1. AVALIAÇÃO INICIAL DO COMPORTAMENTO DA ARGAMASSA DE SOLO, CAL,
AREIA ARTIFICIAL E CINZAS DE BAMBU
Ghattas, Michel Habib1; Almeida, Ademir2; Camarini, Gladis3
(1) Arquiteto e bioconstrutor, instrutor de cursos de construção com terra crua +55-11-9229-1555, mhabib@terra.com.br
(2) Técnico de laboratório, Departamento de Arquitetura e Construção, Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e
Urbanismo, Universidade Estadual de Campinas, Av. Albert Einstein, 951 - Caixa Postal: 6021 - CEP: 13083-852 - Campinas –
SP, +55-19-35212367, aalmeida@fec.unicamp.br
(3) Professora Associada, Departamento de Arquitetura e Construção, Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e
Urbanismo, Universidade Estadual de Campinas, Av. Albert Einstein, 951 - Caixa Postal: 6021 - CEP: 13083-852 - Campinas –
SP, +55-19-35212361, camarini@fec.unicamp.br
Resumo
As argamassas de revestimento desenvolvem uma função protetora de grande importância nas
construções, absorvendo a deterioração superficial causada por intempéries e com isso aumentando
consideravelmente a durabilidade das alvenarias. Este trabalho investiga o comportamento de uma
argamassa composta de materiais de fácil obtenção e baixo custo (cal, solo, areia britada e cinzas de
bambu), visando uma solução com menor impacto ambiental, em oposição aos atuais processos
industrializados. Neste estudo foram realizados ensaios em laboratório com dois diferentes traços de
argamassa, diferindo entre eles apenas na adição de cinzas de bambu. O objetivo foi observar o
comportamento da mistura quando se adiciona a sílica proveniente da cinza de bambu. Os resultados
encontrados indicaram que a cinza de bambu quando obtida de forma não controlada não resulta em
melhoria do conjunto em relação ao desempenho mecânico. No entanto, aumenta a porção
granulométrica de partículas finas, atuando positivamente na plasticidade e fluidez da argamassa. O
comportamento mecânico foi inferior à referência (traço padrão).
1. INTRODUÇÃO E OBJETIVOS
As civilizações antigas dispunham das mesmas matérias primas que utilizamos atualmente
na construção, como argila, areia, pedra, calcário, gipsita, entre outros, com exceção dos
materiais que hoje necessitam de alta tecnologia no seu processo produtivo.
A civilização egípcia já utilizava uma argamassa composta por cal e outros materiais para
revestimento do interior das pirâmides. Esse conhecimento foi passado aos romanos que
aprimoraram a técnica adicionando argilas pozolânicas em suas misturas, aumentando as
propriedades hidráulicas da argamassa. A utilização da cal em edificações e obras viárias foi
registrada significativamente na estabilização do leito de base da via Ápia em 312 a.C. No
Palácio de Knossos, na Grécia, foram encontrados afrescos pintados em camadas duplas
de revestimento feito com uma argamassa de cal estabilizada com cabelos (Boynton, 1980,
apud Guimarães, 2002)
Observando as construções históricas, encontramos amostras de argamassas compostas
de aglomerantes orgânicos ou minerais como gesso, cal, cimento, e agregados como argila,
areia, cinzas, fibras, entre outros. Nas construções rudimentares a pedra e a terra crua,
eram materiais que possibilitavam a edificação de alvenarias de fechamento ou
autoportantes. A seleção e obtenção dos materiais de base eram feitas conforme a cultura,
a disponibilidade, e as experiências locais. As alvenarias, dependendo da técnica adotada,
apresentam seu material aparente, como exemplo da taipa de pilão, tijolos maciços, entre
outros; ou são preparadas para serem revestidas com azulejos, porcelanatos, pedras, ou
simplesmente rebocadas com argamassa resistente às intempéries.
Com o aprimoramento da tecnologia e o estudo de patologias dos sistemas construtivos, é
evidente a necessidade para a técnica mista (taipa de mão), a utilização de uma argamassa
de revestimento que torne a superfície apta a receber acabamento final para a proteção e
conservação da alvenaria como pintura de cal, resinas vegetais, entre outros.
2. IV CONGRESSO DE ARQUITETURA E CONSTRUÇÃO COM TERRA NO BRASIL TerraBrasil 2012
Este trabalho avaliou, em laboratório uma argamassa de revestimento composta por
materiais naturais de fácil obtenção e materiais industrializados de baixo custo. Essa
escolha baseou-se nos seguintes conceitos: biodegradação rápida quando descartado no
meio ambiente, possível aplicação em áreas de preservação, criando também uma opção
acessível para populações isoladas ou desprovidas do abastecimento de materiais de
construção. Os ensaios caracterizaram os materiais individualmente e as propriedades
mecânicas das misturas no estado endurecido. A argamassa foi composta pelo aglomerante
mineral, cal hidratada, e por agregados como areia britada, solo e cinza proveniente da
queima do bambu. Os resultados identificaram seu comportamento e método de produção
como uma alternativa comercial em meios urbanos, ou em áreas isoladas que dependem da
autoconstrução.
2. JUSTIFICATIVA
Em muitos casos a degradação das alvenarias inicia-se pela ausência de uma proteção
superficial, argamassas ou revestimentos. Isso facilita a deterioração do elemento base por
infiltração de água, alojamento de insetos e outras patologias provenientes da exposição às
intempéries, comprometendo a edificação e a saúde do usuário. Com o impacto ambiental
causado pela construção civil e o atual déficit habitacional, é urgente a busca de produtos
que utilizem materiais renováveis e de baixo impacto ambiental. Com o problema do
aumento da quantidade de resíduos sólidos resultante da construção civil, esse estudo
busca também colaborar com o incentivo ao uso de um material de menor impacto
ambiental, desde o processo produtivo até o seu descarte como um material biodegradável.
3. DELIMITAÇÃO DO TEMA
Este trabalho caracterizou o comportamento de duas argamassas. Uma argamassa de cal,
areia artificial e terra e outra argamassa de cal com a mesma proporção da primeira mas
adicionando cinza proveniente da queima do bambu como uma adição mineral rica em
sílica. Esse trabalho busca uma relação ideal entre os componentes, avaliando a
possibilidade de uso desse material como revestimento em camada única para áreas
internas e externas. Os resultados obtidos não compreendem informações que relacionam o
comportamento desta argamassa aplicada, mas sim em estudo de laboratório.
4. REVISÃO DA LITERATURA
A cal é o produto obtido pela calcinação de rochas calcárias a temperaturas elevadas
compreendidas entre 800 ºC e 1000 ºC. O material resultante da calcinação de rochas
calcárias (CaCO3) é chamado de cal virgem (CaO). Além de rochas calcárias, outra matéria
prima para a obtenção da cal são resíduos de conchas, com a vantagem de serem mais
puras pois não apresentam óxido de magnésio em sua composição (Guedes, 2000).
Segundo Cincotto et al. (2010), o fenômeno ocorrido na calcinação do calcário é:
CaCO3 + calor (900 ºC) = CaO + CO2 ou Calcário + calor = cal virgem + gás carbônico
Para obtenção da cal utilizada na construção, o óxido deve ser hidratado para virar hidróxido
de cálcio Ca(OH)2 e adquirir propriedades aglomerantes Esse processo libera grande
quantidade de calor (Cincotto et al, 2010):
2
CaO + H2O = Ca(OH)2 ou Cal virgem + água = Cal hidratada (ou extinta) + calor
As argamassas de cal, inicialmente, têm consistência plástica, mas endurecem por
recombinação do hidróxido com o gás carbônico, presente na atmosfera, voltando ao seu
estado inicial de carbonato de cálcio.
Ca(OH)2 + CO2 = CaCO3
3. IV CONGRESSO DE ARQUITETURA E CONSTRUÇÃO COM TERRA NO BRASIL TerraBrasil 2012
O solo apropriado para a construção com terra crua deve estar livre de matéria orgânica.
Quando utilizado na construção, a escolha do solo deve seguir critérios de granulometria,
plasticidade, retração, teor de umidade e grau de compactação. A granulometria determina e
classifica o material como; pedregulho, areia, silte e argila, onde a areia pode ser
subdividida como grossa, média e fina. (Neves et al, 2009).
Após a caracterização do solo, muitas vezes é necessário um processo de estabilização
para corrigir e melhorar as propriedades mecânicas do solo. Vários são os meios e recursos
para se estabilizar a terra, entre eles encontra-se a cal hidratada. Na estabilização com cal
hidratada, ocorrem três processos distintos, a carbonatação com a reação do hidróxido de
cálcio com o gás carbônico atmosférico, a cristalização onde a cal ataca os íons Si++ que se
encontram no interior das lamelas de argila e a floculação que ocorre quando a alcalinidade
da cal modifica o pH da terra provocando a aglomeração de suas partículas em razão das
reações de troca de cátions (Barbosa; Ghavami, 2010).
Em estudos realizados com a queima de folhas de bambu e posteriormente aquecidas a
600º C por duas horas, resulta em um material amorfo e rico em sílica denominado “bamboo
leaf ash - (BLA)”. (Tabela 1). (OLUGBENGA, O. A.; AKIMWOLE, A. A., 2010).
A cinza resultante da queima controlada de folhas de bambu é um material pozolânico que
reage com hidróxido de cálcio Ca(OH)2 formando o silicato de cálcio hidratado (C-S-H),
material responsável pelas qualidades hidráulicas do cimento Portland. A atividade
pozolânico de cinzas de folha de bambu aumenta com o aumento do tempo e da
temperatura (DWIVEDI et al., 2006).
A cinza quando utilizada deve ser selecionada observando que a tolerância na presença de
carbono não deve ultrapassar 5%, o que prejudicaria a reação, retardando a ação
pozolânica da mistura, a utilização de cinza volante na estabilização de misturas de solo cal
deve seguir uma proporção correta, com resultados melhores do que o uso indiscriminado
desse material (Guimarães, 2002). Para a obtenção da cinza amorfa, é necessário calcinar a
matéria prima em temperaturas entre 500 ºC e 700 ºC por tempo controlado até a total
dissociação do material orgânico. (Mehta; Monteiro, 1994). Quando o material é calcinado
em temperaturas acima de 700 ºC ou por tempo prolongado, ocorre a organização e a
expansão do cristal da sílica, diminuindo sua atividade pozolânica, atuando apenas como
um agregado fino. (Rodrigues, 2008).
Conforme NBR 13749, (1996), “quando superficial, a fissura pode ser preenchida com o
material de acabamento do revestimento: massa corrida de preparo da superfície a ser
pintada, cola do material de acabamento (papel de parede, forração), argamassa colante, ou
preenchimento com a própria argamassa”.
5. MATERIAIS, ENSAIOS E MÉTODOS
5.1 Materiais e misturas experimentais
O trabalho foi desenvolvido com um traço de cal, solo, areia artificial (de pedra britada) e
água, na proporção 1:1:3:1 (traço misto). A esse traço foi adicionada 1/2 parte de cinza de
bambu para uma comparação e análise do comportamento em seu estado endurecido pós
cura. Os corpos de prova foram submetidos a ensaios mecânicos de compressão e tração à
flexão e análise de fissuras.
3
Tabela 1 – Análise química da cinza de bambu (OLUGBENGA, O. A.; AKIMWOLE, A. A., 2010).
Composition (Wt%)
System
SiO2 Al2O3 Fe2O3 CaO MgO K2O NaO TiO2 SO3 IR L0I
BLA 75,9
0 4,13 1,22 7,47 1,85 5,62 0,21 0,20 1,06 - -
4. IV CONGRESSO DE ARQUITETURA E CONSTRUÇÃO COM TERRA NO BRASIL TerraBrasil 2012
5.2. Corpos-de-prova
Para o preparo dos corpos de prova foram utilizadas:
- 8 fôrmas de madeira (50 cm x 50 cm e espessura de 1,5 cm) para avaliar as fissuras.
- 1 forma de madeira (4 cm x 4 cm x 40 cm) para análise de retração linear.
- 8 fôrmas de aço (4 cm x 4 cm x16 cm) para moldagem dos corpos de prova prismáticos
para ensaios de resistência à compressão e à tração na flexão.
5.3. Caracterização dos materiais
Os materiais como a terra, areia artificial, cal hidratada comercial e cinza volante, foram
caracterizados individualmente.
5.3.1. Solo
Para esse estudo utilizou-se um solo proveniente do município de Atibaia, coletado em um
canteiro de obras. O solo foi submetido a testes de granulometria, difração de raios-X
(DRX), índice de plasticidade e retração linear.
5.3.1.1. Granulometria
Com base nos percentuais apresentados pelo ensaio granulométrico (Figura 1) e resultados
transcritos na Tabela 2, constata-se que o material é um solo areno-silto-argiloso com
quantidade insignificante de pedregulhos.
4
Figura 1. Resultado do ensaio granulométrico do solo estudado
5. IV CONGRESSO DE ARQUITETURA E CONSTRUÇÃO COM TERRA NO BRASIL TerraBrasil 2012
5
Tabela 2. Percentual granulométrico do solo estudado
Argila 23%
Silte 26,5%
Areia fina 13%
Areia média 23%
Areia grossa 12,5%
48,5%
Pedregulho 2%
5.3.1.2. Índice de plasticidade
O índice de plasticidade (IP) é obtido pela relação entre os valores de limite de liquidez (LL)
e limite de plasticidade (LP), seguindo a fórmula IP = LP - LL. No ensaio de LP obtivemos
um teor de umidade médio de 30,20%. Com 25 golpes foi possível determinar o LL de
38,80%, obtendo-se o IP de 8,60% (Figura 2).
DETERMINAÇÃO DE LIMITES
10
4 6 ,8 7
18
4 1,19
2 3
3 9 ,3 5
2 8
3 7,75 3 3
3 6 ,73
50,0
47,0
44,0
41,0
38,0
35,0
10 15 20 25 30 35
NUMERO DE GOLPES
TEOR DE UMIDADE
CURVA DETERMINAÇÃO
Figura 2 – Curva para determinação do limite de liquidez do solo
Relacionando isoladamente o resultado obtido no ensaio de IP com os percentuais
estabelecidos na Tabela 4, o solo classifica-se como um material silto-arenoso, porém com
base no ensaio anterior (Tabela 2), a quantidade de areia é muito superior a de silte,
confirmando um solo areno-silto-argiloso.
6. IV CONGRESSO DE ARQUITETURA E CONSTRUÇÃO COM TERRA NO BRASIL TerraBrasil 2012
Tabela 3 – Classificação dos solos em função dos índices de plasticidade (CRATerre, 1979)
Tipo de solo IP (%) LL (%)
Arenoso 0 a 10 0 a 30
Siltoso 5 a 25 20 a 50
Argiloso > 20 > 40
5.3.1.3. Difratograma de raios-X
O DRX serve como ferramenta para identificação qualitativa dos compostos de um material,
no caso do solo, seus argilominerais (Figura 3). A análise quantitativa desses compostos é
apresentada na Tabela 4. Os comportamentos físico-químicos de uma argila são
influenciados por seus argilominerais. Pelos resultados apresentados, os compostos desse
material não apresentam comportamento expansivo ao secar, tornando este solo adequado
para o trabalho.
6
Tabela 4 – percentuais apresentados no ensaio de DRX
Caulinita (KA) 90 % a 95% Nomenclatura
Ilita (IL) 5% a 10%
Gibbsita (GIB) < 1%
Goethita (GO) < 1%
Hematita (HE) < 1%
Solo mineralógicamente composto por
quartzo, feldspato, mica e caulinita
Figura 3 – difratograma de raios-X do solo selecionado para os ensaios
5.3.2. Cal
A cal adotada para este trabalho foi a cal hidratada CH-III, fabricada pela Votorantim
Cimentos S.A. O produto atende às exigências físico-químicas da norma, enquadrando-se
como cal cálcica, com teor de óxido de cálcio entre 90% e 100% dos óxidos totais presentes
conforme NBR 7175 (ABNT, 2003). Sua massa unitária é de 0,666 Kg/dm3. Demais
informações foram fornecidas pelo fabricante (Tabela 5).
7. IV CONGRESSO DE ARQUITETURA E CONSTRUÇÃO COM TERRA NO BRASIL TerraBrasil 2012
7
Tabela 5 – Classificação físico-quimica da cal CH-III do fabricante Votorantim Cimentos S.A.
5.3.3. Areia artificial
Os ensaios utilizaram areia artificial, resultante de britamento de rochas, proveniente da
pedreira Jaguari da cidade de São Paulo, composta predominantemente de minerais de
feldspato, quartzo e mica. Esse material surge como uma alternativa de proteção às jazidas
de areia natural que são exploradas em larga escala com impactos ambientais significativos.
8. IV CONGRESSO DE ARQUITETURA E CONSTRUÇÃO COM TERRA NO BRASIL TerraBrasil 2012
Visualmente as partículas de areia natural tem uma forma mais arredondada quando
comparada com a areia artificial. Por esse motivo, a areia natural com partículas
subarredondadas produz um material final com menor absorção por capilaridade, porém de
menor resistência à compressão e à tração na flexão que argamassas produzidas com areia
britada de partículas angulosas (Silva; Buest; Campiteli, 2005).
O material ensaiado apresentou um módulo de finura 2,66, considerado baixo para
agregados, somado a um alto teor de material fino (Figura 4). Os finos em excesso atuam
de forma negativa, deixando muitos espaços vazios e consomem maior quantidade de água.
Quando há o equilíbrio entre as partículas, o preenchimento de todos os espaços por
diversos tamanhos torna o material mais coeso e resistente em função do menor número de
vazios em seu arranjo granulométrico.
A massa unitária dessa areia artificial foi 1,518 kg/m3.
8
Figura 4 – Curva granulométrica do agregado miúdo – areia artificial
5.3.4. Cinzas de bambu
Para a obtenção desse material, foram coletadas varas de bambu com galhos e folhas da
espécie Dendrocalamus Giganteus e incinerados sem controle de temperatura. A cinza
resultante dessa queima foi peneirada em peneira de abertura 2 mm e adicionada ao traço
padrão na razão de 1/10 do volume total dos agregados, prevendo sua atuação como
material pozolânico natural de origem vegetal.
5.4. Preparo dos materiais
Para a produção da argamassa de cal padrão (AC), os agregados e o aglomerante foram
peneirados em peneira de abertura 4 mm, misturados respeitando o traço adotado T1
(Tabela 6). Os materiais foram misturados a seco e homogeneizados, e posteriormente
foram misturados com água conforme exigência da NBR 7200 (ABNT, 1998) para a
correção de quaisquer oxido de cálcio (CaO) mal hidratado.
Após a homogeneização e umedecimento inicial, o material ficou em repouso por 7 dias.
Essa mistura foi novamente peneirada, misturada mecanicamente a seco com o auxílio de
uma betoneira. A cinza de bambu na argamassa foi incorporada durante o processo de
amassamento. Esse traço com cinza (ACC) foi denominado T2.
9. IV CONGRESSO DE ARQUITETURA E CONSTRUÇÃO COM TERRA NO BRASIL TerraBrasil 2012
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Tabela 6 - Traços utilizados para o estudo das argamassas relacionados em volume
Nome Traço Areia artificial Solo Cal Cinza
AC *T1 3 1 1 0
ACC T2 3 1 1 0,5
* traço referência aplicado empiricamente com bons resultados em alvenarias de terra crua.
Para T1, a mistura foi hidratada com 1/7 de água e misturada manualmente até atingir uma
consistência plástica e homogênea. A mistura descansou por 20 minutos antes da
moldagem das placas (4 unidades) e prismas (4 unidades). Para T2, foi incorporada a seco
no traço uma décima parte de cinza de bambu para a moldagem de outras placas (4
unidades) e prismas (4 unidades).
5.5. Comportamento da argamassa no estado seco
Após a moldagem das placas e prismas, o material descansou por 28 dias quando iniciaram
as observações quanto a fissuração das placas e as determinações de suas propriedades
mecânicas: resistência à compressão e resistência à tração na flexão.
5.5.1. Abertura de fissuras
Nas oito placas produzidas (Figura 5) foi observada a abertura de fissuras semelhantes para
os dois traços. Para cada traço, duas placas apresentaram fissuras significativas e duas
não. Para essa análise de fissuras, foram medidas a extensão e sua abertura. Do produto
desses valores foi retirada a média, obtendo-se um valor expresso em cm2. Para o traço T1,
o valor médio da abertura de fissuras foi 4,67 cm². Para o traço T2, o valor médio da
abertura de fissuras foi 6,94 cm². Com o resultado médio das fissuras, é possível observar
que as placas com o traço T2, contendo as cinzas, foram as que apresentaram maior
quantidade de fissuras.
Esse comportamento ocorre com o aumento de partículas finas que em função da queima
descontrolada da cinza, não formaram a sílica necessária para reagir positivamente com a
cal, criando uma maior área de superfície de partículas inertes (carvão), resultando em uma
maior água adsorvida, espaços vazios e maior porosidade ao secar.
Argamassa de cal (AC) para T1 Argamassa de cal com cinza (ACC) para T2
Figura 5 – Caracterização das fissuras apresentadas pelos dois traços ensaiados
10. IV CONGRESSO DE ARQUITETURA E CONSTRUÇÃO COM TERRA NO BRASIL TerraBrasil 2012
5.5.2. Resistência mecânica
Os ensaios de resistência à compressão e à tração na flexão foram obtidos em corpos de
prova prismáticos 4 cm x 4 cm x 16 cm, quatro para T1 e quatro para T2, segundo a
NBR13279 (ABNT, 2005). Os resultados estão apresentados na Tabela 7. O traço T1 foi
superior em ambos os ensaios.
10
Tabela 7 – resultados de resistência à tração na flexão e compressão axial para T1 e T2
Índice médio Tração na flexão (MPa) Compressão axial (MPa)
Traço padrão (T1) 0,654 2,522
Traço com cinza (T2) 0,630 1,591
Baseado nos estudos de Olugbenga e Akimwole (2010) e de Dwivedi et al. (2006) a cinza
utilizada neste trabalho proveniente de uma queima descontrolada serviu somente como
material inerte.
Figura 6. – ensaio de resistência à compressão Figura 7. – Ensaio de resistência à tração na flexão
5.5.3. Retração linear
Para assegurar de que o solo não interferiu negativamente em todos os resultados, foi feito
um ensaio de retração linear com uma fração de argila passada na peneira #10 (1,68 mm) e
outro para a argamassa padrão. Podemos afirmar que a retração espontânea do solo é
pequena e dentro dos índices aceitáveis, com valor de 2,5% (Figura 8) estando totalmente
dentro dos padrões aceitos pela construção com terra, onde o recomendado é um valor
menor que 4% (Minke, 2001).
Figura 8 – Comparativa entre os ensaios de retração linear da fração argilosa da terra.
11. IV CONGRESSO DE ARQUITETURA E CONSTRUÇÃO COM TERRA NO BRASIL TerraBrasil 2012
6. CONCLUSÕES
Na analise dos resultados obtidos em laboratório ficou evidente em todos os ensaios, que o
traço T1 (traço sem cinzas de bambu) teve um comportamento superior ao traço T2 (traço
com cinzas de bambu). Isso indica que a quantidade e principalmente a qualidade da cinza
utilizada atuou de forma negativa na mistura. O bambu incinerado sem controle resultou em
um material inerte que desempenhou apenas o papel de agregado fino. A combinação da
cinza com a areia artificial, que também apresenta excesso de finos, resultou em uma
mistura menos resistente.
Para se afirmar ao certo o papel desempenhado pela cinza de bambu utilizada, são
necessárias mais investigações com outras técnicas de queima e de analise, tais como DRX
e análise química, para maior conhecimento dos compostos encontrados no material
utilizado.
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Souza, J. de (2008). Estudo da durabilidade de argamassas utilizando cinzas e casca de
arroz. Campina Grande.
AUTORES
Michel Habib Ghattas, Arquiteto e urbanista graduado pela FAAP, bioconstrutor, instrutor de cursos
de bioconstrução e colaborador instrucional no curso de Pós-graduação em Construções
Sustentáveis da FAAP. +55-11-9229-1555, mhabib@terra.com.br.
Ademir Almeida, Técnico de laboratório, Departamento de Arquitetura e Construção, Faculdade de
Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo, Universidade Estadual de Campinas, Av. Albert Einstein,
951 - Caixa Postal: 6021 - CEP: 13083-852 - Campinas – SP, +55-19-35212367,
aalmeida@fec.unicamp.br
Gladis Camarini, Professora Associada, Departamento de Arquitetura e Construção, Faculdade de
Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo, Universidade Estadual de Campinas, Av. Albert Einstein,
951 - Caixa Postal: 6021 - CEP: 13083-852 - Campinas – SP, +55-19-35212361,
camarini@fec.unicamp.br
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