1. Vidas Secas em Cordel Este trabalho foi realizado com base na obra “Vidas Secas”, do escritor Graciliano Ramos.
2. A vida do sertanejo é uma luta constante sobrevivente da seca vítima do mal governante atirado a própria sorte, sai por aí retirante Um exercício de rimas para em cordel transformar “Vidas Secas” a denúncia de um problema secular Desrespeito ao sertanejo que vive pra trabalhar Graciliano Ramos, o autor Escreveu bem detalhado As mazelas de um povo Sofredor e desprezado, Trabalhador incansável Que não é valorizado
3. Vagando sertão afora, andavam seis retirantes fugindo da seca hostil daquele sol calcinante suas forças exauridas Refletia no semblante Fabiano, os dois filhos, A mulher e uma cadela Um papagaio sem nome Quase secando a titela Pra não morrerem de fome Levaram o bicho à panela E seguiram pela estrada Sem saber onde chegar Um dos meninos caiu O pai tentou levantar A criança já sem forças Foi preciso carregar
4. Depois de muito andarem Ao longo daquela estrada Encontraram uma fazenda Com a casa abandonada Fabiano ali se arrancha Resolve fazer morada Baleia a cadela esperta Fareja a frente e os lados A família observando O olhar muito cansado Em pouco tempo ela volta Com um preá abocanhado Saciada a fome braba Em meio a tanta canseira Sinhá Vitória recorda Seu Tomás da bolandeira Da cama feita de couro Material de primeira
5. Observando a morada Após comer o preá Fabiano então cogita Ali mesmo se instalar Mas logo aparece o dono Pros seus direitos cobrar Um fazendeiro arrogante Contrata o pobre coitado Fabiano era vaqueiro E agora estava empregado Era mais um nordestino Pra viver sendo explorado Sinhá Vitória, a mulher Pensava na sua cama Dar estudo para os filhos Andar igual uma dama Seu Tomás da bolandeira Aquele sim tinha fama
6. No acordo com o patrão A renda é quem decidia A cada quatro animais Que na fazenda nascia Fabiano tinha um, Para a sua garantia A mulher por sua vez Fazia as contas em casa Juntando várias pedrinhas Era assim que calculava Na hora de prestar contas O dinheiro nunca dava Já estavam acostumados Na vida de exploração De um jeito ou de outro Sempre deviam ao patrão Viviam inconformados Com aquela situação
7. Fabiano foi à feira Comprar coisa na praça Insatisfeito com o preço Resolveu beber cachaça Depois entrou para o jogo Onde se deu a desgraça Um soldado amarelo Convidou-o pra jogar Iriam ser dois parceiros E a disputa começar Por ter perdido dinheiro O soldado quis brigar Pisou o pé de Fabiano E pôs ele na prisão Achando que era pouco Deu-lhe surra de facão Fabiano ficou triste Abatido igual um cão
8. O patrão assim que soube Foi lá soltar o vaqueiro Tentou assim demonstrar Seu valor politiqueiro Fabiano foi pra casa Sem a feira e sem dinheiro Sinhá Vitória ralhou Como é que pode ser Pra ter uma vida dessa É muito melhor morrer Pois o pouco que havia O marido foi perder Chegou uma rezadeira Pra benzer suas feridas Porque o pobre marido Quase fica sem a vida Precisava se tratar Pra continuar na lida
9. Nada ali se alterava Tudo parecia eterno Até que uma pergunta Franziu o olhar materno Quando o filho perguntou : -mamãe o que é inferno? Sinhá Vitória falou: Inferno é um lugar quente Tem fogo e tem o diabo Espetando toda a gente “As alma ruim vai pra lá” E o diabo fica contente Passado alguns minutos ele torna a perguntar: -O inferno é muito quente? -A senhora já esteve lá? A resposta veio na hora Um tabefe de lascar.
10. O menino chorou muito com o cascudo na moleira Pensando consigo mesmo -Será que eu falei besteira? Diabo, espeto, alma ruim Isso é mais uma doideira. Ficou meio inconformado No seu mundo de criança Buscava uma explicação Mas não tinha segurança Via entre o inferno e seu lar Um pouco de semelhança A chegada do inverno Causou preocupação Sinhá Vitória temia Problema com inundação De ter que subir o morro E perder a plantação
11. Fabiano imaginava Que tudo ia melhorar Montou-se num animal e o mais novo a espiar Admirando o seu pai Com vontade de imitar Baleia assistia a tudo Com seu olhar desditoso Queria se proteger Daquele clima chuvoso Os meninos a tratavam Com um jeito carinhoso Para aquecer as noites Do frio que incomodava Uma fogueira era acesa E todos se recostavam Escutando as histórias Que Fabiano inventava
12. Veio a festa de natal Botaram roupa e calçado Rumaram para a cidade Bem vestidos e engomados Caminhavam em silencio Com andar desengonçado O trajeto pra cidade Ficou meio complicado O caminho que era longo Se tornou mais demorado Por causa das roupas justas E do sapato apertado Fabiano incomodado Afrouxou o paletó Tirou meias e sapatos Afrouxou tudo que é nó Os outros fizeram o mesmo E caminharam melhor
13. Se lavaram no riacho Antes de entrar na cidade Os meninos caminhavam Cheios de felicidade Fabiano se queixava Que ali havia maldade Na saída da igreja Houve uma discussão Porque a mulher pediu: -por favor não jogue não Fabiano se afastou Foi procurar um balcão Tomou pinga até cair Ficou meio atormentado Passava na sua mente O episódio com o soldado Pensava em uma vingança Mas se achava um coitado
14. A mulher e os meninos Ficaram preocupados Ela acendeu o cachimbo Deu a volta no mercado Em frente à porta do bar Viu Fabiano estirado Enquanto ele roncava Por causa da bebedeira Sinhá Vitória lembrava Seu Tomás da bolandeira A cama feita de couro Que sonhou a vida inteira Baleia se aproximou Veio lamber Fabiano Que logo se levantou Com cara de desengano Foram direto pra casa Esperar o outro ano
15. Sinhá Vitória em casa Começou a se queixar Amaldiçoando a vida Que nunca iria prestar Falou na cama de couro Que ela queria deitar O ano novo chegou Pior que o ano passado A chuva não quis cair De sede morria o gado Se assim continuasse Estava tudo acabado A água dos bebedouros As avoantes bebiam Quanto mais ele atirava Mais água elas consumiam Derrotado pelas aves Fabiano se sentia
16. A coisa foi arruinando O patrão veio acertar Mandou ajuntar os bichos Pra outras terras levar Deixou uma vaca velha Que não pôde levantar E lá no fornecimento Fabiano indignado Pela conta exorbitante E pelos juros cobrado O vendedor se afobou, Dizendo: pague calado A revolta era grande Não dava pra aguentar Comentou com a mulher Aqui não dá pra ficar Porém foi primeiro a roça, Um bezerro procurar
17. Embrenhou-se na caatinga Procurando com cuidado No meio de uma vareda Encontrou com um soldado O amarelo do jogo Que havia lhe humilhado Quando avistou Fabiano Ficou meio assustado Fabiano foi pra cima Com o facão empunhado Pensou em parti-lo ao meio Retalhar o desgraçado Depois se arrependeu Resolveu deixar de lado Pois embora mau caráter O homem era soldado Fabiano percebeu Que ele tava areado
18. Embora insatisfeito Fabiano apontou O caminho pro sujeito Que ligeiro se mandou Em seguida foi atrás Do bezerro fugidor Encontrado o bezerro Arrastou na mesma hora Chegando em casa matou E chamou Sinhá Vitória Que foi preparar o bicho Pra comerem estrada afora A família reunida Já pronta pra viajar Queriam pegar estrada Sair daquele lugar Mas baleia estava mal Não podia acompanhar
19. Muito velha e acabada Não pegava mais preá Fabiano preparou A espingarda pra matar Mirou bem no rumo dela Não conseguiu atirar Sinhá Vitória tentava Acalmar suas crianças Todas muito apegadas A amiga de infância Enquanto o pai, Fabiano Calculava a distância Após várias tentativas Baleia tombou sem vida Os meninos acenaram Num sinal de despedida O choro foi comovente Pela cadela querida
20. O céu se mantinha azul E o sol não se arredava Fugiram de madrugada Da seca que os castigava Quem sabe lá pelo sul O sofrimento acabava A saga dos retirantes No nordeste é assim Isto sempre se repete Quando o governo é ruim Entra ano e sai ano E nunca chega o fim. Autor: José Holanda Oliveira FIM
21. SITES CONSULTADOS http://www.google.com.br/images http://www.mundovestibular.com.br/ http://mundocordel.blogspot.com/ Observação: Inicialmente a pretensão era apenas fazer uma ou duas páginas, resumindo o máximo possível. Porém, o fascínio de trabalhar o cordel me fez ousar um trabalho maior, e mesmo sendo aprendiz me senti orgulhoso ao vê-lo concluído. O parto é doloroso, mas vale a pena. JOSÉ HOLANDA OLIVEIRA