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Uma família que                         não me desaparece da vista, não
                                        vais ao Messenger durante dois               Letra Pequena Rita Pimenta
pratica comunicação
                                                                                     Corte portuguesa
                                        dias nem tocas no telemóvel.
não violenta                            Que inferno!”, Rosenberg mostra
Lilli é adolescente e conta como        uma possível aplicação do seu
é pertencer a uma família
que pratica comunicação
                                        método a esta situação. “João,
                                        quando vejo uma bola de meias                em fuga
não violenta. “Normalmente,             sujas debaixo da mesa e outras
quando uma mãe manda uma                três perto da televisão, sinto-me
filha fazer qualquer coisa, a            irritada porque preciso de mais
filha tem de fazer. Desde que a          ordem nas divisões da casa que
minha mãe começou a aprender            são partilhadas por todos.” Neste
comunicação verbal não                  primeiro momento, houve a
violenta, procuramos juntos             combinação da observação, do




                                                                                     L
aquilo que é melhor para todos          sentimento e da necessidade. A
e o porquê. Às vezes eu irrito-         seguir vem então o pedido final:                              aurentino Gomes criou uma versão juvenil
me e, em vez de ela se irritar          “Estás disposto a levar as tuas                              ilustrada da sua obra “1808”, que venceu o
também, tenta saber comigo              meias para o teu quarto ou a metê-                           Prémio de Ensaio, Crítica e História Literária
qual a razão – por que é que            las na máquina da roupa?”                                    da Academia Brasileira de Letras relativo
estou irritada. Por exemplo,               O resultado pode não ser                                  ao ano passado. Com a ajuda de Denise
ontem, eu estava ‘passada’,             imediato e positivo, mas, se dos                             Ortiz (jornalista, tal como o autor), fez uma
quando ela me foi buscar à              dois lados se for praticando esta            adaptação para jovens, com a preocupação de preservar
escola. Eu estava a gritar com          atitude, há maior probabilidade de           “todos os pormenores fundamentais que compõem a
ela, ainda que ela não tivesse          a vida correr melhor.                        história da corte no Brasil, excluindo apenas algumas
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caminho para casa ajudou-me             Dias (que teve formação no                      Aqui se conta como a 29 de Novembro de 1807 a corte
a procurar a razão pela qual            Centro Budista de Birmingham,                portuguesa fugiu para o Brasil e tudo o que se passou em
eu estava ‘passada’. A razão            em Londres, com Shantigarbha),               seguida (lá e cá), até ao seu regresso a 3 de Julho de 1821. Na
prendia-se com o ensaio que             “a comunicação deve ser um                   capa, através de um longo subtítulo, o jovem leitor é logo
tinha acabado de ter — para             processo não agressivo, capaz de             informado do conteúdo do livro: “Como uma rainha louca,
apresentar um concerto escolar          transmitir ideias úteis, aceitando           um príncipe medroso e uma corte corrupta enganaram
naquela noite. Eu estava                dos outros quer o ‘sim’ quer o               Napoleão e mudaram a História de Portugal e do Brasil.”
desiludida com a forma como             ‘não’, a fim de gerar o diálogo”.                Além do esforço de condensar informação, tornando
tinha discursado durante o              Deve praticar-se o exercício de              a leitura mais facilitada (mas não menos rigorosa), houve
ensaio. E estava nervosa porque         olhar os outros (familiares ou               uma reordenação dos acontecimentos para ajudar à
não me sentia confiante em               colegas) não em função daquilo               compreensão. A narrativa é viva e revela um sentido de
relação à noite. Assim que              que “nos fizeram”, mas através                humor inteligente, mostrando o talento de quem sabe
descobri isso, senti-me melhor          dos nossos sentimentos (de que               contar uma história sobre a História, sem se obrigar à
e, à noite, fiquei muito contente        somos os únicos responsáveis),               solenidade comum de quem olha o passado.
com a minha representação.              independentemente das acções e                  O autor atribui o sucesso da obra (para adultos) “à
Uma coisa de que não gosto no           comportamentos da outra pessoa.              linguagem acessível e à necessidade de se conhecer
facto de a mãe ter começado                Não significa isto que as                  a história do Brasil” para se entender o presente. Em
a aprender comunicação não              discussões em família terminem,              Portugal vendeu 320 mil exemplares e disse à Lusa estar
violenta é que as discussões            aliás, podem até durar mais                  surpreendido: “Os resultados foram muito além do que
demoram mais tempo do que               tempo. Contudo, serão certamente             eu esperava. Sinal de que os leitores estão adorando o que
demoravam antes!”                       mais pacíficas e, se todos forem              escrevi. O que mais eu poderia desejar?”
                                        verdadeiramente escutados,                      Laurentino Gomes trabalhou como jornalista e editor
Retirado de “O Poder da Comunica-       chegarão a melhores resultados.              no jornal “Estado de São Paulo” e na revista “Veja”.
ção”, de Shantigarbha, “Juno” (edição   Para todos.                                     A edição para jovens de “1808” é ilustrada por Rita
n.º 12, 2007)                              Depois de repensar os conflitos            Bromberg Brugger, professora e ilustradora com formação
                                        que protagonizou, ainda está assim           em Artes Plásticas pelo Instituto de Belas-Artes do Rio
                                        tão certo de que foram sempre os             Grande do Sul. As imagens que Brugger criou para o
em paz. Para isso há que exercitar      outros que o interpretaram mal? a            livro ajudam os miúdos a mergulhar num cenário com
a capacidade de nos pormos no                                                        200 anos, difícil de imaginar por quem nasceu há pouco
lugar do outro, perceber porque         Acalentar Emoções — Academia                 tempo. a letra.pequena@publico.pt
está infeliz ou descontrolado e         de Comunicação e Bem-Estar
o que precisa para se acalmar. O        Rua das Pretas, 33, 1.º, 1150-270 Lisboa                                 1808
mesmo exercício deve ser feito          Tel.: 351 912257852                                                      Autor: Laurentino
com as nossas próprias emoções.         E-mail: a.sentidos@gmail.com                                             Gomes
O resultado será melhor do que          Grupos de comunicação não violenta                                       Ilustrador: Rita
se desatarmos logo (também) a           (entrada livre): quartas-feiras, às 19h30.                               Bromberg Brugger
“disparar em todas as direcções”.       Até 15 de Setembro, actividades para                                     Editor: Livros D’Hoje
   Exemplo prático: imagine que         crianças (melhorar a comunicação com                                     (Dom Quixote)
um adolescente deixa meias sujas        pais e familiares): decorrem no espaço                                   148 págs., 15 euros
espalhadas pela casa. Em vez de         que os pais escolherem (casa, parque
um aviso da mãe, do género “se          de campismo, ar livre, etc.) e é desejável
em cinco minutos essa porcaria          que os pais participem.




                                                                                                                       Pública • 3 Agosto 2008 •55

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Letra Pequena1808

  • 1. Uma família que não me desaparece da vista, não vais ao Messenger durante dois Letra Pequena Rita Pimenta pratica comunicação Corte portuguesa dias nem tocas no telemóvel. não violenta Que inferno!”, Rosenberg mostra Lilli é adolescente e conta como uma possível aplicação do seu é pertencer a uma família que pratica comunicação método a esta situação. “João, quando vejo uma bola de meias em fuga não violenta. “Normalmente, sujas debaixo da mesa e outras quando uma mãe manda uma três perto da televisão, sinto-me filha fazer qualquer coisa, a irritada porque preciso de mais filha tem de fazer. Desde que a ordem nas divisões da casa que minha mãe começou a aprender são partilhadas por todos.” Neste comunicação verbal não primeiro momento, houve a violenta, procuramos juntos combinação da observação, do L aquilo que é melhor para todos sentimento e da necessidade. A e o porquê. Às vezes eu irrito- seguir vem então o pedido final: aurentino Gomes criou uma versão juvenil me e, em vez de ela se irritar “Estás disposto a levar as tuas ilustrada da sua obra “1808”, que venceu o também, tenta saber comigo meias para o teu quarto ou a metê- Prémio de Ensaio, Crítica e História Literária qual a razão – por que é que las na máquina da roupa?” da Academia Brasileira de Letras relativo estou irritada. Por exemplo, O resultado pode não ser ao ano passado. Com a ajuda de Denise ontem, eu estava ‘passada’, imediato e positivo, mas, se dos Ortiz (jornalista, tal como o autor), fez uma quando ela me foi buscar à dois lados se for praticando esta adaptação para jovens, com a preocupação de preservar escola. Eu estava a gritar com atitude, há maior probabilidade de “todos os pormenores fundamentais que compõem a ela, ainda que ela não tivesse a vida correr melhor. história da corte no Brasil, excluindo apenas algumas feito nada. Durante todo o Em resumo, sintetiza Patrícia personagens e situações consideradas acessórias”. caminho para casa ajudou-me Dias (que teve formação no Aqui se conta como a 29 de Novembro de 1807 a corte a procurar a razão pela qual Centro Budista de Birmingham, portuguesa fugiu para o Brasil e tudo o que se passou em eu estava ‘passada’. A razão em Londres, com Shantigarbha), seguida (lá e cá), até ao seu regresso a 3 de Julho de 1821. Na prendia-se com o ensaio que “a comunicação deve ser um capa, através de um longo subtítulo, o jovem leitor é logo tinha acabado de ter — para processo não agressivo, capaz de informado do conteúdo do livro: “Como uma rainha louca, apresentar um concerto escolar transmitir ideias úteis, aceitando um príncipe medroso e uma corte corrupta enganaram naquela noite. Eu estava dos outros quer o ‘sim’ quer o Napoleão e mudaram a História de Portugal e do Brasil.” desiludida com a forma como ‘não’, a fim de gerar o diálogo”. Além do esforço de condensar informação, tornando tinha discursado durante o Deve praticar-se o exercício de a leitura mais facilitada (mas não menos rigorosa), houve ensaio. E estava nervosa porque olhar os outros (familiares ou uma reordenação dos acontecimentos para ajudar à não me sentia confiante em colegas) não em função daquilo compreensão. A narrativa é viva e revela um sentido de relação à noite. Assim que que “nos fizeram”, mas através humor inteligente, mostrando o talento de quem sabe descobri isso, senti-me melhor dos nossos sentimentos (de que contar uma história sobre a História, sem se obrigar à e, à noite, fiquei muito contente somos os únicos responsáveis), solenidade comum de quem olha o passado. com a minha representação. independentemente das acções e O autor atribui o sucesso da obra (para adultos) “à Uma coisa de que não gosto no comportamentos da outra pessoa. linguagem acessível e à necessidade de se conhecer facto de a mãe ter começado Não significa isto que as a história do Brasil” para se entender o presente. Em a aprender comunicação não discussões em família terminem, Portugal vendeu 320 mil exemplares e disse à Lusa estar violenta é que as discussões aliás, podem até durar mais surpreendido: “Os resultados foram muito além do que demoram mais tempo do que tempo. Contudo, serão certamente eu esperava. Sinal de que os leitores estão adorando o que demoravam antes!” mais pacíficas e, se todos forem escrevi. O que mais eu poderia desejar?” verdadeiramente escutados, Laurentino Gomes trabalhou como jornalista e editor Retirado de “O Poder da Comunica- chegarão a melhores resultados. no jornal “Estado de São Paulo” e na revista “Veja”. ção”, de Shantigarbha, “Juno” (edição Para todos. A edição para jovens de “1808” é ilustrada por Rita n.º 12, 2007) Depois de repensar os conflitos Bromberg Brugger, professora e ilustradora com formação que protagonizou, ainda está assim em Artes Plásticas pelo Instituto de Belas-Artes do Rio tão certo de que foram sempre os Grande do Sul. As imagens que Brugger criou para o em paz. Para isso há que exercitar outros que o interpretaram mal? a livro ajudam os miúdos a mergulhar num cenário com a capacidade de nos pormos no 200 anos, difícil de imaginar por quem nasceu há pouco lugar do outro, perceber porque Acalentar Emoções — Academia tempo. a letra.pequena@publico.pt está infeliz ou descontrolado e de Comunicação e Bem-Estar o que precisa para se acalmar. O Rua das Pretas, 33, 1.º, 1150-270 Lisboa 1808 mesmo exercício deve ser feito Tel.: 351 912257852 Autor: Laurentino com as nossas próprias emoções. E-mail: a.sentidos@gmail.com Gomes O resultado será melhor do que Grupos de comunicação não violenta Ilustrador: Rita se desatarmos logo (também) a (entrada livre): quartas-feiras, às 19h30. Bromberg Brugger “disparar em todas as direcções”. Até 15 de Setembro, actividades para Editor: Livros D’Hoje Exemplo prático: imagine que crianças (melhorar a comunicação com (Dom Quixote) um adolescente deixa meias sujas pais e familiares): decorrem no espaço 148 págs., 15 euros espalhadas pela casa. Em vez de que os pais escolherem (casa, parque um aviso da mãe, do género “se de campismo, ar livre, etc.) e é desejável em cinco minutos essa porcaria que os pais participem. Pública • 3 Agosto 2008 •55