O documento discute as falácias cometidas por historiadores ao interpretar dados históricos e sociais. Apresenta diversas falácias como a falsa dicotomia, posições adversárias, causas supérfluas, necessárias e suficientes, narrativa anacrônica, reducionismo, mecanicismo, evidência seletiva e desproporcional. Conclui sugerindo que os historiadores devem considerar todas as possibilidades, revisar fontes e evidências para evitar distorções.
4. A maioria do trabalho histórico
transita por fronteiras até certo
ponto artificiais.
A divisão imposta pelos organismos
de financiamento público reflete uma
diferença básica com respeito à
metodologia que divide a profissão.
5. Os que se dedicam à história econômica e
social (história científica, quantitativa,
cliométrica, ou nova história), com raras
exceções associam-se deliberadamente com
as ciências sociais.
Historiadores do tipo tradicional, por outro
lado, não se sentem bem ou se mostram
hostis à idéia de que suas atividades sejam
uma forma de ciência e, de modo geral,
preferem se ligar, por sua vez, às
humanidades.
7. Historiador científico procura concentrar-se
nas coletividades de pessoas e de
acontecimentos recorrentes
Historiador científicoferramentas
matemáticas e estatísticasraramente se
aventura além da história econômica, social
ou demográfica.
8. Historiadores tradicionaisindivíduos e
acontecimentos específicos, desenvolvimentos
políticos, intelectuais e sociais, revoluções, guerras,
migrações, partidos políticos, governos, Estados,
costumes, crenças e invenções, nascimentos, amor,
casamento,morte, poderosos e pobres, famosos e
infames, criadores e destruidores e no mais das
vezes, grupos, em vez de indivíduos singulares.
O campo de trabalhoexcepcionalmente amplo.
Na verdade, a única restrição que seria aceita é que
esse campo deveria possuir alguma significância
social.
9. Sendo assim, poderíamos ser tentados a concluir que
a Historia (tradicional) é, na verdade, uma ciência
social ou até mesmo, devido ao fato de percorrer
todas as ciências sociais, uma disciplina qualitativa
par excellence.
O registro da história é tão velho quanto os
próprios registros escritos.
Como disciplina acadêmica, ela apareceu apenas no
final do século dezoito, ou começo do século
dezenove, junto com a secularização do pensamento
e o surgimento das ciências sociais modernas.
10.
11. História científicadevido a seu compromisso com
fontes manuscritas tomou-os massivos, pedantes e
praticamente impenetráveis ao leitor comum.
Final do século dezenove houve uma forte reação
contra essa forma de positivismo e contra o
pressuposto de que o curso da história seria
determinado por leis identificáveis.
Os historiadores passaram a insistir, sempre mais, na
especificidade de sua atividade.
O passado poderia ser compreendido não por
dedução ou indução lógica, mas através de um
processo de empatia com respeito ao assunto.
12. Verstehen: "entrar para dentro" dos fatos
Wissen: mera descrição fatual das aparências
externas.
Uma intensa disputaepistemólogos e estudiosos
do método históriconatureza de toda explicação
histórica é essencialmente semelhante à empregada
nas ciências sociais (ou naturais).
13. Se nós explicamos ... a primeira divisão da
Polônia em 1772 mostrando que ela não
poderia resistir ao poder somado da Rússia,
Prússia e Áustria, então nós estamos
tacitamente empregando alguma lei universal
trivial, como: "Se entre dois exércitos que
estão igualmente bem armados e
comandados, um possui uma tremenda
superioridade em homens, então o outro
nunca vencerá. Tal lei poderá ser descrita
como uma lei da sociologia do poder militar.
14.
15. Esse distanciamento teoria/ leis gerais é devido, em
parte, mas apenas em parte, a uma relutância dos
historiadores de serem considerados como os
soldados de infantaria, ou trabalhadores do campo,
coletando dados e compilando exemplos para que
outros possam construir sobre eles suas
generalizações.
Mesmo quando seu assunto é, primariamente, algo
físico (uma casa rural, um esporte, um exército,uma
epidemia) ou uma coisa abstrata (crença, ideologia,
ritual) ou um acontecimento especifico (guerra,
conferência,eleição) a questão que requer
explicação é a lógica de um empreendimento
humano especifico, levado a cabo por um indivíduo
ou um grupo de indivíduos.
16. O trabalho do historiador tem uma estreita semelhança com
as atividades de um magistrado que investiga ou de um legista,
cuja tarefa é também explicar motivos, razões ou causas de
uma ação humana especifica, e que é, igualmente, levada a
efeito através da construção de um quadro detalhado das
circunstâncias que envolvem o indivíduo, ou o grupo,
implicados no acontecimento.
22. Embora esse método não se fundamente em
leis, nem procure construir novas leis, ele
depende de critérios rigorosos de evidência e
métodos lógicos de interpretação. É
pragmático e indutivo, implica teste de
hipóteses e registro explícito e cuidadoso das
fontes. De tempos em tempos, ele é até
mesmo muito bem escrito. E sendo que
possui todas essas características, ele merece
um lugar ao lado, se não dentro, das ciências
sociais.
23. Falácias do historiador
“Mesmo quando seus tópicos de pesquisa criam
a impressão de um detalhismo estreito, os
historiadores são, normalmente, generalistas”.
24. A falácia da falsa dicotomia
ou o que se poderia chamar mais diretamente
de falácia da supressão da dimensão central de
um fato.
“Antonio Conselheiro, herói ou bandido... “
Livro de anotações
Do Antonio Conselheiro
Apreendido em Canudos
25. Historiadores altamente respeitados
suplementaram sua renda editando textos
para alunos com títulos como:
“A Mente Medieval- Fé ou Razão”
“Jean Monnet - Gênio ou Manipulador?”
O problema com todas esses proposições é,
certamente, que elas sugerem uma dicotomia
entre dois termos que não são, na verdade,
nem mutuamente exclusivos, nem
coletivamente exaustivos.
26. A falácia das posições adversárias
A falácia das posições adversárias traz alguma
semelhança com a falácia da falsa dicotomia, as
reflete uma decisão consciente no
procedimento: o pressuposto de que se
chegará mais rapidamente à verdade se cada
historiador adotar uma posição oposta.
27. Caso na história da Guerra Fria.
Os historiadores ocidentais trabalhavam com
o pressuposto de que os poderes ocidentais
eram inocentes com respeito a todas as
intenções agressivas da URSS e culpados, no
máximo, por se equivocarem, enquanto que a
União Soviética procurava constante e
agressivamente estender sua dominação
territorial.
28. O ponto de vista Oposto de que os Estados
Unidos eram um poder imperialista e que a
Guerra fria deveria ser explicada quase que
exclusivamente pelos esforços dos EUA em
conseguir uma hegemonia global.
Deve-se dizer, contudo, que é muito provável
que nenhuma das posições pode ser correta.
29. A falácia da causa supérflua
Aqui o erro está em explicar um
acontecimento referindo-se ao motivo de um
ou outro agente que pode-se demonstrar ter
existido, mas que tem pouca ou nenhuma
influência concreta sobre o resultado.
Decisão do governo britânico de retornar ao
padrão ouro em 1925
30. A falácia das causas necessárias e
suficientes
Os historiadores sentem-se mal com a idéia
de serem meros contadores de histórias e
estão ansiosos em instilar rigor em seu
trabalho.
Freqüentemente rotulam suas explicações como
causas necessárias e suficientes, subjacentes e
imediatas. Eles normalmente descrevem seu trabalho
como analítico e não como (meramente) narrativo.
31. Textos escolaresobjetivo é mostrar que
grandes acontecimentos, como a Rev
Francesa, I e II Guerrasorigens complexas
economia, cultura, tecnologia,
democracia, clima etco enfoque é
inerentemente falho.
Iremos descobrir que muitos dos fatores
estavam presentes antes que o
acontecimento ocorresse e em nada
influenciaram para explicar por que o
evento específico deu-se naquela ocasião
32. A falácia da narrativa anacrônica
(presentismo)
O erro é ler o passado como se ele não
fosse mais do que um palco para o presente.
No contexto britânico, o exemplo mais notório é a
interpretação como se toda a história política da
Inglaterra fosse pouco mais que a história dos
liberais, lutando para erradicar a tirania da
autoridade arbitrária e da tradição.
33. A Falácia reducionista
Os historiadores são obrigados a dizer
verdades seletivas e com isso seus modelos
causais podem ser reducionistas em
determinado sentido, mas alguns modelos
causais são mais reducionistas que outros.
A forma comum dessa falácia é identificar um
único elemento na explicação e reivindicar,
sem razão necessária, que ele é a chave de
toda a "história".
34. A falácia da causa mecanicista
Esta é uma prática errônea, que implica em
separar os componentes de um complexo
causal e analisá-los separadamente, e até
mesmo avaliar separadamente sua
influência causal, como se eles fossem
elementos discretos, determinados por
forças discretas, e não como sendo
dinamicamente relacionados entre si.
Motivo do aparecimento de regimes
autoritários e democráticos entre as
Guerras, na Europa
35. A falácia do fato oculto
O erro consiste em acreditar que fatos de
significância especial são aqueles que são
obscuros e que, se descobertos, deverão
merecer um lugar especial na explicação dos
acontecimentos em foco.
Na história internacional é o resultado do
recente interesse da espionagem e na
subversão como fatores que expliquem
assuntos Internacionais.
36. Máquina ENIGMA para decifrar sinais
alemães vencer a campanha do Norte da
África e na Batalha do Atlântico.
Enganaros Alemães sobre a importância do
desembarque do Dia D em 1944.
Em 1944/45 quando os espiões soviéticos
noticiaram o desenvolvimento de uma bomba
atômica nos Estados Unidos.
37. A falácia da evidência relativizada
Do mesmo modo que outras ciências a
história também tem seus partidários do
Pós modernismo.
Os pós-modernistas enxergam os textos e
a base do nosso entendimento do passado,
como construções opacas, através das quais
nenhum passado real pode ser trazido à luz
e cujo sentido depende dos
preconceitos do leitor individual.
38. Formação da “terceira força”: Inglaterra +
Europa continental + África colonial
Tentativade deter o crescimento industrial
alemão e dividir o território (França)
Compromisso de em favor de uma unidade
européia (Inglaterra)
39. A falácia da evidência desproporcional
Problema comum do historiadordesigualdade da evidência
acessível.
Historiadores políticos se defrontam, frequentemente, com o
problema.
Instituiçõesdo Estado geram e preservam muito mais evidência
que os indivíduos singulares, grupos ou organizações que
entram em contato com elas
O Estado gera muito mais documentos do que as pessoas e
grupos que são afetados pelas leis e regulamentos que são
estudados mais tarde.
40. A falácia da evidência seletiva
Surge conscientemente da tentativa sincera do historiador de
aplicar um modelo ou provar uma teoria.
Um exemplo é a crescente re-interpretação da política
externa americana em 1920.
Até 1960, as versões históricas oficiais afirmavam que os
Estados Unidos foram forçados a sair de seu tradicional
compromisso de isolamento por causa da II Guerra.
Em meio à crise provocada pela guerra do Vietnã, a geração
mais jovem de historiadores questionaram esse ponto de
vista dominante com uma nova e ambiciosa interpretação da
história dos Estados Unidos de acordo com a qual o país foi
impelido por sua dinâmica interna para uma expansão
externa, desde o início das Treze Colônias.
41. Passos na análise histórica
1. Assegure-se que, no delineamento de suas
questões, está dando espaço a todas as respostas
possíveis.
2. Avalie se a lógica de sua análise está aberta à
acusação de arbitrariedade ou circularidade e, se
necessário, mude-a.
3. Revise suas fontes e sua maneira de lidar com a
evidência, tendo o cuidado de remover fontes de
distorções; revise a possibilidade de ampliar o
espectro e as fontes de evidência.