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"Olhar e ver esta peça é entrar no âmago da pintura, é perceber-lhe a
carne e a palpitação. O que o século XX trouxe para o domínio das
artes, além da sua destruição, foi a gratificação e a reinventar, arran-
cando-lhe novos símbolos e perturbantes reconstruções.
Hoje, a carne da pintura pendura-se do gancho do imaginário, plural,
convivente, desde a tela lisa aos mares tormentosos onde flutuam os
destroços da nossa civilização. Entre estes seres rochosos, cúmulos da
adversidade e da aventura dos materiais semi-livres."
de Rocha de Sousa




                Cristo para o altar de todos os Espantos
OLHARES
Rocha de Sousa

Maria João Franco
CORPO TANGÍVEL

A certa altura da vida, Maria João Franco sentiu o seu corpo partido em dois,
entre um silêncio frio e um fact0 lancinante. Metade de si soçobrava com a
morte de alguém. E a outra metade, ardente e tangível, teve de abraçar toda
a vida já vivida, além da que estaria para se acercar de si, a cobrar-lhe as
contas do presente e do futuro. O sonho de então foi simultaneamente
tumular e sangrento, sobretudo através de uma pintura que tinha de ser feita,
assim, segundo o protesto surdo do medo, na solidão e na intransigência das
imagens. É por isso que ela parece ter fixado um estilo, um imparável modo
de formar.
Maria João vive, digamos assim, uma ancoragem inabalável à memóroa do
corpo que ainda lhe resta e que representa, afinal, dos ângulos mais difíceis,
na vertigem mais insuportável, assumindo todas as diferenças e todas as
semelhanças com a matéria orgânica, os metais brutos, a pedra cinzelada de
forma a sugerir diversos pontos de decomposição e restos ainda lisos da pele.
Pele por vezes amaciando músculos aquém das mutilações pressentidas ou
mesmo expostas.
Esta prioridade conferida ao discurso matérico, de alguma violência, tem de
se compreender a montante e na hora em que a escolha está contida num
espaço restrito, no estreitamento da dor. Fazendo da sua metade anímica um
projecto de vida, um modo de se exprimir pela totalidade, Maria João abriu à
força das mãos um caminho ao mesmo tempo preciso mas quase insustentável
nas insistentes dilacerações. O corpo era assunto e era tema, minuto dos
instante tangíveis em que tudo se duplicava pelas entregas, um abraço de
desejo, de partilha, exposto como nudez escultórica, bronze ou pedra, tudo
vertido para a palpitação textural da pintura — medida, tempo, angústia. Os
meios de instauração plástica traduziam, assim, uma ampla oratória dos
gestos, grafias insondáveis, recortes perceptíveis, o habitual e antigo desafio
da expressão aos limites da percepção. Mas o sofrimento e a grandeza
destacam-se da massa, presos no campo como os contrastes da forma
fingidamente inacabada dos «Escravos», de Miguel Ângelo.
Os nomes intensos e humanos
Maria João Franco não tem sido eleita entre os eleitos, apesar da sua obra
juntar tradições modernas com nomes intensos, com valores de um profundo
sentido do humano. Hoje voltam a ser louvadas as «histórias», em contradição
com a anterior exigência incontrolável da forma abstracta: porque os restos
figurativos da perplexidade e da revolta já só tinham lugar museológico e
nenhum futuro à vista. Quem retratava ou representava, fazia bonecos,
circunscrevia-se ao pior da tradição, pequeno discurso de narrativas
ilustradas. Mas as ideologias da estética totalitária mão tinham verdadeiro
cabimento no domínio das disciplinas de índole artística, porque, como já
tenho sublinhado, a arte não se realiza sob o império dos dogmas nem se
encerra num só tamanho da verdade na variedade. Todos os modos de dar
força expressiva à comunicação pelas imagens, por exemplo, são processos de
um fazer entregue ao imaginário, tornando os sonhos coláveis ao real para o
«tornar visível». E as artes mais se abriram à inovação, a matérias e formas
surpreendentes, inundando o espaço social de uma grande harmonia de
discursos não coincidentes. Isso dá nome à civilização que entretanto se
globaliza e aceita fazer-se sobre o fio da navalha.
Na sua consolidação tremendista, a pintura de Maria João Franco pratica uma
certa convocação rochosa do corpo humano — ou do corpo simplesmente. Dois
caminhos têm
confluido para isso, a dor da perda e graves impressões do exterior, encontro
que sempre acabou por devolver às mãos da pintora fragmentos amassados na
devida
maturação, corpos recuperados sob o impulso da vontade poética, entre a
morte e a vida. Corpos míticos, também, sonho transitado de alguma
Renascença, memória problematizada dos clássicos e dos avanços
expressionistas que se expandiram pelo século XX todo. O que se traduz em
testemunho, em grito, em dilaceração, com a manipulação do gesto e das
matérias (líquidas ou substanciais) por forma a ocupar o campo de presenças
ao mesmo tempo carnais e de pedra. Fusão de metais igualmente, embora a
verdade técnica se determine sobretudo no domínio da pasta acumulada sobre
esboços gráficos ou já pulsantes e líquidos.

um trajecto de coerência e força
A forma plástica em Maria João Franco assenta, além de tudo, numa
sedentarização positiva, de núcleo tormentoso, e desenha no espaço um
trajecto de coerência, de proximidade significante entre as peças, o que
determina grande continuidade das várias presenças, uma inusitada força nas
massas pictóricas, de cor surda, onde por vezes um fio de sangue aflora, ou
até na pele falsamente envelhecida sob a sua intocável frescura. De perto,
visível a maior distância, nítido ou desfocado, quase metalizado,
aparentemente escultórico, o corpo (assunto-tema) lembrado e representado
por Maria João Franco é fruto de uma importante conquista em termos de
discurso, na obstinação, na recuperação da imagem e da ideia — a liberdade
do fazer, em suma, num aparente paradoxo que liga e desliga a memória
dorida do corpo partido em dois e a necessidade de sublimar a brutalidade
obscena dessa injustiça. Porque a liberdade de que a autora dá importantes
provas, da metodologia escolhida aos materiais de instauração plástica,
não significa que ela esteja isenta de pensar o modo de formar, quais as
razões da força ao petrificar-se, ao escorrer como tinta de facto, que
objectivos aí se envolvem, que limites e regras assistem à própria amputação
anatómica. Na verdade, Maria João sabe perfeitamente em que condições
está a agir e o que lhe sobra de talento depois dos cortes de acerto, das
pessoas que premeia: ela cria processos de catarse para si mesma, sabendo,
entretanto, que está processando um legado a alguém, com a marca de que
as obras, no futuro, terão de conter um inalienável testemunho de vida.




OBRA ENQUANTO VIDA
Foi numa espécie de silêncios ensurdecedores que Maria João Franco
sobreviveu, emergiu várias vezes, e solta agora, ao expor mais uma vez, o seu
grito de intransigência perante as «forças» que carreiram modos, modas, os
autores e ordens em vigor, com frequentes violações do trabalho
independente, para a constelação internacional, sucesso a termo, porque
outras barreiras selectivas e obscuras existirão neste século.Desde longa data
que Maria João Franco foi dando prioridade a um discurso matérico e de
alguma violência, proferido entre uma abstracção de teor expressionista e a
convocação rochosa do corpo humano — ou do corpo simplesmente. Passo a
passo, o seu imaginário recebia impressões graves do exterior, da experiência
exógena, acabando por devolver às mãos da pintora fragmentos amassados na
devida maturação, coisas endógenas, reanimações poéticas da morte e da
vida. Tais verdades interiores, sempre em transformação mas nunca em
ruptura, contrariavam o terreno minado pela cultura urbana, formações
espúrias, filiação nos concursos rápidos ou guerra dos prémios. Com a sua arte
reaprendemos algumas versões de valor porventura romântico, até de raiz na
memória dos clássicos problematizantes, a par de uma afirmação
expressionista (da mesma mágoa) assente mo testemunho de outros
renascimentos e no sentido da revolta. A manipulação do gesto, abarcando
logo grande parte do campo, entra depois no domínio da pasta, matéria
acumulada sobre esboços líquidos. Alguns dos quais parecem despontar
propositadamente nas zonas onde a autora preferiu aderir à transparência e
por vezes, quando acha necessário conter a catarse, a decisão de aplicar
mansas velaturas sobre troncos antropomórficos duros, brutais, escultóricos.
Essa aparente moderação lírica avança com um brilho baço sobre aquelas
carnações decepadas, de largas texturas e aparência lítica. Esta busca, algo
arriscada, passa por matérias e cores sobretudo acinzentadas, exprimindo de
facto a pedra da escultura que evoca o corpo, é um trabalho quase contínuo,
quase sisifiano, princípio e fim de um todo que também nos pertence, embora
sempre nos escape. Anunciada assiduamente pela sua diversidade, o percurso
coerente de Maria João Franco parece abalado, sem que as suas bases se
ressintam, dado que esse ponto de vista implica diferença, a simbiose entre
diferença e semelhança, o que, apesar de todos os paradoxos, confere uma
força inusitada a estas massas onde algum fio de sangue aflora, e mesmo nos
casos em que a autora representa (na boa memória académica) os nus
falsamente envelhecidos na sua intocável frescura. A forma plástica, em Maria
João Franco, recupera do espaço da memória, da própria dor, com
obstinação, a ideia e a imagem do corpo, mesmo quando este não se aperta
entre os limites do campo e se projecta gestualmente no espaço. A liberdade
do fazer, no acesso a qualquer metodologia e materiais próprios, não isenta o
formador de pensar quais as razões da sua luta, quais as razões do seu
objectivo, o que implica a criação ou aceitação de limites ou regras. Maria
João sabe perfeitamente essa condição, porque a condição sobra mesmo
quando traída com talento. Neste caso, a pintora está sobretudo ao serviço de
si mesma, legando a alguém, a verdade da obra ser um destino de vida.
ROCHA DE SOUSA _2010
MARIA JOÃO FRANCO
Conheci Maria João Franco como aluna da Escola de Belas Artes, numa altura
em que, para além dos alunos em idade escolar, esta era procurada por
muitas pessoas que, ou para completarem habilitações ou porque sempre
tinham tido um desejo secreto de se tornarem artistas, a procuravam. Maria
João vinha dum curso de Arquitectura no Porto, mas efectivamente a pintura
era o seu caminho. Desde então, tenho seguido com algum interesse a sua
carreira de artista – mulher – com uma continuidade que nem sempre se
encontra no meio das artes plásticas no feminino, não obstante as vicissitudes
que a vida lhe tem deparado.A sua arte é uma arte sofrida, que se a
quisermos classificar será de expressionismo, um expressionismo matérico em
que o tema dominante é o corpo. Expressando-se através da pintura e do
desenho, numa forma que se afasta decididamente de qualquer representação
académica, embora o seu ponto de partida seja, efectivamente, o mesmo – o
corpo nu – nos seus corpos contorcidos, dolorosos, por vezes apenas evocados
numa linguagem quase abstracta, sente-se o pulsar de alguém que não tem
tido um percurso de vida fácil.Os seus nus não são eróticos – pelo menos não
os sentimos assim – mesmo quando os títulos das obras o podem fazer supor
(Intimidades). Mulheres, muitas vezes assim as percebemos pelos seios caídos
de mulheres maduras, pela zona púbica aflorada, por vezes apenas
fragmentos evocativos de um corpo – e por isso falamos de uma quase
abstracção – evocam essencialmente dor, muitas vezes de evidência física que
não é mais do que expressão de uma dor da alma.Nesta exposição, como
acontece na sua obra, aborda também outros corpos, quase silhuetas, de
animais, dificilmente identificáveis, talvez feridos, que equacionam memórias
pré-históricas no observador (Bestiário). Podem ser cães, lobos – não temos a
certeza – mas participam certamente da mesma dor dos humanos.A opção
pela forma do tríptico apresenta-se como uma solução original, de acentuado
ênfase religioso, em que duas formas de pintar - a do painel central mais
densa, mais escura, também mais dramática – em contraste com as abas, de
tonalidades mais suaves, evocando processos do desenho, mas também o
contraste dos antigos trípticos do final da Idade Média, entre a cor intensa do
painel central e as grisalhas das abas. Os nus das abas, em pose contorcida,
trazem por sua vez à memória não a pintura medieval mas Ignudi
miguelangelescos, portanto uma época de tensões mais acentuadas, talvez
como a nossa (Retábulo para o altar dos espantos).Há um certo barroquismo
na obra de Maria João Franco, pelos jogos de claro-escuro, pelos toques de
vermelho que evocam martírios contra-reformistas, mesmo pela densidade
matérica que a sua pintura normalmente demonstra.Maria João é também
poeta, aliás quer através da palavra, quer da imagem, a sua obra é poesia no
sentido pleno da palavra e aqui não temos de citar Horácio – ut pictura poesis
– porque afinal as duas formas emergem paralelamente da actividade criadora
da artista.

Dra. Margarida Calado,
Historiadora, Professora da Faculdade de Belas Artes da Faculdade de Lisboa
A sua pintura faz-me sempre lembrar
os mitos da dor, uma espécie de destino castigo, como em Sísifo ou Prometeu, para
não falar da urdidura permanente de Penélope, algo que se faz e desfaz na espera de
alguèm e para afastar os assediadores.
O destino tocou-a (ou Deus) e a sua dor (mesmo que a não sinta) vem pelo
«expressionismo romântico» marcar cada peça que faz. Esta figura petrificando-se
será assim, um dia, transformada em perda,
grandiosa mesmo na morte.

Rocha de Sousa
Contemporary Portuguese Artists:



                         MARIA JOAO FRANCO

During her 40 years of career, Maria João Franco has become an intransigent pursuer
of interior truth and liberty, being an artist in constant changing yet managing to
remain true to herself.Maria João Franco marks the contour, captures the movement,
turns into reality an idea, within a pictorial imagery which gained her a noteworthy
place in the Portuguese Fine Arts.Her art is deeply connected with the body, be it
either the human body or the body of things.There is a warm and tender involvement
in her paintings which figurates our condition, and which confers harmony and
beauty to the triviality of the ordinary life.Her painting, in which rhythm is a stylistic
element, declares the autonomy of colour, of utmost importance.It is a painting of
immediate gesture, of capture of space, of the vanity of existing, by restoring the
lost childhood and creating a new way in which we look at things.



Maria João Franco’s art is extremely sensitive to the fluidity of the languages of the
forms, to the strong materiality of the colour, to the force and charm of its evasion
and its ecstasy. It is a fascinating and wonderful journey, both spiritual as well as
technical.



Therefore, her works are the materialization of feelings of longing, dreams, and
became important notes in the Contemporary Portuguese Painting.



The devotion and commitment of Maria João Franco reveal to us the definite fact
that we stand in the presence of a great painter, an excellent artist, recognised as
such not only in Portugal, but also abroad.
Flowers of Mould



By Bianca Andreea Marin




And the will there in lieth, which dieth not.



Who knoweth the mysteries of the will, with its vigor? For God is but a great will
pervading all things by nature of its intentness. Man doth not yield himself to the
angels, nor unto death utterly, save only through the weakness of his feeble
will.Joseph GlanvillCharles Baudelaire once said that art has the miraculous privilege
to turn ugliness into beauty, and that pain, when rhythmic and cadenced, fills the
spirit with a quiet joy.When verses turn into colours, ideas into textures, feelings
into substances we enter an eerie world where poetry meets painting, birth meets
death, love meets pain and flowers meet mould. It is the strange and delicate world
of a painter, Maria João Franco, a poetess of the canvas. I would dare say that she
does not paint, she writes verses using colours, forms and shades, light and darkness
instead of words.What is a word? It is an instrument by means of which we send a
message, convey a feeling. If this definition is accurate, then her paintings are
letterless words, because they overwhelmingly transmit feelings and emotions.Her
works are a confession of hopes, dreams, failures and sins expressed by plastic
metaphors, chromatic epithets, where the immateriality of all the most important
things (love, despair, sadness, tragedy) embraces the cloak of the flesh until they lie,
exposed, strip naked on the canvas, bleeding like a baby first ripped out of her
mother’s womb. They tremble, amazed at their own existence, at their own life. The
painful, tragic, screaming moment of birth that also seals our doom. It is difficult to
look at them, at human emotions and fears. How would we live if our feelings
materialized in front of us? This seems to be the questions that Maria João Franco
boldly asks. We would not be able to hide from them, nor to force them out of our
mind. It would be our most terrible tragedy, as human beings, to be forced to look at
our materialized, touchable emotions, at our utmost secrets and thoughts. Nobody
would survive the screaming sincerity of facing ourselves and the world would turn
into a desolated sanatorium with people trying to escape from themselves.Have you
ever had a dream whose powerful image haunted you the day after? Imagine living
each and every day under the constant assault, a material, colourful, loud siege of
not one, but all of your desires, dreams, fears, anger. Even love would become a
burden, as true love generally is so hard to bear.When we look at one of Maria João´s
paintings, our faces unconsciously make a grin, and our eyes seem to want to turn
away, but at the same time they are drawn to them as if hypnotised. It is because we
all recognise parts of ourselves in them, and usually there are the parts that we
mostly like to hide: fear of death, horror of putrefaction, lost of faith, the never-
ending questions of the man seeking Immortality, unwilling to give in to the decay of
the body and the claws of death.What if we should look of them in the eyes? What if
the key to ending the pain is embracing it, facing it? What if the only way to conquer
death is by accepting it? What if the only way to love is to let ourselves be consumed
by it?I am drawn to these paintings in the same way as I am drawn to the poetry of
Baudelaire, Arghezi or Blaga. Baudelaire’s Fleurs du Mal attempts to extract beauty
from the malignant. Unlike traditional poetry that relied on the serene beauty of the
natural world to convey emotions, Baudelaire thought that beauty could evolve on its
own, irrespective of nature and even fuelled by sin. The result is a clear opposition
between two worlds, "spleen" and the "ideal." Spleen signifies everything that is
wrong with the world: death, despair, solitude, murder, and disease. In contrast, the
ideal represents a transcendence over the harsh reality of spleen, where love is
possible and the senses are united in ecstasy.Just as in Baudelaire’s verses, Maria
Joõa Franco is endlessly confronted with the fear of death, the failure of her will,
and the suffocation of her spirit.One of the most amazing similarities lie in the
comparison of Baudelaire’s poems ―The Cat‖ (inspired by Edgar Allen Poe's Tales of
Mystery and Imagination, where he saw Poe's use of fantasy as a way of emphasizing
the mystery and tragedy of human existence) and Maria João Franco’s painting ―The
Dog‖.
In two separate poems both entitled "The Cat," the poet is horrified to see the eyes
of his lover in a black cat whose chilling stare, "profound and cold, cuts and cracks
like a sword."( ―Je vois avec étonnement/ Le feu de ses prunelles pâles,/ Clairs
fanaux, vivantes opales/Qui me contemplent fixement).In ―The Dog‖ the same terror
is provoked by the big, stout dog with his face directed to a river of blood, and one
can easily distinguished the form of a human face appearing in the place of the dog’s
head. It is as if Baudelaire’s verses came to life in images, it is sheer Baudelaire
poetry on canvas.Moreover in ―The Laying woman‖(Deitada) a feminine figure seems
to be sleeping or laying dead, her body torn into hundreds of little atoms, reduced to
small dispersed fragments, traces of paint flowing from her like drops of water. It is
yet another example of how beauty can reside even in the most horrible moments.
The image created by the irregularity of the forms and the play of the splashes of
paint is so beautiful that it seems as if flowers were growing out of her decaying
body, the fertilizing territory of human flesh. Flowers of putrefaction, flowers of
mould, the Romanian poet Tudor Arghezi would say. Maria João Franco makes
caresses out of open wounds, ―out of furuncles moulds and mud‖ (Tudor Arghezi,
Testament) she creates ―new beauties and treasures‖ (Tudor Arghezi,
Testament)Maria João Franco is not obsessed with the ugliness or the pain. She
accepts all the aspects of humanity, even the most infamous, because, as I said
before, this may be the only way to extinguish them. The objective of her paintings
is not to shock, but to heal. Her love for the human being is such, that its physical
decay hurts her to the extent of endlessly trying to conquer it. It is a painful, deep
love for the transient human body in all its circumstances, even in death. We can
hear Maria Jiao Franco’s voice speaking to us through the words of poet Lucian Blaga
in his poetic statement ―I will not crush the world’s corolla of Wonders‖: ―I enrich
the darkening horizon with chills of the great secret. All that is hard to know
becomes a greater riddle under my very eyes because I love alike flowers, lips, eyes,
and graves‖.In order to understand a painting we should look at it with eyes of a
poet. It is easy to recognized fragments of Maria Jiao Franco’s paintings in the verses
of a poem. I tried to present here her paintings as seen through the verses of three
poets that explain them better than any critical essay. There are no boundaries in
art, and it would be no wonder if some day a poet would inspire himself from one of
Maria João Paintings to create his poetry.
―Un matin nous partons,
le cerveau plein de flamme,
Le coeur gros de rancune et de désirs amers,
Et nous allons, suivant le rythme de la lame,
Berçant notre infini sur le fini des mers.‖
in
http://www.artreview.com/profiles/blog/show?id=1474022%3ABlogPost%3A301745




MARIA JOÃO FRANCO – PINTORA E POETA "TU NÃO ACONTECES, QUANDO EU TE
QUERO"
Quando a olhamos pela primeira vez, apercebemo-nos de imediato que estamos
perante uma alma feminina marcada. Não de uma forma azeda, como tantas
mulheres que se afundam nas suas impotências ou incapacidades, mas de uma forma
profunda e reflexiva, de uma forma emotiva, humana e silenciosa.Maria João Franco,
esteve recentemente nos Açores, e o seu encanto foi imediato, brevemente irá voltar
para cá expor. Ao contrário da maioria dos artistas, tem o dom da palavra e o seu
tom de voz grave funciona como um fio condutor, que transporta cada uma das suas
palavras, ao local do córtex devido. Porquê essa diferença acentuada em relação à
maioria dos artistas plásticos? Resposta enganadoramente simples – trata-se duma
pintora poetisa.A sua exposição ―Tu Não Aconteces, Quando Eu Te Quero‖ está
patente no Museu da Água é, como não poderia deixar de ser um misto líquido entre
a poesia e a pintura –―tu não aconteces, quando eu te quero,Não falas ainda, quando
eu te escuto,Tu não dizes, quando eu te encontro,Tempos passados de saber
sentido,Tempos esquecidos de saber sofridoNão sabes ainda quanto eu te
entendo‖―Ao longo de quarenta anos de carreira, Maria João Franco tem vindo a ser
uma intransigente pesquisadora de verdades e de liberdades interiores, não cessando
de se transformar, mantendo-se, no essencial, fiel a si mesma.‖ Quem o diz é Álvaro
Lobato de Faria, director do MAC – Movimento de Arte Contemporânea ao qual a
artista aderiu em 2006, com a exposição ―Mulher e Eu‖, tendo na altura lhe sido
atribuído por este Movimento o Prémio Carreira ―MAC´2006‖.Iniciou-se a ―sério‖ nas
artes plásticas muito cedo, com 15 anos já frequentava cursos de Artes plásticas.
Muito influenciada por uma família cujo universo considera ―mágico‖, com enfoque
especial em seu pai – Miguel Franco – reconhecidamente um dos dramaturgos mais
importantes da década de setenta em Portugal, pela natureza histórica da sua obra
que se confronta então com o espírito do ―regime‖, e pelo seu marido, Nelson Dias,
Professor de Desenho e de Pintura da Escola de Belas Artes de Lisboa, artista que
deixou uma inestimável obra de qualidade plástica e uma outra criação na área da
banda desenhada, que faz igualmente parte da história de Portugal de Banda
Desenhada, também relativa à década de setenta. Dois homens que a marcaram
profundamente, quer no plano afectivo, no espaço que naturalmente cada um ocupa,
quer no seu desempenho artístico, quer na sua consciência social e postura perante a
vida e a morte. E como o sofrimento é o alimento do artista, cada título de cada
exposição de Maria João Franco é em si, arte: ―A Terra dos Mitos‖― O amanhecer da
memória‖, ―Um olhar de Pele‖, "Estórias do Corpo"."Tempo de o Senso e o Ser "
―Lírica do nu entre Sombras‖, "tu vens tão perto...que a distância existe" e
poderíamos continuar, porque as exposições foram muitas, estando certos porém que
com apenas os seus títulos temáticos, este texto se embelezaria.


―amo-te
e os fumos do último atentado ainda não aconteceram
amo-te
e a luz que nos ilumina
não nasceu ainda
amo-te, amo-te é a chave do esconderijo dos meus sonhos
e a palavra e a senha
para entrar de novo
no meu canto de hino
de novo
à alegria.‖


Esta sua notável sensibilidade, realça uma honestidade nas palavras a que não
podemos ser indiferentes. É com a mesma honestidade e frontalidade que fala sobre
aqueles que considera ― graves problemas‖ que afectam a cultura Portuguesa e mais
particularmente as artes plásticas. ―Um dos maiores problemas que os artistas têm
que enfrentar são os ―lobbys‖ das galerias. ―A maioria das galerias está
exclusivamente vocacionada para vender quadros, e só por esse prisma enaltecem e
promovem os ´seus` artistas. Fecham o círculo, apertando-o em torno de um número
reduzido de pessoas, algumas efectivamente com qualidade, outras talvez nem
tanto, mas assim, fecham-se portas e veta-se à ignorância artistas importantes, por
vezes geniais, porque não se encaixam nesse circuito, ou porque estão demasiado
embrenhados a produzir obras, ou porque simplesmente não se encaixam‖. E
continua – isto é muito grave, porque à sombra desta mecânica se vetam ao
desconhecimento valores emergentes, mas também ao esquecimento valores
reconhecidos e inequivocamente valiosos para a identidade cultural deste povo.‖Esta
frontalidade, como anteriormente demos a entender nasce com a sua convivência
familiar. Tal como se lê na sua biografia -―Uma forte ligação triangular "Miguel
Franco - Maria João Franco - Nelson Dias " desencadeia no espírito ainda jovem de
Maria João Franco o seu sentido de busca, de procura e de pesquisa.
Fortemente marcada pelo "expressionismo abstracto" Maria João Franco segue na
senda de Nelson Dias a tendência expressionista quer na abstracção, quer na sua
passagem para a figuração.
Sentindo como fortes expoentes da pintura portuguesa Rocha de Sousa, Gil Teixeira
Lopes, Artur Bual, Luís Dourdil, Júlio Pomar, Resende bebe neles a influência tendo
em mira o extravasar de uma pintura de emoções contidas num expressionismo lírico
de uma sensualidade quase "aquática" ou meramente fluida que adquire os tons da
tragédia atlântica nas suas vagas de tombar profundo.
A gravura é outra das suas paixões. Mas a esse respeito, a várias vezes premiada (em
1987 o 1º Prémio de Gravura no concurso de gravura integrado nas comemorações do
Ano Internacional do Ambiente Setúbal/Beauvais. Ainda em 97 tem o Prémio de
Edição na "IV Exposição Nacional de Gravura" Cooperativa de Gravadores Portugueses
/ Fundação Calouste Gulbenkian – Lisboa) Maria João Franco denuncia a
desvalorização e a recusa da maioria das Galerias em aceitar expor gravuras. ―A
razão prende-se com o facto da gravura ser mais acessível no preço em relação à
pintura a óleo, acrílico ou qualquer outro material. A maioria das galerias teme que o
mercado se habitue a adquirir gravuras em detrimento das outras obras que
obviamente são mais proveitosas do ponto de vista financeiro.‖Contudo, esta artista
plástica reconhece não ser este o único problema ―a reprodução indevida, em série
de gravuras – uma desonestidade – transformam as obras em algo que não era suposto
– um produto reproduzível e logo menos valioso. Quando se produz gravuras, as
chapas devem ser eliminadas – isso nem sempre acontece.‖Quanto ao estado mais
geral da cultura em Portugal, é clara a sua posição ― sem cultura não há identidade,
e é frágil o apoio, o reconhecimento dos artistas plásticos, e não só, neste país.
Muitos, passaram grandes dificuldades, mesmo aqueles que viram o seu talento
reconhecido. O que é uma injustiça dolorosa.‖Recapitulando – a dor alimenta a alma
do artista
A Mãe
‖Estou triste. O sofrimento enegrece-me a alma. Se eu o pudesse abraçar e passar
para mim um pouco de tanta tortura. Como o amor de mãe pode tornar-se em tanta
angústia. Já foi. A leveza da criança loira a correr pelo jardim. Já foi o calor morno
do colo da mãe. Ainda Maio. E a morte ronda a Mãe. O colo já não é morno. O peito
já não é terno. A mãe morre devagar e ainda é Maio e o meu amigo sofre. Quanto do
amor, quanto da ternura quanto das memórias lhe guarda o corpo.
E ainda é Maio...‖ Maria João Franco


entrevista   por Margarida Neves Pereira para Açoriano Oriental
texto de catálogo



Ao longo de quarenta anos de carreira, Maria João Franco, tem vindo a ser
uma intransigente pesquisadora de verdades e de liberdades interiores, não
cessando de se transformar – mantendo-se, no essencial, fiel a si
mesma.Maria João Franco perfaz o contorno, realiza o movimento,
concretiza a ideia num imaginário pictórico único que lhe atribui um lugar
marcante nas artes plásticas portuguesas.A sua arte tem uma estreita
relação com o corpo, com o corpo das coisas, com a ideia primeira de
matéria mater, que refaz incessantemente numa busca interminável, como
se procurasse o princípio e o fim de um todo que sente ser o nosso, mas, na
sua pesquisa, anseia sempre por um fim ou princípio outro.Aqui assenta
toda a diversidade da sua obra em que o fio condutor submerge e emerge,
consentindo e confirmando toda a sua versatilidade como artista plástica,
como criativa e autora.No envolvimento cálido e terno nas pinturas que
figuram a nossa condição, e que confere harmonia e beleza à trivialidade do
quotidiano, sabe-se a vontade e o modo de subtrair riqueza plástica a um
seu muito pessoal universo imagético.O grafismo, aqui afirmado como
elemento estilístico, afirma a autonomia da cor, que polariza e atrai a
fluidez antropomórfica das formas, é na sua obra de uma importância
fundamental.Fala-nos pela incidência da cor que transporta e assume o
papel de interlocutor entre a obra e o espectador.Estamos agora perante
uma artista sem hesitações, de um saber constante e ritmado, onde cada
tomada de consciência nos abre o caminho para o seu mundo
multidisciplinar, onde cada gesto tem o sabor de uma certeza.A arte de
Maria João Franco, extraordinariamente sensível na fluidez da linguagem
das formas, na vigorosa materialidade da cor, na força e no encanto da sua
evasão e do seu êxtase, é uma fascinante e esplêndida aventura espiritual e
técnica.As suas obras, são pois materialização de anseios e de sonhos,
notas de realce, na Pintura Portuguesa Contemporânea.A devoção e o
grande profissionalismo, a continuidade e o grande empenho que Maria
João Franco nos transmite nas suas obras, revelam-nos estar perante uma
grande pintora e uma excelente artista, reconhecida não só em Portugal
como internacionalmenteEm “tu não aconteces, quando eu te quero” título
da exposição que agora nos apresenta, mostra-nos a sua constante
evolução, a sua busca sem fadiga, a qualidade intranquila da sua poética,
que faz de cada momento uma reencarnação imprevisível, nova uma
conquista, um constante enriquecimento.O vigor e qualidade do conjunto
destas obras fará, com toda a certeza, que ele ocupe um significativo lugar
na excelente pintura que Maria João Franco vem construindo e a que já nos
habituou, confirmando o grande talento e sobretudo a surpreendente
qualidade técnica e criativa desta grande artista das artes plásticas do
nosso país.

Álvaro Lobato de Faria

Director Coordenador do MAC-Movimento Arte Contemporânea




______________________________________________



tu não aconteces, quando eu te quero
não falas ainda, quando eu te escuto,
tu não dizes, quanto eu te encontro.
Tempos passados de saber sentido
Tempos esquecidos de saber sofrido
Não sabes ainda quanto eu te entendo



.Numa pesquisa, aliada a uma auto reflexão constante do ser/estar criado e
recriado, ainda que numa atmosfera imersa, paradigma de todas as
realizações encontradas, e não…Que o título da exposição: “tu não
aconteces, quando eu te quero” denuncia já a busca incessante do encontro
efectivo e afectivo com a “coisa” /”pessoa” amada.O universo plástico em
que me situo denuncia-se pelo equívoco meio das ilusões em que as leituras
várias se sobrepõem deixando ao espectador o disfarce amplo para as
múltiplas e constantes leituras.“tu não dizes, quanto eu te encontro”
negação aparente de diálogo com a ”coisa” em que o “quanto” nega ainda o
dar a conhecer a infinidade das possibilidades dele mesmo.“não sabes ainda
quanto eu te entendo” é o passo anunciado para a próxima realização em
que o acto está já contido no “tu não te encontras, quando eu te quero”
,impossibilidade de simultaneidade de actos e realizações de ser e estar
afectivo e efectivo.Poema/projecto de formalizaçãoplástica e autobiográfica


Maria João Franco
Lisboa Março de 2008
―Tu não aconteces, quando eu te quero‖

A obra de Maria João Franco é talvez o último reduto de sensualidade neste
mundo cada vez mais individualista e asséptico.
É pura poesia que habita na tela, na construção da cor e verbo — na palavra
que é indissociável da obra final.
Mais do que uma linguagem estética e uma metalinguagem através da palavra
a artista criou uma translinguistica que contempla ambas.
Uma translinguististica sobre o amor, sobre o corpo, sobre a sensualidade,
sobre nós e sobre como nos relacionamos no tocar da pele, sobre o respeito
no fogo do prazer, sobre a sacralidade da água que escorre de nós no extâse.

―Tu não aconteces, quando eu te quero‖ é uma exposição
sobre a dádiva e a negação no amor.
Porque quando amamos e queremos e o outro ser não acontece, morre um
pedaço de nós.
Ensombra-se a claridade do amor puro e pára o movimento para a frente que
o distingue.
A Maria João Franco pinta esse jogo de claridade e sombra dos corpos e das
almas, conhece dimensões imperceptíveis do amor e estuda o Mistério.
Fala-nos de mulheres e homens que não se contentam em ser comuns e
tentam ser Deus.

Agradeço à Maria João Franco a reverência do amor e a sua arte belíssima




Margarida Ruas Gil Costa

Lisboa,Março de 2008
Insinuações




Toda a apresentação plástica tem no gosto do olhar a procura do táctil, do sensual,
do amor pelo feito, do amor pela Vida.
E a vida é feita de uma ―assemblage‖ de sentidos que se entreolham, se entrelaçam,
e se entre amam.
Aí reside o ―eros‖ da vida, o sentido erótico da Arte.
Os contrastes de luz e sombra acentuam a vontade e o desejo do ―estar‖ e da sua
forma.
A síntese da representação insinua a vontade de mostrar e de tornar desejável o que
lá não está.
O gosto da pele, o olhar dirigido pela ausência, procura erotizar precisamente o não
representado, mas sim sugerido.
A força da vontade, do amor,‖insinuam-se‖ no não directamente representado e
oferecem-se ao espectador como um apelo a sentidos ocultos, secretos, digamos,
antes, poetizados.
Maria João Franco
2008




                            Corpos e Almas/JL


                     autor:_Prof Pintor Rocha de Sousa



Um sentimento de tragédia atravessa a pintura de Maria João Franco.
A sua visão do mundo, constrangida pela dor e pelas sombras de que
 sõ feitas as noites longas do tempo,deixa-nos pressentir fragmentos
 de corpos nús,talvez destroços de sonhos que se materializaram de
 forma enovelada e parda. Enfrentamos nesses espaços um conjunto
 de enquadramentos sumários, na aproximação de cada focagem, de
  cada pedaço de matéria,de coisa inominável. Não sabemos quase
       nunca,se nos defrontamos com matérias inorgânicas ou com
materiais orgânicos,se a vida passou por ali, entre gritos mutilados e
                            palavras sem voz(...)
(...)Os pontos de partida encontram-se parcialmente com os pontos
   de "chegada", as pinturas rupestres,os sulcos das rochas,e os
  materiais em extrema diversidade desta civilização autofágica.




O drama desta obra parte de si mesma, do modo de a formar, desde
   a mistura lúdica de vários materiais sem sentido até á grande
              metáfora do nosso destino cósmico(...)


  (...) Os fragmentos dos corpos que surgem naquela pintura são
vestígios simbólicos, sagrações de um sofrimento absurdo. Bocados
de gente ou de deuses, em todos os tempos houve vagabundos e
  artistas parietais viajando no ciclorama do mundo e aí gravando
   mensagens premonitórias, a raiva e o amor, a guerra e a paz.
Desertos de pedra. rochas que modelamos na cova de um imaginário
perturbado portantos milénios de perguntas sem resposta. Eis-nos de
 novo perante as paredes das cavernas, amassando óxidos e outrs
     impurezas, riscando ou sobrepondo figuras de um contexto
 duríssimo. A pintura abstracta de Maria João Franco vai buscar às
 raízes expressionistas e líricas a massa para um novo começo das
 coisas, terras, gelos, rochas, a misteriosa simbiose da mistura dos
  matrais inorgânicos com os orgânicos, água deslizando, sangue a
  anunciar os sacrifícios iniciais, perante um deus feito à imagem e
                semelhança de um homem pretérito.



Rocha de Sousa in "Jornal de Letras & Artes" sobre a série NOVOS
     FRAGMENTOS_1998_Galeria Municipal GYMNÁSIO_Lisboa
Maria João Franco não tem abandonado aquele sentimento de tragédia que
assinalámos no texto CORPOS E ALMAS onde procurávamos apresentar a sua
última exposição.




Essa atitude da autora ,agora prolongada numa série de desenhos, conserva,
salvo as diferenças que as matéris impôem aos materiais, o mesmo espírio de
dor e de sombras que a sua pintura trabalhava entre formas enoveladas e
pardas. Também aqui não sabemos muitas vezes se bos defrontamos com
matérias orgânicas ou com materiais orgânicos, se a vida passou por aí,
(1)(...)(ver CORPOS E ALMAS)



                     SEGREDOS DA LINHA E DA SOMBRA
Trabalhando por vezes com carvão sobre tela, formando linhas e sombras de
uma visibilidade assiduamente agressiva, é a pintura que está na memória
desres desenhos, a sua modelação em claro-escuro, a textura que sobeja das
matérias sobre os materiais, ou seja: formas ou parte delas começando,
pela técnica, pelo modo, a dar corpo a um universo dolorido, emergindo
quase sempre do escuro, e no qual podemos paralelamente relacionar corpos
nús, bocados deles se respondemos ao apelo que esta obra propõe na
exploração do pormenor, detalhe ela também de qualquer batalha perdida,
mutilações, a dor e a sombra, apesar dos instantes de luz que parecem
revelar mais do que o sono, antes a morte.(...)




DESNUDAMENTO DA DOR




Fiel a si própria, fiel a uma espécie de luto que paira sobre ela, Maria João
Franco não sai deliberadamente desta exploração onde os corpos e os
fragmentos nos forçam a diversas encontros da memória contemporânea,
desde Treblinka (como referi antes) aos rios empapados de corpos num dos
recentes conflitos africanos. Não interessa se isto não se passou assim na
cabeça da pintora: se ela não se compromete com títulos das suas
dilacerações, nós podemos viajar em liberdade por esta (para mim) colossal
desnudamento da dor.
(1) Rocha de Sousa/texto Corpos e Almas/prefácio de exposição


Rocha de Sousa Jornal de Letras &Artes_2 de Dezembro de 1998




Vai-se ao âmago destas cores, ao seu núcleo mais íntimo e secreto e sente-se
a respiração da terra a rebentar nos poros, a vibração nas raízes, a levar
estremecimentos de vento até onde o olhar chega.
Como explicar o inexplicável? Como dizer o indizível?
O fogo e a fúria que habitam estas telas são ancestrais e profundos como a
memória das mãos que remexem o húmus, que profanam a
quietude da seiva, que rasgam o silêncio dos mitos.
A cada cor corresponde a força orgânica de um gesto que tanto pode
representar crispação e mágoa com sede de luz, como incontida ânsia de mais
espaço, como torrencial desejo de exprimir o inexprimível.
Há nestes quadros uma sabedoria antiga, imaterial, que clama por
cumplicidade e partilha, por entendimento e entrega.
Não se espere deles, porém, que nos franqueie todas as portas e todos os
mistérios, que a textura em que se materializem tem muito de ciência
alquímica, de saber oculto e perene.
Pode bem acontecer que o olhar, ao confrontar-se com a força telúrica destes
óleos em revolta, serpenteie pelas arcas da lembrança e encontre a Espanha
negra, fragmentos de um universo goyesco, rituais de penitência e de
sabedoria trágica.
Como explicar o inexplicável?
Como dizer o indizível?
Há nestas telas a raiva faíscante do traço e o tom lancinante do grito. Cada
cor está em trânsito para outra cor. E bem pode ser corpo ou voz, amálgama
de braços ou explosão vegetal, novelo de lumes ou espiral de sombras.
Cumpre-se nestas telas o mistério supremo da pintura.


José Jorge Letria
9 de Maio de 1989




sobre ―Mulher e Eu

MAC-Movimento Arte Contemporânea

2006

A pintura (minha) não existe a partir de uma atitude perceptível ou
reprodutora.
A sua ―fisiologia‖ advém de uma acção sistemática e dinâmica de
reconstrução ou reformulação do seu próprio objecto. Adquire forças e
vectores que se interligam por uma forma quase autobiográfica. A ―forma‖
visual tem a forma do sentir, do arrancar, do dissociar para reconstruir.
Essa dissociação constante, essa reavaliação persistente, essa dinâmica
latente contem toda a poética da minha obra.
Cada imagem criada conterá já em si o potencial para a sua auto-
reconstrução.
Isto é um processo mental que me ultrapassa na sua ―mecânica‖. Mas é assim
e sistemático, não no acto voluntário, mas no automatismo do desconstruir
para reconstruir dentro da mesma identidade, com o distanciamento
necessário para a não repetição , acto contínuo descontextualizando-se para
se igualar.
Não é uma história de repetições mecânicas de formas inventadas.
Assisto a uma regeneração constante e imanente de cada forma e imagem
,objecto em si não repetindo-se, mas prolongando-se em séries que se auto
determinam pelo modo como são abordadas .




Ao libertarem-se das imagens primeiras, criam vida própria, inserta numa
sintomatologia própria.
Ao atribuir títulos ás séries estou a denotá-las com situações extremas,
carentes de análise:

-nós os nus e os outros objectos “
-lugar dos desencontros ou os sítios da memória…
-tu vens tão perto… que a distancia existe
-Mulher e Eu

São situações alegóricas a estados do sentimento do estar.

O fio condutor destas mensagens passam pela relação necessária existencial
entre mim e o mundo, ora inscrevendo-se nele como peça sujeita a todas as
manipulações e as memórias percorridas pela sensação de ter estado, até à
constatação efectiva da existência de um EU gerador e suficientemente
distanciado da ideia para poder discernir.

Mulher e Eu é talvez a ponta do iceberg que se desnuda a cada passagem das
Horas.

Um modo de estar percorrido por toda uma simbologia plástica ligada a uma
formalização antropomórfica em que o útil objecto pagão se mistura não
alienadamente, nem de forma aleatória com o sagrado.

Com um sagrado de sentido universalizante que emana de todos sentidos
(sinais) de começo dos mundos…




Da Mulher à mulher

Das Vénus às Santas

De que uma é eleita Virgem.

Nada nesta dualidade ―começo e fim‖ de todas as coisas, onde mesmo a Terra
tem lugar de Mãe, afirma ou confirma o lugar de ―macho‖.

Há sim um universo plástico onde a Forma-Mãe se concebe como principio e
fim de todas as CRIAÇÕES.
Maria João Franco
Maio 2006




Pessoa

Sensibilidade, humanismo, inteligência
cultura elevada, criatividade, emoção, lágrimas, risos e gargalhadas,
grandeza, fragilidades e certezas e dúvidas materializadas na projecção que
cada obra, nos seus detalhes, de forma, movimento, cor, luz, claro, escuro, a
lua e o sol no seu esplendor, nos fazem perder no sonho, na vida, nas vidas
planando na metamorfose constante, que cada pormenor, em cada olharmos
faz recriarmo-nos, encontrarmo-nos, enternecer-nos, fascinarmo-nos, na
necessidade crescente quase impulsiva
de, ao ver e admirar, nos sentirmos também caleidoscópicos, na dança da
beleza que nos projecta ao infinito.
Tal como a obra, uma mulher que amo pelo que me dá, nos dá, nesta dança
melódica que a cada passo me abre e faz sonhar.


Obrigado Maria João

Marino Tralhão
Da existência “sagrada” do não ser.
A forma exacta do não estar. O saber de não saber a liberdade.
A vida. Na coexistência impossível dos poderes.
O jogo.
Tabuleiro incompleto nas peças fulcrais.
Engrenagem viciada na inércia da volta que implicou uma ideia para além
dos processos inelutáveis com que nos deparamos – consequências fatais da
nossa condição… (?)
O sistema e a Terra este planeta em que o ser homem, se exige a si próprio
um “auto – poder” em que se “absurdam” os princípios da coexistência.
Afinal a inteligência e os instintos sobrepõem-se de forma plasmada, de tal
modo que nos leva a pensar que o instinto e/ou a inteligência se
interconjugam
E que a lógica do instinto é a verdadeira estrutura mental de defesa da
nossa existência.
Por absurdo cria-se a lógica da existência e da continuidade no mais
primário dos seres e as nossas humanas teorias, tão sabiamente
construídas sobre alicerces de medo e de desencontros fatais.

Afinal a espiral não tem princípio nem fim.
Começa no não começo e ergue-se e caminha e percorre até ao infinito
que nos representa e simboliza o desconhecido.
Medo de todos os medos.
No fim de todas as coisas, onde o átomo e o possível não estar se
encontram num sítio que não sabemos…
Esta dificuldade em definir o saber que difere do conhecimento – dado
adquirido pelo transcorrer das civilizações, universos “ mutandos” e
mutáveis; paradigmas de universos que são os patamares dos
conhecimentos estratificados.
De onde retiramos as possibilidades da razão (causa) da nossa existência
sobre a terra a que chamamos Terra.
De onde emanam os seres que nos iludem numa forma de céu que é o
suposto transponível ilimite do nosso conhecimento.
De onde emana a nossa sapiência que é o entendimento do estatuto das
coisas que nos rodeiam e não!

Maria João Franco

2009




Maria João Franco, Procura e Renovação




Como quem se redescobre em insuspeitada pujança, Maria João Franco, nesta
série de trabalhos, retoma anteriores percursos e assume uma postura
estética que já lhe valeu atenção especial. A grande escala, o gesto largo,
aquele seu usual fascínio pelas cidades que brotam, texturadas, em pontos
estratégicos da composição, constituem algumas vertentes desta "nova"
pintura ou, se quisermos, o outro lado de um "modus operandi" que privilegia
a densidade, o peso, e a força como elementos estruturais da sua comunição
plástica. No fundo há como que uma evocação de arquétipos que estavam em
repouso ou a recuperação de atitudes de que, racionalmente, havia abdicado.
A renovação do seu vocabulário pictórico passa, portanto, por uma espécie de
regresso às origens e pelo exercício do desenho, ponto de partida para voos
mais ambiciosos Acontece-lhe uma figuração que não ulpassando os limites do
mate, permanece como suporte de outras descobertas e de uma aventura de
consequências sempre imprevisíveis.
Pintar, raras vezes foi, como agora, um acto de febril magia, uma fuga parar
a frente, um tocar de universos ambíguos e dúcteis nos quais se organiza o
caos, se freia a mão e se medita a cor da harmonia, Só então o espaço se
divide sem compartimentações estanques, no gerar de sucessivos equilíbrios,
na exaltação da luz, na procura de uma fluidez que nos surge, límpida,
caligraficamente definida e plena de uma rara monumentalidade Maria João
Franco merece destaque no contexto da nossa Arte Actual,
Edgardo Xavier
_____________________
PRODUÇÃO de objectos /produção ARTÍSTICA



É uma das características do homem a produção de objectos e na sua factura
intervêm componentes de ordem vária que decorrem de intenções
diferenciadas.
A função de cada um dos objectos produzidos está em estreita ligação com a
satisfação de fenómenos de necessidade. Mas há um momento de satisfação
não necessária que ultrapassa o sistema de necessidades elementares. A
produção de objectos com arte é a primeira fase de ultrapassagem do sistema
de necessidades primário.
O objecto – por vezes estético – (por vezes ético) é ultrapassado na sua
intenção com o decorrer do tempo e surge um significado-outro, desligando-o
do referente (real ou imaginário) que lhe estava na base. No fundo, quando o
objecto perde função imediata, torna-se objecto de contemplação e surge
como obra de arte, quando ele não representa, de facto, e antes de mais, um
determinado estádio de evolução do homem, não no sentido plástico, mas no
sentido de relação homem-natureza.
O que acontece é que os objectos que perderam função são hoje sublimados,
no sentido de se situarem de se situarem no plano de organizações sígnicas
representativas de estádios de civilização diferentes: é sempre sinal da
passagem do homem sobre o mundo e da sua vitória sobre os materiais, no
sentido em que os domina e lhes dá forma.
E é só nesse sentido que podemos dizer que tudo o que o homem faz tem um
carácter estético.
O homem, na sua necessidade natural, como ser gregário, e, individualmente,
como ser dominador, manipulador, tende a dar forma a todas as suas acções.
É nessa tendência que está implícita uma estética – e dela surgirá porventura
o fenómeno artístico ou para-artístico
Os vários conceitos de arte estiveram sempre dependentes do binómio
―forma-função‖.
Na medida em que a função se vai sobrepondo à forma criam-se objectos
estéticos – as sub-categorias de objectos – que ao abrirem um novo espaço
formal tentaram introduzir-se no campo da arte. O pressuposto estético fica
aquém do artístico e a apologia da norma e do funcional
Torna-se perfeitamente apologética, como consequência daquilo que lhe
falta: a dinâmica poética.
A obra de arte não resulta de conceitos estéticos, mas da própria vida:
justifica-se a si própria na sua capacidade ambivalente de a assimilar e
projectar.
Contudo, a capacidade expressiva de um objecto não e forçosamente índice
de fenómeno artístico. Ela surge muitas vezes por empatia perceptual imposta
por ditaduras de gosto. Por isso a arte favorece o diletantismo ―estético‖ e o
snobismo cultural. E os seus agentes na sua anciã de auto promoção subsidiam
intelectualmente e não só a produção maciça de objectos para – estéticos. O
fenómeno artístico esta mais ligado ao que esta subjacente ou supra jacente a
fisicidade do objecto. E esta aqui o fulcro do problema: o fenómeno artístico
surge quando, a partir de uma concepção e uma determinada execução de
técnica se introduz no mundo um mundo que nele não existia. O artista não
enfeita a sociedade, antes a completa, e essa complementaridade, se
incomoda, tanto melhor…




Confrontamo-nos hoje, com efeito, com uma crise que em si, e por sua vez,
se confronta com a ideia de que o saber manipular os materiais é sinal de
estatuto artisticamente inferior. Corresponde socialmente a uma atitude de
desprezo pelo trabalho manual assumido como saber.
Certas correntes actuais, bastante na linha deste pensamento, contradizem-
se, na medida em que consideram já o objecto artístico o simples acto do
fazer (puro acto lúdico), desprezando a partida o acto de dominar o fazer, em
função do conceber. Não se trata de trabalho, mas de simples imitação de
trabalho. O truque só é eficaz enquanto esconde o artifício. A displicência da
factura e o desprezo acintoso pela estrutura artificializa esta, na medida em
que a transforma de suporte da imagem em imagem em si mesma. Ao simular
como autentica a atitude, o objecto concretiza-a, mas esvazia-se como
finalidade artística.
Este esteticismo apriorístico e normativo que contraditoriamente se apresenta
como anti-norma, funcionaliza o objecto tornando-o ilustrativo da teoria e da
moda, retira-lhe finalidade intemporal, torna-se simples exemplo de uma
teorização estética, mas afasta-o da arte, pois que a obra de arte, enquanto
produto humano não pode, não deve tornar-se simplesmente imitação de si
própria.
Se a arte começou por reflectir uma tentativa de o homem dominar a
Natureza, imitando a sua vitória, caminhou para a imitação da Ideia, para a
imitação da Natureza ou como processo representacional de imitação do
homem, passando inclusivamente pela representação da sua realidade
interior.
Sob pressão d estéticas normativas algumas correntes actuais tentam a
imitação do fazer: no fundo, assistimos a casos em que os artistas se limitam
obsessivamente a imitarem-se a si próprios. E isto porque os valores de
mercado, a assinatura tornada objecto de consumo como sinal de troca valor-
signo de estatuto social, as conexões estabelecidas a partir de relações
confusas entre os conceitos de objecto estético e objecto artístico, a
indefinição falaciosa com que a crítica de arte mal autorizada faz eleger a
―objecto de arte‖ uma qualquer moda ditada pelas associações internacionais
de críticos, faz com que a história da arte hoje corra o risco de ser a história
dos êxitos fracassados a curto prazo. Muitas das obras actuais serão, com toda
a certeza encaradas no futuro como ―cheques sem cobertura‖,
O objecto artístico contemporâneo é hoje extremamente difícil de definir, de
tal modo o conceito de ―arte‖ tem sido alargado e empobrecido. Digamos
antes que de conceito se passou ―pré-conceitos‖. Parece haver aqui uma
contradição; mas se considerarmos que o pré-conceito se baseia em falsos
valores, eles próprios não autorizam a formulação de qualquer espécie de
conceito,
Pois até o conceito de ―conceito‖ não existe, porque não há critério que
defina o campo em que determinado objecto se coloca e se oferece à análise.
Será o entendimento do fenómeno artístico que limpará o terreno e definirá o
que é arte hoje.
Mas antes haverá que estabelecer uma deontologia da critica do nosso tempo.

Maria João Franco
Lisboa, Julho 1987
A pintura de Maria João Franco remete-nos para o drama da condição
humana, afinal, o "criptotema", sempre presente na grande Pintura ou
na grande Arte.
Que coisa oculta há com a existência do tempo e com a existência da
vida,
que inevitavelmente tem que acabar. A incomodidade (para não dizer
revolta) de termos um corpo que se vai estragando e que, muitas
vezes, é mesmo violentado,
como a mente é também violentada. Então, para quê representar
"bem" e com
todos os contornos, o que se vai estragar ? Para quê, representar com
rigor ou
pormenor, toda a destruição ? Todos a adivinham.
O conceito de beleza evoluiu ao longo do tempo. Depois de Picasso, os
adjectivos
mudaram muito e o "belo" foi desaparecendo, em favor do "bom".
Diz-se: - Isto é muito "bom", é boa Pintura, é bom trabalho. O trabalho
pressupõe esforço, desgaste. O "bom", é a boa prestação, feita com a
consciência de que inclui o esforço e toda a tragédia da condição
humana. Reflecte a contradição, bem e mal, presentes, em simultâneo
na natureza humana




Porto,2006

António José Pinto Pereira

Arquitecto
selecção de textos :

Prof. Rocha de Sousa

Pintor Edgardo Xavier

Maria João Franco




em 30 de Outubro de 2011



+ info www.mariajoaofranco.blogspot.com

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A carne da pintura

  • 1. "Olhar e ver esta peça é entrar no âmago da pintura, é perceber-lhe a carne e a palpitação. O que o século XX trouxe para o domínio das artes, além da sua destruição, foi a gratificação e a reinventar, arran- cando-lhe novos símbolos e perturbantes reconstruções. Hoje, a carne da pintura pendura-se do gancho do imaginário, plural, convivente, desde a tela lisa aos mares tormentosos onde flutuam os destroços da nossa civilização. Entre estes seres rochosos, cúmulos da adversidade e da aventura dos materiais semi-livres." de Rocha de Sousa Cristo para o altar de todos os Espantos
  • 2. OLHARES Rocha de Sousa Maria João Franco CORPO TANGÍVEL A certa altura da vida, Maria João Franco sentiu o seu corpo partido em dois, entre um silêncio frio e um fact0 lancinante. Metade de si soçobrava com a morte de alguém. E a outra metade, ardente e tangível, teve de abraçar toda a vida já vivida, além da que estaria para se acercar de si, a cobrar-lhe as contas do presente e do futuro. O sonho de então foi simultaneamente tumular e sangrento, sobretudo através de uma pintura que tinha de ser feita, assim, segundo o protesto surdo do medo, na solidão e na intransigência das imagens. É por isso que ela parece ter fixado um estilo, um imparável modo de formar. Maria João vive, digamos assim, uma ancoragem inabalável à memóroa do corpo que ainda lhe resta e que representa, afinal, dos ângulos mais difíceis, na vertigem mais insuportável, assumindo todas as diferenças e todas as semelhanças com a matéria orgânica, os metais brutos, a pedra cinzelada de forma a sugerir diversos pontos de decomposição e restos ainda lisos da pele. Pele por vezes amaciando músculos aquém das mutilações pressentidas ou mesmo expostas. Esta prioridade conferida ao discurso matérico, de alguma violência, tem de se compreender a montante e na hora em que a escolha está contida num espaço restrito, no estreitamento da dor. Fazendo da sua metade anímica um projecto de vida, um modo de se exprimir pela totalidade, Maria João abriu à força das mãos um caminho ao mesmo tempo preciso mas quase insustentável nas insistentes dilacerações. O corpo era assunto e era tema, minuto dos instante tangíveis em que tudo se duplicava pelas entregas, um abraço de desejo, de partilha, exposto como nudez escultórica, bronze ou pedra, tudo vertido para a palpitação textural da pintura — medida, tempo, angústia. Os meios de instauração plástica traduziam, assim, uma ampla oratória dos gestos, grafias insondáveis, recortes perceptíveis, o habitual e antigo desafio da expressão aos limites da percepção. Mas o sofrimento e a grandeza destacam-se da massa, presos no campo como os contrastes da forma fingidamente inacabada dos «Escravos», de Miguel Ângelo.
  • 3. Os nomes intensos e humanos Maria João Franco não tem sido eleita entre os eleitos, apesar da sua obra juntar tradições modernas com nomes intensos, com valores de um profundo sentido do humano. Hoje voltam a ser louvadas as «histórias», em contradição com a anterior exigência incontrolável da forma abstracta: porque os restos figurativos da perplexidade e da revolta já só tinham lugar museológico e nenhum futuro à vista. Quem retratava ou representava, fazia bonecos, circunscrevia-se ao pior da tradição, pequeno discurso de narrativas ilustradas. Mas as ideologias da estética totalitária mão tinham verdadeiro cabimento no domínio das disciplinas de índole artística, porque, como já tenho sublinhado, a arte não se realiza sob o império dos dogmas nem se encerra num só tamanho da verdade na variedade. Todos os modos de dar força expressiva à comunicação pelas imagens, por exemplo, são processos de um fazer entregue ao imaginário, tornando os sonhos coláveis ao real para o «tornar visível». E as artes mais se abriram à inovação, a matérias e formas surpreendentes, inundando o espaço social de uma grande harmonia de discursos não coincidentes. Isso dá nome à civilização que entretanto se globaliza e aceita fazer-se sobre o fio da navalha. Na sua consolidação tremendista, a pintura de Maria João Franco pratica uma certa convocação rochosa do corpo humano — ou do corpo simplesmente. Dois caminhos têm confluido para isso, a dor da perda e graves impressões do exterior, encontro que sempre acabou por devolver às mãos da pintora fragmentos amassados na devida maturação, corpos recuperados sob o impulso da vontade poética, entre a morte e a vida. Corpos míticos, também, sonho transitado de alguma Renascença, memória problematizada dos clássicos e dos avanços expressionistas que se expandiram pelo século XX todo. O que se traduz em testemunho, em grito, em dilaceração, com a manipulação do gesto e das matérias (líquidas ou substanciais) por forma a ocupar o campo de presenças ao mesmo tempo carnais e de pedra. Fusão de metais igualmente, embora a verdade técnica se determine sobretudo no domínio da pasta acumulada sobre esboços gráficos ou já pulsantes e líquidos. um trajecto de coerência e força A forma plástica em Maria João Franco assenta, além de tudo, numa sedentarização positiva, de núcleo tormentoso, e desenha no espaço um trajecto de coerência, de proximidade significante entre as peças, o que determina grande continuidade das várias presenças, uma inusitada força nas massas pictóricas, de cor surda, onde por vezes um fio de sangue aflora, ou até na pele falsamente envelhecida sob a sua intocável frescura. De perto, visível a maior distância, nítido ou desfocado, quase metalizado, aparentemente escultórico, o corpo (assunto-tema) lembrado e representado
  • 4. por Maria João Franco é fruto de uma importante conquista em termos de discurso, na obstinação, na recuperação da imagem e da ideia — a liberdade do fazer, em suma, num aparente paradoxo que liga e desliga a memória dorida do corpo partido em dois e a necessidade de sublimar a brutalidade obscena dessa injustiça. Porque a liberdade de que a autora dá importantes provas, da metodologia escolhida aos materiais de instauração plástica, não significa que ela esteja isenta de pensar o modo de formar, quais as razões da força ao petrificar-se, ao escorrer como tinta de facto, que objectivos aí se envolvem, que limites e regras assistem à própria amputação anatómica. Na verdade, Maria João sabe perfeitamente em que condições está a agir e o que lhe sobra de talento depois dos cortes de acerto, das pessoas que premeia: ela cria processos de catarse para si mesma, sabendo, entretanto, que está processando um legado a alguém, com a marca de que as obras, no futuro, terão de conter um inalienável testemunho de vida. OBRA ENQUANTO VIDA Foi numa espécie de silêncios ensurdecedores que Maria João Franco sobreviveu, emergiu várias vezes, e solta agora, ao expor mais uma vez, o seu grito de intransigência perante as «forças» que carreiram modos, modas, os autores e ordens em vigor, com frequentes violações do trabalho independente, para a constelação internacional, sucesso a termo, porque outras barreiras selectivas e obscuras existirão neste século.Desde longa data que Maria João Franco foi dando prioridade a um discurso matérico e de alguma violência, proferido entre uma abstracção de teor expressionista e a convocação rochosa do corpo humano — ou do corpo simplesmente. Passo a passo, o seu imaginário recebia impressões graves do exterior, da experiência exógena, acabando por devolver às mãos da pintora fragmentos amassados na devida maturação, coisas endógenas, reanimações poéticas da morte e da vida. Tais verdades interiores, sempre em transformação mas nunca em ruptura, contrariavam o terreno minado pela cultura urbana, formações espúrias, filiação nos concursos rápidos ou guerra dos prémios. Com a sua arte reaprendemos algumas versões de valor porventura romântico, até de raiz na memória dos clássicos problematizantes, a par de uma afirmação expressionista (da mesma mágoa) assente mo testemunho de outros
  • 5. renascimentos e no sentido da revolta. A manipulação do gesto, abarcando logo grande parte do campo, entra depois no domínio da pasta, matéria acumulada sobre esboços líquidos. Alguns dos quais parecem despontar propositadamente nas zonas onde a autora preferiu aderir à transparência e por vezes, quando acha necessário conter a catarse, a decisão de aplicar mansas velaturas sobre troncos antropomórficos duros, brutais, escultóricos. Essa aparente moderação lírica avança com um brilho baço sobre aquelas carnações decepadas, de largas texturas e aparência lítica. Esta busca, algo arriscada, passa por matérias e cores sobretudo acinzentadas, exprimindo de facto a pedra da escultura que evoca o corpo, é um trabalho quase contínuo, quase sisifiano, princípio e fim de um todo que também nos pertence, embora sempre nos escape. Anunciada assiduamente pela sua diversidade, o percurso coerente de Maria João Franco parece abalado, sem que as suas bases se ressintam, dado que esse ponto de vista implica diferença, a simbiose entre diferença e semelhança, o que, apesar de todos os paradoxos, confere uma força inusitada a estas massas onde algum fio de sangue aflora, e mesmo nos casos em que a autora representa (na boa memória académica) os nus falsamente envelhecidos na sua intocável frescura. A forma plástica, em Maria João Franco, recupera do espaço da memória, da própria dor, com obstinação, a ideia e a imagem do corpo, mesmo quando este não se aperta entre os limites do campo e se projecta gestualmente no espaço. A liberdade do fazer, no acesso a qualquer metodologia e materiais próprios, não isenta o formador de pensar quais as razões da sua luta, quais as razões do seu objectivo, o que implica a criação ou aceitação de limites ou regras. Maria João sabe perfeitamente essa condição, porque a condição sobra mesmo quando traída com talento. Neste caso, a pintora está sobretudo ao serviço de si mesma, legando a alguém, a verdade da obra ser um destino de vida. ROCHA DE SOUSA _2010
  • 6. MARIA JOÃO FRANCO Conheci Maria João Franco como aluna da Escola de Belas Artes, numa altura em que, para além dos alunos em idade escolar, esta era procurada por muitas pessoas que, ou para completarem habilitações ou porque sempre tinham tido um desejo secreto de se tornarem artistas, a procuravam. Maria João vinha dum curso de Arquitectura no Porto, mas efectivamente a pintura era o seu caminho. Desde então, tenho seguido com algum interesse a sua carreira de artista – mulher – com uma continuidade que nem sempre se encontra no meio das artes plásticas no feminino, não obstante as vicissitudes que a vida lhe tem deparado.A sua arte é uma arte sofrida, que se a quisermos classificar será de expressionismo, um expressionismo matérico em que o tema dominante é o corpo. Expressando-se através da pintura e do desenho, numa forma que se afasta decididamente de qualquer representação académica, embora o seu ponto de partida seja, efectivamente, o mesmo – o corpo nu – nos seus corpos contorcidos, dolorosos, por vezes apenas evocados numa linguagem quase abstracta, sente-se o pulsar de alguém que não tem tido um percurso de vida fácil.Os seus nus não são eróticos – pelo menos não os sentimos assim – mesmo quando os títulos das obras o podem fazer supor (Intimidades). Mulheres, muitas vezes assim as percebemos pelos seios caídos de mulheres maduras, pela zona púbica aflorada, por vezes apenas fragmentos evocativos de um corpo – e por isso falamos de uma quase abstracção – evocam essencialmente dor, muitas vezes de evidência física que não é mais do que expressão de uma dor da alma.Nesta exposição, como acontece na sua obra, aborda também outros corpos, quase silhuetas, de animais, dificilmente identificáveis, talvez feridos, que equacionam memórias pré-históricas no observador (Bestiário). Podem ser cães, lobos – não temos a certeza – mas participam certamente da mesma dor dos humanos.A opção pela forma do tríptico apresenta-se como uma solução original, de acentuado ênfase religioso, em que duas formas de pintar - a do painel central mais densa, mais escura, também mais dramática – em contraste com as abas, de tonalidades mais suaves, evocando processos do desenho, mas também o contraste dos antigos trípticos do final da Idade Média, entre a cor intensa do painel central e as grisalhas das abas. Os nus das abas, em pose contorcida, trazem por sua vez à memória não a pintura medieval mas Ignudi miguelangelescos, portanto uma época de tensões mais acentuadas, talvez como a nossa (Retábulo para o altar dos espantos).Há um certo barroquismo na obra de Maria João Franco, pelos jogos de claro-escuro, pelos toques de vermelho que evocam martírios contra-reformistas, mesmo pela densidade matérica que a sua pintura normalmente demonstra.Maria João é também poeta, aliás quer através da palavra, quer da imagem, a sua obra é poesia no sentido pleno da palavra e aqui não temos de citar Horácio – ut pictura poesis – porque afinal as duas formas emergem paralelamente da actividade criadora da artista. Dra. Margarida Calado, Historiadora, Professora da Faculdade de Belas Artes da Faculdade de Lisboa
  • 7.
  • 8.
  • 9. A sua pintura faz-me sempre lembrar os mitos da dor, uma espécie de destino castigo, como em Sísifo ou Prometeu, para não falar da urdidura permanente de Penélope, algo que se faz e desfaz na espera de alguèm e para afastar os assediadores. O destino tocou-a (ou Deus) e a sua dor (mesmo que a não sinta) vem pelo «expressionismo romântico» marcar cada peça que faz. Esta figura petrificando-se será assim, um dia, transformada em perda, grandiosa mesmo na morte. Rocha de Sousa
  • 10. Contemporary Portuguese Artists: MARIA JOAO FRANCO During her 40 years of career, Maria João Franco has become an intransigent pursuer of interior truth and liberty, being an artist in constant changing yet managing to remain true to herself.Maria João Franco marks the contour, captures the movement, turns into reality an idea, within a pictorial imagery which gained her a noteworthy place in the Portuguese Fine Arts.Her art is deeply connected with the body, be it either the human body or the body of things.There is a warm and tender involvement in her paintings which figurates our condition, and which confers harmony and beauty to the triviality of the ordinary life.Her painting, in which rhythm is a stylistic element, declares the autonomy of colour, of utmost importance.It is a painting of immediate gesture, of capture of space, of the vanity of existing, by restoring the lost childhood and creating a new way in which we look at things. Maria João Franco’s art is extremely sensitive to the fluidity of the languages of the forms, to the strong materiality of the colour, to the force and charm of its evasion and its ecstasy. It is a fascinating and wonderful journey, both spiritual as well as technical. Therefore, her works are the materialization of feelings of longing, dreams, and became important notes in the Contemporary Portuguese Painting. The devotion and commitment of Maria João Franco reveal to us the definite fact that we stand in the presence of a great painter, an excellent artist, recognised as such not only in Portugal, but also abroad.
  • 11. Flowers of Mould By Bianca Andreea Marin And the will there in lieth, which dieth not. Who knoweth the mysteries of the will, with its vigor? For God is but a great will pervading all things by nature of its intentness. Man doth not yield himself to the angels, nor unto death utterly, save only through the weakness of his feeble will.Joseph GlanvillCharles Baudelaire once said that art has the miraculous privilege to turn ugliness into beauty, and that pain, when rhythmic and cadenced, fills the spirit with a quiet joy.When verses turn into colours, ideas into textures, feelings into substances we enter an eerie world where poetry meets painting, birth meets death, love meets pain and flowers meet mould. It is the strange and delicate world of a painter, Maria João Franco, a poetess of the canvas. I would dare say that she does not paint, she writes verses using colours, forms and shades, light and darkness instead of words.What is a word? It is an instrument by means of which we send a message, convey a feeling. If this definition is accurate, then her paintings are letterless words, because they overwhelmingly transmit feelings and emotions.Her works are a confession of hopes, dreams, failures and sins expressed by plastic metaphors, chromatic epithets, where the immateriality of all the most important things (love, despair, sadness, tragedy) embraces the cloak of the flesh until they lie, exposed, strip naked on the canvas, bleeding like a baby first ripped out of her mother’s womb. They tremble, amazed at their own existence, at their own life. The
  • 12. painful, tragic, screaming moment of birth that also seals our doom. It is difficult to look at them, at human emotions and fears. How would we live if our feelings materialized in front of us? This seems to be the questions that Maria João Franco boldly asks. We would not be able to hide from them, nor to force them out of our mind. It would be our most terrible tragedy, as human beings, to be forced to look at our materialized, touchable emotions, at our utmost secrets and thoughts. Nobody would survive the screaming sincerity of facing ourselves and the world would turn into a desolated sanatorium with people trying to escape from themselves.Have you ever had a dream whose powerful image haunted you the day after? Imagine living each and every day under the constant assault, a material, colourful, loud siege of not one, but all of your desires, dreams, fears, anger. Even love would become a burden, as true love generally is so hard to bear.When we look at one of Maria João´s paintings, our faces unconsciously make a grin, and our eyes seem to want to turn away, but at the same time they are drawn to them as if hypnotised. It is because we all recognise parts of ourselves in them, and usually there are the parts that we mostly like to hide: fear of death, horror of putrefaction, lost of faith, the never- ending questions of the man seeking Immortality, unwilling to give in to the decay of the body and the claws of death.What if we should look of them in the eyes? What if the key to ending the pain is embracing it, facing it? What if the only way to conquer death is by accepting it? What if the only way to love is to let ourselves be consumed by it?I am drawn to these paintings in the same way as I am drawn to the poetry of Baudelaire, Arghezi or Blaga. Baudelaire’s Fleurs du Mal attempts to extract beauty from the malignant. Unlike traditional poetry that relied on the serene beauty of the natural world to convey emotions, Baudelaire thought that beauty could evolve on its own, irrespective of nature and even fuelled by sin. The result is a clear opposition between two worlds, "spleen" and the "ideal." Spleen signifies everything that is wrong with the world: death, despair, solitude, murder, and disease. In contrast, the ideal represents a transcendence over the harsh reality of spleen, where love is possible and the senses are united in ecstasy.Just as in Baudelaire’s verses, Maria Joõa Franco is endlessly confronted with the fear of death, the failure of her will, and the suffocation of her spirit.One of the most amazing similarities lie in the comparison of Baudelaire’s poems ―The Cat‖ (inspired by Edgar Allen Poe's Tales of Mystery and Imagination, where he saw Poe's use of fantasy as a way of emphasizing the mystery and tragedy of human existence) and Maria João Franco’s painting ―The Dog‖.
  • 13. In two separate poems both entitled "The Cat," the poet is horrified to see the eyes of his lover in a black cat whose chilling stare, "profound and cold, cuts and cracks like a sword."( ―Je vois avec étonnement/ Le feu de ses prunelles pâles,/ Clairs fanaux, vivantes opales/Qui me contemplent fixement).In ―The Dog‖ the same terror is provoked by the big, stout dog with his face directed to a river of blood, and one can easily distinguished the form of a human face appearing in the place of the dog’s head. It is as if Baudelaire’s verses came to life in images, it is sheer Baudelaire poetry on canvas.Moreover in ―The Laying woman‖(Deitada) a feminine figure seems to be sleeping or laying dead, her body torn into hundreds of little atoms, reduced to small dispersed fragments, traces of paint flowing from her like drops of water. It is yet another example of how beauty can reside even in the most horrible moments. The image created by the irregularity of the forms and the play of the splashes of paint is so beautiful that it seems as if flowers were growing out of her decaying body, the fertilizing territory of human flesh. Flowers of putrefaction, flowers of mould, the Romanian poet Tudor Arghezi would say. Maria João Franco makes caresses out of open wounds, ―out of furuncles moulds and mud‖ (Tudor Arghezi, Testament) she creates ―new beauties and treasures‖ (Tudor Arghezi, Testament)Maria João Franco is not obsessed with the ugliness or the pain. She accepts all the aspects of humanity, even the most infamous, because, as I said before, this may be the only way to extinguish them. The objective of her paintings is not to shock, but to heal. Her love for the human being is such, that its physical decay hurts her to the extent of endlessly trying to conquer it. It is a painful, deep love for the transient human body in all its circumstances, even in death. We can hear Maria Jiao Franco’s voice speaking to us through the words of poet Lucian Blaga in his poetic statement ―I will not crush the world’s corolla of Wonders‖: ―I enrich the darkening horizon with chills of the great secret. All that is hard to know becomes a greater riddle under my very eyes because I love alike flowers, lips, eyes, and graves‖.In order to understand a painting we should look at it with eyes of a poet. It is easy to recognized fragments of Maria Jiao Franco’s paintings in the verses of a poem. I tried to present here her paintings as seen through the verses of three poets that explain them better than any critical essay. There are no boundaries in art, and it would be no wonder if some day a poet would inspire himself from one of Maria João Paintings to create his poetry.
  • 14. ―Un matin nous partons, le cerveau plein de flamme, Le coeur gros de rancune et de désirs amers, Et nous allons, suivant le rythme de la lame, Berçant notre infini sur le fini des mers.‖ in http://www.artreview.com/profiles/blog/show?id=1474022%3ABlogPost%3A301745 MARIA JOÃO FRANCO – PINTORA E POETA "TU NÃO ACONTECES, QUANDO EU TE QUERO" Quando a olhamos pela primeira vez, apercebemo-nos de imediato que estamos perante uma alma feminina marcada. Não de uma forma azeda, como tantas mulheres que se afundam nas suas impotências ou incapacidades, mas de uma forma profunda e reflexiva, de uma forma emotiva, humana e silenciosa.Maria João Franco, esteve recentemente nos Açores, e o seu encanto foi imediato, brevemente irá voltar para cá expor. Ao contrário da maioria dos artistas, tem o dom da palavra e o seu tom de voz grave funciona como um fio condutor, que transporta cada uma das suas palavras, ao local do córtex devido. Porquê essa diferença acentuada em relação à maioria dos artistas plásticos? Resposta enganadoramente simples – trata-se duma pintora poetisa.A sua exposição ―Tu Não Aconteces, Quando Eu Te Quero‖ está patente no Museu da Água é, como não poderia deixar de ser um misto líquido entre a poesia e a pintura –―tu não aconteces, quando eu te quero,Não falas ainda, quando eu te escuto,Tu não dizes, quando eu te encontro,Tempos passados de saber sentido,Tempos esquecidos de saber sofridoNão sabes ainda quanto eu te entendo‖―Ao longo de quarenta anos de carreira, Maria João Franco tem vindo a ser uma intransigente pesquisadora de verdades e de liberdades interiores, não cessando de se transformar, mantendo-se, no essencial, fiel a si mesma.‖ Quem o diz é Álvaro Lobato de Faria, director do MAC – Movimento de Arte Contemporânea ao qual a artista aderiu em 2006, com a exposição ―Mulher e Eu‖, tendo na altura lhe sido atribuído por este Movimento o Prémio Carreira ―MAC´2006‖.Iniciou-se a ―sério‖ nas artes plásticas muito cedo, com 15 anos já frequentava cursos de Artes plásticas. Muito influenciada por uma família cujo universo considera ―mágico‖, com enfoque especial em seu pai – Miguel Franco – reconhecidamente um dos dramaturgos mais
  • 15. importantes da década de setenta em Portugal, pela natureza histórica da sua obra que se confronta então com o espírito do ―regime‖, e pelo seu marido, Nelson Dias, Professor de Desenho e de Pintura da Escola de Belas Artes de Lisboa, artista que deixou uma inestimável obra de qualidade plástica e uma outra criação na área da banda desenhada, que faz igualmente parte da história de Portugal de Banda Desenhada, também relativa à década de setenta. Dois homens que a marcaram profundamente, quer no plano afectivo, no espaço que naturalmente cada um ocupa, quer no seu desempenho artístico, quer na sua consciência social e postura perante a vida e a morte. E como o sofrimento é o alimento do artista, cada título de cada exposição de Maria João Franco é em si, arte: ―A Terra dos Mitos‖― O amanhecer da memória‖, ―Um olhar de Pele‖, "Estórias do Corpo"."Tempo de o Senso e o Ser " ―Lírica do nu entre Sombras‖, "tu vens tão perto...que a distância existe" e poderíamos continuar, porque as exposições foram muitas, estando certos porém que com apenas os seus títulos temáticos, este texto se embelezaria. ―amo-te e os fumos do último atentado ainda não aconteceram amo-te e a luz que nos ilumina não nasceu ainda amo-te, amo-te é a chave do esconderijo dos meus sonhos e a palavra e a senha para entrar de novo no meu canto de hino de novo à alegria.‖ Esta sua notável sensibilidade, realça uma honestidade nas palavras a que não podemos ser indiferentes. É com a mesma honestidade e frontalidade que fala sobre aqueles que considera ― graves problemas‖ que afectam a cultura Portuguesa e mais particularmente as artes plásticas. ―Um dos maiores problemas que os artistas têm que enfrentar são os ―lobbys‖ das galerias. ―A maioria das galerias está exclusivamente vocacionada para vender quadros, e só por esse prisma enaltecem e promovem os ´seus` artistas. Fecham o círculo, apertando-o em torno de um número reduzido de pessoas, algumas efectivamente com qualidade, outras talvez nem tanto, mas assim, fecham-se portas e veta-se à ignorância artistas importantes, por vezes geniais, porque não se encaixam nesse circuito, ou porque estão demasiado embrenhados a produzir obras, ou porque simplesmente não se encaixam‖. E continua – isto é muito grave, porque à sombra desta mecânica se vetam ao desconhecimento valores emergentes, mas também ao esquecimento valores reconhecidos e inequivocamente valiosos para a identidade cultural deste povo.‖Esta
  • 16. frontalidade, como anteriormente demos a entender nasce com a sua convivência familiar. Tal como se lê na sua biografia -―Uma forte ligação triangular "Miguel Franco - Maria João Franco - Nelson Dias " desencadeia no espírito ainda jovem de Maria João Franco o seu sentido de busca, de procura e de pesquisa. Fortemente marcada pelo "expressionismo abstracto" Maria João Franco segue na senda de Nelson Dias a tendência expressionista quer na abstracção, quer na sua passagem para a figuração. Sentindo como fortes expoentes da pintura portuguesa Rocha de Sousa, Gil Teixeira Lopes, Artur Bual, Luís Dourdil, Júlio Pomar, Resende bebe neles a influência tendo em mira o extravasar de uma pintura de emoções contidas num expressionismo lírico de uma sensualidade quase "aquática" ou meramente fluida que adquire os tons da tragédia atlântica nas suas vagas de tombar profundo. A gravura é outra das suas paixões. Mas a esse respeito, a várias vezes premiada (em 1987 o 1º Prémio de Gravura no concurso de gravura integrado nas comemorações do Ano Internacional do Ambiente Setúbal/Beauvais. Ainda em 97 tem o Prémio de Edição na "IV Exposição Nacional de Gravura" Cooperativa de Gravadores Portugueses / Fundação Calouste Gulbenkian – Lisboa) Maria João Franco denuncia a desvalorização e a recusa da maioria das Galerias em aceitar expor gravuras. ―A razão prende-se com o facto da gravura ser mais acessível no preço em relação à pintura a óleo, acrílico ou qualquer outro material. A maioria das galerias teme que o mercado se habitue a adquirir gravuras em detrimento das outras obras que obviamente são mais proveitosas do ponto de vista financeiro.‖Contudo, esta artista plástica reconhece não ser este o único problema ―a reprodução indevida, em série de gravuras – uma desonestidade – transformam as obras em algo que não era suposto – um produto reproduzível e logo menos valioso. Quando se produz gravuras, as chapas devem ser eliminadas – isso nem sempre acontece.‖Quanto ao estado mais geral da cultura em Portugal, é clara a sua posição ― sem cultura não há identidade, e é frágil o apoio, o reconhecimento dos artistas plásticos, e não só, neste país. Muitos, passaram grandes dificuldades, mesmo aqueles que viram o seu talento reconhecido. O que é uma injustiça dolorosa.‖Recapitulando – a dor alimenta a alma do artista A Mãe ‖Estou triste. O sofrimento enegrece-me a alma. Se eu o pudesse abraçar e passar para mim um pouco de tanta tortura. Como o amor de mãe pode tornar-se em tanta angústia. Já foi. A leveza da criança loira a correr pelo jardim. Já foi o calor morno do colo da mãe. Ainda Maio. E a morte ronda a Mãe. O colo já não é morno. O peito já não é terno. A mãe morre devagar e ainda é Maio e o meu amigo sofre. Quanto do amor, quanto da ternura quanto das memórias lhe guarda o corpo. E ainda é Maio...‖ Maria João Franco entrevista por Margarida Neves Pereira para Açoriano Oriental
  • 17. texto de catálogo Ao longo de quarenta anos de carreira, Maria João Franco, tem vindo a ser uma intransigente pesquisadora de verdades e de liberdades interiores, não cessando de se transformar – mantendo-se, no essencial, fiel a si mesma.Maria João Franco perfaz o contorno, realiza o movimento, concretiza a ideia num imaginário pictórico único que lhe atribui um lugar marcante nas artes plásticas portuguesas.A sua arte tem uma estreita relação com o corpo, com o corpo das coisas, com a ideia primeira de matéria mater, que refaz incessantemente numa busca interminável, como se procurasse o princípio e o fim de um todo que sente ser o nosso, mas, na sua pesquisa, anseia sempre por um fim ou princípio outro.Aqui assenta toda a diversidade da sua obra em que o fio condutor submerge e emerge, consentindo e confirmando toda a sua versatilidade como artista plástica, como criativa e autora.No envolvimento cálido e terno nas pinturas que figuram a nossa condição, e que confere harmonia e beleza à trivialidade do quotidiano, sabe-se a vontade e o modo de subtrair riqueza plástica a um seu muito pessoal universo imagético.O grafismo, aqui afirmado como elemento estilístico, afirma a autonomia da cor, que polariza e atrai a fluidez antropomórfica das formas, é na sua obra de uma importância fundamental.Fala-nos pela incidência da cor que transporta e assume o papel de interlocutor entre a obra e o espectador.Estamos agora perante uma artista sem hesitações, de um saber constante e ritmado, onde cada tomada de consciência nos abre o caminho para o seu mundo multidisciplinar, onde cada gesto tem o sabor de uma certeza.A arte de Maria João Franco, extraordinariamente sensível na fluidez da linguagem das formas, na vigorosa materialidade da cor, na força e no encanto da sua evasão e do seu êxtase, é uma fascinante e esplêndida aventura espiritual e técnica.As suas obras, são pois materialização de anseios e de sonhos, notas de realce, na Pintura Portuguesa Contemporânea.A devoção e o grande profissionalismo, a continuidade e o grande empenho que Maria João Franco nos transmite nas suas obras, revelam-nos estar perante uma grande pintora e uma excelente artista, reconhecida não só em Portugal como internacionalmenteEm “tu não aconteces, quando eu te quero” título da exposição que agora nos apresenta, mostra-nos a sua constante evolução, a sua busca sem fadiga, a qualidade intranquila da sua poética,
  • 18. que faz de cada momento uma reencarnação imprevisível, nova uma conquista, um constante enriquecimento.O vigor e qualidade do conjunto destas obras fará, com toda a certeza, que ele ocupe um significativo lugar na excelente pintura que Maria João Franco vem construindo e a que já nos habituou, confirmando o grande talento e sobretudo a surpreendente qualidade técnica e criativa desta grande artista das artes plásticas do nosso país. Álvaro Lobato de Faria Director Coordenador do MAC-Movimento Arte Contemporânea ______________________________________________ tu não aconteces, quando eu te quero não falas ainda, quando eu te escuto, tu não dizes, quanto eu te encontro. Tempos passados de saber sentido Tempos esquecidos de saber sofrido Não sabes ainda quanto eu te entendo .Numa pesquisa, aliada a uma auto reflexão constante do ser/estar criado e recriado, ainda que numa atmosfera imersa, paradigma de todas as realizações encontradas, e não…Que o título da exposição: “tu não aconteces, quando eu te quero” denuncia já a busca incessante do encontro efectivo e afectivo com a “coisa” /”pessoa” amada.O universo plástico em que me situo denuncia-se pelo equívoco meio das ilusões em que as leituras várias se sobrepõem deixando ao espectador o disfarce amplo para as múltiplas e constantes leituras.“tu não dizes, quanto eu te encontro” negação aparente de diálogo com a ”coisa” em que o “quanto” nega ainda o dar a conhecer a infinidade das possibilidades dele mesmo.“não sabes ainda quanto eu te entendo” é o passo anunciado para a próxima realização em que o acto está já contido no “tu não te encontras, quando eu te quero” ,impossibilidade de simultaneidade de actos e realizações de ser e estar afectivo e efectivo.Poema/projecto de formalizaçãoplástica e autobiográfica Maria João Franco Lisboa Março de 2008
  • 19. ―Tu não aconteces, quando eu te quero‖ A obra de Maria João Franco é talvez o último reduto de sensualidade neste mundo cada vez mais individualista e asséptico. É pura poesia que habita na tela, na construção da cor e verbo — na palavra que é indissociável da obra final. Mais do que uma linguagem estética e uma metalinguagem através da palavra a artista criou uma translinguistica que contempla ambas. Uma translinguististica sobre o amor, sobre o corpo, sobre a sensualidade, sobre nós e sobre como nos relacionamos no tocar da pele, sobre o respeito no fogo do prazer, sobre a sacralidade da água que escorre de nós no extâse. ―Tu não aconteces, quando eu te quero‖ é uma exposição sobre a dádiva e a negação no amor. Porque quando amamos e queremos e o outro ser não acontece, morre um pedaço de nós. Ensombra-se a claridade do amor puro e pára o movimento para a frente que o distingue. A Maria João Franco pinta esse jogo de claridade e sombra dos corpos e das almas, conhece dimensões imperceptíveis do amor e estuda o Mistério. Fala-nos de mulheres e homens que não se contentam em ser comuns e tentam ser Deus. Agradeço à Maria João Franco a reverência do amor e a sua arte belíssima Margarida Ruas Gil Costa Lisboa,Março de 2008
  • 20. Insinuações Toda a apresentação plástica tem no gosto do olhar a procura do táctil, do sensual, do amor pelo feito, do amor pela Vida. E a vida é feita de uma ―assemblage‖ de sentidos que se entreolham, se entrelaçam, e se entre amam. Aí reside o ―eros‖ da vida, o sentido erótico da Arte. Os contrastes de luz e sombra acentuam a vontade e o desejo do ―estar‖ e da sua forma. A síntese da representação insinua a vontade de mostrar e de tornar desejável o que lá não está. O gosto da pele, o olhar dirigido pela ausência, procura erotizar precisamente o não representado, mas sim sugerido.
  • 21. A força da vontade, do amor,‖insinuam-se‖ no não directamente representado e oferecem-se ao espectador como um apelo a sentidos ocultos, secretos, digamos, antes, poetizados. Maria João Franco 2008 Corpos e Almas/JL autor:_Prof Pintor Rocha de Sousa Um sentimento de tragédia atravessa a pintura de Maria João Franco. A sua visão do mundo, constrangida pela dor e pelas sombras de que sõ feitas as noites longas do tempo,deixa-nos pressentir fragmentos de corpos nús,talvez destroços de sonhos que se materializaram de forma enovelada e parda. Enfrentamos nesses espaços um conjunto de enquadramentos sumários, na aproximação de cada focagem, de cada pedaço de matéria,de coisa inominável. Não sabemos quase nunca,se nos defrontamos com matérias inorgânicas ou com materiais orgânicos,se a vida passou por ali, entre gritos mutilados e palavras sem voz(...)
  • 22. (...)Os pontos de partida encontram-se parcialmente com os pontos de "chegada", as pinturas rupestres,os sulcos das rochas,e os materiais em extrema diversidade desta civilização autofágica. O drama desta obra parte de si mesma, do modo de a formar, desde a mistura lúdica de vários materiais sem sentido até á grande metáfora do nosso destino cósmico(...) (...) Os fragmentos dos corpos que surgem naquela pintura são vestígios simbólicos, sagrações de um sofrimento absurdo. Bocados
  • 23. de gente ou de deuses, em todos os tempos houve vagabundos e artistas parietais viajando no ciclorama do mundo e aí gravando mensagens premonitórias, a raiva e o amor, a guerra e a paz. Desertos de pedra. rochas que modelamos na cova de um imaginário perturbado portantos milénios de perguntas sem resposta. Eis-nos de novo perante as paredes das cavernas, amassando óxidos e outrs impurezas, riscando ou sobrepondo figuras de um contexto duríssimo. A pintura abstracta de Maria João Franco vai buscar às raízes expressionistas e líricas a massa para um novo começo das coisas, terras, gelos, rochas, a misteriosa simbiose da mistura dos matrais inorgânicos com os orgânicos, água deslizando, sangue a anunciar os sacrifícios iniciais, perante um deus feito à imagem e semelhança de um homem pretérito. Rocha de Sousa in "Jornal de Letras & Artes" sobre a série NOVOS FRAGMENTOS_1998_Galeria Municipal GYMNÁSIO_Lisboa
  • 24. Maria João Franco não tem abandonado aquele sentimento de tragédia que assinalámos no texto CORPOS E ALMAS onde procurávamos apresentar a sua última exposição. Essa atitude da autora ,agora prolongada numa série de desenhos, conserva, salvo as diferenças que as matéris impôem aos materiais, o mesmo espírio de dor e de sombras que a sua pintura trabalhava entre formas enoveladas e pardas. Também aqui não sabemos muitas vezes se bos defrontamos com matérias orgânicas ou com materiais orgânicos, se a vida passou por aí, (1)(...)(ver CORPOS E ALMAS) SEGREDOS DA LINHA E DA SOMBRA
  • 25. Trabalhando por vezes com carvão sobre tela, formando linhas e sombras de uma visibilidade assiduamente agressiva, é a pintura que está na memória desres desenhos, a sua modelação em claro-escuro, a textura que sobeja das matérias sobre os materiais, ou seja: formas ou parte delas começando, pela técnica, pelo modo, a dar corpo a um universo dolorido, emergindo quase sempre do escuro, e no qual podemos paralelamente relacionar corpos nús, bocados deles se respondemos ao apelo que esta obra propõe na exploração do pormenor, detalhe ela também de qualquer batalha perdida, mutilações, a dor e a sombra, apesar dos instantes de luz que parecem revelar mais do que o sono, antes a morte.(...) DESNUDAMENTO DA DOR Fiel a si própria, fiel a uma espécie de luto que paira sobre ela, Maria João Franco não sai deliberadamente desta exploração onde os corpos e os fragmentos nos forçam a diversas encontros da memória contemporânea, desde Treblinka (como referi antes) aos rios empapados de corpos num dos recentes conflitos africanos. Não interessa se isto não se passou assim na cabeça da pintora: se ela não se compromete com títulos das suas dilacerações, nós podemos viajar em liberdade por esta (para mim) colossal desnudamento da dor.
  • 26. (1) Rocha de Sousa/texto Corpos e Almas/prefácio de exposição Rocha de Sousa Jornal de Letras &Artes_2 de Dezembro de 1998 Vai-se ao âmago destas cores, ao seu núcleo mais íntimo e secreto e sente-se a respiração da terra a rebentar nos poros, a vibração nas raízes, a levar
  • 27. estremecimentos de vento até onde o olhar chega. Como explicar o inexplicável? Como dizer o indizível? O fogo e a fúria que habitam estas telas são ancestrais e profundos como a memória das mãos que remexem o húmus, que profanam a quietude da seiva, que rasgam o silêncio dos mitos. A cada cor corresponde a força orgânica de um gesto que tanto pode representar crispação e mágoa com sede de luz, como incontida ânsia de mais espaço, como torrencial desejo de exprimir o inexprimível. Há nestes quadros uma sabedoria antiga, imaterial, que clama por cumplicidade e partilha, por entendimento e entrega. Não se espere deles, porém, que nos franqueie todas as portas e todos os mistérios, que a textura em que se materializem tem muito de ciência alquímica, de saber oculto e perene. Pode bem acontecer que o olhar, ao confrontar-se com a força telúrica destes óleos em revolta, serpenteie pelas arcas da lembrança e encontre a Espanha negra, fragmentos de um universo goyesco, rituais de penitência e de sabedoria trágica. Como explicar o inexplicável? Como dizer o indizível? Há nestas telas a raiva faíscante do traço e o tom lancinante do grito. Cada cor está em trânsito para outra cor. E bem pode ser corpo ou voz, amálgama de braços ou explosão vegetal, novelo de lumes ou espiral de sombras. Cumpre-se nestas telas o mistério supremo da pintura. José Jorge Letria 9 de Maio de 1989 sobre ―Mulher e Eu MAC-Movimento Arte Contemporânea 2006 A pintura (minha) não existe a partir de uma atitude perceptível ou reprodutora.
  • 28. A sua ―fisiologia‖ advém de uma acção sistemática e dinâmica de reconstrução ou reformulação do seu próprio objecto. Adquire forças e vectores que se interligam por uma forma quase autobiográfica. A ―forma‖ visual tem a forma do sentir, do arrancar, do dissociar para reconstruir. Essa dissociação constante, essa reavaliação persistente, essa dinâmica latente contem toda a poética da minha obra. Cada imagem criada conterá já em si o potencial para a sua auto- reconstrução. Isto é um processo mental que me ultrapassa na sua ―mecânica‖. Mas é assim e sistemático, não no acto voluntário, mas no automatismo do desconstruir para reconstruir dentro da mesma identidade, com o distanciamento necessário para a não repetição , acto contínuo descontextualizando-se para se igualar. Não é uma história de repetições mecânicas de formas inventadas. Assisto a uma regeneração constante e imanente de cada forma e imagem ,objecto em si não repetindo-se, mas prolongando-se em séries que se auto determinam pelo modo como são abordadas . Ao libertarem-se das imagens primeiras, criam vida própria, inserta numa sintomatologia própria. Ao atribuir títulos ás séries estou a denotá-las com situações extremas, carentes de análise: -nós os nus e os outros objectos “ -lugar dos desencontros ou os sítios da memória… -tu vens tão perto… que a distancia existe -Mulher e Eu São situações alegóricas a estados do sentimento do estar. O fio condutor destas mensagens passam pela relação necessária existencial entre mim e o mundo, ora inscrevendo-se nele como peça sujeita a todas as
  • 29. manipulações e as memórias percorridas pela sensação de ter estado, até à constatação efectiva da existência de um EU gerador e suficientemente distanciado da ideia para poder discernir. Mulher e Eu é talvez a ponta do iceberg que se desnuda a cada passagem das Horas. Um modo de estar percorrido por toda uma simbologia plástica ligada a uma formalização antropomórfica em que o útil objecto pagão se mistura não alienadamente, nem de forma aleatória com o sagrado. Com um sagrado de sentido universalizante que emana de todos sentidos (sinais) de começo dos mundos… Da Mulher à mulher Das Vénus às Santas De que uma é eleita Virgem. Nada nesta dualidade ―começo e fim‖ de todas as coisas, onde mesmo a Terra tem lugar de Mãe, afirma ou confirma o lugar de ―macho‖. Há sim um universo plástico onde a Forma-Mãe se concebe como principio e fim de todas as CRIAÇÕES.
  • 30. Maria João Franco Maio 2006 Pessoa Sensibilidade, humanismo, inteligência cultura elevada, criatividade, emoção, lágrimas, risos e gargalhadas, grandeza, fragilidades e certezas e dúvidas materializadas na projecção que cada obra, nos seus detalhes, de forma, movimento, cor, luz, claro, escuro, a lua e o sol no seu esplendor, nos fazem perder no sonho, na vida, nas vidas planando na metamorfose constante, que cada pormenor, em cada olharmos faz recriarmo-nos, encontrarmo-nos, enternecer-nos, fascinarmo-nos, na necessidade crescente quase impulsiva de, ao ver e admirar, nos sentirmos também caleidoscópicos, na dança da beleza que nos projecta ao infinito. Tal como a obra, uma mulher que amo pelo que me dá, nos dá, nesta dança melódica que a cada passo me abre e faz sonhar. Obrigado Maria João Marino Tralhão
  • 31. Da existência “sagrada” do não ser. A forma exacta do não estar. O saber de não saber a liberdade. A vida. Na coexistência impossível dos poderes. O jogo. Tabuleiro incompleto nas peças fulcrais. Engrenagem viciada na inércia da volta que implicou uma ideia para além dos processos inelutáveis com que nos deparamos – consequências fatais da nossa condição… (?) O sistema e a Terra este planeta em que o ser homem, se exige a si próprio um “auto – poder” em que se “absurdam” os princípios da coexistência. Afinal a inteligência e os instintos sobrepõem-se de forma plasmada, de tal modo que nos leva a pensar que o instinto e/ou a inteligência se interconjugam E que a lógica do instinto é a verdadeira estrutura mental de defesa da nossa existência. Por absurdo cria-se a lógica da existência e da continuidade no mais primário dos seres e as nossas humanas teorias, tão sabiamente construídas sobre alicerces de medo e de desencontros fatais. Afinal a espiral não tem princípio nem fim. Começa no não começo e ergue-se e caminha e percorre até ao infinito que nos representa e simboliza o desconhecido. Medo de todos os medos. No fim de todas as coisas, onde o átomo e o possível não estar se encontram num sítio que não sabemos… Esta dificuldade em definir o saber que difere do conhecimento – dado adquirido pelo transcorrer das civilizações, universos “ mutandos” e mutáveis; paradigmas de universos que são os patamares dos conhecimentos estratificados. De onde retiramos as possibilidades da razão (causa) da nossa existência sobre a terra a que chamamos Terra. De onde emanam os seres que nos iludem numa forma de céu que é o suposto transponível ilimite do nosso conhecimento.
  • 32. De onde emana a nossa sapiência que é o entendimento do estatuto das coisas que nos rodeiam e não! Maria João Franco 2009 Maria João Franco, Procura e Renovação Como quem se redescobre em insuspeitada pujança, Maria João Franco, nesta série de trabalhos, retoma anteriores percursos e assume uma postura estética que já lhe valeu atenção especial. A grande escala, o gesto largo, aquele seu usual fascínio pelas cidades que brotam, texturadas, em pontos estratégicos da composição, constituem algumas vertentes desta "nova" pintura ou, se quisermos, o outro lado de um "modus operandi" que privilegia a densidade, o peso, e a força como elementos estruturais da sua comunição plástica. No fundo há como que uma evocação de arquétipos que estavam em repouso ou a recuperação de atitudes de que, racionalmente, havia abdicado. A renovação do seu vocabulário pictórico passa, portanto, por uma espécie de regresso às origens e pelo exercício do desenho, ponto de partida para voos mais ambiciosos Acontece-lhe uma figuração que não ulpassando os limites do mate, permanece como suporte de outras descobertas e de uma aventura de consequências sempre imprevisíveis. Pintar, raras vezes foi, como agora, um acto de febril magia, uma fuga parar a frente, um tocar de universos ambíguos e dúcteis nos quais se organiza o caos, se freia a mão e se medita a cor da harmonia, Só então o espaço se divide sem compartimentações estanques, no gerar de sucessivos equilíbrios, na exaltação da luz, na procura de uma fluidez que nos surge, límpida, caligraficamente definida e plena de uma rara monumentalidade Maria João Franco merece destaque no contexto da nossa Arte Actual, Edgardo Xavier _____________________
  • 33. PRODUÇÃO de objectos /produção ARTÍSTICA É uma das características do homem a produção de objectos e na sua factura intervêm componentes de ordem vária que decorrem de intenções diferenciadas. A função de cada um dos objectos produzidos está em estreita ligação com a satisfação de fenómenos de necessidade. Mas há um momento de satisfação não necessária que ultrapassa o sistema de necessidades elementares. A produção de objectos com arte é a primeira fase de ultrapassagem do sistema de necessidades primário. O objecto – por vezes estético – (por vezes ético) é ultrapassado na sua intenção com o decorrer do tempo e surge um significado-outro, desligando-o do referente (real ou imaginário) que lhe estava na base. No fundo, quando o objecto perde função imediata, torna-se objecto de contemplação e surge como obra de arte, quando ele não representa, de facto, e antes de mais, um determinado estádio de evolução do homem, não no sentido plástico, mas no sentido de relação homem-natureza. O que acontece é que os objectos que perderam função são hoje sublimados, no sentido de se situarem de se situarem no plano de organizações sígnicas representativas de estádios de civilização diferentes: é sempre sinal da
  • 34. passagem do homem sobre o mundo e da sua vitória sobre os materiais, no sentido em que os domina e lhes dá forma. E é só nesse sentido que podemos dizer que tudo o que o homem faz tem um carácter estético. O homem, na sua necessidade natural, como ser gregário, e, individualmente, como ser dominador, manipulador, tende a dar forma a todas as suas acções. É nessa tendência que está implícita uma estética – e dela surgirá porventura o fenómeno artístico ou para-artístico Os vários conceitos de arte estiveram sempre dependentes do binómio ―forma-função‖. Na medida em que a função se vai sobrepondo à forma criam-se objectos estéticos – as sub-categorias de objectos – que ao abrirem um novo espaço formal tentaram introduzir-se no campo da arte. O pressuposto estético fica aquém do artístico e a apologia da norma e do funcional Torna-se perfeitamente apologética, como consequência daquilo que lhe falta: a dinâmica poética. A obra de arte não resulta de conceitos estéticos, mas da própria vida: justifica-se a si própria na sua capacidade ambivalente de a assimilar e projectar. Contudo, a capacidade expressiva de um objecto não e forçosamente índice de fenómeno artístico. Ela surge muitas vezes por empatia perceptual imposta por ditaduras de gosto. Por isso a arte favorece o diletantismo ―estético‖ e o snobismo cultural. E os seus agentes na sua anciã de auto promoção subsidiam intelectualmente e não só a produção maciça de objectos para – estéticos. O fenómeno artístico esta mais ligado ao que esta subjacente ou supra jacente a fisicidade do objecto. E esta aqui o fulcro do problema: o fenómeno artístico surge quando, a partir de uma concepção e uma determinada execução de técnica se introduz no mundo um mundo que nele não existia. O artista não enfeita a sociedade, antes a completa, e essa complementaridade, se incomoda, tanto melhor… Confrontamo-nos hoje, com efeito, com uma crise que em si, e por sua vez, se confronta com a ideia de que o saber manipular os materiais é sinal de estatuto artisticamente inferior. Corresponde socialmente a uma atitude de desprezo pelo trabalho manual assumido como saber. Certas correntes actuais, bastante na linha deste pensamento, contradizem- se, na medida em que consideram já o objecto artístico o simples acto do fazer (puro acto lúdico), desprezando a partida o acto de dominar o fazer, em função do conceber. Não se trata de trabalho, mas de simples imitação de
  • 35. trabalho. O truque só é eficaz enquanto esconde o artifício. A displicência da factura e o desprezo acintoso pela estrutura artificializa esta, na medida em que a transforma de suporte da imagem em imagem em si mesma. Ao simular como autentica a atitude, o objecto concretiza-a, mas esvazia-se como finalidade artística. Este esteticismo apriorístico e normativo que contraditoriamente se apresenta como anti-norma, funcionaliza o objecto tornando-o ilustrativo da teoria e da moda, retira-lhe finalidade intemporal, torna-se simples exemplo de uma teorização estética, mas afasta-o da arte, pois que a obra de arte, enquanto produto humano não pode, não deve tornar-se simplesmente imitação de si própria. Se a arte começou por reflectir uma tentativa de o homem dominar a Natureza, imitando a sua vitória, caminhou para a imitação da Ideia, para a imitação da Natureza ou como processo representacional de imitação do homem, passando inclusivamente pela representação da sua realidade interior. Sob pressão d estéticas normativas algumas correntes actuais tentam a imitação do fazer: no fundo, assistimos a casos em que os artistas se limitam obsessivamente a imitarem-se a si próprios. E isto porque os valores de mercado, a assinatura tornada objecto de consumo como sinal de troca valor- signo de estatuto social, as conexões estabelecidas a partir de relações confusas entre os conceitos de objecto estético e objecto artístico, a indefinição falaciosa com que a crítica de arte mal autorizada faz eleger a ―objecto de arte‖ uma qualquer moda ditada pelas associações internacionais de críticos, faz com que a história da arte hoje corra o risco de ser a história dos êxitos fracassados a curto prazo. Muitas das obras actuais serão, com toda a certeza encaradas no futuro como ―cheques sem cobertura‖, O objecto artístico contemporâneo é hoje extremamente difícil de definir, de tal modo o conceito de ―arte‖ tem sido alargado e empobrecido. Digamos antes que de conceito se passou ―pré-conceitos‖. Parece haver aqui uma contradição; mas se considerarmos que o pré-conceito se baseia em falsos valores, eles próprios não autorizam a formulação de qualquer espécie de conceito, Pois até o conceito de ―conceito‖ não existe, porque não há critério que defina o campo em que determinado objecto se coloca e se oferece à análise. Será o entendimento do fenómeno artístico que limpará o terreno e definirá o que é arte hoje. Mas antes haverá que estabelecer uma deontologia da critica do nosso tempo. Maria João Franco Lisboa, Julho 1987
  • 36. A pintura de Maria João Franco remete-nos para o drama da condição humana, afinal, o "criptotema", sempre presente na grande Pintura ou na grande Arte. Que coisa oculta há com a existência do tempo e com a existência da vida, que inevitavelmente tem que acabar. A incomodidade (para não dizer revolta) de termos um corpo que se vai estragando e que, muitas vezes, é mesmo violentado, como a mente é também violentada. Então, para quê representar "bem" e com todos os contornos, o que se vai estragar ? Para quê, representar com rigor ou pormenor, toda a destruição ? Todos a adivinham. O conceito de beleza evoluiu ao longo do tempo. Depois de Picasso, os adjectivos mudaram muito e o "belo" foi desaparecendo, em favor do "bom". Diz-se: - Isto é muito "bom", é boa Pintura, é bom trabalho. O trabalho pressupõe esforço, desgaste. O "bom", é a boa prestação, feita com a consciência de que inclui o esforço e toda a tragédia da condição humana. Reflecte a contradição, bem e mal, presentes, em simultâneo na natureza humana Porto,2006 António José Pinto Pereira Arquitecto
  • 37. selecção de textos : Prof. Rocha de Sousa Pintor Edgardo Xavier Maria João Franco em 30 de Outubro de 2011 + info www.mariajoaofranco.blogspot.com