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Ano 2 • Número 7 • 10 de junho de 2012 • R$ 5,00




                   •
                            Eles
             vieram
                para
                ficar
                               Estrangeiros
                        saem de sua terra
                         nata I e escol hem
                              Jaú como lar
I ri
I
, I'
11'1
    1I
         Estrangeiros de
         vários países adotam
         o Brasil como terra
         natal e escolhem Jaú
         para viver

         Flaviana de Freitas
         flaviana@comerciodojahu.com.br          Em [aú, vivem pessoas dos          landa e Peru. Em todos os casos,
                                              mais diversos países, que exercem     os estrangeiros vieram para outras
             "A primeira vez que eu vim a     variadas profissões. As causas da     cidades do País, mas acabaram
         Iaú, tive certeza de que era aqui    vinda ao Município são muitas,        por estabelecer residência em Iaú.
         que eu queria morar." Este é o de-   como busca por novas oportuni-            No total, são 140 imigrantes
         poimento da professora de inglês     dades, progressão na carreira, re-    que vivem no Município, de acor-
         Lee Courtney Marvin, 37 anos,        lacionamentos e procura por uma       do com o Censo 2010 do Instituto
         que veio da Inglaterra para o Bra-   cidade estrutura da.                  Brasileiro de Geografia e Esta-
         sil aos 10 anos de idade. Assim         A Revista do Comércio con-         tística (rBGE). No mesmo ano,
         como Lee, milhares de estrangei-     versou com cinco imigrantes que       o Ministério da Justiça registrou
         ros vêm ao País, todos os anos,      vivem no Município, originários       961 mil estrangeiros regulares
           ara estabelecer residência.        da Espanha, Itália, Inglaterra, Ho-   que viviam no Brasil. Em 2011, o
            22   • REVISTA DO COMÉRCIO
número subiu para 1.466 mil imi-
grantes.

ADAPTAÇÃO

   Lee morou por muito tempo
em São Paulo. A busca por tran-
quilidade, no entanto, fez que ela
fosse viver com os filhos em Ber-
tioga, pequena cidade localizada
no litoral de São Paulo. Com o
tempo, a professora quis se mu-
dar para uma cidade maior, que
oferecesse oportunidades e tam-
bém tranquilidade.
   "Vim a Iaú porque, na época, o
namorado da minha mãe morava
aqui. A primeira vez que visitei a
cidade fiquei encantada, tive cer-
teza de que era aqui que eu queria
morar com meus filhos. Hoje' em
dia, não penso em viver em outro
local", afirma Lee.
   Estar distante dos próprios cos-
tumes e da família é um processo,
muitas vezes, complicado. A pes-
soa que decide sair de sua terra
natal precisa se adaptar à cultura
do país escolhido e criar novos      o


vínculos no âmbito profissional e    I
no quesito relacionamentos.           ~
   Segundo a psicóloga Thais ~
Coimbra Della Tonia, os benefí-
cios de residir em um local diferen-
te são muitos, como crescimento
psicológico e emocional, formação
                                          "Tem de estar
de novas opiniões e criação de            disposto
oportunidades. "Muitas vezes, a
pessoa também cria novos valores          a aprender"
e habilidade para se adaptar e li-
dar com as diferenças", comenta           "Cheguei ao Brasil em novem-
Thais.                                    bro de 2005, por causa da
   A adequação para um novo pa-           minha ex-esposa. Eu estudava ,
drão de vida foi algo que ocorreu         jornalismo na Universidad de
normalmente para o consultor de           Santiago de Compostela, quan-
gestão de negócios Oscar Curros,          do conheci a minha ex-mulher,
31 anos. Ele veio da Espanha para         que estava de intercâmbio. Eu
o Brasil em 2005, mas passou a            vim para o Brasil e inicialmente
viver em Iaú somente no ano pas-          morei em São Paulo. Depois
sado.                                     terminamos e conheci minha
   "Quando cheguei ao País mo-            atual namorada, que é de Iaú,
rava em São Paulo, que tem um             Mudei-me para o Município no
ritmo de vida totalmente diferente        meio do ano passado e gostei
de Iaú. Aqui na cidade consegui           muito, pois consegui ter uma
ficar mais tranquilo, voltei a prati-     vida mais tranquila e voltar a
car atividades físicas e passei a ter     praticar esportes. A mudança
mais qualidade de vida. Gosto de          de um país para outro é sempre .   Oscar Curros;    eSl'tlfJ,hQ()!J;r:ll~:St
interagir com outras pessoas, esse        um processo complicado, pois       consultor de gestão de negottioi
processo de adaptação é fantástí-
                                                                                        REVISTA DO COMÉRCIO     •   231
co", conta Curros.

                                                                                     PROFISSÃO

                                                                                        Procurar uma nova carreira ou
                                                                                     aproveitar oportunidades       é um
                                                                                     dos motivos que levam pessoas a
                                                                                     mudar de cidade e de país. O en-
                                                                                     genheiro químico Moisés Leoca-
                                                                                     dia Zárate Vidal veio do Peru para
                                                                                     trabalhar em uma usina em Pore-
                                                                                     catu, no Paraná.
                                                                                        Após alguns anos, recebeu con-
                                                                                     vite para vir a Iaú e se mudou com
                                                                                     a esposa e os quatro filhos para o
                                                                                     Município. Aqui ele desenvolveu
                                                                                     sua carreira como engenheiro quí-
                                                                                     mico e recebeu prêmios por seu
                                                                                     trabalho. Também foi presidente
                                                                                     do Rotary e adquiriu vida social
                                                                                     intensa em Iaú.
                                                                                        "Foi algo bom que ocorreu em
                                                                                     nossas vidas. Eu trabalhava no
                                                                                     Peru, mas quis vir para crescer na
                                                                                     carreira e conhecer algo diferen-
                                                                                     te. Hoje estou aposentado, tenho
                                                                                     netos brasileiros e sei que nunca
                                                                                     mais vou embora do Brasil", relata
                                                                                     VidaI.
                                                                                        Quem também pensa em fixar
                                                                                     raízes em [aú é o chef de cozinha
                                                                                     italiano Mauro Ferroni, 43 anos.
I I
          "Minha                                 Gladys e eu resolvemos estabe-
                                                 lecer residência e criar nossos
                                                                                     Para ele, abrir o próprio restauran-
                                                                                     te no Município foi o passo mais
          residência                             filhos. Na verdade, o processo de   difícil. Ferroni relata que, quando
                                                 adaptação no Brasil foi muito       veio ao Brasil, foi trabalhar como
1 1.1
          definitiva                             fácil, pois os brasileiros são      chef de cozinha em São Paulo.
          é em Iaü"
    11
1   11
                                                 amigáveis e acolhedores. Poreca-    Como estava acostumado com
!   ,,'

                                                 tu era uma cidade pequena, que      sua cidade da Itália, que era mais
                                                 tinha outros estrangeiros, então    tranquíla, estranhou viver na ca-
           "Eu me formei como engenheiro         foi uma mudança suave. Meus         pital.
          químico na Universidad Nacional        filhos foram os que se adap-            "Vim para Iaú com a minha fa-
          de Trujillo, no Peru, em 1966.         taram mais rápido, pois eram        mília, achei que ia ser melhor para
          Trabalhei no meu país por oito         pequenos e aprenderam a língua      eles. Fiquei em torno de cinco
          anos, quando recebi uma proposta       com perfeição. Em Iaü, nossa        meses desempregado, mas depois
          para trabalhar na Vtmezuela. Mi-       vida sempre foi boa, sempre         comecei a trabalhar na cantina do
          nha esposa~Gladys, concordou em        tivemos excelentes amigos na
          viajar e nosmudamos com nossos         cidade. Meus filhos se casaram e
          três filhos. Um ano depois, no         hoje tenho netos brasileiros. De
          entanto, voltei para o Peru e recebi   vez em quando, vamos ao Peru
          outro convite, para trabalhar no       para visitar a família, mas não
          Brasil. Em 1976 fui para Poreca-       pretendo voltar mais. Minha
          tu, no Paraná •.para exercer minha     residência definitiva agora é
          função na Usina Central Paraná.        aqui, em Iaü,"
          Depois de seis anos, fui convidado                                         Brasileiras natas                              130.900
          para atuar aqui em Iaü, na Central     Moisés Leoceãio Zárate              Brasileiras por naturalização                      108
          Paulísta de Açúcar e Álcool. Foi       Vidal, peruano, engenheiro          Estrangeiras                                        32
          no Município que minha esposa          químico                             Total                                         131.040
                                                                                     Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)


          124 .   REVISTA DO COMÉRCIO
-

                                    Fuss. Há sete meses, finalmente       e sou realizado com o que faço.
    "Sou                            consegui abrir meu próprio restau-
                                    rante. Ia Itália estava impraticá-
                                                                          Exerço meu papel como padre e
                                                                          a comunidade costuma apreciar a
    realizado                       vel ter um negócio próprio", decla-   minha função. Minha família está
                                    ra Ferroni.                           toda em Holambra, mas de vez em
    vivendo                                                               quando vou visitá-Ia. Hoje sou to-
    em Iaü"                         MUDANÇAS                              talmente brasileiro", defende Hey-
                                                                          den, da Abadia São Norberto.
                                       A psicóloga Thais diz que, para
     "Eu saí da Holanda no ano      que as mudanças culturais não         MISCIGENAÇÃO
     de 1950, com os meus pais.     sejam bruscas e a experiência não
    Na época, eu tinha apenas       se torne traumática, o estrangeiro       A formação do povo brasileiro,
     6 anos e meus pais eram        deve buscar contato com as pes-       caracterizada pela mescla de et-
    lavradores. Havia um fluxo      soas do local. " ormalmente, as       nias, faz que o País seja um local
    migratório muito grande         pessoas que saem de seu país de       ideal para receber estrangeiros.
    para o Brasil e as pessoas se   origem querem conhecer pessoas        Hoje em dia, o Brasil é uma nação
    animavam a sair da Europa       e lugares novos. Se ela tiver a ca-   de imigração, pois a estabilidade
    para trabalhar aqui. Fomos      beça aberta, é um processo curto      econômica e a visibilidade do País
    para a cidade de Holambra,      de adaptação", ressalta.              no exterior têm causado o fluxo
    onde há uma grande colônia         No País há mais de seis dé--       migratório de diversos países.
     de imigrantes holandeses.      cadas, o padre Sergio Henrique           De acordo com a diretora do
    Morei por lá até os meus        van der Heyden, 68 anos, é um         Departamento de Estrangeiros do
     13 anos de idade, quando       exemplo de estrangeiro que está       Ministério da Justiça, Izaura Maria
    resolvi ser padre e entrei      totalmente adaptado ao modo de        Soares, a vinda de imigrantes para
    para o seminário. Depois de     vida brasileiro e também jauense.     o País é essencial para a caracteri-
    alguns anos, depois que me      Heyden veio para o Município por      zação da formação brasileira, que
    formei padre, fui transferido   causa de sua escolha em seguir a      é baseada na miscigenação.
    para Iaü, onde vivo até hoje.   vocação religiosa. Ele se mudou          "Há muitas vantagens no fluxo
    Todos os meus irmãos ainda      da Holanda para a cidade de Ho-       migratório, como a transferência de
    moram em Holambra, então,       lambra, no Brasil, na década de       saber e contato intercultural. O País
    de vez em quando vou visitá-    1950, quando tinha 6 anos. De-        está em franco desenvolvimento,
    -los. Já fui algumas vezes      pois foi para o seminário e acabou    então, é um momento em que cada
    para a minha terra natal,       sendo transferido para Iaú.           vez mais estrangeiros têm buscado
    a Holanda, mas como vim            "Moro aqui há muitos anos          viver no Brasil", afirma Izaura.
    para o Brasil muito pequeno,
    me considero totalmente
    brasileiro. Das últimas vezes
    que fui para a Europa, passei
    pouco tempo na Holanda,
    pois aproveitei para passear
    em outros países. Sou feliz
    com a vida que tenho em
    Iaü, pois me sinto realizado.
    Aqui exerço a minha função
    de padre e sei que tem uma
    comunidade que gosta de
    mim, que me aprecia. Embo-
    ra eu ainda tenha um pouco
    do sotaque holandês, pois
    meus pais sempre falaram
    a língua nativa em casa, eu
    aprendi totalmente o portu-
    guês, pois vim muito peque-
    no. Sou brasileiríssimo."

    Sergio Henrique ven der
    Heyden, holandês, padre da
    Abadia São Norberto, 68 anos


                                                                                     REVISTA DO COMÉRCIO   • 25
"Mudar de
                                                                                        .- .-
                                                                                     pais eum
                                                                                     processo
                                                                                     difícil"
                                                                                     "A minha vinda para o Brasil,
                                                                                     no início, foi muito sofrida.
                                                                                     Cheguei aqui quando tinha
                                                                                     10 anos, pois minha mãe
                                                                                     havia iniciado um namoro
                                                                                     com um brasileiro e nós
                                                                                     nos mudamos para São
                                                                                     Paulo. Comecei a estudar
                                                                                     em uma escola da capital,
                                                                                     mas demorei muito tempo
                                                                                     para me adaptar, porque não
                                                                                     entendia a língua e os hábitos
                                                                                     dos alunos eram totalmente
                                                                                     diferentes dos da Inglaterra.
                                                                                     Além do mais, lá eu morava
                                                                                     em uma ilha tranquila, e aqui
  Intercâmbios                           fora do Brasil.
                                            "Eu desejava viajar para outro
                                                                                     no Brasil fui parar em São
                                                                                     Paulo. Aos poucos, no entan-
  são atrativos                          país nessa condição de intercâm-
                                         bio, isto é, viajar por um longo
                                                                                     to, fui me adaptando. Depois
                                                                                     que nasceram meus filhos,
                                         período, me estabelecendo em um             resolvi que não queria mais
     Assim como o Brasil recebe imi-     lugar e levando o mesmo estilo de           ficar na loucura da capital,
  grantes, muitos brasileiros também     vida das pessoas desse lugar. Daí           então, me mudei para Bertio-
  optam por viajar para outros países,   surgiu a opção do Canadá, que me            ga, que é uma pequena praia
  para estudar ou trabalhar. Muitos      concedeu visto de trabalho de um            no litoral paulista. Fiquei
  vão até outras nações para morar       ano, com as mesmas condições de             por lá bastante tempo, mas
  por curtos períodos ou por tempo       um canadense", conta 5ousa.                 logo percebi que o local não
  indeterminado.                            O engenheiro mecânico diz que            era suficiente para o cresci-
     O engenheiro mecânico João          as dificuldades de se adaptar a uma         mento dos meus filhos. Como
  Paulo Almeida Prado Oliveira e         nova cultura foram menores do               o namorado da minha mãe
  50 usa, 28 anos, é de [aú, mas há      que ele esperava. "A experiência            era jauense, vim conhecer a
  mais de um ano vive no Canadá.         que se ganha ao morar fora do país          cidade e me apaixonei. Tinha
  Ele conta que foi ao país para         de origem é incrível. Você aprende          a estrutura necessária para
  fazer intercâmbio de um ano, mas       uma nova cultura, conhece outros            os meus filhos sem perder a
  acabou decidindo ficar mais tempo      costumes", ressalta 5ousa.                  tranquilidade. Mudei para
                                                                                     Iaü e, hoje em dia, sou muito
                                                                                     feliz. Trabalho como profes-
                                                                                     sora de inglês e adoro o que
                                                                                     faço. Acho que me encontrei
                                                                                     em Iaü, no momento não
                                                                                     penso em sair daqui. Mudar
                                                                                     de país é um processo muito
                                                                                     difícil, por isso o momento
                                                                                     que você se encontra deve ser
                                                                                     valorizado."

                                                                               .g
                                                                                l>   Lee Courtney Marvin,
                                                                               Zl"   inglesa, 37 anos, professora de
                                                                               ~     inglês
                                                                               ~

126 .   REVISTA DO COMÉRCIO
"Não queria
desvalorizar
meu trabalho"
"Cheguei ao Brasil há três anos,
quando a concorrência no setor
de culinária invadiu o mercado
italiano. As pessoas começaram a
fazer o mesmo serviço por meno-
res salários, então, os restaurantes   nunca dava certo, não conseguia     Cultural (Fuss). Trabãlhei ali em
pararam de pagar bem os chefs de       financiamento. Vnn para o Brasil    torno de cinco meses, mas, como
cozinha. Eu não queria desvalori-      e fiquei nove meses em São Paulo,   era dentro da Prefeitura, eu tinha
zar meu trabalho e um dia cheguei      até que nos mudamos para Iaü, Na    de fazer um cardápio limitado. Há
ao ponto de perceber que meu           Itália, eu vivia em Florença, que   sete meses consegui ab~ meu pró-
salário não era suficiente. Então,     é uma cidade calma e tranquila,     prio restaurante, com muita dívida
um amigo da minha esposa, que          então não me acostumei bem ao       e dificuldade. Estou muito feliz,
é brasileira, comentou que havia       ritmo de São Paulo. Fiquei desem-   pois aos poucos temos conquistado
uma proposta para eu treinar a         pregado, em Iaü, por cinco meses,   clientela para a mínha cantina."
equipe de um restaurante em São        até que fui chamado para ser chef
Paulo. Eu já havia tentado abrir       da cantina do Fundo de Solidarie-   Mauro Ferroni, italiano, 43 anos,
meu próprio negócio na Itália e        dade e Desenvolvimento Social e     chef de cozinha

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[Entrevistado] Eles vieram para ficar: Estrangeiros saem de sua terra natal e escolhem Jaú como lar

  • 1. Ano 2 • Número 7 • 10 de junho de 2012 • R$ 5,00 • Eles vieram para ficar Estrangeiros saem de sua terra nata I e escol hem Jaú como lar
  • 2. I ri I , I' 11'1 1I Estrangeiros de vários países adotam o Brasil como terra natal e escolhem Jaú para viver Flaviana de Freitas flaviana@comerciodojahu.com.br Em [aú, vivem pessoas dos landa e Peru. Em todos os casos, mais diversos países, que exercem os estrangeiros vieram para outras "A primeira vez que eu vim a variadas profissões. As causas da cidades do País, mas acabaram Iaú, tive certeza de que era aqui vinda ao Município são muitas, por estabelecer residência em Iaú. que eu queria morar." Este é o de- como busca por novas oportuni- No total, são 140 imigrantes poimento da professora de inglês dades, progressão na carreira, re- que vivem no Município, de acor- Lee Courtney Marvin, 37 anos, lacionamentos e procura por uma do com o Censo 2010 do Instituto que veio da Inglaterra para o Bra- cidade estrutura da. Brasileiro de Geografia e Esta- sil aos 10 anos de idade. Assim A Revista do Comércio con- tística (rBGE). No mesmo ano, como Lee, milhares de estrangei- versou com cinco imigrantes que o Ministério da Justiça registrou ros vêm ao País, todos os anos, vivem no Município, originários 961 mil estrangeiros regulares ara estabelecer residência. da Espanha, Itália, Inglaterra, Ho- que viviam no Brasil. Em 2011, o 22 • REVISTA DO COMÉRCIO
  • 3. número subiu para 1.466 mil imi- grantes. ADAPTAÇÃO Lee morou por muito tempo em São Paulo. A busca por tran- quilidade, no entanto, fez que ela fosse viver com os filhos em Ber- tioga, pequena cidade localizada no litoral de São Paulo. Com o tempo, a professora quis se mu- dar para uma cidade maior, que oferecesse oportunidades e tam- bém tranquilidade. "Vim a Iaú porque, na época, o namorado da minha mãe morava aqui. A primeira vez que visitei a cidade fiquei encantada, tive cer- teza de que era aqui que eu queria morar com meus filhos. Hoje' em dia, não penso em viver em outro local", afirma Lee. Estar distante dos próprios cos- tumes e da família é um processo, muitas vezes, complicado. A pes- soa que decide sair de sua terra natal precisa se adaptar à cultura do país escolhido e criar novos o vínculos no âmbito profissional e I no quesito relacionamentos. ~ Segundo a psicóloga Thais ~ Coimbra Della Tonia, os benefí- cios de residir em um local diferen- te são muitos, como crescimento psicológico e emocional, formação "Tem de estar de novas opiniões e criação de disposto oportunidades. "Muitas vezes, a pessoa também cria novos valores a aprender" e habilidade para se adaptar e li- dar com as diferenças", comenta "Cheguei ao Brasil em novem- Thais. bro de 2005, por causa da A adequação para um novo pa- minha ex-esposa. Eu estudava , drão de vida foi algo que ocorreu jornalismo na Universidad de normalmente para o consultor de Santiago de Compostela, quan- gestão de negócios Oscar Curros, do conheci a minha ex-mulher, 31 anos. Ele veio da Espanha para que estava de intercâmbio. Eu o Brasil em 2005, mas passou a vim para o Brasil e inicialmente viver em Iaú somente no ano pas- morei em São Paulo. Depois sado. terminamos e conheci minha "Quando cheguei ao País mo- atual namorada, que é de Iaú, rava em São Paulo, que tem um Mudei-me para o Município no ritmo de vida totalmente diferente meio do ano passado e gostei de Iaú. Aqui na cidade consegui muito, pois consegui ter uma ficar mais tranquilo, voltei a prati- vida mais tranquila e voltar a car atividades físicas e passei a ter praticar esportes. A mudança mais qualidade de vida. Gosto de de um país para outro é sempre . Oscar Curros; eSl'tlfJ,hQ()!J;r:ll~:St interagir com outras pessoas, esse um processo complicado, pois consultor de gestão de negottioi processo de adaptação é fantástí- REVISTA DO COMÉRCIO • 231
  • 4. co", conta Curros. PROFISSÃO Procurar uma nova carreira ou aproveitar oportunidades é um dos motivos que levam pessoas a mudar de cidade e de país. O en- genheiro químico Moisés Leoca- dia Zárate Vidal veio do Peru para trabalhar em uma usina em Pore- catu, no Paraná. Após alguns anos, recebeu con- vite para vir a Iaú e se mudou com a esposa e os quatro filhos para o Município. Aqui ele desenvolveu sua carreira como engenheiro quí- mico e recebeu prêmios por seu trabalho. Também foi presidente do Rotary e adquiriu vida social intensa em Iaú. "Foi algo bom que ocorreu em nossas vidas. Eu trabalhava no Peru, mas quis vir para crescer na carreira e conhecer algo diferen- te. Hoje estou aposentado, tenho netos brasileiros e sei que nunca mais vou embora do Brasil", relata VidaI. Quem também pensa em fixar raízes em [aú é o chef de cozinha italiano Mauro Ferroni, 43 anos. I I "Minha Gladys e eu resolvemos estabe- lecer residência e criar nossos Para ele, abrir o próprio restauran- te no Município foi o passo mais residência filhos. Na verdade, o processo de difícil. Ferroni relata que, quando adaptação no Brasil foi muito veio ao Brasil, foi trabalhar como 1 1.1 definitiva fácil, pois os brasileiros são chef de cozinha em São Paulo. é em Iaü" 11 1 11 amigáveis e acolhedores. Poreca- Como estava acostumado com ! ,,' tu era uma cidade pequena, que sua cidade da Itália, que era mais tinha outros estrangeiros, então tranquíla, estranhou viver na ca- "Eu me formei como engenheiro foi uma mudança suave. Meus pital. químico na Universidad Nacional filhos foram os que se adap- "Vim para Iaú com a minha fa- de Trujillo, no Peru, em 1966. taram mais rápido, pois eram mília, achei que ia ser melhor para Trabalhei no meu país por oito pequenos e aprenderam a língua eles. Fiquei em torno de cinco anos, quando recebi uma proposta com perfeição. Em Iaü, nossa meses desempregado, mas depois para trabalhar na Vtmezuela. Mi- vida sempre foi boa, sempre comecei a trabalhar na cantina do nha esposa~Gladys, concordou em tivemos excelentes amigos na viajar e nosmudamos com nossos cidade. Meus filhos se casaram e três filhos. Um ano depois, no hoje tenho netos brasileiros. De entanto, voltei para o Peru e recebi vez em quando, vamos ao Peru outro convite, para trabalhar no para visitar a família, mas não Brasil. Em 1976 fui para Poreca- pretendo voltar mais. Minha tu, no Paraná •.para exercer minha residência definitiva agora é função na Usina Central Paraná. aqui, em Iaü," Depois de seis anos, fui convidado Brasileiras natas 130.900 para atuar aqui em Iaü, na Central Moisés Leoceãio Zárate Brasileiras por naturalização 108 Paulísta de Açúcar e Álcool. Foi Vidal, peruano, engenheiro Estrangeiras 32 no Município que minha esposa químico Total 131.040 Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) 124 . REVISTA DO COMÉRCIO
  • 5. - Fuss. Há sete meses, finalmente e sou realizado com o que faço. "Sou consegui abrir meu próprio restau- rante. Ia Itália estava impraticá- Exerço meu papel como padre e a comunidade costuma apreciar a realizado vel ter um negócio próprio", decla- minha função. Minha família está ra Ferroni. toda em Holambra, mas de vez em vivendo quando vou visitá-Ia. Hoje sou to- em Iaü" MUDANÇAS talmente brasileiro", defende Hey- den, da Abadia São Norberto. A psicóloga Thais diz que, para "Eu saí da Holanda no ano que as mudanças culturais não MISCIGENAÇÃO de 1950, com os meus pais. sejam bruscas e a experiência não Na época, eu tinha apenas se torne traumática, o estrangeiro A formação do povo brasileiro, 6 anos e meus pais eram deve buscar contato com as pes- caracterizada pela mescla de et- lavradores. Havia um fluxo soas do local. " ormalmente, as nias, faz que o País seja um local migratório muito grande pessoas que saem de seu país de ideal para receber estrangeiros. para o Brasil e as pessoas se origem querem conhecer pessoas Hoje em dia, o Brasil é uma nação animavam a sair da Europa e lugares novos. Se ela tiver a ca- de imigração, pois a estabilidade para trabalhar aqui. Fomos beça aberta, é um processo curto econômica e a visibilidade do País para a cidade de Holambra, de adaptação", ressalta. no exterior têm causado o fluxo onde há uma grande colônia No País há mais de seis dé-- migratório de diversos países. de imigrantes holandeses. cadas, o padre Sergio Henrique De acordo com a diretora do Morei por lá até os meus van der Heyden, 68 anos, é um Departamento de Estrangeiros do 13 anos de idade, quando exemplo de estrangeiro que está Ministério da Justiça, Izaura Maria resolvi ser padre e entrei totalmente adaptado ao modo de Soares, a vinda de imigrantes para para o seminário. Depois de vida brasileiro e também jauense. o País é essencial para a caracteri- alguns anos, depois que me Heyden veio para o Município por zação da formação brasileira, que formei padre, fui transferido causa de sua escolha em seguir a é baseada na miscigenação. para Iaü, onde vivo até hoje. vocação religiosa. Ele se mudou "Há muitas vantagens no fluxo Todos os meus irmãos ainda da Holanda para a cidade de Ho- migratório, como a transferência de moram em Holambra, então, lambra, no Brasil, na década de saber e contato intercultural. O País de vez em quando vou visitá- 1950, quando tinha 6 anos. De- está em franco desenvolvimento, -los. Já fui algumas vezes pois foi para o seminário e acabou então, é um momento em que cada para a minha terra natal, sendo transferido para Iaú. vez mais estrangeiros têm buscado a Holanda, mas como vim "Moro aqui há muitos anos viver no Brasil", afirma Izaura. para o Brasil muito pequeno, me considero totalmente brasileiro. Das últimas vezes que fui para a Europa, passei pouco tempo na Holanda, pois aproveitei para passear em outros países. Sou feliz com a vida que tenho em Iaü, pois me sinto realizado. Aqui exerço a minha função de padre e sei que tem uma comunidade que gosta de mim, que me aprecia. Embo- ra eu ainda tenha um pouco do sotaque holandês, pois meus pais sempre falaram a língua nativa em casa, eu aprendi totalmente o portu- guês, pois vim muito peque- no. Sou brasileiríssimo." Sergio Henrique ven der Heyden, holandês, padre da Abadia São Norberto, 68 anos REVISTA DO COMÉRCIO • 25
  • 6. "Mudar de .- .- pais eum processo difícil" "A minha vinda para o Brasil, no início, foi muito sofrida. Cheguei aqui quando tinha 10 anos, pois minha mãe havia iniciado um namoro com um brasileiro e nós nos mudamos para São Paulo. Comecei a estudar em uma escola da capital, mas demorei muito tempo para me adaptar, porque não entendia a língua e os hábitos dos alunos eram totalmente diferentes dos da Inglaterra. Além do mais, lá eu morava em uma ilha tranquila, e aqui Intercâmbios fora do Brasil. "Eu desejava viajar para outro no Brasil fui parar em São Paulo. Aos poucos, no entan- são atrativos país nessa condição de intercâm- bio, isto é, viajar por um longo to, fui me adaptando. Depois que nasceram meus filhos, período, me estabelecendo em um resolvi que não queria mais Assim como o Brasil recebe imi- lugar e levando o mesmo estilo de ficar na loucura da capital, grantes, muitos brasileiros também vida das pessoas desse lugar. Daí então, me mudei para Bertio- optam por viajar para outros países, surgiu a opção do Canadá, que me ga, que é uma pequena praia para estudar ou trabalhar. Muitos concedeu visto de trabalho de um no litoral paulista. Fiquei vão até outras nações para morar ano, com as mesmas condições de por lá bastante tempo, mas por curtos períodos ou por tempo um canadense", conta 5ousa. logo percebi que o local não indeterminado. O engenheiro mecânico diz que era suficiente para o cresci- O engenheiro mecânico João as dificuldades de se adaptar a uma mento dos meus filhos. Como Paulo Almeida Prado Oliveira e nova cultura foram menores do o namorado da minha mãe 50 usa, 28 anos, é de [aú, mas há que ele esperava. "A experiência era jauense, vim conhecer a mais de um ano vive no Canadá. que se ganha ao morar fora do país cidade e me apaixonei. Tinha Ele conta que foi ao país para de origem é incrível. Você aprende a estrutura necessária para fazer intercâmbio de um ano, mas uma nova cultura, conhece outros os meus filhos sem perder a acabou decidindo ficar mais tempo costumes", ressalta 5ousa. tranquilidade. Mudei para Iaü e, hoje em dia, sou muito feliz. Trabalho como profes- sora de inglês e adoro o que faço. Acho que me encontrei em Iaü, no momento não penso em sair daqui. Mudar de país é um processo muito difícil, por isso o momento que você se encontra deve ser valorizado." .g l> Lee Courtney Marvin, Zl" inglesa, 37 anos, professora de ~ inglês ~ 126 . REVISTA DO COMÉRCIO
  • 7. "Não queria desvalorizar meu trabalho" "Cheguei ao Brasil há três anos, quando a concorrência no setor de culinária invadiu o mercado italiano. As pessoas começaram a fazer o mesmo serviço por meno- res salários, então, os restaurantes nunca dava certo, não conseguia Cultural (Fuss). Trabãlhei ali em pararam de pagar bem os chefs de financiamento. Vnn para o Brasil torno de cinco meses, mas, como cozinha. Eu não queria desvalori- e fiquei nove meses em São Paulo, era dentro da Prefeitura, eu tinha zar meu trabalho e um dia cheguei até que nos mudamos para Iaü, Na de fazer um cardápio limitado. Há ao ponto de perceber que meu Itália, eu vivia em Florença, que sete meses consegui ab~ meu pró- salário não era suficiente. Então, é uma cidade calma e tranquila, prio restaurante, com muita dívida um amigo da minha esposa, que então não me acostumei bem ao e dificuldade. Estou muito feliz, é brasileira, comentou que havia ritmo de São Paulo. Fiquei desem- pois aos poucos temos conquistado uma proposta para eu treinar a pregado, em Iaü, por cinco meses, clientela para a mínha cantina." equipe de um restaurante em São até que fui chamado para ser chef Paulo. Eu já havia tentado abrir da cantina do Fundo de Solidarie- Mauro Ferroni, italiano, 43 anos, meu próprio negócio na Itália e dade e Desenvolvimento Social e chef de cozinha