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“ E se um dia hei de ser pó,/ cinza e nada/ que seja a minha
noite/ sua alvorada/ que me saiba perder.../ para me
encontrar.”
FLORBELA ESPANCA

“DOIS CASAMENTO$”
PARA ANA ABBOTT, PATRÍCIA NIEDERMEIER, & VINICIUS BRUM

1 – Como foi que o senhor chegou a esse texto tão feminino
de sua autoria?
R – Na verdade, nasceu como idéia em Sorocaba na
filmagem de um delicado curta do queridíssimo Joel Yamaji,
lá pelos anos 90. Acho que o curta se chamava “O
ESPECTADOR QUE O CINEMA ESQUECEU”. Ouvi
algumas mulheres falando da mesmice dos dias, do espaço,
da política e dos afetos. Quase todas divididas entre o desejo
de se apaixonarem enloquecidamente, o tédio e a vontade de
partir para uma cidade grande. Depois, iríamos fazer um
longa em episódios com o Tonacci e o Joel que não saiu, e o
meu episódio em princípio seria esse “DOIS CASAMENTO
$”, embora eu o achasse um pouco longo para um episódio.
Como não saiu deixei-o de lado, até o aparecimento e
interesse do Cavi Borges de produzi-lo como longa.
Ensaiamos o possível dentro de uma produção barata e
trabalhamos com pérolas afetivas como o próprio Cavi
Borges, Patrícia Niedermeier , Ana Abbott , Vinícius Brum,
Gustavo Herdt, Marcinha Pitanga, Danielle Cherman, Pedro
Rodrigues, Renaud Leenhardt, Iara Camara, Cristiano
Lippmã Brito, Ana Clara... Uma equipe pequena mais muito
empenhada e criativa começando pelo Cavi que ao fazer vai
se superando pois quer ser um diretor melhor e um produtor
de filmes independentes e experimentais. Convenhamos, um
terno caminho a ser seguido, e é o que o diferencia da maior
parte dos nossos velhos produtores cooptados pelo lixo
televisivo de comediazinhas idiotas com peruas e canastrões.
Em geral são bárbaros que sempre viveram do dinheiro
público, e com um profundo desprezo pelo pensamento e
pelo afeto. Beleza e poesia então, nem sabem o que é. Vivem
da cafetinagem de um passado onde até foram importantes,
mas traíram! Viraram patrões sovinas, imediatistas,
oportunistas e burros. E arrogantes, né? Pena pois poderiam
ser seres melhores, mais humanos e doces. Só que optaram
pela imobilidade e o culto da nefasta relação patronal
esvaziando encontros, realizações e esperanças.
2 - Mas “DOIS CASAMENTO$” não foi escrito para ser
uma peça de teatro?
r – Objetivamente nem pensei nisso, embora tenha sim uma
terna homenagem ao bom teatro do Tchekov, do Strindberg e
do Ibsen, abrasileirados né?
As duas personagens se
movimentam como se fossem fantasmas num só espaço duro
e pobre e como se estivessem presas no horror existencial
que antecede morte de vidas comuns e vazias. Elas sabem
que vão morrer um dia, e nem por isso conseguem ser felizes
no ato manipulador e rasteiro do casamento. A idéia era
levantar a mesmice, o medo e o tédio no que foi
transformado o casamento, numa produção possível e barata.
Se em algum momento o casamento foi um percurso seguro
ou duvidoso do afeto, logo foi transformado num negócio
lucrativo. Convivo com muitos casais onde o casamento já
deixou de existir a muito tempo, mas vai sendo levado pelo
medo de mudar, da liberdade e da diferença. E liberdade e
diferenças são difíceis de serem entendidos e vividos. Mas,
ainda vejo o casamento tradicional, conservador e
reacionário sendo defendido com unhas e dentes pelas
religiões que o transformaram num prolongamento de
negócios, fascismos e violências domésticas como mortes,
espancamentos e silêncios que acabam virando
sensacionalismo na TV. E isso no mundo do afeto é um
estranhamento doentio a serviço do medo. E mudar exige
vontade, força, sonhos, conhecimento e postura. Do
contrário é o que dizia Shakespeare em “MACBETH”: “ (...)
a vida/ É uma sombra ambulante: um pobre ator/ Que
gesticula em cena uma hora ou duas,/Depois não se ouve
mais; um conto cheio/ De bulha e fúria, dito por um louco,/
Significando nada.“ Ou seja, filmamos o nada de vidas
comuns e vazias sem grandeza alguma. E finalmente
terminaremos todos sós! Tudo acaba virando uma
representação teatral Tchekoviana.
3 – E como foi que o Cavi Borges chegou até você como
produtor de um filme ainda que muito falado, original como
idéia e roteiro?
r – Acho que foi por uma indicação do cuidadoso, straubiano
e talentoso Marcelo Ikeda. Um jovem amigo e cineasta
muito querido. Abandonou a mamata porca da burocracia
partidária para dar aulas de cinema no Ceará. Ou seja, não é
um carreirista, oportunista ou idiota deslumbrado com o
poder como muitos que se recusam a largar o osso. Ficam
em qualquer cargo que o Partido conseguir, até
inconstitucionalmente. E claro, se dizem democratas! Ora o
que é a ANCINE para o cinema brasileiro? Não é uma
EMBRAFILME piorada? E só piora, né? Quem a defende
senão ratos, porcos e urubus, sempre grudados no poder e
sustentados pelo dinheiro público? Vampiros da felicidade
humana! Ikeda ousou voar, conscientemente jogando tudo
para o alto. Mas... bem que poderia ser um ótimo presidente
de uma nova ANCINE, pois mudaria tudo e abriria espaço
para todos. E não só para os velhos puxa-sacos, lambedores e
picaretas que se perpetuam no tempo transformando o
cinema num programinha televisivo boçal, sem um mínimo
de grandeza. E que cercam e sufocam a burocracia com um
profundo desprezo pela doçura criativa autoral e pelo cinema
de idéias. Não a toa fazem meu passado me condena e
outras tantas bobagens. Ganhar o público dopando-o como
faz a TV, não vejo nenhuma vantagem a não ser o dinheiro.
Mas não é pouco?
4 – Como foi a relação com a equipe e a produção?
r - Poder filmar o que se quis ainda é um luxo raro nos dias
de hoje. No Brasil o cinema é só um exercício de poder e
malandragem. E volto a repetir: nos “DOIS CASAMENTO
$”, só trabalhei com pérolas negras. Ou seja, raras! Se com
pouco dinheiro o Cavi faz milagres, o que não faria com
algum na produção? É um jovem produtor, e um bom
exemplo a ser seguido. O cinema não precisa só ser
manipulado pela máfia da burocracia e do capital, pois estão
no cinema não pelo exercício do pensamento, mas para
explorar mesmices e fascismos. Jogam com os podres
poderes para termos um cinema e um país sem identidade
alguma. E não sabem filmar, né? E sem saudosismo, nosso
cinema já foi muuuuuuito melhor. O que se faz hoje, na
maior parte das vezes é lixo! Pode interessar a TV, mas não a
experimentação e a poesia.
5 – Sendo só duas personagens femininas como foi que as
atrizes chegaram até “DOIS CASAMENTO$”, e como foi o
trabalho?
r - Duas indicações do Cavi. Patrícia Niedermeier e Ana
Abbott foram exatamente a luz solar e criativa das
personagens. Claro que tivemos todos dificuldades, mas que
foram sendo vencidas com a experiência e a capacidade
poética-musical e visceral de cada uma. Patrícia foi o tempo
todo uma leoa raivosa por estar sendo encarcerada pela
moral dominante, que ainda se sustenta na ilusão do
matrimonio. Tem consciência disso como personagem mas
não soube como sair da representação do casamento ou
mudar. Joga no sexo a sua amargura e saída. Ana foi a cor da
imobilidade provocada pela timidez e pelo medo. Foi
conscientemente uma nova “CABÍRIA”, estilizada e bonita.
Muito bonita e talentosa. Foram e são uma espécie de
musicalidade selvagem dos mais nobres sentimentos
humanos, empobrecidos pela religião e pela ordem social.
Trabalhamos o texto em alguns ensaios e se jogaram de boca
no trabalho a ser feito. O virtuosismo solar de ambas deu um
sentido orgânico ao esforço e lógica das contradições de
cada uma. É um filme cru sem objetos e babilaques. É só um
banco de madeira, uma velha mesa quebrada e abandonada,
um lampião, duas taças de vinho, uma garrafa e uma pomba
branca imaginada pela Marcinha Pitanga e Daniele Cherman,
e feita na Mangueira. Lembrando muito o espaço como
personagem no teatro do saudoso Grotowiski. E a estranheza
do espaço foi o exercício a ser desenvolvido. E ambas
lindíssimas se saíram bem, como se tivessem sido mesmo
abandonadas numa espécie de apatia crônica e enloquecida
do medo. Patrícia e Ana se respeitaram e se abandonaram
como se fossem doenças latejantes da nossa civilização da
guerra e do medo de amar e serem amadas, com o casamento
sendo transformado numa expressão do horror e da
estupidez. Uma enfermidade da paixão. Na verdade, teme-se
mais a paixão e o encantamento, que a segurança equivocada
dos porcos. Porcos obstinado pelo dinheiro e pelo poder.
Quem ousa hoje confrontar o status quo afetivo de peruas e
canastrões? Nosso cinemão é que não é! Muito menos as
duas personagens. Pena.
6 – O senhor acha que esse “DOIS CASAMENTO$” dá
continuidade aos filmes-ensaios que você vinha fazendo?
r - Os filmes-ensaios são fenômenos ligados diretamente ao
pensamento das grandes idéias que deixaram de estar no
nosso cinema. Eu ainda as penso para manter as suas
reflexões vivas entre nós. Já, “DOIS CASAMENTO$” é
uma doce e enloquecida homenagem ao mundo do afeto
tentando uma fórmula de representação e encenação
experimental assumida visceralmente por todos. Com muito
pouco dinheiro, só o Cavi ainda consegue esse mimo criativo
para com o cinema. É uma demonstração de jovialidade e
também de ousadia que temos que reconhecer. Todo lixo foi
evitado para não contaminar as flores desse jardim
perfumado e florido. Fizemos um desesperado manifesto a
desobediência, ao gozo e a vida. Ora, o que desses elementos
existe hoje no casamento? O casamento não foi transformado
num mar de lama religioso e televisivo? Quem se assume
como esquizóide ou covarde? E o casamento é sim, reflexo
da enfermidade das idéias, da política e do país. A constante
verborragia religiosa é sim o que antecede ao rastejamento,
ao medo, a escuridão e ao suicídio. E o fracasso é só a farda
suja do poder totalmente apodrecido como expressão. E não
é coisa do diabo, e sim dos homens que não mais sabem
amar suas lindas mulheres. A vida foi os ensinando o
desaprender da paixão e do gozar. Pena.
7 – Lendo com cuidado o argumento de “DOIS
CASAMENTO$”, não poderia passar uma idéia de um culto
a homossexualidade feminina?
r – É-nos indiferente essa picuinha e preocupação dos
fundamentalistas religiosos. Vamos muito além. É um ensaio
jovem e potente de liberdade absorvida como uma sucessão
de afetos não desgastado na interpretação delicada das duas
atrizes. Se o casamento se tornou só uma enfermidade, um
negócio, nossa colocação cinematográfica passa por um
outro registro amoroso. Patrícia e Ana são na verdade uma só
personagem atônitas num espaço duro e sufocante
belíssimamente filmado pelo fotografo e diretor genial,
chamado Vinícius Brum. Ousaria dizer que “DOIS
CASAMENTO$” é uma tentativa de tornar visível o império
do mal da religião a TV, que se abate sobre o afeto. É um
filme contra a rapinagem suja dos sentimentos. O que pode
um fanático fundamentalista religioso, entender do afeto?
Claro que podem bostejar verbalmente seja lá o que for pois
dizem que vivemos numa Democracia, mas que na verdade
são apenas símbolos de um fascismo em formação, a
satisfazer ideologias vazias impostas como a culpa e o medo.
Encantamento, afeto, paixão, beleza e o gozar...é uma outra
coisa. Passa por um outro registro onde a estabilidade passa
pela grandeza e pelos sonhos de gestos ricos e obscenos. E
entre a empoeirada retórica religiosa e televisiva e a beleza
infinita dos sentimentos, nosso entendimento não pode ser
uma máscara de rigidez. Defendemos sim, um mundo mais
justo, humano, terno, criativo e amoroso. Um mundo sem
arrogâncias imobilizadoras. Não estamos mais na Idade
Média. Cada um que assuma o seu desejo e seja feliz!
Preconceitos e censuras deveria ter acabado com o fim da
ditadura. Ou ela continua disfarçada na religião como poder?
Não tem coisa mais importante para serem feitas, pensadas e
vividas?
8 – Como e porque agora mais velho participar de Mostras e
festivais?
r – Lamentavelmente o cinema foi transformado numa
monumental estupidez burocrática. E na megalomania
partidária deles, uma submissão odiosa a pontuações e
arrogâncias. Poder, né? Então como resposta ao
autoritarismo obsessivo dos porcos, um filme comovente
para ajudar jovens produtores e diretores não descendentes
da pilantragem repressiva da burocracia! Continuam a
arrogância do passado, né? Só que agora encostados e
escondidos em partidos vagabundos. Tornou-se necessário
estar na pobre festa do nosso cinema. Festa artificial, né?
Ora, o que de sério pode-se diagnosticar num festival?
Festivais que sempre premiam um acumulo de enfermidades
e armadilhas. E se só servem aos canastrões televisivos, não
servirá nunca ao pensamento. Talvez tirando o festival de
Brasília que dá prêmio em dinheiro, que é o que interessa,
nunca vi mérito algum estar nessas festas na maior parte das
vezes forçada. Faz-se turismo com dinheiro público, né? Não
seria mais interessante diminuir o número de festivais e
seguir o exemplo do Ponto Cine? Ou seja, criar mais
cinemas nas periferias e formar um público mais preparado
para Sétima Arte que engloba todas as demais.
9 – O que você poderia falar da tua relação com um jovem
fotografo desconhecido do teu círculo de amizades, e da
montagem eminente?
r – Nos demos super bem. Vini é um escultor de imagens
poéticas que também dirige. Seus dois curtas são melhores
que 99% dos nossos longas querendo imitar a imbecilidade
de Hollywood, com espetáculo barato e a violência. Como
fotografo sabe disseminar afetos e discernimento diante da
liberdade. É um obstinado pelo belo que sabe esculpir a luz e
o tempo. É um poeta do olhar que vai muito mais longe que
todo e qualquer filme feito. Amei o seu trabalho inteligente e
delicado. Já a montagem, ainda não cheguei nela. Mas só
trabalho com inventoras! Seja a doce Joana Collier, seja
Paula Sancier, seja Pedro Bento, seja Lupercio Bogea, seja...
São mais que montadores, mas sim inventores de uma nova
maneira de um olhar a ser pensado.
10- Como “DOIS CASAMENTO$” se coloca em relação ao
cinema brasileiro atual?
r – Uma vez mais vai na contra-mão de tudo, flertando ao
longe com “SUDOESTE”, “SANTIAGO”, “SERRAS DA
DESORDEM”, “MENTIRAS SINCERAS”, “ELENA”,
“SETENTA”, “FILME FRANCES”, “CINEMA NUNCA
MAIS”, “PAIXÃO E VIRTUDE”, “FILME POLICIAL”,
“LET’S PLAY JAZZ”... Sendo um filme contra o status quo
da ideologia dominante do casamento, sua singularidade está
no desejo poético de transgressão de todos que dele
participam. Também não é um filme de certezas, mas de
dúvidas existenciais. É um filme que possivelmente vai
semear desentendimentos e paixões. Imagina brincar com a
falida instituição do casamento num país idiotizado pela
religião e pela TV como o nosso ?
11- Mas pensando bem, de certa forma o casamento não é
ainda muito uma tentativa de entendimento do afeto?
r – E precisa casar para isso? Quanto custa um casamento?
Penso que é só um negócio organizado como compensação
religiosas, financeiras e um espetáculo para as famílias
conservadoras. Quando uma tonta do mundo do espetáculo
se casa, é uma festa para as revistinhas mundanas.
Casamento que não vai durar dois anos! Mas... vira notícia,
imagem e bobajadas de um jornalismo criminoso tipo revista
Caras ou Quem. Ora, e por que o casamento da Maria com o
João Sem Nome, operário ou desempregado, não tem
imagem alguma? Ousaria dizer que o casamento é sim
também, o reflexo da luta de classes. O afeto, o desejo, o
prazer é o que menos importa. Inverteu-se o afeto num
negócio para satisfazer a patética organização dos urubus da
religião. Ou seja, regride-se o desejo ao capital para se lucrar
com uma falsificação dos afetos para vender a debilidade
como luxo e desejo. Não é como fazem os padrecos, pastores
e as novelinhas na TV? E o que na verdade existe e resiste é
a burrice, o ódio, a submissão a culpa, o fingimento, a
caretice e o sistema como salvação da família conservadora.
Como bem dizia David Cooper: “Por falta de deuses
(concretos e palpáveis) tivemos que inventar abstrações
potentes, nenhuma delas mais poderosamente destrutiva que
a família.” Corretíssimo! E é dentro dela que todos dançam
conforme a música. E pode quase tudo. Só não pode pensar,
gozar e ser feliz; pois nada disso imobiliza o ser humano.
Torna-o sim mais elevado na nobreza dos afetos muitas
vezes proibidos.
12- Você sempre assumiu influências e foi além. Quais
seriam as mais fortes neste novo trabalho?
r - O cinema do Bergman de “PERSONA” e “GRITOS E
SUSSURROS” como terra-mãe. “MADRE JOANA DOS
ANJOS” do Kawalerowicz, como imagem referencial a ser
pensada. “SIMÃO DO DESERTO” do Buñuel como
liberdade. E Straub como rigor cênico. Mas o que é falado
passa pelos contos e o teatro do Tchekov e o genial “OS
CONVALESCENTE” do nosso saudoso Zé Vicente. Aliás,
em Paris lhe pedi os direitos para filmar essa monumental
peça esquecida, mas muito próxima da genialidade do
“TERRA EM TRANSE”, pois falava da impotência e
prepotência na luta política contra a ditadura. Mas não era
um panfleto, mas um longo poema inspirado em Rimbaud.
Também me orgulho de ter estado sempre ao lado, e na
defesa do nosso Cinema de Invenção. Um cinema que não
mendigou, não se camuflou e não se esclerosou em
comediazinhas idiotas, logo passadas na TV! É um orgulho
defender Tonacci, Santeiro, Ikeda, Paulo Augusto Gomes,
Capovila, Ricardo Miranda, Renato Coelho, Joel Yamaji,
Priscyla Bettim, Isabel Lacerda, Zé Sette, Fabio Carvalho,
Geraldo Veloso, Petra Costa, Pedro Asbeg, Cavi Borges, Joel
Pizzini, Vinícius Brum, Leonardo Esteves, Ana Carolina... E
claro, Nelson Pereira dos Santos uma referência definitiva
para todas as gerações. O Cinema de Invenção segue sendo
um cinema autoral, ousado e criativo. E feito defendendo um
saneamento profundo nas grandes produções que não se
pagam na bilheteria mas enganam os investidores, e na
burocracia como certeza da enfermidade dos sonhos não
vividos e muitas vezes proíbidos. Ela é responsável sim, pelo
atual horror cultural do cinema brasileiro! E se hoje só temos
pornochanchadas medíocres a culpa maior é da burocracia e
da TV que transformaram o cinema numa privada entupida
de uma estação rodoviária. Mas que é o reflexo de um país
como um todo né?
13- E para onde vai o cinema de Luiz Rosemberg Filho, Rô
para os mais íntimos?
r - Volto aos curtas pois ainda não acabei “MOMENTOS” e
“CARTA A UMA JOVEM CINEASTA” já rodados. “DOIS
CASAMENTO$” é um presentão de todos ao Cavi que fez
seu último aniversário no nosso set de filmagem, e em
seguida casou uma vez mais com a mesma companheira de
muitas batalhas pela sétima ou oitava vez. No caso,
transformando o casamento numa doce brincadeira com o
filme que estávamos fazendo. Mas foi mais que uma
brincadeira. Mas uma encenação da sua paixão pela Patrícia.
Para onde vou, eu não sei responder. No que se pode
acreditar na cultura do país? Lutamos fa-zen-do, contra os
anos de chumbo e continuamos lutando contra a zona da
burocracia partidária deixada pela ditadura. Mais de trinta
Partidos dá para se acreditar na seriedade da política? Dá
para acreditar em dias melhores? Não dá né? A ministrinha
do “relaxa e goza” na cultura pode ser uma referencia do
bem, ou mais uma enfermidade dos nossas tantas tristezas?
Cinema é antítese de periguetes que acham que podem ser
tudo, ou qualquer coisa. Cinema não é a imobilidade suja e
baixa da política! É mais nobre né? Lida-se com o afeto, o
encantamento e a poesia. Fundamentalmente com o
entendimento, a pintura e o olhar.

FIM/ 2013.

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Entrevista a Luiz Rosemberg Filho

  • 1. “ E se um dia hei de ser pó,/ cinza e nada/ que seja a minha noite/ sua alvorada/ que me saiba perder.../ para me encontrar.” FLORBELA ESPANCA “DOIS CASAMENTO$” PARA ANA ABBOTT, PATRÍCIA NIEDERMEIER, & VINICIUS BRUM 1 – Como foi que o senhor chegou a esse texto tão feminino de sua autoria? R – Na verdade, nasceu como idéia em Sorocaba na filmagem de um delicado curta do queridíssimo Joel Yamaji, lá pelos anos 90. Acho que o curta se chamava “O ESPECTADOR QUE O CINEMA ESQUECEU”. Ouvi algumas mulheres falando da mesmice dos dias, do espaço, da política e dos afetos. Quase todas divididas entre o desejo de se apaixonarem enloquecidamente, o tédio e a vontade de partir para uma cidade grande. Depois, iríamos fazer um longa em episódios com o Tonacci e o Joel que não saiu, e o meu episódio em princípio seria esse “DOIS CASAMENTO $”, embora eu o achasse um pouco longo para um episódio. Como não saiu deixei-o de lado, até o aparecimento e interesse do Cavi Borges de produzi-lo como longa. Ensaiamos o possível dentro de uma produção barata e trabalhamos com pérolas afetivas como o próprio Cavi Borges, Patrícia Niedermeier , Ana Abbott , Vinícius Brum,
  • 2. Gustavo Herdt, Marcinha Pitanga, Danielle Cherman, Pedro Rodrigues, Renaud Leenhardt, Iara Camara, Cristiano Lippmã Brito, Ana Clara... Uma equipe pequena mais muito empenhada e criativa começando pelo Cavi que ao fazer vai se superando pois quer ser um diretor melhor e um produtor de filmes independentes e experimentais. Convenhamos, um terno caminho a ser seguido, e é o que o diferencia da maior parte dos nossos velhos produtores cooptados pelo lixo televisivo de comediazinhas idiotas com peruas e canastrões. Em geral são bárbaros que sempre viveram do dinheiro público, e com um profundo desprezo pelo pensamento e pelo afeto. Beleza e poesia então, nem sabem o que é. Vivem da cafetinagem de um passado onde até foram importantes, mas traíram! Viraram patrões sovinas, imediatistas, oportunistas e burros. E arrogantes, né? Pena pois poderiam ser seres melhores, mais humanos e doces. Só que optaram pela imobilidade e o culto da nefasta relação patronal esvaziando encontros, realizações e esperanças. 2 - Mas “DOIS CASAMENTO$” não foi escrito para ser uma peça de teatro? r – Objetivamente nem pensei nisso, embora tenha sim uma terna homenagem ao bom teatro do Tchekov, do Strindberg e do Ibsen, abrasileirados né? As duas personagens se movimentam como se fossem fantasmas num só espaço duro e pobre e como se estivessem presas no horror existencial que antecede morte de vidas comuns e vazias. Elas sabem que vão morrer um dia, e nem por isso conseguem ser felizes no ato manipulador e rasteiro do casamento. A idéia era levantar a mesmice, o medo e o tédio no que foi
  • 3. transformado o casamento, numa produção possível e barata. Se em algum momento o casamento foi um percurso seguro ou duvidoso do afeto, logo foi transformado num negócio lucrativo. Convivo com muitos casais onde o casamento já deixou de existir a muito tempo, mas vai sendo levado pelo medo de mudar, da liberdade e da diferença. E liberdade e diferenças são difíceis de serem entendidos e vividos. Mas, ainda vejo o casamento tradicional, conservador e reacionário sendo defendido com unhas e dentes pelas religiões que o transformaram num prolongamento de negócios, fascismos e violências domésticas como mortes, espancamentos e silêncios que acabam virando sensacionalismo na TV. E isso no mundo do afeto é um estranhamento doentio a serviço do medo. E mudar exige vontade, força, sonhos, conhecimento e postura. Do contrário é o que dizia Shakespeare em “MACBETH”: “ (...) a vida/ É uma sombra ambulante: um pobre ator/ Que gesticula em cena uma hora ou duas,/Depois não se ouve mais; um conto cheio/ De bulha e fúria, dito por um louco,/ Significando nada.“ Ou seja, filmamos o nada de vidas comuns e vazias sem grandeza alguma. E finalmente terminaremos todos sós! Tudo acaba virando uma representação teatral Tchekoviana. 3 – E como foi que o Cavi Borges chegou até você como produtor de um filme ainda que muito falado, original como idéia e roteiro? r – Acho que foi por uma indicação do cuidadoso, straubiano e talentoso Marcelo Ikeda. Um jovem amigo e cineasta muito querido. Abandonou a mamata porca da burocracia
  • 4. partidária para dar aulas de cinema no Ceará. Ou seja, não é um carreirista, oportunista ou idiota deslumbrado com o poder como muitos que se recusam a largar o osso. Ficam em qualquer cargo que o Partido conseguir, até inconstitucionalmente. E claro, se dizem democratas! Ora o que é a ANCINE para o cinema brasileiro? Não é uma EMBRAFILME piorada? E só piora, né? Quem a defende senão ratos, porcos e urubus, sempre grudados no poder e sustentados pelo dinheiro público? Vampiros da felicidade humana! Ikeda ousou voar, conscientemente jogando tudo para o alto. Mas... bem que poderia ser um ótimo presidente de uma nova ANCINE, pois mudaria tudo e abriria espaço para todos. E não só para os velhos puxa-sacos, lambedores e picaretas que se perpetuam no tempo transformando o cinema num programinha televisivo boçal, sem um mínimo de grandeza. E que cercam e sufocam a burocracia com um profundo desprezo pela doçura criativa autoral e pelo cinema de idéias. Não a toa fazem meu passado me condena e outras tantas bobagens. Ganhar o público dopando-o como faz a TV, não vejo nenhuma vantagem a não ser o dinheiro. Mas não é pouco? 4 – Como foi a relação com a equipe e a produção? r - Poder filmar o que se quis ainda é um luxo raro nos dias de hoje. No Brasil o cinema é só um exercício de poder e malandragem. E volto a repetir: nos “DOIS CASAMENTO $”, só trabalhei com pérolas negras. Ou seja, raras! Se com pouco dinheiro o Cavi faz milagres, o que não faria com algum na produção? É um jovem produtor, e um bom exemplo a ser seguido. O cinema não precisa só ser
  • 5. manipulado pela máfia da burocracia e do capital, pois estão no cinema não pelo exercício do pensamento, mas para explorar mesmices e fascismos. Jogam com os podres poderes para termos um cinema e um país sem identidade alguma. E não sabem filmar, né? E sem saudosismo, nosso cinema já foi muuuuuuito melhor. O que se faz hoje, na maior parte das vezes é lixo! Pode interessar a TV, mas não a experimentação e a poesia. 5 – Sendo só duas personagens femininas como foi que as atrizes chegaram até “DOIS CASAMENTO$”, e como foi o trabalho? r - Duas indicações do Cavi. Patrícia Niedermeier e Ana Abbott foram exatamente a luz solar e criativa das personagens. Claro que tivemos todos dificuldades, mas que foram sendo vencidas com a experiência e a capacidade poética-musical e visceral de cada uma. Patrícia foi o tempo todo uma leoa raivosa por estar sendo encarcerada pela moral dominante, que ainda se sustenta na ilusão do matrimonio. Tem consciência disso como personagem mas não soube como sair da representação do casamento ou mudar. Joga no sexo a sua amargura e saída. Ana foi a cor da imobilidade provocada pela timidez e pelo medo. Foi conscientemente uma nova “CABÍRIA”, estilizada e bonita. Muito bonita e talentosa. Foram e são uma espécie de musicalidade selvagem dos mais nobres sentimentos humanos, empobrecidos pela religião e pela ordem social. Trabalhamos o texto em alguns ensaios e se jogaram de boca no trabalho a ser feito. O virtuosismo solar de ambas deu um sentido orgânico ao esforço e lógica das contradições de
  • 6. cada uma. É um filme cru sem objetos e babilaques. É só um banco de madeira, uma velha mesa quebrada e abandonada, um lampião, duas taças de vinho, uma garrafa e uma pomba branca imaginada pela Marcinha Pitanga e Daniele Cherman, e feita na Mangueira. Lembrando muito o espaço como personagem no teatro do saudoso Grotowiski. E a estranheza do espaço foi o exercício a ser desenvolvido. E ambas lindíssimas se saíram bem, como se tivessem sido mesmo abandonadas numa espécie de apatia crônica e enloquecida do medo. Patrícia e Ana se respeitaram e se abandonaram como se fossem doenças latejantes da nossa civilização da guerra e do medo de amar e serem amadas, com o casamento sendo transformado numa expressão do horror e da estupidez. Uma enfermidade da paixão. Na verdade, teme-se mais a paixão e o encantamento, que a segurança equivocada dos porcos. Porcos obstinado pelo dinheiro e pelo poder. Quem ousa hoje confrontar o status quo afetivo de peruas e canastrões? Nosso cinemão é que não é! Muito menos as duas personagens. Pena. 6 – O senhor acha que esse “DOIS CASAMENTO$” dá continuidade aos filmes-ensaios que você vinha fazendo? r - Os filmes-ensaios são fenômenos ligados diretamente ao pensamento das grandes idéias que deixaram de estar no nosso cinema. Eu ainda as penso para manter as suas reflexões vivas entre nós. Já, “DOIS CASAMENTO$” é uma doce e enloquecida homenagem ao mundo do afeto tentando uma fórmula de representação e encenação experimental assumida visceralmente por todos. Com muito pouco dinheiro, só o Cavi ainda consegue esse mimo criativo
  • 7. para com o cinema. É uma demonstração de jovialidade e também de ousadia que temos que reconhecer. Todo lixo foi evitado para não contaminar as flores desse jardim perfumado e florido. Fizemos um desesperado manifesto a desobediência, ao gozo e a vida. Ora, o que desses elementos existe hoje no casamento? O casamento não foi transformado num mar de lama religioso e televisivo? Quem se assume como esquizóide ou covarde? E o casamento é sim, reflexo da enfermidade das idéias, da política e do país. A constante verborragia religiosa é sim o que antecede ao rastejamento, ao medo, a escuridão e ao suicídio. E o fracasso é só a farda suja do poder totalmente apodrecido como expressão. E não é coisa do diabo, e sim dos homens que não mais sabem amar suas lindas mulheres. A vida foi os ensinando o desaprender da paixão e do gozar. Pena. 7 – Lendo com cuidado o argumento de “DOIS CASAMENTO$”, não poderia passar uma idéia de um culto a homossexualidade feminina? r – É-nos indiferente essa picuinha e preocupação dos fundamentalistas religiosos. Vamos muito além. É um ensaio jovem e potente de liberdade absorvida como uma sucessão de afetos não desgastado na interpretação delicada das duas atrizes. Se o casamento se tornou só uma enfermidade, um negócio, nossa colocação cinematográfica passa por um outro registro amoroso. Patrícia e Ana são na verdade uma só personagem atônitas num espaço duro e sufocante belíssimamente filmado pelo fotografo e diretor genial, chamado Vinícius Brum. Ousaria dizer que “DOIS CASAMENTO$” é uma tentativa de tornar visível o império
  • 8. do mal da religião a TV, que se abate sobre o afeto. É um filme contra a rapinagem suja dos sentimentos. O que pode um fanático fundamentalista religioso, entender do afeto? Claro que podem bostejar verbalmente seja lá o que for pois dizem que vivemos numa Democracia, mas que na verdade são apenas símbolos de um fascismo em formação, a satisfazer ideologias vazias impostas como a culpa e o medo. Encantamento, afeto, paixão, beleza e o gozar...é uma outra coisa. Passa por um outro registro onde a estabilidade passa pela grandeza e pelos sonhos de gestos ricos e obscenos. E entre a empoeirada retórica religiosa e televisiva e a beleza infinita dos sentimentos, nosso entendimento não pode ser uma máscara de rigidez. Defendemos sim, um mundo mais justo, humano, terno, criativo e amoroso. Um mundo sem arrogâncias imobilizadoras. Não estamos mais na Idade Média. Cada um que assuma o seu desejo e seja feliz! Preconceitos e censuras deveria ter acabado com o fim da ditadura. Ou ela continua disfarçada na religião como poder? Não tem coisa mais importante para serem feitas, pensadas e vividas? 8 – Como e porque agora mais velho participar de Mostras e festivais? r – Lamentavelmente o cinema foi transformado numa monumental estupidez burocrática. E na megalomania partidária deles, uma submissão odiosa a pontuações e arrogâncias. Poder, né? Então como resposta ao autoritarismo obsessivo dos porcos, um filme comovente para ajudar jovens produtores e diretores não descendentes da pilantragem repressiva da burocracia! Continuam a
  • 9. arrogância do passado, né? Só que agora encostados e escondidos em partidos vagabundos. Tornou-se necessário estar na pobre festa do nosso cinema. Festa artificial, né? Ora, o que de sério pode-se diagnosticar num festival? Festivais que sempre premiam um acumulo de enfermidades e armadilhas. E se só servem aos canastrões televisivos, não servirá nunca ao pensamento. Talvez tirando o festival de Brasília que dá prêmio em dinheiro, que é o que interessa, nunca vi mérito algum estar nessas festas na maior parte das vezes forçada. Faz-se turismo com dinheiro público, né? Não seria mais interessante diminuir o número de festivais e seguir o exemplo do Ponto Cine? Ou seja, criar mais cinemas nas periferias e formar um público mais preparado para Sétima Arte que engloba todas as demais. 9 – O que você poderia falar da tua relação com um jovem fotografo desconhecido do teu círculo de amizades, e da montagem eminente? r – Nos demos super bem. Vini é um escultor de imagens poéticas que também dirige. Seus dois curtas são melhores que 99% dos nossos longas querendo imitar a imbecilidade de Hollywood, com espetáculo barato e a violência. Como fotografo sabe disseminar afetos e discernimento diante da liberdade. É um obstinado pelo belo que sabe esculpir a luz e o tempo. É um poeta do olhar que vai muito mais longe que todo e qualquer filme feito. Amei o seu trabalho inteligente e delicado. Já a montagem, ainda não cheguei nela. Mas só trabalho com inventoras! Seja a doce Joana Collier, seja Paula Sancier, seja Pedro Bento, seja Lupercio Bogea, seja...
  • 10. São mais que montadores, mas sim inventores de uma nova maneira de um olhar a ser pensado. 10- Como “DOIS CASAMENTO$” se coloca em relação ao cinema brasileiro atual? r – Uma vez mais vai na contra-mão de tudo, flertando ao longe com “SUDOESTE”, “SANTIAGO”, “SERRAS DA DESORDEM”, “MENTIRAS SINCERAS”, “ELENA”, “SETENTA”, “FILME FRANCES”, “CINEMA NUNCA MAIS”, “PAIXÃO E VIRTUDE”, “FILME POLICIAL”, “LET’S PLAY JAZZ”... Sendo um filme contra o status quo da ideologia dominante do casamento, sua singularidade está no desejo poético de transgressão de todos que dele participam. Também não é um filme de certezas, mas de dúvidas existenciais. É um filme que possivelmente vai semear desentendimentos e paixões. Imagina brincar com a falida instituição do casamento num país idiotizado pela religião e pela TV como o nosso ? 11- Mas pensando bem, de certa forma o casamento não é ainda muito uma tentativa de entendimento do afeto? r – E precisa casar para isso? Quanto custa um casamento? Penso que é só um negócio organizado como compensação religiosas, financeiras e um espetáculo para as famílias conservadoras. Quando uma tonta do mundo do espetáculo se casa, é uma festa para as revistinhas mundanas. Casamento que não vai durar dois anos! Mas... vira notícia, imagem e bobajadas de um jornalismo criminoso tipo revista Caras ou Quem. Ora, e por que o casamento da Maria com o
  • 11. João Sem Nome, operário ou desempregado, não tem imagem alguma? Ousaria dizer que o casamento é sim também, o reflexo da luta de classes. O afeto, o desejo, o prazer é o que menos importa. Inverteu-se o afeto num negócio para satisfazer a patética organização dos urubus da religião. Ou seja, regride-se o desejo ao capital para se lucrar com uma falsificação dos afetos para vender a debilidade como luxo e desejo. Não é como fazem os padrecos, pastores e as novelinhas na TV? E o que na verdade existe e resiste é a burrice, o ódio, a submissão a culpa, o fingimento, a caretice e o sistema como salvação da família conservadora. Como bem dizia David Cooper: “Por falta de deuses (concretos e palpáveis) tivemos que inventar abstrações potentes, nenhuma delas mais poderosamente destrutiva que a família.” Corretíssimo! E é dentro dela que todos dançam conforme a música. E pode quase tudo. Só não pode pensar, gozar e ser feliz; pois nada disso imobiliza o ser humano. Torna-o sim mais elevado na nobreza dos afetos muitas vezes proibidos. 12- Você sempre assumiu influências e foi além. Quais seriam as mais fortes neste novo trabalho? r - O cinema do Bergman de “PERSONA” e “GRITOS E SUSSURROS” como terra-mãe. “MADRE JOANA DOS ANJOS” do Kawalerowicz, como imagem referencial a ser pensada. “SIMÃO DO DESERTO” do Buñuel como liberdade. E Straub como rigor cênico. Mas o que é falado passa pelos contos e o teatro do Tchekov e o genial “OS CONVALESCENTE” do nosso saudoso Zé Vicente. Aliás, em Paris lhe pedi os direitos para filmar essa monumental
  • 12. peça esquecida, mas muito próxima da genialidade do “TERRA EM TRANSE”, pois falava da impotência e prepotência na luta política contra a ditadura. Mas não era um panfleto, mas um longo poema inspirado em Rimbaud. Também me orgulho de ter estado sempre ao lado, e na defesa do nosso Cinema de Invenção. Um cinema que não mendigou, não se camuflou e não se esclerosou em comediazinhas idiotas, logo passadas na TV! É um orgulho defender Tonacci, Santeiro, Ikeda, Paulo Augusto Gomes, Capovila, Ricardo Miranda, Renato Coelho, Joel Yamaji, Priscyla Bettim, Isabel Lacerda, Zé Sette, Fabio Carvalho, Geraldo Veloso, Petra Costa, Pedro Asbeg, Cavi Borges, Joel Pizzini, Vinícius Brum, Leonardo Esteves, Ana Carolina... E claro, Nelson Pereira dos Santos uma referência definitiva para todas as gerações. O Cinema de Invenção segue sendo um cinema autoral, ousado e criativo. E feito defendendo um saneamento profundo nas grandes produções que não se pagam na bilheteria mas enganam os investidores, e na burocracia como certeza da enfermidade dos sonhos não vividos e muitas vezes proíbidos. Ela é responsável sim, pelo atual horror cultural do cinema brasileiro! E se hoje só temos pornochanchadas medíocres a culpa maior é da burocracia e da TV que transformaram o cinema numa privada entupida de uma estação rodoviária. Mas que é o reflexo de um país como um todo né? 13- E para onde vai o cinema de Luiz Rosemberg Filho, Rô para os mais íntimos? r - Volto aos curtas pois ainda não acabei “MOMENTOS” e “CARTA A UMA JOVEM CINEASTA” já rodados. “DOIS
  • 13. CASAMENTO$” é um presentão de todos ao Cavi que fez seu último aniversário no nosso set de filmagem, e em seguida casou uma vez mais com a mesma companheira de muitas batalhas pela sétima ou oitava vez. No caso, transformando o casamento numa doce brincadeira com o filme que estávamos fazendo. Mas foi mais que uma brincadeira. Mas uma encenação da sua paixão pela Patrícia. Para onde vou, eu não sei responder. No que se pode acreditar na cultura do país? Lutamos fa-zen-do, contra os anos de chumbo e continuamos lutando contra a zona da burocracia partidária deixada pela ditadura. Mais de trinta Partidos dá para se acreditar na seriedade da política? Dá para acreditar em dias melhores? Não dá né? A ministrinha do “relaxa e goza” na cultura pode ser uma referencia do bem, ou mais uma enfermidade dos nossas tantas tristezas? Cinema é antítese de periguetes que acham que podem ser tudo, ou qualquer coisa. Cinema não é a imobilidade suja e baixa da política! É mais nobre né? Lida-se com o afeto, o encantamento e a poesia. Fundamentalmente com o entendimento, a pintura e o olhar. FIM/ 2013.