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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
    ESCOLA DE EDUCAÇÃO FÍSICA E ESPORTE
        DEPARTAMENTO DE ESPORTE




ASPECTOS BIOMECÂNICOS DO ANDAR E
   DO CORRER EM MEIO AQUÁTICO



              Mário Hebling Campos




                 SÃO PAULO
                    2001
ASPECTOS BIOMECÂNICOS DO ANDAR E
   DO CORRER EM MEIO AQUÁTICO



            MÁRIO HEBLING CAMPOS




                    Monografia apresentada ao Departamento de
                  Esporte da Escola de Educação Física e Esporte da
                  Universidade de São Paulo, como requisito parcial
                  para obtenção do grau de Bacharel em Esporte.




     ORIENTADOR: PROF. DR. MARCOS DUARTE
SUMÁRIO

                                                                                                               Página
LISTA DE FIGURAS.............................................................................................ii
LISTA DE TABELAS.............................................................................................iv
RESUMO...............................................................................................................v

1        INTRODUÇÃO .......................................................................................... 5

1.1      Objetivos.................................................................................................... 6

2        REVISÃO DA LITERATURA..................................................................... 7

2.1      Parâmetros biomecânicos para a análise do movimento humano........... 7
2.1.1 Dinamometria ............................................................................................ 7
2.1.2 Eletromiografia .......................................................................................... 8
2.1.3 Antropometria............................................................................................ 9
2.1.4 Cinemetria ................................................................................................. 9
2.2      Caracterização do movimento em ambiente aquático e terrestre .......... 11
2.2.1 Caracterização da Marcha e Corrida em ambiente terrestre.................. 12
2.2.2 Propriedades físicas da água.................................................................. 16
2.2.3 Aspectos biomecânicos da realização de exercícios em meio
         aquático ................................................................................................... 21
2.2.4 Aspectos fisiológicos da realização de exercícios em meio aquático .... 29
2.3      Considerações complementares............................................................. 30

3        Conclusão................................................................................................ 33

         REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS........................................................ 34
1




                               LISTA DE FIGURAS


                                                                               Página


FIGURA    1 - REPRESENTAÇÃO           ESQUEMÁTICA DA POSIÇÃO DOS MEMBROS

         INFERIORES DURANTE O CICLO COMPLETO DO ANDAR               -   PASSADA,

         DIVIDIDOS EM DUAS FASES, APOIO E BALANÇO E SEIS SUB-FASES,

         SENDO, CONTATO DO CALCANHAR, PÉ APLANADO, MÉDIO APOIO,

         RETIRADO DO CALCANHAR, RETIRADA DOS DEDOS MÉDIO BALANÇO,

         (ADAPTADO DE ALLARD, 1995).                                               13
FIGURA   2 - REPRESENTAÇÃO           ESQUEMÁTICA DA POSIÇÃO DOS SEGMENTOS

         INFERIORES DURANTE O CICLO COMPLETO DA CORRIDA, DIVIDIDA EM

         TRÊS      FASES    APOIO,   FLUTUAÇÃO    E   BALANÇO   (ADAPTADO    DE

         ADELAAR, 1986).                                                           14
FIGURA   3 - EXEMPLO        TÍPICO DA VARIAÇÃO ANGULAR DA ARTICULAÇÃO DO

         JOELHO EM FUNÇÃO DA PORCENTADEM DO CICLO DA PASSADA PARA A

         MARCHA, CORRER E CORRER EM ALTA VELOCIDADE.                QUANDO    O

         ÂNGULO É ZERO, O JOELHO ESTÁ EM EXTENSÃO MÁXIMA (ADAPTADO DE

         ENOKA, 2000).                                                             15
FIGURA 4 - EXEMPLO         TÍPICO DE FORÇA VERTICAL DE REAÇÃO DO SOLO EM

         FUNÇÃO DO TEMPO COMPARANDO A MARCHA                  (CAMINHADA)   E O

         CORRER (ADAPTADO DE ENOKA,         2000).                                 16
FIGURA 5 - FORÇA DE REAÇÃO DO SOLO EM SITUAÇÃO ESTÁTICA E DURANTE O
         ANDAR      EM     DIFERENTES   NÍVEIS   DE   IMERSÃO   (ADAPTADO    DE

         HARRISON ET AL.1992).                                                     17
FIGURA 6 - A) MODELO        DA PERNA HUMANA;     B) PRÓTESE   COM “HIDRO BOOT”

         PARA AUMENTAR A ÁREA DO SEGMENTO (ADAPTADO DE            POYHONEN
         ET AL.   2000),                                                           19
FIGURA 7- A) FORÇA DE ARRASTO DURANTE EXTENSÃO DO MODELO DA PERNA
         EM FUNÇÃO DO ÂNGULO DO JOELHO;          B) FORÇAS DE ARRASTO PARA O
         MODELO DA PERNA COM O HYDRO-BOOT (ADAPTADO DE            POYHONEN
         ET AL.,   2000)                                                           20
2




FIGURA 8 - A) COEFICIENTE     DE ARRASTO DURANTE EXTENSÃO DO MODELO DA

         PERNA EM FUNÇÃO DO ÂNGULO DO JOELHO;             B) COEFICIENTE      DE

         ARRASTO PARA O MODELO DA PERNA COM O HYDRO-BOOT (ADAPTADO

         DE POYHONEN ET AL.,        2000)                                          20
FIGURA 9 - ILUSTRAÇÃO DA PRÁTICA DO “WATER RUNNING”,         DEMONSTRAÇÃO DA

         TÉCNICA UTILIZADA NO MOVIMENTO EVIDENCIANDO A PROXIMIDADE

         COM A CORRIDA EM MEIO TERRESTRE (ADAPTADO DE HAMER,              1995).   21
FIGURA 10 - VARIAÇÃO        ANGULAR   (ELGON)    DA ARTICULAÇÃO DO JOELHO EM

         DUAS SITUAÇÕES:     A)   ANDAR EM AMBIENTE TERRESTRE E    B) ANDAR EM
         AMBIENTE AQUÁTICO.        OS   VALORES APRESENTADOS NAS FIGURAS

         FORAM CALCULADOS ATRAVÉS DOS SINAIS OBTIDOS DE SEIS SUJEITOS

         REALIZANDO    12   PASSADAS CADA.   O   GRÁFICO É COMPOSTO POR DUAS

         PARTES:   A   SUPERIOR APRESENTA A MÉDIA INTER-INDIVÍDUOS DA

         VARIAÇÃO ANGULAR E RESPECTIVOS DESVIOS PADRÕES.              A    PARTE

         INFERIOR MOSTRA OS VALORES MÉDIOS DO           CV   DURANTE O CICLO

         COMPLETO DA PASSADA (0-100%)        (ADAPTADO DE ERVILHA, 1999).          23
FIGURA 11 - EXEMPLO     DE FORÇA VERTICAL DE REAÇÃO DO SOLO E VARIAÇÃO

         ANGULAR DAS ARTICULAÇÕES DO MEMBRO INFERIOR.         ÁREAS   ESCURAS

         REPRESENTAM A FASE DE APOIO SIMPLES PARA CADA CONDIÇÃO

         ILUSTRADA (ADAPTADO DE YAMAMOTO ET AL.,          1995).                   27
FIGURA    12- EXEMPLO       TÍPICO DE FORÇA DE REAÇÃO DO SOLO E SINAL

         ELETROMIOGRÁFICO RETIFICADO DURANTE O ANDAR EM AMBIENTE

         TERRESTRE E AQUÁTICO EM VELOCIDADE RÁPIDA E LENTA (ADAPTADO

         DE YANO ET AL.,1995).                                                     29
FIGURA 13 – FORMAS      ALTERNATIVAS DE ORGANIZAÇÃO E EXERCITAÇÃO EM

         CORRIDA NA ÁGUA.(ADAPTADO DE BARBOSA,           1998).                    32
3




                       LISTA DE TABELAS

                                                                                Página



TABELA 1 - VALORES    REFERENTES   ÀS   AMPLITUDES         ARTICULARES         DA

       ARTICULAÇÃO DO JOELHO, OBTIDOS ATRAVÉS DO ELETROGONIÔMETRO

       DURANTE O CICLO COMPLETO DA PASSADA EM AMBIENTE TERRESTRE E

       AQUÁTICO (ADAPTADO DE ERVILHA,   1999)......................................... 26
4




                                   RESUMO



     ASPECTOS BIOMECÂNICOS DO ANDAR E DO CORRER EM MEIO

                                   AQUÁTICO



                         Autor: MÁRIO HEBLING CAMPOS

                      Orientador: PROF. DR. MARCOS DUARTE



        Um importante componente na reabilitação de atletas lesionados é a
manutenção     dos   níveis   de   condicionamento      cardiovasculares.   Mais
recentemente a prescrição de corrida e marcha em água rasa e profunda está
sendo realizada como complementação no treinamento específico de muitos
atletas. Nesse contexto, existe um grande interesse no estudo do movimento
humano dentro da água, uma vez que o meio já é utilizado como de valor
terapêutico na recuperação de atletas lesionados e até mesmo no treinamento
de atletas sadios, devido à diferentes propriedades mecânicas que oferece. O
objetivo desse trabalho é o de analisar os aspectos biomecânicos do andar e
do correr em meio aquático. Esta monografia se propõe a fazer um
levantamento bibliográfico sobre o tema sob aspectos biomecânicos apoiados
em aspectos fisiológicos, comparando a marcha e a corrida humana em
ambiente terrestre, águas profundas e águas rasas. Com isso pretende-se
aglutinar e organizar parâmetros determinados por dados científicos,
principalmente da biomecânica, para a orientação e recomendação do treino de
atletas no meio líquido. Através do levantamento bibliográfico a respeito de
aspectos biomecânicos do andar e do correr em meio aquático,            pode-se
perceber que ainda não se tem grande quantidade e qualidade de bons
trabalhos a respeito desse tema. Existe uma gama muito maior de trabalhos a
respeito de variáveis fisiológicas sobre o water running.
5




1. INTRODUÇÃO

       Um importante componente na reabilitação de atletas lesionados é a
manutenção dos níveis de condicionamento cardiovasculares. A natação e o
ciclismo vem sendo utilizados já a muito tempo, na recuperação de atletas que
apresentam lesões do aparelho locomotor, de modo a evitar atividades de alto
impacto, e propiciando a manutenção ou desenvolvimento de elevados níveis
de condicionamento. Mais recentemente a prescrição de corrida e marcha em
água rasa e profunda está sendo realizada como complementação no
treinamento específico de muitos atletas (ZULUAGA, 1995). Muito comentado
entre os profissionais que já se utilizam do “water-running” é o fato de que,
assim como o alongamento, musculação, dentre outros a corrida e a marcha
na água tende a se tornar uma ferramenta imprescindível para o
aperfeiçoamento   das    capacidades    físicas   básicas   e   ou    específicas,
dependendo da modalidade esportiva.
       Pelas razões citadas anteriormente, dentre outras, há uma crescente
preocupação em se estudar o comportamento do movimento humano quando
em interação com diferentes meios ambientes. Nesse contexto, existe um
grande interesse no estudo do movimento humano dentro da água, uma vez
que o meio já é utilizado como de valor terapêutico na recuperação de atletas
lesionados e até mesmo no treinamento de atletas sadios, devido à diferentes
propriedades mecânicas que oferece.
       A partir de uma revisão bibliográfica a respeito de estudos que
relacionem   variáveis   biomecânicas    sobre    o   padrão         da   atividade
eletromiográfica e da variação angular da articulação do joelho durante a
locomoção em diferentes meios ambientes, pode-se ampliar o entendimento
de como o sistema nervoso exerce o controle sobre o movimento humano.
      É fato que quase a totalidade dos estudos do movimento humano em
ambiente aquático se preocupam com parâmetros fisiológicos e não
mecânicos; ou seja, há uma vasta literatura à respeito dos efeitos do meio
aquático e também de exercícios realizados no mesmo, em relação à pressão
arterial (McMURRAY, FIESELMAN & AVERY, 1988), ritmo cardíaco (BUTTS,
6




TUCKER & GREENING, 1991), gasto energético (GLEIN & NICHOLAS, 1989)
e respostas metabólicas ao meio (BISHOP, FRAZIER, SMITH & JACOBS,
1989). Quanto a estudos que relacionem variáveis biomecânicas como força de
reação do solo, estimativas de momento de força articular, eletromiografia, e
outras, percebe-se que há certa carência de estudos nesse sentido, muito
embora, há muito tem-se divulgado os benefícios da reabilitação e do
treinamento esportivo em ambiente aquático e suas vantagens como um meio
que, por um lado, oferece menor impacto durante as fases de apoio e por
outro, exige maior força propulsiva do aparelho locomotor para que a força de
resistência da água seja vencida (HARRISON, HILLMAN & BULSTRODE,
1992).


1.1   Objetivos


         O objetivo desse trabalho é o de analisar os aspectos biomecânicos do
andar e do correr em meio aquático. Esta monografia se propõe a fazer um
levantamento bibliográfico sobre o tema sob aspectos biomecânicos apoiados
em aspectos fisiológicos, comparando a marcha e a corrida humana em
ambiente terrestre, águas profundas e águas rasas.
         Com isso pretende-se aglutinar e organizar parâmetros determinados
por dados científicos, principalmente da biomecânica, para a orientação e
recomendação do treino de atletas no meio líquido.
7




2. REVISÃO DA LITERATURA


1.2   Parâmetros biomecânicos para a análise do movimento humano


       A Biomecânica do movimento busca explicar como as formas de
movimento dos corpos de seres vivos acontecem na natureza a partir de
parâmetros cinemáticos e dinâmicos (ZERNICKE, 1981). Dada a grande
diferença de sua abordagem e alvo, a biomecânica pode ser dividida em
interna e externa. A biomecânica interna preocupa-se com as forças internas,
com as forças transmitidas pelas estruturas biológicas internas do corpo tais
como forças musculares,      forças exercidas sobre os tendões, ligamentos,
fáscias, ossos, cápsulas e cartilagens articulares (AMADIO & DUARTE, 1996).
Pela óbvia dificuldade metodológica de se acessar o comportamento
biomecânico    de   estruturas   internas   dos   sistemas   biológicos,   a   sua
parametrização, em termos de variáveis biomecânicas internas torna-se
extremamente dependente de medições de variáveis biomecânicas externas ao
organismo, ou seja, as medições são feitas exteriormente, ou por equações de
estimação. “A biomecânica externa representa aqueles parâmetros de
determinação quantitativa e ou qualitativa referente as mudanças de lugar e
posição do corpo humano em movimentos esportivos, com auxílio de medidas
descritivas cinemáticas e dinâmicas (por ex. Trajetória, velocidade, aceleração,
força, etc...). Ou seja, referem-se às características observáveis exteriormente
na estrutura do movimento” (AMADIO, 1989).
       Os métodos através dos quais a biomecânica aborda as diversas formas
de movimento são a dinamometria, eletromiografia, antropometria e cinemetria.


1.2.1 Dinamometria


        “Para medir as forças exercidas por um corpo sobre outro,
necessitamos de um equipamento apropriado, denominado transdutor de força,
que dá sinais elétricos proporcionais à força aplicada. Temos como exemplo o
“Strain-gage” que, através de deformação no metal, nos fornece a força que
8




está sendo submetido o local onde o mesmo encontra-se aplicado” (AMADIO,
1989).
          A definição do conceito de força, sob o aspecto físico, somente pode
ser interpretada a partir de sua ação, e assim, podemos interpretar seus efeitos
estático e dinâmico (AMADIO, 1989). É por meio da dinamometria, que engloba
todos os tipos de medidas de força e ainda de distribuição de pressão, que
podemos interpretar as respostas de comportamentos dinâmicos e estáticos do
movimento humano. Nesse aspecto, os transdutores de pressão trouxeram
incontestáveis contribuições para o controle do erro experimental e para a
possibilidade de avaliação dinâmica da força (AMADIO & DUARTE, 1996).
          As plataformas de força fornecem a força de reação do solo na
superfície de contato durante a fase de apoio do movimento. A força de reação
do solo é representada em forma de vetores, em função da variável tempo,
considerando-se     sua   ação   tridimencional   (1   componente   vertical,   1
componente antero-posterior e um componente médio-distal). A plataforma de
força é ligada a um amplificador de sinais, amplificadores de soma e de divisão
de sinais que são conectados e programados automaticamente (AMADIO,
1989).


1.2.2 Eletromiografia


         A Eletromiografia (EMG) que é o estudo da função muscular por meio da
análise do sinal elétrico emanado durante as contrações musculares tem sido
utilizada largamente para o estudo do movimento humano, uma vez que
permite um fácil acesso ao processo fisiológico que leva o músculo a gerar
força e produzir movimento (BASMAJIAN & De LUCA, 1985).
         “Em geral existe uma relação entre a força muscular e a atividade do
eletromiograma, isto é, a força muscular, durante a contração, depende da
excitação que os eletrodos indicam. Esse nível de excitação corresponde à
força muscular exercida” (AMADIO, 1989).
                 Segundo AMADIO (1989), a eletromiografia pode contribuir
para que se responda algumas questões de análise do movimento, como por
9




exemplo, quais os músculos ativos durante um movimento e qual a relação
temporal da tensão muscular entre o músculo, isoladamente, com o grupo
muscular em atividade. Em outras palavras, através do padrão de movimento
no eletromiograma pode-se investigar o que é de especial importância para a
prática do movimento.

        Em seu trabalho AMADIO (1989), apontou algumas limitações que a
eletromiografia apresenta. 1) Os movimentos esportivos são perturbados pelos
eletrodos, cabos e equipamento de telemetria. 2) Existem dificuldades na
determinação dos pontos anatômicos musculares para a fixação dos eletrodos.
Apesar de existir uma padronização do procedimento para a fixação dos
eletrodos, constatou-se, na prática, diferenças da estrutura morfológica dos
testandos, isto é, para cada indivíduo foi necessário estabelecer um novo ponto
de transmissão. Disso pode-se concluir que para a utilização dessa técnica é
necessário alguma experiência. 3) Os eletrodos transmitem sinais de grandes
áreas musculares, que não podem ser exatamente definidas, de modo que
podem ocorrer interferências de músculos vizinhos. Existe, portanto, o perigo
de que sejam transmitidos potenciais de ação que não pertençam ao grupo
muscular em questão. 4) Deve-se ainda salientar que interferências no sinal
eletromiográfico podem ocorrer em função da freqúência de transmissão
telemétrica ou mesmo por causa de eletrodos mau fixados, que possibilitam
apenas um registro insuficiente ou até falso do potencial de ação.



1.2.3 Antropometria


      A Antropometria preocupa-se em determinar características físicas do
corpo humano, tais como as dimensões, formas geométricas de segmentos,
distribuição de massa, braços de alavanca, posicionamento de eixos
articulares, etc., definindo então um modelo antropométrico, contendo
parâmetros necessários para a construção de um modelo biomecânico da
estrutura analisada.


1.2.4 Cinemetria
10




       A Cinemetria estuda o comportamento cinemático do modelo definido
pela Antropometria.
       Os pesquisadores biomecânicos dispõem de uma ampla gama de
equipamentos para estudar a cinemática do movimento humano. Os fotógrafos
começaram a utilizar câmeras no estudo do movimento humano e animal
durante o final do século XIX. Um famoso fotógrafo dessa época foi Eadweard
Muybridge. O fotógrafo utilizava-se de uma série de câmeras com um
dispositivo com o qual se podia captar lances seriados de cavalos trotando e
galopando.   Produziu   documentação   científica   também   a   respeito   de
movimentos humanos de grande importância (HALL, 2000).
       Hoje, os analistas possuem equipamentos que possibilitam uma
análise quantitativa em filme ou vídeo com câmeras ligadas ao computador,
que torna possível o cálculo das estimativas das quantidades cinemáticas de
maior interesse na filmagem (HALL, 2000). Devido a enorme disponibilidade,
durabilidade e da facilidade de utilização das modernas câmeras de vídeo e
das unidades de repredução, o vídeo é hoje o meio cinematográfico mais
comum usado para análise qualitativa do movimento. O vídeo padronizado,
proporciona 30 quadros resolúveis por segundo, o que é suficiente para a
maioria das aplicações qualitativas do movimento humano. Cientistas que
realizam um estudo detalhado da cinemática do movimento humano
necessitam tipicamente de uma câmera de vídeo e de uma unidade de
reprodução mais sofisticadas com velocidades mais altas de captação dos
quadros. No entanto, tanto para análise qualitativa quanto quantitativa, uma
informação que adquire maior importância que a velocidade da câmera é a
clareza das imagens captadas. O obturador torna possível o controle do
usuário do tempo de exposição, ou período de tempo durante o qual o
obturador fica aberto quando está sendo obtido cada quadro no registro em
vídeo. Essa câmera com velocidade do obturador corretamente regulada é
necessária para gerar imagens claras e nítidas dos movimentos rápidos,
independentemente da velocidade de captação dos quadros (HALL, 2000).
      Outra consideração importante a respeito da análise do movimento com
vídeo é o de que os movimentos ocorrem em três dimensões, ou seja em três
11




planos (sagital, transversal e frontal). Isso indica a utilização de mais de uma
câmera para uma posterior reconstrução do movimento tridimensionalmente. O
número de câmeras e seus posicionamentos devem ser previamente
estudados para cada tipo de movimento, de modo a garantir que todos os
gestos sejam visualizados e registrados com exatidão para permitir uma
análise detalhada.
          Existem outros tipos de tecnologias para aplicações que envolvam a
análise cinemática do movimento. Esses sistemas permitem que se faça, em
tempo real, o rastreamento de alvos que consistem em minúsculas luzes
elétricas, conhecidas como diodos emissores de luz (LEDs, de light-emitting
diodes) ou marcadores eletromagnéticos, que podem ficar presos na pele,
estabelecendo regiões que representem os eixos articulares ou outros pontos
de interesse. Câmeras especiais ligadas a um computador permitem o
rastreiamento desses alvos.
          A combinação de células fotoelétricas, feixes luminosos e cronômetros
podem ser utilizados para medir diretamente a velocidade do movimento.
          O goniômetro manual usado para determinar o ângulo presente em uma
articulação existe também em uma versão eletrônica, conhecida como
eletrogoniômetro ou elgon. O centro do elgon é posicionado sobre o centro de
rotação da articulação a ser monitorizada e seus ramos alinhados e presos
firmemente sobre o eixo longitudinal dos      segmentos corporais adjacentes.
Com a movimentação da articulação, o influxo elétrico proporciona um registro
contínuo do ângulo presente na articulação (HALL, 2000).
          Outro sistema de monitorização do movimento é o acelerômetro que é
um transdutor usado para mensuração direta da aceleração do local em que é
fixado.


1.3   Caracterização do movimento em ambiente aquático e terrestre


       Há uma grande quantidade de parâmetros, já descritos na literatura, com
os quais se pode caracterizar e interpretar a marcha e a corrida humana. A
descrição é feita através da apresentação de variáveis cinemáticas, como por
12




exemplo, velocidade, aceleração e variação angular das articulações e de
pontos específicos como o centro de gravidade. Também são considerados
parâmetros como a amplitude e dimensão da passada, tempo de contato com o
solo durante o ciclo completo da passada e acelerações e deslocamentos de
segmentos do corpo, além da apresentação de variáveis cinéticas, tais como
força de reação do solo em seus três eixos de movimento, estimativa de
valores de forças internas aplicadas ao sistema ósteo-articular, momentos de
força articular, potência de força gerada e absorvida (ERVILHA, 1999).
      Segundo BRUNIERA (1994), os movimentos de locomoção são
altamente variáveis, não somente entre indivíduos, mas para um mesmo
indivíduo a diferentes velocidades e de apoio para apoio. Além disso, é um
processo complexo que necessita de um elaborado controle do sistema
musculo-esquelético e sistema nervoso. Conclui-se então que a locomoção não
é um único fenômeno, mas muitos fenômenos interligados, constituindo-se um
movimento de estrutura complexa para análise e interpretação. Embora duas
pessoas não possam se mover de maneira idêntica, existem certas
características da locomoção que são universais, e estes pontos similares
servem como base para a descrição cinemática, dinâmica, atividade muscular
entre outras.


1.3.1 Caracterização da Marcha e Corrida em ambiente terrestre


        O andar e o correr são descritos na literatura basicamente através de
parâmetros como variação angular dos segmentos (membros do corpo humano
ou modelos desses) envolvidos na realização do movimento, variação do sinal
eletromiográfico de músculos     que atuam na realização do movimento, e
distribuição de pressão estimada ou medida diretamente. Todas essas
variáveis, como citado anteriormente, são descritas em função do total
percentual do ciclo da passada e podem ser observadas sob diferentes
perspectivas (planos sagital, frontal e occipital). São, geralmente, criados
gráficos para demonstrar essa variação em função do total do ciclo, ficando as
13




variáveis no eixo vertical (Y), e o instante do ciclo ou tempo no eixo horizontall
(X).
        NOVACHECK (1998) realizou uma revisão da literatura em busca de
parâmetros biomecânicos para a análise do ciclo de passadas na corrida e
marcha humanas, descrevendo suas fases e etapas. Segundo o autor, o ciclo
da passada se inicia no momento em que um dos pés toca o chão e termina
quando o mesmo o toca novamente.
        Duas são as fases consideradas para o movimento por todos os
autores. Uma fase de contato do pé com o solo (fase de acomodação ou apoio
de posição) e outra em que o pé não está em contato com o solo (fase de
oscilação ou balanço). Em relação a marcha, a maioria dos autores
apresentam pelo menos 4 subdivisões ou etapas para a fase de apoio e 3 para
a de oscilação. As subdivisões da fase de apoio segundo ALLARD (1995) são:
contato do calcanhar com o solo, pé plantado, médio apoio e retirada do
calcanhar. As subdivisões da fase de balanço são: retirada do dedo (perda de
contato do hálux com o solo), médio balanço e contato do calcanhar.



                              Fase de Apoio                 Fase de Balanço




             contato       pé      médio    retirada   retirada    médio     contato
                do      aplanado   apoio       do         do      balanço       do
            calcanhar                      calcanhar    dedo                calcanhar




FIGURA     1 - Representação esquemática da posição dos membros
              inferiores durante o ciclo completo do andar - passada,
              divididos em duas fases, apoio e balanço e seis sub-fases,
              sendo, contato do calcanhar, pé aplanado, médio apoio,
              retirado do calcanhar, retirada dos dedos médio balanço,
              (adaptado de ALLARD, 1995).
14




       O ponto limite entre o correr e o andar está no momento em que a fase
de duplo apoio (os dois pés tocam o chão) dá lugar a duas fases de flutuação
em que nenhum dos pés toca o chão. Quanto maior a velocidade de translação
do sujeito, menor será o tempo proporcional da fase de apoio ou acomodação,
em relação com o total da passada. O tempo em que a parte anterior do pé (os
dedos) demora para desencostar do chão também diminui com o aumento da
velocidade de corrida. De acordo com os estudos do autor, o momento em que
o pé perde o contato com o chão ocorre a 39% do total na corrida e 36% no
esprinte (correr com o máximo de aceleração e velocidade). Outros estudos
com atletas velocistas de alto nível demostraram que esse tempo pode ser
diminuído para 22% no esprinte (NOVACHECK, 1998).




FIGURA    2 - Representação esquemática da posição dos segmentos
            inferiores durante o ciclo completo da corrida, dividida em
            três fases apoio, flutuação e balanço (adaptado de
            ADELAAR, 1986).
15




FIGURA 3 - Exemplo típico da variação angular da articulação do joelho
           em função da porcentadem do ciclo da passada para a
           marcha, correr e correr em alta velocidade. Quando o ângulo
             é zero, o joelho está em extensão máxima (adaptado de
             ENOKA, 2000).



        Na FIGURA 3 observa-se variação angular da articulação do joelho em

função da porcentadem do ciclo da passada para a marcha, correr e correr em

alta velocidade.

        Ilustra-se na FIGURA 4 o comportamento da força vertical de reação
do solo em função do tempo comparando a marcha (caminhada) e o correr.
16




FIGURA 4 - Exemplo típico de força vertical de reação do solo em função
           do tempo comparando a marcha (caminhada) e o correr
             (adaptado de ENOKA, 2000).


1.3.2 Propriedades físicas da água


       Para que se possa entender o comportamento do corpo humano em
ambiente aquático, é preciso saber a respeito de suas propriedades físicas
como empuxo, tensão superficial, forças resistivas e propriedades térmicas.
       Segundo DUARTE (2001), o empuxo é a força exercida pela água com
intensidade igual ao peso do volume de água deslocado pelo corpo submerso
(ou parcialmente submerso) e com direção igual da força peso mas com
sentido contrário (para cima). Para um corpo parado a força total que atua
sobre ele é o peso do corpo menos a força empuxo. O resultado desta
diferença pode ser chamado de peso aparente do corpo e é um valor menor
que o peso do corpo porque empuxo e peso sempre tem sentidos opostos. A
FIGURA 5 mostra os valores do peso aparente em função da profundidade de
imersão do corpo humano para o caso estático e para diferentes velocidades
do andar dentro d’água.
17




                       Estático    Lento      Rápido

                C7
                                                         Porcentagem de
    Processo Xifóide
                                                            aplicação
   Espinhas Ilíacas                                          do peso
   ântero-superiores




FIGURA 5 - Força de reação do solo em situação estática e durante o
          andar em diferentes níveis de imersão (adaptado de
          HARRISON et al.1992).

        Para profundidades de 1 metro (aproximadamente a profundidade de
uma piscina para hidroterapia), a pressão externa sobre o corpo é da ordem de
0,1 atm ou 10.000 Pa. Acredita-se que uma pressão desta ordem tem efeitos
positivos na redução de edemas por exemplo. O retorno venoso, obviamente
torna-se maior que em meio terrestre.
        Durante o exercício na água, a troca de calor do corpo humano com
este meio é proporcional à intensidade do exercício e à temperatura da água. O
calor é trocado entre o meio e a parte interna do corpo passando por duas
resistências: uma variável, o sistema circulatório periférico; e outra fixa, a
camada de gordura sub-cutânea. A espessura desta camada de gordura é um
importante determinante da capacidade de resistência ao fluxo de calor. Os
seres humanos tendem a elevar a temperatura interna (armazenar calor) do
corpo em águas com temperaturas elevadas e a baixar a temperatura interna
(perder calor) em águas com temperaturas baixas. Por isto, a temperatura da
água é muito crítica para a permanência confortável do ser humano na água e
deve ser ajustada em função da intensidade do exercício físico, mas a
temperatura ideal ou confortável pode variar para diferentes pessoas. Para a
prática de atividades mais intensas como corrida na água ou natação, as
temperaturas recomendadas são da ordem de 22 a 27oC.
18




        Outra propriedade do meio aquoso é a tensão superficial que é a força
existente entre as moléculas da superfície de um fluido. A força é devida às
forças de atração entre as moléculas, na superfície a resultante destas forças é
diferente do que no interior do fluido. Para corpos de tamanho e massa
semelhantes ao corpo humano, a tensão superficial é uma força muito
pequena, desprezível se comparada às forças peso e empuxo para um sujeito
boiando próximo à superfície da água.
        A quantificação das forças resistivas durante movimentos variados é
um desafio para os pesquisadores em hidroterapia. Em princípio, as forças
resistivas que atuam sobre segmentos do corpo durante o movimento dentro
da água, podem ser experimentalmente medidas utilizando-se sensores de
força acoplados aos segmentos. Tal método tem sérias complicações e a
melhor maneira é estimar as forças resistivas por meio de uma equação que
relaciona as variáveis densidade da água, área da secção transversal do corpo,
velocidade do corpo em movimento e o coeficiente de arrasto sendo que as
três primeiras podem ser medidas diretamente e o coeficiente de arrasto deve
ser medido experimentalmente. Ele depende da forma do corpo, da rugosidade
da superfície e do tipo de fluxo (laminar ou turbulento). O tipo de fluxo é difícil
de medir. O tipo laminar ocorre quando a água só flui em um sentido, e o
turbulento quando não há sentido único mas uma agitação devido aos vários
sentidos que a água pode tomar. O coeficiente de arrasto é muito maior para
fluxo turbulento (DUARTE, 2001).
19




FIGURA 6 - A) Modelo da perna humana; B) Prótese com “hidro boot”
          para aumentar a área do segmento (adaptado de
             POYHONEN et al. 2000),


       POYHONEN et al. (2000), determinaram as forças de arrasto e
coeficiente de arrasto (FIGURAS 7 e 8 respectivamente) sobre modelos de pé
e perna humanos durante exercícios de extenção e flexão do joelho. Uma
prótese dos segmentos perna e pé humano foi conectada a um dinamômetro
isocinético para medir as forças resistivas durante o movimento (FIGURA 6). O
dinamômetro isocinético produzia velocidades angulares de 250°/s, 270°/s e
300°/s da prótese. Um dispositivo utilizado em hidroterapia (“hydro-boot”), foi
utilizado para estudar os efeitos do aumento da área (30%) da perna sobre as
forças e coeficientes de arrasto. As máximas forças de arrasto foram de 61N
(300°/s) somente com a prótese e 270N (270°/s) com o “hydro-boot”. Os
valores dos coeficientes de arrasto foram de 0,3 a 0,1 e de 1 a 0,8,
respectivamente para as condições citadas.
20




FIGURA 7- A) Força de arrasto durante extensão do modelo da perna em
           função do ângulo do joelho; B) Forças de arrasto para o
           modelo da perna com o hydro-boot (adaptado de POYHONEN
           et al., 2000)




 FIGURA 8 - A) Coeficiente de arrasto durante extensão do modelo da
             perna em função do ângulo do joelho; B) Coeficiente de
             arrasto para o modelo da perna com o hydro-boot (adaptado
             de POYHONEN et al., 2000)

        Os autores concluíram que a força de arrasto e o coeficiente de arrasto
 foram maiores durante o começo da extensão da perna e que o efeito da
21




velocidade foi muito grande sobre os valores das forças de arrasto mas
pequeno sobre os valores dos coeficientes de arrasto.


1.3.3 Aspectos biomecânicos da realização de exercícios em meio
      aquático


       Os parâmetros biomecânicos para a descrição da marcha e corrida em
meio aquático são escassos na literatura, mas pode-se encontrar dados
bastante úteis para a realização dessa tarefa. “Provavelmente, a escassez de
literatura específica se dá por dificuldades na adaptação do instrumental
necessário à coleta de dados em ambiente aquático e não por desinteresse da
comunidade científica ou mesmo dos profissionais da área de reabilitação que
se vêem diariamente utilizando um recurso pouco estudado” (ERVILHA, 1999).
      Segundo ZULUAGA (1995), estudos cinemáticos (GLASS, 1987;
HAMER, 1984) demonstram que a corrida na água possui um estilo e técnica
muito próximos da corrida em meio terrestre. Isso evidencia a possibilidade de
utilização do water-running, como treino suplementar para atletas.




FIGURA 9 - Ilustração da prática do “water running”, demonstração da
             técnica utilizada no movimento evidenciando a proximidade
             com a corrida em meio terrestre (adaptado de HAMER,
             1995).
22




       “No meio aquático, devido à presença da força de impulsão hidrostática,
o efeito da força da gravidade é diminuído. Daí que a carga mecânica a que
está sujeita a estrutura locomotora seja menor” (BARBOSA, 1998). Segundo
SMITH & WHITE (1999), devido a suas propriedades de flutuabilidade, tensão
superficial e viscosidade, a água produz ótimas condições para o treinamento
de força. As autoras afirmam ainda que a água oferece uma resistência doze
vezes maior que o ar para o movimento dos segmentos corporais. Seus
estudos realizados em 1999, com a prescrição de treinamento na água para o
desenvolvimento de força, utilizou um grupo que foi submetido à seções diárias
de exercícios variados (incluindo corrida e marcha) na água, e outro grupo de
controle. Os resultados indicam a eficácia de exercícios realizados na água
para o aumento da força, já que o aumento não ocorreu no grupo controle e
somente no submetido ao treinamento.
      A sobrecarga sobre a coluna vertebral é inevitável em atividades
realizadas em meio terrestre. A diminuição da estatura da pessoa ocorre
devido a essa sobrecarga compressiva sobre a coluna que produz uma
diminuição das distâncias entre os discos intervertebrais. DOWZER et al.
(1998), determinaram o encolhimento da coluna em indivíduos que realizaram
30 minutos de corrida fora d’água, em água rasa (ao nível da espinha ilíaca
antero-superior) ou em água profunda (com o uso de flutuador). A redução
média de estatura foi de 4,59±1,48 mm, 5,51±2,18 mm e 2,92±1,70 mm após
30 minutos de corrida fora d’água, em água rasa e em água profunda
respectivamente. Houve uma diferença estatisticamente significativa entre os
valores em água profunda e em água rasa. Estes resultados sustentam o uso
de corrida em água profunda para o decréscimo da sobrecarga compressiva
sobre a coluna.
      VILAS-BOAS (1997), salienta que em terra dificilmente se consegue
sequência de movimentos que determinem a estimulação sucessiva e
alternada dos grupos agonista e antagonista. Já na água, os movimentos
requerem a contração concêntrica dos grupos musculares alternadamente. Se
forem utilizados materiais auxiliares que aumentem a força de arraste, como
exemplo luvas e tradicionais hand paddles, pode-se aumentar a sobrecarga.
23




       O estudo sobre a variação angular da articulação do joelho e do sinal
eletromiográfico no domínio temporal durante a marcha humana em ambiente
aquático (ERVILHA, 1999), é um outro passo na busca de se estabelecer
parâmetros de análise biomecânica. O estudo foi realizado com uma amostra
de 10 indivíduos voluntários sem história pregressa de lesão do aparelho
locomotor. A velocidade da marcha era determinada pelo próprio sujeito para
que a cadência fosse realizada em um ritmo usual.




FIGURA 10 - Variação angular (ELGON) da articulação do joelho em
         duas situações: A) andar em ambiente terrestre e B) andar
            em ambiente aquático. Os valores apresentados nas figuras
            foram calculados através dos sinais obtidos de seis sujeitos
            realizando 12 passadas cada. O gráfico é composto por
            duas partes: A superior apresenta a média inter-indivíduos
            da variação angular e respectivos desvios padrões. A parte
            inferior mostra os valores médios do CV durante o ciclo
            completo da passada (0-100%) (Adaptado de ERVILHA,
            1999).
24




        Cada indivíduo percorria uma distância de 12 m por 20 vezes. Nas 10
primeiras foram recolhidos dados do sinal eletromiográfico sobre os músculos
vasto lateral e bíceps femoral. Nas 10 últimas foram obtidos sinais EMG dos
músculos tibial anterior e gastrocnêmio lateral. Foi permitido um intervalo para
descanso de 5 minutos a cada 10 minutos para evitar que a fadiga muscular
interferisse nos resultados. O nível de imersão foi da altura das espinhas ilíacas
ântero-superiores, o que, segundo HARRISON et al. (1992) equivale a uma
diminuição de até 25% da força peso devido à força de empuxo.
        Foi realizada uma análise da variação angular do movimento em meio
aquático em relação ao mesmo movimento (andar) em terra. Essa foi feita em
relação ao percentual do ciclo completo da passada, através do teste-t
pareado, com índice de significância 0,01, ponto a ponto durante todo o ciclo
da passada. Pode-se assim comparar o padrão de variação da amplitude
articular da articulação do joelho, durante a marcha realizada em ambiente
aquático e terrestre (FIGURA 10-A, 10-B).
        O estudo constatou que a diferença média entre as curvas
representativas da variação angular da articulação do joelho em ambiente
terrestre e aquático é significativamente (p<0,05) diferente de zero,
demonstrando que as curvas são significativamente diferentes entre si.
        “A FIGURA 9-B mostra que de 25% a aproximadamente 75% do ciclo
da passada, há pouca variação da articulação do joelho em ambiente aquático,
se comparado ao mesmo intervalo do ciclo para o ambiente terrestre”
(ERVILHA, 1999). O autor acredita que isso ocorre devido as maiores
restrições impostas pela água, permitindo uma menor mobilidade articular.
Quanto aos gráficos inferiores, o autor acredita que a diferença que existe na
distribuição do CV ao longo do ciclo completo da passada também é explicada
pela maior estabilidade do meio. Observa-se nesses gráficos que, embora a
magnitude da variabilidade expressa pela média dos CV seja maior para o
ambiente aquático, seus valores variam pouco em torno do valor médio por
toda a distribuição durante o ciclo completo da passada; ao passo que a
25




variação dos CV ao redor do valor médio é maior para o andar em ambiente
terrestre.
        Houve uma diferença de 10° graus na amplitude total da variação
angular da articulação do joelho, com um valor de 61,4° para o ambiente
terrestre e de 51,5° para o aquático. Ao observar as amplitudes máximas e
mínimas, nota-se claramente que a diferença na amplitude total apresentada
deve-se a um maior valor de extensão do joelho, sendo que a flexão máxima é
praticamente a mesma para os dois meios, 114,9° terrestre e 115,9° aquático.
A maior amplitude de flexão da articulação do joelho ocorre durante a fase de
oscilação (WINTER, 1990; ERVILHA, 1999). Considerando que a diferença
entre amplitudes de movimento articular ocorrem apenas durante os
movimentos de maior extensão da articulação do joelho, especula-se que
possa-se atribuir essa diferença a maior resistência do meio ao deslocamento
horizontal, provocada pelo volume de água a ser deslocado nesse instante.
Também que essa diminuição de amplitude em meio aquático deve-se à
diminuição   da   velocidade   de   deslocamento   do   sujeito,   tendo   como
conseqüência a diminuição da inércia do movimento, tanto de deslocamento do
segmento como um todo quanto do deslocamento angular.
        Observa-se na TABELA 1, onde estão         os valores referentes as
amplitudes articulares da articulação do joelho durante o ciclo completo da
passada em ambiente terrestre e aquático, que a amplitude média da variação
angular da articulação do joelho varia em apenas 5° para mais em ambiente
terrestre, quando comparado ao ambiente aquático. A amplitude máxima de
176,3° para variação angular em ambiente terrestre significa a extensão
máxima ou flexão mínima, uma vez que o referencial utilizado nesse estudo foi
o de que para o joelho completamente estendido, temos um valor de 180°.
26




TABELA 1 - Valores referentes às amplitudes articulares da articulação do
             joelho, obtidos através do eletrogoniômetro durante o ciclo
             completo da passada em ambiente terrestre e aquático
             (adaptado de ERVILHA, 1999).




        Do estudo de ERVILHA (1999) ainda se pode utilizar como parâmetros
para a análise da marcha em meio aquático os fatos de que as variabilidades
intra-sujeitos para o sinal eletromiográfico dos mm vasto lateral, bíceps da
coxa, tibial anterior e gastrocnêmio lateral, representadas pelo coeficiente de
variação, são respectivamente iguais a 18%, 22%, 17,5% e 28,7% para andar
em ambiente terrestre e de 19% , 33%, 36% e 31,2% para o andar em
ambiente aquático, mostrando que há uma tendência a uma maior variabilidade
para o sinal eletromiográfico intra-sujeito quando a marcha é realizada em
ambiente aquático, se comparada à realização da mesma em ambiente
terrestre. As variabilidades inter-sujeitos para o sinal eletromiográfico dos mm
vasto lateral, bíceps da coxa, tibial anterior a gastrocnêmio lateral,
representadas pelo coeficiente de variação, são respectivamente iguais a
27,6%, 24,6%, 32% e 32% para o andar em ambiente terrestre e de 14%, 29%,
42%, e 23,6% para o andar em ambiente aquático, mostrando que não há uma
tendência bem definida com relação a diferenças em variabilidade inter-sujeitos
para o sinal eletromiográfico para o meio em que a marcha é realizada. A
variação angular da articulação do joelho ocorre de forma diferente em função
da porcentagem do ciclo da passada, quando a marcha é realizada em
27




ambiente terrestre e aquático. A velocidade angular da articulação do joelho,
mantém                                               padrões     de   variação   em   função     do   tempo   parecidos,
independentemente do meio em que a marcha é realizada, porém as
magnitudes são significativamente diferentes.
                                                         A FIGURA 11 exemplifica os valores de força de reação do
solo nos dois ambientes e nas três diferentes velocidades, além de mostrar a
variação angular das articulações do quadril, joelho e tornozelo.


                                                       TERRA                           ÁGUA
quadril Força reação
                   (% peso corporal)




                                                        normal          rápido          normal                lento
           do solo
                                   extensão
(graus)
                                   extensão flexão
(graus)
 joelho

                        plantar    flexão
tornozelo
                        flexão
 (graus)
                             dorsal
                             flexão




                                                                            tempo (milisegundos)

FIGURA 11 - Exemplo de força vertical de reação do solo e variação
                                                        angular das articulações do membro inferior. Áreas
                                                        escuras representam a fase de apoio simples para cada
                                                        condição ilustrada (adaptado de YAMAMOTO et al., 1995).


                                                     YAMAMOTO et al. (1995) observaram padrões diferentes de
movimento das articulações do joelho e tornozelo para as velocidades rápida e
normal da marcha realizada dentro da água, em comparação com a marcha
realizada em ambiente terrestre. Para a articulação do quadril, em qualquer
velocidade, joelho e tornozelo em velocidade lenta, os padrões mantiveram-se
28




similares para ambos ambientes. Pode-se observar que no toque do calcanhar
com o solo o joelho está mais flexionado quando o indivíduo está em ambiente
aquático. Contudo, mesmo no ambiente aquático, observa-se que a flexão de
joelho em diferentes velocidades aumenta à medida que a velocidade de
deslocamento aumenta. Ou seja, da velocidade lenta para a rápida, houve um
aumento de flexão do joelho no instante em que o calcanhar entrou em contato
com o solo. Há alteração do valor da flexão dorsal do tornozelo no instante em
que o calcanhar toca o solo, mostrando um aumento da flexão dorsal à medida
que há aumento da velocidade em ambiente aquático. Outro dado apresentado
pelo estudo foi a alteração da amplitude total do movimento, mostrando que em
ambiente aquático o deslocamento em velocidade alta provoca maiores
variações angulares do que em ambiente terrestre, porém em velocidades
baixas e normais, as amplitudes totais de movimento permanecem próximas .

       O aumento na amplitude total de movimento articular das articulações
do membro inferior durante o andar em ambiente aquático em velocidades
altas é resultado da maior resistência do meio ao deslocamento e à maior
perturbação do sistema pelo próprio meio, sugerindo que a reabilitação em
ambiente aquático é vantajosa, não só como forma de minimizar o impacto
devido à deposição de carga sobre os membros inferiores, mas também por
proporcionar condições de treinamento de força, devido à maior resistência
oferecida pelo meio (YAMAMOTO et al. 1995).
       No estudo de YANO et al. (1995) pesquisou-se a força de reação do
solo (FRS) e as mudanças do padrão da intensidade do sinal Eletromiográfico
dos músculos sóleo (SOL), gastrocnêmio medial (GAS) e tibial anterior (TA)
medial durante o andar dentro e fora da água.
29




                TERRA                        ÁGUA
                                   rápido                lento

      FRS

       TA

     GAS

     SOL




FIGURA 12- Exemplo típico de força de reação do solo e sinal
                eletromiográfico retificado durante o andar em ambiente
                terrestre e aquático em velocidade rápida e lenta
                (adaptado de YANO et al.,1995).


        Pode-se observar na FIGURA 12 que a intensidade do sinal EMG
aumentou para o músculo tibial anterior até mesmo em comparação aos outros
músculos, com o aumento da velocidade em ambiente aquático. Com relação
ao músculo gastrocnêmio medial um aumento também foi constatado ao se
mudar do ambiente terrestre para o aquático e com o aumento da velocidade.
Já para o músculo sóleo, observa-se uma diminuição da intensidade do sinal
EMG. Isso se deve, provavelmente ao fato do músculo gastrocnêmio passar a
ser o principal responsável pela flexão plantar, segundo o autor.


1.3.4 Aspectos fisiológicos da realização de exercícios em meio aquático


        Um importante benefício conseguido por atletas lesionados que se
submetem ao water-running na fase de reabilitação é o fato do atleta se manter
ativo durante essa fase. A irrigação sangüínea estimula o condicionamento dos
membros afetados diminuindo o tempo de reabilitação, além de proporcionar
30




uma atividade até certo ponto parecida e próxima da realizada durante o
desempenhar de sua profissão. Essas atividades na água trazem a perspectiva
de volta mais rápida do atleta aos níveis competitivos. Quando utilizado como
treino suplementar, o water-running traz benefícios da hidroterapia e
relaxamento agindo na prevenção contra o over-training (ZULUAGA, 1995).
        Segundo estudos realizados por HAMER & MORTON (1990), a corrida
em água rasa e profunda com períodos de treinamentos de 8-12 semanas
demonstraram melhorias na capacidade aeróbica de 10-13% , aumento do
VO2 max de 13%, sugerindo sua aplicação em atletas (ZULUAGA, 1995).
        Segundo CHU & RHODES (2001), as adaptações conseguidas com o
treinamento de atletas com corrida na água em comparação a corrida no meio
terrestre e o ciclismo, são parecidas em relação ao VO2max. A maioria dos
autores demonstra similaridade entre os benefícios fisiológicos adquiridos com
a corrida na água e no meio terrestre.
        Estudos realizados por BURKE et al. (2000), indicam curiosas
propriedades do meio líquido como atividade complementar para o
desenvolvimento de treino isométrico de força. Os indivíduos realizavam o
treino de força igualmente fora da água e após a seção eram divididos em três
grupos. Todos os grupos ficariam em repouso por dez minutos em diferentes
condições. Um grupo ficaria em água quente (48º±1º), outro em água fria (8º±1º)
e o grupo de controle ficaria no meio terrestre. Os resultados apontaram
aumento de força em todos os grupos, porém no grupo submetido à água fria
esse aumento foi de magnitude muito maior. Com relação ao sexo, somente
houve diferenças no grupo da água fria já que os homens obtiveram maior
aumento.


1.4   Considerações complementares


        Além dos riscos mais óbvios de se praticar atividades na água como
afogamento, e problemas de higiene pessoal dos atletas, a corrida e marcha na
água não é recomendada a um grupo de atletas com determinadas lesões
31




músculo-esqueléticas devido as forças de resistência da água, principalmente
em águas rasas (ZULUAGA, 1995).
       É aconselhável a utilização de sapatilhas de água. Elas evitam que se
escorregue em fundos de piscina que não disponham de material
antiderrapante, protegem os pés em fundos ásperos e aumentam a
sobrecarga. Poderá ser usada, em regime facultativo, uma peça de roupa
especial, com o intuito de aumentar a sobrecarga. Todavia, é importante referir
que a utilização desta peça se, por um lado, aumenta a carga a que fica sujeito
o aluno, por outro, poderá dificultar a realização de movimentos por parte dos
membros superiores. (BARBOSA, T. 1998).
       A técnica de corrida no meio aquático não é exatamente igual à técnica
observada no meio terrestre. Assim, é fundamental que os alunos conheçam e
dominem a técnica de corrida utilizada no meio aquático. A cabeça deve ficar
numa posição neutra, o olhar para a frente, os ombros para trás e relaxados, a
caixa toráxica elevada e os abdominais e as nádegas contraídas. O pé do
membro inferior de apoio toca o fundo da piscina com o calcanhar. Em seguida,
toda a planta do pé toca o fundo. Finalmente ocorre um impulso pela parte
anterior do pé, pela ponta dos dedos. O membro superior deve mover-se, de
frente para trás, deslocando a massa de água para trás, auxiliando desta forma
o deslocamento.
       A corrida em água profunda, requer a mesma técnica, sobressaindo o
fato de que para manter o equilíbrio e, portanto, um bom alinhamento, é
necessário compensar os movimentos de um segmento corporal com o seg-
mento oposto. Por exemplo, ao avançar o membro inferior direito, o membro
inferior esquerdo deve deslocar-se para trás.
       Para solicitar diferentes grupos musculares, deve-se variar o tipo de
passada, por exemplo, deslocar para a frente, para trás, de lado, caminhar na
ponta dos pés, caminhar sobre os calcanhares, caminhar com os membros
inferiores sempre em extensão, etc.
       Da mesma forma, também se deve variar o tipo de braçada a utilizar,
por exemplo, realizando a braçada de Crow, a braçada de Costas, a braçada
de Bruços, a braçada de Borboleta, etc.
32




        Dado que o passar longos períodos de tempo correndo pode tornar-se
desmotivante, será aconselhável variar não só o tipo de corrida, mas também a
forma como são organizadas as tarefas a propor aos atletas. Na FIGURA 12
encontra-se a sugestão de formas de organização e de exercitação em corrida
na água: (a) círculo, (b) círculos lado a lado com sentidos de deslocamento
opostos. (c) círculo dentro de círculo com sentidos de deslocamentos opostos,
(d) carrossel, (e) zig-zag, (f) fila em que o indivíduo de trás ultrapassa todos,
(g)oito, (h) onda e (i) vagas (BARBOSA, 1998).




FIGURA 13 – Formas alternativas de organização e exercitação em
            corrida na água.(adaptado de BARBOSA, 1998).
33




3. Conclusão


        Através do levantamento bibliográfico a respeito de aspectos
biomecânicos do andar e do correr em meio aquático, pode-se perceber que
ainda não se tem grande quantidade e qualidade de bons trabalhos a respeito
desse tema. Existe uma gama muito maior de trabalhos a respeito de variáveis
fisiológicas sobre o water running.
        Outro aspecto importante sobre o tema, é o de que esse tipo de
treinamento tende a se tornar uma nova ferramenta para os técnicos para se
aperfeiçoar e manter níveis de capacidades físicas, principalmente o
condicionamento aeróbico, nas mais diversas modalidades esportivas.
Percebe-se que o water running já é bastante utilizado para reabilitação de
atletas e para manutenção dos níveis de condicionamento em atletas
lesionados. Porém não é muito utilizado como complemento em treinos de
atletas sadios. Isso demonstra a importância da divulgação desse método de
treino, tendo em vista suas propriedades preventivas contra lesões por excesso
de uso devido ao alto grau de impactoem corridas em ambientes terrestres.
        Aponta-se ainda para a necessidade de mais trabalhos sobre a análise
biomecânica, principalmente da corrida em ambiente aquático, já que o tema é
de fundamental importância para o esporte e a literatura é tão pobre a esse
respeito.
34




4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ADELAAR, R.S.; The pratical biomechanics of running. The American Journal
       of Sports Medicine, v.14, n.6, p.497-500, 1986.
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AMADIO, A.C. Fundamentos da biomecânica do esporte: considerações sobre
       análise cinética e aspectos neuro-musculares do movimento. São
       Paulo, 1989. 119p. Tese (Livre Docência) – Escola de Educação
       Física e Esporte. Universidade de São Paulo.
AMADIO, A.C.; DUARTE, M., ed. Fundamentos biomecânicos para análise
       do movimento. São Paulo, Laboratório de Biomecânica, 1996.
BARBOSA,       T. Jogging aquático: uma variante da hidroginática. Horizonte
       (Revista de Educação Física e Desporto),          v.15,   n.85,   p.20-24,
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BASMAJIAN, J.V.; De LUCA, C.J. EMG signal amplitude and force. In:
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BRUNIERA, C.A.V. Estudo Biomecânico da locomoção Humana: Análise de
       variáveis descritivas para o andar e correr, 1994. 104p. Dissertação
       (Mestrado). Escola de Educação Física e Esporte. Universidade de
       São Paulo.
BURKE, G.D.; McNEIL, S.A.;          HOLT,     E.L.;      MAcKINNON,         N.C.;
       RASMUSSEN,        R.L. The effect of hot or cold water immersion on
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       Jornal of Sports Medicine, v.19, n.6, p.612-14, 1991.
35




CHU,    K.S.; RHODES,      E.C. Physiological and Cardiovascular changes
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ZULUAGA, M. Sports Physiotherapy: Applied science & practice. Melbourne.
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Monografia mario Aspectos biomecânicos do andar e do correr em meio aquático

  • 1. UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE EDUCAÇÃO FÍSICA E ESPORTE DEPARTAMENTO DE ESPORTE ASPECTOS BIOMECÂNICOS DO ANDAR E DO CORRER EM MEIO AQUÁTICO Mário Hebling Campos SÃO PAULO 2001
  • 2. ASPECTOS BIOMECÂNICOS DO ANDAR E DO CORRER EM MEIO AQUÁTICO MÁRIO HEBLING CAMPOS Monografia apresentada ao Departamento de Esporte da Escola de Educação Física e Esporte da Universidade de São Paulo, como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Esporte. ORIENTADOR: PROF. DR. MARCOS DUARTE
  • 3. SUMÁRIO Página LISTA DE FIGURAS.............................................................................................ii LISTA DE TABELAS.............................................................................................iv RESUMO...............................................................................................................v 1 INTRODUÇÃO .......................................................................................... 5 1.1 Objetivos.................................................................................................... 6 2 REVISÃO DA LITERATURA..................................................................... 7 2.1 Parâmetros biomecânicos para a análise do movimento humano........... 7 2.1.1 Dinamometria ............................................................................................ 7 2.1.2 Eletromiografia .......................................................................................... 8 2.1.3 Antropometria............................................................................................ 9 2.1.4 Cinemetria ................................................................................................. 9 2.2 Caracterização do movimento em ambiente aquático e terrestre .......... 11 2.2.1 Caracterização da Marcha e Corrida em ambiente terrestre.................. 12 2.2.2 Propriedades físicas da água.................................................................. 16 2.2.3 Aspectos biomecânicos da realização de exercícios em meio aquático ................................................................................................... 21 2.2.4 Aspectos fisiológicos da realização de exercícios em meio aquático .... 29 2.3 Considerações complementares............................................................. 30 3 Conclusão................................................................................................ 33 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS........................................................ 34
  • 4. 1 LISTA DE FIGURAS Página FIGURA 1 - REPRESENTAÇÃO ESQUEMÁTICA DA POSIÇÃO DOS MEMBROS INFERIORES DURANTE O CICLO COMPLETO DO ANDAR - PASSADA, DIVIDIDOS EM DUAS FASES, APOIO E BALANÇO E SEIS SUB-FASES, SENDO, CONTATO DO CALCANHAR, PÉ APLANADO, MÉDIO APOIO, RETIRADO DO CALCANHAR, RETIRADA DOS DEDOS MÉDIO BALANÇO, (ADAPTADO DE ALLARD, 1995). 13 FIGURA 2 - REPRESENTAÇÃO ESQUEMÁTICA DA POSIÇÃO DOS SEGMENTOS INFERIORES DURANTE O CICLO COMPLETO DA CORRIDA, DIVIDIDA EM TRÊS FASES APOIO, FLUTUAÇÃO E BALANÇO (ADAPTADO DE ADELAAR, 1986). 14 FIGURA 3 - EXEMPLO TÍPICO DA VARIAÇÃO ANGULAR DA ARTICULAÇÃO DO JOELHO EM FUNÇÃO DA PORCENTADEM DO CICLO DA PASSADA PARA A MARCHA, CORRER E CORRER EM ALTA VELOCIDADE. QUANDO O ÂNGULO É ZERO, O JOELHO ESTÁ EM EXTENSÃO MÁXIMA (ADAPTADO DE ENOKA, 2000). 15 FIGURA 4 - EXEMPLO TÍPICO DE FORÇA VERTICAL DE REAÇÃO DO SOLO EM FUNÇÃO DO TEMPO COMPARANDO A MARCHA (CAMINHADA) E O CORRER (ADAPTADO DE ENOKA, 2000). 16 FIGURA 5 - FORÇA DE REAÇÃO DO SOLO EM SITUAÇÃO ESTÁTICA E DURANTE O ANDAR EM DIFERENTES NÍVEIS DE IMERSÃO (ADAPTADO DE HARRISON ET AL.1992). 17 FIGURA 6 - A) MODELO DA PERNA HUMANA; B) PRÓTESE COM “HIDRO BOOT” PARA AUMENTAR A ÁREA DO SEGMENTO (ADAPTADO DE POYHONEN ET AL. 2000), 19 FIGURA 7- A) FORÇA DE ARRASTO DURANTE EXTENSÃO DO MODELO DA PERNA EM FUNÇÃO DO ÂNGULO DO JOELHO; B) FORÇAS DE ARRASTO PARA O MODELO DA PERNA COM O HYDRO-BOOT (ADAPTADO DE POYHONEN ET AL., 2000) 20
  • 5. 2 FIGURA 8 - A) COEFICIENTE DE ARRASTO DURANTE EXTENSÃO DO MODELO DA PERNA EM FUNÇÃO DO ÂNGULO DO JOELHO; B) COEFICIENTE DE ARRASTO PARA O MODELO DA PERNA COM O HYDRO-BOOT (ADAPTADO DE POYHONEN ET AL., 2000) 20 FIGURA 9 - ILUSTRAÇÃO DA PRÁTICA DO “WATER RUNNING”, DEMONSTRAÇÃO DA TÉCNICA UTILIZADA NO MOVIMENTO EVIDENCIANDO A PROXIMIDADE COM A CORRIDA EM MEIO TERRESTRE (ADAPTADO DE HAMER, 1995). 21 FIGURA 10 - VARIAÇÃO ANGULAR (ELGON) DA ARTICULAÇÃO DO JOELHO EM DUAS SITUAÇÕES: A) ANDAR EM AMBIENTE TERRESTRE E B) ANDAR EM AMBIENTE AQUÁTICO. OS VALORES APRESENTADOS NAS FIGURAS FORAM CALCULADOS ATRAVÉS DOS SINAIS OBTIDOS DE SEIS SUJEITOS REALIZANDO 12 PASSADAS CADA. O GRÁFICO É COMPOSTO POR DUAS PARTES: A SUPERIOR APRESENTA A MÉDIA INTER-INDIVÍDUOS DA VARIAÇÃO ANGULAR E RESPECTIVOS DESVIOS PADRÕES. A PARTE INFERIOR MOSTRA OS VALORES MÉDIOS DO CV DURANTE O CICLO COMPLETO DA PASSADA (0-100%) (ADAPTADO DE ERVILHA, 1999). 23 FIGURA 11 - EXEMPLO DE FORÇA VERTICAL DE REAÇÃO DO SOLO E VARIAÇÃO ANGULAR DAS ARTICULAÇÕES DO MEMBRO INFERIOR. ÁREAS ESCURAS REPRESENTAM A FASE DE APOIO SIMPLES PARA CADA CONDIÇÃO ILUSTRADA (ADAPTADO DE YAMAMOTO ET AL., 1995). 27 FIGURA 12- EXEMPLO TÍPICO DE FORÇA DE REAÇÃO DO SOLO E SINAL ELETROMIOGRÁFICO RETIFICADO DURANTE O ANDAR EM AMBIENTE TERRESTRE E AQUÁTICO EM VELOCIDADE RÁPIDA E LENTA (ADAPTADO DE YANO ET AL.,1995). 29 FIGURA 13 – FORMAS ALTERNATIVAS DE ORGANIZAÇÃO E EXERCITAÇÃO EM CORRIDA NA ÁGUA.(ADAPTADO DE BARBOSA, 1998). 32
  • 6. 3 LISTA DE TABELAS Página TABELA 1 - VALORES REFERENTES ÀS AMPLITUDES ARTICULARES DA ARTICULAÇÃO DO JOELHO, OBTIDOS ATRAVÉS DO ELETROGONIÔMETRO DURANTE O CICLO COMPLETO DA PASSADA EM AMBIENTE TERRESTRE E AQUÁTICO (ADAPTADO DE ERVILHA, 1999)......................................... 26
  • 7. 4 RESUMO ASPECTOS BIOMECÂNICOS DO ANDAR E DO CORRER EM MEIO AQUÁTICO Autor: MÁRIO HEBLING CAMPOS Orientador: PROF. DR. MARCOS DUARTE Um importante componente na reabilitação de atletas lesionados é a manutenção dos níveis de condicionamento cardiovasculares. Mais recentemente a prescrição de corrida e marcha em água rasa e profunda está sendo realizada como complementação no treinamento específico de muitos atletas. Nesse contexto, existe um grande interesse no estudo do movimento humano dentro da água, uma vez que o meio já é utilizado como de valor terapêutico na recuperação de atletas lesionados e até mesmo no treinamento de atletas sadios, devido à diferentes propriedades mecânicas que oferece. O objetivo desse trabalho é o de analisar os aspectos biomecânicos do andar e do correr em meio aquático. Esta monografia se propõe a fazer um levantamento bibliográfico sobre o tema sob aspectos biomecânicos apoiados em aspectos fisiológicos, comparando a marcha e a corrida humana em ambiente terrestre, águas profundas e águas rasas. Com isso pretende-se aglutinar e organizar parâmetros determinados por dados científicos, principalmente da biomecânica, para a orientação e recomendação do treino de atletas no meio líquido. Através do levantamento bibliográfico a respeito de aspectos biomecânicos do andar e do correr em meio aquático, pode-se perceber que ainda não se tem grande quantidade e qualidade de bons trabalhos a respeito desse tema. Existe uma gama muito maior de trabalhos a respeito de variáveis fisiológicas sobre o water running.
  • 8. 5 1. INTRODUÇÃO Um importante componente na reabilitação de atletas lesionados é a manutenção dos níveis de condicionamento cardiovasculares. A natação e o ciclismo vem sendo utilizados já a muito tempo, na recuperação de atletas que apresentam lesões do aparelho locomotor, de modo a evitar atividades de alto impacto, e propiciando a manutenção ou desenvolvimento de elevados níveis de condicionamento. Mais recentemente a prescrição de corrida e marcha em água rasa e profunda está sendo realizada como complementação no treinamento específico de muitos atletas (ZULUAGA, 1995). Muito comentado entre os profissionais que já se utilizam do “water-running” é o fato de que, assim como o alongamento, musculação, dentre outros a corrida e a marcha na água tende a se tornar uma ferramenta imprescindível para o aperfeiçoamento das capacidades físicas básicas e ou específicas, dependendo da modalidade esportiva. Pelas razões citadas anteriormente, dentre outras, há uma crescente preocupação em se estudar o comportamento do movimento humano quando em interação com diferentes meios ambientes. Nesse contexto, existe um grande interesse no estudo do movimento humano dentro da água, uma vez que o meio já é utilizado como de valor terapêutico na recuperação de atletas lesionados e até mesmo no treinamento de atletas sadios, devido à diferentes propriedades mecânicas que oferece. A partir de uma revisão bibliográfica a respeito de estudos que relacionem variáveis biomecânicas sobre o padrão da atividade eletromiográfica e da variação angular da articulação do joelho durante a locomoção em diferentes meios ambientes, pode-se ampliar o entendimento de como o sistema nervoso exerce o controle sobre o movimento humano. É fato que quase a totalidade dos estudos do movimento humano em ambiente aquático se preocupam com parâmetros fisiológicos e não mecânicos; ou seja, há uma vasta literatura à respeito dos efeitos do meio aquático e também de exercícios realizados no mesmo, em relação à pressão arterial (McMURRAY, FIESELMAN & AVERY, 1988), ritmo cardíaco (BUTTS,
  • 9. 6 TUCKER & GREENING, 1991), gasto energético (GLEIN & NICHOLAS, 1989) e respostas metabólicas ao meio (BISHOP, FRAZIER, SMITH & JACOBS, 1989). Quanto a estudos que relacionem variáveis biomecânicas como força de reação do solo, estimativas de momento de força articular, eletromiografia, e outras, percebe-se que há certa carência de estudos nesse sentido, muito embora, há muito tem-se divulgado os benefícios da reabilitação e do treinamento esportivo em ambiente aquático e suas vantagens como um meio que, por um lado, oferece menor impacto durante as fases de apoio e por outro, exige maior força propulsiva do aparelho locomotor para que a força de resistência da água seja vencida (HARRISON, HILLMAN & BULSTRODE, 1992). 1.1 Objetivos O objetivo desse trabalho é o de analisar os aspectos biomecânicos do andar e do correr em meio aquático. Esta monografia se propõe a fazer um levantamento bibliográfico sobre o tema sob aspectos biomecânicos apoiados em aspectos fisiológicos, comparando a marcha e a corrida humana em ambiente terrestre, águas profundas e águas rasas. Com isso pretende-se aglutinar e organizar parâmetros determinados por dados científicos, principalmente da biomecânica, para a orientação e recomendação do treino de atletas no meio líquido.
  • 10. 7 2. REVISÃO DA LITERATURA 1.2 Parâmetros biomecânicos para a análise do movimento humano A Biomecânica do movimento busca explicar como as formas de movimento dos corpos de seres vivos acontecem na natureza a partir de parâmetros cinemáticos e dinâmicos (ZERNICKE, 1981). Dada a grande diferença de sua abordagem e alvo, a biomecânica pode ser dividida em interna e externa. A biomecânica interna preocupa-se com as forças internas, com as forças transmitidas pelas estruturas biológicas internas do corpo tais como forças musculares, forças exercidas sobre os tendões, ligamentos, fáscias, ossos, cápsulas e cartilagens articulares (AMADIO & DUARTE, 1996). Pela óbvia dificuldade metodológica de se acessar o comportamento biomecânico de estruturas internas dos sistemas biológicos, a sua parametrização, em termos de variáveis biomecânicas internas torna-se extremamente dependente de medições de variáveis biomecânicas externas ao organismo, ou seja, as medições são feitas exteriormente, ou por equações de estimação. “A biomecânica externa representa aqueles parâmetros de determinação quantitativa e ou qualitativa referente as mudanças de lugar e posição do corpo humano em movimentos esportivos, com auxílio de medidas descritivas cinemáticas e dinâmicas (por ex. Trajetória, velocidade, aceleração, força, etc...). Ou seja, referem-se às características observáveis exteriormente na estrutura do movimento” (AMADIO, 1989). Os métodos através dos quais a biomecânica aborda as diversas formas de movimento são a dinamometria, eletromiografia, antropometria e cinemetria. 1.2.1 Dinamometria “Para medir as forças exercidas por um corpo sobre outro, necessitamos de um equipamento apropriado, denominado transdutor de força, que dá sinais elétricos proporcionais à força aplicada. Temos como exemplo o “Strain-gage” que, através de deformação no metal, nos fornece a força que
  • 11. 8 está sendo submetido o local onde o mesmo encontra-se aplicado” (AMADIO, 1989). A definição do conceito de força, sob o aspecto físico, somente pode ser interpretada a partir de sua ação, e assim, podemos interpretar seus efeitos estático e dinâmico (AMADIO, 1989). É por meio da dinamometria, que engloba todos os tipos de medidas de força e ainda de distribuição de pressão, que podemos interpretar as respostas de comportamentos dinâmicos e estáticos do movimento humano. Nesse aspecto, os transdutores de pressão trouxeram incontestáveis contribuições para o controle do erro experimental e para a possibilidade de avaliação dinâmica da força (AMADIO & DUARTE, 1996). As plataformas de força fornecem a força de reação do solo na superfície de contato durante a fase de apoio do movimento. A força de reação do solo é representada em forma de vetores, em função da variável tempo, considerando-se sua ação tridimencional (1 componente vertical, 1 componente antero-posterior e um componente médio-distal). A plataforma de força é ligada a um amplificador de sinais, amplificadores de soma e de divisão de sinais que são conectados e programados automaticamente (AMADIO, 1989). 1.2.2 Eletromiografia A Eletromiografia (EMG) que é o estudo da função muscular por meio da análise do sinal elétrico emanado durante as contrações musculares tem sido utilizada largamente para o estudo do movimento humano, uma vez que permite um fácil acesso ao processo fisiológico que leva o músculo a gerar força e produzir movimento (BASMAJIAN & De LUCA, 1985). “Em geral existe uma relação entre a força muscular e a atividade do eletromiograma, isto é, a força muscular, durante a contração, depende da excitação que os eletrodos indicam. Esse nível de excitação corresponde à força muscular exercida” (AMADIO, 1989). Segundo AMADIO (1989), a eletromiografia pode contribuir para que se responda algumas questões de análise do movimento, como por
  • 12. 9 exemplo, quais os músculos ativos durante um movimento e qual a relação temporal da tensão muscular entre o músculo, isoladamente, com o grupo muscular em atividade. Em outras palavras, através do padrão de movimento no eletromiograma pode-se investigar o que é de especial importância para a prática do movimento. Em seu trabalho AMADIO (1989), apontou algumas limitações que a eletromiografia apresenta. 1) Os movimentos esportivos são perturbados pelos eletrodos, cabos e equipamento de telemetria. 2) Existem dificuldades na determinação dos pontos anatômicos musculares para a fixação dos eletrodos. Apesar de existir uma padronização do procedimento para a fixação dos eletrodos, constatou-se, na prática, diferenças da estrutura morfológica dos testandos, isto é, para cada indivíduo foi necessário estabelecer um novo ponto de transmissão. Disso pode-se concluir que para a utilização dessa técnica é necessário alguma experiência. 3) Os eletrodos transmitem sinais de grandes áreas musculares, que não podem ser exatamente definidas, de modo que podem ocorrer interferências de músculos vizinhos. Existe, portanto, o perigo de que sejam transmitidos potenciais de ação que não pertençam ao grupo muscular em questão. 4) Deve-se ainda salientar que interferências no sinal eletromiográfico podem ocorrer em função da freqúência de transmissão telemétrica ou mesmo por causa de eletrodos mau fixados, que possibilitam apenas um registro insuficiente ou até falso do potencial de ação. 1.2.3 Antropometria A Antropometria preocupa-se em determinar características físicas do corpo humano, tais como as dimensões, formas geométricas de segmentos, distribuição de massa, braços de alavanca, posicionamento de eixos articulares, etc., definindo então um modelo antropométrico, contendo parâmetros necessários para a construção de um modelo biomecânico da estrutura analisada. 1.2.4 Cinemetria
  • 13. 10 A Cinemetria estuda o comportamento cinemático do modelo definido pela Antropometria. Os pesquisadores biomecânicos dispõem de uma ampla gama de equipamentos para estudar a cinemática do movimento humano. Os fotógrafos começaram a utilizar câmeras no estudo do movimento humano e animal durante o final do século XIX. Um famoso fotógrafo dessa época foi Eadweard Muybridge. O fotógrafo utilizava-se de uma série de câmeras com um dispositivo com o qual se podia captar lances seriados de cavalos trotando e galopando. Produziu documentação científica também a respeito de movimentos humanos de grande importância (HALL, 2000). Hoje, os analistas possuem equipamentos que possibilitam uma análise quantitativa em filme ou vídeo com câmeras ligadas ao computador, que torna possível o cálculo das estimativas das quantidades cinemáticas de maior interesse na filmagem (HALL, 2000). Devido a enorme disponibilidade, durabilidade e da facilidade de utilização das modernas câmeras de vídeo e das unidades de repredução, o vídeo é hoje o meio cinematográfico mais comum usado para análise qualitativa do movimento. O vídeo padronizado, proporciona 30 quadros resolúveis por segundo, o que é suficiente para a maioria das aplicações qualitativas do movimento humano. Cientistas que realizam um estudo detalhado da cinemática do movimento humano necessitam tipicamente de uma câmera de vídeo e de uma unidade de reprodução mais sofisticadas com velocidades mais altas de captação dos quadros. No entanto, tanto para análise qualitativa quanto quantitativa, uma informação que adquire maior importância que a velocidade da câmera é a clareza das imagens captadas. O obturador torna possível o controle do usuário do tempo de exposição, ou período de tempo durante o qual o obturador fica aberto quando está sendo obtido cada quadro no registro em vídeo. Essa câmera com velocidade do obturador corretamente regulada é necessária para gerar imagens claras e nítidas dos movimentos rápidos, independentemente da velocidade de captação dos quadros (HALL, 2000). Outra consideração importante a respeito da análise do movimento com vídeo é o de que os movimentos ocorrem em três dimensões, ou seja em três
  • 14. 11 planos (sagital, transversal e frontal). Isso indica a utilização de mais de uma câmera para uma posterior reconstrução do movimento tridimensionalmente. O número de câmeras e seus posicionamentos devem ser previamente estudados para cada tipo de movimento, de modo a garantir que todos os gestos sejam visualizados e registrados com exatidão para permitir uma análise detalhada. Existem outros tipos de tecnologias para aplicações que envolvam a análise cinemática do movimento. Esses sistemas permitem que se faça, em tempo real, o rastreamento de alvos que consistem em minúsculas luzes elétricas, conhecidas como diodos emissores de luz (LEDs, de light-emitting diodes) ou marcadores eletromagnéticos, que podem ficar presos na pele, estabelecendo regiões que representem os eixos articulares ou outros pontos de interesse. Câmeras especiais ligadas a um computador permitem o rastreiamento desses alvos. A combinação de células fotoelétricas, feixes luminosos e cronômetros podem ser utilizados para medir diretamente a velocidade do movimento. O goniômetro manual usado para determinar o ângulo presente em uma articulação existe também em uma versão eletrônica, conhecida como eletrogoniômetro ou elgon. O centro do elgon é posicionado sobre o centro de rotação da articulação a ser monitorizada e seus ramos alinhados e presos firmemente sobre o eixo longitudinal dos segmentos corporais adjacentes. Com a movimentação da articulação, o influxo elétrico proporciona um registro contínuo do ângulo presente na articulação (HALL, 2000). Outro sistema de monitorização do movimento é o acelerômetro que é um transdutor usado para mensuração direta da aceleração do local em que é fixado. 1.3 Caracterização do movimento em ambiente aquático e terrestre Há uma grande quantidade de parâmetros, já descritos na literatura, com os quais se pode caracterizar e interpretar a marcha e a corrida humana. A descrição é feita através da apresentação de variáveis cinemáticas, como por
  • 15. 12 exemplo, velocidade, aceleração e variação angular das articulações e de pontos específicos como o centro de gravidade. Também são considerados parâmetros como a amplitude e dimensão da passada, tempo de contato com o solo durante o ciclo completo da passada e acelerações e deslocamentos de segmentos do corpo, além da apresentação de variáveis cinéticas, tais como força de reação do solo em seus três eixos de movimento, estimativa de valores de forças internas aplicadas ao sistema ósteo-articular, momentos de força articular, potência de força gerada e absorvida (ERVILHA, 1999). Segundo BRUNIERA (1994), os movimentos de locomoção são altamente variáveis, não somente entre indivíduos, mas para um mesmo indivíduo a diferentes velocidades e de apoio para apoio. Além disso, é um processo complexo que necessita de um elaborado controle do sistema musculo-esquelético e sistema nervoso. Conclui-se então que a locomoção não é um único fenômeno, mas muitos fenômenos interligados, constituindo-se um movimento de estrutura complexa para análise e interpretação. Embora duas pessoas não possam se mover de maneira idêntica, existem certas características da locomoção que são universais, e estes pontos similares servem como base para a descrição cinemática, dinâmica, atividade muscular entre outras. 1.3.1 Caracterização da Marcha e Corrida em ambiente terrestre O andar e o correr são descritos na literatura basicamente através de parâmetros como variação angular dos segmentos (membros do corpo humano ou modelos desses) envolvidos na realização do movimento, variação do sinal eletromiográfico de músculos que atuam na realização do movimento, e distribuição de pressão estimada ou medida diretamente. Todas essas variáveis, como citado anteriormente, são descritas em função do total percentual do ciclo da passada e podem ser observadas sob diferentes perspectivas (planos sagital, frontal e occipital). São, geralmente, criados gráficos para demonstrar essa variação em função do total do ciclo, ficando as
  • 16. 13 variáveis no eixo vertical (Y), e o instante do ciclo ou tempo no eixo horizontall (X). NOVACHECK (1998) realizou uma revisão da literatura em busca de parâmetros biomecânicos para a análise do ciclo de passadas na corrida e marcha humanas, descrevendo suas fases e etapas. Segundo o autor, o ciclo da passada se inicia no momento em que um dos pés toca o chão e termina quando o mesmo o toca novamente. Duas são as fases consideradas para o movimento por todos os autores. Uma fase de contato do pé com o solo (fase de acomodação ou apoio de posição) e outra em que o pé não está em contato com o solo (fase de oscilação ou balanço). Em relação a marcha, a maioria dos autores apresentam pelo menos 4 subdivisões ou etapas para a fase de apoio e 3 para a de oscilação. As subdivisões da fase de apoio segundo ALLARD (1995) são: contato do calcanhar com o solo, pé plantado, médio apoio e retirada do calcanhar. As subdivisões da fase de balanço são: retirada do dedo (perda de contato do hálux com o solo), médio balanço e contato do calcanhar. Fase de Apoio Fase de Balanço contato pé médio retirada retirada médio contato do aplanado apoio do do balanço do calcanhar calcanhar dedo calcanhar FIGURA 1 - Representação esquemática da posição dos membros inferiores durante o ciclo completo do andar - passada, divididos em duas fases, apoio e balanço e seis sub-fases, sendo, contato do calcanhar, pé aplanado, médio apoio, retirado do calcanhar, retirada dos dedos médio balanço, (adaptado de ALLARD, 1995).
  • 17. 14 O ponto limite entre o correr e o andar está no momento em que a fase de duplo apoio (os dois pés tocam o chão) dá lugar a duas fases de flutuação em que nenhum dos pés toca o chão. Quanto maior a velocidade de translação do sujeito, menor será o tempo proporcional da fase de apoio ou acomodação, em relação com o total da passada. O tempo em que a parte anterior do pé (os dedos) demora para desencostar do chão também diminui com o aumento da velocidade de corrida. De acordo com os estudos do autor, o momento em que o pé perde o contato com o chão ocorre a 39% do total na corrida e 36% no esprinte (correr com o máximo de aceleração e velocidade). Outros estudos com atletas velocistas de alto nível demostraram que esse tempo pode ser diminuído para 22% no esprinte (NOVACHECK, 1998). FIGURA 2 - Representação esquemática da posição dos segmentos inferiores durante o ciclo completo da corrida, dividida em três fases apoio, flutuação e balanço (adaptado de ADELAAR, 1986).
  • 18. 15 FIGURA 3 - Exemplo típico da variação angular da articulação do joelho em função da porcentadem do ciclo da passada para a marcha, correr e correr em alta velocidade. Quando o ângulo é zero, o joelho está em extensão máxima (adaptado de ENOKA, 2000). Na FIGURA 3 observa-se variação angular da articulação do joelho em função da porcentadem do ciclo da passada para a marcha, correr e correr em alta velocidade. Ilustra-se na FIGURA 4 o comportamento da força vertical de reação do solo em função do tempo comparando a marcha (caminhada) e o correr.
  • 19. 16 FIGURA 4 - Exemplo típico de força vertical de reação do solo em função do tempo comparando a marcha (caminhada) e o correr (adaptado de ENOKA, 2000). 1.3.2 Propriedades físicas da água Para que se possa entender o comportamento do corpo humano em ambiente aquático, é preciso saber a respeito de suas propriedades físicas como empuxo, tensão superficial, forças resistivas e propriedades térmicas. Segundo DUARTE (2001), o empuxo é a força exercida pela água com intensidade igual ao peso do volume de água deslocado pelo corpo submerso (ou parcialmente submerso) e com direção igual da força peso mas com sentido contrário (para cima). Para um corpo parado a força total que atua sobre ele é o peso do corpo menos a força empuxo. O resultado desta diferença pode ser chamado de peso aparente do corpo e é um valor menor que o peso do corpo porque empuxo e peso sempre tem sentidos opostos. A FIGURA 5 mostra os valores do peso aparente em função da profundidade de imersão do corpo humano para o caso estático e para diferentes velocidades do andar dentro d’água.
  • 20. 17 Estático Lento Rápido C7 Porcentagem de Processo Xifóide aplicação Espinhas Ilíacas do peso ântero-superiores FIGURA 5 - Força de reação do solo em situação estática e durante o andar em diferentes níveis de imersão (adaptado de HARRISON et al.1992). Para profundidades de 1 metro (aproximadamente a profundidade de uma piscina para hidroterapia), a pressão externa sobre o corpo é da ordem de 0,1 atm ou 10.000 Pa. Acredita-se que uma pressão desta ordem tem efeitos positivos na redução de edemas por exemplo. O retorno venoso, obviamente torna-se maior que em meio terrestre. Durante o exercício na água, a troca de calor do corpo humano com este meio é proporcional à intensidade do exercício e à temperatura da água. O calor é trocado entre o meio e a parte interna do corpo passando por duas resistências: uma variável, o sistema circulatório periférico; e outra fixa, a camada de gordura sub-cutânea. A espessura desta camada de gordura é um importante determinante da capacidade de resistência ao fluxo de calor. Os seres humanos tendem a elevar a temperatura interna (armazenar calor) do corpo em águas com temperaturas elevadas e a baixar a temperatura interna (perder calor) em águas com temperaturas baixas. Por isto, a temperatura da água é muito crítica para a permanência confortável do ser humano na água e deve ser ajustada em função da intensidade do exercício físico, mas a temperatura ideal ou confortável pode variar para diferentes pessoas. Para a prática de atividades mais intensas como corrida na água ou natação, as temperaturas recomendadas são da ordem de 22 a 27oC.
  • 21. 18 Outra propriedade do meio aquoso é a tensão superficial que é a força existente entre as moléculas da superfície de um fluido. A força é devida às forças de atração entre as moléculas, na superfície a resultante destas forças é diferente do que no interior do fluido. Para corpos de tamanho e massa semelhantes ao corpo humano, a tensão superficial é uma força muito pequena, desprezível se comparada às forças peso e empuxo para um sujeito boiando próximo à superfície da água. A quantificação das forças resistivas durante movimentos variados é um desafio para os pesquisadores em hidroterapia. Em princípio, as forças resistivas que atuam sobre segmentos do corpo durante o movimento dentro da água, podem ser experimentalmente medidas utilizando-se sensores de força acoplados aos segmentos. Tal método tem sérias complicações e a melhor maneira é estimar as forças resistivas por meio de uma equação que relaciona as variáveis densidade da água, área da secção transversal do corpo, velocidade do corpo em movimento e o coeficiente de arrasto sendo que as três primeiras podem ser medidas diretamente e o coeficiente de arrasto deve ser medido experimentalmente. Ele depende da forma do corpo, da rugosidade da superfície e do tipo de fluxo (laminar ou turbulento). O tipo de fluxo é difícil de medir. O tipo laminar ocorre quando a água só flui em um sentido, e o turbulento quando não há sentido único mas uma agitação devido aos vários sentidos que a água pode tomar. O coeficiente de arrasto é muito maior para fluxo turbulento (DUARTE, 2001).
  • 22. 19 FIGURA 6 - A) Modelo da perna humana; B) Prótese com “hidro boot” para aumentar a área do segmento (adaptado de POYHONEN et al. 2000), POYHONEN et al. (2000), determinaram as forças de arrasto e coeficiente de arrasto (FIGURAS 7 e 8 respectivamente) sobre modelos de pé e perna humanos durante exercícios de extenção e flexão do joelho. Uma prótese dos segmentos perna e pé humano foi conectada a um dinamômetro isocinético para medir as forças resistivas durante o movimento (FIGURA 6). O dinamômetro isocinético produzia velocidades angulares de 250°/s, 270°/s e 300°/s da prótese. Um dispositivo utilizado em hidroterapia (“hydro-boot”), foi utilizado para estudar os efeitos do aumento da área (30%) da perna sobre as forças e coeficientes de arrasto. As máximas forças de arrasto foram de 61N (300°/s) somente com a prótese e 270N (270°/s) com o “hydro-boot”. Os valores dos coeficientes de arrasto foram de 0,3 a 0,1 e de 1 a 0,8, respectivamente para as condições citadas.
  • 23. 20 FIGURA 7- A) Força de arrasto durante extensão do modelo da perna em função do ângulo do joelho; B) Forças de arrasto para o modelo da perna com o hydro-boot (adaptado de POYHONEN et al., 2000) FIGURA 8 - A) Coeficiente de arrasto durante extensão do modelo da perna em função do ângulo do joelho; B) Coeficiente de arrasto para o modelo da perna com o hydro-boot (adaptado de POYHONEN et al., 2000) Os autores concluíram que a força de arrasto e o coeficiente de arrasto foram maiores durante o começo da extensão da perna e que o efeito da
  • 24. 21 velocidade foi muito grande sobre os valores das forças de arrasto mas pequeno sobre os valores dos coeficientes de arrasto. 1.3.3 Aspectos biomecânicos da realização de exercícios em meio aquático Os parâmetros biomecânicos para a descrição da marcha e corrida em meio aquático são escassos na literatura, mas pode-se encontrar dados bastante úteis para a realização dessa tarefa. “Provavelmente, a escassez de literatura específica se dá por dificuldades na adaptação do instrumental necessário à coleta de dados em ambiente aquático e não por desinteresse da comunidade científica ou mesmo dos profissionais da área de reabilitação que se vêem diariamente utilizando um recurso pouco estudado” (ERVILHA, 1999). Segundo ZULUAGA (1995), estudos cinemáticos (GLASS, 1987; HAMER, 1984) demonstram que a corrida na água possui um estilo e técnica muito próximos da corrida em meio terrestre. Isso evidencia a possibilidade de utilização do water-running, como treino suplementar para atletas. FIGURA 9 - Ilustração da prática do “water running”, demonstração da técnica utilizada no movimento evidenciando a proximidade com a corrida em meio terrestre (adaptado de HAMER, 1995).
  • 25. 22 “No meio aquático, devido à presença da força de impulsão hidrostática, o efeito da força da gravidade é diminuído. Daí que a carga mecânica a que está sujeita a estrutura locomotora seja menor” (BARBOSA, 1998). Segundo SMITH & WHITE (1999), devido a suas propriedades de flutuabilidade, tensão superficial e viscosidade, a água produz ótimas condições para o treinamento de força. As autoras afirmam ainda que a água oferece uma resistência doze vezes maior que o ar para o movimento dos segmentos corporais. Seus estudos realizados em 1999, com a prescrição de treinamento na água para o desenvolvimento de força, utilizou um grupo que foi submetido à seções diárias de exercícios variados (incluindo corrida e marcha) na água, e outro grupo de controle. Os resultados indicam a eficácia de exercícios realizados na água para o aumento da força, já que o aumento não ocorreu no grupo controle e somente no submetido ao treinamento. A sobrecarga sobre a coluna vertebral é inevitável em atividades realizadas em meio terrestre. A diminuição da estatura da pessoa ocorre devido a essa sobrecarga compressiva sobre a coluna que produz uma diminuição das distâncias entre os discos intervertebrais. DOWZER et al. (1998), determinaram o encolhimento da coluna em indivíduos que realizaram 30 minutos de corrida fora d’água, em água rasa (ao nível da espinha ilíaca antero-superior) ou em água profunda (com o uso de flutuador). A redução média de estatura foi de 4,59±1,48 mm, 5,51±2,18 mm e 2,92±1,70 mm após 30 minutos de corrida fora d’água, em água rasa e em água profunda respectivamente. Houve uma diferença estatisticamente significativa entre os valores em água profunda e em água rasa. Estes resultados sustentam o uso de corrida em água profunda para o decréscimo da sobrecarga compressiva sobre a coluna. VILAS-BOAS (1997), salienta que em terra dificilmente se consegue sequência de movimentos que determinem a estimulação sucessiva e alternada dos grupos agonista e antagonista. Já na água, os movimentos requerem a contração concêntrica dos grupos musculares alternadamente. Se forem utilizados materiais auxiliares que aumentem a força de arraste, como exemplo luvas e tradicionais hand paddles, pode-se aumentar a sobrecarga.
  • 26. 23 O estudo sobre a variação angular da articulação do joelho e do sinal eletromiográfico no domínio temporal durante a marcha humana em ambiente aquático (ERVILHA, 1999), é um outro passo na busca de se estabelecer parâmetros de análise biomecânica. O estudo foi realizado com uma amostra de 10 indivíduos voluntários sem história pregressa de lesão do aparelho locomotor. A velocidade da marcha era determinada pelo próprio sujeito para que a cadência fosse realizada em um ritmo usual. FIGURA 10 - Variação angular (ELGON) da articulação do joelho em duas situações: A) andar em ambiente terrestre e B) andar em ambiente aquático. Os valores apresentados nas figuras foram calculados através dos sinais obtidos de seis sujeitos realizando 12 passadas cada. O gráfico é composto por duas partes: A superior apresenta a média inter-indivíduos da variação angular e respectivos desvios padrões. A parte inferior mostra os valores médios do CV durante o ciclo completo da passada (0-100%) (Adaptado de ERVILHA, 1999).
  • 27. 24 Cada indivíduo percorria uma distância de 12 m por 20 vezes. Nas 10 primeiras foram recolhidos dados do sinal eletromiográfico sobre os músculos vasto lateral e bíceps femoral. Nas 10 últimas foram obtidos sinais EMG dos músculos tibial anterior e gastrocnêmio lateral. Foi permitido um intervalo para descanso de 5 minutos a cada 10 minutos para evitar que a fadiga muscular interferisse nos resultados. O nível de imersão foi da altura das espinhas ilíacas ântero-superiores, o que, segundo HARRISON et al. (1992) equivale a uma diminuição de até 25% da força peso devido à força de empuxo. Foi realizada uma análise da variação angular do movimento em meio aquático em relação ao mesmo movimento (andar) em terra. Essa foi feita em relação ao percentual do ciclo completo da passada, através do teste-t pareado, com índice de significância 0,01, ponto a ponto durante todo o ciclo da passada. Pode-se assim comparar o padrão de variação da amplitude articular da articulação do joelho, durante a marcha realizada em ambiente aquático e terrestre (FIGURA 10-A, 10-B). O estudo constatou que a diferença média entre as curvas representativas da variação angular da articulação do joelho em ambiente terrestre e aquático é significativamente (p<0,05) diferente de zero, demonstrando que as curvas são significativamente diferentes entre si. “A FIGURA 9-B mostra que de 25% a aproximadamente 75% do ciclo da passada, há pouca variação da articulação do joelho em ambiente aquático, se comparado ao mesmo intervalo do ciclo para o ambiente terrestre” (ERVILHA, 1999). O autor acredita que isso ocorre devido as maiores restrições impostas pela água, permitindo uma menor mobilidade articular. Quanto aos gráficos inferiores, o autor acredita que a diferença que existe na distribuição do CV ao longo do ciclo completo da passada também é explicada pela maior estabilidade do meio. Observa-se nesses gráficos que, embora a magnitude da variabilidade expressa pela média dos CV seja maior para o ambiente aquático, seus valores variam pouco em torno do valor médio por toda a distribuição durante o ciclo completo da passada; ao passo que a
  • 28. 25 variação dos CV ao redor do valor médio é maior para o andar em ambiente terrestre. Houve uma diferença de 10° graus na amplitude total da variação angular da articulação do joelho, com um valor de 61,4° para o ambiente terrestre e de 51,5° para o aquático. Ao observar as amplitudes máximas e mínimas, nota-se claramente que a diferença na amplitude total apresentada deve-se a um maior valor de extensão do joelho, sendo que a flexão máxima é praticamente a mesma para os dois meios, 114,9° terrestre e 115,9° aquático. A maior amplitude de flexão da articulação do joelho ocorre durante a fase de oscilação (WINTER, 1990; ERVILHA, 1999). Considerando que a diferença entre amplitudes de movimento articular ocorrem apenas durante os movimentos de maior extensão da articulação do joelho, especula-se que possa-se atribuir essa diferença a maior resistência do meio ao deslocamento horizontal, provocada pelo volume de água a ser deslocado nesse instante. Também que essa diminuição de amplitude em meio aquático deve-se à diminuição da velocidade de deslocamento do sujeito, tendo como conseqüência a diminuição da inércia do movimento, tanto de deslocamento do segmento como um todo quanto do deslocamento angular. Observa-se na TABELA 1, onde estão os valores referentes as amplitudes articulares da articulação do joelho durante o ciclo completo da passada em ambiente terrestre e aquático, que a amplitude média da variação angular da articulação do joelho varia em apenas 5° para mais em ambiente terrestre, quando comparado ao ambiente aquático. A amplitude máxima de 176,3° para variação angular em ambiente terrestre significa a extensão máxima ou flexão mínima, uma vez que o referencial utilizado nesse estudo foi o de que para o joelho completamente estendido, temos um valor de 180°.
  • 29. 26 TABELA 1 - Valores referentes às amplitudes articulares da articulação do joelho, obtidos através do eletrogoniômetro durante o ciclo completo da passada em ambiente terrestre e aquático (adaptado de ERVILHA, 1999). Do estudo de ERVILHA (1999) ainda se pode utilizar como parâmetros para a análise da marcha em meio aquático os fatos de que as variabilidades intra-sujeitos para o sinal eletromiográfico dos mm vasto lateral, bíceps da coxa, tibial anterior e gastrocnêmio lateral, representadas pelo coeficiente de variação, são respectivamente iguais a 18%, 22%, 17,5% e 28,7% para andar em ambiente terrestre e de 19% , 33%, 36% e 31,2% para o andar em ambiente aquático, mostrando que há uma tendência a uma maior variabilidade para o sinal eletromiográfico intra-sujeito quando a marcha é realizada em ambiente aquático, se comparada à realização da mesma em ambiente terrestre. As variabilidades inter-sujeitos para o sinal eletromiográfico dos mm vasto lateral, bíceps da coxa, tibial anterior a gastrocnêmio lateral, representadas pelo coeficiente de variação, são respectivamente iguais a 27,6%, 24,6%, 32% e 32% para o andar em ambiente terrestre e de 14%, 29%, 42%, e 23,6% para o andar em ambiente aquático, mostrando que não há uma tendência bem definida com relação a diferenças em variabilidade inter-sujeitos para o sinal eletromiográfico para o meio em que a marcha é realizada. A variação angular da articulação do joelho ocorre de forma diferente em função da porcentagem do ciclo da passada, quando a marcha é realizada em
  • 30. 27 ambiente terrestre e aquático. A velocidade angular da articulação do joelho, mantém padrões de variação em função do tempo parecidos, independentemente do meio em que a marcha é realizada, porém as magnitudes são significativamente diferentes. A FIGURA 11 exemplifica os valores de força de reação do solo nos dois ambientes e nas três diferentes velocidades, além de mostrar a variação angular das articulações do quadril, joelho e tornozelo. TERRA ÁGUA quadril Força reação (% peso corporal) normal rápido normal lento do solo extensão (graus) extensão flexão (graus) joelho plantar flexão tornozelo flexão (graus) dorsal flexão tempo (milisegundos) FIGURA 11 - Exemplo de força vertical de reação do solo e variação angular das articulações do membro inferior. Áreas escuras representam a fase de apoio simples para cada condição ilustrada (adaptado de YAMAMOTO et al., 1995). YAMAMOTO et al. (1995) observaram padrões diferentes de movimento das articulações do joelho e tornozelo para as velocidades rápida e normal da marcha realizada dentro da água, em comparação com a marcha realizada em ambiente terrestre. Para a articulação do quadril, em qualquer velocidade, joelho e tornozelo em velocidade lenta, os padrões mantiveram-se
  • 31. 28 similares para ambos ambientes. Pode-se observar que no toque do calcanhar com o solo o joelho está mais flexionado quando o indivíduo está em ambiente aquático. Contudo, mesmo no ambiente aquático, observa-se que a flexão de joelho em diferentes velocidades aumenta à medida que a velocidade de deslocamento aumenta. Ou seja, da velocidade lenta para a rápida, houve um aumento de flexão do joelho no instante em que o calcanhar entrou em contato com o solo. Há alteração do valor da flexão dorsal do tornozelo no instante em que o calcanhar toca o solo, mostrando um aumento da flexão dorsal à medida que há aumento da velocidade em ambiente aquático. Outro dado apresentado pelo estudo foi a alteração da amplitude total do movimento, mostrando que em ambiente aquático o deslocamento em velocidade alta provoca maiores variações angulares do que em ambiente terrestre, porém em velocidades baixas e normais, as amplitudes totais de movimento permanecem próximas . O aumento na amplitude total de movimento articular das articulações do membro inferior durante o andar em ambiente aquático em velocidades altas é resultado da maior resistência do meio ao deslocamento e à maior perturbação do sistema pelo próprio meio, sugerindo que a reabilitação em ambiente aquático é vantajosa, não só como forma de minimizar o impacto devido à deposição de carga sobre os membros inferiores, mas também por proporcionar condições de treinamento de força, devido à maior resistência oferecida pelo meio (YAMAMOTO et al. 1995). No estudo de YANO et al. (1995) pesquisou-se a força de reação do solo (FRS) e as mudanças do padrão da intensidade do sinal Eletromiográfico dos músculos sóleo (SOL), gastrocnêmio medial (GAS) e tibial anterior (TA) medial durante o andar dentro e fora da água.
  • 32. 29 TERRA ÁGUA rápido lento FRS TA GAS SOL FIGURA 12- Exemplo típico de força de reação do solo e sinal eletromiográfico retificado durante o andar em ambiente terrestre e aquático em velocidade rápida e lenta (adaptado de YANO et al.,1995). Pode-se observar na FIGURA 12 que a intensidade do sinal EMG aumentou para o músculo tibial anterior até mesmo em comparação aos outros músculos, com o aumento da velocidade em ambiente aquático. Com relação ao músculo gastrocnêmio medial um aumento também foi constatado ao se mudar do ambiente terrestre para o aquático e com o aumento da velocidade. Já para o músculo sóleo, observa-se uma diminuição da intensidade do sinal EMG. Isso se deve, provavelmente ao fato do músculo gastrocnêmio passar a ser o principal responsável pela flexão plantar, segundo o autor. 1.3.4 Aspectos fisiológicos da realização de exercícios em meio aquático Um importante benefício conseguido por atletas lesionados que se submetem ao water-running na fase de reabilitação é o fato do atleta se manter ativo durante essa fase. A irrigação sangüínea estimula o condicionamento dos membros afetados diminuindo o tempo de reabilitação, além de proporcionar
  • 33. 30 uma atividade até certo ponto parecida e próxima da realizada durante o desempenhar de sua profissão. Essas atividades na água trazem a perspectiva de volta mais rápida do atleta aos níveis competitivos. Quando utilizado como treino suplementar, o water-running traz benefícios da hidroterapia e relaxamento agindo na prevenção contra o over-training (ZULUAGA, 1995). Segundo estudos realizados por HAMER & MORTON (1990), a corrida em água rasa e profunda com períodos de treinamentos de 8-12 semanas demonstraram melhorias na capacidade aeróbica de 10-13% , aumento do VO2 max de 13%, sugerindo sua aplicação em atletas (ZULUAGA, 1995). Segundo CHU & RHODES (2001), as adaptações conseguidas com o treinamento de atletas com corrida na água em comparação a corrida no meio terrestre e o ciclismo, são parecidas em relação ao VO2max. A maioria dos autores demonstra similaridade entre os benefícios fisiológicos adquiridos com a corrida na água e no meio terrestre. Estudos realizados por BURKE et al. (2000), indicam curiosas propriedades do meio líquido como atividade complementar para o desenvolvimento de treino isométrico de força. Os indivíduos realizavam o treino de força igualmente fora da água e após a seção eram divididos em três grupos. Todos os grupos ficariam em repouso por dez minutos em diferentes condições. Um grupo ficaria em água quente (48º±1º), outro em água fria (8º±1º) e o grupo de controle ficaria no meio terrestre. Os resultados apontaram aumento de força em todos os grupos, porém no grupo submetido à água fria esse aumento foi de magnitude muito maior. Com relação ao sexo, somente houve diferenças no grupo da água fria já que os homens obtiveram maior aumento. 1.4 Considerações complementares Além dos riscos mais óbvios de se praticar atividades na água como afogamento, e problemas de higiene pessoal dos atletas, a corrida e marcha na água não é recomendada a um grupo de atletas com determinadas lesões
  • 34. 31 músculo-esqueléticas devido as forças de resistência da água, principalmente em águas rasas (ZULUAGA, 1995). É aconselhável a utilização de sapatilhas de água. Elas evitam que se escorregue em fundos de piscina que não disponham de material antiderrapante, protegem os pés em fundos ásperos e aumentam a sobrecarga. Poderá ser usada, em regime facultativo, uma peça de roupa especial, com o intuito de aumentar a sobrecarga. Todavia, é importante referir que a utilização desta peça se, por um lado, aumenta a carga a que fica sujeito o aluno, por outro, poderá dificultar a realização de movimentos por parte dos membros superiores. (BARBOSA, T. 1998). A técnica de corrida no meio aquático não é exatamente igual à técnica observada no meio terrestre. Assim, é fundamental que os alunos conheçam e dominem a técnica de corrida utilizada no meio aquático. A cabeça deve ficar numa posição neutra, o olhar para a frente, os ombros para trás e relaxados, a caixa toráxica elevada e os abdominais e as nádegas contraídas. O pé do membro inferior de apoio toca o fundo da piscina com o calcanhar. Em seguida, toda a planta do pé toca o fundo. Finalmente ocorre um impulso pela parte anterior do pé, pela ponta dos dedos. O membro superior deve mover-se, de frente para trás, deslocando a massa de água para trás, auxiliando desta forma o deslocamento. A corrida em água profunda, requer a mesma técnica, sobressaindo o fato de que para manter o equilíbrio e, portanto, um bom alinhamento, é necessário compensar os movimentos de um segmento corporal com o seg- mento oposto. Por exemplo, ao avançar o membro inferior direito, o membro inferior esquerdo deve deslocar-se para trás. Para solicitar diferentes grupos musculares, deve-se variar o tipo de passada, por exemplo, deslocar para a frente, para trás, de lado, caminhar na ponta dos pés, caminhar sobre os calcanhares, caminhar com os membros inferiores sempre em extensão, etc. Da mesma forma, também se deve variar o tipo de braçada a utilizar, por exemplo, realizando a braçada de Crow, a braçada de Costas, a braçada de Bruços, a braçada de Borboleta, etc.
  • 35. 32 Dado que o passar longos períodos de tempo correndo pode tornar-se desmotivante, será aconselhável variar não só o tipo de corrida, mas também a forma como são organizadas as tarefas a propor aos atletas. Na FIGURA 12 encontra-se a sugestão de formas de organização e de exercitação em corrida na água: (a) círculo, (b) círculos lado a lado com sentidos de deslocamento opostos. (c) círculo dentro de círculo com sentidos de deslocamentos opostos, (d) carrossel, (e) zig-zag, (f) fila em que o indivíduo de trás ultrapassa todos, (g)oito, (h) onda e (i) vagas (BARBOSA, 1998). FIGURA 13 – Formas alternativas de organização e exercitação em corrida na água.(adaptado de BARBOSA, 1998).
  • 36. 33 3. Conclusão Através do levantamento bibliográfico a respeito de aspectos biomecânicos do andar e do correr em meio aquático, pode-se perceber que ainda não se tem grande quantidade e qualidade de bons trabalhos a respeito desse tema. Existe uma gama muito maior de trabalhos a respeito de variáveis fisiológicas sobre o water running. Outro aspecto importante sobre o tema, é o de que esse tipo de treinamento tende a se tornar uma nova ferramenta para os técnicos para se aperfeiçoar e manter níveis de capacidades físicas, principalmente o condicionamento aeróbico, nas mais diversas modalidades esportivas. Percebe-se que o water running já é bastante utilizado para reabilitação de atletas e para manutenção dos níveis de condicionamento em atletas lesionados. Porém não é muito utilizado como complemento em treinos de atletas sadios. Isso demonstra a importância da divulgação desse método de treino, tendo em vista suas propriedades preventivas contra lesões por excesso de uso devido ao alto grau de impactoem corridas em ambientes terrestres. Aponta-se ainda para a necessidade de mais trabalhos sobre a análise biomecânica, principalmente da corrida em ambiente aquático, já que o tema é de fundamental importância para o esporte e a literatura é tão pobre a esse respeito.
  • 37. 34 4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ADELAAR, R.S.; The pratical biomechanics of running. The American Journal of Sports Medicine, v.14, n.6, p.497-500, 1986. ALLARD, P.; STOKES, I.A.F.; BLANCHI, J.P. Three-dimensional analysis of human movement. Champaign, Human Kinetics, 1995. AMADIO, A.C. Fundamentos da biomecânica do esporte: considerações sobre análise cinética e aspectos neuro-musculares do movimento. São Paulo, 1989. 119p. Tese (Livre Docência) – Escola de Educação Física e Esporte. Universidade de São Paulo. AMADIO, A.C.; DUARTE, M., ed. Fundamentos biomecânicos para análise do movimento. São Paulo, Laboratório de Biomecânica, 1996. BARBOSA, T. Jogging aquático: uma variante da hidroginática. Horizonte (Revista de Educação Física e Desporto), v.15, n.85, p.20-24, 1998. BASMAJIAN, J.V.; De LUCA, C.J. EMG signal amplitude and force. In: BASMAJIAN, J.V. Muscle alive. Baltimor, Willians & Wilkins p.187- 200. 1985. BISHOP, P.A.; FRAZIER, S.; SMITH, J.; JACOBS, D. Physiologic responses to treadmill and water running. The Physician and Sports Medicine, v.17, n.2, p.87-93, 1989. BRUNIERA, C.A.V. Estudo Biomecânico da locomoção Humana: Análise de variáveis descritivas para o andar e correr, 1994. 104p. Dissertação (Mestrado). Escola de Educação Física e Esporte. Universidade de São Paulo. BURKE, G.D.; McNEIL, S.A.; HOLT, E.L.; MAcKINNON, N.C.; RASMUSSEN, R.L. The effect of hot or cold water immersion on isometric strength training. The Journal of strength and conditioning research, v.14, n.1, p.21-31, 2000. BUTTS, N.K.; TUCKER, M.; GREENING, C. Physiologic responses to maximal treadmill and deep water running in men and women. The Americam Jornal of Sports Medicine, v.19, n.6, p.612-14, 1991.
  • 38. 35 CHU, K.S.; RHODES, E.C. Physiological and Cardiovascular changes associated with deep water running in the young (Possible implications for the elderly). Sports Medicice, v.31, n.1, p.33-45, 2001. DUARTE, M.; Princípios físicos da interação entre ser humano e ambiente aquático. Universidade de São Paulo. Escola de Educação Física e Esporte. Laboratório de Biofísica. 2001. Texto disponível na internet: http://www.usp.br/eef/lob/md/ [10 out 2001]. DOWZER, C.N.; REILLY, T.; CABLE, N.T. Effects of deep and shallow water running on spinal shrinkage. British Journal of Sports Medicine, v.32, p.44-48, 1998. EDLICH, R.F.; TOWLER, M.A.; GOITZ, R.J.; WILDER, R.P.; BUSCHBACHER, L.P.; MORGAN, R.F.; TRACKER, J.G. Bioengineering Principles of Hydrotherapy. JBCR, v.8, n.6, p.580-584, 1987. ENOKA, R.M. Bases Neuromecânicas da Cinesiologia. 2.ed. The Cleveland Clinic Foundation. 2000. ERVILHA, U.F. Estudo da variação angular da variação do joelho e do sinal eletromiográfico no domínio temporal durante a marcha humana em ambiente aquático. São Paulo. 1999. 89p. Dissertação ( Mestrado) – Escola de Educação Física e Esporte. Universidade de São Paulo. GLEIN, G.W.; NICHOLAS, J.A. Metabolic costs and metabolic heart rate responses to treadmill walking in water at different depths and temperatures. The American Journal of Sports Medicine, v.17, n.2, p.248-52, 1989. HALL, S.J. Biomecânica Básica. 3.ed. The University of Texas. 2000. HAMER, P.W.; MORTON, A.R. Water-running: training effects and specificity of aerobic, anaerobc and muscular parameters following na eight-week interval training programme. In: ZULUAGA, M. Sports Physiotherapy: Applied science & practice. Melbourne. Australian Physiotherapy Association. 1995. Cap.16. p.255. HARRISON, R.A.; HILLMAN, M.; BULSTROD, S. Loading of the lower limb when walking partially immersed: implications for clinical practice. Physioterapy, v.78, n.3, p.164-66, 1992.
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