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62  z  abril DE 2013
tecnologia  Biotecnologia y
ilustrações Abiuro 
Medicamento anti-HIV é obtido de soja transgênica
Remédio
na planta
na de regulação de medicamentos e alimentos,
aprovou para uso comercial o primeiro fármaco
produzido com engenharia genética em células
de plantas para seres humanos. O princípio ati-
vo é a proteína taliglucerase alfa, produzida em
células de cenoura transgênica para tratamento
da doença de Gaucher, uma enfermidade gené-
tica e rara provocada pela falta no organismo
da glucocerebrosidase, uma enzima atuante no
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desenvolvido e produzido pela empresa israe-
lense Protalix, e distribuído em parceria com a
norte-americana Pfizer, foi também aprovado em
Israel e no Brasil, pela Agência Nacional de Vi-
gilância Sanitária (Anvisa), em março deste ano,
com o nome de Uplyso. O tratamento até agora
era feito com outro fármaco em que a proteína é
produzida em linhagens de células modificadas
de hamsters, num processo biotecnológico que
está mais sujeito a contaminações.
A proteína sintetizada na cenoura é similar à
produzida pelo próprio organismo humano. No
caso da cianovirina a história é diferente. Ela foi
isolada na década de 1990 de uma cianobactéria,
O
uso milenar de plantas para aliviar
doenças ganha outras formas sob o
domínio da biotecnologia. Dezenas
de experimentos em todo o mundo,
em empresas ou instituições acadê-
micas, utilizam técnicas de inserção de genes em
genomas de plantas que possam codificar enzi-
mas de interesse farmacológico. Assim é possível
que o cultivo de soja, milho e batata ou mesmo
plantas ornamentais possa no futuro ser usado
em larga escala, em versões transgênicas, para a
produção de medicamentos. Um exemplo desses
experimentos que acontecem no Brasil, na unidade
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Pesquisa Agropecuária (Embrapa), em Brasília, é
o desenvolvimento de uma variedade de soja com
um viricida ou microbicida, capaz de prevenir a
contaminação pelo vírus causador da Aids. Com a
ajuda da engenharia genética, essa leguminosa está
produzindo sementes, em uma estufa na capital
federal, com a enzima cianovirina-N que já teve
comprovada sua eficácia contra o vírus em testes
laboratoriais em estudos pré-clínicos.
Esse tipo de experimento ganhou força em
maio de 2012, quando a Food and Drug Adminis-
tration (FDA), a agência federal norte-america-
Marcos de Oliveira
pESQUISA FAPESP 206  z  63
que leva o nome científico de Nostoc ellipsos-
porum, em pesquisas do Instituto Nacional de
Câncer (NCI, na sigla em inglês) e dos Institutos
Nacionais de Saúde (NIH) dos Estados Unidos.
As cianobactérias são bactérias azuis e chama-
das erroneamente de algas azuis. Pesquisadores
dos NIH e da Universidade de Londres, na In-
glaterra, idealizaram um gel com a cianovirina
para ser aplicado antes das relações sexuais. O
princípio ativo inibe a replicação do HIV ao se
ligar aos oligossacarídeos (açúcares) do vírus. “A
cionovirina-N está no estágio de desenvolvimen-
to pré-clínico, portanto ainda não foi testada em
seres humanos”, diz o pesquisador Barry O’Keefe,
vice-chefe de biologia molecular do laboratório de
alvos moleculares do NCI. Ele liderou um estudo
publicado em 2003 que demonstrou a atividade
da proteína também contra alguns vírus da gripe
(influenza A e B) e participa dos estudos para o
desenvolvimento da cianovirina. “Falta um meio
comercialmente viável, de baixo custo, de produ-
ção em larga escala da cianovirina-N, e as plantas
são um bom caminho para esse fim”, diz O’Keefe.
Obter a proteína em grande quantidade foi
a dificuldade inicial dos pesquisadores norte-
-americanos logo depois dos estudos laborato-
riais que indicaram as atividades contra alguns
tipos de vírus. Os NIH tentaram a produção via
DNA recombinante, em que o gene codificador da
proteína é inserido no genoma de outra bactéria
mais fácil de cultivar, a Escherichia coli, para a
posterior extração da substância. Mas a produção
foi baixa e se mostrou economicamente inviá-
vel. A solução encontrada pelo pessoal dos NIH,
liderado por O’Keefe, foi procurar o professor
Elíbio Rech, da Embrapa, coordenador do grupo
brasileiro que havia depositado uma patente no
exterior, de uma técnica para inserção de genes
em soja, e tinha experiência no desenvolvimento
de culturas transgênicas. “Os norte-americanos
nos procuraram em 2007 e fizemos a parceria.
Eles nos repassaram a sequencia genética co-
dificadora do gene que inserimos no genoma
de uma variedade de soja da Embrapa, a 10-16.
E deu certo, já temos as sementes das plantas
engenheiradas por nós produzindo a cianoviri-
na”, diz Rech. Eles isolaram o princípio ativo da
soja. O ensaio viral para a confirmação da ação
da cianovirina produzida pela Embrapa foi feito
64  z  abril DE 2013
pelo professor Amilcar Tanuri, da Universidade
Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), e também no
laboratório de O’Keefe, nos Estados Unidos. E o
resultado foi positivo.
O
desafio atual é melhorar o processo de
extração da proteína, purificando quan-
tidades maiores da cianovirina das se-
mentes de soja. “Nossos resultados apontaram a
presença de 10 gramas (g) da proteína por quilo
de sementes frescas. Sabemos que não podemos
tirar os 100% de fármaco do grão da leguminosa
porque é normal que ocorram perdas no proces-
so de purificação. Até agora já atingimos os 20%,
ou 2 g, e nossa meta é atingir 50%”, diz Rech.
O processo de purificação de proteína é traba-
lhoso, exige várias fases. No caso da Embrapa,
a purificação está sendo realizada com resinas.
Conforme o óleo de soja passa por um processo
semelhante a uma filtração em que as resinas fa-
zem o papel de filtros, as proteínas contidas na
soja vão se dissolvendo, inclusive a cianovirina.
“Nossa intenção é produzir uma quantidade
suficiente da proteína para testar o principio ativo
em macacas nos Estados Unidos, e posteriormente
em seres humanos”, explica Rech. O propósito do
trabalho dos NIH, da Universidade de Londres e
do Conselho para a Pesquisa Científica e Indus-
trial (Csir Biosciences) da África do Sul, que são
grupos que participam da pesquisa, é levar o gel
para o continente africano, onde a transmissão de
Aids ainda é grande. A produção da cianovirina
também está sendo testada em plantas de taba-
co na Inglaterra, na Universidade de Londres, e
nos Estados Unidos. “No tabaco, o medicamento
não está apenas nas sementes, mas se expressa
na planta toda. Na África, sob a liderança da pes-
quisadora Rachel Chikwamba, do Csir, os expe-
rimentos também seguem o caminho de produzir
a cianovirina em soja e em tabaco, mas ainda não
obtiveram sucesso”, diz Rech.
Outra conquista da Embrapa em Brasília foi o
desenvolvimento de algumas linhagens de soja
transgênica que produzem em suas células o fa-
2g
é o total do
medicamento
extraído a
partir de 1 kg
de soja.
A meta é
extrair 5 g
Isolamento e purificação
Proteína com atividade anti-HIV é extraída de bactéria e introduzida na soja
Conhecendo o gene,
é possível por técnicas
biotecnológicas
introduzi-lo no
genoma da soja
produção da soja transgênica
Obtidas as sementes transgênicas
passa-se ao processo de purificação
da cianovirina, feito com a interação de
uma espécie de suco de soja com resinas
específicas que fazem a separação
das proteínas contidas no vegetal
Depois de isolado e purificado,
o princípio ativo do
medicamento está pronto para
seguir para a formulação e
produção de um gel ou spray
Cianobactérias
Nostoc ellipsosporum
DNA da
cianobactéria
DNA
da soja
Para introduzir a proteína
cianovirina, isolada da
cianobactéria Nostoc
ellipsosporum, em outros
organismos os pesquisadores
sequenciaram a bactéria
para verificar qual gene
codifica a proteína
extração da cianovirina
produção do medicamento
Depois da verificação
da inserção
e ativação do gene,
novas sementes
de soja transgênica
são produzidas
para iniciar uma
plantação em estufa
1 5
3
42
fonte  Elíbio rech/embrapa
Semente de soja
modificada
geneticamente
Gene produtor
da cianovirina
DNA da
cianobactéria
infográfico Anapaulacampos
Soja transgênica
Cianovirina
e outros
componentes
Resina
Cianovirina
purificada
pESQUISA FAPESP 206  z  65
tor IX de coagulação, um componente existente
no sangue humano cuja falta é uma das causas
da hemofilia, doença genética em que a pessoa
sofre problemas na cicatrização e na contenção
de hemorragias. Ele é produzido atualmente de
plasma sanguíneo, a partir do sangue doado nos
hospitais, ou em cultura de células de camundon-
gos por meio da inserção no genoma do roedor
do gene que codifica a proteína do fator IX. “Há
um gargalo também no desenvolvimento de siste-
mas de purificação mais eficientes e produtivos”,
diz Rech. “Terminamos essa soja com fator IX
no ano passado depois de cinco anos, testamos a
molécula presente nas sementes e agora repas-
samos o material para a Fundação Hemocentro
de Ribeirão Preto [da Universidade de São Paulo
(USP)], parceira do projeto, para a sequência da
fase de purificação da molécula.”
“Recebemos 360 g de soja liofilizada trans-
gênica e já foram feitos os testes que mostram
a presença dessa proteína, o fator IX. Agora,
como assumi o cargo de professora do Depar-
tamento de Genética da Faculdade de Medicina
de Ribeirão Preto da USP, esses estudos estão
sob a coordenação dos professores Dimas Tadeu
Covas e Lewis Joel Greene, do Hemocentro de
Ribeirão Preto”, diz a bióloga Aparecida Maria
Fontes, que era pesquisadora do Hemocentro e
parceira na pesquisa. “A produção de fator IX
em planta é muito importante porque, além de
não se utilizar o material dos bancos de sangue
que é escasso, cria-se uma alternativa com ou-
tro veículo de produção. Até o momento, a única
molécula do fator IX produzida com técnicas
biotecnológicas é elaborada em células de hams-
ters”, diz Aparecida.
Em todas as pesquisas e mesmo em futuras plan-
tações de soja transgênica, que vão produzir medi-
camentos, são levadas em conta várias iniciativas
de biossegurança. “As plantas são produzidas sob
contenção, em casas de vegetação [estufas] total-
mente teladas. Isso acontece para evitar situações
que são até muito difíceis de acontecer como, por
exemplo, que um pássaro pegue uma semente e
leve para outro lugar onde a soja germine e al-
guém possa comer as sementes. Não é veneno,
mas devemos lidar com essas plantas como fonte
de medicamento, de forma diferente da soja usa-
da na alimentação. As plantações futuras também
deverão ser cercadas, de modo a que nenhum es-
tranho tenha acesso”, diz Rech.
E
ntre as vantagens da geração de fármacos
em plantas estão os custos mais baixos, com
produção de larga escala e também com a
segurança se comparada com células humanas,
fungos, bactérias e animais. “Também é mais fácil
de manipular o produto agrícola. A vantagem da
soja ou de outro vegetal é que podemos colher e
estocar”, diz Rech. Em um artigo publicado na
revista Nature em 2012 (10 de maio) na seção
News in Focus, que comentou a aprovação para
uso comercial do medicamento para doença de
Gaucher produzido com cenouras, o autor, Amy
Maxmen, diz que o Elelyso, ou Uplyso, remédio
aprovado pela FDA, pode ser vendido por 75% do
valor do medicamento tradicional, o Cerezyme,
produzido com células de hamsters. O tratamento
tradicional pode custar até US$ 300 mil por ano
por paciente. Maxmen informa que o mercado
global de fármacos de produtos biotecnológicos
alcançou a marca de US$ 149 bilhões em 2010. “O
futuro dos métodos de produção à base de plan-
tas é muito promissor para os biofarmacêuticos.
É um momento muito emocionante para quem
trabalha com esse tipo de pesquisa”, diz O’Keefe
à Pesquisa FAPESP. “Elibio Rech e seus colegas
na Embrapa fazem parte de uma indústria cres-
cente de grande importância para o futuro.” n
Plantas de soja
transgênica com
a proteína
cianovirina em
estufa da Embrapa,
em Brasilia
O futuro dos métodos de produção
à base de plantas é muito
promissor para os biofarmacêuticos
Artigos científicos
O’Keefe, B.R. et al. Potent Anti-Influenza Activity of Cyanovirin-N
and Interactions with Viral Hemagglutinin. Antimicrobial Agents and
Chemotherapy. v. 47, n. 8, p. 2.518-25. ago. 2003.
Rech, E.L. et al. High-efficiency transformation by biolistics of soybean,
common bean and cotton transgenic plants. Nature Protocols. v.3,
n. 3, p. 410-18. fev. 2008.
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Cartilha Biossimilares
 

Fapesp remédio na planta

  • 1. 62  z  abril DE 2013 tecnologia  Biotecnologia y ilustrações Abiuro  Medicamento anti-HIV é obtido de soja transgênica Remédio na planta na de regulação de medicamentos e alimentos, aprovou para uso comercial o primeiro fármaco produzido com engenharia genética em células de plantas para seres humanos. O princípio ati- vo é a proteína taliglucerase alfa, produzida em células de cenoura transgênica para tratamento da doença de Gaucher, uma enfermidade gené- tica e rara provocada pela falta no organismo da glucocerebrosidase, uma enzima atuante no processamento de glicocerebrosídeos, um tipo de gordura celular. O paciente tem anemia e aumento do baço e do fígado. O medicamento desenvolvido e produzido pela empresa israe- lense Protalix, e distribuído em parceria com a norte-americana Pfizer, foi também aprovado em Israel e no Brasil, pela Agência Nacional de Vi- gilância Sanitária (Anvisa), em março deste ano, com o nome de Uplyso. O tratamento até agora era feito com outro fármaco em que a proteína é produzida em linhagens de células modificadas de hamsters, num processo biotecnológico que está mais sujeito a contaminações. A proteína sintetizada na cenoura é similar à produzida pelo próprio organismo humano. No caso da cianovirina a história é diferente. Ela foi isolada na década de 1990 de uma cianobactéria, O uso milenar de plantas para aliviar doenças ganha outras formas sob o domínio da biotecnologia. Dezenas de experimentos em todo o mundo, em empresas ou instituições acadê- micas, utilizam técnicas de inserção de genes em genomas de plantas que possam codificar enzi- mas de interesse farmacológico. Assim é possível que o cultivo de soja, milho e batata ou mesmo plantas ornamentais possa no futuro ser usado em larga escala, em versões transgênicas, para a produção de medicamentos. Um exemplo desses experimentos que acontecem no Brasil, na unidade de Recursos Genéticos da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), em Brasília, é o desenvolvimento de uma variedade de soja com um viricida ou microbicida, capaz de prevenir a contaminação pelo vírus causador da Aids. Com a ajuda da engenharia genética, essa leguminosa está produzindo sementes, em uma estufa na capital federal, com a enzima cianovirina-N que já teve comprovada sua eficácia contra o vírus em testes laboratoriais em estudos pré-clínicos. Esse tipo de experimento ganhou força em maio de 2012, quando a Food and Drug Adminis- tration (FDA), a agência federal norte-america- Marcos de Oliveira
  • 2. pESQUISA FAPESP 206  z  63 que leva o nome científico de Nostoc ellipsos- porum, em pesquisas do Instituto Nacional de Câncer (NCI, na sigla em inglês) e dos Institutos Nacionais de Saúde (NIH) dos Estados Unidos. As cianobactérias são bactérias azuis e chama- das erroneamente de algas azuis. Pesquisadores dos NIH e da Universidade de Londres, na In- glaterra, idealizaram um gel com a cianovirina para ser aplicado antes das relações sexuais. O princípio ativo inibe a replicação do HIV ao se ligar aos oligossacarídeos (açúcares) do vírus. “A cionovirina-N está no estágio de desenvolvimen- to pré-clínico, portanto ainda não foi testada em seres humanos”, diz o pesquisador Barry O’Keefe, vice-chefe de biologia molecular do laboratório de alvos moleculares do NCI. Ele liderou um estudo publicado em 2003 que demonstrou a atividade da proteína também contra alguns vírus da gripe (influenza A e B) e participa dos estudos para o desenvolvimento da cianovirina. “Falta um meio comercialmente viável, de baixo custo, de produ- ção em larga escala da cianovirina-N, e as plantas são um bom caminho para esse fim”, diz O’Keefe. Obter a proteína em grande quantidade foi a dificuldade inicial dos pesquisadores norte- -americanos logo depois dos estudos laborato- riais que indicaram as atividades contra alguns tipos de vírus. Os NIH tentaram a produção via DNA recombinante, em que o gene codificador da proteína é inserido no genoma de outra bactéria mais fácil de cultivar, a Escherichia coli, para a posterior extração da substância. Mas a produção foi baixa e se mostrou economicamente inviá- vel. A solução encontrada pelo pessoal dos NIH, liderado por O’Keefe, foi procurar o professor Elíbio Rech, da Embrapa, coordenador do grupo brasileiro que havia depositado uma patente no exterior, de uma técnica para inserção de genes em soja, e tinha experiência no desenvolvimento de culturas transgênicas. “Os norte-americanos nos procuraram em 2007 e fizemos a parceria. Eles nos repassaram a sequencia genética co- dificadora do gene que inserimos no genoma de uma variedade de soja da Embrapa, a 10-16. E deu certo, já temos as sementes das plantas engenheiradas por nós produzindo a cianoviri- na”, diz Rech. Eles isolaram o princípio ativo da soja. O ensaio viral para a confirmação da ação da cianovirina produzida pela Embrapa foi feito
  • 3. 64  z  abril DE 2013 pelo professor Amilcar Tanuri, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), e também no laboratório de O’Keefe, nos Estados Unidos. E o resultado foi positivo. O desafio atual é melhorar o processo de extração da proteína, purificando quan- tidades maiores da cianovirina das se- mentes de soja. “Nossos resultados apontaram a presença de 10 gramas (g) da proteína por quilo de sementes frescas. Sabemos que não podemos tirar os 100% de fármaco do grão da leguminosa porque é normal que ocorram perdas no proces- so de purificação. Até agora já atingimos os 20%, ou 2 g, e nossa meta é atingir 50%”, diz Rech. O processo de purificação de proteína é traba- lhoso, exige várias fases. No caso da Embrapa, a purificação está sendo realizada com resinas. Conforme o óleo de soja passa por um processo semelhante a uma filtração em que as resinas fa- zem o papel de filtros, as proteínas contidas na soja vão se dissolvendo, inclusive a cianovirina. “Nossa intenção é produzir uma quantidade suficiente da proteína para testar o principio ativo em macacas nos Estados Unidos, e posteriormente em seres humanos”, explica Rech. O propósito do trabalho dos NIH, da Universidade de Londres e do Conselho para a Pesquisa Científica e Indus- trial (Csir Biosciences) da África do Sul, que são grupos que participam da pesquisa, é levar o gel para o continente africano, onde a transmissão de Aids ainda é grande. A produção da cianovirina também está sendo testada em plantas de taba- co na Inglaterra, na Universidade de Londres, e nos Estados Unidos. “No tabaco, o medicamento não está apenas nas sementes, mas se expressa na planta toda. Na África, sob a liderança da pes- quisadora Rachel Chikwamba, do Csir, os expe- rimentos também seguem o caminho de produzir a cianovirina em soja e em tabaco, mas ainda não obtiveram sucesso”, diz Rech. Outra conquista da Embrapa em Brasília foi o desenvolvimento de algumas linhagens de soja transgênica que produzem em suas células o fa- 2g é o total do medicamento extraído a partir de 1 kg de soja. A meta é extrair 5 g Isolamento e purificação Proteína com atividade anti-HIV é extraída de bactéria e introduzida na soja Conhecendo o gene, é possível por técnicas biotecnológicas introduzi-lo no genoma da soja produção da soja transgênica Obtidas as sementes transgênicas passa-se ao processo de purificação da cianovirina, feito com a interação de uma espécie de suco de soja com resinas específicas que fazem a separação das proteínas contidas no vegetal Depois de isolado e purificado, o princípio ativo do medicamento está pronto para seguir para a formulação e produção de um gel ou spray Cianobactérias Nostoc ellipsosporum DNA da cianobactéria DNA da soja Para introduzir a proteína cianovirina, isolada da cianobactéria Nostoc ellipsosporum, em outros organismos os pesquisadores sequenciaram a bactéria para verificar qual gene codifica a proteína extração da cianovirina produção do medicamento Depois da verificação da inserção e ativação do gene, novas sementes de soja transgênica são produzidas para iniciar uma plantação em estufa 1 5 3 42 fonte  Elíbio rech/embrapa Semente de soja modificada geneticamente Gene produtor da cianovirina DNA da cianobactéria infográfico Anapaulacampos Soja transgênica Cianovirina e outros componentes Resina Cianovirina purificada
  • 4. pESQUISA FAPESP 206  z  65 tor IX de coagulação, um componente existente no sangue humano cuja falta é uma das causas da hemofilia, doença genética em que a pessoa sofre problemas na cicatrização e na contenção de hemorragias. Ele é produzido atualmente de plasma sanguíneo, a partir do sangue doado nos hospitais, ou em cultura de células de camundon- gos por meio da inserção no genoma do roedor do gene que codifica a proteína do fator IX. “Há um gargalo também no desenvolvimento de siste- mas de purificação mais eficientes e produtivos”, diz Rech. “Terminamos essa soja com fator IX no ano passado depois de cinco anos, testamos a molécula presente nas sementes e agora repas- samos o material para a Fundação Hemocentro de Ribeirão Preto [da Universidade de São Paulo (USP)], parceira do projeto, para a sequência da fase de purificação da molécula.” “Recebemos 360 g de soja liofilizada trans- gênica e já foram feitos os testes que mostram a presença dessa proteína, o fator IX. Agora, como assumi o cargo de professora do Depar- tamento de Genética da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP, esses estudos estão sob a coordenação dos professores Dimas Tadeu Covas e Lewis Joel Greene, do Hemocentro de Ribeirão Preto”, diz a bióloga Aparecida Maria Fontes, que era pesquisadora do Hemocentro e parceira na pesquisa. “A produção de fator IX em planta é muito importante porque, além de não se utilizar o material dos bancos de sangue que é escasso, cria-se uma alternativa com ou- tro veículo de produção. Até o momento, a única molécula do fator IX produzida com técnicas biotecnológicas é elaborada em células de hams- ters”, diz Aparecida. Em todas as pesquisas e mesmo em futuras plan- tações de soja transgênica, que vão produzir medi- camentos, são levadas em conta várias iniciativas de biossegurança. “As plantas são produzidas sob contenção, em casas de vegetação [estufas] total- mente teladas. Isso acontece para evitar situações que são até muito difíceis de acontecer como, por exemplo, que um pássaro pegue uma semente e leve para outro lugar onde a soja germine e al- guém possa comer as sementes. Não é veneno, mas devemos lidar com essas plantas como fonte de medicamento, de forma diferente da soja usa- da na alimentação. As plantações futuras também deverão ser cercadas, de modo a que nenhum es- tranho tenha acesso”, diz Rech. E ntre as vantagens da geração de fármacos em plantas estão os custos mais baixos, com produção de larga escala e também com a segurança se comparada com células humanas, fungos, bactérias e animais. “Também é mais fácil de manipular o produto agrícola. A vantagem da soja ou de outro vegetal é que podemos colher e estocar”, diz Rech. Em um artigo publicado na revista Nature em 2012 (10 de maio) na seção News in Focus, que comentou a aprovação para uso comercial do medicamento para doença de Gaucher produzido com cenouras, o autor, Amy Maxmen, diz que o Elelyso, ou Uplyso, remédio aprovado pela FDA, pode ser vendido por 75% do valor do medicamento tradicional, o Cerezyme, produzido com células de hamsters. O tratamento tradicional pode custar até US$ 300 mil por ano por paciente. Maxmen informa que o mercado global de fármacos de produtos biotecnológicos alcançou a marca de US$ 149 bilhões em 2010. “O futuro dos métodos de produção à base de plan- tas é muito promissor para os biofarmacêuticos. É um momento muito emocionante para quem trabalha com esse tipo de pesquisa”, diz O’Keefe à Pesquisa FAPESP. “Elibio Rech e seus colegas na Embrapa fazem parte de uma indústria cres- cente de grande importância para o futuro.” n Plantas de soja transgênica com a proteína cianovirina em estufa da Embrapa, em Brasilia O futuro dos métodos de produção à base de plantas é muito promissor para os biofarmacêuticos Artigos científicos O’Keefe, B.R. et al. Potent Anti-Influenza Activity of Cyanovirin-N and Interactions with Viral Hemagglutinin. Antimicrobial Agents and Chemotherapy. v. 47, n. 8, p. 2.518-25. ago. 2003. Rech, E.L. et al. High-efficiency transformation by biolistics of soybean, common bean and cotton transgenic plants. Nature Protocols. v.3, n. 3, p. 410-18. fev. 2008. embrapa