais tarde Desde o nascimento (antes de 3 anos) Idade Fatores psicológicos Fatores orgânicos? Genética? Fatores orgânicos? Etiologia AUTISMO SECUNDÁRIO AUTISMO PRIMÁRIO (Autismo de Kanner, 1943)
  • 27. X Espectro variável Aprendizagem Etiológico, medicamentoso, Adequado às necessidades Centros especializados, intervenção precoce e intensiva, visando o desenvolvimento de capacidades, especialmente do olhar, compreensão de expressões faciais e convívio Tratamento X Espectro variável 70% com retardo Inteligência X 5 em cada 10 000 crianças 4 vêzes mais freqüente em meninos Incidência AUTISMO SECUNDÁRIO AUTISMO PRIMÁRIO (Autismo de Kanner, 1943