Este artigo analisa como a intertextualidade é utilizada na letra da música "Monte Castelo" de Renato Russo para construir sentidos. A canção traz referências à Carta aos Coríntios e ao soneto de Camões para falar sobre o amor, uma paixão humana que persiste através dos séculos. O estudo explora como figuras de linguagem como metáforas e personificações também contribuem para a mensagem da música.
Intertextualidade em Monte Castelo: como os sentidos são construídos na composição
1. 1
Intertextualidade em Monte Castelo: como os sentidos são
construídos na composição1
Mayara Vellardi Pinheiro2
RESUMO: Este artigo tem como objetivo compreender de que forma o recurso da
intertextualidade é utilizado na letra da música Monte Castelo, analisando como se
dá a construção de sentidos na canção, levando-se em conta o fenômeno da
intertextualidade em suas diferentes possibilidades de utilização. É válido, também,
verificar quais as relações intertextuais utilizadas pelo autor e os sentidos
construídos nesse jogo de significados. Além disso, são estudados os recursos
estilísticos empregados na obra para entendê-la melhor. Ao longo desta pesquisa
também são apresentados alguns aspectos relacionados ao autor e às suas
referências com o intuito de auxiliar na percepção da mensagem transmitida na
construção da letra da música. Desta forma, ao realizar a análise da composição
musical em estudo, nota-se que seu objeto central é o amor, uma das mais
importantes paixões humanas. Além disso, observa-se que essas paixões estão
presentes mesmo em diferentes épocas, portanto uma carta ou um soneto escritos
outrora podem reverberar seu sentido por séculos ou milênios, como é o caso do
objeto em estudo, a composição Monte Castelo.
Palavras-chave: Intertextualidade. Construção de sentidos. Monte Castelo. Renato
Russo. Camões.
0 INTRODUÇÃO
O tema desenvolvido neste artigo é a intertextualidade presente na letra
da música Monte Castelo, de Renato Russo. Essa questão já foi trabalhada em
diversos artigos, porém, além de retomar os estudos já existentes, a intenção é
analisar a obra sob uma nova ótica, procurando entender como e quais sentidos são
construídos e, principalmente, por que ainda são partilhados socialmente, mesmo
tendo sido composta em 1989.
A letra traz o amor como assunto principal, mostrando o quanto esse
assunto é importante para a humanidade. Além disso, aproveita para revelar duas
faces diferentes dessa emoção, que pode ser contraditória em alguns momentos e
que não se limita às paixões carnais, é algo que vai além disso, demonstrando que o
sentimento pode aparecer de forma mais abrangente na sociedade.
1
Artigo apresentado à disciplina de Produção de Texto, do primeiro ano do Curso de Letras Português
da Universidade Estadual de Londrina, Londrina, 2018. Orientadora: Profa. Dra. Isabel Cristiane
Jerônimo.
2
Graduanda em Letras Português pela Universidade Estadual de Londrina – UEL. Graduada em
Jornalismo pela Universidade São Judas Tadeu – USJT. Pós-graduada em Técnicas da Estrutura
Gramatical e Textual da Língua Portuguesa - Universidade Nove de Julho - UNINOVE.
2. 2
O trabalho será estruturado da seguinte forma: primeiramente, serão
apresentados os pressupostos teóricos – fatores linguísticos e sintáticos – a fim de
se discutir o conceito de intertextualidade, de explorar os aspectos estilísticos e
compreender como podem ser aplicados; posteriormente, será estudada brevemente
a biografia de Renato Russo, associando-a ao momento de sua vida em que
compôs a música; em seguida, será feita a análise da canção, buscando-se os
elementos de intertextualidade presentes e procurando atribuir-lhes os efeitos de
sentido esperados pelo autor; após esta etapa, serão estudadas as paixões
humanas e como elas se mantém mesmo com o passar do tempo, para, então,
chegar-se aos resultados da análise, seguidos das considerações finais.
1 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
1.1 INTERTEXTUALIDADE: DEFINIÇÃO E TIPOS
Compreender o que é e quais são os tipos de intertextualidade, como e
onde ela pode ser utilizada, são fatores primordiais para iniciar a discussão sobre o
tema deste trabalho. De acordo com Castro (2002, p.11), devemos levar em conta
que:
Nenhum discurso é autônomo – todos os discursos resultam da
combinação de outros discursos, proferidos por outras vozes, em um
processo conhecido como intertextualidade (um texto contido em
outro texto, o qual, por sua vez, deriva de outro texto, em uma
sucessão de textos que se sobrepõem).
A intertextualidade é bastante utilizada como recurso em diversos meios
de comunicação, obras de arte, publicidade, filmes, músicas, entre outros. Ela pode
ser temática, estilística, explícita ou implícita.
Segundo Koch, Bentes e Cavalcante (2008), a intertextualidade temática
costuma estar presente em textos científicos da mesma área do saber, em correntes
de pensamentos com temas em comum, ou ainda, na mídia em geral, principalmente
em certos períodos que um determinado assunto é o foco das notícias. A
intertextualidade estilística ocorre em situações em que o produtor do texto repete,
imita, parodia estilos ou variedades linguísticas, como a reprodução da linguagem
bíblica, jargão profissional ou até mesmo dialetos.
Ainda segundo as mesmas autoras, na intertextualidade explícita é
3. 3
inserida uma atribuição ao texto ou fragmento utilizado, como as citações,
referências, menções, resumos, resenhas e traduções, por exemplo.
Já intertextualidade implícita espera que o leitor/ouvinte seja capaz de
reconhecer a presença do intertexto, por isso, não utiliza menção das fontes
utilizadas, conforme afirmam Koch, Bentes e Cavalcante (2008, p.30):
Tem-se a intertextualidade implítica quando se introduz, no próprio
texto, intertexto alheio, sem qualquer menção explícita da fonte, com
o objetivo quer de seguir-lhe a orientação argumetativa, quer de
contraditá-lo, colocá-lo em questão, de ridicularizá-lo ou argumentar
em sentido contrário.
O texto traz consigo marcas pessoais do autor, revelando suas escolhas e
suas preferências. De acordo com Linhares (2010, p.96) “Entendemos que a escolha
das formas de expressão da intertextualidade resulta do trabalho do autor, e revela
o jogo entre seu estilo pessoal, suas escolhas, e o estilo do gênero.”
Existe intertextualidade em muitas composições, incluindo Monte Castelo,
devido ao fato de que elementos trazidos por outros autores podem auxiliar no
processo da elucidação das ideias. Em Samoyault (2008, p.20) encontra-se o
esclarecimento para essa questão:
A noção de alteridade é decisiva para estabelecer esse movimento
dos textos, esse movimento da linguagem que carrega outras
palavras, as palavras dos outros. É, segundo Bakhtin, o próprio
movimento da vida e da consciência [...] A consciência é
constantemente preenchida de elementos exteriores a ela,
ingredientes trazidos por outrem e necessários à sua realização [...]
Para compreender mais amplamente a construção de sentidos na
composição, é importante explorar os fatores linguísticos e sintáticos além da
intertextualidade.
1.2 A ESTILÍSTICA DA COMPOSIÇÃO
A estilística possui uma série de sentidos de acordo com diversos
contextos, como o estilo de um escritor, de um músico, de um humorista, entre
outros. Portanto, o termo acaba sendo bastante abrangente, mas o estudo será
afixado no estilo relacionado ao uso da linguagem para fins literários, conforme
explica Monteiro (2005, p.44):
4. 4
Esse traço de individualidade é assinado por diversos autores: O
estilo deve ser entendido como resultado da expressão de uma
subjetividade (Reis, 1981:151); Compreendemos por estilo o caráter
individual e unificante de uma obra realizada intencionalmente
(Mathesius, ap. Vachek, 1970); O estilo é a definição de uma
personalidade em termos linguísticos (Câmara Jr., 1977: 13); O estilo
é o aspecto do enunciado que resulta de uma escolha dos meios de
expressão, determinada pela natureza e pelas intenções do indivíduo
que fala ou escreve (Guiraud, 1954a); O estilo constitui a marca da
individualidade do sujeito no discurso (Dubois et al., 1973).
Para compreender a natureza da composição em estudo, necessita-se
estudar os sentidos denotativos e conotativos. Grosso modo, a denotação é quando
emprega-se o sentido literal da palavra e a conotação é quando utiliza-se o sentido
figurado. Segundo Moisés (2013, p.85,86):
[...] a conotação designa, de modo geral, os vários sentidos que os
signos linguísticos, isoladamente ou em frases, adquirem no contato
com outros signos ou frases no interior de um texto. Por
contiguidade, o sentido primitivo ou literal (denotativo), sofre
alteração e amplia-se, tornando-se plural ou multívoco. Ao mesmo
tempo, por associação mental, encadeiam-se imagens ou alusões,
que remetem para significados extratextuais, sem contar o impacto
da subjetividade presente no ato de assimilar os múltiplos sentidos
das palavras e dos períodos.
A letra de Monte Castelo possui, como será visto em análise posterior,
muito da poesia de Camões em seu conteúdo e, naturalmente, os poemas são
considerados conotativos, portanto grande parte da letra da música tem sentidos
conotativos. De acordo com Moisés (2013, p.86):
[...] a poesia é por natureza conotativa, mas não dispensa o sentido
denotativo, que consitui necessariamente um dos seus sentidos,
visto que “a conotação pressupõe a denotação”, ou seja, “ as
unidades conotativas inscrevem-se na trama da linguagem
denotativa” [...]
Algumas figuras de linguagem se fazem presentes na canção em estudo,
como exemplo pode-se citar: o oxímoro, a metáfora e a personificação.
O oxímoro denota ideias antagônicas trazidas juntas em um mesmo texto,
no qual elas se contradizem. Segundo Moisés (2013, p.342), [...] consiste na fusão,
num só enunciado, de dois pensamentos que se excluem mutuamente. Pode formar-
se de palavras, frases ou orações contrastantes ou antônimas [...].
A metáfora realiza a produção de sentidos figurados por meio de
5. 5
comparações, pode ser um significado a partir de duas ideias confrontadas. Moisés
(2013, p.295) afirma que:
[...] a metáfora se concentra num sintagma em que aparecem
contraditoriamente a identidade de dois significantes e a não
identidade de dois significados correspondentes. E como os termos
“identidade”, “equivalência” e “analogia” lhes saltam necessariamente
da pena em consequência da tarefa descritiva, acrescentam que
“não têm por objetivo senão designar aproximativamente o nível
relativo da classe-limite em relação àquelas onde os dois temas
figuram como indivíduos”. Para concluir que a metáfora “se baseia
numa identidade real manifesta pela intersecção de dois termos para
afirmar a identidade dos termos na sua totalidade. Estende à reunião
dos dois termos uma propriedade que somente pertence à sua
intersecção”.
A personificação ou prosopopeia confere vida a seres inanimados,
segundo Moisés (2013, p.385):
[...] consiste em atribuir vida, ou qualidades humanas, a seres
inanimados, irracionais, ausentes, mortos ou abstratos. Espécie de
humanização ou animismo, pode dar-se de vários modos, a saber:
quando se conferem qualificativos próprios do ser humano a objetos
inanimados e a abstrações [...]
Outro recurso a ser estudado para auxiliar na compreensão da construção
de sentidos na composição é a questão das orações subordinadas concessivas,
para isso, faz-se necessário entender o que é subordinação e o quais são as
conjunções concessivas, como se vê em Martins (2000, p.139,140):
A oração subordinada é um termo da oração subordinante,
equivalendo a um substantivo, ou adjetivo, ou advérbio.Todos os
falantes empregam os diversos casos de subordinação; entretanto a
construção de um período mais longo, em que predomine a
subordinação, em que as ideias apareçam adequadamente
relacionadas, requer maior domínio da língua, maior trabalho de
raciocínio.
Ainda segundo Martins (2000, p.141) “Por subordinação, temos as
orações chamadas concessivas, que podem ter formulação bastante variada, com
diferentes graus de intensidade e índice de ocorrência.”
A conjunção concessiva inicia a oração expressando uma ideia oposta à
principal, mas mesmo assim não impede sua realização. Seguem alguns exemplos
de acordo com Martins (2000, p. 141) “[...] com a conjunção embora ou equivalentes
(ainda que, mesmo que, se bem que, posto (que), apesar de que). [...]”
6. 6
Após pesquisar os pressupostos teóricos – o conceito de intertextualidade
e os aspectos estilísticos – e compreender como podem ser aplicados, chega o
momento de estudar brevemente a biografia de Renato Russo e suas referências.
1.3 CONSIDERAÇÕES SOBRE O AUTOR E SUAS REFERÊNCIAS
Associar o momento que Renato Russo estava passando em sua vida na
época em que compôs a música pode auxiliar na compreensão sobre suas escolhas
intertextuais – trecho da Carta aos Coríntios e trechos do soneto de Camões – e na
compreensão do porquê a letra ainda é partilhada socialmente, mesmo tendo sido
escrita em 1989.
O cantor era homossexual e sofria preconceito devido a sua orientação
sexual. Esse pode ter sido um dos motivos pelos quais ele quis retratar em sua
música o amor universal. Sua mãe, Carminha Manfredini, relatou o que Renato
Russo dissera, uma vez, a respeito de sua sexualidade:
Por Dona Carminha Manfredini, mãe de Renato Russo: Era um dia
de semana qualquer, sem nada de especial, no final dos anos 80. Me
lembro que eles lançavam o disco As Quatro Estações [1989].
Estávamos na cozinha de casa, apenas nós dois, preparando o
almoço. O Júnior veio, me deu um beijo e falou: ‘Mãe, preciso
conversar com a senhora’. Fiquei tão feliz – pensei que ele
finalmente anunciaria seu noivado com uma namorada que ele tinha
já havia muito tempo. Mas ele afirmou: ‘Não vou me casar com ela.
Vou me assumir. Quero me relacionar com homens e mulheres’.
(DEURSEN, 2017)
Em 1989, Russo conheceu um rapaz e se envolveu emocional e
fisicamente com ele, esse fato também pode ter influenciado suas composições
musicais na época.
Seu relacionamento mais longo, porém, durou apenas seis meses e
foi como um rapaz chamado Robert Scott Hickmon. Os dois se
conheceram em Nova York, em novembro de 1989, e chegaram a
morar juntos durante pouco tempo em 1990.3
A intertextualidade presente na música do roqueiro começa desde o título.
3
CONTEÚDO, Estadão. Isto é. 20 anos sem Renato Russo: veja 12 curiosidades sobre vocalista da
Legião Urbana. 2016. Disponível em: <https://istoe.com.br/20-anos-sem-renato-russo-veja-12-
curiosidades-sobre-vocalista-da-legiao-urbana/> Acesso em: 13 nov. 2017.
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O nome dado à composição é um local na Itália em que os militares brasileiros
operaram durante a Segunda Guerra Mundial:
O título faz referência a uma região ao norte da Itália, onde militares
brasileiros e estadunidenses guerrearam já no final da segunda
Guerra mundial. Pegando por base esta referencia podemos dizer
que a intertextualidade não está tão evidente como no restante da
música por se tratar de um fato que às vezes nem é tão lembrado ou
conhecido por esta nova geração. (ANDRADE, 2014, p.2)
A atuação dos militares brasileiros foi realizada com louvor, mesmo
enfrentando inúmeras dificuldades, eles obtiveram sucesso ao final de sua jornada.
A conquista do Monte Castelo na cordilheira apenina, no norte da
Itália, foi uma atuação heroica dos soldados brasileiros. Mesmo mal
treinados, com equipamento inadequado e enfrentando um frio de
até 15 ºC negativos, eles conseguiram derrotar as forças alemãs que
estavam entrincheiradas no alto do monte Castelo. O resultado das
operações conjuntas com outras forças na batalha foi a expulsão dos
alemães dos montes Apeninos, permitindo uma ofensiva dos aliados
no norte da Itália que marcaria o fim dos confrontos no país.
(NAVARRO, 2005 apud ANDRADE, 2014, p.2)
Ainda sobre o título da canção, na década em que foi escrita, o Brasil
estava passando por intensos movimentos políticos e o amor à pátria foi ressaltado,
como se vê em Andrade:
Renato Russo escreveu esta música na década de 80, exatamente
onde os movimentos da juventude estudantil saiam paras ruas
pedindo “diretas já”, sendo um período caracterizado pela
conturbação e repressão. Onde muitas ações foram efetuadas em
nome do amor a pátria e contra qualquer exploração econômica,
política ou moral. (2014, p.3)
De certa forma, a música resgata o quanto o país já foi prejudicado pelas
guerras e pela falta de amor. Conforme Andrade (2014, p.3) “Pode-se dizer que o
eu-lírico trata-se da pátria brasileira pedindo socorro, recorrendo ao amor como porto
seguro. A mensagem é de ruptura com a situação caótica e repressiva do país.”
Prosseguindo o trabalho, para dar sentido a este artigo é essencial
entender o porquê a letra ainda continua sendo compartilhada socialmente mesmo
tendo sido escrita em 1989 e tendo utilizado elementos tão antigos, como o tão
conhecido soneto de Camões sobre o amor e a carta aos Coríntios presente na
Bíblia.
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O soneto de Camões não tem registro de data, mas para se ter uma
noção da época em que foi escrito, será utilizada como referência a data de seu
nascimento e de sua morte. De acordo com Frazão (2017) não se sabe o ano exato
do nascimento de Luís de Camões, supõe-se que foi em 1524, já o ano de sua
morte foi registrado em 1580.
Por abordar um tema tão relevante para a humanidade, o poema
influenciou diversos escritores ao longo dos séculos, inclusive Renato Russo.
[...] este soneto conseguiu influenciar tantos outros escritores que
vieram depois dele, e ainda continua a inspirar como é o caso do
cantor e compositor Renato Russo da banda Legião Urbana, que
canta “Monte Castelo” [...] (FIGUEIREDO, 2011, p.8)
Ao estudar a obra de Camões, nota-se em seu poema a transmissão da
ideia de que o amor deve ser vivenciado e não apenas explicado para que as
experiências possam acontecer e o sentimento venha a florescer.
[...] a forte influência que Platão exerceu sobre as poesias de
Camões, primordialmente no que diz respeito a Beleza e ao Amor,
pois Camões comunga dos mesmos ideais platônicos, que o amor
não pode ser apenas cantado. No entanto precisa-se racionalizar o
sentimento e para que isso aconteça tem-se que vivê-lo.
(FIGUEIREDO, 2011, p.5)
Ao escrever o soneto, o autor tenta explicar esse sentimento tão
controverso que é o amor, demonstrando ao longo de suas estrofes que essa
emoção possui mais de uma face, chegando a ser contraditória, por vezes.
Este soneto é uma tentativa de definir o amor. A impossibilidade
desta definição é apresentada pelas contradições existentes entre os
termos positivos e negativos. Este jogo estrutural realizado por
paradoxos causa o efeito de complexidade do amor, um tema tratado
por tantos outros textos, mas não mostrado na sua dualidade. A
definição do amor o tornaria algo objetivo. Sua falta de definição o
coloca no lugar de subjetividade e complexidade: ele pode ser tudo
ou nada, bom ou ruim, positivo ou negativo, material ou espiritual. Na
realidade, o soneto trata da impossibilidade de definir o amor e das
incertezas e contrariedades deste sentimento. Há uma tentativa de
definição no começo do soneto “Amor é...”, porém, todas as
definições são impossibilitadas ao finalizar o soneto por um sinal de
interrogação, demonstrando a dúvida e criando incertezas de tudo
aquilo que foi definido anteriormente. (BORGES, 2010, p. 476)
Da mesma forma que o soneto de Camões foi utilizado na letra da
música, a Carta aos Coríntios também é relevante para esclarecer a essência da
9. 9
mensagem e para compreender o fato de ter sido escolhida como intertexto.
A carta aos Coríntios provavelmente foi escrita no ano 55 da era comum.
“1 e 2 Cor, Gl e Rm são as quatro grandes cartas e trazem as linhas teológicas
principais de Paulo. Datam provavelmente do período da terceira viagem
missionária, em torno do ano 57.” (BÍBLIA, 2014, p.1367)
O apóstolo Paulo escreveu a carta com o intuito de transmitir uma
mensagem ao povo de Corinto, para que mudassem suas atitudes dentro da igreja e
também perante aos seus semelhantes, melhorando o convívio entre eles e
diminuindo a rebeldia. “Coríntios foi escrita para, principalmente, combater a
rebeldia, as divisões e a falta de amor que tinham sido causadas pelo orgulho e pela
presunção na igreja de Corinto.” (DEUSDETE, 2015, p.1)
O amor em sua forma mais pura é exaltado na carta do apóstolo para
incentivar seus leitores a seguirem o caminho da paz e se reconciliarem entre si,
diminuindo os conflitos gerados pela possível escassez deste sentimento naquela
sociedade.
Paulo ao saber das intrigas que se passavam na igreja de corintos
escreveu lhes exortativamente sobre o amor divino puro e
verdadeiro, que vence as barreiras de todas as relações
interpessoais. Seu propósito era conclamar o povo de Corinto a
vivencia da essência do amor, sem o qual qualquer outra ação seria
em vão. (ANDRADE, 2014, p.3)
Quando Paulo trata do amor, não aborda somente o amor carnal, entre
homem e mulher, ele cita diversos aspectos do amor mais puro que existe, aquele
que tudo suporta, que tudo crê, um sentimento divino.
O elogio ao amor fala por si. Trata-se do ‘caminho bem melhor’,
anunciado em 12, 31, com relação aos demais carismas.
Compreende o amor cristão entre irmãos e irmãs, também traduzido
como ‘caridade’, em grego ágape. Proclama-se a superioridade do
amor sobre os demais dons. (vv. 1-3). Em seguida, quinze
qualidades do amor (vv. 4-7), que é imperecível (vv. 8-13). (BÍBLIA,
2014, p.1400)
Além das referências utilizadas e do estilo empregado pelo autor em
sua composição, há mais uma questão relevante a ser estudada: as paixões
humanas e como elas se mantém ao longo do tempo.
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1.4 AS PAIXÕES HUMANAS
As paixões humanas são como leis naturais imutáveis. Pode-se mudar de
país, de cultura, de época, mas o amor, a paixão, o ódio, enfim, os sentimentos,
permanecem os mesmos. Isso auxilia no entendimento do porquê algumas obras
continuam com sentidos tão contemporâneos e ainda compartilhados socialmente,
mesmo tendo sido criadas há tanto tempo. O fragmento abaixo da obra de Geertz
esclarece bem essa questão:
[...] existem leis; parte da sua imutabilidade talvez seja obscurecida
pelas armadilhas da moda local, mas ela é imutável. Uma citação
que faz Lovejoy (cuja análise magistral estou seguindo aqui)
transcrevendo um historiador iluminista, Mascou, apresenta a
posição com a rudeza útil que muitas vezes se encontra num autor
menor: O cenário (em períodos e locais diferentes) é alterado, de
fato, os atores mudam sua indumentária e aparência; mas seus
movimentos internos surgem dos mesmos desejos e paixões dos
homens e produzem seus efeitos nas vicissitudes dos reinos e dos
povos. [...] A enorme e ampla variedade de diferenças entre os
homens, em crenças e valores, em costumes e instituições, tanto no
tempo como de lugar para lugar, é essencialmente sem significado
ao definir sua natureza. Consiste em meros acréscimos, até mesmo
distorções, sobrepondo e obscurecendo o que é verdadeiramente
humano — o constante, o geral, o universal — no homem. (GEERTZ,
2008, p.25, 26)
Para entender quais são as paixões humanas, Descartes (1998, p.255)
explica que há seis tipos de paixões primitivas: a admiração, o amor, o ódio, o
desejo, a alegria e a tristeza. As demais paixões derivam de algumas dessas seis.
A manifestação das paixões ocorre por meio de experiências vivenciadas
no âmbito emocional que se tornam perceptíveis ao corpo físico devido à sua
intensidade, como afirma Pinheiro (2005, p.10):
Assim, para que uma paixão se manifeste, é preciso que o corpo
provoque algo na alma, bem como é necessário que o espírito
perceba, sinta que foi atingido. Sensações como o frio e o calor,
apetites como a fome e a sede, sentimentos como o amor e o ódio
são considerados paixões para o cartesianismo, visto que não
podem acontecer sem um corpo, ou algo diferente da mente, e um
espírito que tenha consciência desta experiência. Desta forma, é
válido salientar que a paixão não é uma afecção do corpo, uma
experiência física ou fisiológica. É um acontecimento que se passa
no espírito, é uma percepção, e, como toda percepção, ela acontece
na alma e não no corpo.
Além das paixões humanas, entende-se que os assuntos tratados em
11. 11
sociedade, àqueles comuns aos homens, não são inteiramente novos, eles
repassam por questões históricas, portanto, retomar textos de épocas remotas como
séculos ou milênios passados, pode fazer sentido e continuar sendo compartilhado
socialmente mesmo na contemporaneidade.
Entende-se que os diálogos sociais não se repetem de maneira
absoluta, mas não são completamente novos, reiteram marcas
históricas e sociais, que caracterizam uma dada cultura, uma dada
sociedade. (BRAIT, 2006, p.118)
Para a captação das informações necessárias à efetivação deste artigo
foram necessárias realizações de pesquisas e levantamento de dados históricos que
serão explicados no decorrer da metodologia.
2 METODOLOGIA
Para compreender a intertextualidade utilizada na música Monte Castelo
de Renato Russo, o tipo de pesquisa utilizado foi o descritivo. Segundo Gil (2008,
p.28) “Algumas pesquisas descritivas vão além da simples identificação da
existência de relações entre variáveis, pretendendo determinar a natureza dessa
relação.”
Foram empregados os seguintes procedimentos: pesquisa histórica e
bibliográfica, nas quais foram utilizados livros, artigos, materiais da internet e de
outros meios de comunicação. “São inúmeros os problemas que podem ser
pesquisados a partir de dados fornecidos por documentos de comunicação de
massa. Para as pesquisas de natureza histórica, a importância dessas fontes é
evidente.” (GIL, 2008, p.152)
Como instrumento da coleta de dados foram realizadas pesquisas
documentais, por serem confiáveis em relação ao período que se deseja estudar. De
acordo com Gil, (2008, p.153) “[...] os dados documentais, por terem sido elaborados
no período que se pretende estudar, são capazes de oferecer um conhecimento
mais objetivo da realidade.”
A abordagem escolhida para interpretar e analisar as informações sobre
os elementos envolvidos na criação do autor foi a qualitativa. A natureza deste
estudo é básica, pois visa compreender verdades e interesses universais sem
12. 12
aplicação prática prevista.
Para interpretar os resultados, o pesquisador precisa ir além da
leitura dos dados, com vistas a integrá-los num universo mais amplo
em que poderão ter algum sentido. Esse universo é o dos
fundamentos teóricos da pesquisa e o dos conhecimentos já
acumulados em torno das questões abordadas. (GIL, 2008, p.178)
Após estudar as características linguísticas e sintáticas, pesquisar
sobre o autor e suas referências e vislumbrar o tema paixões humanas, chega o
momento de seguir adiante no trabalho e analisar tudo o que foi visto, fazendo o
cruzamento das informações adquiridas.
3 ANÁLISE
Ao analisar os dados trazidos para este artigo pode-se dizer que o tipo de
intertextualidade utilizado por Renato Russo em sua composição musical é a
implícita, pois ele insere na letra da música Monte Castelo, um trecho da carta aos
Coríntios e também da poesia de Camões sem mencionar as fontes, mas deixa clara
sua intenção de seguir a orientação argumentativa sobre o amor.
Ao estudar a estilística do texto, foram encontradas três figuras de
linguagem: o oxímoro trazendo ideias opostas; a metáfora demonstrando os sentidos
denotativo e conotativo da palavra fogo relacionada ao amor; e a personificação,
tratando o amor como se fosse uma pessoa com sentimentos. Essas figuras de
linguagem contribuem para dar o sentido esperado pelo autor na canção,
demonstrando as diferentes faces do amor e realizando a junção de diferentes
intertextos.
O corpus traz, em grande parte, o oxímoro como recurso, como exemplo,
pode-se citar alguns trechos que demonstram ideias contrárias em relação ao amor,
em que o sentimento representa algo que é e que não é ao mesmo tempo :
[...] É ferida que dói e não se sente
É um contentamento descontente
É dor que desatina sem doer [...]
[...] É um não querer mais que bem querer
É solitário andar por entre a gente
É um não contentar-se de contente
É cuidar que se ganha em se perder
É um estar-se preso por vontade
É servir a quem vence, o vencedor
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É um ter com quem nos mata a lealdade
Tão contrário a si é o mesmo amor [...]
O trecho: O amor é o fogo que arde sem se ver [...] presente na
composição Monte Castelo é um exemplo de metáfora, pois o termo fogo possui dois
significados, seu sentido denotativo (fonte de calor e luz, resultado da combustão de
materiais inflamáveis) e possui também o sentido conotativo, figurados (paixão,
excitação).
A utilização da personificação no objeto em estudo pode ser
exemplificada pelo seguinte trecho da música, que traz consigo a ideia de que o
amor age como uma pessoa que conhece a verdade, que não quer o mal e que não
sente inveja, nem vaidade:
[...] É só o amor, é só o amor
Que conhece o que é verdade
O amor é bom, não quer o mal
Não sente inveja ou se envaidece [...]
Outro recurso notado na obra Monte Castelo é a utilização das orações
subordinadas concessivas, cuja ideia está relacionada ao contraste. Como exemplo,
pode-se citar os momentos em que Russo utiliza no início de suas frases a
conjunção: ainda que. “Ainda que eu falasse a língua dos homens e falasse a língua
dos anjos sem amor, eu nada seria [...]”
Entende-se que Russo, ao inserir o título Monte Castelo e falar sobre o
amor, abordou o sentimento de diversas formas. Trouxe para a composição o que
estava acontecendo com seu país historicamente, fazendo uma ligação entre a
guerra que os militares brasileiros participaram obtendo um resultado heróico e
também o momento de revoluções (como Diretas Já na década de 80).
O amor e suas faces contraditórias são trazidos para a composição por
meio do soneto de Camões para demonstrar o quão complexo é esse sentimento.
De certa forma, há uma possibilidade do autor ter abordado o que estava sentindo
em sua vida pessoal na época em que escreveu a música, pois estava envolvido em
um romance homoafetivo.
A divindade do amor aparece nos trechos em que o autor utilizou como
referência a Carta aos Coríntios, colocando o sentimento acima dos problemas
14. 14
humanos e agindo como um instrumento capaz de resolvê-los.
[...] é só o amor
Que conhece o que é verdade
O amor é bom, não quer o mal
Não sente inveja ou se envaidece
E para compreender o porquê da utilização do soneto de Camões escrito
há séculos e a carta do apóstolo Paulo escrita há milênios ainda fazerem tanto
sentido e serem partilhadas socialmente, inclusive na composição Monte Castelo,
nota-se que as paixões humanas são as mesmas daquelas épocas. Além disso,
entende-se que os assuntos comuns aos homens, tratados em sociedade, não são
inteiramente novos, eles continuam fazendo sentido mesmo na contemporaneidade.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Inicialmente, as principais finalidades deste artigo eram compreender de
que forma o recurso da intertextualidade é utilizado na letra da música Monte
Castelo e analisar como se dá a construção de sentidos na canção. Para alcançar os
objetivos, foram estudados os tipos de intertextualidade, as figuras de linguagem, o
estilo empregado na composição, as referências utilizadas pelo autor e as paixões
humanas. A comparação e a análise de todos esses elementos nortearam o sentido
do trabalho, fazendo com que se chegasse ao resultado esperado.
Ao utilizar trechos da Carta aos Coríntios, do Soneto de Camões e intitular
sua composição com o nome da cidade da Itália na qual os soldados brasileiros
obtiveram resultados heróicos, Renato Russo consagrou sua música utilizando um
dos temas das paixões humanas mais importantes para a sociedade: o amor e suas
contraditórias faces.
O autor fez uma mescla de acontecimentos na política e na história de
sua pátria, para isso, empregou a intertextualidade implícita como recurso, não
citando suas fontes diretamente, esperando assim, que seus interlocutores
entendessem seu trabalho com a linguagem.
Como grande parte dos problemas enfrentados pelos homens (aqueles
que despertam as grandes paixões) são comuns mesmo em diferentes épocas,
conteúdos produzidos há séculos ou até mesmo milênios podem continuar fazendo
15. 15
sentido mesmo na atualidade, como é o caso dos intertextos utilizados na
composição Monte Castelo, objeto deste estudo.
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2008.
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ANEXOS
Monte Castelo
Banda: Legião Urbana
Compositor: Renato Russo
Ainda que eu falasse a língua dos homens
E falasse a língua dos anjos
Sem amor, eu nada seria
É só o amor, é só o amor
Que conhece o que é verdade
O amor é bom, não quer o mal
Não sente inveja ou se envaidece
O amor é o fogo que arde sem se ver
É ferida que dói e não se sente
É um contentamento descontente
É dor que desatina sem doer
Ainda que eu falasse a língua dos homens
E falasse a língua dos anjos
Sem amor, eu nada seria
É um não querer mais que bem querer
É solitário andar por entre a gente
É um não contentar-se de contente
É cuidar que se ganha em se perder
É um estar-se preso por vontade
É servir a quem vence, o vencedor
É um ter com quem nos mata a lealdade
Tão contrário a si é o mesmo amor
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Estou acordado e todos dormem
Todos dormem, todos dormem
Agora vejo em parte
Mas então veremos face a face
É só o amor, é só o amor
Que conhece o que é verdade
Ainda que eu falasse a língua dos homens
E falasse a língua dos anjos
Sem amor, eu nada seria
Fonte: VAGALUME. Monte Castelo. Disponível em:
<https://www.vagalume.com.br/legiao-urbana/monte-castelo.html> Acesso em: 11
nov. 2017.
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ANEXO 2
Carta aos Coríntios 13 - 1:13
Apóstolo Paulo
¹ Ainda que eu fale as línguas dos homens e dos anjos, se eu não tenho amor, sou
como sino ruidoso ou como címbalo estridente.
² Ainda que eu tenha o dom de profecia, o conhecimento de todos os mistérios e de
toda a ciência, ainda que eu tenha toda a fé, a ponto de mover montanhas, se eu
não tenho o amor, eu nada sou.
³ Ainda que eu reparta todos os meus bens, ainda que eu entregue meu corpo às
chamas se eu não tenho amor, nada disso me adianta.
4
O amor é paciente, prestativo é o amor, não é invejoso, não se vangloria, não se
incha de orgulho.
5
Não falta com o respeito, não é interesseiro, não se irrita, não planeja o mal.
6
Não se alegra com a injustiça, se alegra com a verdade.
7
Tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.
8
O amor nunca acabará. As profecias desaparecerão, as línguas cessarão, o
conhecimento desaparecerá.
9
Pois conhecemos em parte e profetizamos em parte.
10
Mas, quando chegar a perfeição, o que é parcial desaparecerá.
11
Quando eu era criança, falava como criança, pensava como criança, raciocinava
como criança. Quando me tornei adulto, abandonei as coisas de criança.
12
Pois agora vemos por reflexo em espelho, mas depois veremos face a face. Agora
conheço em parte mas depois conhecerei tal como sou conhecido.
13
Agora permanecem a fé, a esperança e o amor, essas três coisas. A maior delas é
o amor.
Fonte: PASTORAL, Nova Bíblia. 2014. Coríntios, cap. 13, versículos 1 a 13, p.1400.
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ANEXO 3
Soneto: Amor é fogo que arde sem se ver
Luís Vaz de Camões
Amor é fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói, e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer.
É um não querer mais que bem querer;
É um andar solitário entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É um cuidar que se ganha em se perder.
É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata, lealdade.
Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo Amor?
Fonte: PENSADOR. Amor é fogo que arde sem se ver. Disponível em:
<https://www.pensador.com/amor_e_fogo_que_arde_sem_se_ver/> Acesso em: 03
jan. 2018.