SlideShare une entreprise Scribd logo
1  sur  21
Vidas Secas em Cordel  Este trabalho  foi  realizado com base  na obra “Vidas   Secas”, do escritor Graciliano Ramos.
A vida do sertanejo	                              é uma luta constante                                                                     sobrevivente da seca                 vítima do mal governante            atirado a própria sorte,                                   sai por aí  retirante	 Um exercício de rimas para em cordel transformar “Vidas Secas” a denúncia          de um problema secular Desrespeito ao sertanejo   que vive pra trabalhar Graciliano  Ramos, o autor Escreveu bem detalhado As mazelas de um povo Sofredor e desprezado, Trabalhador incansável Que não é valorizado
Vagando sertão afora, andavam seis retirantes fugindo da seca hostil daquele sol calcinante suas forças exauridas  Refletia no semblante Fabiano, os dois filhos, A mulher e uma cadela Um papagaio sem nome Quase secando a titela Pra não morrerem de fome Levaram o bicho à panela E seguiram pela estrada Sem saber onde chegar Um dos meninos caiu O pai tentou levantar A criança já sem forças Foi preciso carregar
Depois de muito andarem Ao longo daquela estrada Encontraram uma fazenda Com a casa abandonada Fabiano ali se arrancha Resolve fazer morada Baleia a cadela esperta  Fareja a frente e os lados A família observando O olhar muito cansado Em pouco tempo ela volta Com um preá abocanhado Saciada a fome braba          Em meio a tanta canseira Sinhá Vitória recorda Seu Tomás da bolandeira Da cama feita de couro Material de primeira
Observando a morada Após comer o preá Fabiano então cogita Ali mesmo se instalar Mas logo aparece o dono Pros seus direitos cobrar Um fazendeiro arrogante Contrata o pobre coitado Fabiano era vaqueiro E agora estava empregado Era mais um nordestino Pra viver sendo explorado Sinhá Vitória, a mulher Pensava na sua cama Dar estudo para os filhos Andar igual uma dama Seu Tomás da bolandeira Aquele sim tinha fama
No acordo com o patrão A renda é quem decidia A cada quatro animais Que na fazenda nascia Fabiano tinha um, Para a sua garantia A mulher por sua vez Fazia as contas em casa Juntando várias pedrinhas Era assim que calculava Na hora de prestar contas O dinheiro nunca dava Já estavam acostumados Na vida de exploração De um jeito ou de outro Sempre deviam ao patrão Viviam inconformados Com aquela situação
Fabiano foi à feira Comprar coisa na praça Insatisfeito com o preço Resolveu beber cachaça Depois entrou para o jogo Onde se deu a desgraça Um soldado amarelo Convidou-o pra jogar Iriam ser dois parceiros E a disputa começar Por ter perdido dinheiro O soldado quis brigar Pisou o pé de Fabiano  E pôs ele na prisão Achando que era pouco Deu-lhe  surra de facão Fabiano ficou triste Abatido igual um cão
O patrão assim que soube Foi lá soltar o vaqueiro Tentou assim demonstrar Seu valor politiqueiro Fabiano foi pra casa Sem a feira e sem dinheiro Sinhá Vitória ralhou Como é que pode ser Pra ter uma vida dessa É muito melhor morrer Pois o pouco que  havia O marido foi perder Chegou uma rezadeira Pra benzer  suas feridas Porque o pobre marido Quase fica sem a vida Precisava se tratar Pra continuar na lida
Nada ali se alterava Tudo parecia eterno Até que uma pergunta Franziu o olhar materno Quando o filho perguntou : -mamãe o que é inferno? Sinhá Vitória falou: Inferno é um lugar quente Tem fogo e tem o diabo Espetando toda a gente “As alma ruim vai pra lá” E o diabo fica contente Passado alguns minutos  ele torna a perguntar: -O inferno é muito quente? -A senhora já esteve lá?  A resposta veio na hora Um tabefe de lascar.
O menino chorou muito   com o cascudo na moleira Pensando consigo mesmo -Será que eu falei besteira? Diabo, espeto,  alma ruim Isso  é mais uma doideira. Ficou meio inconformado No seu mundo de criança Buscava uma explicação Mas não tinha segurança Via entre o inferno e seu lar Um pouco de semelhança A chegada do inverno Causou preocupação Sinhá Vitória temia Problema com inundação De ter que subir o morro E perder a plantação
Fabiano imaginava Que tudo ia melhorar Montou-se num animal e o mais novo a espiar Admirando o seu pai Com vontade de imitar Baleia assistia a tudo  Com seu olhar desditoso Queria se  proteger Daquele clima chuvoso Os meninos a tratavam Com um jeito carinhoso Para aquecer as noites Do frio que incomodava Uma fogueira era acesa E todos se recostavam Escutando as histórias Que Fabiano inventava
Veio  a festa de natal Botaram roupa e calçado Rumaram para a cidade Bem vestidos e engomados Caminhavam em silencio Com andar desengonçado O trajeto pra cidade Ficou meio complicado O caminho que era longo Se tornou mais demorado Por causa das roupas justas E do sapato apertado Fabiano incomodado  Afrouxou o paletó Tirou meias e sapatos Afrouxou tudo que é nó Os outros fizeram o mesmo E caminharam melhor
Se lavaram no riacho  Antes de entrar na cidade Os meninos caminhavam Cheios de felicidade Fabiano se queixava Que ali havia maldade Na saída da igreja  Houve uma discussão Porque a mulher pediu: -por favor não jogue não Fabiano se afastou Foi procurar um balcão Tomou pinga até cair Ficou meio atormentado Passava na sua mente O episódio com o soldado Pensava em uma vingança Mas se achava um coitado
A mulher e os meninos Ficaram preocupados Ela acendeu o cachimbo Deu a volta no mercado Em frente à porta do bar Viu Fabiano estirado Enquanto ele roncava Por causa da bebedeira Sinhá Vitória lembrava Seu Tomás da bolandeira A cama feita de couro Que sonhou a vida inteira Baleia se aproximou Veio lamber Fabiano  Que logo se levantou Com cara de desengano Foram direto pra casa Esperar o outro ano
Sinhá Vitória em casa  Começou a se queixar Amaldiçoando a vida Que nunca iria prestar Falou na cama de couro Que ela queria deitar O ano novo chegou Pior que o ano passado A chuva não quis cair De sede morria o gado Se assim continuasse Estava tudo acabado A água dos bebedouros As avoantes bebiam Quanto mais ele atirava Mais água elas consumiam Derrotado pelas aves Fabiano se sentia
A coisa foi arruinando O patrão veio acertar Mandou ajuntar os bichos Pra outras terras levar Deixou uma vaca velha Que não pôde levantar E lá no fornecimento Fabiano indignado Pela conta exorbitante E pelos juros cobrado O vendedor se afobou, Dizendo: pague calado  A revolta era grande Não dava pra aguentar Comentou com a mulher Aqui não dá pra ficar Porém foi primeiro a roça, Um bezerro procurar
Embrenhou-se na caatinga Procurando com cuidado No meio de uma vareda Encontrou com um soldado O amarelo do jogo Que havia lhe humilhado Quando avistou Fabiano Ficou meio assustado Fabiano foi pra cima Com o facão empunhado Pensou em parti-lo ao meio Retalhar o desgraçado Depois se arrependeu Resolveu deixar de lado Pois embora mau caráter O homem era soldado Fabiano percebeu Que  ele tava areado
Embora insatisfeito Fabiano apontou  O caminho pro sujeito Que ligeiro se mandou Em seguida foi atrás Do bezerro fugidor Encontrado o bezerro Arrastou na mesma  hora Chegando em casa matou E chamou Sinhá Vitória Que foi preparar o bicho Pra comerem estrada afora A família reunida  Já pronta pra viajar Queriam pegar estrada Sair daquele lugar Mas baleia estava mal Não podia acompanhar
Muito velha e acabada Não pegava mais preá Fabiano preparou A espingarda pra matar Mirou bem no rumo dela Não conseguiu atirar Sinhá Vitória tentava Acalmar suas crianças Todas muito apegadas A amiga de infância Enquanto o pai, Fabiano Calculava a distância Após várias tentativas Baleia tombou sem vida Os meninos acenaram Num sinal de despedida O choro foi comovente Pela cadela querida
O céu se mantinha azul E o sol não se arredava Fugiram de madrugada Da seca que os castigava Quem sabe lá pelo sul O sofrimento acabava A saga dos retirantes No nordeste é assim Isto sempre se repete Quando o governo é ruim Entra ano e sai ano E nunca chega o fim. Autor:  José Holanda Oliveira FIM
SITES  CONSULTADOS http://www.google.com.br/images http://www.mundovestibular.com.br/ http://mundocordel.blogspot.com/ Observação:  Inicialmente a pretensão era apenas fazer uma ou duas páginas, resumindo  o máximo possível.  Porém, o fascínio de trabalhar o cordel me fez ousar um trabalho maior, e mesmo sendo aprendiz me senti orgulhoso ao vê-lo concluído. O  parto é doloroso, mas vale a pena.    JOSÉ HOLANDA OLIVEIRA

Contenu connexe

Tendances (20)

Questões fechadas sobre dois irmãos, de milton hatoum
Questões fechadas sobre dois irmãos, de milton hatoumQuestões fechadas sobre dois irmãos, de milton hatoum
Questões fechadas sobre dois irmãos, de milton hatoum
 
REDAÇÃO - PAS - UEM - 2º ANO
REDAÇÃO - PAS - UEM - 2º ANOREDAÇÃO - PAS - UEM - 2º ANO
REDAÇÃO - PAS - UEM - 2º ANO
 
Morte e vida severina
Morte e vida severinaMorte e vida severina
Morte e vida severina
 
Carlos Drummond de Andrade
Carlos Drummond de AndradeCarlos Drummond de Andrade
Carlos Drummond de Andrade
 
Vidas secas
Vidas secasVidas secas
Vidas secas
 
Slide - aula fanfiction
Slide - aula fanfictionSlide - aula fanfiction
Slide - aula fanfiction
 
00 - Introdução a Literatura.pdf
00 - Introdução a Literatura.pdf00 - Introdução a Literatura.pdf
00 - Introdução a Literatura.pdf
 
Aula Figuras de Linguagem
Aula    Figuras de Linguagem Aula    Figuras de Linguagem
Aula Figuras de Linguagem
 
Aula quarto de despejo
Aula quarto de despejoAula quarto de despejo
Aula quarto de despejo
 
Parnasianismo'
Parnasianismo'Parnasianismo'
Parnasianismo'
 
Dois irmãos, de milton hatoum
Dois irmãos, de milton hatoumDois irmãos, de milton hatoum
Dois irmãos, de milton hatoum
 
Olhos d'água autora-resumo-análise
Olhos d'água   autora-resumo-análiseOlhos d'água   autora-resumo-análise
Olhos d'água autora-resumo-análise
 
Torto Arado - Itamar Vieira Júnior.pdf
Torto Arado - Itamar Vieira Júnior.pdfTorto Arado - Itamar Vieira Júnior.pdf
Torto Arado - Itamar Vieira Júnior.pdf
 
Os sertões
Os sertõesOs sertões
Os sertões
 
Macunaíma...
Macunaíma...Macunaíma...
Macunaíma...
 
O cortiço
O cortiçoO cortiço
O cortiço
 
Conjunções
ConjunçõesConjunções
Conjunções
 
Literatura afro brasileira
Literatura afro brasileiraLiteratura afro brasileira
Literatura afro brasileira
 
Mitos e lendas
Mitos e lendasMitos e lendas
Mitos e lendas
 
Vidas secas
Vidas secasVidas secas
Vidas secas
 

Similaire à Vidas secas em cordel (j holanda)

Foto novela 03 setembro
Foto novela 03 setembroFoto novela 03 setembro
Foto novela 03 setembroStefani Costa
 
Foto novela 03 set13
Foto novela 03 set13Foto novela 03 set13
Foto novela 03 set13Stefani Costa
 
Enredo de vidas secas
Enredo de vidas secasEnredo de vidas secas
Enredo de vidas secasBriefCase
 
Resumo vidas secas
Resumo   vidas secasResumo   vidas secas
Resumo vidas secasDeia1975
 
vidas-secas-16438 (1).ppt
vidas-secas-16438 (1).pptvidas-secas-16438 (1).ppt
vidas-secas-16438 (1).pptRildeniceSantos
 
vidas-secas-16438 (1).ppt
vidas-secas-16438 (1).pptvidas-secas-16438 (1).ppt
vidas-secas-16438 (1).pptRildeniceSantos
 
Spaece simulado 1° ano portugues
Spaece  simulado 1° ano portuguesSpaece  simulado 1° ano portugues
Spaece simulado 1° ano portuguesJota Sousa
 
Moda de viola volume 3
Moda de viola volume 3Moda de viola volume 3
Moda de viola volume 3Nome Sobrenome
 
vidas-secas-graciliano-ramos.pdf
vidas-secas-graciliano-ramos.pdfvidas-secas-graciliano-ramos.pdf
vidas-secas-graciliano-ramos.pdfnbobanco
 
vidas-secas-graciliano-ramos (1).livro educação
vidas-secas-graciliano-ramos (1).livro educaçãovidas-secas-graciliano-ramos (1).livro educação
vidas-secas-graciliano-ramos (1).livro educaçãossuser281c07
 
Gênero textual: Cordel
Gênero textual: CordelGênero textual: Cordel
Gênero textual: CordelMary Alvarenga
 
Ana terra - Érico Veríssimo
Ana terra   -   Érico VeríssimoAna terra   -   Érico Veríssimo
Ana terra - Érico VeríssimoGiulio Benevides
 
Vidas secas - Graciliano Ramos
Vidas secas - Graciliano RamosVidas secas - Graciliano Ramos
Vidas secas - Graciliano RamosGustavo de Melo
 

Similaire à Vidas secas em cordel (j holanda) (20)

Julia
JuliaJulia
Julia
 
Vidas secas
Vidas secasVidas secas
Vidas secas
 
Crônicas-Vidas secas
Crônicas-Vidas secasCrônicas-Vidas secas
Crônicas-Vidas secas
 
Foto novela 03 setembro
Foto novela 03 setembroFoto novela 03 setembro
Foto novela 03 setembro
 
Foto novela 03 set13
Foto novela 03 set13Foto novela 03 set13
Foto novela 03 set13
 
Enredo de vidas secas
Enredo de vidas secasEnredo de vidas secas
Enredo de vidas secas
 
Resumo vidas secas
Resumo   vidas secasResumo   vidas secas
Resumo vidas secas
 
Vidas Secas
Vidas SecasVidas Secas
Vidas Secas
 
vidas-secas-16438 (1).ppt
vidas-secas-16438 (1).pptvidas-secas-16438 (1).ppt
vidas-secas-16438 (1).ppt
 
vidas-secas-16438 (1).ppt
vidas-secas-16438 (1).pptvidas-secas-16438 (1).ppt
vidas-secas-16438 (1).ppt
 
Gêneros literários
Gêneros literários   Gêneros literários
Gêneros literários
 
Spaece simulado 1° ano portugues
Spaece  simulado 1° ano portuguesSpaece  simulado 1° ano portugues
Spaece simulado 1° ano portugues
 
Moda de viola volume 3
Moda de viola volume 3Moda de viola volume 3
Moda de viola volume 3
 
vidas-secas-graciliano-ramos.pdf
vidas-secas-graciliano-ramos.pdfvidas-secas-graciliano-ramos.pdf
vidas-secas-graciliano-ramos.pdf
 
vidas-secas-graciliano-ramos.pdf
vidas-secas-graciliano-ramos.pdfvidas-secas-graciliano-ramos.pdf
vidas-secas-graciliano-ramos.pdf
 
vidas-secas-graciliano-ramos (1).livro educação
vidas-secas-graciliano-ramos (1).livro educaçãovidas-secas-graciliano-ramos (1).livro educação
vidas-secas-graciliano-ramos (1).livro educação
 
Gênero textual: Cordel
Gênero textual: CordelGênero textual: Cordel
Gênero textual: Cordel
 
Vidas secas slides
Vidas secas slidesVidas secas slides
Vidas secas slides
 
Ana terra - Érico Veríssimo
Ana terra   -   Érico VeríssimoAna terra   -   Érico Veríssimo
Ana terra - Érico Veríssimo
 
Vidas secas - Graciliano Ramos
Vidas secas - Graciliano RamosVidas secas - Graciliano Ramos
Vidas secas - Graciliano Ramos
 

Vidas secas em cordel (j holanda)

  • 1. Vidas Secas em Cordel Este trabalho foi realizado com base na obra “Vidas Secas”, do escritor Graciliano Ramos.
  • 2. A vida do sertanejo é uma luta constante sobrevivente da seca vítima do mal governante atirado a própria sorte, sai por aí retirante Um exercício de rimas para em cordel transformar “Vidas Secas” a denúncia de um problema secular Desrespeito ao sertanejo que vive pra trabalhar Graciliano Ramos, o autor Escreveu bem detalhado As mazelas de um povo Sofredor e desprezado, Trabalhador incansável Que não é valorizado
  • 3. Vagando sertão afora, andavam seis retirantes fugindo da seca hostil daquele sol calcinante suas forças exauridas Refletia no semblante Fabiano, os dois filhos, A mulher e uma cadela Um papagaio sem nome Quase secando a titela Pra não morrerem de fome Levaram o bicho à panela E seguiram pela estrada Sem saber onde chegar Um dos meninos caiu O pai tentou levantar A criança já sem forças Foi preciso carregar
  • 4. Depois de muito andarem Ao longo daquela estrada Encontraram uma fazenda Com a casa abandonada Fabiano ali se arrancha Resolve fazer morada Baleia a cadela esperta Fareja a frente e os lados A família observando O olhar muito cansado Em pouco tempo ela volta Com um preá abocanhado Saciada a fome braba Em meio a tanta canseira Sinhá Vitória recorda Seu Tomás da bolandeira Da cama feita de couro Material de primeira
  • 5. Observando a morada Após comer o preá Fabiano então cogita Ali mesmo se instalar Mas logo aparece o dono Pros seus direitos cobrar Um fazendeiro arrogante Contrata o pobre coitado Fabiano era vaqueiro E agora estava empregado Era mais um nordestino Pra viver sendo explorado Sinhá Vitória, a mulher Pensava na sua cama Dar estudo para os filhos Andar igual uma dama Seu Tomás da bolandeira Aquele sim tinha fama
  • 6. No acordo com o patrão A renda é quem decidia A cada quatro animais Que na fazenda nascia Fabiano tinha um, Para a sua garantia A mulher por sua vez Fazia as contas em casa Juntando várias pedrinhas Era assim que calculava Na hora de prestar contas O dinheiro nunca dava Já estavam acostumados Na vida de exploração De um jeito ou de outro Sempre deviam ao patrão Viviam inconformados Com aquela situação
  • 7. Fabiano foi à feira Comprar coisa na praça Insatisfeito com o preço Resolveu beber cachaça Depois entrou para o jogo Onde se deu a desgraça Um soldado amarelo Convidou-o pra jogar Iriam ser dois parceiros E a disputa começar Por ter perdido dinheiro O soldado quis brigar Pisou o pé de Fabiano E pôs ele na prisão Achando que era pouco Deu-lhe surra de facão Fabiano ficou triste Abatido igual um cão
  • 8. O patrão assim que soube Foi lá soltar o vaqueiro Tentou assim demonstrar Seu valor politiqueiro Fabiano foi pra casa Sem a feira e sem dinheiro Sinhá Vitória ralhou Como é que pode ser Pra ter uma vida dessa É muito melhor morrer Pois o pouco que havia O marido foi perder Chegou uma rezadeira Pra benzer suas feridas Porque o pobre marido Quase fica sem a vida Precisava se tratar Pra continuar na lida
  • 9. Nada ali se alterava Tudo parecia eterno Até que uma pergunta Franziu o olhar materno Quando o filho perguntou : -mamãe o que é inferno? Sinhá Vitória falou: Inferno é um lugar quente Tem fogo e tem o diabo Espetando toda a gente “As alma ruim vai pra lá” E o diabo fica contente Passado alguns minutos ele torna a perguntar: -O inferno é muito quente? -A senhora já esteve lá? A resposta veio na hora Um tabefe de lascar.
  • 10. O menino chorou muito com o cascudo na moleira Pensando consigo mesmo -Será que eu falei besteira? Diabo, espeto, alma ruim Isso é mais uma doideira. Ficou meio inconformado No seu mundo de criança Buscava uma explicação Mas não tinha segurança Via entre o inferno e seu lar Um pouco de semelhança A chegada do inverno Causou preocupação Sinhá Vitória temia Problema com inundação De ter que subir o morro E perder a plantação
  • 11. Fabiano imaginava Que tudo ia melhorar Montou-se num animal e o mais novo a espiar Admirando o seu pai Com vontade de imitar Baleia assistia a tudo Com seu olhar desditoso Queria se proteger Daquele clima chuvoso Os meninos a tratavam Com um jeito carinhoso Para aquecer as noites Do frio que incomodava Uma fogueira era acesa E todos se recostavam Escutando as histórias Que Fabiano inventava
  • 12. Veio a festa de natal Botaram roupa e calçado Rumaram para a cidade Bem vestidos e engomados Caminhavam em silencio Com andar desengonçado O trajeto pra cidade Ficou meio complicado O caminho que era longo Se tornou mais demorado Por causa das roupas justas E do sapato apertado Fabiano incomodado Afrouxou o paletó Tirou meias e sapatos Afrouxou tudo que é nó Os outros fizeram o mesmo E caminharam melhor
  • 13. Se lavaram no riacho Antes de entrar na cidade Os meninos caminhavam Cheios de felicidade Fabiano se queixava Que ali havia maldade Na saída da igreja Houve uma discussão Porque a mulher pediu: -por favor não jogue não Fabiano se afastou Foi procurar um balcão Tomou pinga até cair Ficou meio atormentado Passava na sua mente O episódio com o soldado Pensava em uma vingança Mas se achava um coitado
  • 14. A mulher e os meninos Ficaram preocupados Ela acendeu o cachimbo Deu a volta no mercado Em frente à porta do bar Viu Fabiano estirado Enquanto ele roncava Por causa da bebedeira Sinhá Vitória lembrava Seu Tomás da bolandeira A cama feita de couro Que sonhou a vida inteira Baleia se aproximou Veio lamber Fabiano Que logo se levantou Com cara de desengano Foram direto pra casa Esperar o outro ano
  • 15. Sinhá Vitória em casa Começou a se queixar Amaldiçoando a vida Que nunca iria prestar Falou na cama de couro Que ela queria deitar O ano novo chegou Pior que o ano passado A chuva não quis cair De sede morria o gado Se assim continuasse Estava tudo acabado A água dos bebedouros As avoantes bebiam Quanto mais ele atirava Mais água elas consumiam Derrotado pelas aves Fabiano se sentia
  • 16. A coisa foi arruinando O patrão veio acertar Mandou ajuntar os bichos Pra outras terras levar Deixou uma vaca velha Que não pôde levantar E lá no fornecimento Fabiano indignado Pela conta exorbitante E pelos juros cobrado O vendedor se afobou, Dizendo: pague calado A revolta era grande Não dava pra aguentar Comentou com a mulher Aqui não dá pra ficar Porém foi primeiro a roça, Um bezerro procurar
  • 17. Embrenhou-se na caatinga Procurando com cuidado No meio de uma vareda Encontrou com um soldado O amarelo do jogo Que havia lhe humilhado Quando avistou Fabiano Ficou meio assustado Fabiano foi pra cima Com o facão empunhado Pensou em parti-lo ao meio Retalhar o desgraçado Depois se arrependeu Resolveu deixar de lado Pois embora mau caráter O homem era soldado Fabiano percebeu Que ele tava areado
  • 18. Embora insatisfeito Fabiano apontou O caminho pro sujeito Que ligeiro se mandou Em seguida foi atrás Do bezerro fugidor Encontrado o bezerro Arrastou na mesma hora Chegando em casa matou E chamou Sinhá Vitória Que foi preparar o bicho Pra comerem estrada afora A família reunida Já pronta pra viajar Queriam pegar estrada Sair daquele lugar Mas baleia estava mal Não podia acompanhar
  • 19. Muito velha e acabada Não pegava mais preá Fabiano preparou A espingarda pra matar Mirou bem no rumo dela Não conseguiu atirar Sinhá Vitória tentava Acalmar suas crianças Todas muito apegadas A amiga de infância Enquanto o pai, Fabiano Calculava a distância Após várias tentativas Baleia tombou sem vida Os meninos acenaram Num sinal de despedida O choro foi comovente Pela cadela querida
  • 20. O céu se mantinha azul E o sol não se arredava Fugiram de madrugada Da seca que os castigava Quem sabe lá pelo sul O sofrimento acabava A saga dos retirantes No nordeste é assim Isto sempre se repete Quando o governo é ruim Entra ano e sai ano E nunca chega o fim. Autor: José Holanda Oliveira FIM
  • 21. SITES CONSULTADOS http://www.google.com.br/images http://www.mundovestibular.com.br/ http://mundocordel.blogspot.com/ Observação: Inicialmente a pretensão era apenas fazer uma ou duas páginas, resumindo o máximo possível. Porém, o fascínio de trabalhar o cordel me fez ousar um trabalho maior, e mesmo sendo aprendiz me senti orgulhoso ao vê-lo concluído. O parto é doloroso, mas vale a pena. JOSÉ HOLANDA OLIVEIRA