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MARION MACHADO CUNHA
O TRABALHO ALIENADO E A EDUCAÇÃO ESCOLAR NA
DINÂMICA CAPITALISTA: UMA OUTRA ESCOLA É POSSÍVEL?
Porto Alegre, Rs
maio de 2006
2
PARA INICIAR OS SENTIDOS DAS PALAVRAS: INTRODUÇÃO COM
CONTEXTO
Este ensaio traz um sentido do qual não podemos simplesmente dizer que são
incabíveis ou que estão fora de contexto. Toda palavra tem um contexto e o seu sentido está
mergulhado nele. Mas qual é sentido central deste ensaio? Partindo do princípio que se
pode indagar qualquer texto, porque este é sua função para a qual se propõe qualquer
escrita, nossa intenção é o sentido do vivido. Um vivido negado e sucumbido pela
sociedade do capital, porque o que se apresenta para ela como “valor” é escrita pela palavra
“mercadoria”.
É necessário mobilizar nossas forças, empreender constantemente nosso fôlego em
denunciar e registrar nossa palavra como poder de negação e superação.
Estender as pessoas reais e concretas essas palavras, que aqui estão materializadas,
representa acreditar no diálogo incessante com outras pessoas, com historicidades e
conteúdos reais e concretos de seus vividos, que o capital luta constantemente em apagar.
Não são palavras novas as que estão ao longo deste texto e tão pouco podemos nos
considerar como baluartes desse desejo. Com diz Neruda, “ninguém detém o rio de tuas
mãos”: é assim que nos inscrevemos por entre as linhas e as palavras que se desenham aqui.
O anúncio de outro caminho, de outro devir, não cessa. A palavra, o contexto, o devir, a
historicidade da pessoa são encontros que instrumentalizam não para uma posição que está
fora de nossa existência ou para o “que está lá”, mas para o que está dentro de nossa
existência e para “o que está aqui”. Gramsci, Marx, Engels têm no homem real o motivo de
suas problematizações e reflexões teóricas. Eles estão mortos, como simbolicamente é
anunciado por aqueles que aceitam a destituição da capacidade humana e que se
“alimentam” do poder que produzem. Mas esses, felizmente, estão enganados ou querem
fazer imaginar que estão. As palavras jamais padecem, porque elas são sentidas, daí o
3
sentido da palavra. Elas nos interpelam tanto para o contexto de onde foram escritas quanto
para o contexto em que podem ser lidas e ouvidas e reescritas.
Disso a palavra se apresenta como pontual e misteriosa. É por isso que realizamos
uma discussão sobre o que representa o trabalho no e para o capitalismo, propondo-nos a
apreender como a mercadoria acaba por encerrar e controlar a atividade do homem, o
trabalho, no primeiro momento. No segundo momento deste ensaio, estabelecemos uma
relação com a escola, perguntando o que ela comporta nessa sociedade dominada pelo
capital e, ao mesmo tempo, indagando se uma outra escola é possível. Para uma unidade
textual, fizemos uso das palavras de Marx, Engels, Gramsci, Mészáros, e outros autores que
acreditam que as palavras têm sentido porque têm contexto e são sentidas.
4
O TRABALHO E O TRABALHADOR SOCIALMENTE ÚTIL NO CAPITALISMO
“por isso canto ao dia e à lua, ao
mar, ao tempo, a todos os
planetas, a tua voz diurna e a tua
pele noturna” (Pablo Neruda)
O trabalho é uma categoria marxista central para se pensar o homem enquanto sujeito
histórico e produtor de práticas sociais materiais e espirituais. Por que? O trabalho é
historicamente compreendido como a atividade vital da existência humana, que garante ao
homem seu caráter universal1
. Assim, “o trabalho é um processo de que participam o
homem e a natureza, processo em que o ser humano com sua ação, impulsiona, regula e
controla seu intercâmbio material com a natureza”. (Marx, 1989, 202). A condição
mediadora do trabalho possibilita ao homem, como propriedade exclusivamente humana,
sua absolvição das forças natureza e, assim, permitindo pensá-la na estreita relação homem-
natureza, transformando-a e, ao mesmo tempo, a si mesmo. O trabalho, nesse sentido,
corresponde a capacidade de liberdade da existência natural do homem ao longo de sua
história, conforme as necessidades produzidas pela unidade natural-humana. Manacorda, se
referindo a essa categoria em Marx, afirma:
O que torna o homem um homem, em confronto com os animais, é que ‘o animal
se faz de imediato uno com sua atividade vital, dela não se distingue, é ela’,
enquanto ‘o homem faz da própria atividade vital o objeto do seu querer e da sua
consciência. Tem uma atividade vital consciente: não existe uma esfera
determinada com a qual ele imediatamente se confunda’. O homem, em poucas
1
É importante destacar que estamos aprofundando a discussão sobre trabalho em três vertentes. A primeira
corresponde ao pensamento originário de Marx e Engels. Segundo, a produção de Luckács. E a terceira, as
reflexões de Mészáros e Jesus Ranieri.
palavras, em seu trabalho, que é uma troca com a natureza, age voluntariamente e
conscientemente, com base num plano e, sobretudo, não ligado a qualquer esfera
particular, vive universalmente da natureza inorgânica: ‘a universalidade do
homem se manifesta praticamente na universalidade pela qual toda a natureza se
torna seu corpo inorgânico. (1991, p.48).
Toda manifestação humana, em sua consciência e ações, é manifestação do trabalho.
A atividade do homem é garantia de sua existência humana, do homem social. Ou seja, o
trabalho é atividade que constitui a natureza do homem e a sua capacidade transformadora.
O trabalho é a dimensão primeira do humano sobre o domínio da natureza, o princípio da
universalidade humana. Qualquer que seja a formação social esta está sobredeterminada
pelo trabalho, a capacidade vital, do homem. O trabalho é a única condição na qual a
existência humana se constitui como tal.
Em qualquer formação econômica, mesmo no capitalismo, o trabalho é o que lhe dá
existência, movimento e desenvolvimento. Isto implica em um conjunto de forças
produtivas e todo o existir do social entre os indivíduos. O capitalismo é inegavelmente
constituído pelo trabalho.
Sem adentrarmos no caráter histórico da acumulação primitiva do capital, é
necessário entender como a sociedade capitalista se constitui em relação ao trabalho e que
efeitos são produzidos diante dessa realidade histórico-social. Inicialmente, o capital tem
no trabalho apenas sua força produtiva, conjurando-o como mercadoria. Essa forma que
assume o trabalho configura-o como produto capaz de produzir outras mercadorias e a
mais-valia:
O trabalhador se torna tanto mais pobre quanto mais riqueza produz, quanto mais
a sua produção aumenta em poder e extensão. O trabalhador se torna uma
mercadoria tão mais barata quanto mais mercadorias cria. Com a valorização do
mundo das coisas aumenta em proporção direta a desvalorização do mundo dos
homens. O trabalho não produz mercadorias somente; ele produz a si mesmo e ao
trabalhador como uma mercadoria, e isto na medida em que produz, de fato,
mercadorias em geral (Marx, 1989. p. 80).
Na produção capitalista a mercadoria conforma o trabalhador a uma condição de
estranhamento do trabalho – a capacidade vital e atividade produtora– e em relações a si,
aos outros homens e a realidade material. Esse poder estranho com o qual se depara o
trabalhador diante de sua capacidade vital tem na mercadoria o ‘espírito’ do capital. A
6
mercadoria, dessa forma, se torna a força determinante do trabalho. Nos Manuscritos
econômico-filosóficos, Marx esboça o sentido da alienação do trabalho, figurando o caráter
de negatividade e de implicações para trabalhador:
o seu trabalho não é, por isso , a satisfação de uma carência, mas somente um
meio para satisfazer necessidades fora dele. (...) O trabalho externo, o trabalho
no qual o homem se exterioriza, é um trabalho de auto-sacrifício, de
mortificação. Finalmente, a externalidade do trabalho aparece para o
trabalhador como se o trabalho não fosse seu próprio, mas de um outro, como
se o trabalho não lhe pertencesse, como se ele no trabalho não pertencesse a si
mesmo, mas a um outro (Marx, 2004, p. 83)
O trabalho, dessa forma, se torna independente do trabalhador e dependente do
capital, com uma externalidade sobre a qual o indivíduo trabalhador não tem nenhum
controle, porque está investido pelas relações de apropriação do trabalho. Mészáros (2006)
aponta esse aspecto da alienação como privação do homem, na medida em que a forma
particular do trabalho alienado se apresenta como negação da atividade humana do
trabalho. O conteúdo do trabalho histórico, e vital, é deslocado para a capacidade de se
constituir como mercadoria, de exclusividade do capital, negando o trabalho como o
mediador do devir humano. Situando melhor essa compreensão, Mészáros destaca o
seguinte:
Assim, o conceito de alienação de Marx compreende as manifestações do
‘estranhamento do homem em relação à natureza e a si mesmo’, de um lado, e as
expressões desse processo na relação entre homem-humanidade e homem e
homem, de outro (2006, p. 21).
O trabalho alienado é a base de toda alienação (Mészáros, 2006). Todas as outras
formas de alienação são expressões do trabalho alienado.
Assim, a mercadoria se apresenta como síntese e mediadora de todas as relações
sociais no capital, justamente porque o trabalho toma a forma mercadoria. O “trabalhador
encerra a sua vida no objeto; mas agora ela não pertence mais a ele, mas sim ao objeto”.
(Marx, 2004, p.81). Ou seja, na medida em que o trabalho está no invólucro do mercado e
regido por ele, como uma propriedade privada, sua condição ativa é reduzida a um
conteúdo de necessidade do capital, e não a do homem e sua socialização humano-natural.
Dessa forma, as relações sociais de uma pessoa no capitalismo estão sobredeterminada pela
7
alienação. As relações estabelecidas no capital se dão pela forma mercadoria do trabalho,
pelas relações de troca, de compra e venda do trabalho, nas quais não tem poder de decisão
e controle.
Marx e Engels esboçam, na Ideologia Alemã, esse conteúdo real dos indivíduos e da
história: “O que eles são coincide, portanto com sua produção, tanto com o que produzem,
como com o modo que produzem” (1991, p. 27-28). A história dos indivíduos tem como
conteúdo real a vida material e suas efetivas “contradições” (Marx, 1983). O capitalismo
tem na força de trabalho uma mercadoria tornada propriedade privada, como expressão de
vontade geral, ou, como afirmam Marx e Engels, “a ilusão de que a própria propriedade
privada repousa unicamente na vontade privada, na disposição arbitrária da coisa” (1991, p.
100). A mercadoria se constitui como uma universalidade tanto do conteúdo do trabalho (o
produto), como da forma (processo de produção, organização do trabalho).
Na medida em que o existir do trabalho só se manifesta como mercadoria “o
indivíduo é confrontado como meros objetos (coisas, mercadorias), uma vez que seu ‘corpo
inorgânico2
’ – ‘natureza trabalhada’ e capacidade produtiva externalizada – foi dele
alienado” (Mészáros, 2006, p.80). No capital, o trabalho, como a qualidade humana, só se
efetiva nas relações de compra e venda, nem mais e nem menos. Essas relações são formas
de socialização do trabalho, determinado como parte do capital (Romero, 2005).
A alienação do trabalho passa justamente pela forma de mercantilização da força de
trabalho. Ainda para melhor situar o que constitui essa afirmação, Souza destaca que, “o
que constitui a alienação do trabalho é, primeiramente, o fato de o trabalho externo ao
trabalhador não fazer parte de sua natureza e, por conseguinte, no fato do trabalhador não
se realizar em seu trabalho”. (2002, p. 21). Porque a única existência possível para o capital
é valer-se da mercadoria. A condição do trabalho, sob estas circunstâncias, coincide como
venda e compra.
A lógica do capital naturaliza sua lei e imprime a subsunção3
do trabalho em qualquer
direção. A produção de mercadoria é a necessidade do trabalho alienado. Nas relações de
2
Mészáros afirma que em Marx inorgânico representa a “expressão concreta e a materialização de uma fase e
uma estrutura historicamente dada da atividade produtiva, na forma de seus produtos, dos bens materiais às
obras de arte”. (2005, p. 80).
3
Estamos usando a mesma definição que Romero dá a subsunção, a qual que apreende das obras de Marx,
que se refere a “subordinação e inclusão do trabalho ao capital”. (2005, p. 20)
8
mercado, na compra e venda, na troca, o indivíduo aliena o valor-de-uso de seu trabalho4
–
não-valor-de-uso –, para ‘valer’ como valor-de-troca para ele e para o comprador, o
representante do capital, o valor-de-uso: o movimento fundamental para o capital
reproduzir-se e gerar sua acumulação. Ou seja, como apresenta Marx,
Todas a mercadorias são não-valores-de-uso, para os proprietários, e valores-de-
uso para os não proprietários. Todas têm, portanto, de mudar de mão. Mas, essa
mudança de mão constitui sua troca, e sua troca as relaciona umas com as outras
como valores. As mercadorias têm de realizar-se como valores, antes de poderem
realizar-se como valores de uso. Por outro lado, têm elas de evidenciar que são
valores de uso antes de poderem realizar-se como valores, pois o trabalho nelas
despendidos só conta se foi empregada em forma útil para os outros. Só através
da troca se pode provar que o trabalho é útil aos outros, que seu produto satifaz
necessidades alheias (Marx, 1989, p. 96)
O trabalhador individualizado se apresenta ao mercado como valor-de-troca para se
constituir como valor-de-uso pelo comprador, o qual o torna útil no processo de produção
para dar conta das necessidades do capital. Por isso, não é de se estranhar que o valor do
trabalho só ocorra quando é mobilizado e de forma independente dos indivíduos, porque o
trabalho é apropriado no interior e por força do capital. Se por um lado o capital é negação
do trabalho, por outro, só existe em função do trabalho.
A força de trabalho só entra nas relações de produção depois de ser negociada no
mercado, ocultando seu valor-de-uso (força vital), mas posta em funcionamento pelo
comprador. É mister recorrer à Marx para entender essa fórmula: “Sendo a própria
mercadoria unidade de valor-de-uso e valor, o processo de produzi-la tem de ser um
processo de trabalho ou um processo de produzir valor-de-uso e, ao mesmo tempo, um
processo de produzir valor.” (1989, p 211).
4
Aqui o trabalho é reduzido a força de trabalho, fragmentando tanto o individuo como destituindo o trabalho
de sua capacidade vital para o indivíduo, onde o salário é pagamento ao trabalhador por vender sua força de
trabalho. Esse fenômeno garante ao capital apropriar-se do excedente do trabalho corporificada na
mercadoria. Como forma de síntese dessa afirmação, Mehring, fazendo referência entre a mais-valia e o
salário, destaca: “A relação entre a mais-valia e o salário faz com que o modo capitalista de produção, ao
mesmo tempo, reproduza incessantemente o capital para o capitalista e crie, também, incessantemente, a
miséria do trabalhador: de um lado, o capitalista, proprietário de todos os bens, matérias-primas e
instrumentos de trabalho; de outro, a grande massa trabalhadora obrigada a vender a este capitalista sua força
de trabalho em troca de determinada quantidade de mantimentos, de modo a seguir trabalhando e a produzir
uma nova geração de proletários em condições de trabalhador.” (2003, p. 27). E necessário destacar que a
reprodução do capital que se viabiliza pela mercadoria, precisa legitimar e garantir sua viabilidade em todas
as instancia do social, através de forma extensiva do trabalho
9
A força de trabalho é a única mercadoria do capital capaz de ativar o processo de
produzir valor-de-uso e valor. Assim, ela, ao entrar nas relações de troca, de compra e
venda, convertendo-se em valor de uso, difere de todas as outras mercadorias, pois, o
trabalho é atividade criadora de valor de outras mercadorias. Vejamos especificamente na
exposição de Marx:
“O trabalhador preserva os valores dos meios de produção consumidos, transfere-
os ao mesmo produto como partes componentes do seu valor, não pelo acréscimo
de trabalho em geral, mas pela modalidade especialmente útil desse trabalho
adicional, através de sua forma produtiva específica.” (1989, p. 225).
Esse modo de produção determina “a relação dos indivíduos entre si, no que ser refere
ao material, ao instrumento de trabalho e ao produto do trabalho” (Marx; Engels, 1991, p.
28). Sob esse aspecto, Marx com lucidez apresenta a força da mercadoria como
determinante:
(...) no mercado de mercadorias apenas se confrontam os possuidores de
mercadorias, e o poder que exercem uns sobre os outros é somente o que deriva
de suas mercadorias. A diferença material das mercadorias é o motivo material
da troca, e torna seus possuidores reciprocamente dependentes, enquanto cada um
deles tiver em suas mãos não o objeto de sua necessidade, mas o das
necessidades do outro (1980, p.180, grifo nosso)
É o poder da mercadoria que impinge ao trabalho somente o caráter de aptidão média
de qualquer indivíduo: “enquanto valor, a força de trabalho representa apenas determinada
quantidade de trabalho social meio nela corporificado. Não é mais do que a aptidão do
individuo vivo”. (Marx, 1989, p.191).
A existência do trabalho alienado no capitalismo é compreendida de duas formas, que
se conjugam e se combinam. A primeira é a forma extensiva que se caracteriza por refletir
o trabalho social, uma combinação entre as diversas formas de trabalho para o mercado, a
produção e a articulação entre os diversos ramos de reprodução da lógica do capital. Os
trabalhadores são independentes uns dos outros enquanto força de trabalho, mas
interdependentes enquanto totalidade produtiva, estando combinados e articulados para o
capital. A segunda forma, que é a intensiva, representa a relação direta do trabalho no
10
interior do mercado e da produção, enquanto “forma socialmente útil” (Marx, 1989, p.
119), em um determinado ramo da divisão social do trabalho. A forma intensiva do trabalho
corresponde ao trabalho particular. Essa última categoria, nos possibilita localizar a posição
e função de um indivíduo no interior do processo produtivo do capital.
Mas o que dá a mercadoria sua existência, não é o mercado e, sim, a capacidade do
trabalho, transformada em força produtiva para e do capital. O trabalho é apenas a “parte
componente do trabalho social, do sistema da divisão social do trabalho que se desenvolve”
(Marx, 1989, p. 119). Esse efeito introduz nas relações de produção o próprio caráter do
trabalho valer-se como propriedade privada. Não é o produto do trabalho que dá ao capital
sua existência, mas a força de trabalho transformada em propriedade, um produto do
capital, como qualquer mercadoria.
Na divisão social do trabalho do capitalismo, o trabalhador é combinado e articulado
de acordo com a necessidade de produção de mercadoria. A mercadoria, produzida pelo
trabalho, entra no mercado para circular sua materialidade de valor (tempo social de
trabalho), de compra e venda, enquanto que a força de trabalho, que também está no
mercado, para se efetivar como propriedade privada e produtora de valor de uso e de valor
de troca. Esse processo garante às necessidades do capital. A alienação do trabalhado é a
condição sine qua non para o capital.
A violência que o capital exerce sobre o trabalho manifesta-se de forma desmedida,
porque tem na alienação do trabalho a garantia de sua continuidade.
A EDUCAÇÃO ESCOLAR NA DINÂMICA CAPITALISTA: UMA OUTRA
ESCOLA É POSSÍVEL?
As relações sociais capitalistas, sob a égide da mercadoria, exigiram, com base na
alienação do trabalho, novas racionalidades produtivas e formas de organização do
trabalho, aprofundando as práticas dessa alienação. A revolução industrial no século XVIII
é a expressão mais concreta e histórica do capital, que configura a força e o poder de
subsunção do trabalho. Negando a atividade do trabalho, mas tornando-a um objeto de
troca, o capital impôs seu poder na própria ampliação de forças produtivas, ao mesmo
tempo, estabelecendo novos limites e socialização aos indivíduos em sociedade. A
11
implantação da máquina, que torna o trabalhador um apêndice (Romero, 2005), provoca
novas socializações dos indivíduos entre si, com a natureza e com o próprio capital. Para
Romero (2005), o uso de novas tecnologias, não pode ser lido como aprimoramento de
técnica, mas a necessidade do capital em ampliar sua reprodução e se situar no campo da
luta de classes. Evidentemente que as relações de produção devem ser ancoradas de forma
intensiva e extensiva do trabalho.
As instituições sociais do capital, enquanto expressões jurídico–políticas e culturais,
precisam ser soerguidas e estarem combinadas com a estrutura de produção em todo tecido
social. Essas instituições precisam ser organizadas, viabilizadas e controladas, porque na
própria história estão as contradições inerentes a ela: a luta de classes.
E, nesse movimento, a escola figura como uma instituição fundamental e com um
conteúdo histórico bastante preciso para essa formação social.
A escola5
passa a ser um espaço institucional estratégico na formação e preparação de
trabalhadores6
para a inserção na divisão social do trabalho, dominada pela industrialização
e pelas novas tecnologias de produção, tanto no que diz respeito à forma intensiva como à
extensiva do trabalho. Não está em jogo apenas disciplinar um contingente potencial de
trabalhadores, enquanto valor, mas criar-lhes condições de reprodução do processo
produtivo e das relações de trabalho, organizando as experiências e o consentimento para o
trabalho alienado. Sobre essa referência Fernández Enguita nos expõe a existência da
escola:
Os cercamentos, a dissolução dos laços de dependência, a superpopulação
relativa e a ruína dos pequenos artesãos [bases da acumulação primitiva do
capital] bastavam para que a força de trabalho aparecesse no mercado por seu
valor de troca, mas não asseguravam a extração de seu valor de uso. Para isso era
necessário o concurso da vontade do trabalhador, e portanto nada mais seguro
5
A escola surge na humanidade na intima relação com as classes possuidoras: “interior das classes
possuidoras, como estrutura destinada exclusivamente à sua formação” (Manacorda, 1991, p.115).
6
Tomamos o sentido de trabalhador aquele que figura todo e qualquer indivíduo que não prescinde das
relações salariais para sua manutenção e reprodução e que não se constituem como donos dos meios de
produção, seja ele relacionado ao trabalho manual ou intelectual. E que não possuem controle sobre a
produção, por serem proprietários exclusivos de sua força de trabalho, embora possam ser colaborardes
fundamentais para a reprodução do capital. Ainda cabe destacar que, para essa compreensão, o trabalhador
intelectual não pode ser confundido com os intelectuais que constituem a classe burguesia. Como diz
Gramsci, “Cada grupo social, nascendo no terreno originário de uma função essencial no mundo da produção
econômica, cria para si uma ou mais camadas de intelectuais que lhe dão homogeneidade e consciência da
própria função, não apenas no campo econômico, mas também no social e no político”. (1991, p 03)
12
que molda-la desde o momento de sua formação. O instrumento idôneo era a
escola. (1989, p.114).
.
A escola assume um caráter dinâmico na estrutura do capital por empreender uma
educação sistematizada que se apresenta como uma totalidade e como unidade, estendidas
às pessoas. O que se apreende da importância da educação mediatizada pela escola são as
veiculações de valores morais e crenças, capazes de converterem a força da lógica do
capital em forças hegemônicas, como os fundamentos dessa organização social e histórica.
A educação intitucionalizada, especialmente nos últimos 150 anos, serviu – no
seu todo – ao propósito de não só fornecer os conhecimentos e o pessoal
necessário à máquina produtiva em expansão do sistema de capital, como
também gerar e transmitir um quadro de valores que legitima os interesses
dominantes, como se não pudesse haver nenhuma alternativa à gestão da
sociedade, seja na forma internalizada (isto é, pelos indivíduos devidamente
‘educado’ e aceitos) ou através de uma dominação estrutural e uma
subordinação hierárquica e implacavelmente imposta. (Mészáros, 2005, p.35).
Ainda é necessário para nossa compreensão a referência que Marx e Engels fazem na
Ideologia Alemã: “As idéias dominantes nada mais são do que a expressão ideal das
relações materiais dominantes.” (1991, p 72). Ora, as bases matérias de produção do capital
não são asseguradas somente na esfera produtiva, é necessária uma superestrutura, com
todo o aparato institucional, que dê às bases materiais sua consciência e validade e, que ao
mesmo tempo, se apresente como uma vontade geral, um consentimento:
“com efeito ainda, cada nova classe que toma o lugar da que dominava antes
dela é obrigado para alcançar, para alcançar os fins a que se propõe, a
apresentar seus interesses como sendo o interesse comum de todos os membros
da sociedade, isto é, para expressar isso mesmo em termos ideais: é obrigada a
emprestar às suas idéias a forma de universalidade, e apresentá-las como sendo as
únicas racionais, as únicas universalmente válidas. A classe revolucionária
surge, desde, não como classe, mas como representante da sociedade, porque já
se defronta com uma classe.” (Marx; Engels1991, p.74, grifo nosso).
Na base material do capitalismo, a burguesia é a classe que representa a força do
capital para além da base material, a qual tem a função de criar a unidade entre as
condições materiais e o conjunto das relações sociais, políticas e jurídicas, dando à lógica
do capital viabilidade como práticas naturais dessa sociedade: sua expressão como classe
social está na condição de manter a estrutura produtiva da qual emerge sua força.
13
A educação, nesse espaço institucional, se torna um “instrumento valioso de um
grupo social dominante para o exercício de sua hegemonia, para desempenhar sua função
de direção em relação aos demais grupos sociais” (Severino, 1986, p. 44).
A realidade, concreta e histórica, do capitalismo engendra uma educação escolar
voltada para as socializações do capital.
Arroyo, ao tratar de defender uma teoria pedagógica para a educação, expressa que é
fundamental discutir sobre as formas de poderes e as relações de força que constituem a
existência da escola. Entretanto, o autor chama a atenção que este fenômeno é apenas
“parte das questões educacionais” (1998, p. 157) e, dessa forma, não se pode limitar ao
“denuncismo”. Mais adiante, em seu ensaio, trata a ênfase das formas de poderes e de
ideologia como manifestações externas:
Ainda a teoria pedagógica e curricular estão marcadas por essa externalidade.
As conseqüências têm sido marginalizar seu próprio objeto, centrar-se nas
estruturas de poder, nos embates ideológicos, na história das idéias, nos
modelos de infância, nos discursos produzidos fora do ato educativo em geral e,
especificamente, fora da prática escolar. Os próprios estudos sobre trabalho-
educação caem por vezes nessa externalidade, privilegiando os embates
ideológicos e políticos que permeiam as mudanças na produção e no trabalho
(1998, p. 159).
O que o autor nos chama a atenção é justamente tentar empreender um esforço que
seja capaz de apreender as conexões, relações, contradições que ocorrem entre o mundo do
trabalho e a escola. Nesse sentido, Arroyo nos coloca a questão central para viabilizarmos a
leitura sobre a instituição escolar orientada por um conjunto ideológico-cultural, filosófico-
científico, prático e ético-moral. Daí a necessidade de compreender a conexão existente
entre a base material de produção e a política, no sentido mais amplo, como movimento e
contradições. Temos em Gramsci um conteúdo preciso nessa direção, porque ele estabelece
uma reflexão fundamental dessa conexão nos “planos superestruturais”. Disso decorre um
de seus conceitos fundamental: “a hegemonia”. Gramsci destaca que existem duas
distinções que operam no interior da sociedade capitalista: “a sociedade civil (isto é, o
conjunto de organismos chamados comumente privados) e da sociedade política ou Estado,
que correspondem à função hegemônica que o grupo dominante exerce” (1991, p. 10-12).
A hegemonia, em Gramsci, implica na capacidade de direção, dominação e o exercício do
14
consenso e da persuasão (Gruppi, 1980). Segundo Gruppi, ao analisar o conceito de
hegemonia de Gramsci, expressa que:
As classes sociais, dominadas ou subalternas – como diz Gramsci – participam de
uma concepção do mundo que lhes é imposta pelas classes dominantes. Essa
ideologia das classes dominantes corresponde à função histórica delas, e não aos
interesses e à função histórica – ainda inconscientes – das classes subalternas
(Gruppi, 1991, p 67-68).
Partindo dessas referências, a escola é um espaço social e político, como uma das
instituições da sociedade civil, que é ao mesmo tempo uma instituição de hegemonia. Por
isso, é possível entender o porquê Manacorda afirma que é com a indústria que a escola é
“uma coisa de toda a sociedade” (1991, p. 115 - 116). E também porque essa escola se
apresenta dividida entre a escola para trabalhadores e escola para intelectuais (para o
trabalho manual e para os dirigentes intelectuais). Ela existe no seio da divisão social do
trabalho e como aparelho de hegemonia.
A escola do capital tem
um papel importante na configuração, na disseminação e reprodução da ideologia
e, conseqüentemente, na consolidação do consenso social, na preservação do
bloco histórico dominante [estrutura de produção capitalista e a superestrutura
político-ideológica] e na reprodução da própria estrutura de produção da
formação econômica do referido grupo (Severino, 1986, p. 44)
Se na escola burguesa a sociedade tem no trabalho somente seu aspecto produtivo de
mercadoria e a forma útil do trabalhador, seu efeito para os indivíduos incide na
legitimação do trabalhador alienado. Em outras palavras, a educação escolar é uma
educação alienada.
Faz necessário pensar outra educação para além do capital (Mészáros, 1995). Não é o
trabalho que é a negação da capacidade vital do homem, mas o conjunto produtivo do
capital e sua lógica de mercadoria. Mello é bastante preciso ao considerar que o capitalismo
precisa de “hegemonia ativa, de direção e dominação” (2005,p.69).
Nenhuma alternativa será possível se não romper com os “sistemas de
internalizações” do capital, sem “ações conscientes” na qual a educação no sentido mais
15
amplo deve ser mobilizada (Mészáros, 2005). Para isso, a luta contra-hegemônica está
também na luta “contra-internalização” (Mészáros, 2005). O princípio desta luta tem no
próprio o trabalho a condição e o conteúdo central, na perspectiva do homem concreto e
histórico, ou seja, o homem no reencontro do trabalho ativo.
Concordamos com Mészáros quando sublinha que o “cumprimento dessa nova tarefa
histórica envolve simultaneamente a mudança qualitativa das condições objetivas de
reprodução da sociedade...” (2005, p.65). E disso a concepção de uma escola unitária, que
Gramsci orienta, se apresenta como fundamental para o homem e o trabalho. Nessa direção,
Nosella destaca: “(..) re-encontramos na proposta gramsciniana da escola unitária um
conceito que funde a caraterística formativa-humanista [o ensino das leis da natureza e da
sociedade] com sua dimensão prático-produtivo”. (2004, p.170).
A educação da escola unitária aqui não corresponde à educação escolar do capital. A
educação é compreendida no sentido mais amplo e situada no trabalho: são duas premissas
essenciais para mobilizarmos uma educação capaz de atender a existência do homem em
sua unidade natural-humana. A educação, em sentido amplo, é estratégica nesse
movimento. A partir dela é possível além de mudar as condições de reprodução gerir
“automudança consciente dos indivíduos chamados a concretizar a criação de uma nova
ordem social metabólica radicalmente diferente”. (Mészáros, 2005, p. 65).
A formação a partir do trabalho, para Gramsci (Nosella, 2004), refere à capacidade de
apreender através do espírito criativo, livre e autônomo o movimento das leis naturais e
humanas.
É aqui cabe a negação da escola burguesa. Torna-se imprescindível movimentar uma
luta contra-hegemônica por entre as fissuras abertas pela contradição dentro e fora da
escola. Uma prática educativa orientada por aquilo que Marx e Engels apresentam como
“dominar o real” e o “vinculo com história”, onde a prática, atividade humana, está em
unidade com a consciência, em outras palavras, a “consciência da práxis existente” (1991,
p.45). Lançar mão da práxis como conteúdo da verdade e da história da existência humana
a partir da qual é possível se lançar a uma contra-hegemonia. Disso a escola burguesa não
pode nos possibilitar, mesmo porque, como diz Mészáros, mais do que negar o capital, é
necessário imprimir outra reprodução social. As instituições de educação formais estão,
dessa forma, “integradas” e revestidas pelo capital.
16
É inevitável nossa posição política de contra-hegemonia de romper com o vigente
modelo de reprodução que a atual educação escolar dispõe na sociedade, a partir de uma
tomada de posição de práxis. Uma luta que não cesse de aprofundar e ampliar a contradição
da escola burguesa, que a desestabilize tanto internamente quanto externamente. A
educação do capital é necessariamente pautada por educação alienadora do capital,
dispondo os indivíduos em uma hierarquização na divisão social do trabalho, conforme a
necessidade do mercado. É possível empreender sua negação para todos os indivíduos
concretos e criar condições reais e alternativas desse momento histórico. Disso deriva uma
capacidade “consciente” de uma educação contra-internalização. A educação, dessa forma,
assume um valor exponencial, porque é sustentada por um “objetivo de uma mudança
verdadeiramente radical” (Mészáros, 2005, p. 48). É sob essa compreensão que será
possível criar instrumentos que não se subjuguem às mistificações capitalistas e da
mercadoria. O primeiro passo é justamente compreender suas conexões e vigências e o
fundamento que dá viabilidade ao capital, na estreita conexão material e espiritual,
produção e política.
O que Gramsci nos oferece é uma compreensão diametralmente oposta à escola do
capital. Enquanto esta ratifica as disposições dos indivíduos para a legitimidade da
mercadoria e a divisão social capitalista, para Gramsci o trabalho deve ser o fundamento
central e estratégico para a legitimação do homem real e histórico, que terá na escola o
espaço privilegiado e orientado para a formação intelectual e para o trabalho. Daí sim, terá
o trabalho dimensões criativas e produtivas da e para a existência humana.
17
PARA NÃO CONCLUIR
No capital onde o trabalho é alienado, todo o tecido social é na mesma medida.
Entretanto, sua reprodução não se realiza de forma mecânica. A escola é uma instituição na
qual o capital não cessa de produzir sua hegemonia e internalizações do trabalho alienado: a
educação formal acaba sendo indispensável para a reprodução da lógica do capital. Mas
também esse espaço escolar é um palco de contradições, daí a emergência revesti-lo ainda
mais de contradições, fazer valer como eminentemente político, e empreender uma luta de
contra-hegemonia, na qual o trabalho seja a centralidade para, e partindo dele, construir
alternativas reais (Mészáros, 2005).
Para Gramsci é necessário conhecer as relações de força: a) a relação de “força ligada
à estrutura objetiva” que é forjada pelo “grau de desenvolvimento das forças materiais de
produção” (campo da estrutura de produção e das forças produtivas); b) a relação de “força
política” que é elaborada no conjunto da “avaliação do grau de homogeneidade, de
autoconsciência e de organização alcançado pelos vários grupos sociais” (campo da
superestrutura, sob a dinâmica da política) e as relações de força militares. (1980, p. 48-51).
Daí a importância de estabelecer por dentro da escola relações de força que sejam
capazes de agir tanto internamente como externamente.
A sociedade não é algo estático e as relações de forças se caracterizam pelo potencial
das classes sociais tem em mobilizar suas existências coletivo-individuais. Se outra escola é
possível, a resposta é sim. Mas é preciso antes superar da auto-alienação do trabalho no
capitalismo. Temos que mobilizar a práxis geradora da verdade e da história como
conteúdo contra-hegemônico para a qual a educação funcione com uma catarse das
mitificações, das internalizações dos valores e dos princípios dominantes capitalistas. Só
será possível uma escola unitária, no sentido gramsciniano, na medida em que trazer o
trabalho para dentro e fora da escola burguesa do capital.
18
ARROYO, Miguel A. Trabalho – Educação e teoria Pedagógica. In: FRIGOTOO,
Gaudêncio (org.). Educação e crise do trabalho. Petrópolis: Vozes, 1998.
FERNÁNDEZ ENGUITA, Mariano. A face oculta da escola. Porto Alegre: Artes Médicas,
1989. (Coleção Educação).
GRAMSCI, Antonio. Maquiavel, a política e o Estado Moderno. 4. ed. Rio de Janeiro,
1980. pp. 03-102
_____. Os intelectuais e a organização da cultura. 8. ed. Rio de Janeiro: Brasiliense, 1991.
GRUPPI, Luciano. O conceito de hegemonia em Gramsci. 3. ed. Rio de Janeiro: Grall.
1991.
MANARCORDA, Mario Alighiero. Marx e a pedagogia Moderna. São Paulo: Cortez,
1991.
MARX, Karl. O capital. 13. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1989 [1890]. v. 1.l.1.
____ . Contribuição á critica da economia política. São Paulo: Martins Fontes, 1983.
____. Manuscritos econômico-filosóficos: São Paulo: Boi Tempo, 2004.
____; ENGELS, Friedrich. A ideologia Alemã. 8. ed. São Paulo: Hucitec, 1991.
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19
MELLO, Adriana A. Sales de. Os organismos internacionais na condição de um novo bloco
histórico. In: NEVES, Lúcia M. Wanderley (org.). A nova pedagogia da hegemonia:
estratégias do capital para educar o consenso. São Paulo: Xamã, 2005.
MÉSZÁROS, István. A educação além do capital. São Paulo: Boitempo, 2005.
____. Educação para além do capital
MÉZSÁROS, István. A teoria da Alienação. Teoria da Alienação em Marx. São Paulo: Boi
Tempo, 2006.
NOSELLA, Paolo. A escola de Gramsci. 3. ed. rev. e atua. São Paulo: Cortez, 2004.
NERUDA, Pablo. Cem sonetos de amor. Porto Alegre: L&PM, 2006.
ROMERO, Daniel. Marx e a Técnica: estudo dos manuscritos de 1861-1863. São Paulo:
Expressão Popular, 2005.
SEVERINO, Antônio Joaquim. Educação, ideologia e contra-ideologia. São Paulo:
Pedagógica e Universitária, 1986.
SOUZA, José dos Santos. Trabalho, educação e sindicalismo no Brasil. Campinas: Autores
Associados, 2002.
20

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O trabalho alienado e a educação escolar na dinâmica capitalista

  • 1. MARION MACHADO CUNHA O TRABALHO ALIENADO E A EDUCAÇÃO ESCOLAR NA DINÂMICA CAPITALISTA: UMA OUTRA ESCOLA É POSSÍVEL? Porto Alegre, Rs
  • 3. PARA INICIAR OS SENTIDOS DAS PALAVRAS: INTRODUÇÃO COM CONTEXTO Este ensaio traz um sentido do qual não podemos simplesmente dizer que são incabíveis ou que estão fora de contexto. Toda palavra tem um contexto e o seu sentido está mergulhado nele. Mas qual é sentido central deste ensaio? Partindo do princípio que se pode indagar qualquer texto, porque este é sua função para a qual se propõe qualquer escrita, nossa intenção é o sentido do vivido. Um vivido negado e sucumbido pela sociedade do capital, porque o que se apresenta para ela como “valor” é escrita pela palavra “mercadoria”. É necessário mobilizar nossas forças, empreender constantemente nosso fôlego em denunciar e registrar nossa palavra como poder de negação e superação. Estender as pessoas reais e concretas essas palavras, que aqui estão materializadas, representa acreditar no diálogo incessante com outras pessoas, com historicidades e conteúdos reais e concretos de seus vividos, que o capital luta constantemente em apagar. Não são palavras novas as que estão ao longo deste texto e tão pouco podemos nos considerar como baluartes desse desejo. Com diz Neruda, “ninguém detém o rio de tuas mãos”: é assim que nos inscrevemos por entre as linhas e as palavras que se desenham aqui. O anúncio de outro caminho, de outro devir, não cessa. A palavra, o contexto, o devir, a historicidade da pessoa são encontros que instrumentalizam não para uma posição que está fora de nossa existência ou para o “que está lá”, mas para o que está dentro de nossa existência e para “o que está aqui”. Gramsci, Marx, Engels têm no homem real o motivo de suas problematizações e reflexões teóricas. Eles estão mortos, como simbolicamente é anunciado por aqueles que aceitam a destituição da capacidade humana e que se “alimentam” do poder que produzem. Mas esses, felizmente, estão enganados ou querem fazer imaginar que estão. As palavras jamais padecem, porque elas são sentidas, daí o 3
  • 4. sentido da palavra. Elas nos interpelam tanto para o contexto de onde foram escritas quanto para o contexto em que podem ser lidas e ouvidas e reescritas. Disso a palavra se apresenta como pontual e misteriosa. É por isso que realizamos uma discussão sobre o que representa o trabalho no e para o capitalismo, propondo-nos a apreender como a mercadoria acaba por encerrar e controlar a atividade do homem, o trabalho, no primeiro momento. No segundo momento deste ensaio, estabelecemos uma relação com a escola, perguntando o que ela comporta nessa sociedade dominada pelo capital e, ao mesmo tempo, indagando se uma outra escola é possível. Para uma unidade textual, fizemos uso das palavras de Marx, Engels, Gramsci, Mészáros, e outros autores que acreditam que as palavras têm sentido porque têm contexto e são sentidas. 4
  • 5. O TRABALHO E O TRABALHADOR SOCIALMENTE ÚTIL NO CAPITALISMO “por isso canto ao dia e à lua, ao mar, ao tempo, a todos os planetas, a tua voz diurna e a tua pele noturna” (Pablo Neruda) O trabalho é uma categoria marxista central para se pensar o homem enquanto sujeito histórico e produtor de práticas sociais materiais e espirituais. Por que? O trabalho é historicamente compreendido como a atividade vital da existência humana, que garante ao homem seu caráter universal1 . Assim, “o trabalho é um processo de que participam o homem e a natureza, processo em que o ser humano com sua ação, impulsiona, regula e controla seu intercâmbio material com a natureza”. (Marx, 1989, 202). A condição mediadora do trabalho possibilita ao homem, como propriedade exclusivamente humana, sua absolvição das forças natureza e, assim, permitindo pensá-la na estreita relação homem- natureza, transformando-a e, ao mesmo tempo, a si mesmo. O trabalho, nesse sentido, corresponde a capacidade de liberdade da existência natural do homem ao longo de sua história, conforme as necessidades produzidas pela unidade natural-humana. Manacorda, se referindo a essa categoria em Marx, afirma: O que torna o homem um homem, em confronto com os animais, é que ‘o animal se faz de imediato uno com sua atividade vital, dela não se distingue, é ela’, enquanto ‘o homem faz da própria atividade vital o objeto do seu querer e da sua consciência. Tem uma atividade vital consciente: não existe uma esfera determinada com a qual ele imediatamente se confunda’. O homem, em poucas 1 É importante destacar que estamos aprofundando a discussão sobre trabalho em três vertentes. A primeira corresponde ao pensamento originário de Marx e Engels. Segundo, a produção de Luckács. E a terceira, as reflexões de Mészáros e Jesus Ranieri.
  • 6. palavras, em seu trabalho, que é uma troca com a natureza, age voluntariamente e conscientemente, com base num plano e, sobretudo, não ligado a qualquer esfera particular, vive universalmente da natureza inorgânica: ‘a universalidade do homem se manifesta praticamente na universalidade pela qual toda a natureza se torna seu corpo inorgânico. (1991, p.48). Toda manifestação humana, em sua consciência e ações, é manifestação do trabalho. A atividade do homem é garantia de sua existência humana, do homem social. Ou seja, o trabalho é atividade que constitui a natureza do homem e a sua capacidade transformadora. O trabalho é a dimensão primeira do humano sobre o domínio da natureza, o princípio da universalidade humana. Qualquer que seja a formação social esta está sobredeterminada pelo trabalho, a capacidade vital, do homem. O trabalho é a única condição na qual a existência humana se constitui como tal. Em qualquer formação econômica, mesmo no capitalismo, o trabalho é o que lhe dá existência, movimento e desenvolvimento. Isto implica em um conjunto de forças produtivas e todo o existir do social entre os indivíduos. O capitalismo é inegavelmente constituído pelo trabalho. Sem adentrarmos no caráter histórico da acumulação primitiva do capital, é necessário entender como a sociedade capitalista se constitui em relação ao trabalho e que efeitos são produzidos diante dessa realidade histórico-social. Inicialmente, o capital tem no trabalho apenas sua força produtiva, conjurando-o como mercadoria. Essa forma que assume o trabalho configura-o como produto capaz de produzir outras mercadorias e a mais-valia: O trabalhador se torna tanto mais pobre quanto mais riqueza produz, quanto mais a sua produção aumenta em poder e extensão. O trabalhador se torna uma mercadoria tão mais barata quanto mais mercadorias cria. Com a valorização do mundo das coisas aumenta em proporção direta a desvalorização do mundo dos homens. O trabalho não produz mercadorias somente; ele produz a si mesmo e ao trabalhador como uma mercadoria, e isto na medida em que produz, de fato, mercadorias em geral (Marx, 1989. p. 80). Na produção capitalista a mercadoria conforma o trabalhador a uma condição de estranhamento do trabalho – a capacidade vital e atividade produtora– e em relações a si, aos outros homens e a realidade material. Esse poder estranho com o qual se depara o trabalhador diante de sua capacidade vital tem na mercadoria o ‘espírito’ do capital. A 6
  • 7. mercadoria, dessa forma, se torna a força determinante do trabalho. Nos Manuscritos econômico-filosóficos, Marx esboça o sentido da alienação do trabalho, figurando o caráter de negatividade e de implicações para trabalhador: o seu trabalho não é, por isso , a satisfação de uma carência, mas somente um meio para satisfazer necessidades fora dele. (...) O trabalho externo, o trabalho no qual o homem se exterioriza, é um trabalho de auto-sacrifício, de mortificação. Finalmente, a externalidade do trabalho aparece para o trabalhador como se o trabalho não fosse seu próprio, mas de um outro, como se o trabalho não lhe pertencesse, como se ele no trabalho não pertencesse a si mesmo, mas a um outro (Marx, 2004, p. 83) O trabalho, dessa forma, se torna independente do trabalhador e dependente do capital, com uma externalidade sobre a qual o indivíduo trabalhador não tem nenhum controle, porque está investido pelas relações de apropriação do trabalho. Mészáros (2006) aponta esse aspecto da alienação como privação do homem, na medida em que a forma particular do trabalho alienado se apresenta como negação da atividade humana do trabalho. O conteúdo do trabalho histórico, e vital, é deslocado para a capacidade de se constituir como mercadoria, de exclusividade do capital, negando o trabalho como o mediador do devir humano. Situando melhor essa compreensão, Mészáros destaca o seguinte: Assim, o conceito de alienação de Marx compreende as manifestações do ‘estranhamento do homem em relação à natureza e a si mesmo’, de um lado, e as expressões desse processo na relação entre homem-humanidade e homem e homem, de outro (2006, p. 21). O trabalho alienado é a base de toda alienação (Mészáros, 2006). Todas as outras formas de alienação são expressões do trabalho alienado. Assim, a mercadoria se apresenta como síntese e mediadora de todas as relações sociais no capital, justamente porque o trabalho toma a forma mercadoria. O “trabalhador encerra a sua vida no objeto; mas agora ela não pertence mais a ele, mas sim ao objeto”. (Marx, 2004, p.81). Ou seja, na medida em que o trabalho está no invólucro do mercado e regido por ele, como uma propriedade privada, sua condição ativa é reduzida a um conteúdo de necessidade do capital, e não a do homem e sua socialização humano-natural. Dessa forma, as relações sociais de uma pessoa no capitalismo estão sobredeterminada pela 7
  • 8. alienação. As relações estabelecidas no capital se dão pela forma mercadoria do trabalho, pelas relações de troca, de compra e venda do trabalho, nas quais não tem poder de decisão e controle. Marx e Engels esboçam, na Ideologia Alemã, esse conteúdo real dos indivíduos e da história: “O que eles são coincide, portanto com sua produção, tanto com o que produzem, como com o modo que produzem” (1991, p. 27-28). A história dos indivíduos tem como conteúdo real a vida material e suas efetivas “contradições” (Marx, 1983). O capitalismo tem na força de trabalho uma mercadoria tornada propriedade privada, como expressão de vontade geral, ou, como afirmam Marx e Engels, “a ilusão de que a própria propriedade privada repousa unicamente na vontade privada, na disposição arbitrária da coisa” (1991, p. 100). A mercadoria se constitui como uma universalidade tanto do conteúdo do trabalho (o produto), como da forma (processo de produção, organização do trabalho). Na medida em que o existir do trabalho só se manifesta como mercadoria “o indivíduo é confrontado como meros objetos (coisas, mercadorias), uma vez que seu ‘corpo inorgânico2 ’ – ‘natureza trabalhada’ e capacidade produtiva externalizada – foi dele alienado” (Mészáros, 2006, p.80). No capital, o trabalho, como a qualidade humana, só se efetiva nas relações de compra e venda, nem mais e nem menos. Essas relações são formas de socialização do trabalho, determinado como parte do capital (Romero, 2005). A alienação do trabalho passa justamente pela forma de mercantilização da força de trabalho. Ainda para melhor situar o que constitui essa afirmação, Souza destaca que, “o que constitui a alienação do trabalho é, primeiramente, o fato de o trabalho externo ao trabalhador não fazer parte de sua natureza e, por conseguinte, no fato do trabalhador não se realizar em seu trabalho”. (2002, p. 21). Porque a única existência possível para o capital é valer-se da mercadoria. A condição do trabalho, sob estas circunstâncias, coincide como venda e compra. A lógica do capital naturaliza sua lei e imprime a subsunção3 do trabalho em qualquer direção. A produção de mercadoria é a necessidade do trabalho alienado. Nas relações de 2 Mészáros afirma que em Marx inorgânico representa a “expressão concreta e a materialização de uma fase e uma estrutura historicamente dada da atividade produtiva, na forma de seus produtos, dos bens materiais às obras de arte”. (2005, p. 80). 3 Estamos usando a mesma definição que Romero dá a subsunção, a qual que apreende das obras de Marx, que se refere a “subordinação e inclusão do trabalho ao capital”. (2005, p. 20) 8
  • 9. mercado, na compra e venda, na troca, o indivíduo aliena o valor-de-uso de seu trabalho4 – não-valor-de-uso –, para ‘valer’ como valor-de-troca para ele e para o comprador, o representante do capital, o valor-de-uso: o movimento fundamental para o capital reproduzir-se e gerar sua acumulação. Ou seja, como apresenta Marx, Todas a mercadorias são não-valores-de-uso, para os proprietários, e valores-de- uso para os não proprietários. Todas têm, portanto, de mudar de mão. Mas, essa mudança de mão constitui sua troca, e sua troca as relaciona umas com as outras como valores. As mercadorias têm de realizar-se como valores, antes de poderem realizar-se como valores de uso. Por outro lado, têm elas de evidenciar que são valores de uso antes de poderem realizar-se como valores, pois o trabalho nelas despendidos só conta se foi empregada em forma útil para os outros. Só através da troca se pode provar que o trabalho é útil aos outros, que seu produto satifaz necessidades alheias (Marx, 1989, p. 96) O trabalhador individualizado se apresenta ao mercado como valor-de-troca para se constituir como valor-de-uso pelo comprador, o qual o torna útil no processo de produção para dar conta das necessidades do capital. Por isso, não é de se estranhar que o valor do trabalho só ocorra quando é mobilizado e de forma independente dos indivíduos, porque o trabalho é apropriado no interior e por força do capital. Se por um lado o capital é negação do trabalho, por outro, só existe em função do trabalho. A força de trabalho só entra nas relações de produção depois de ser negociada no mercado, ocultando seu valor-de-uso (força vital), mas posta em funcionamento pelo comprador. É mister recorrer à Marx para entender essa fórmula: “Sendo a própria mercadoria unidade de valor-de-uso e valor, o processo de produzi-la tem de ser um processo de trabalho ou um processo de produzir valor-de-uso e, ao mesmo tempo, um processo de produzir valor.” (1989, p 211). 4 Aqui o trabalho é reduzido a força de trabalho, fragmentando tanto o individuo como destituindo o trabalho de sua capacidade vital para o indivíduo, onde o salário é pagamento ao trabalhador por vender sua força de trabalho. Esse fenômeno garante ao capital apropriar-se do excedente do trabalho corporificada na mercadoria. Como forma de síntese dessa afirmação, Mehring, fazendo referência entre a mais-valia e o salário, destaca: “A relação entre a mais-valia e o salário faz com que o modo capitalista de produção, ao mesmo tempo, reproduza incessantemente o capital para o capitalista e crie, também, incessantemente, a miséria do trabalhador: de um lado, o capitalista, proprietário de todos os bens, matérias-primas e instrumentos de trabalho; de outro, a grande massa trabalhadora obrigada a vender a este capitalista sua força de trabalho em troca de determinada quantidade de mantimentos, de modo a seguir trabalhando e a produzir uma nova geração de proletários em condições de trabalhador.” (2003, p. 27). E necessário destacar que a reprodução do capital que se viabiliza pela mercadoria, precisa legitimar e garantir sua viabilidade em todas as instancia do social, através de forma extensiva do trabalho 9
  • 10. A força de trabalho é a única mercadoria do capital capaz de ativar o processo de produzir valor-de-uso e valor. Assim, ela, ao entrar nas relações de troca, de compra e venda, convertendo-se em valor de uso, difere de todas as outras mercadorias, pois, o trabalho é atividade criadora de valor de outras mercadorias. Vejamos especificamente na exposição de Marx: “O trabalhador preserva os valores dos meios de produção consumidos, transfere- os ao mesmo produto como partes componentes do seu valor, não pelo acréscimo de trabalho em geral, mas pela modalidade especialmente útil desse trabalho adicional, através de sua forma produtiva específica.” (1989, p. 225). Esse modo de produção determina “a relação dos indivíduos entre si, no que ser refere ao material, ao instrumento de trabalho e ao produto do trabalho” (Marx; Engels, 1991, p. 28). Sob esse aspecto, Marx com lucidez apresenta a força da mercadoria como determinante: (...) no mercado de mercadorias apenas se confrontam os possuidores de mercadorias, e o poder que exercem uns sobre os outros é somente o que deriva de suas mercadorias. A diferença material das mercadorias é o motivo material da troca, e torna seus possuidores reciprocamente dependentes, enquanto cada um deles tiver em suas mãos não o objeto de sua necessidade, mas o das necessidades do outro (1980, p.180, grifo nosso) É o poder da mercadoria que impinge ao trabalho somente o caráter de aptidão média de qualquer indivíduo: “enquanto valor, a força de trabalho representa apenas determinada quantidade de trabalho social meio nela corporificado. Não é mais do que a aptidão do individuo vivo”. (Marx, 1989, p.191). A existência do trabalho alienado no capitalismo é compreendida de duas formas, que se conjugam e se combinam. A primeira é a forma extensiva que se caracteriza por refletir o trabalho social, uma combinação entre as diversas formas de trabalho para o mercado, a produção e a articulação entre os diversos ramos de reprodução da lógica do capital. Os trabalhadores são independentes uns dos outros enquanto força de trabalho, mas interdependentes enquanto totalidade produtiva, estando combinados e articulados para o capital. A segunda forma, que é a intensiva, representa a relação direta do trabalho no 10
  • 11. interior do mercado e da produção, enquanto “forma socialmente útil” (Marx, 1989, p. 119), em um determinado ramo da divisão social do trabalho. A forma intensiva do trabalho corresponde ao trabalho particular. Essa última categoria, nos possibilita localizar a posição e função de um indivíduo no interior do processo produtivo do capital. Mas o que dá a mercadoria sua existência, não é o mercado e, sim, a capacidade do trabalho, transformada em força produtiva para e do capital. O trabalho é apenas a “parte componente do trabalho social, do sistema da divisão social do trabalho que se desenvolve” (Marx, 1989, p. 119). Esse efeito introduz nas relações de produção o próprio caráter do trabalho valer-se como propriedade privada. Não é o produto do trabalho que dá ao capital sua existência, mas a força de trabalho transformada em propriedade, um produto do capital, como qualquer mercadoria. Na divisão social do trabalho do capitalismo, o trabalhador é combinado e articulado de acordo com a necessidade de produção de mercadoria. A mercadoria, produzida pelo trabalho, entra no mercado para circular sua materialidade de valor (tempo social de trabalho), de compra e venda, enquanto que a força de trabalho, que também está no mercado, para se efetivar como propriedade privada e produtora de valor de uso e de valor de troca. Esse processo garante às necessidades do capital. A alienação do trabalhado é a condição sine qua non para o capital. A violência que o capital exerce sobre o trabalho manifesta-se de forma desmedida, porque tem na alienação do trabalho a garantia de sua continuidade. A EDUCAÇÃO ESCOLAR NA DINÂMICA CAPITALISTA: UMA OUTRA ESCOLA É POSSÍVEL? As relações sociais capitalistas, sob a égide da mercadoria, exigiram, com base na alienação do trabalho, novas racionalidades produtivas e formas de organização do trabalho, aprofundando as práticas dessa alienação. A revolução industrial no século XVIII é a expressão mais concreta e histórica do capital, que configura a força e o poder de subsunção do trabalho. Negando a atividade do trabalho, mas tornando-a um objeto de troca, o capital impôs seu poder na própria ampliação de forças produtivas, ao mesmo tempo, estabelecendo novos limites e socialização aos indivíduos em sociedade. A 11
  • 12. implantação da máquina, que torna o trabalhador um apêndice (Romero, 2005), provoca novas socializações dos indivíduos entre si, com a natureza e com o próprio capital. Para Romero (2005), o uso de novas tecnologias, não pode ser lido como aprimoramento de técnica, mas a necessidade do capital em ampliar sua reprodução e se situar no campo da luta de classes. Evidentemente que as relações de produção devem ser ancoradas de forma intensiva e extensiva do trabalho. As instituições sociais do capital, enquanto expressões jurídico–políticas e culturais, precisam ser soerguidas e estarem combinadas com a estrutura de produção em todo tecido social. Essas instituições precisam ser organizadas, viabilizadas e controladas, porque na própria história estão as contradições inerentes a ela: a luta de classes. E, nesse movimento, a escola figura como uma instituição fundamental e com um conteúdo histórico bastante preciso para essa formação social. A escola5 passa a ser um espaço institucional estratégico na formação e preparação de trabalhadores6 para a inserção na divisão social do trabalho, dominada pela industrialização e pelas novas tecnologias de produção, tanto no que diz respeito à forma intensiva como à extensiva do trabalho. Não está em jogo apenas disciplinar um contingente potencial de trabalhadores, enquanto valor, mas criar-lhes condições de reprodução do processo produtivo e das relações de trabalho, organizando as experiências e o consentimento para o trabalho alienado. Sobre essa referência Fernández Enguita nos expõe a existência da escola: Os cercamentos, a dissolução dos laços de dependência, a superpopulação relativa e a ruína dos pequenos artesãos [bases da acumulação primitiva do capital] bastavam para que a força de trabalho aparecesse no mercado por seu valor de troca, mas não asseguravam a extração de seu valor de uso. Para isso era necessário o concurso da vontade do trabalhador, e portanto nada mais seguro 5 A escola surge na humanidade na intima relação com as classes possuidoras: “interior das classes possuidoras, como estrutura destinada exclusivamente à sua formação” (Manacorda, 1991, p.115). 6 Tomamos o sentido de trabalhador aquele que figura todo e qualquer indivíduo que não prescinde das relações salariais para sua manutenção e reprodução e que não se constituem como donos dos meios de produção, seja ele relacionado ao trabalho manual ou intelectual. E que não possuem controle sobre a produção, por serem proprietários exclusivos de sua força de trabalho, embora possam ser colaborardes fundamentais para a reprodução do capital. Ainda cabe destacar que, para essa compreensão, o trabalhador intelectual não pode ser confundido com os intelectuais que constituem a classe burguesia. Como diz Gramsci, “Cada grupo social, nascendo no terreno originário de uma função essencial no mundo da produção econômica, cria para si uma ou mais camadas de intelectuais que lhe dão homogeneidade e consciência da própria função, não apenas no campo econômico, mas também no social e no político”. (1991, p 03) 12
  • 13. que molda-la desde o momento de sua formação. O instrumento idôneo era a escola. (1989, p.114). . A escola assume um caráter dinâmico na estrutura do capital por empreender uma educação sistematizada que se apresenta como uma totalidade e como unidade, estendidas às pessoas. O que se apreende da importância da educação mediatizada pela escola são as veiculações de valores morais e crenças, capazes de converterem a força da lógica do capital em forças hegemônicas, como os fundamentos dessa organização social e histórica. A educação intitucionalizada, especialmente nos últimos 150 anos, serviu – no seu todo – ao propósito de não só fornecer os conhecimentos e o pessoal necessário à máquina produtiva em expansão do sistema de capital, como também gerar e transmitir um quadro de valores que legitima os interesses dominantes, como se não pudesse haver nenhuma alternativa à gestão da sociedade, seja na forma internalizada (isto é, pelos indivíduos devidamente ‘educado’ e aceitos) ou através de uma dominação estrutural e uma subordinação hierárquica e implacavelmente imposta. (Mészáros, 2005, p.35). Ainda é necessário para nossa compreensão a referência que Marx e Engels fazem na Ideologia Alemã: “As idéias dominantes nada mais são do que a expressão ideal das relações materiais dominantes.” (1991, p 72). Ora, as bases matérias de produção do capital não são asseguradas somente na esfera produtiva, é necessária uma superestrutura, com todo o aparato institucional, que dê às bases materiais sua consciência e validade e, que ao mesmo tempo, se apresente como uma vontade geral, um consentimento: “com efeito ainda, cada nova classe que toma o lugar da que dominava antes dela é obrigado para alcançar, para alcançar os fins a que se propõe, a apresentar seus interesses como sendo o interesse comum de todos os membros da sociedade, isto é, para expressar isso mesmo em termos ideais: é obrigada a emprestar às suas idéias a forma de universalidade, e apresentá-las como sendo as únicas racionais, as únicas universalmente válidas. A classe revolucionária surge, desde, não como classe, mas como representante da sociedade, porque já se defronta com uma classe.” (Marx; Engels1991, p.74, grifo nosso). Na base material do capitalismo, a burguesia é a classe que representa a força do capital para além da base material, a qual tem a função de criar a unidade entre as condições materiais e o conjunto das relações sociais, políticas e jurídicas, dando à lógica do capital viabilidade como práticas naturais dessa sociedade: sua expressão como classe social está na condição de manter a estrutura produtiva da qual emerge sua força. 13
  • 14. A educação, nesse espaço institucional, se torna um “instrumento valioso de um grupo social dominante para o exercício de sua hegemonia, para desempenhar sua função de direção em relação aos demais grupos sociais” (Severino, 1986, p. 44). A realidade, concreta e histórica, do capitalismo engendra uma educação escolar voltada para as socializações do capital. Arroyo, ao tratar de defender uma teoria pedagógica para a educação, expressa que é fundamental discutir sobre as formas de poderes e as relações de força que constituem a existência da escola. Entretanto, o autor chama a atenção que este fenômeno é apenas “parte das questões educacionais” (1998, p. 157) e, dessa forma, não se pode limitar ao “denuncismo”. Mais adiante, em seu ensaio, trata a ênfase das formas de poderes e de ideologia como manifestações externas: Ainda a teoria pedagógica e curricular estão marcadas por essa externalidade. As conseqüências têm sido marginalizar seu próprio objeto, centrar-se nas estruturas de poder, nos embates ideológicos, na história das idéias, nos modelos de infância, nos discursos produzidos fora do ato educativo em geral e, especificamente, fora da prática escolar. Os próprios estudos sobre trabalho- educação caem por vezes nessa externalidade, privilegiando os embates ideológicos e políticos que permeiam as mudanças na produção e no trabalho (1998, p. 159). O que o autor nos chama a atenção é justamente tentar empreender um esforço que seja capaz de apreender as conexões, relações, contradições que ocorrem entre o mundo do trabalho e a escola. Nesse sentido, Arroyo nos coloca a questão central para viabilizarmos a leitura sobre a instituição escolar orientada por um conjunto ideológico-cultural, filosófico- científico, prático e ético-moral. Daí a necessidade de compreender a conexão existente entre a base material de produção e a política, no sentido mais amplo, como movimento e contradições. Temos em Gramsci um conteúdo preciso nessa direção, porque ele estabelece uma reflexão fundamental dessa conexão nos “planos superestruturais”. Disso decorre um de seus conceitos fundamental: “a hegemonia”. Gramsci destaca que existem duas distinções que operam no interior da sociedade capitalista: “a sociedade civil (isto é, o conjunto de organismos chamados comumente privados) e da sociedade política ou Estado, que correspondem à função hegemônica que o grupo dominante exerce” (1991, p. 10-12). A hegemonia, em Gramsci, implica na capacidade de direção, dominação e o exercício do 14
  • 15. consenso e da persuasão (Gruppi, 1980). Segundo Gruppi, ao analisar o conceito de hegemonia de Gramsci, expressa que: As classes sociais, dominadas ou subalternas – como diz Gramsci – participam de uma concepção do mundo que lhes é imposta pelas classes dominantes. Essa ideologia das classes dominantes corresponde à função histórica delas, e não aos interesses e à função histórica – ainda inconscientes – das classes subalternas (Gruppi, 1991, p 67-68). Partindo dessas referências, a escola é um espaço social e político, como uma das instituições da sociedade civil, que é ao mesmo tempo uma instituição de hegemonia. Por isso, é possível entender o porquê Manacorda afirma que é com a indústria que a escola é “uma coisa de toda a sociedade” (1991, p. 115 - 116). E também porque essa escola se apresenta dividida entre a escola para trabalhadores e escola para intelectuais (para o trabalho manual e para os dirigentes intelectuais). Ela existe no seio da divisão social do trabalho e como aparelho de hegemonia. A escola do capital tem um papel importante na configuração, na disseminação e reprodução da ideologia e, conseqüentemente, na consolidação do consenso social, na preservação do bloco histórico dominante [estrutura de produção capitalista e a superestrutura político-ideológica] e na reprodução da própria estrutura de produção da formação econômica do referido grupo (Severino, 1986, p. 44) Se na escola burguesa a sociedade tem no trabalho somente seu aspecto produtivo de mercadoria e a forma útil do trabalhador, seu efeito para os indivíduos incide na legitimação do trabalhador alienado. Em outras palavras, a educação escolar é uma educação alienada. Faz necessário pensar outra educação para além do capital (Mészáros, 1995). Não é o trabalho que é a negação da capacidade vital do homem, mas o conjunto produtivo do capital e sua lógica de mercadoria. Mello é bastante preciso ao considerar que o capitalismo precisa de “hegemonia ativa, de direção e dominação” (2005,p.69). Nenhuma alternativa será possível se não romper com os “sistemas de internalizações” do capital, sem “ações conscientes” na qual a educação no sentido mais 15
  • 16. amplo deve ser mobilizada (Mészáros, 2005). Para isso, a luta contra-hegemônica está também na luta “contra-internalização” (Mészáros, 2005). O princípio desta luta tem no próprio o trabalho a condição e o conteúdo central, na perspectiva do homem concreto e histórico, ou seja, o homem no reencontro do trabalho ativo. Concordamos com Mészáros quando sublinha que o “cumprimento dessa nova tarefa histórica envolve simultaneamente a mudança qualitativa das condições objetivas de reprodução da sociedade...” (2005, p.65). E disso a concepção de uma escola unitária, que Gramsci orienta, se apresenta como fundamental para o homem e o trabalho. Nessa direção, Nosella destaca: “(..) re-encontramos na proposta gramsciniana da escola unitária um conceito que funde a caraterística formativa-humanista [o ensino das leis da natureza e da sociedade] com sua dimensão prático-produtivo”. (2004, p.170). A educação da escola unitária aqui não corresponde à educação escolar do capital. A educação é compreendida no sentido mais amplo e situada no trabalho: são duas premissas essenciais para mobilizarmos uma educação capaz de atender a existência do homem em sua unidade natural-humana. A educação, em sentido amplo, é estratégica nesse movimento. A partir dela é possível além de mudar as condições de reprodução gerir “automudança consciente dos indivíduos chamados a concretizar a criação de uma nova ordem social metabólica radicalmente diferente”. (Mészáros, 2005, p. 65). A formação a partir do trabalho, para Gramsci (Nosella, 2004), refere à capacidade de apreender através do espírito criativo, livre e autônomo o movimento das leis naturais e humanas. É aqui cabe a negação da escola burguesa. Torna-se imprescindível movimentar uma luta contra-hegemônica por entre as fissuras abertas pela contradição dentro e fora da escola. Uma prática educativa orientada por aquilo que Marx e Engels apresentam como “dominar o real” e o “vinculo com história”, onde a prática, atividade humana, está em unidade com a consciência, em outras palavras, a “consciência da práxis existente” (1991, p.45). Lançar mão da práxis como conteúdo da verdade e da história da existência humana a partir da qual é possível se lançar a uma contra-hegemonia. Disso a escola burguesa não pode nos possibilitar, mesmo porque, como diz Mészáros, mais do que negar o capital, é necessário imprimir outra reprodução social. As instituições de educação formais estão, dessa forma, “integradas” e revestidas pelo capital. 16
  • 17. É inevitável nossa posição política de contra-hegemonia de romper com o vigente modelo de reprodução que a atual educação escolar dispõe na sociedade, a partir de uma tomada de posição de práxis. Uma luta que não cesse de aprofundar e ampliar a contradição da escola burguesa, que a desestabilize tanto internamente quanto externamente. A educação do capital é necessariamente pautada por educação alienadora do capital, dispondo os indivíduos em uma hierarquização na divisão social do trabalho, conforme a necessidade do mercado. É possível empreender sua negação para todos os indivíduos concretos e criar condições reais e alternativas desse momento histórico. Disso deriva uma capacidade “consciente” de uma educação contra-internalização. A educação, dessa forma, assume um valor exponencial, porque é sustentada por um “objetivo de uma mudança verdadeiramente radical” (Mészáros, 2005, p. 48). É sob essa compreensão que será possível criar instrumentos que não se subjuguem às mistificações capitalistas e da mercadoria. O primeiro passo é justamente compreender suas conexões e vigências e o fundamento que dá viabilidade ao capital, na estreita conexão material e espiritual, produção e política. O que Gramsci nos oferece é uma compreensão diametralmente oposta à escola do capital. Enquanto esta ratifica as disposições dos indivíduos para a legitimidade da mercadoria e a divisão social capitalista, para Gramsci o trabalho deve ser o fundamento central e estratégico para a legitimação do homem real e histórico, que terá na escola o espaço privilegiado e orientado para a formação intelectual e para o trabalho. Daí sim, terá o trabalho dimensões criativas e produtivas da e para a existência humana. 17
  • 18. PARA NÃO CONCLUIR No capital onde o trabalho é alienado, todo o tecido social é na mesma medida. Entretanto, sua reprodução não se realiza de forma mecânica. A escola é uma instituição na qual o capital não cessa de produzir sua hegemonia e internalizações do trabalho alienado: a educação formal acaba sendo indispensável para a reprodução da lógica do capital. Mas também esse espaço escolar é um palco de contradições, daí a emergência revesti-lo ainda mais de contradições, fazer valer como eminentemente político, e empreender uma luta de contra-hegemonia, na qual o trabalho seja a centralidade para, e partindo dele, construir alternativas reais (Mészáros, 2005). Para Gramsci é necessário conhecer as relações de força: a) a relação de “força ligada à estrutura objetiva” que é forjada pelo “grau de desenvolvimento das forças materiais de produção” (campo da estrutura de produção e das forças produtivas); b) a relação de “força política” que é elaborada no conjunto da “avaliação do grau de homogeneidade, de autoconsciência e de organização alcançado pelos vários grupos sociais” (campo da superestrutura, sob a dinâmica da política) e as relações de força militares. (1980, p. 48-51). Daí a importância de estabelecer por dentro da escola relações de força que sejam capazes de agir tanto internamente como externamente. A sociedade não é algo estático e as relações de forças se caracterizam pelo potencial das classes sociais tem em mobilizar suas existências coletivo-individuais. Se outra escola é possível, a resposta é sim. Mas é preciso antes superar da auto-alienação do trabalho no capitalismo. Temos que mobilizar a práxis geradora da verdade e da história como conteúdo contra-hegemônico para a qual a educação funcione com uma catarse das mitificações, das internalizações dos valores e dos princípios dominantes capitalistas. Só será possível uma escola unitária, no sentido gramsciniano, na medida em que trazer o trabalho para dentro e fora da escola burguesa do capital. 18
  • 19. ARROYO, Miguel A. Trabalho – Educação e teoria Pedagógica. In: FRIGOTOO, Gaudêncio (org.). Educação e crise do trabalho. Petrópolis: Vozes, 1998. FERNÁNDEZ ENGUITA, Mariano. A face oculta da escola. Porto Alegre: Artes Médicas, 1989. (Coleção Educação). GRAMSCI, Antonio. Maquiavel, a política e o Estado Moderno. 4. ed. Rio de Janeiro, 1980. pp. 03-102 _____. Os intelectuais e a organização da cultura. 8. ed. Rio de Janeiro: Brasiliense, 1991. GRUPPI, Luciano. O conceito de hegemonia em Gramsci. 3. ed. Rio de Janeiro: Grall. 1991. MANARCORDA, Mario Alighiero. Marx e a pedagogia Moderna. São Paulo: Cortez, 1991. MARX, Karl. O capital. 13. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1989 [1890]. v. 1.l.1. ____ . Contribuição á critica da economia política. São Paulo: Martins Fontes, 1983. ____. Manuscritos econômico-filosóficos: São Paulo: Boi Tempo, 2004. ____; ENGELS, Friedrich. A ideologia Alemã. 8. ed. São Paulo: Hucitec, 1991. MEHRING, Fraz. O capitaL. In: BEN.JAMIN, César (org.). Marx e o socialismo. São Paulo: Expressão Popular, 2003. 19
  • 20. MELLO, Adriana A. Sales de. Os organismos internacionais na condição de um novo bloco histórico. In: NEVES, Lúcia M. Wanderley (org.). A nova pedagogia da hegemonia: estratégias do capital para educar o consenso. São Paulo: Xamã, 2005. MÉSZÁROS, István. A educação além do capital. São Paulo: Boitempo, 2005. ____. Educação para além do capital MÉZSÁROS, István. A teoria da Alienação. Teoria da Alienação em Marx. São Paulo: Boi Tempo, 2006. NOSELLA, Paolo. A escola de Gramsci. 3. ed. rev. e atua. São Paulo: Cortez, 2004. NERUDA, Pablo. Cem sonetos de amor. Porto Alegre: L&PM, 2006. ROMERO, Daniel. Marx e a Técnica: estudo dos manuscritos de 1861-1863. São Paulo: Expressão Popular, 2005. SEVERINO, Antônio Joaquim. Educação, ideologia e contra-ideologia. São Paulo: Pedagógica e Universitária, 1986. SOUZA, José dos Santos. Trabalho, educação e sindicalismo no Brasil. Campinas: Autores Associados, 2002. 20