Teoria heterotrófica e autotrófica dos primeiros seres vivos..pptx
valor aspetual antónio alves
1. 12ºH
Doc. 47
Escola Secundária Monte de Caparica
Português (Curso de Técnico Comercial)
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Cesário Verde: a vida e a obra
Nome: José Joaquim Cesário Verde
Nascimento: 25-02-1855, Lisboa Morte: 19-07-1886
A poesia de Cesário Verde, prefiguradora de uma modernidade estética só
inteiramente reconhecida após a sua morte, dificilmente cabe nas
classificações da história literária. Se a representação pictórica dos
ambientes e a descrição plástica da realidade o aproximam do Realismo e do
Parnasianismo (1), se o interesse pelos fracos e humildes ecoa influências
românticas e baudelairianas (2), não é menos verdade que a imaginação do
poeta o conduz, muitas vezes, a uma recriação impressionista ou fantasista
da realidade devedora da estética simbolista. Filho de um comerciante com
loja de ferragens em Lisboa e uma exploração agrícola em Linda-a-Pastora,
passa a infância entre os ambientes citadino e rural, binómio que será
marcante na sua obra. Em 1873, matricula-se no Curso Superior de Letras,
que não chegará a concluir, mas onde trava conhecimento com figuras da
vida literária, como Silva Pinto, que se tornará seu grande amigo. Durante a
juventude, viaja pelos grandes centros cosmopolitas europeus (Paris e
Londres) e deixa vários poemas dispersos por jornais como o Diário de
Notícias, Diário da Tarde, Tribuna, A Ilustração, acolhidos com críticas
quase sempre desfavoráveis. Em 1874, aparece anunciada a edição breve de
um livro de Cesário Verde, que não acontecerá. A partir de 1879, desiludido
com a incompreensão do mundo intelectual, Cesário dedica-se cada vez mais
a assistir o pai na loja de ferragens e na exploração da quinta. Em 1882,
morre-lhe um irmão de tuberculose, tal como a irmã, que havia morrido dez
anos antes. Aos 31 anos, ele próprio morre vítima da mesma doença. Em
1887, Silva Pinto publica a primeira edição de O Livro de Cesário Verde.
O Livro de Cesário Verde é uma compilação póstuma de poesias de Cesário
Verde escritas entre 1873 e 1886, organizada e posfaciada por Silva Pinto,
da qual se fez uma primeira edição, em 1887, para oferta a amigos do
escritor, e uma segunda edição, em 1901, destinada ao público. A edição
princeps (3) de O Livro de Cesário Verde é constituída por 22 composições,
repartidas por duas secções, “Crise romanesca” e “Naturais”, sem que se
saiba se essa divisão obedeceu a indicações do próprio autor ou ao critério
2. do compilador. Apesar de omitir várias poesias de Cesário contempladas em
antologias posteriores, a recolha é representativa das várias tendências
convergentes na obra poética do autor. Baseando-se na representação
pictórica e na descrição plástica da realidade, apoiada no predomínio das
sensações (“Lavo, refresco, limpo os meus sentidos. / E tangem-me,
excitados, sacudidos, / O tacto, a vista, o ouvido, o gosto, o olfacto!”), no
que se aproxima do Parnasianismo e do Realismo, Cesário supera, todavia, a
captação fotográfica do real, através de um processo de recriação poética
que opera uma transfiguração do imediato: “Subitamente — que visão de
artista! — / Se eu transformasse os simples vegetais, / À luz do sol, o
intenso colorista, / Num ser humano que se mova e exista / Cheio de belas
proporções carnais?!” (“Num bairro moderno”). A estética anti-romântica e
naturalista (...) patenteia-se nos motivos da mulher soberba e impassível
(“Deslumbramentos”,“Frígida”), da cidade mórbida e industrial (“O
sentimento dum ocidental”, “Num bairro moderno”), (...) na visão não
convencional do campo, marcada pela experiência pessoal (“Em petiz”, “De
verão”, “Nós”, “De tarde”). Esta transmudação impressionista ou fantasista
da realidade apoia-se num estilo inovador, precursor do Simbolismo, no qual,
de entre muitos aspectos, salientaremos o uso da sinestesia (“Cheira-me a
fogo, a sílex, a ferrugem; / Sabe-me a campo, a lenha, a agricultura”), do
advérbio (“Amareladamente, os cães parecem lobos”; “Um forjador maneja
um malho, rubramente”), da hipálage (“Quando arregaça e ondula a
preguiçosa saia”; “Um cheiro salutar e honesto a pão no forno”) e do
assíndeto (“Vê-se a cidade, mercantil, contente: / Madeiras, águas,
multidões, telhados!”).
Em suma, a obra poética de Cesário Verde é caracterizada pelo domínio
perfeito da língua, riqueza e precisão do vocabulário, rigor e originalidade
na adjectivação. Recorrendo também ao verso e estrofe de características
tradicionais, o autor cultivou fundamentalmente os versos decassílabos e
alexandrinos, estes últimos, segundo o próprio, caracterizados pelo rigor
geométrico e pela sobriedade. Tentando encontrar a “perfeição do
fabricado” (parnasianismo) e transmitir “o ritmo do vivo e do real”
(realismo), como um realizador cinematográfico, o autor, surpreendendo os
instantâneos do quotidiano de Lisboa, regista o pulsar do coração da cidade
que, vencendo “o Tempo e a Morte”, resiste e sobrevive.
In Entre Margens
(1) Parnasianismo: Corrente literária surgida em França, com a publicação, em 1866, da revista Parnasse
Contemporain, que se propunha valorizar a componente estética da poesia (o chamado ideal de arte pela arte) e
reagir contra o sentimentalismo da poesia romântica.
Em Portugal, podemos relacionar com o Parnasianismo um grupo de poetas aglutinados em torno da revista A Folha,
publicada entre 1868 e 1873, dos quais se destacaram João Penha (1838--1919), director, António Feijó (1859-
1917) e Gonçalves Crespo (1846-1883), havendo, contudo, laivos de Parnasianismo em muitos outros poetas como
3. Gomes Leal (1848-1921) e Cesário Verde (1855-1886). Os parnasianos propunham uma poesia descritiva, pictural,
plástica, com uma versificação perfeita e musical
(2) baudelairiano: relativo a Baudelaire — poeta e escritor francês, nasceu em Paris a 9 de Abril de 1821 e morreu
a 31 de Agosto 1867. Considerado por muitos um “poeta maldito”, depois da sua morte as opiniões começaram a
mudar e muitos poetas tornaram-se seguidores do movimento simbolista de que foi precursor.
(3) princeps: diz-se da primeira edição de uma obra.
A atmosfera social e cultural do século XIX na poesia de
Cesário Verde
Para além dos condicionalismos directamente relacionados com a sua vida
pessoal (familiar, profissional), importa recordar que Cesário Verde escreve
numa época de contradições e conflitos em que a realidade circundante
sofre uma nítida decadência física e social da qual Joel Serrão nos dá bem
conta na obra que dedicou à poesia de Cesário Verde. Por exemplo,
tentativas de industrialização nos centros urbanos ou a estagnação social da
época da Regeneração são factores que se traduzem na obra do poeta numa
atmosfera de pessimismo, desencanto e consequente ânsia de evasão, O
poeta viveu entre 1855 e 1886. Ideologicamente, ele vê-se rodeado de
tentativas de superar a decadência e a debilidade da sociedade: a geração
de 70, movimentos republicanos, ideologias como o positivismo e o socialismo
proudhiano, etc., de que resulta um certo eclectismo que vai decerto
influenciar a obra do poeta. (...)
Optar pela lírica foi, para Cesário Verde, optar por uma oscilação constante
entre duas tendências. Por um lado, temos a revelação do real como ele se
apresenta à observação e sob a forma de denúncia social. Para tal o poeta
sente a necessidade de apurar os sentidos, como se pode ler na décima
estrofe de “Cristalizações”. Por outro lado, temos as manifestações
emotivas do sujeito lírico que julgo não terem tanta relação com o bacilo que
levou o poeta à morte, mas sim com a existência sensível do “eu de luneta de
uma lente só” que dá ocasião a uma “visão de artista” condicionada por
factores como “luz do Sol”, “aromas”, “fumos”, permitindo assim algumas
dúvidas quanto à verosimilhança daquilo que é poeticamente representado. O
facto de se apelidar Cesário Verde de realista deve-se, em grande medida,
à evolução estilística e temática que a sua obra revela, acentuada pela
bipartição em “crise romanesca” e “naturais”. Na segunda parte predominam
composições que explícita ou implicitamente revelam uma tensão dialéctica
entre a cidade e o campo. A atmosfera conflituosa dos centros urbanos
suscita no poeta a necessidade de denunciar na sua “poesia prosaica” o
ambiente corrupto, desvitalizado e tóxico da cidade em oposição à
4. simplicidade pacífica e salutar do campo. Parece-me pois que a obra do
poeta é, sem dúvida, marcada por características da estética realista. (...)
A poesia de Cesário Verde reflecte a crise do Naturalismo e o desencanto
pela estética realista. O poeta empenha-se no real, é certo, porém, a
instância da visão subjectiva é marcante ao ponto de fazer vacilar a
concepção de Cesário Verde como poeta realista. Em “Nós” ele é o primeiro
a afirmar “ao meu olhar / Tudo tem um certo espírito secreto” o que, à
partida, alerta o leitor mais crédulo para as marcas de subjectividade na
representação poética.
Na poesia de Cesário, mesmo nos textos mais frequentemente citados como
realistas, há evidências de que a representação da impressão que o real
deixa no poeta suplanta o real objectivo. Segundo os padrões do realismo e
do naturalismo, finalidades injuntivas e profilácticas investem sobretudo na
verosimilhança à qual subjaz um raciocínio causalista, uma perspectivação do
universo em termos científicos,
Muito embora não haja a pretensão de trazer fotografias da realidade para
a literatura, deseja-se reduzir ao mínimo a interpretação subjectiva dessa
realidade: o escritor é mais um cientista do que um eu lírico atendendo à sua
imaginação (...) se a obra de Cesário Verde tem marcas de realismo, ela
desvia-se, por um lado, dos parâmetros desta estética aproximando-se
bastante dos processos impressionistas.
In Entre Margens
5. Lisboa oitocentista
(...)
Com a vitória liberal de 1834 torna-se patente o desejo de melhorar a
iluminação pública de Lisboa; o encargo de tal serviço público transita da
Intendência da Polícia para a Câmara Municipal de Lisboa, como, de resto,
acontecera já durante o ano de 1823; aumenta o número dos candeeiros e —
progresso evidente — a combustão do azeite passou a fazer-se em maior
número de dias por mês. Todavia, a Câmara em breve se dava conta de que
não podia arcar sozinha com as despesas; o Governo prontifica-se, pois, a
ajudá-la. Simplesmente, a contas com necessidades mais prementes, as
disponibilidades do Tesouro nem sempre chegavam para pagar a tempo e
horas. Deste modo, em 1836-1837, na época do domínio político de
setembrismo, a dívida à Câmara montava a 131 791$00 réis. Claro que tais
dificuldades financeiras se faziam sentir logo na iluminação. Desde que
faltava o dinheiro para comprar azeite, apagava-se a pobre luz por ele
fornecida. Por volta de 1837 a Câmara pretende, decerto por razões de
economia, substituir total ou parcialmente o azeite por óleo de purgueira
(1), o que veio a fazer-se. Em 1842 era concedida patente a um invento
português para “extrair o azeite da planta denominada purgueira” e Cesário
Verde, evocando os tempos da sua meninice, conta:
Uma iluminação a azeite de purgueira,
De noite amarelava os prédios macilentos.
O número dos candeeiros continua sempre em aumento, andando, em 1840, à
volta de 2300. Para manter a funcionar tal serviço público, utilizavam-se no
mesmo ano 189 empregados. A verdade, porém, é que, como reconhece o
mais conspícuo (2) historiador da matéria, a luz continuava a ser “mui
frouxa” e “muitos dos candeeiros se apagavam antes da meia-noite, e depois
desta hora era profunda a escuridão pela cidade”.
Embora o esforço a considerar na luta contra a noite natural, poderemos,
pois, afirmar que a iluminação a azeite de oliveira, de peixe e de purgueira
não logrou resolver o problema, e a velha noite continuou a manter,
omnipotente, mesmo nas cidades, o seu velho império sobre os homens. (...)
(1) purgueira: planta, também chamada pinheiro-de-purga, cujas sementes produzem um óleo fortemente
purgativo, usado também na iluminação e conhecido por azeire-de-purgueira.
2. conspícuo: respeitável.
6. (...) Em 1886, já tinham sido introduzidas em Lisboa algumas das inovações
que facilitavam a vida urbana: em 1848, tinham aparecido os primeiros
candeeiros a gás e, em 1878, haviam sido instalados, no Chiado, seis
candeeiros eléctricos. Não se pense contudo que esses melhoramentos se
propagaram rapidamente. Grande parte das ruas da cidade eram de terra,
malcheirosas e escuras. A muitas das suas vielas e escadinhas, a civilização
não chegara. A 18 de Julho, um grupo de habitantes de Alfama pedia
insistentemente à Câmara de Lisboa que mandasse regar as ruas do bairro,
pois o vento estava a levantar enormes ondas de poeira, que invadiam casas
e lojas.
Nos bairros antigos, a higiene era deplorável. Com traseiras, pátios e
quintais apinhados de galinhas, coelhos e porcos, as casas estavam
infestadas de parasitas. Apesar de a recente captação do rio Alviela ter
permitido instalar uma rede de distribuição de água a domicílio, o benefício
chegava a poucas casas. Nos mercados, as condições sanitárias eram
péssimas, fazendo com que muitos dos géneros consumidos pelas classes
populares estivessem estragados. Os fiscais tentavam pôr cobro à situação,
mas não chegavam para as encomendas. No mercado central, a 17 de Julho,
tinham sido inutilizadas, como impróprias para consumo, 81 pescadas, 76
peixes-espadas e 1200 carapaus: era uma gota no oceano.
(...)
Os contrastes entre ricos e pobres eram enormes. É verdade que os
milionários portugueses eram patéticos quando comparados com os seus
parceiros europeus, mas em face da miséria indígena qualquer ser com um
mínimo de sensibilidade se chocaria. No centro da cidade, entre portais e
vãos de escada, amontoavam-se cegos, estropiados, crianças abandonadas e
velhos paralíticos. (...)
Os trabalhadores ganhavam salários irrisórios e estavam sempre à beira do
desemprego. Alimentavam-se, ano após ano, a pão, sopa e batatas, uma
ementa insuficiente que ajuda a explicar as altíssimas taxas de mortalidade
de Lisboa e do Porto. As doenças que mais mortes causavam eram a
tuberculose pulmonar e as pneumonias. (...)
As condições de trabalho eram atrozes: a duração do dia de trabalho era
longuíssima e a segurança nas oficinas inexistente. Todos os dias se
verificavam acidentes: fiandeiras que ficavam sem dedos, pedreiros que
caíam de andaimes, vidreiros que arruinavam os pulmões, mineiros que
ficavam soterrados. (...)
In Entre Margens
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