O documento discute teorias sobre grupos e dinâmica de grupos. Aborda conceitos como projeção, identificação, configurações vinculares e processo grupal interno e externo segundo Berne. Também discute fatos clínicos e transferência no contexto de grupos.
1. GRUPOS...alguns referenciais teórico-práticos
NOELIZA LIMA
O objetivo deste trabalho é trazer formas de se abordar o grupo, buscando
criar denominadores comuns entre a visão de Eric Berne (1977) e outros aportes
da psicanálise tradicional de grupos e a análise das configuração vinculares. É
parte da dissertação de mestrado: ‘Experiência de Um Grupo de Mulheres na Luta
pela Cidadania’ (PUC-Campinas SP – Brasil – Pós graduação em Psicologia
Clínica, Orientadora: prof. Dra. Maria Regina Leme Lopes Carvalho – Apoio
CAPES-DS, 2000)
INTRODUÇÃO
Entende-se que o grupo se refere a:
reunião de pessoas, coisas ou objetos que se abrangem no mesmo lance de
-
olhos, ou formam um todo; pequenas pessoas reunidas para um fim comum.
( Ferreira, Aurélio, 1993).
- qualquer agregado social que tenha uma fronteira externa e pelo menos uma
fronteira interna. (Berne, 97)
- conjunto restrito de pessoas, compartilhando o mesmo local ao mesmo tempo,
fazendo mútua representação interna e se atribuindo-assumindo papéis
complexamente, tendo uma tarefa ( explicitada ou não), segundo Pichon
Riviere (1977).
REVISÃO DA DINÂMICA DE GRUPOS DE BERNE
I. ESTRUTURA GRUPAL PRINCIPAL
Região do Líder: espaço destinado ao líder ou por este ocupado. Exemplo – em
escolas tradicionais, o professor fica em um pequeno palco em frente a lousa –
seu espaço é restrito. Nas universidades o líder professor passeia entre as
carteiras. Depende muito do caráter do grupo. Os grupos terapêuticos têm mais
espaço, tanto para o líder, como para os membros.
Fronteira Interna Principal: limite físico entre líder e membros. Em grupos de
cidadania e terapêuticos, embora de finalidade diversa, a fronteira interna principal
é bem flexível.
Região dos Membros: Espaço físico onde os participantes se movem.
Fronteira Externa: Limite do grupo (uma porta ou algo que delimite o espaço do
grupo). No Paço Municipal há uma delimitação em dias de reunião da câmara.
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2. Quando há palestras de direitos humanos este espaço é aumentado até a porta de
entrada.
Ambiente externo : o local além ou externo a fronteira externa do grupo.
• FORÇAS QUE OPERAM EM UM GRUPO
B - Processo Grupal Interno: ente líder e membros
Agitação Interna: ações dos membros que desorganizam o grupo através
das inclinações individuais. É quando emergem os “acting-out”. Se o grupo não sai
do pressuposto luta-fuga, quando há a regressão narcísica primária, por falta de
objetos saudáveis internalizados, há a projeção no grupo (líder e/ou membros)
Coesão grupal: força que se opõe tanto à pressão quanto à agitação. Ou
pela tendência básica à coesão (pertinência)/ ou idealização do líder
(dependência)/ ou pela identificação com outro membro em sistema de pares .
C - Processo Grupal Interno Secundário: entre membros
Os interesses individuais e busca de afinidades podem conflitar com os de
outros participantes do grupo. Ao mesmo tempo, se há afinidades, pode
auxiliar a coesão. Porisso é importante que as várias opiniões sejam
valorizadas.
D – Processo Grupal Externo
Pressão por parte de forças externas ao grupo, cujo objetivo é destruir a
liderança, ou fronteira principal interna. Se o grupo é destruído é porque seu
aparato é mais fraco que as forças opositoras.
Quando há a existência de forças externas, há uma solidariedade maior (coesão)
entre os membros, e uma tendência a combater as forças externas, ou tendência
à retração grupal frente a força externa.
Só
quando a liderança desiste ou é seriamente ameaçada ocorre a ruptura. Neste
caso cedem as fronteiras externas, e o grupo se dissipa. Exemplo: o
reaparecimento dos grupos religiosos no Iraque após a guerra (2203). Exemplo de
coesão grupal: os grupos que efetivamente auxiliam em direitos humanos.
PRINCIPAIS APORTES DE GRUPOS
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3. Segundo Lancetti (1994), o diagnóstico de grupos consiste em apontar as
noções fundamentais que armam seu discurso, passando pela caracterização dos
fenômenos que produzem a eficácia no suceder grupal. Os membros de um grupo
certamente o constituem por possuírem, psiquicamente, elementos que
encontram, neste habitat grupal, por meio das relações transferenciais, um
continente que possibilita sua expressão e conseqüente elaboração. Não é por
acaso que uma pessoa escolhe um grupo ao qual pertencer. O grupo é um grupo
de interesse, de motivação e também reflete um movimento interno necessário
naquele momento para cada pessoa.
Tudo o que ocorre no grupo é material de diagnóstico. O psicólogo * , sendo
aglutinador das ocorrências, coloca seu conhecimento, sua disposição e
principalmente seus sentidos para que a análise seja possível (Tucket, 1994). Sem
a empatia e a sensibilidade do pesquisador, em sendo o facilitador do mesmo,
qualquer evento grupal perde seu significado.
PROJEÇÃO E IDENTIFICAÇÃO
Entre os mecanismos de defesa, a projeção se mostra eficaz no equilíbrio
frente a sentimentos desconhecidos que são sentidos como ameaçadores para o
próprio self. A projeção nos assegura a proteção contra sentimentos penosos de
ataque e desamparo.
A projeção é a primeira reação do bebê ao sofrimento, e provavelmente
permanece em nós como a reação mais expontânea a qualquer sentimento
penoso, ao longo de toda a nossa vida ( Klein, Riviere, 1975).
Quando dentro de nós existem forças que operam emoções dolorosas,
reconhecidas internamente como destrutivas, a tendência é nos livrarmos delas.
Negamo-las e as colocamos em outra(s) pessoa(s), objeto ou grupo, favorecendo
em nós o equilíbrio interno. Expulsamos então o perigo, responsabilizando um
objeto externo pelo que estamos sentindo, e neste quot;enxergar o objeto como mauquot;
jogamos sobre ele nossas angústias e frustrações.
Neste sentido o grupo é visto como o continente e o conjunto das projeções
individuais. O grupo que defende algo que acreditamos é visto como quot;o seio bomquot;,
e qualquer ameaça a ele, por elementos externos ao grupo, ou forças internas tais
como a pressão e agitação, desencadeiam em nós mais arcaicos temores de
destruição .
Mas por que acontece isto? Porque existe entre o eu e o grupo a
identificação projetiva, isto é, o eu idealiza o grupo vendo-o com capacidade de
sustentar o eu conferindo-lhe segurança. Aí surge a confiança, o respeito e a
admiração, pessoa - pessoa(as) e pessoa - grupo.
Introjetamos as necessidades, expectativas e valores do grupo com o qual
Temos afinidade, vorazes em colocar dentro de nós estas idealizações que o
grupo contém. Sim, porque cada pessoa joga para o grupo a imago (imagem
idealizada) que constrói a respeito dele e as imagos que faz a respeito dos
integrantes deste grupo, e com essas imagos se identifica. E o grupo se torna a
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4. integração das imagos dos membros, ou seja, o receptáculo das transferencias
individuais, e o espaço onde estas relações vão se configurar.
Vamos refletir um pouco sobre o que pode acontecer no contexto grupal em
termos de projeção/identificação, e como se manifestam no grupo, em momentos
de atividade transferencial, ligando ao conceito de Berne (1977) a respeito de
grupo de processo, agitação, pressão interna e externa e fronteiras
a) Acontece um fato externo ao grupo sentido como ameaça(um calor excessivo),
ou como um ato de amor (o grupo é homenageado). Aumenta a coesão grupal. As
pessoas se sentem gratificadas pelo fato do grupo corresponder aos seus anseios,
quer se cotizando para comprar um ventilador ( no primeiro caso), quer se
reunindo ( no segundo caso). A fronteira externa do grupo foi rompida pelo calor
excessivo, mas logo se restabelece pela coesão grupal.
b) Se é um fato interno de grupo, isto é, a reclamação de alguém a respeito da
figura do líder( ainda a projeção) também aumenta a coesão grupal. Surgem os
quot;salvadoresquot; da mãe boa (representada pelo líder), que se colocam contra aquela
pessoa que reclamou, pois na medida em que ajudam o líder estão salvando a
imagem que fazem do mesmo, para não se sentirem ameaçados - e continuarem
em segurança. Salvaguardam o continente grupal. A fronteira interna principal é
ameaçada por um integrante. A coesão grupal restabelece a harmonia. No caso
sente-se injuriado o querelante. Se estiver em intensa turbulência emocional
poderá sair por uns dias, voltando depois quieto e envergonhado por ter invadido
um limite e infringido um cânone (norma inquestionável) grupal - reclamar da
liderança.
c) Se a projeção é feita por um membro em cima de outro membro do grupo, aí a
agitação é maior. Pode levar á cisão do grupo, se o líder não souber dividir suas
atenções entre seus liderados ( é o mesmo mecanismo da briga entre irmãos). As
pessoas tomam partidos, mas prevalece a opinião do membro mais antigo, pois
antigüidade é um cânone grupal. O líder aberto a mudanças é flexível e age firme
e afetuosamente ( liderança efetiva: liderança de lei e liderança de fato) de forma a
assegurar a acolhida dos membros do grupo para ambos.
FATO CLÍNICO, TRANSFERENCIA, CONFIGURAÇÕES VINCULARES
Segundo Meimes ( et allis, 1998), o termo vínculo tem sua origem no latim
– vinculum, de vencire – que significa atar, juntar com ligaduras e nós fortes. A
pessoa a partir de sua primeira ligação com a mãe irá na vida estruturar um ego
saudável a partir de vínculos que sustentem e representem sua(s) escolha(s)
objetais, tornando-se o grupo um continente de configurações vinculares.
O grupo chega a uma totalização através da pertinência e cooperação
(Peguin, 1997). Podemos então dizer que a missão do grupo, as necessidades
individuais e o grau de vinculação formam o continente grupal.
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5. Para entender melhor a situação do psicólogo em um grupo, quer como
psicanalista, observador clínico, facilitador e/ou observador participante
necessitamos conceituar “fato clínico”.
Quando o pesquisador observa que algum membro do grupo expressa um
sentimento não relacionado ao assunto em pauta, suspeita de que algo acontece
a nível inconsciente sendo trazido ao real através deste símbolo que é a emoção,
não pertinente ao contexto grupal. Isto é um fato clínico. Se este sentimento
desconectado com o real relaciona-se com o facilitador - torna-se um fato clínico
psicanalítico (Quinodoz, 1994).
Em Análise Transacional estes momentos são vividos como ‘processo
grupal’. Segundo Berne (1962) correspondem as relações transferenciais ao
ajustamento da imago grupal, sendo importante escutar-se a comunicação latente,
que não é o discurso concreto, e sim o latente que se manifesta através de sinais
não verbais.
Exemplo:
Maria (líder de um grupo de mulheres) pede que Mô (uma das conselheiras)
faça um verso para o Dia da Não Violência Contra a Mulher, com 15 dias de
antecedência. Mô diz que vai enviar por e-mail daí a dois dias para Milita (que é a
única que tem computador). Milita é a mulher que mais faz restrições a Mô
enquanto psicóloga. Mô se compromete a enviar os versos, sentindo-se
desconfortável com este fato. Envia o e-mail no dia marcado. Não obtém resposta
de Mel (que seria o ponto de contato). Liga para Milita que diz não ter aberto ainda
a Internet, apesar de já se terem passado dois dias. Isto é um fato clínico e um
fato clínico psicanalítico.
Fato clínico porque Milita sabe da urgência do envio da mensagem para a
vice-presidente (Mar) que então, aprovando-os, os enviaria para Mel (que faria os
folhetos). Há aí alguma relação entre o comportamento de Milita e um conteúdo
psíquico projetado no grupo (atrapalhando a missão do grupo),o que contextua o
fato clínico.
É também um fato clínico psicanalítico tendo-se em conta que há
antecedentes descritos do sentimento de rejeição por parte de Milita em relação a
Mô, e Milita saber da urgência do envio da mensagem para Mar, a fim de se
planejar a movimentação. Mô viajou e só veio a saber que não haveria
movimentação 10 dias após enviar a mensagem. O atraso da mensagem em toda
a rede de comunicações iniciou-se com o e-mail de Mô, que, embora feito no dia
certo não contou com o respaldo de Milita. Assim Milita consegue implicar Mô no
atraso (projeção de agressividade) e impossibilita a missão do grupo (do qual se
vinga por aceitar Mô como psicóloga conselheira).No próximo encontro
provavelmente o grupo ao invés de um grupo de atividade, entrará em processo e
Milita se esquivará da responsabilidade.
Em análise transacional conceitua-se a atitude de Milita como ‘isca de jogo’.
Poderia esta conversa terminar com briga, como um provável fim de jogo de
Devedor.
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6. Para entender de onde vem receios que ocorrem em um grupo é
necessário entender a cultura grupal, a seguir.
Segundo Barnes (1977), o grupo sofre interferências dos cânones e caráter
grupal.
- cânones grupais - dificilmente mulheres que não estejam na movimentação
de direitos humanos há muito tempo - são aceitas.
- caráter grupal. - neste grupo geralmente as pessoas não falam diretamente
o que necessitam, são sensíveis a críticas e necessitadas de valorização pessoal.
Os grupos que defendem minorias têm esta característica geral, devido a
discriminação sócio cultural que sofrem.
Desta forma quando surge um fato clínico abre-se espaço para a leitura do
emergente pelo líder.
No caso de um grupo operativo, a leitura das transferências está aberta ao
facilitador interessado. Neste caso o mais comum é que o fato clínico ao se tornar
um fato clínico psicanalítico fale das relações transferenciais entre participante -
participante e/ou participante - líder. O analista (e/ou observador participante) é,
portanto, elemento configurador dos vínculos e ao mesmo tempo o intérprete das
demandas do grupo. É então que podemos por meio da relação transferencial
tentar estabelecer o significado ordenador do discurso real enquanto mediador do
inconsciente, pela palavra. O discurso e o que perpassa pelo discurso (fatos
clínicos) contam o que o grupo representa para o membro, e como o membro
estrutura a si mesmo através do movimento do grupo.
Em um grupo operativo algumas vezes é necessário evitar interpretações e
movimentos terapêuticos, mesmo que o grupo se torne: um grupo de suposto
básico para Bion (1975) ou um grupo de processo (Berne, 1966/ 1997), momentos
em que o grupo se revela no campo das relações transferenciais (quando emerge
o fato clínico)
Podemos então, se for nosso propósito, utilizar esta intensa atividade
transferencial para analisar o conteúdo das demandas do grupo e das pessoas
dentro do grupo, por meio da projeção e identificação.
Mas só será devolvida esta análise , através da interpretação, se for um grupo
de caráter terapêutico, ou um workshop onde a dinâmica grupal e o contrato com
o psicólogo assim o permita.
INTEGRAÇÃO DE CONCEITOS
Berne (1966) define os grupos como formais ou informais, conforme tenham ou
não objetivos e organização estruturados. Tanto os formais como os informais
podem ser grupos de processos conforma apareçam ou não situações
transferencias (situações não resolvidas do passado, que são trazidas ao aquí e
agora grupal). O grupo de atividade é chamado por Bion (1975) de grupo de
trabalho, diferenciando de grupo de processo ou de suposto básico. Quando o
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7. grupo está em atividade, é um grupo de trabalho e está dirigido a um objetivo, com
organização. Se em algum momento surgem emoções que denunciam o vivenciar
no “aqui e agora” de situações inacabadas de infância, o grupo se torna um grupo
de processo.
Segundo Pichon Rivière (1980): o grupo sempre é operativo (de atividade ou
de trabalho). Quando se forma um grupo cada um dos integrantes projeta suas
fantasias no grupo, relacionando-se com as pessoas conforme suas projeções. As
fantasias grupais são reveladas pelo porta voz, denominado ‘alcagüete’, que é o
que fala das demandas do grupo.
Exemplo: Maria, a líder deste grupo de mulheres, diz que se sente mal por ter
que fazer todo o trabalho do grupo, que não tem ajuda, etc. Duas mulheres saem
naquele momento alegando compromissos em casa. As outras ficam consolando
e incentivando Maria. Esta delata o caráter do grupo, tornando-se o alcagüete.
Delata o latente que perpassa todo o discurso real. Sendo este um grupo de
trabalho, cada uma das mulheres têm afazeres pessoais, profissionais e a sua
dedicação à luta pelos direitos da mulher. Portanto, a situação que Maria retrata
na verdade é comum a todas. As que saem têm dificuldade em enfrentar o fato de
que necessitam dar tempo a elas mesmas. As que ficam incentivam a Criança
Interior de Maria, dando sustentação e apoio, e cuidando de si mesmas no
aspecto psíquico. Revelam a não permissão para cuidar de si mesmas. Está aí
presente a Injunção ‘Primeiro os Demais’, e ‘Não desfrute’, em que as pessoas
mostram um roteiro de vida em que só podem desfrutar depois de todo o trabalho
realizado, e depois que os outros estiverem bem.
As interações representam a possibilidade de o integrante reviver situações do
passado, penosamente reprimidas, reexperimentando-as na relação com o
coordenador, com a tarefa, com outros integrantes.
Segundo Bion (1975), sendo este neste momento um grupo de processo,
significa que o grupo traz uma crença emocional da qual todos participam, tendo o
grupo um pressuposto básico, conforme o instante:
Dependência: quando o grupo apoia e venera seu líder, que é idealizado
-
assumindo características de deidade, reforçando as fantasias de onipotência
do grupo. É neste momento que o líder ocuparia a posição existencial OK –
Não OK. A dependência do líder leva a momentos de agitação por parte do
mesmo, como o exemplo acima. O desabafo da líder provocou agitação e fuga,
e entramos no pressuposto seguinte.
Luta e fuga: quando se fantasia a existência de um perseguidor, o que leva o
-
grupo a defender-se ou agredir. O grupo de uma forma geral adota a posição
OK – Não OK e se chegar a actings - outs, ou sejam, exteriorizações de muita
agitação, por estarem vivenciando a impotência e o abandono (Não OK – Não
OK). No exemplo acima, o grupo não era capaz de sustentar as demandas
internas das participantes – não tinha secretaria efetiva, material de apoio, e
havia muito trabalho. Na parte psicológica, o fato de o grupo se preocupar mais
com as mulheres de fora do que com as do próprio grupo levava as
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8. participantes a se sentirem frágeis, sem acolhida, sem consciência deste
processo. Algum tempo este grupo viveu o pressuposto básico luta – fuga.
Emparelhamento ou Acasalamento ( paring: por de acordo, convir): o grupo
-
tende a centrar-se em torno de um par, criando um clima emocional de
expectativa e esperança. No exemplo acima, em momentos de vitória o grupo
se sente irmanado ao líder, sentindo que tudo é possível. É uma fantasia
messiânica e o grupo se coloca numa tríplice posição: OK - OK – NÂO OK. Ou
seja : ‘somos ótimas, e embora a sociedade
seja patriarcal e não esteja sensibilizada aos direitos da mulher,
conseguiremos tudo e logo’.
Cortesão (In Angeli, 1994), considera o grupo como Matrix, a terra - mãe onde
idéias são semeadas e germinadas pelos seus integrantes. Tem também o caráter
de continência e pertinência, provendo a quem dele participa de intensa
criatividade e produção concreta e psicológica. Este conceito explica o grupo
feminista aquí citado como exemplo, na medida em que estas mulheres levam
suas idéias a outros grupos em contínua fertilização, germinação e nascimento.
Este conceito na verdade traduz a idéia geral de grupos. É um centro de
alimentação e renovação para todos que deles participam, quer na condição de
líderes, quer na condição de participantes.
A conceituação de Berne a respeito de processo de grupo não foge as
colocações atuais de grupanálise. Na grupanálise o grupo é um todo, com ego,
superergo e id. Existe uma protomentalidade grupal (Terzis, 1994). O enfoque é
dado ao grupo e não ao indivíduo. Este é somente um emissário da voz grupal,
voz que nasce do inconsciente grupal. Algumas coisas podem ser mais bem
entendidas, como a organização psíquica do grupo e a análise das configurações
vinculares (Lima, 1999).
O que se torna diferente é que Berne analisa as transações ocorridas, tendo o
analista transacional uma atitude diretiva, no tocante a colocar conceitos de AT e
exercícios. Este procedimento torna o método grupal , no conhecimento
psicanalítico, em grupo de crescimento emocional .
O estabelecimento do contrato terapêutico diz a respeito do enquadre e setting
terapêuticos. Isto possibilita que os sentimentos aflorem em segurança, e qualquer
quebra em relação ao contrato de tratamento é encarado como ‘gancho’ de jogo
ou como designativo do processo da pessoa ou grupo, em psicoterapia analítica..
Berne (1966) coloca no primeiro capítulo a necessidade do enquadre, com
respeito a estabelecimento de dia, hora, número de participantes, honorários,
local, regras.
O contato de pacientes e terapeuta fora do conceito grupal, em grupos de
psicoterapia transacional é incentivado e/ou aceito como necessidade grupal.
Na grupanálise e na psicoterapia grupal de base analítica, isto é
desencorajado, para que o analista possa ver melhor as transferencias ocorridas,
já que a análise trabalha em cima das relações transferenciais.
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9. A questão do ‘setting’ (espaço temporal e espacial onde ocorrem as reuniões
– que corresponde também a um espaço atemporal onde o discurso latente
aparece) é muito importante na abordagem analítica. A mudança do setting
implica em mudança no processo do grupo, o que acarreta desvio no processo em
andamento de análise.
Ficam aquí as idéias básicas compartilhadas, efetivas ao lidar com grupos.
1. O grupo como continência e fermentação de idéias e sentimentos,
possibilitando maturação, crescimento e exteriorização das necessidades e
idéias no ambiente externo.
2. A força da coesão grupal e da possibilidade da identidade e convivência em
um grupo.
3. Todo grupo, mesmo de atividade e formal, tem a possibilidade de em algum
momento se tornar um grupo de processo. Isto é saudável, para que as
demandas de um objeto saudáveis sejam expresso e interpretado no nível real.
O líder do grupo precisa estar preparado para lidar com isto em qualquer
instituição ou área que atue. Além disto instituir grupos de reflexão é uma
forma de estar lidando com este conteúdo latente sem prejuízo da função
operativa (de trabalho) do grupo.
BIBLIOGRAFIA
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9
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TUCKETT, David, Conceituação e Comunicação de Fatos Clínicos em
Psicanálise, Revista Brasileira de Psicanálise, vol. XXVIII, n.4, 1994,
Prefácio
NOTAS
• Os termos psicólogo , facilitador, professor, analista, terapeuta, são usados
com o mesmo significado, ou seja, aquele que presta ajuda, assim como
analisando, treinando, aluno, cliente e paciente têm a conotação daquele que
pede e/ou recebe ajuda ou orientação.
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11. • As palavras independem de sexo e/ou gênero – o uso do masculino é uma
questão gramatical.
• Posição OK – OK designa decisões infantis onde aprendemos (ou não) que
todos temos nossas qualidades e defeitos, e podemos seguir juntos, apesar de
dificuldades. OK-Não OK é uma posição existencial projetiva, onde o OK se
sente responsável e/ou mais capacitado que o outro (Não OK).
• Injunções são mensagens enviadas de forma não consciente pelos genitores e
pessoas importantes para a criança, ensinando-os o que fazer perante
situações as mais diversas. Exemplo: familiares que não conseguiram ser
felizes tendem a se mostrarem assim, de tal forma que a criança pode intuir
que é culpada pelo sofrimento dos pais. Assim, a injunção pode ser alguma
frase que relate um ‘auto castigo’ como NÃO DESFRUTE, ou VOCÊ NÃO
MERECE. A criança intui e faz disto uma regra a ser obedecida, ad eternum.
RESUMO
I. ESTRUTURA GRUPAL PRINCIPAL
Região do Líder: espaço destinado ao líder ou por este ocupado. Exemplo – em
escolas tradicionais, o professor fica em um pequeno palco em frente a lousa –
seu espaço é restrito. Nas universidades o líder professor passeia entre as
carteiras. Depende muito do caráter do grupo. Os grupos terapêuticos têm mais
espaço, tanto para o líder, como para os membros.
Fronteira Interna Principal: LIMITE FÍSICO ENTRE LÍDER E MEMBROS. Em
grupos de cidadania e terapêuticos, embora de finalidade diversa, a fronteira
interna principal é bem flexível. Em psicoterapia depende também da abordagem.
Região dos Membros: Espaço físico onde os participantes se movem.
Fronteira Externa: Limite do grupo (uma porta ou algo que delimite o espaço do
grupo). No Paço Municipal há uma delimitação em dias de reunião da câmara.
Quando há palestras de direitos humanos este espaço é aumentado até a porta de
entrada.
Ambiente externo : o local além ou externo a fronteira externa do grupo.
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II. PROCESSO GRUPAL EXTERNO
Quando há a existência de forças externas, há uma solidariedade maior (coesão)
entre os membros, e uma tendência a combater as forças externas, ou tendência
à retração grupal frente a força externa.
Só quando a liderança desiste ou é seriamente ameaçada ocorre a ruptura. Neste
caso cedem as fronteiras externas, e o grupo se dissipa. Exemplo: Movimento
Estudantil na Ditadura. Exemplo de coesão grupal: os grupos que efetivamente
auxiliam em direitos humanos.
...............................................................................
III. FORÇAS QUE OPERAM EM UM GRUPO
A - Processo Grupal Externo: Pressão por parte de FORÇAS EXTERNAS ao
grupo, cujo objetivo é destruir a liderança, ou fronteira principal interna. Se o grupo
é destruído é porque seu aparato é mais fraco que as forças opositoras.
B - Processo Grupal Interno: ENTRE LÍDER E MEMBROS
Agitação (Bion - luta/fuga)
Agitação Interna: ações dos membros que desorganizam o grupo através
das inclinações individuais. É quando emergem os “acting-out”. Se o grupo não sai
do pressuposto luta-fuga, quando há a regressão narcísica primária, por falta de
objetos saudáveis internalizados, há a projeção no grupo (líder e/ou membros)
Coesão (Bion - dependência/acasalamento)
Coesão grupal: força que se opõe tanto à pressão quanto à agitação. Ou
pela tendência básica à coesão (pertinência)/ ou idealização do líder
(dependência)/ ou pela identificação com outro membro em sistema de pares .
C - Processo Grupal Interno Secundário: ENTRE MEMBROS
Os interesses individuais e busca de afinidades podem conflitar com os de
outros participantes do grupo. Ao mesmo tempo, se há afinidades, pode auxiliar a
coesão. Porisso é importante que as várias opiniões sejam valorizadas.
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13. Noeliza Bianchini de Lima é psicóloga, Mestre em Psicologia Clínica (PUCCAMP,
2000), professora universitária, analista transacional didata. ngroupsy@yahoo.com
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