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1ª Série – 2º Bimestre - Eixo Temático: O Conhecimento

                                   “Todos os homens têm, por natureza, o desejo de conhecer.”
                                                                       Aristóteles, Metafísica


                              Sujeito e objeto do conhecimento

                                   O conhecimento é uma compreensão inteligível da realidade, que o
                            sujeito humano adquire através de sua confrontação com essa realidade. O
                            seja, a realidade exterior adquire, no interior do Sr humano, uma forma
                            abstrata pensada, que lhe permite saber e dizer o que essa realidade é. A
                            realidade exterior se faz presente no interior do sujeito do pensamento. A
                            realidade, através do conhecimento deixa ser uma incógnita, uma coisa
                            opaca, para se tornar algo compreendido, translúcido. (LUCKESI, 1990)

Todo conhecimento pressupõe a relação entre dois elementos: o sujeito que quer conhecer e o
objeto a ser conhecido. O conhecimento é o ato, o processo pelo qual o sujeito se coloca no
mundo e, com ele, estabelece uma ligação. O mundo é o que torna possível o conhecimento ao
se oferecer a um sujeito apto a conhecê-lo. Só há saber para o sujeito cognoscente se houver se
houver um mundo a conhecer, mundo este do qual ele é parte, uma vez que o próprio sujeito
pode ser objeto de conhecimento. Dá-se o nome de conhecimento ao saber acumulado pelo
homem através das gerações. Nessa concepção o conhecimento é visto como produto da
relação sujeito-objeto, produto que pode ser transmitido. A relação de conhecimento implica
uma transformação tanto do sujeito quanto do objeto. O sujeito se transforma mediante o novo
saber, e o objeto se transforma, pois o conhecimento lhe dá sentido.

                              Tipos de Conhecimento Humano

No processo de apreensão da realidade do objeto, o sujeito cognoscente pode penetrar em todas
as esferas do conhecimento: ao estudar o homem, por exemplo, pode-se tirar uma série de
conclusões sobre a sua atuação na sociedade, baseada no senso comum ou na experiência
cotidiana; pode-se analisá-lo como um ser biológico, verificando através de investigação
experimental, as relações existentes entre determinados órgãos e suas funções; pode-se
questioná-lo quanto à sua origem e destino, assim como quanto à sua liberdade; finalmente,
pode-se observá-lo como ser criado pela divindade, à sua imagem e semelhança, e meditar sobre
o que dele dizem os textos sagrados.
Conhecer é uma relação que se estabelece entre o sujeito que conhece e o objeto a ser
conhecido. No processo de conhecimento o sujeito cognoscente se apropria, de certo modo, do
objeto conhecido. Se a apropriação é física, sensível, como por exemplo, a representação de
uma onda luminosa, o que acarreta uma modificação de um órgão corporal do sujeito
cognoscente, tem-se um conhecimento sensível. Se a representação não é sensível, o que ocorre
com realidades, tais como conceitos, verdades, princípios e leis, tem-se um conhecimento
intelectual.

Conhecimento Empírico:

Também chamado de vulgar ou de senso comum, é o conhecimento do povo, obtido ao acaso,
após ensaios e tentativas que resultam em erros e em acertos. É ametódico e assistemático. Cada
qual se serve da experiência do outro ora ensinado, ora aprendendo, em um intenso processo de
interação humana e social. Pela vivência coletiva os conhecimentos são transmitidos de uma
pessoa à outra, de uma geração à outra.




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Conhecimento Científico:

O conhecimento científico vai além do empírico, procurando conhecer, além do fenômeno, suas
causas e leis. A ciência, até a Renascença, era como um sistema de proposições rigorosamente
demonstradas, constantes e gerais que expressavam as relações existentes entre seres, fatos e
fenômenos da experiência. Nesta época o conhecimento científico tinha como características
ser: certo, geral, metódico e sistemático, objetividade, interesse intelectual e espírito crítico.
A ciência era o resultado da demonstração e da experimentação, só aceitando o que fosse
provado. Hoje a concepção de ciência é outra. A ciência não é considerada como algo pronto e
acabado ou definitivo. Não é a posse de verdades imutáveis. É entendida como uma busca
constante de explicações e de soluções, de revisão e de reavaliação de seus processos, apesar de
sua falibilidade e de seus limites. Nessa busca sempre mais rigorosa, a ciência pretende
aproximar-se cada vez mais da verdade através de métodos que propiciem controle,
sistematização, revisão e segurança maior do que possuem outras formas de saber não-
científicas. A Ciência é um processo em constante construção.

Conhecimento Filosófico:

O conhecimento filosófico distingue-se do conhecimento científico pelo objeto de investigação
e pelo método. O objeto das ciências são os dados próximos, imediatos, perceptíveis pelos
sentidos ou por instrumentos, pois sendo de ordem material e física, são por isso, suscetíveis de
experimentação. O objeto da filosofia é constituído de realidades mediatas, imperceptíveis aos
sentidos e que, por serem de ordem supra-sensível, ultrapassam a experiência. O filosofar é um
interrogar é um contínuo questionar a si mesmo e à realidade. A filosofia não é algo feito,
acabado, é uma busca constante do sentido, de justificação, de possibilidades, de interpretações
a respeito de tudo aquilo que envolve o ser humano e sobre o próprio ser em sua existência
concreta. A tarefa fundamental da filosofia resume-se na REFLEXÃO.

Conhecimento Teológico:

  Duas são as atitudes que se podem tomar diante do mistério.

             Penetrar nele com o esforço pessoal da inteligência, mediante a reflexão e o
              auxílio de instrumento, procura-ser obter um procedimento que seja científico
              ou filosófico.
             Ou aceitar explicações de alguém que já tenha desvendado o mistério e implica
              sempre uma atitude de fé diante de um conhecimento revelado.

Esse conhecimento revelado ocorre quando há algo oculto ou um mistério, alguém que o
manifesta e alguém que pretende conhecê-lo. Aquele que manifesta o oculto é o revelador, pode
ser o próprio homem ou Deus.

                             Principais Teorias do Conhecimento

                                                       “Cogito, ergo sum.” (Penso, logo existo.)
                                                                                     René Decartes

A necessidade de entendimento do processo de conhecimento humano não é recente. Os
filósofos gregos tinham como objeto de suas especulações o significado e as condições
necessárias para a efetivação do ato de conhecer. No entanto, essas reflexões revestiram-se de
um caráter puramente ontológico: buscava-se a essência do ser.
A teoria do conhecimento propriamente dita teve início na Idade Moderna, no século XVII, com
a revolução científica empreendida por Galileu e outros cientistas que, ao criarem um novo
modelo de investigação do mundo fenomenal e ao redefinirem o papel das ciências particulares,
despertaram nos filósofos uma preocupação com os fundamentos, as possibilidades, os limites e


                                                                                                2
o alcance do conhecimento humano e uma certa reserva contra os argumentos de autoridade,
que prevaleceram durante a Idade Medieval.
Filósofos como Decartes, Bacon, Leibniz, Espinoza, Locke, Berkeley e Hume são autores da
revolução epistemológica, que tem origem na Idade Moderna, e responsáveis pelo surgimento
de duas grandes correntes que traduzem o sentido dos novos tempos: o racionalismo e o
empirismo.
Para o racionalismo (do latim ratio, “razão”) a origem do conhecimento se encontra na razão,
instrumento único e exclusivo capaz de conhecer a verdade. Para o empirismo (do grego
empeiria, “experiência”) a mente humana é uma folha de papel em branco preenchida
exclusivamente com dados provindos da experiência sensível, externa ou interna.
O racionalismo fundamenta a teoria do conhecimento na supervalorização da razão como o
único instrumento capaz de atingir a verdades universais, sobre as quais se assentam as bases de
uma ciência pretensamente infalível.
Já o empirismo fundamenta a teoria do conhecimento na experiência, supervalorizando os
sentidos e relativizando as operações subsequentes da razão, na busca da verdade, cujo caráter
universal e absoluto é questionado. Os empiristas tem na realidade concreta e visível os
subsídios para construção do verdadeiro conhecimento.


Iluminismo: A razão que tudo ilumina

A crença no poder ilimitado da razão, que marcou o pensamento moderno, atingiu o seu apogeu
com iluminismo, no século XVIII, também conhecido por Século das Luzes. Como próprio
nome sugere somente as “luzes” da razão natural, seria capaz de indicar e “iluminar” o caminho
de acesso para se atingir a verdadeira sabedoria. O uso da razão era considerado indispensável
para o conhecimento e compreensão dos fenômenos naturais e sociais. Um dos principais
represente do iluminismo foi Immanuel Kant (1724-1804), filósofo alemão. Em três de suas
obras, Crítica da razão (1781), Crítica da prática (1788), Crítica da faculdade de julgar
(1790), submeteu a razão a um exame criterioso para verificar a possibilidade, o alcance e os
limites da razão como instrumento de acesso ao conhecimento. Daí a sua filosofia ser conhecida
como “criticismo Kantiano”.


Positivismo: verificação e experimentação

A palavra positivismo possui um sentido amplo, podendo designar seja uma teoria que exclua
toda e qualquer negação, toda e qualquer contradição e afirme apenas o positivo, o idêntico seja
uma doutrina que considere como objeto positivo somente os dados dos sentidos. Em seu
sentido mais estrito, a palavra designa a doutrina e a escola fundada por Agusto Comte, no
século XIX. Seu positivismo compreende não só uma teoria da ciência, mas também uma
determinada concepção da história e uma proposta de reforma da sociedade e da religião.


Fenomenologia: a experiência vivida

A fenomenologia é a ciência de essências (“eidética”), de fenômeno, entendido como aquilo que
aparece ou se manifesta em si mesmo, ou seja, como é em si, na sua essência, a uma consciência
que é intencional. Faz-se então necessária a redução eidética, que tem como finalidade purificar
os fenômenos psicológicos de suas características reais ou empíricas, transformando-os em
essências.
A Fenomenologia coloca em evidência o sujeito reflexivo e a experiência vivida. Como filosofia
e método de investigação teve em Edmund Husserl (1859-1938) seu mais importante e
expressivo representante.




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Estruturalismo: o todo é mais do que a soma das partes

O estruturalismo adota uma posição totalizada para o estudo dos fenômenos sociais: não é mais
a parte (o indivíduo) que explica o todo, mas é o todo que deve explicar a parte. Segundo essa
postura epistemológica, os fatos sociais são realidades independentes de outros planos da
existência humana, são solidários e não podem ser estudados individualmente, como fenômenos
isolados. Os fatos sociais devem ser analisados a partir de uma totalidade, como um sistema, e
devem ser vistos em suas relações uns com os outros. Seu principal representante foi Lévi-
Strauss.


Dialética: a superação da contradição

Do grego dia, que expressa a idéia de dualidade, troca, e lektikos, que significa “apto à palavra”,
“capaz de falar”. É a arte de discutir, de dialogar, que implica dualidade de razões, tensão entre
opostos. A dialética se fundamenta em duas proposições básicas:
             Identidade do real e racional: “o que é racional é real e o que real é racional”, na
                medida em que todo real é justificado racionalmente, já que a razão é o
                movimento, é pensamento que se concretiza numa sucessão de idéias, origem
                da realidade e da história;
             A contradição como motor produtor do desenvolvimento do pensamento e da
                história: „o ser e o nada são uma só e mesma coisa”, ou seja, o pensamento é
                dinâmico e se processa através de contradições que são sistematicamente
                superadas e substituídas por novas contradições, resultado de um empate
                permanente entre o ser e o não ser, presentes em cada coisa que existe no
                mundo, entre idéias que se opõem, revelando o caráter processual da própria
                realidade que se manifesta na história.
        Como representantes da Dialética podemos citar Marx, Engels e Japiassu.


                                  O alcance do conhecimento

Um dos grandes desafios do mundo contemporâneo é, ao lado do chamado desenvolvimento
sustentável, a transformação do conhecimento em riqueza, bem como estabelecer padrões de
produção e de consumo que atendam às demandas das populações crescentes em todos os cantos
da Terra, preservando a qualidade de vida e o equilíbrio do meio ambiente no planeta? Esta é,
em resumo, a pergunta que nos põe o assim chamado desafio ecológico. Como transformar
conhecimento em valor econômico e social, ou como agregar valor ao conhecimento?
Responder a essa pergunta é aceitar o segundo desafio acima mencionado e que poderíamos
chamar de desafio tecnológico. Para enfrentar essa tarefa, própria do que também se
convencionou chamar economia ou sociedade do conhecimento, deveríamos estar preparados,
entre outras coisas, para cumprir todo um ciclo de evoluções e de transformações do
conhecimento. Ele vai da pesquisa básica, produzida nas universidades e nas instituições afins,
passa pela pesquisa aplicada e resulta em inovação tecnológica capaz de agregar valor
comercial, isto é, resulta em produto de mercado. Um dos pressupostos essenciais da chamada
sociedade ou economia do conhecimento é, pois, para muito além da capacidade de produção e
de reprodução industriais, a capacidade de gerar conhecimento tecnológico e, por meio dele,
inovar constantemente para um mercado ávido de novidades e nervoso nas exigências de
consumo. Desse modo, aos desafios enunciados logo no início, é preciso acrescentar um outro,
tão urgente de necessidade quanto os outros dois: o de que, no afã do utilitarismo prático de
tudo converter em valor econômico, tal qual um Rei Midas que na lenda tudo transformava em
ouro pelo simples toque, não percamos de vista os fundamentos éticos, estéticos e sociais sobre
os quais se assenta a própria possibilidade do conhecimento e de seus avanços. Verdade, beleza
e bondade, no mínimo, dão ao homem a ilusão de que, por elas, ele escapa da própria escravidão
humana.


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Distorções do conhecimento

A validade de nossos conhecimentos é garantida pela correção do raciocínio. É correto o raciocínio cujas
proposições expressam juízos (afirmações ou negações) válidos, racionalmente fundamentados.
São dois os modos de raciocínio: o indutivo e o dedutivo. O raciocínio indutivo parte de casos
particulares para concluir uma verdade geral, ou universal.
Por exemplo: O ferro conduz eletricidade. O ouro conduz eletricidade. O cobre conduz eletricidade. A
prata conduz eletricidade. Logo, todos os metais conduzem eletricidade.
Observe-se que partiu-se de quatro proposições ou premissas particulares que levaram a uma conclusão
geral.
O raciocínio indutivo é amplamente utilizado pelas ciências experimentais. As leis científicas são
generali-zações feitas a partir da observação de casos particulares, visto ser impossível ao cientista
realizar experiências concretas em todos os casos. Por essa razão, as leis das ciências são muito mais
probabilidades lógicas do que certezas empíricas. A certeza dada pelo raciocínio indutivo aumenta à
medida que o maior número possível de casos particulares seja empiricamente verificado.
O raciocínio dedutivo parte de uma lei universal, considerada válida para um determinado conjunto,
aplicando se aos casos particulares desse conjunto. O que é verdade para um determinado todo é
igualmente verdade para as partes que compõe esse todo.
Exemplo: Todos os homens são mortais. Sócrates é homem. Logo, Sócrates é falível.
A verdade da conclusão do raciocínio dedutivo baseia-se na verdade contida nas proposições ou
premissas. Se as premissas forem verdadeiras, a conclusão será forçosamente verdadeira.
O raciocínio, indutivo ou dedutivo, torna-se válido ou ilegítimo quando a sua argumentação é capar de
persuadir pelo efeito psicológico que causa e não pela sua correção lógica. A esse tipo de raciocínio
chama-mos de sofisma ou falácia.
As falácias, constituem-se em armadilhas intelectuais. Mesmo corretos em sua forma de expressão
(indutiva ou dedutiva), os dados utilizados nesse tipo de argumento são racionalmente duvidosos


                                   A grandeza do conhecimento

                                    “Feliz o homem que acha a sabedoria, e o homem que adquire
                              conhecimento, porque melhor é o lucro que ela dá do que o da prata, e
                              melhor a sua renda do que o ouro mais fino.” (Provérbios 3: 13-14)

O conhecimento transforma a vida do ser humano, levando-o à aprendizagem e à mudança. A valorização
do saber cresce conforme se entende a sua relevância no desenvolvimento. Conhecemos, gostamos e
avançamos. Assim procedemos. Queremos sempre mais. A sociedade, por sua vez, envolvida por este
movimento da busca pelas informações e os seus benefícios, cobra com vigor, a permanente fidelidade
neste tipo de empreendimento. Percebe-se, no entanto, que a obsessão sobre o consumo do conhecimento
toma conta do que apenas deveria permanecer na saudável condição de hábito. Avança-se de forma
extremada numa direção que inevitavelmente nos reconduzirá ao equilíbrio.

O exagero faz parte do desenvolvimento humano, todavia ele deve encontrar o seu meio termo, a fim de
proporcionar o prazer causado pelo conhecimento, e não o pesar que tem imputado àqueles que se
empenham mais em acumulá-lo do que usufruí-lo.Nas palavras de Freud (1856-1939) “Sem
conhecimento não há poder”, entende-se a diferença entre ignorar e saber. Age com maior propriedade
aquele que tem mais informações e sabe manipulá-las. A experiência oferecida pela vida, variando na sua
qualidade, torna-se a prudência pela qual decidimos os constantes dilemas cotidianos.

Tudo se torna conhecimento, então, temos determinado poder sobre a vida conforme acessamos o saber.
Contudo, deve ser somado um novo elemento a este conjunto dinâmico dos acontecimentos humanos: a
humildade. Sem ela, perdemos o controle sobre o equilíbrio necessário de se adquirir e administrar o
conhecimento, além de provocar a decorrente soberba. Na tentativa de se sobrepor aos outros, através do
saber, o homem se julga detentor de uma enorme porção daquilo que desconhece. Triste tentativa. O sábio
Sócrates (470-399 a.C.), com conhecimento acerca dos limites e da imperfeição humana, descreveu: “Só
sei que nada sei”.




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Conhecer é vital, eleger-se o seu detentor é ilusão. Conhecer a falta de conhecimento demonstra
sabedoria. Nos escritos de Carl Sandburg encontra-se: “O homem branco riscou na areia um círculo
pequeno e falou ao pele vermelha: Isto é o que os índios sabem. Depois, riscando um círculo maior em
torno do pequeno, acrescentou: E isto é o que o branco sabe. O selvagem tomou o bastão e traçou um
círculo ainda maior, abrangendo ambos os círculos, e disse: Isto é o que branco e vermelho não sabem”.
Sobre o pedestal do conhecimento, o homem formou a crença de que se encontra impedido de dizer o
simples “não sei” quando questionado acerca de coisas que de fato não sabe. O seu temor reside na idéia
de que será reduzido e perderá o prestígio social. Como se o atleta que tanto se exercita perdesse o seu
porte apenas por não participar de algum campeonato. Vários professores preferem discutir e até desviar
do assunto que não lhes é sabido, no lugar de assumir que não sabem, provocando, assim, a desconfiança
entre os seus alunos, que, a seu turno, permanecessem calados, mesmo diante de tantas dúvidas durante
uma aula.

O ambiente influencia as atitudes. Em outra circunstância, pessoas que ocupam cargos de chefia nas
organizações tendem a manter-se na postura do mais alto saber, entendendo que este procedimento as
sustentará na sua privilegiada posição. Discussões entre colegas da mesma profissão podem resultar em
argumentações descabidas e causar ressentimento na relação. Falta humildade em reconhecer as próprias
limitações. Entender que o desconhecimento de muitas coisas é natural e expressar o não saber abre
espaço para a formação de novos saberes, além de estimular os outros a compartilhar de tal fato também.

A grandeza do conhecimento está na sua simplicidade: adquirir e transformar-se em sabedoria, para si
próprio e para os outros. Um monge, de nome Beda, descreveu três caminhos para a infelicidade ou o
fracasso: não ensinar o que sabe, não praticar o que ensina e não perguntar o que ignora. É preciso
primeiro aceitar que não sabemos, para em seguida, conquistar o conhecimento. Será que admitimos o
fato de que pouco conhecemos?

Autor
Armando Correa de Siqueira Neto



                                       Nossa marca no mundo


    Visando a satisfação da curiosidade racional, a segurança psicológica e a necessidade de transformar o
meio, as várias gerações de homens coletaram características e propriedades dos objetos que compõem
nossa realidade, deixando sua marca interpretativa do mundo. Foram técnicos, operários e artesãos que
ousaram improvisar e utilizar novas formas de colocar a realidade do universo a serviço do homem,
criando, testando e aperfeiçoando instrumentos que facilitam a vida da humanidade. Foram cientistas que
se debruçaram sobre a realidade para descobrir como ela funciona. Os cientistas nos ensinaram que a
possibilidade de conhecer e utilizar a realidade é concreta, requerendo esforço e métodos apropriados.
Foram filósofos que tentaram ir além de nossa experiência imediata de mundo, para descobrir o que é, de
fato, a realidade e qual o sentido da existência do ser humano. Os filósofos nos ensinaram o poder do
conhecimento e das idéias e a importância do pensamento coerente e produtivo.
        Como resultado dessa marca interpretativa, temos sociedades organizadas em diferentes
 instituições, leis e normas morais estabelecidas, programas de ensino e produção já implantados,
 religiões e credos estruturados. Enfim, um mundo pronto para uso e consumo. Mas será que isso nos
 dispensa de pensar e conhecer, entendendo e transformando a realidade?
        Não. Se apenas usamos o já pensado e definido, estamos aceitando um mundo de "segunda mão",
 o mundo dos outros.
        São inúmeras as pessoas que jamais se preocuparam com um fato terrível: suas vidas consistem na
 aceitação passiva de explicações já prontas, ofertadas pelas várias ideologias do meio social. Se apenas
 aceitamos as fórmulas prontas, estamos nos alienando e dando a outros o direito de pensar por nós. Ao
 nos acomodarmos e reproduzirmos o que nos mandam, estamos nos adaptando, admitindo o já pronto
 como melhor possível e renunciando à nossa capacidade de transformação.
        A indiferença perante o processo do mundo equivale à ignorância. Do ignorante e do indiferente,
 os "senhores da verdade" esperam apenas que sejam como o porco, a hiena e o canguru: um come, bebe
 e dorme; o outro sorri afavelmente na sociedade; e o terceiro junta as mãos em súplica...



                                                                                                        6
Quem julga que conhecemos tudo e que o conhecemos perfeitamente e que somos capazes de
 comunicar tudo o que conhecemos, comete um exagero não menor e não menos falso que o dos
 céticos.(filosofia do não ligar para a realidade – “To nem aí!”)
 A verdade é que nas questões filosóficas nada é simples. Toda solução simples é uma solução falsa.
 E em geral é uma solução preguiçosa – como é o ceticismo que nos livra de todo o dever de investigação
 longa e árdua, porque para ele nada há para investigar.
 A Realidade é terrivelmente complexa, e a verdade sobre ela também deve ser terrivelmente complexa.
 Só por um trabalho longo e árduo pode o homem apropriar-se de uma parte dela, não muito, mas sempre
 alguma coisa.”
                                                                                          J. M. Bochenski
    Texto do livro: “Para Filosofar” Conhecer ou não Conhecer, eis a diferença; págs. 34 e 35 Ed.
Scipione.
    Exercício: 1- Qual é a importância do conhecimento para a sociedade?
                 2- Analise: a- “O que produzo demonstra o que conheço.”
                 b- Na sociedade atual o conhecimento se reduz mais às escolas e universidades.
                3- Afinal de contas: Pra que estudar?
                 4- Avaliando como você estuda hoje, ou seja busca o conhecimento para ser alguém,
         imagine como será a satisfação das pessoas que, daqui alguns anos, serão servidas por
                 você .. .
                   5- Que tipo de conhecimento você já domina, que te dá segurança em decidir em
                    situações difíceis? A) Indique a situação. B) Demonstre como a resolve e que tipo de
                    conhecimento você precisa.


        Estudo Errado - Gabriel O Pensador

        Eu tô aqui Pra quê?
        Será que é pra aprender?
        Ou será que é pra aceitar, me acomodar e obedecer?


        Tô tentando passar de ano pro meu pai não me bater!
        Sem recreio, de saco cheio porque eu não fiz o dever.
        A professora já tá de marcação porque sempre me pega
        Disfarçando, espiando, colando toda prova dos colegas
        E ela esfrega na minha cara um zero bem redondo.
        E quando chega o boletim lá em casa eu me escondo
        Eu quero jogar botão, vídeo-game, bola de gude.
        Mas meus pais só querem que eu "vá pra aula!" e "estude!"
        Então dessa vez eu vou estudar até decorar, cumpádi
        Pra me dar bem e minha mãe deixar ficar acordado até mais tarde
        Ou quem sabe aumentar minha mesada
        Pra eu comprar mais revistinha (do Cascão?)
        Não. De mulher pelada
        A diversão é limitada e o meu pai não tem tempo pra nada.
        E a entrada no cinema é censurada (vai pra casa pirralhada!)
        A rua é perigosa então eu vejo televisão
        (Tá lá mais um corpo estendido no chão)
        Na hora do jornal eu desligo porque eu nem sei nem o que é inflação
        - Ué não te ensinaram?
        - Não. A maioria das matérias que eles dão eu acho inútil
        Em vão, pouco interessantes, eu fico pu..
        Tô cansado de estudar, de madrugar, que sacrilégio (Vai pro colégio!!)
        Então eu fui relendo tudo até a prova começar, voltei louco pra contar:

        Manhê! Tirei um dez na prova.
        Me dei bem tirei um cem e eu quero ver quem me reprova!
        Decorei toda lição, não errei nenhuma questão.
        Não aprendi nada de bom
        Mas tirei dez (boa filhão!)


                                                                                                       7
Quase tudo que aprendi, amanhã eu já esqueci
       Decorei, copiei, memorizei, mas não entendi
       Quase tudo que aprendi, amanhã eu já esqueci
       Decorei, copiei, memorizei, mas não entendi
       Decoreba: esse é o método de ensino


       Eles me tratam como ameba e assim eu num raciocino,
       Não aprendo as causas e conseqüências só decoro os fatos.
       Desse jeito até história fica chato
       Mas os velhos me disseram que o "porque" é o segredo.
       Então quando eu num entendo nada, eu levanto o dedo
       Porque eu quero usar a mente pra ficar inteligente.
       Eu sei que ainda num sou gente grande, mas eu já sou gente!


       E sei que o estudo é uma coisa boa
       O problema é que sem motivação a gente enjoa!
       O sistema bota um monte de abobrinha no programa
       Mas pra aprender a ser um ingonorante (...)
       Ah, um ignorante, por mim eu nem saía da minha cama (Ah, deixa eu dormir)
       Eu gosto dos professores e eu preciso de um mestre
       Mas eu prefiro que eles me ensinem alguma coisa que preste.
       - O que é corrupção? Pra que serve um deputado?
       Não me diga que o Brasil foi descoberto por acaso!
       Ou que a minhoca é hermafrodita, ou sobre a tênia solitária.
       Não me faça decorar as capitanias hereditárias!! (...)
       Vamos fugir dessa jaula!


       "Hoje eu tô feliz" (matou o presidente?) Não. A aula
       Matei a aula porque num dava. Eu não agüentava mais!
       E fui escutar o Pensador escondido dos meus pais
       Mas se eles fossem da minha idade eles entenderiam
       (Esse num é o valor que um aluno merecia!)
       Íííh... Sujô (Hein?) O inspetor! (Acabou a farra, já pra sala do coordenador!)
       Achei que ia ser suspenso, mas era só pra conversar
       E me disseram que a escola era meu segundo lar
       E é verdade, eu aprendo muita coisa realmente
       Faço amigos, conheço gente, mas não quero estudar pra sempre!
       Então eu vou passar de ano. Não tenho outra saída.
       Mas o ideal é que a escola me prepare pra vida,
       Discutindo e ensinando os problemas atuais.
       E não me dando as mesmas aulas que eles deram pros meus pais,
       Com matérias das quais eles não lembram mais nada
       E quando eu tiro dez é sempre a mesma palhaçada

       Encarem as crianças com mais seriedade,
       Pois na escola é onde formamos nossa personalidade
       Vocês tratam a educação como um negócio onde a ganância,
       a exploração e a indiferença são sócios.
       Quem devia lucrar só é prejudicado.
       Assim cês vão criar uma geração de revoltados.
       Tá tudo errado, e eu já tou de saco cheio!
       Agora me dá minha bola e deixa eu ir embora pro recreio...


Referências




                                                                                        8
ARANHA, M. L. A e MARTINS, M.H. P. Filosofando. Introdução à Filosofia. São Paulo: Ed. Moderna.
1993.
GAARDEN, Jostein. O Mundo de Sofia. São Paulo, Cia. das Letras, 4 ed., 1995.
CHAUI, M. Convite ao Filosofar. São Paulo: Ed. Ática, 1997.
GAARDER, Jostein. O que é Filosofia. In: O Mundo de Sofia. Companhia das Letras.
GILES, THOMAS. Introdução à filosofia. São Paulo: EPU/Edusp, 1979.




                                                                                             9

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Filosofia 2º bimestre -1ª série - o conhecimento

  • 1. 1ª Série – 2º Bimestre - Eixo Temático: O Conhecimento “Todos os homens têm, por natureza, o desejo de conhecer.” Aristóteles, Metafísica Sujeito e objeto do conhecimento O conhecimento é uma compreensão inteligível da realidade, que o sujeito humano adquire através de sua confrontação com essa realidade. O seja, a realidade exterior adquire, no interior do Sr humano, uma forma abstrata pensada, que lhe permite saber e dizer o que essa realidade é. A realidade exterior se faz presente no interior do sujeito do pensamento. A realidade, através do conhecimento deixa ser uma incógnita, uma coisa opaca, para se tornar algo compreendido, translúcido. (LUCKESI, 1990) Todo conhecimento pressupõe a relação entre dois elementos: o sujeito que quer conhecer e o objeto a ser conhecido. O conhecimento é o ato, o processo pelo qual o sujeito se coloca no mundo e, com ele, estabelece uma ligação. O mundo é o que torna possível o conhecimento ao se oferecer a um sujeito apto a conhecê-lo. Só há saber para o sujeito cognoscente se houver se houver um mundo a conhecer, mundo este do qual ele é parte, uma vez que o próprio sujeito pode ser objeto de conhecimento. Dá-se o nome de conhecimento ao saber acumulado pelo homem através das gerações. Nessa concepção o conhecimento é visto como produto da relação sujeito-objeto, produto que pode ser transmitido. A relação de conhecimento implica uma transformação tanto do sujeito quanto do objeto. O sujeito se transforma mediante o novo saber, e o objeto se transforma, pois o conhecimento lhe dá sentido. Tipos de Conhecimento Humano No processo de apreensão da realidade do objeto, o sujeito cognoscente pode penetrar em todas as esferas do conhecimento: ao estudar o homem, por exemplo, pode-se tirar uma série de conclusões sobre a sua atuação na sociedade, baseada no senso comum ou na experiência cotidiana; pode-se analisá-lo como um ser biológico, verificando através de investigação experimental, as relações existentes entre determinados órgãos e suas funções; pode-se questioná-lo quanto à sua origem e destino, assim como quanto à sua liberdade; finalmente, pode-se observá-lo como ser criado pela divindade, à sua imagem e semelhança, e meditar sobre o que dele dizem os textos sagrados. Conhecer é uma relação que se estabelece entre o sujeito que conhece e o objeto a ser conhecido. No processo de conhecimento o sujeito cognoscente se apropria, de certo modo, do objeto conhecido. Se a apropriação é física, sensível, como por exemplo, a representação de uma onda luminosa, o que acarreta uma modificação de um órgão corporal do sujeito cognoscente, tem-se um conhecimento sensível. Se a representação não é sensível, o que ocorre com realidades, tais como conceitos, verdades, princípios e leis, tem-se um conhecimento intelectual. Conhecimento Empírico: Também chamado de vulgar ou de senso comum, é o conhecimento do povo, obtido ao acaso, após ensaios e tentativas que resultam em erros e em acertos. É ametódico e assistemático. Cada qual se serve da experiência do outro ora ensinado, ora aprendendo, em um intenso processo de interação humana e social. Pela vivência coletiva os conhecimentos são transmitidos de uma pessoa à outra, de uma geração à outra. 1
  • 2. Conhecimento Científico: O conhecimento científico vai além do empírico, procurando conhecer, além do fenômeno, suas causas e leis. A ciência, até a Renascença, era como um sistema de proposições rigorosamente demonstradas, constantes e gerais que expressavam as relações existentes entre seres, fatos e fenômenos da experiência. Nesta época o conhecimento científico tinha como características ser: certo, geral, metódico e sistemático, objetividade, interesse intelectual e espírito crítico. A ciência era o resultado da demonstração e da experimentação, só aceitando o que fosse provado. Hoje a concepção de ciência é outra. A ciência não é considerada como algo pronto e acabado ou definitivo. Não é a posse de verdades imutáveis. É entendida como uma busca constante de explicações e de soluções, de revisão e de reavaliação de seus processos, apesar de sua falibilidade e de seus limites. Nessa busca sempre mais rigorosa, a ciência pretende aproximar-se cada vez mais da verdade através de métodos que propiciem controle, sistematização, revisão e segurança maior do que possuem outras formas de saber não- científicas. A Ciência é um processo em constante construção. Conhecimento Filosófico: O conhecimento filosófico distingue-se do conhecimento científico pelo objeto de investigação e pelo método. O objeto das ciências são os dados próximos, imediatos, perceptíveis pelos sentidos ou por instrumentos, pois sendo de ordem material e física, são por isso, suscetíveis de experimentação. O objeto da filosofia é constituído de realidades mediatas, imperceptíveis aos sentidos e que, por serem de ordem supra-sensível, ultrapassam a experiência. O filosofar é um interrogar é um contínuo questionar a si mesmo e à realidade. A filosofia não é algo feito, acabado, é uma busca constante do sentido, de justificação, de possibilidades, de interpretações a respeito de tudo aquilo que envolve o ser humano e sobre o próprio ser em sua existência concreta. A tarefa fundamental da filosofia resume-se na REFLEXÃO. Conhecimento Teológico: Duas são as atitudes que se podem tomar diante do mistério.  Penetrar nele com o esforço pessoal da inteligência, mediante a reflexão e o auxílio de instrumento, procura-ser obter um procedimento que seja científico ou filosófico.  Ou aceitar explicações de alguém que já tenha desvendado o mistério e implica sempre uma atitude de fé diante de um conhecimento revelado. Esse conhecimento revelado ocorre quando há algo oculto ou um mistério, alguém que o manifesta e alguém que pretende conhecê-lo. Aquele que manifesta o oculto é o revelador, pode ser o próprio homem ou Deus. Principais Teorias do Conhecimento “Cogito, ergo sum.” (Penso, logo existo.) René Decartes A necessidade de entendimento do processo de conhecimento humano não é recente. Os filósofos gregos tinham como objeto de suas especulações o significado e as condições necessárias para a efetivação do ato de conhecer. No entanto, essas reflexões revestiram-se de um caráter puramente ontológico: buscava-se a essência do ser. A teoria do conhecimento propriamente dita teve início na Idade Moderna, no século XVII, com a revolução científica empreendida por Galileu e outros cientistas que, ao criarem um novo modelo de investigação do mundo fenomenal e ao redefinirem o papel das ciências particulares, despertaram nos filósofos uma preocupação com os fundamentos, as possibilidades, os limites e 2
  • 3. o alcance do conhecimento humano e uma certa reserva contra os argumentos de autoridade, que prevaleceram durante a Idade Medieval. Filósofos como Decartes, Bacon, Leibniz, Espinoza, Locke, Berkeley e Hume são autores da revolução epistemológica, que tem origem na Idade Moderna, e responsáveis pelo surgimento de duas grandes correntes que traduzem o sentido dos novos tempos: o racionalismo e o empirismo. Para o racionalismo (do latim ratio, “razão”) a origem do conhecimento se encontra na razão, instrumento único e exclusivo capaz de conhecer a verdade. Para o empirismo (do grego empeiria, “experiência”) a mente humana é uma folha de papel em branco preenchida exclusivamente com dados provindos da experiência sensível, externa ou interna. O racionalismo fundamenta a teoria do conhecimento na supervalorização da razão como o único instrumento capaz de atingir a verdades universais, sobre as quais se assentam as bases de uma ciência pretensamente infalível. Já o empirismo fundamenta a teoria do conhecimento na experiência, supervalorizando os sentidos e relativizando as operações subsequentes da razão, na busca da verdade, cujo caráter universal e absoluto é questionado. Os empiristas tem na realidade concreta e visível os subsídios para construção do verdadeiro conhecimento. Iluminismo: A razão que tudo ilumina A crença no poder ilimitado da razão, que marcou o pensamento moderno, atingiu o seu apogeu com iluminismo, no século XVIII, também conhecido por Século das Luzes. Como próprio nome sugere somente as “luzes” da razão natural, seria capaz de indicar e “iluminar” o caminho de acesso para se atingir a verdadeira sabedoria. O uso da razão era considerado indispensável para o conhecimento e compreensão dos fenômenos naturais e sociais. Um dos principais represente do iluminismo foi Immanuel Kant (1724-1804), filósofo alemão. Em três de suas obras, Crítica da razão (1781), Crítica da prática (1788), Crítica da faculdade de julgar (1790), submeteu a razão a um exame criterioso para verificar a possibilidade, o alcance e os limites da razão como instrumento de acesso ao conhecimento. Daí a sua filosofia ser conhecida como “criticismo Kantiano”. Positivismo: verificação e experimentação A palavra positivismo possui um sentido amplo, podendo designar seja uma teoria que exclua toda e qualquer negação, toda e qualquer contradição e afirme apenas o positivo, o idêntico seja uma doutrina que considere como objeto positivo somente os dados dos sentidos. Em seu sentido mais estrito, a palavra designa a doutrina e a escola fundada por Agusto Comte, no século XIX. Seu positivismo compreende não só uma teoria da ciência, mas também uma determinada concepção da história e uma proposta de reforma da sociedade e da religião. Fenomenologia: a experiência vivida A fenomenologia é a ciência de essências (“eidética”), de fenômeno, entendido como aquilo que aparece ou se manifesta em si mesmo, ou seja, como é em si, na sua essência, a uma consciência que é intencional. Faz-se então necessária a redução eidética, que tem como finalidade purificar os fenômenos psicológicos de suas características reais ou empíricas, transformando-os em essências. A Fenomenologia coloca em evidência o sujeito reflexivo e a experiência vivida. Como filosofia e método de investigação teve em Edmund Husserl (1859-1938) seu mais importante e expressivo representante. 3
  • 4. Estruturalismo: o todo é mais do que a soma das partes O estruturalismo adota uma posição totalizada para o estudo dos fenômenos sociais: não é mais a parte (o indivíduo) que explica o todo, mas é o todo que deve explicar a parte. Segundo essa postura epistemológica, os fatos sociais são realidades independentes de outros planos da existência humana, são solidários e não podem ser estudados individualmente, como fenômenos isolados. Os fatos sociais devem ser analisados a partir de uma totalidade, como um sistema, e devem ser vistos em suas relações uns com os outros. Seu principal representante foi Lévi- Strauss. Dialética: a superação da contradição Do grego dia, que expressa a idéia de dualidade, troca, e lektikos, que significa “apto à palavra”, “capaz de falar”. É a arte de discutir, de dialogar, que implica dualidade de razões, tensão entre opostos. A dialética se fundamenta em duas proposições básicas:  Identidade do real e racional: “o que é racional é real e o que real é racional”, na medida em que todo real é justificado racionalmente, já que a razão é o movimento, é pensamento que se concretiza numa sucessão de idéias, origem da realidade e da história;  A contradição como motor produtor do desenvolvimento do pensamento e da história: „o ser e o nada são uma só e mesma coisa”, ou seja, o pensamento é dinâmico e se processa através de contradições que são sistematicamente superadas e substituídas por novas contradições, resultado de um empate permanente entre o ser e o não ser, presentes em cada coisa que existe no mundo, entre idéias que se opõem, revelando o caráter processual da própria realidade que se manifesta na história. Como representantes da Dialética podemos citar Marx, Engels e Japiassu. O alcance do conhecimento Um dos grandes desafios do mundo contemporâneo é, ao lado do chamado desenvolvimento sustentável, a transformação do conhecimento em riqueza, bem como estabelecer padrões de produção e de consumo que atendam às demandas das populações crescentes em todos os cantos da Terra, preservando a qualidade de vida e o equilíbrio do meio ambiente no planeta? Esta é, em resumo, a pergunta que nos põe o assim chamado desafio ecológico. Como transformar conhecimento em valor econômico e social, ou como agregar valor ao conhecimento? Responder a essa pergunta é aceitar o segundo desafio acima mencionado e que poderíamos chamar de desafio tecnológico. Para enfrentar essa tarefa, própria do que também se convencionou chamar economia ou sociedade do conhecimento, deveríamos estar preparados, entre outras coisas, para cumprir todo um ciclo de evoluções e de transformações do conhecimento. Ele vai da pesquisa básica, produzida nas universidades e nas instituições afins, passa pela pesquisa aplicada e resulta em inovação tecnológica capaz de agregar valor comercial, isto é, resulta em produto de mercado. Um dos pressupostos essenciais da chamada sociedade ou economia do conhecimento é, pois, para muito além da capacidade de produção e de reprodução industriais, a capacidade de gerar conhecimento tecnológico e, por meio dele, inovar constantemente para um mercado ávido de novidades e nervoso nas exigências de consumo. Desse modo, aos desafios enunciados logo no início, é preciso acrescentar um outro, tão urgente de necessidade quanto os outros dois: o de que, no afã do utilitarismo prático de tudo converter em valor econômico, tal qual um Rei Midas que na lenda tudo transformava em ouro pelo simples toque, não percamos de vista os fundamentos éticos, estéticos e sociais sobre os quais se assenta a própria possibilidade do conhecimento e de seus avanços. Verdade, beleza e bondade, no mínimo, dão ao homem a ilusão de que, por elas, ele escapa da própria escravidão humana. 4
  • 5. Distorções do conhecimento A validade de nossos conhecimentos é garantida pela correção do raciocínio. É correto o raciocínio cujas proposições expressam juízos (afirmações ou negações) válidos, racionalmente fundamentados. São dois os modos de raciocínio: o indutivo e o dedutivo. O raciocínio indutivo parte de casos particulares para concluir uma verdade geral, ou universal. Por exemplo: O ferro conduz eletricidade. O ouro conduz eletricidade. O cobre conduz eletricidade. A prata conduz eletricidade. Logo, todos os metais conduzem eletricidade. Observe-se que partiu-se de quatro proposições ou premissas particulares que levaram a uma conclusão geral. O raciocínio indutivo é amplamente utilizado pelas ciências experimentais. As leis científicas são generali-zações feitas a partir da observação de casos particulares, visto ser impossível ao cientista realizar experiências concretas em todos os casos. Por essa razão, as leis das ciências são muito mais probabilidades lógicas do que certezas empíricas. A certeza dada pelo raciocínio indutivo aumenta à medida que o maior número possível de casos particulares seja empiricamente verificado. O raciocínio dedutivo parte de uma lei universal, considerada válida para um determinado conjunto, aplicando se aos casos particulares desse conjunto. O que é verdade para um determinado todo é igualmente verdade para as partes que compõe esse todo. Exemplo: Todos os homens são mortais. Sócrates é homem. Logo, Sócrates é falível. A verdade da conclusão do raciocínio dedutivo baseia-se na verdade contida nas proposições ou premissas. Se as premissas forem verdadeiras, a conclusão será forçosamente verdadeira. O raciocínio, indutivo ou dedutivo, torna-se válido ou ilegítimo quando a sua argumentação é capar de persuadir pelo efeito psicológico que causa e não pela sua correção lógica. A esse tipo de raciocínio chama-mos de sofisma ou falácia. As falácias, constituem-se em armadilhas intelectuais. Mesmo corretos em sua forma de expressão (indutiva ou dedutiva), os dados utilizados nesse tipo de argumento são racionalmente duvidosos A grandeza do conhecimento “Feliz o homem que acha a sabedoria, e o homem que adquire conhecimento, porque melhor é o lucro que ela dá do que o da prata, e melhor a sua renda do que o ouro mais fino.” (Provérbios 3: 13-14) O conhecimento transforma a vida do ser humano, levando-o à aprendizagem e à mudança. A valorização do saber cresce conforme se entende a sua relevância no desenvolvimento. Conhecemos, gostamos e avançamos. Assim procedemos. Queremos sempre mais. A sociedade, por sua vez, envolvida por este movimento da busca pelas informações e os seus benefícios, cobra com vigor, a permanente fidelidade neste tipo de empreendimento. Percebe-se, no entanto, que a obsessão sobre o consumo do conhecimento toma conta do que apenas deveria permanecer na saudável condição de hábito. Avança-se de forma extremada numa direção que inevitavelmente nos reconduzirá ao equilíbrio. O exagero faz parte do desenvolvimento humano, todavia ele deve encontrar o seu meio termo, a fim de proporcionar o prazer causado pelo conhecimento, e não o pesar que tem imputado àqueles que se empenham mais em acumulá-lo do que usufruí-lo.Nas palavras de Freud (1856-1939) “Sem conhecimento não há poder”, entende-se a diferença entre ignorar e saber. Age com maior propriedade aquele que tem mais informações e sabe manipulá-las. A experiência oferecida pela vida, variando na sua qualidade, torna-se a prudência pela qual decidimos os constantes dilemas cotidianos. Tudo se torna conhecimento, então, temos determinado poder sobre a vida conforme acessamos o saber. Contudo, deve ser somado um novo elemento a este conjunto dinâmico dos acontecimentos humanos: a humildade. Sem ela, perdemos o controle sobre o equilíbrio necessário de se adquirir e administrar o conhecimento, além de provocar a decorrente soberba. Na tentativa de se sobrepor aos outros, através do saber, o homem se julga detentor de uma enorme porção daquilo que desconhece. Triste tentativa. O sábio Sócrates (470-399 a.C.), com conhecimento acerca dos limites e da imperfeição humana, descreveu: “Só sei que nada sei”. 5
  • 6. Conhecer é vital, eleger-se o seu detentor é ilusão. Conhecer a falta de conhecimento demonstra sabedoria. Nos escritos de Carl Sandburg encontra-se: “O homem branco riscou na areia um círculo pequeno e falou ao pele vermelha: Isto é o que os índios sabem. Depois, riscando um círculo maior em torno do pequeno, acrescentou: E isto é o que o branco sabe. O selvagem tomou o bastão e traçou um círculo ainda maior, abrangendo ambos os círculos, e disse: Isto é o que branco e vermelho não sabem”. Sobre o pedestal do conhecimento, o homem formou a crença de que se encontra impedido de dizer o simples “não sei” quando questionado acerca de coisas que de fato não sabe. O seu temor reside na idéia de que será reduzido e perderá o prestígio social. Como se o atleta que tanto se exercita perdesse o seu porte apenas por não participar de algum campeonato. Vários professores preferem discutir e até desviar do assunto que não lhes é sabido, no lugar de assumir que não sabem, provocando, assim, a desconfiança entre os seus alunos, que, a seu turno, permanecessem calados, mesmo diante de tantas dúvidas durante uma aula. O ambiente influencia as atitudes. Em outra circunstância, pessoas que ocupam cargos de chefia nas organizações tendem a manter-se na postura do mais alto saber, entendendo que este procedimento as sustentará na sua privilegiada posição. Discussões entre colegas da mesma profissão podem resultar em argumentações descabidas e causar ressentimento na relação. Falta humildade em reconhecer as próprias limitações. Entender que o desconhecimento de muitas coisas é natural e expressar o não saber abre espaço para a formação de novos saberes, além de estimular os outros a compartilhar de tal fato também. A grandeza do conhecimento está na sua simplicidade: adquirir e transformar-se em sabedoria, para si próprio e para os outros. Um monge, de nome Beda, descreveu três caminhos para a infelicidade ou o fracasso: não ensinar o que sabe, não praticar o que ensina e não perguntar o que ignora. É preciso primeiro aceitar que não sabemos, para em seguida, conquistar o conhecimento. Será que admitimos o fato de que pouco conhecemos? Autor Armando Correa de Siqueira Neto Nossa marca no mundo Visando a satisfação da curiosidade racional, a segurança psicológica e a necessidade de transformar o meio, as várias gerações de homens coletaram características e propriedades dos objetos que compõem nossa realidade, deixando sua marca interpretativa do mundo. Foram técnicos, operários e artesãos que ousaram improvisar e utilizar novas formas de colocar a realidade do universo a serviço do homem, criando, testando e aperfeiçoando instrumentos que facilitam a vida da humanidade. Foram cientistas que se debruçaram sobre a realidade para descobrir como ela funciona. Os cientistas nos ensinaram que a possibilidade de conhecer e utilizar a realidade é concreta, requerendo esforço e métodos apropriados. Foram filósofos que tentaram ir além de nossa experiência imediata de mundo, para descobrir o que é, de fato, a realidade e qual o sentido da existência do ser humano. Os filósofos nos ensinaram o poder do conhecimento e das idéias e a importância do pensamento coerente e produtivo. Como resultado dessa marca interpretativa, temos sociedades organizadas em diferentes instituições, leis e normas morais estabelecidas, programas de ensino e produção já implantados, religiões e credos estruturados. Enfim, um mundo pronto para uso e consumo. Mas será que isso nos dispensa de pensar e conhecer, entendendo e transformando a realidade? Não. Se apenas usamos o já pensado e definido, estamos aceitando um mundo de "segunda mão", o mundo dos outros. São inúmeras as pessoas que jamais se preocuparam com um fato terrível: suas vidas consistem na aceitação passiva de explicações já prontas, ofertadas pelas várias ideologias do meio social. Se apenas aceitamos as fórmulas prontas, estamos nos alienando e dando a outros o direito de pensar por nós. Ao nos acomodarmos e reproduzirmos o que nos mandam, estamos nos adaptando, admitindo o já pronto como melhor possível e renunciando à nossa capacidade de transformação. A indiferença perante o processo do mundo equivale à ignorância. Do ignorante e do indiferente, os "senhores da verdade" esperam apenas que sejam como o porco, a hiena e o canguru: um come, bebe e dorme; o outro sorri afavelmente na sociedade; e o terceiro junta as mãos em súplica... 6
  • 7. Quem julga que conhecemos tudo e que o conhecemos perfeitamente e que somos capazes de comunicar tudo o que conhecemos, comete um exagero não menor e não menos falso que o dos céticos.(filosofia do não ligar para a realidade – “To nem aí!”) A verdade é que nas questões filosóficas nada é simples. Toda solução simples é uma solução falsa. E em geral é uma solução preguiçosa – como é o ceticismo que nos livra de todo o dever de investigação longa e árdua, porque para ele nada há para investigar. A Realidade é terrivelmente complexa, e a verdade sobre ela também deve ser terrivelmente complexa. Só por um trabalho longo e árduo pode o homem apropriar-se de uma parte dela, não muito, mas sempre alguma coisa.” J. M. Bochenski Texto do livro: “Para Filosofar” Conhecer ou não Conhecer, eis a diferença; págs. 34 e 35 Ed. Scipione. Exercício: 1- Qual é a importância do conhecimento para a sociedade? 2- Analise: a- “O que produzo demonstra o que conheço.” b- Na sociedade atual o conhecimento se reduz mais às escolas e universidades. 3- Afinal de contas: Pra que estudar? 4- Avaliando como você estuda hoje, ou seja busca o conhecimento para ser alguém, imagine como será a satisfação das pessoas que, daqui alguns anos, serão servidas por você .. . 5- Que tipo de conhecimento você já domina, que te dá segurança em decidir em situações difíceis? A) Indique a situação. B) Demonstre como a resolve e que tipo de conhecimento você precisa. Estudo Errado - Gabriel O Pensador Eu tô aqui Pra quê? Será que é pra aprender? Ou será que é pra aceitar, me acomodar e obedecer? Tô tentando passar de ano pro meu pai não me bater! Sem recreio, de saco cheio porque eu não fiz o dever. A professora já tá de marcação porque sempre me pega Disfarçando, espiando, colando toda prova dos colegas E ela esfrega na minha cara um zero bem redondo. E quando chega o boletim lá em casa eu me escondo Eu quero jogar botão, vídeo-game, bola de gude. Mas meus pais só querem que eu "vá pra aula!" e "estude!" Então dessa vez eu vou estudar até decorar, cumpádi Pra me dar bem e minha mãe deixar ficar acordado até mais tarde Ou quem sabe aumentar minha mesada Pra eu comprar mais revistinha (do Cascão?) Não. De mulher pelada A diversão é limitada e o meu pai não tem tempo pra nada. E a entrada no cinema é censurada (vai pra casa pirralhada!) A rua é perigosa então eu vejo televisão (Tá lá mais um corpo estendido no chão) Na hora do jornal eu desligo porque eu nem sei nem o que é inflação - Ué não te ensinaram? - Não. A maioria das matérias que eles dão eu acho inútil Em vão, pouco interessantes, eu fico pu.. Tô cansado de estudar, de madrugar, que sacrilégio (Vai pro colégio!!) Então eu fui relendo tudo até a prova começar, voltei louco pra contar: Manhê! Tirei um dez na prova. Me dei bem tirei um cem e eu quero ver quem me reprova! Decorei toda lição, não errei nenhuma questão. Não aprendi nada de bom Mas tirei dez (boa filhão!) 7
  • 8. Quase tudo que aprendi, amanhã eu já esqueci Decorei, copiei, memorizei, mas não entendi Quase tudo que aprendi, amanhã eu já esqueci Decorei, copiei, memorizei, mas não entendi Decoreba: esse é o método de ensino Eles me tratam como ameba e assim eu num raciocino, Não aprendo as causas e conseqüências só decoro os fatos. Desse jeito até história fica chato Mas os velhos me disseram que o "porque" é o segredo. Então quando eu num entendo nada, eu levanto o dedo Porque eu quero usar a mente pra ficar inteligente. Eu sei que ainda num sou gente grande, mas eu já sou gente! E sei que o estudo é uma coisa boa O problema é que sem motivação a gente enjoa! O sistema bota um monte de abobrinha no programa Mas pra aprender a ser um ingonorante (...) Ah, um ignorante, por mim eu nem saía da minha cama (Ah, deixa eu dormir) Eu gosto dos professores e eu preciso de um mestre Mas eu prefiro que eles me ensinem alguma coisa que preste. - O que é corrupção? Pra que serve um deputado? Não me diga que o Brasil foi descoberto por acaso! Ou que a minhoca é hermafrodita, ou sobre a tênia solitária. Não me faça decorar as capitanias hereditárias!! (...) Vamos fugir dessa jaula! "Hoje eu tô feliz" (matou o presidente?) Não. A aula Matei a aula porque num dava. Eu não agüentava mais! E fui escutar o Pensador escondido dos meus pais Mas se eles fossem da minha idade eles entenderiam (Esse num é o valor que um aluno merecia!) Íííh... Sujô (Hein?) O inspetor! (Acabou a farra, já pra sala do coordenador!) Achei que ia ser suspenso, mas era só pra conversar E me disseram que a escola era meu segundo lar E é verdade, eu aprendo muita coisa realmente Faço amigos, conheço gente, mas não quero estudar pra sempre! Então eu vou passar de ano. Não tenho outra saída. Mas o ideal é que a escola me prepare pra vida, Discutindo e ensinando os problemas atuais. E não me dando as mesmas aulas que eles deram pros meus pais, Com matérias das quais eles não lembram mais nada E quando eu tiro dez é sempre a mesma palhaçada Encarem as crianças com mais seriedade, Pois na escola é onde formamos nossa personalidade Vocês tratam a educação como um negócio onde a ganância, a exploração e a indiferença são sócios. Quem devia lucrar só é prejudicado. Assim cês vão criar uma geração de revoltados. Tá tudo errado, e eu já tou de saco cheio! Agora me dá minha bola e deixa eu ir embora pro recreio... Referências 8
  • 9. ARANHA, M. L. A e MARTINS, M.H. P. Filosofando. Introdução à Filosofia. São Paulo: Ed. Moderna. 1993. GAARDEN, Jostein. O Mundo de Sofia. São Paulo, Cia. das Letras, 4 ed., 1995. CHAUI, M. Convite ao Filosofar. São Paulo: Ed. Ática, 1997. GAARDER, Jostein. O que é Filosofia. In: O Mundo de Sofia. Companhia das Letras. GILES, THOMAS. Introdução à filosofia. São Paulo: EPU/Edusp, 1979. 9