4. Ciência: da filosofia à publicação
Copyright @ Gilson Luiz Volpato, 2013
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Capa: Fernanda Moreno Sanchez Volpato
Revisão Crítica: Helene Mariko Ueno
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Divisão Técnica de Biblioteca e Documentação – Campus de Botucatu – UNESP
Bibliotecária responsável: Sulamita Clemente Colnago – CRB 8/4716
Volpato, Gilson Luiz.
Ciência : da filosofia à publicação / Gilson Luiz Volpato.
– São Paulo : Cultura Acadêmica, 2013
377 p. : il. ; 23,5 cm
Inclui bibliografia
ISBN: 978-85-7983-282-6
1. Filosofia. 2. Ciência. 3. Comunicação. 4. Metodologia.
5. Estatística. I. Título.
CDD 001.42
Cultura Acadêmica Editora
Praça da Sé, 108 – Centro
CEP: 01.001-900 – São Paulo – SP
Telefone: (11) 3242-7171
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5. Este livro não é para velhos, é para jovens;
mas jovens de espírito,
não importa a idade que tenham.
A man can do all things if he will.
[Leon Battista Alberti (1404–1472)]
Ou o século XXI é dedicado aos valores humanos, morais e éticos...
ou de nada valeram os avanços tecnológicos conquistados até aqui.
[Volpato 2000]
6.
7. HOMENAGEM PÓSTUMA
DEDICO este livro à educação brasileira. Aquela educação que me permitiu ingressar
numa universidade pública de bom nível. Aquela educação que me fez fascinar-me pelas trilhas da
ciência. Aquela escola pública na qual, muitas vezes, aprendi nos livros de meus próprios professores.
Aquela educação valorizada e competente. A educação brasileira do ensino primário, ginasial e cole-gial,
que vivi até o ano de 1974. Essa mesma... a educação pública do ensino fundamental e médio que
vi morrer, sucateada por ideias medíocres e de ganância lucrativa. A educação brasileira que tivemos,
de excelência, e que poucos, mas poderosos, quiseram que não sobrevivesse. Se hoje somos um país
com educação pública sucateada não é porque não tivemos a competência de construir a excelência,
mas simplesmente porque ela foi assassinada por interesses não educacionais.
Se hoje lhes escrevo este livro, é porque nasci no momento ainda certo, quando o pobre
podia receber estudo pré-universitário de primeira linha. E faço esta homenagem porque os jovens
precisam saber que houve um tempo em que nossa educação básica e fundamental pública e gratuita
era a excelência, mas foi sucateada, assassinada. Esse foi, sem dúvida, o pior crime cometido contra
nossa nação.
Será que, em breve, terei que homenagear também a universidade pública brasileira?
8.
9. SUMÁRIO
AGRADECIMENTOS .............................................................................................................. 17
SOBRE O AUTOR .................................................................................................................... 19
PREFÁCIO À SEXTA EDIÇÃO ................................................................................................ 23
PRIMEIRAS PALAVRAS ......................................................................................................... 27
PARTE 1 - Da Filosofia à Ciência ..................................................................... 31
Noções da história da ciência empírica ..................................................................... 33
O início ..................................................................................................................................................... 34
O início de uma nova era .................................................................................................................... 38
Filosofia medieval .................................................................................................................................. 42
Renascimento medieval ....................................................................................................................... 44
Início da ciência moderna ............................................................................................................... 45
O racionalismo .................................................................................................................................... 53
O debate racionalismo – empirismo ............................................................................................... 55
Referência ............................................................................................................................................... 57
Obras consultadas ................................................................................................................................. 57
Literatura complementar ...................................................................................................................... 57
10. PARTE 2 - Do Erro à Formação ....................................................................... 59
CAPÍTULO I - A Deformação de Cientistas ................................................................ 63
I-1 O que é ser cientista? ........................................................................................................................ 64
I-2 Como impedir a formação de um cientista? ................................................................................. 65
I-3 Como as agências de fomento à pesquisa podem prejudicar a formação de um cientista? .... 65
I-4 Como as instituições de ensino e pesquisa podem prejudicar a formação de um cientista? .... 67
I-5 Como os professores podem prejudicar a formação de um cientista? ...................................... 68
I-6 Como os orientadores podem prejudicar a formação de um cientista? .................................... 70
I-7 Como o próprio aluno pode prejudicar sua formação científica? ............................................. 71
Referências ............................................................................................................................................... 73
Literatura Complementar ........................................................................................................................ 73
CAPÍTULO II - Ciência ................................................................................................ 75
II-1 O que é ciência? ................................................................................................................................ 75
II-2 O que é uma pesquisa científica? .................................................................................................. 81
II-3 Resumidamente, o que caracteriza o método científico? ......................................................... 82
II-4 As pesquisas qualitativas também usam base empírica? ........................................................... 83
II-5 Nas Ciências Humanas as coisas são mesmo diferentes? .......................................................... 84
II-6 O que é Ciência Natural? E Ciência Formal? .............................................................................. 87
II-7 O que é conhecimento científico? ................................................................................................. 88
II-8 As conclusões científicas são verdadeiras? .................................................................................. 89
II-9 Indução: problema ou solução? ................................................................................................... 92
II-10 O que são hipótese, tese, teoria, lei, hipótese ad hoc, predição, argumento, falácia, 00
postulado, dogma e mito? ........................................................................................................... 95
II-11 Como ocorre progresso na ciência? ............................................................................................ 98
II-12 Qual a diferença entre ciência básica e ciência aplicada? ........................................................ 101
II-13 Basta tecnologia? .......................................................................................................................... 104
II-14 Devemos preferir as pesquisas aplicadas? ............................................................................... 105
II-15 A ciência é amoral? .................................................................................................................... 108
II-16 O cientista pode ser religioso? ................................................................................................... 108
Referências .............................................................................................................................................. 110
Literatura Complementar ...................................................................................................................... 111
11. Capítulo III - Publicação Científica ....................................................................... 115
III-1 O que publicar? ............................................................................................................................. 115
III-2 Por que publicar? .......................................................................................................................... 116
III-3 O que diferencia as revistas científicas das revistas de divulgação científica? ...................... 116
III-4 O que é uma revista científica internacional? .......................................................................... 117
III-5 Como classificar as revistas científicas? ...................................................................................... 118
III-6 Qual é o formato de uma revista científica? ............................................................................... 120
III-7 Qual é o formato de um artigo científico? .................................................................................. 120
III-8 O que está mudando nas revistas científicas? ............................................................................. 122
III-9 Em qual idioma publicar? ............................................................................................................. 123
III-10 Quem paga os custos das revistas científicas? .......................................................................... 124
III-11 Quais são as principais qualidades de um periódico científico? ........................................... 125
III-12 Onde encontrar as melhores revistas? ....................................................................................... 126
III-13 Como escolher a revista para publicação? ................................................................................ 127
III-14 Como é o processo de publicação de artigos? ......................................................................... 128
III-15 Como os revisores avaliam nosso manuscrito? ........................................................................ 129
III-16 Como deve ser a carta de encaminhamento ao editor? .......................................................... 131
III-17 Quanto tempo demora para receber a resposta do editor? .................................................... 131
III-18 Meu manuscrito foi negado... o que devo fazer? ...................................................................... 132
III-19 Como devo responder aos revisores? ........................................................................................ 132
III-20 O que significa retracted no contexto da publicação científica? ............................................ 133
III-21 Como os autores e editores de periódicos podem se ajudar para melhorar as revistas 000
brasileiras? .................................................................................................................................... 133
Referências .............................................................................................................................................. 135
Literatura Complementar ....................................................................................................................... 136
CAPÍTULO IV - Avaliação da Atividade Científica ................................................... 139
IV-1 Por que avaliar a atividade científica? .......................................................................................... 139
IV-2 Em termos gerais, como devemos direcionar a avaliação da atividade científica? ............... 140
IV-3 Por que a citação de trabalhos pelos cientistas é um critério importante na avaliação 000
da atividade científica? ............................................................................................................... 141
IV-4 A pressão por publicação produz fraudes? ................................................................................. 143
IV-5 Por que há tanta diferença entre áreas no processo de avaliação das revistas e dos 000
cientistas brasileiros? .................................................................................................................. 143
12. IV-6 Qual a melhor base para direcionarmos a avaliação da qualidade científica na Academia? .. 145
IV-7 Devemos considerar as autocitações na avaliação da atividade científica? ............................ 147
IV-8 Como está o Brasil no JCR? .......................................................................................................... 148
IV-9 Quais os índices mais usados na avaliação da atividade científica? ........................................ 153
IV-10 Que rumo a avaliação da atividade científica está tomando? ................................................ 160
IV-11 Como avaliar um periódico científico? ..................................................................................... 166
Referências ............................................................................................................................................... 170
Literatura Complementar ....................................................................................................................... 171
Capítulo V - Criação .............................................................................................. 173
V-1 Por que a pesquisa precisa de uma boa ideia? ............................................................................. 173
V-2 O que é uma boa ideia? .................................................................................................................. 174
V-3 Poderia me mostrar exemplos de boa ideia? ............................................................................... 174
V-4 Sou um excelente aluno... serei um cientista criativo? ............................................................... 177
V-5 Por que é difícil ter uma “boa ideia”? .......................................................................................... 178
V-6 É importante conhecermos outras áreas, ou devemos nos especializar cada vez mais? ....... 179
V-7 Como escolher a melhor ideia? .................................................................................................... 180
V-8 Como o espírito empreendedor nos auxilia ter boas ideias? ................................................... 182
V-9 Como o debate entre Thomas Kuhn e Karl Popper nos auxilia a ter boas ideias? ........... 184
V-10 De quantos dados e informações precisamos para apostar numa ideia? .............................. 185
V-11 Não há literatura sobre a pesquisa que idealizei... devo abandoná-la? .................................. 187
V-12 Uma boa ideia garante uma pesquisa bem sucedida? ............................................................. 187
V-13 Uma boa ideia garante financiamento do projeto .................................................................. 188
V-14 Qual o papel da revisão da literatura? ........................................................................................ 188
V-15. Onde fazer a revisão bibliográfica? ............................................................................................ 188
V-16. Como iniciar a revisão bibliográfica? ........................................................................................ 189
V-17 Como selecionar os textos obtidos na revisão bibliográfica? .................................................. 192
Referências .............................................................................................................................................. 192
Literatura Complementar ...................................................................................................................... 193
Capítulo VI - Objetivo ........................................................................................... 195
VI-1 Qual o ponto de partida para estabelecer o projeto de pesquisa? ............................................ 195
VI-2 Como o objetivo da pesquisa direciona o desenvolvimento do trabalho? ............................. 196
VI-3 O que precisamos saber sobre variáveis para estruturar o objetivo? ....................................... 198
13. VI-4 Como começa uma pesquisa científica? ..................................................................................... 200
VI-5 Toda pesquisa científica necessita de hipótese? ......................................................................... 202
VI-6 Como a lógica da pesquisa auxilia a estruturação do objetivo? .............................................. 204
VI-7 Como tornar claro o objetivo do estudo? ................................................................................... 205
VI-8 Como redigir o objetivo do estudo? ........................................................................................... 207
VI-9 O que são objetivo geral e objetivo específico? .......................................................................... 208
VI-10 Onde o objetivo aparece no texto? ............................................................................................ 211
Referências .............................................................................................................................................. 211
Literatura Complementar ...................................................................................................................... 211
CAPÍTULO VII - Planejamento da Pesquisa ............................................................. 213
VII-1 Que ações antecedem o planejamento da pesquisa? ............................................................... 213
VII-2 Por que é necessário o planejamento da pesquisa? ................................................................. 214
VII-3 Quais as diferenças entre pesquisa quantitativa e pesquisa qualitativa? .............................. 216
VII-4 Pesquisa de campo ou de laboratório: qual a melhor? ............................................................ 217
VII-5 Método ou técnica? ..................................................................................................................... 218
VII-6 Devemos preferir as técnicas sofisticadas? ............................................................................... 219
VII-7 Qual deve ser o papel do estatístico na definição do planejamento da pesquisa? .............. 221
VII-8 Todo trabalho quantitativo necessita de análise estatística? .................................................. 221
VII-9 O que é e para que serve o estudo piloto? ................................................................................ 223
VII-10 Qual a lógica básica das pesquisas científicas? ...................................................................... 223
VII-11 Qual a diferença entre associação e correlação? .................................................................... 227
VII-12 Como os tipos lógicos de pesquisa ajudam no delineamento do estudo? ......................... 231
VII-13 O que é o delineamento de uma pesquisa? ............................................................................ 233
VII-14 O que é grupo controle? Quais as principais ferramentas de controle? ............................. 236
VII-15 Devo usar os mesmos indivíduos nos grupos experimentais? ............................................ 239
VII-16 É possível controlar todas as variáveis em uma pesquisa científica? .................................. 242
VII-17 O que é amostra? ....................................................................................................................... 243
VII-18 Como determinar o tamanho da amostra e o número de réplicas/repetições? ................ 244
VII-19 Quando escolher o teste estatístico? ........................................................................................ 251
VII-20 Como escolher o teste estatístico? ........................................................................................... 252
VII-21 Qual é a estrutura de um projeto de pesquisa? ..................................................................... 255
Referências .............................................................................................................................................. 257
Literatura Complementar ...................................................................................................................... 258
14. Capítulo VIII - Coleta de Dados ........................................................................... 261
VIII-1 A coleta de dados é a principal parte da pesquisa? ................................................................ 261
VIII-2 Toda pesquisa científica envolve coleta de dados? ................................................................. 263
VIII-3 Como garantir que os dados coletados estejam corretos? .................................................... 264
VIII-4 Como preservar os dados coletados? ....................................................................................... 265
Referência ............................................................................................................................................... 265
Literatura Complementar ...................................................................................................................... 265
Capítulo IX - Análise e Interpretação de Resultados ............................................ 267
IX-1 Os dados são objetivos ou podemos interpretá-los? .................................................................. 267
IX-2 O que são conclusões? Como se diferenciam dos resultados? .................................................. 269
IX-3 Quando a estatística ajuda? ........................................................................................................... 272
IX-4 Quando transformações em percentuais podem prejudicar a análise? ............................ 274
IX-5 Por que se usa nível crítico geralmente a 5% ou 1%? ................................................................. 275
IX-6 O que fazer com os dados que mostram apenas tendência à significância? ........................... 277
IX-7 O que fazer quando os dados coletados não sustentam a hipótese? ........................................ 278
IX-8 O que fazer quando os dados são muito discrepantes daqueles obtidos na mesma 000
condição de estudo? .................................................................................................................... 281
IX-9 Que cuidados tomar para se concluir sobre correlação entre variáveis? ................................ 284
IX-10 Por que relacionar os resultados e conclusões com os de outros autores? ............................ 286
IX-11 Até que ponto é possível avançar nas generalizações durante a elaboração 000
das conclusões? ......................................................................................................................... 287
Referências ............................................................................................................................................. 289
Literatura Complementar ..................................................................................................................... 289
CAPÍTULO X - Redação Científica ............................................................................ 293
X-1 Há diferenças na redação entre TCC, Dissertação, Tese e Artigo Científico? ........................ 293
X-2 Qual é a lógica de um texto científico? ......................................................................................... 294
X-3 Qual é a estrutura básica de um texto científico? ....................................................................... 296
X-4 Como saber se um conjunto de dados é suficiente para constituir um artigo? ...................... 298
X-5 Qual a rotina para a redação de um texto científico? ................................................................. 299
X-6 Por onde inicio e em que sequência redigir um artigo científico? ........................................... 302
X-7 Quantas páginas deve ter cada parte do texto científico? .......................................................... 306
X-8 Qual o tempo verbal e a pessoa de locução no texto científico? .............................................. 306
15. X-9 Onde aparecem as conclusões? ..................................................................................................... 308
X-10 Como escrever o texto do item Resultados? .............................................................................. 309
X-11 Como estruturar o Material e Métodos? .................................................................................... 310
X-12 Qual a função do item Discussão? ............................................................................................. 313
X-13 Como devo estruturar a Discussão? ........................................................................................... 313
X-14 Até que ponto posso fazer sugestões e recomendações? .......................................................... 315
X-15 Devo incluir propostas para estudos futuros? ........................................................................... 316
X-16 Como redigir a Introdução? ........................................................................................................ 316
X-17 Como nossas agências atrapalham a redação científica? ......................................................... 318
X-18 O que não devemos citar em nosso trabalho? .......................................................................... 319
X-19 Quais os principais erros nas citações? ...................................................................................... 319
X-20 Quais os tipos lógicos de Resumo? ............................................................................................. 323
X-21 Como fazer um Resumo Criativo? ............................................................................................. 323
X-22 Qual a função do Título do trabalho? ........................................................................................ 325
X-23 Como elaborar um bom Título? ................................................................................................. 325
X-24 Como escolher as Palavras Chave (Key-words)? ....................................................................... 327
X-25 Como escrever o Título curto (Running head)? ........................................................................ 328
X-26 A quem devo agradecer? .............................................................................................................. 328
X-27 Como escrever bem? .................................................................................................................... 329
X-28 Devo recorrer a empresas que corrigem tese/artigos científicos? .......................................... 335
X-29 Como definir as autorias de um trabalho científico? .............................................................. 337
X-30 Como definir a sequência de autores em um trabalho científico? ......................................... 340
X-31 Quais os riscos em se pontuar currículos por meio da sequência dos autores? ................... 341
Referências .............................................................................................................................................. 341
Literatura Complementar ...................................................................................................................... 342
CAPÍTULO XI - Divulgação em Congressos ............................................................. 345
XI-1 É importante participar de congressos científicos? Como escolhê-los? ................................. 345
XI-2 Como fazer um resumo estruturado? ......................................................................................... 346
XI-3 Como preparar um pôster para congresso? ............................................................................... 346
XI-4 Quais cuidados tomar ao fazer uma comunicação científica oral? ......................................... 349
XI-5 Como preparar uma apresentação PowerPoint mais eficiente? .............................................. 352
XI-6 Que cuidados tomar ao convidar um palestrante? ................................................................... 357
XI-7 Que cuidados tomar ao ser convidado para ministrar cursos/palestras? .............................. 360
16. Literatura Complementar ..................................................................................................................... 361
CAPÍTULO XII - A Formação de Cientistas .............................................................. 363
XII-1 Por que formar cientistas? .......................................................................................................... 363
XII-2 Quais os requisitos para ser um cientista? ............................................................................... 365
XII-3 Todos podem ser cientistas? ...................................................................................................... 369
XII-4 É imprescindível ao cientista estudar filosofia da ciência? .................................................... 370
XII-5 Quando se inicia a formação de um cientista? ....................................................................... 371
XII-6 A pós-graduação tem formado cientistas? .............................................................................. 372
XII-7 Você é doutor... quer virar cientista? ........................................................................................ 373
Referências ............................................................................................................................................. 374
Literatura Complementar ..................................................................................................................... 375
17. AGRADECIMENTOS
Inicialmente, quero agradecer ao combustível que mantém aceso meu ideal de contribuir para
uma melhora da formação científica das pessoas. Esse combustível vem de todas aquelas pessoas que têm
confiado em meu trabalho, seja me levando para falar para algumas plateias ou transferindo a outros as
propostas que defendo. Essas pessoas são muitas e não conheço a todas, mas cada uma perceberá meu
agradecimento.
Como esta obra recebeu apoios específicos nas edições anteriores, não posso deixar seus nomes
perderem-se no tempo. São eles, na sequência em que apareceram: Katsumasa Hoshino; Yuriko Yanagizawa
Nogueira de Almeida Pinto, Célia Maria Dória Frascá Scorvo, Newton Castagnolli, Wagner Cotroni
Valenti, Dorotéia Rossi Silva Souza, Alfredo Pereira Jr., Míriam Celí Porto Foresti, Priscila Willik Valenti,
Marize M. Dall’Aglio Hattnher, José Raimundo de Souza Passos, Maria Auxiliadora Campos Dessen, Assaf
Barki, Carla Patrícia Carlos, Edmundo José de Lucca, Maria Lúcia Negreiros Fransozo, Oduvaldo Câmara
Marques Pereira, Roberto Leung, Fernanda Moreno Sanchez Volpato, Yara Fernandes Volpato e Naiara
Fernandes Volpato. Na confecção da ficha catalográfica contei sempre com o apoio de Enilze de Souza
Nogueira Volpato e Sulamita Selma Clemente Colnago.
Mais recentemente, o Dr. Marco Aurélio Leite, Depto. de Ciências Florestais, Universidade
Federal de Lavras, Lavras, MG, me enviou uma lista de pequenos equívocos gramaticais, de digitação ou de
sentido que estavam na quinta edição, os quais corrigi nos locais onde os textos foram mantidos nesta sexta
edição. Agradeço, ainda, ao Dr. Paul G. Kinas, da FURG, RS, que me alertou e forneceu parte do material
para a análise da crítica às ideias de Popper, no que tange à indução.
E, finalmente, à minha família, esposa e filhas, que me motivam, me dão estrutura e entusiasmo
para enfrentar essa busca quase insana de meu ideal. Até mesmo a mais novinha delas, que apenas se inicia
nas primeiras palavras, mas que certamente aprenderá a usá-las com sabedoria para o bem da humanidade.
18.
19. SOBRE O AUTOR
Para que os leitores conheçam um pouco mais sobre os motivos que me levaram a escrever
este livro, tenho que reportar sobre minha ida à ciência. Na vida pré-universitária já tinha o sonho
de ser cientista, sem mesmo saber exatamente o que isso significava. Tinha o sonho de construir
leis gerais, teorias... construir o saber novo. Fascinavam-me os animais e eu duvidava que mesmo
aqueles pequenos animais de jardim, com os quais eu passava horas brincando, pudessem ser apenas
autômatos. Essa inquietação, mais as disciplinas de Biologia e Psicologia no colegial1, me firmaram
o desejo de estudar o comportamento animal. Felizmente era um curso oferecido pela Faculdade de
Ciências Médicas e Biológicas de Botucatu (FCMBB), cidade na qual eu residia e, portanto, um curso
possível de ser feito por alguém de classe média baixa. Entrei na FCMBB que, no ano seguinte, se
tornou, sob os protestos de alunos, docentes e discentes, a Universidade Estadual Paulista “Júlio de
Mesquita Filho”, a UNESP.
Minha preocupação com a ciência e o comportamento animal me conduziu à busca por
estágios. Numa ocasião, procurei um professor da área Zoológica para fazer estágio, pois tinha cole-tado
em minha casa alguns dados sobre o comportamento de abelhas e precisava de orientação. Para
minha surpresa, esse professor ignorou meus “achados” e me propôs colocar porções de água com
açúcar próximo à colmeia para ver como as abelhas iam àquele local. Disse, inclusive, que eu deveria
ir afastando essa fonte de alimentos e que as abelhas marcariam os locais sem se perder dele. Ora, ele
me propunha a ver algo que já se conhecia. Isso me desmotivou completamente, o que já revelava
minha paixão pelo novo, pelo inusitado, característica importante para quem se aventura na Ciência.
Felizmente, um ano mais tarde conheci o Dr. Katsumasa Hoshino, um exímio educador e cientista
1 Na versão moderna, Ensino Médio.
20. 20 Gilson Volpato
e, talvez por ser psicólogo, conduzia muito bem a formação de um novato. Foi aí que iniciei minha
formação científica. Foi também aí que tive meus primeiros contatos com a Filosofia, a Ciência, o
estudo do comportamento animal... e de tudo isso me orgulho muito. Fiquei sob essa orientação
durante os últimos anos de minha graduação e toda minha pós-graduação. Mas um mestre será
sempre um mestre!
Certa vez, na volta para casa, o prof. Hoshino me disse que eu era um dos poucos de seus
estagiários que tinha interesses gerais. Eu não entendi se isso era bom ou ruim.
Parte deste livro nasce de minha intenção, ou pretensão, de mostrar algumas portas para
o caminho da ciência àqueles que, porventura, não sejam ou não tenham sido agraciados com uma
orientação adequada. De fato, o que discuto neste livro é o mínimo que deveria ser contemplado
numa boa orientação de Iniciação Científica e Pós-graduação.
Minha busca por leis gerais me conduziu a acreditar, no início dos anos 80, que a ciência
deveria ser internacional. Isso balizou minhas publicações. Eram em inglês e sempre priorizei o
alcance internacional dos periódicos. Isso foi feito na pura crença sobre o fazer ciência, pois ainda
não chegavam até nós as pressões por publicações, muito menos pela qualidade do periódico ou
citações de nossos artigos. Era um ato de fé, uma questão de amor à ciência na sua vertente geral e
internacional. Meus estudos sobre filosofia da ciência reforçavam esse caminho.
Minha batalha pelas publicações de boa qualidade foi marcada por muitos insucessos, mas
felizmente por alguns sucessos que me sustentaram nesse objetivo. As publicações internacionais
foram feitas com meus estagiários, que mais tinham a aprender do que ensinar. Foi uma batalha
dura e só mais recentemente, a partir de 2003, iniciei publicações internacionais junto com cientistas
destacados. E foi o suor desse aprendizado, aliado à minha constante vontade de ensinar, que me
colocaram no caminho dos cursos sobre redação científica.
O primeiro curso formal sobre este assunto foi em nível de extensão universitária, em 1986,
para alunos de graduação, uma empreitada que dividi com a Dra. Maria Lúcia Negreiros Fransozo.
Depois disso se seguiram outros cursos e, na pós-graduação, minha primeira disciplina foi em 1989,
junto ao Centro de Aquicultura da Unesp, em Jaboticabal, SP. Havia apenas 4 alunos (um era meu
doutorando) e as aulas eram ministradas quinzenalmente às sextas-feiras. No ano seguinte, o número
de alunos foi 8 e no próximo 22. A partir daí, a quantidade de alunos se manteve sempre crescente.
De meados da década de 90 até o final dessa década, a questão da publicação científica se
tornou parte integrante da carreira científica. Após a virada do século, isso foi reforçado e continua
num crescente que, conforme discuto neste livro, felizmente tem acompanhado a evolução filosófica
na ciência, com critérios cada vez mais pautados pela qualidade e não pela quantidade.
Em 1998, já com grande demanda para ministrar cursos e workshops sobre redação científica
internacional, procurei reduzir essa pressão publicando meu primeiro livro... aí nascia o Ciência: da filo-sofia
à publicação. A partir daí, a carência da sociedade científica brasileira sobre este tema, nas três grandes
áreas do saber, me impulsionou cada vez mais para esta apaixonante missão de formação de cientistas, por
meio de uma avalanche de palestras, cursos, debates, e-mails e mais livros e, finalmente, a Internet.
21. Ciência: da filosofia à publicação 21
Em 2011 inaugurei minha página na Internet2 e minhas excursões pelo twitter3. A página
é um repositório de notícias e materiais sobre Ciência, Redação Científica, Publicação Científica,
Ética, Administração, Sociedade e Formação de Cientistas. Em cada um desses blocos há 4 setores
(Comentários, Livros, Artigos e Dicas). Há também um bloco sobre Vídeos, com um resumo de meu
curso completo, com 42 aulas (cerca de 8 h 30 min), e outro bloco com vídeos de curta duração no
qual apresento meus Pontos de Vista sobre temas relevantes nesta área. Finalmente, há um bloco de
Agenda & Contatos, onde listo meus cursos/palestras agendados, um espaço para debates e fontes
para contato.
A partir de minha vivência como educador, cientista e interessado pela filosofia da
ciência, fui construindo uma abordagem que contemplasse essa experiência no ensino da ciência.
Este livro espelha esse perfil, em que procuro mostrar a unicidade do processo científico: original-mente,
da filosofia à publicação; atualmente, da filosofia à aceitação de nossas conclusões. Para isso,
defendo que o cientista deve trilhar temas como Filosofia, Criatividade, Metodologia, Estatística,
Computação, Empreendedorismo, Administração, Marketing, Publicidade, Lógica, Sociologia,
Psicologia, Atualidades, Política, Sociologia e Educação, pois é nesse conjunto que residem as prin-cipais
ideias do processo Ciência.
Gilson L. Volpato
Maio de 2012
2 www.gilsonvolpato.com.br – Em 1 ano, recebeu cerca de 40 mil visitas.
3 @gilsonvolpato
22.
23. PREFÁCIO À SEXTA EDIÇÃO
É uma felicidade poder entregar-lhes a sexta edição do meu primeiro livro, o Ciência: da
filosofia à publicação. Este livro nasceu da vontade de ensinar os passos necessários para se formar
um cientista.
O Brasil se depara com uma encruzilhada. Seremos independentes apenas se conseguirmos
um discurso superior para com o restante do mundo. A globalização torna esse processo mais
urgente. Como este país maravilhoso poderia conseguir tal independência? A ciência e a educação
são, sem dúvida, um caminho genuíno. Não conheço qualquer país desenvolvido onde não haja
ciência e educação de boa qualidade. É o pano de fundo necessário. Mais ainda: não há tecnologia
de ponta se não houver conhecimento de ponta... e é a ciência que produz esse conhecimento, é a
educação que possibilita essa ciência.
Nós, porém, nos perdemos nas raízes de nossa cultura, de nossa formação. As regras da
ciência internacional são ditadas pelos países mais fortes; seguem seus vieses culturais. Entrar nessa
luta significa seguir essas regras. É uma luta de culturas. Na ciência temos que ser objetivos, diretos
e lógicos, mas esse não é o nosso pano de fundo. O brasileiro é prolixo, vem de formação prolixa. A
ciência não admite jeitinhos, improvisações, superficialidades, mas esse também não é o pano de
fundo de nossa sociedade. Entrar na ciência internacional requer mais, muito mais. Querem inter-nacionalizar
a ciência, mas não internacionalizam a administração da ciência nem a seriedade e
competência governamental. Nossa tarefa requer uma conversão de postura. Essa é a nossa dificul-dade.
Não é o inglês, é o pensamento.
Nossa sociedade parece estar tomando o rumo errado. Temos uma pós-graduação que não
forma cientistas, apenas doutores, seres especializados em produzir teses e artigos. E basta fazer a
tese para receber o título. Temos um grupo de coordenadores mais preocupados com a Capes do que
24. 24 Gilson Volpato
com a ciência. Temos nomes importantes fazendo diagnósticos equivocados, mas sendo ouvidos e
conduzindo milhões. Temos uma educação universitária sendo assassinada em nome da democracia,
da inclusão e da demagogia. Temos uma sociedade de ilusão, do faz de conta, um país das aparências.
Não precisa ser, basta parecer. Basta produzirmos números, a qualidade não importa.
Minha andança pelo cenário científico brasileiro é vasta. Iniciei essa minha jornada no
ensino da ciência e da redação científica nos idos de 1986, há 26 anos. Meu primeiro livro nessa área,
nascido em 1998, já surgia na ingênua expectativa de que pudesse reduzir as viagens para cursos e
palestras, pois estavam se tornando muito numerosas. Nos últimos 10 anos esse número tem sido
imenso para uma única pessoa, algo em torno de 60 a 80 por ano nas instituições públicas, com uma
agenda que se fecha com quase um ano de antecedência. Nessa demanda e contato, falo e converso
com milhares de cientistas e simpatizantes a cada ano. Vejo seus problemas, suas angústias, suas
falhas, seus sonhos e seus potenciais, seus olhos brilharem e chorarem. É uma riqueza insubstituível.
A amostragem é ampla, do interior dos estados mais pobres até as universidades mais nobres de nosso
país. Do menos experiente ao orientador expert. Essa base é forte. Ela bate duro aqui dentro e me diz:
as propostas de correção para nossa sociedade científica estão no caminho errado. Democratizar a
qualidade científica é uma meta que o Brasil não pode ignorar. Os números devem refletir qualidade.
Queremos mágica, queremos qualidade sem investir em qualidade. Queremos uma comu-nidade
de cientistas de nível internacional sem darmos a base necessária. Vejam o que ocorre no
esporte olímpico brasileiro; o gene é brasileiro, mas a formação geralmente é obtida num país desen-volvido.
E querem repetir isso na ciência. Mas essa fórmula, além de irresponsável e incompetente, é
paliativa. Nossa sociedade precisa respirar ciência, respirar ensino de qualidade, respirar cultura. O
produto será consequência.
Como produzir um percentual de cientistas de alto nível digno do tamanho de nossa
população? Não pode ser um processo casual. Dinheiro temos, falta-nos direção. Vontade temos,
faltam-nos oportunidades. Mas, falta algo mais... faltam mentes brilhantes, desafiadoras, empreende-doras,
que saibam conduzir este processo. Precisamos de medidas competentes, de pararmos de tapar
o sol com a peneira. Não vamos criar essa sociedade apenas abrindo as portas das universidades. Isso
só destruirá o que ainda resta de ensino público de qualidade em nosso país. Temos que entender
que junto com essa abertura de portas deve vir, inexoravelmente, um ataque maciço, restaurador
e transformador na educação de base, a pré-universitária. Sem isso, todo o restante é demagógico,
apenas para produzir robôs da ciência e números para os donos do mundo.
Neste livro me debruço a ensinar a ciência que acredito. Não há fórmulas mágicas para que
passemos a publicar em revistas internacionais de alto nível, nem para que nossas revistas científicas
passem a dominar o cenário internacional. Mas há um caminho sério, não demagógico e competente.
Ciência forte pode produzir pesquisa forte; e esta pode se desdobrar em publicações de alto nível.
Se isso é conseguido, teremos matéria-prima (conhecimento e pessoas) insubstituível e necessária
para a construção de um país de primeiro mundo. Plantar isso não é fácil, mas é urgente e necessário.
A visão atual não quer plantar um pé de jequitibá, mas quer visualizar sua beleza e descansar à sua
sombra. O futuro não é mágico; precisa ser construído. Se não plantarmos os jequitibás hoje, eles não
darão a beleza e o esplendor de sua existência daqui a alguns séculos. É necessário plantar para além
25. Ciência: da filosofia à publicação 25
de seus olhos, para aqueles que não conheceremos. É esse o mundo que temos que construir. É essa a
ciência que temos que almejar, pois dela brotam os frutos de uma sociedade justa, inteligente, compe-tente
e feliz. E é o fazer desse mundo que inaugura um mundo presente e real já noutra direção.
A primeira parte deste livro aborda a Filosofia, pois é a arte maior, o pano de fundo daquilo
que fazemos. É esse refletir que nos dá vida e nos faz entender a própria vida. A segunda parte trata
da ciência, da formação do cientista. Primeiro um diagnóstico do quadro, em que mostro como
deformar um cientista. Nos capítulos seguintes, me debruço na tarefa do fazer ciência. E concluo com
um último capítulo sobre como formar um cientista. Essa é a proposta do livro, desde sua primeira
edição, mas temperada por um mundo de informações e experiências que espero trazer, a cada nova
edição: um tempero especial para uma receita milenar.
Gilson Volpato
Setembro de 2012
26.
27. PRIMEIRAS PALAVRAS
A atividade científica tem atraído a atenção de muitas pessoas, particularmente no mundo
de hoje. Além das descobertas interessantíssimas ao longo de sua história, direcionou a atividade
humana atingindo a todos. O avanço industrial, decorrência importante da atividade científica,
mudou não só aspectos físicos, mas também concepções metafísicas de valor, ética, amor, política etc.
Esse grande impacto da ciência não a coloca como a principal atividade humana, mas com
certeza é uma das importantes formas de interferir no dia a dia do ser humano. Pobres ou ricos, reli-giosos
ou não, do primeiro ou do terceiro mundo, todos estão sujeitos às consequências da ciência. É
nesse panorama que vemos jovens procurando o caminho da ciência. Uma escalada aparentemente
natural para muitos.
28. 28 Gilson Volpato
Mas o que é fazer ciência? Por que apenas alguns se destacam enquanto outros
desistem? Qual o caminho? Certamente são perguntas cujas respostas, se existem, não são
simples nem completas.
A atividade científica pode ser comparada à atividade de um músico que compõe
para uma orquestra. Ele deve coordenar uma série de instrumentos para que soem de forma
harmoniosa. Um som nunca é certo ou errado, apenas adequado ou não, dada a intenção no
momento da composição. Os instrumentos têm suas especificidades, mas há um objetivo que os
une (a música em apresentação). O sentimento do compositor necessita ser interpretado. O som
produzido não é inerte, pois afeta sentimentos, processos humanos, pode mudar uma história.
A música é escrita objetivamente numa partitura, mas interpretada com subjetividade.
E o cientista? Neste livro mostro a validade do paralelo. Adiantarei apenas alguns
aspectos gerais. O cientista rege uma série de atividades (técnicas, perguntas, palestras, dados
coletados, testes estatísticos, redações, pressupostos filosóficos, formação de pessoas, ensino,
divulgação de achados, atividades administrativas etc.) que, no conjunto, compõem a ativi-dade
científica. Como na música, cada som é fundamental, mas no momento certo. Os excessos
podem soar inadequados. Na orquestra, não se deve priorizar os violinos em detrimento do
triângulo, pois suas qualidades são insubstituíveis em determinados momentos. Da mesma
forma, não se relega as questões filosóficas, nem se valoriza sobremaneira as potencialidades
estatísticas. Tudo tem uma função que, devidamente integrada, promove a ação dos grandes
mestres.
Mas como encontrar o equilíbrio? O compositor não sabe tocar todos os instrumentos
que usa. Quem toca os instrumentos não necessariamente compõe melodias. Mas para compor
uma música (letra, melodia, acompanhamento, arranjos) é necessário conhecer a essência das
partes, suas potencialidades e funções.
É essa visão holística de ciência que se perde com a produção em massa propiciada
por uma desenfreada corrida de rankings. Nossa pós-graduação tem primado a formar, em sua
vasta maioria, técnicos especializados que, com suas visões estreitas e poderes crescentes, tiram
a beleza da ciência, da descoberta, transformando-a numa atividade essencialmente técnica. E
o culpado não é a ciência, mas a prática científica inadequada.
Este livro não livrará nossa ciência desse problema. A intenção é bem mais modesta.
É mostrar aos cientistas alguns equívocos e crenças científicas, além das potencialidades lógicas
da ciência (o que nos leva a uma atividade bem mais humilde) e as ligações inexoráveis entre a
prática científica e o pano de fundo filosófico e social. É nesse universo que o desafio a entrar.
Muitos precisarão de coragem para romper pré-conceitos e experimentar uma nova reflexão,
uma nova prática.
Toda atividade científica reflete, queiramos ou não, uma posição teórica. O problema
ocorre quando o cientista não percebe tais ligações, alienando-se nos escombros da prática da
pesquisa. É por essa razão que este livro aborda primeiramente as bases filosóficas da ciência,
29. Ciência: da filosofia à publicação 29
suporte primeiro da atividade técnica científica. As questões específicas e práticas discutidas
posteriormente são sempre acompanhadas de referências a outras partes do livro, onde a base
teórica pode ser encontrada. É nesse vai e vem, da técnica à reflexão filosófica, que se constrói
a prática científica.
As perguntas que constroem este livro foram colhidas de diversos contatos com estu-dantes
de graduação e pós-graduação e cientistas de diversos níveis. Retratam, portanto, um
pouco de nossa realidade, que não é restrita ao nosso país. As respostas a essas perguntas não
são dadas na forma de receitas. Apresento respostas com as respectivas bases teóricas. Ao final
do livro indico literatura complementar, desde essencialmente técnica até obras mais gerais,
mas todas com alguma grande riqueza para completar seu caminho em direção à ciência de
qualidade. Essas referências, no entanto, nem sempre concordam com as ideias que apresento
neste livro. Assim, pela discordância, são leituras importantíssimas para a formação geral do
cientista. Algumas podem ser chamadas de “autoajuda”, mas aprendi que podemos incorporar
ideias interessantes desde que abandonemos os preconceitos em relação às suas fontes. A abor-dagem
que apresento é apenas o início de uma vasta discussão que o leitor deverá fazer ao longo
de sua carreira científica.