[Resenha] Käfer, S. Comunicação empresarial e relações públicas internacionais
[Entrevistado] Eles vieram para ficar: Estrangeiros saem de sua terra natal e escolhem Jaú como lar
1. Ano 2 • Número 7 • 10 de junho de 2012 • R$ 5,00
•
Eles
vieram
para
ficar
Estrangeiros
saem de sua terra
nata I e escol hem
Jaú como lar
2. I ri
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, I'
11'1
1I
Estrangeiros de
vários países adotam
o Brasil como terra
natal e escolhem Jaú
para viver
Flaviana de Freitas
flaviana@comerciodojahu.com.br Em [aú, vivem pessoas dos landa e Peru. Em todos os casos,
mais diversos países, que exercem os estrangeiros vieram para outras
"A primeira vez que eu vim a variadas profissões. As causas da cidades do País, mas acabaram
Iaú, tive certeza de que era aqui vinda ao Município são muitas, por estabelecer residência em Iaú.
que eu queria morar." Este é o de- como busca por novas oportuni- No total, são 140 imigrantes
poimento da professora de inglês dades, progressão na carreira, re- que vivem no Município, de acor-
Lee Courtney Marvin, 37 anos, lacionamentos e procura por uma do com o Censo 2010 do Instituto
que veio da Inglaterra para o Bra- cidade estrutura da. Brasileiro de Geografia e Esta-
sil aos 10 anos de idade. Assim A Revista do Comércio con- tística (rBGE). No mesmo ano,
como Lee, milhares de estrangei- versou com cinco imigrantes que o Ministério da Justiça registrou
ros vêm ao País, todos os anos, vivem no Município, originários 961 mil estrangeiros regulares
ara estabelecer residência. da Espanha, Itália, Inglaterra, Ho- que viviam no Brasil. Em 2011, o
22 • REVISTA DO COMÉRCIO
3. número subiu para 1.466 mil imi-
grantes.
ADAPTAÇÃO
Lee morou por muito tempo
em São Paulo. A busca por tran-
quilidade, no entanto, fez que ela
fosse viver com os filhos em Ber-
tioga, pequena cidade localizada
no litoral de São Paulo. Com o
tempo, a professora quis se mu-
dar para uma cidade maior, que
oferecesse oportunidades e tam-
bém tranquilidade.
"Vim a Iaú porque, na época, o
namorado da minha mãe morava
aqui. A primeira vez que visitei a
cidade fiquei encantada, tive cer-
teza de que era aqui que eu queria
morar com meus filhos. Hoje' em
dia, não penso em viver em outro
local", afirma Lee.
Estar distante dos próprios cos-
tumes e da família é um processo,
muitas vezes, complicado. A pes-
soa que decide sair de sua terra
natal precisa se adaptar à cultura
do país escolhido e criar novos o
vínculos no âmbito profissional e I
no quesito relacionamentos. ~
Segundo a psicóloga Thais ~
Coimbra Della Tonia, os benefí-
cios de residir em um local diferen-
te são muitos, como crescimento
psicológico e emocional, formação
"Tem de estar
de novas opiniões e criação de disposto
oportunidades. "Muitas vezes, a
pessoa também cria novos valores a aprender"
e habilidade para se adaptar e li-
dar com as diferenças", comenta "Cheguei ao Brasil em novem-
Thais. bro de 2005, por causa da
A adequação para um novo pa- minha ex-esposa. Eu estudava ,
drão de vida foi algo que ocorreu jornalismo na Universidad de
normalmente para o consultor de Santiago de Compostela, quan-
gestão de negócios Oscar Curros, do conheci a minha ex-mulher,
31 anos. Ele veio da Espanha para que estava de intercâmbio. Eu
o Brasil em 2005, mas passou a vim para o Brasil e inicialmente
viver em Iaú somente no ano pas- morei em São Paulo. Depois
sado. terminamos e conheci minha
"Quando cheguei ao País mo- atual namorada, que é de Iaú,
rava em São Paulo, que tem um Mudei-me para o Município no
ritmo de vida totalmente diferente meio do ano passado e gostei
de Iaú. Aqui na cidade consegui muito, pois consegui ter uma
ficar mais tranquilo, voltei a prati- vida mais tranquila e voltar a
car atividades físicas e passei a ter praticar esportes. A mudança
mais qualidade de vida. Gosto de de um país para outro é sempre . Oscar Curros; eSl'tlfJ,hQ()!J;r:ll~:St
interagir com outras pessoas, esse um processo complicado, pois consultor de gestão de negottioi
processo de adaptação é fantástí-
REVISTA DO COMÉRCIO • 231
4. co", conta Curros.
PROFISSÃO
Procurar uma nova carreira ou
aproveitar oportunidades é um
dos motivos que levam pessoas a
mudar de cidade e de país. O en-
genheiro químico Moisés Leoca-
dia Zárate Vidal veio do Peru para
trabalhar em uma usina em Pore-
catu, no Paraná.
Após alguns anos, recebeu con-
vite para vir a Iaú e se mudou com
a esposa e os quatro filhos para o
Município. Aqui ele desenvolveu
sua carreira como engenheiro quí-
mico e recebeu prêmios por seu
trabalho. Também foi presidente
do Rotary e adquiriu vida social
intensa em Iaú.
"Foi algo bom que ocorreu em
nossas vidas. Eu trabalhava no
Peru, mas quis vir para crescer na
carreira e conhecer algo diferen-
te. Hoje estou aposentado, tenho
netos brasileiros e sei que nunca
mais vou embora do Brasil", relata
VidaI.
Quem também pensa em fixar
raízes em [aú é o chef de cozinha
italiano Mauro Ferroni, 43 anos.
I I
"Minha Gladys e eu resolvemos estabe-
lecer residência e criar nossos
Para ele, abrir o próprio restauran-
te no Município foi o passo mais
residência filhos. Na verdade, o processo de difícil. Ferroni relata que, quando
adaptação no Brasil foi muito veio ao Brasil, foi trabalhar como
1 1.1
definitiva fácil, pois os brasileiros são chef de cozinha em São Paulo.
é em Iaü"
11
1 11
amigáveis e acolhedores. Poreca- Como estava acostumado com
! ,,'
tu era uma cidade pequena, que sua cidade da Itália, que era mais
tinha outros estrangeiros, então tranquíla, estranhou viver na ca-
"Eu me formei como engenheiro foi uma mudança suave. Meus pital.
químico na Universidad Nacional filhos foram os que se adap- "Vim para Iaú com a minha fa-
de Trujillo, no Peru, em 1966. taram mais rápido, pois eram mília, achei que ia ser melhor para
Trabalhei no meu país por oito pequenos e aprenderam a língua eles. Fiquei em torno de cinco
anos, quando recebi uma proposta com perfeição. Em Iaü, nossa meses desempregado, mas depois
para trabalhar na Vtmezuela. Mi- vida sempre foi boa, sempre comecei a trabalhar na cantina do
nha esposa~Gladys, concordou em tivemos excelentes amigos na
viajar e nosmudamos com nossos cidade. Meus filhos se casaram e
três filhos. Um ano depois, no hoje tenho netos brasileiros. De
entanto, voltei para o Peru e recebi vez em quando, vamos ao Peru
outro convite, para trabalhar no para visitar a família, mas não
Brasil. Em 1976 fui para Poreca- pretendo voltar mais. Minha
tu, no Paraná •.para exercer minha residência definitiva agora é
função na Usina Central Paraná. aqui, em Iaü,"
Depois de seis anos, fui convidado Brasileiras natas 130.900
para atuar aqui em Iaü, na Central Moisés Leoceãio Zárate Brasileiras por naturalização 108
Paulísta de Açúcar e Álcool. Foi Vidal, peruano, engenheiro Estrangeiras 32
no Município que minha esposa químico Total 131.040
Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)
124 . REVISTA DO COMÉRCIO
5. -
Fuss. Há sete meses, finalmente e sou realizado com o que faço.
"Sou consegui abrir meu próprio restau-
rante. Ia Itália estava impraticá-
Exerço meu papel como padre e
a comunidade costuma apreciar a
realizado vel ter um negócio próprio", decla- minha função. Minha família está
ra Ferroni. toda em Holambra, mas de vez em
vivendo quando vou visitá-Ia. Hoje sou to-
em Iaü" MUDANÇAS talmente brasileiro", defende Hey-
den, da Abadia São Norberto.
A psicóloga Thais diz que, para
"Eu saí da Holanda no ano que as mudanças culturais não MISCIGENAÇÃO
de 1950, com os meus pais. sejam bruscas e a experiência não
Na época, eu tinha apenas se torne traumática, o estrangeiro A formação do povo brasileiro,
6 anos e meus pais eram deve buscar contato com as pes- caracterizada pela mescla de et-
lavradores. Havia um fluxo soas do local. " ormalmente, as nias, faz que o País seja um local
migratório muito grande pessoas que saem de seu país de ideal para receber estrangeiros.
para o Brasil e as pessoas se origem querem conhecer pessoas Hoje em dia, o Brasil é uma nação
animavam a sair da Europa e lugares novos. Se ela tiver a ca- de imigração, pois a estabilidade
para trabalhar aqui. Fomos beça aberta, é um processo curto econômica e a visibilidade do País
para a cidade de Holambra, de adaptação", ressalta. no exterior têm causado o fluxo
onde há uma grande colônia No País há mais de seis dé-- migratório de diversos países.
de imigrantes holandeses. cadas, o padre Sergio Henrique De acordo com a diretora do
Morei por lá até os meus van der Heyden, 68 anos, é um Departamento de Estrangeiros do
13 anos de idade, quando exemplo de estrangeiro que está Ministério da Justiça, Izaura Maria
resolvi ser padre e entrei totalmente adaptado ao modo de Soares, a vinda de imigrantes para
para o seminário. Depois de vida brasileiro e também jauense. o País é essencial para a caracteri-
alguns anos, depois que me Heyden veio para o Município por zação da formação brasileira, que
formei padre, fui transferido causa de sua escolha em seguir a é baseada na miscigenação.
para Iaü, onde vivo até hoje. vocação religiosa. Ele se mudou "Há muitas vantagens no fluxo
Todos os meus irmãos ainda da Holanda para a cidade de Ho- migratório, como a transferência de
moram em Holambra, então, lambra, no Brasil, na década de saber e contato intercultural. O País
de vez em quando vou visitá- 1950, quando tinha 6 anos. De- está em franco desenvolvimento,
-los. Já fui algumas vezes pois foi para o seminário e acabou então, é um momento em que cada
para a minha terra natal, sendo transferido para Iaú. vez mais estrangeiros têm buscado
a Holanda, mas como vim "Moro aqui há muitos anos viver no Brasil", afirma Izaura.
para o Brasil muito pequeno,
me considero totalmente
brasileiro. Das últimas vezes
que fui para a Europa, passei
pouco tempo na Holanda,
pois aproveitei para passear
em outros países. Sou feliz
com a vida que tenho em
Iaü, pois me sinto realizado.
Aqui exerço a minha função
de padre e sei que tem uma
comunidade que gosta de
mim, que me aprecia. Embo-
ra eu ainda tenha um pouco
do sotaque holandês, pois
meus pais sempre falaram
a língua nativa em casa, eu
aprendi totalmente o portu-
guês, pois vim muito peque-
no. Sou brasileiríssimo."
Sergio Henrique ven der
Heyden, holandês, padre da
Abadia São Norberto, 68 anos
REVISTA DO COMÉRCIO • 25
6. "Mudar de
.- .-
pais eum
processo
difícil"
"A minha vinda para o Brasil,
no início, foi muito sofrida.
Cheguei aqui quando tinha
10 anos, pois minha mãe
havia iniciado um namoro
com um brasileiro e nós
nos mudamos para São
Paulo. Comecei a estudar
em uma escola da capital,
mas demorei muito tempo
para me adaptar, porque não
entendia a língua e os hábitos
dos alunos eram totalmente
diferentes dos da Inglaterra.
Além do mais, lá eu morava
em uma ilha tranquila, e aqui
Intercâmbios fora do Brasil.
"Eu desejava viajar para outro
no Brasil fui parar em São
Paulo. Aos poucos, no entan-
são atrativos país nessa condição de intercâm-
bio, isto é, viajar por um longo
to, fui me adaptando. Depois
que nasceram meus filhos,
período, me estabelecendo em um resolvi que não queria mais
Assim como o Brasil recebe imi- lugar e levando o mesmo estilo de ficar na loucura da capital,
grantes, muitos brasileiros também vida das pessoas desse lugar. Daí então, me mudei para Bertio-
optam por viajar para outros países, surgiu a opção do Canadá, que me ga, que é uma pequena praia
para estudar ou trabalhar. Muitos concedeu visto de trabalho de um no litoral paulista. Fiquei
vão até outras nações para morar ano, com as mesmas condições de por lá bastante tempo, mas
por curtos períodos ou por tempo um canadense", conta 5ousa. logo percebi que o local não
indeterminado. O engenheiro mecânico diz que era suficiente para o cresci-
O engenheiro mecânico João as dificuldades de se adaptar a uma mento dos meus filhos. Como
Paulo Almeida Prado Oliveira e nova cultura foram menores do o namorado da minha mãe
50 usa, 28 anos, é de [aú, mas há que ele esperava. "A experiência era jauense, vim conhecer a
mais de um ano vive no Canadá. que se ganha ao morar fora do país cidade e me apaixonei. Tinha
Ele conta que foi ao país para de origem é incrível. Você aprende a estrutura necessária para
fazer intercâmbio de um ano, mas uma nova cultura, conhece outros os meus filhos sem perder a
acabou decidindo ficar mais tempo costumes", ressalta 5ousa. tranquilidade. Mudei para
Iaü e, hoje em dia, sou muito
feliz. Trabalho como profes-
sora de inglês e adoro o que
faço. Acho que me encontrei
em Iaü, no momento não
penso em sair daqui. Mudar
de país é um processo muito
difícil, por isso o momento
que você se encontra deve ser
valorizado."
.g
l> Lee Courtney Marvin,
Zl" inglesa, 37 anos, professora de
~ inglês
~
126 . REVISTA DO COMÉRCIO
7. "Não queria
desvalorizar
meu trabalho"
"Cheguei ao Brasil há três anos,
quando a concorrência no setor
de culinária invadiu o mercado
italiano. As pessoas começaram a
fazer o mesmo serviço por meno-
res salários, então, os restaurantes nunca dava certo, não conseguia Cultural (Fuss). Trabãlhei ali em
pararam de pagar bem os chefs de financiamento. Vnn para o Brasil torno de cinco meses, mas, como
cozinha. Eu não queria desvalori- e fiquei nove meses em São Paulo, era dentro da Prefeitura, eu tinha
zar meu trabalho e um dia cheguei até que nos mudamos para Iaü, Na de fazer um cardápio limitado. Há
ao ponto de perceber que meu Itália, eu vivia em Florença, que sete meses consegui ab~ meu pró-
salário não era suficiente. Então, é uma cidade calma e tranquila, prio restaurante, com muita dívida
um amigo da minha esposa, que então não me acostumei bem ao e dificuldade. Estou muito feliz,
é brasileira, comentou que havia ritmo de São Paulo. Fiquei desem- pois aos poucos temos conquistado
uma proposta para eu treinar a pregado, em Iaü, por cinco meses, clientela para a mínha cantina."
equipe de um restaurante em São até que fui chamado para ser chef
Paulo. Eu já havia tentado abrir da cantina do Fundo de Solidarie- Mauro Ferroni, italiano, 43 anos,
meu próprio negócio na Itália e dade e Desenvolvimento Social e chef de cozinha