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De olho nos links
Estudantes do ensino médio contam como percebem a presença, ou a ausência, da abordagem
interdisciplinar na escola
25/08/2011
Cristiane Ballerini
O professor preenchia a lousa com cálculos há mais de dez minutos quando um dos alunos
perguntou sobre a biografia de John Nash – o ganhador do Prêmio Nobel de Economia de 1995 e um dos
mais originais matemáticos da história. Irritado com a “interrupção”, o professor virou-se lentamente e
fuzilou o rapaz com os olhos: “Mocinho, nós estamos na aula de matemática e não de literatura. Se quiser
falar de biografias, espere a aula de português”. O aluno ficou mudo e, para evitar novas broncas, não fez
mais perguntas.
Esse episódio, que aconteceu no ensino médio de uma escola pública em Santa Catarina, é um
exemplo extremo de como um educador, em vez de estimular, pode afastar os alunos de uma compreensão
mais ampliada e significativa da realidade. Isso em um mundo conectado em alta velocidade pelas novas
tecnologias, onde fica cada vez mais evidente o inter-relacionamento entre fatos e entre saberes: a economia
sofre influência direta da política, as questões do meio ambiente estão ligadas ao desenvolvimento social e à
educação...
Na escola, a tradição manda que as matérias tenham recortes e uma organização específica dos vários
conteúdos. No entanto, desde a década de 1950, educadores defendem um conceito fundamental para a
qualidade de ensino: a interdisciplinaridade. A convicção de sua importância na educação em geral, e na dos
jovens em particular, a colocou em destaque nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) para o ensino
médio.
“Não se trata de abandonar as disciplinas do currículo escolar, mas de encontrar formas de fazer com
que o aluno tenha uma visão sistêmica dos processos, de possibilitar, por exemplo, vários caminhos para
resolver um problema, ou refletir sobre uma questão”, diz Mozart Neves, membro do Conselho Nacional de
Educação.
Para Mozart, que é doutor em química, a ausência dessa visão integrada dos saberes entre si, e deles
com a realidade, enfraquece os currículos e não contribui para tornar a educação atraente e significativa para
o jovem, constituindo-se num dos três principais motivos dos altos índices de repetência e evasão
verificados no ensino médio. Os outros dois fatores se relacionam com a quantidade e a formação dos
professores e a falta de uma interface entre o ensino médio e o mundo do trabalho.
Construindo o conhecimento
De fato, é um grande incentivo para os alunos relacionar o que aprendem na escola com a própria
vida e fazer conexões entre vários temas. A professora de artes Ivonete Machado conhece bem essa
estratégia pedagógica. Coordenado por ela, um grupo de professores da Escola de Educação Básica Holando
Marcellino Gonçalves, em Jaraguá do Sul (SC), lançou um projeto coletivo que mobilizou toda a escola,
especialmente os alunos de ensino médio. A missão da turma era buscar conhecimento e, com o auxílio dos
professores, construir um biodigestor. Trata-se de um equipamento que transforma lixo orgânico em gás
para uso doméstico.
“Já havíamos pensado em uma atividade com objetivo de conscientização ambiental. Mas, entre os
professores, surgiu a vontade de fazer alguma coisa diferente, concreta. A ideia foi fabricar algo que pudesse
também ser uma resposta para as questões locais e mundiais de energia, algo que, um dia, as pessoas
pudessem ter em casa para gerar o gás para o consumo próprio e ainda colaborasse com a reciclagem”, diz
Ivonete.
Inicialmente destinada aos alunos do ensino médio, a iniciativa mobilizou toda a escola. Mesmo
aqueles que não estavam diretamente envolvidos, vinham curiosos perguntar aos colegas do que se tratava.
“A gente se interessou pela ideia logo de cara”, conta Malu Francine Girardi, aluna do terceiro ano do ensino
médio e uma das líderes do projeto do biodigestor.
Para desenvolver e construir o equipamento, alunos e professores se uniram em busca de
conhecimento técnico. As dificuldades não foram poucas: além da falta de referências nacionais sobre esse
tipo de projeto, o grupo não contava com recursos financeiros. A ideia seguiu adiante com o empenho dos
envolvidos e o apoio de uma empresa local, que doou latões especialmente preparados para integrar o
equipamento. Os restos orgânicos vinham da merenda escolar.
O aproveitamento pedagógico foi total. “Em química, estudamos os elementos químicos que
compõem o gás; em biologia, vimos o processo de digestão e as bactérias envolvidas; em artes, trabalhamos
a logomarca e fizemos uma maquete; em matemática, revimos conteúdos como volumes, e ainda
produzimos textos”, conta Malu. E para a própria estudante, que acabou se tornando a “relações públicas”
do projeto, foi a oportunidade de treinar suas habilidades de comunicação em apresentações e em
entrevistas, como esta.
Pronto, o biodigestor produziu gás. Pouco, é verdade, devido às limitações físicas do equipamento.
Mas as conquistas de aprendizagem foram reconhecidas. O projeto foi um dos vencedores do Prêmio
Professores do Brasil, do Ministério da Educação, que pela primeira vez destacou também educadores do
ensino médio. A equipe que desenvolveu o trabalho recebeu R$5 mil, e a escola, R$2 mil. Os recursos serão
utilizados para construir um novo biodigestor. Dessa vez, para gerar o gás utilizado na cozinha da escola.
Para a professora Ivonete, a experiência fortaleceu ainda mais a relação entre alunos e professores:
“O aluno passa a respeitar o professor como um sujeito que também está sempre aprendendo. E como os
alunos aprendem muito pelo exemplo, ao ver que o professor navega por várias áreas para construir
conhecimento, eles também são incentivados a criar seu próprio percurso”.
Exercício de poder
Mas muitos alunos ainda reclamam da distância imposta pelo “poder” do professor. “Não rola
comunicação entre professores e alunos. É aquela história do mestre, que está acima da gente. O professor
fica falando e você, só ouvindo. O aluno fica com medo de chegar no professor”, diz José Ferreira da Silva,
17 anos, no 3º ano do ensino médio.
Zezinho, como é conhecido, estuda no período noturno de uma escola estadual na periferia de João
Pessoa, Paraíba. Cansado das aulas “chatas”, em que a única coisa a fazer era ouvir, ele foi à luta sozinho
para buscar o que a escola nem sempre lhe dá. “A escola tem doze computadores, mas só um funciona. Para
piorar, quando você trabalha o dia todo, fica cansado à noite. A gente não quer estudar, e os professores não
querem dar aula. Então, quase não tem diálogo”, lamenta Zezinho, que começou a estudar informática como
autodidata, pesquisando em livros, revistas e frequentando lan houses.
Mozart Neves, que já lecionou para jovens no período noturno, lembra que cansou de ver os alunos
dormindo nas carteiras. “Eu era um professor iniciante, mas vi que havia algo de errado. Quem não dormia
ia embora. Então, fiz uma reunião com a turma e perguntei como poderia tornar as aulas mais interessantes.
No começo foi um silêncio total. Mas bastou um falar para a sala toda se manifestar”, diz.
Como resultado da interação, as aulas se tornaram mais dinâmicas, participativas e conectadas com
os problemas que os alunos enxergavam no cotidiano. “Ainda há, infelizmente, a percepção de que o
professor precisa manter a autoridade na sala para ter disciplina O caminho não é esse. É preciso derrubar as
barreiras entre professores e alunos e dar aulas capazes de chamar a atenção dos estudantes”, diz Mozart.
Trabalho em rede
Se esse e outros projetos interdisciplinares interferem tão positivamente no processo de
aprendizagem, e às vezes até na vida pessoal dos alunos, como incentivar esse tipo de atividade nas escolas?
O caminho para o educador Mozart Neves está na formação continuada do professor. “Os atuais cursos de
formação continuada, infelizmente, repetem os erros da formação inicial. Trabalham apenas conteúdo. E,
muitas vezes, conteúdo que não tem nada a ver com o ensino médio. É preciso criar já na universidade um
ambiente onde a visão sistêmica seja favorecida na formação dos professores”. Para isso, Mozart propõe
uma integração maior das disciplinas, como acontece em outras áreas que não a educação. Um projeto que
envolva nanotecnologia, por exemplo, pode ter físicos, biólogos e matemáticos interagindo. “Precisamos
levar esse conceito de trabalho em rede para a educação básica”, diz o educador.
Sem medo de ousar
A ideia de trabalho em equipe, ou em rede, é essencial à interdisciplinaridade. E, às vezes, para
possibilitar a interação de várias áreas, os próprios professores acabam literalmente dividindo espaços.
Também os alunos da Escola Estadual Guadalajara, em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense,
estão se acostumando a unir busca de novos conhecimentos e prazer. Além da intensa prática de esportes nas
quadras, a escola incentiva o funcionamento de um núcleo de cultura que atrai o interesse dos estudantes
com atividades como teatro e “contação” de histórias.
Izabela Gonçalves, 18 anos, que veio transferida de outra escola e hoje está no 2º ano do ensino
médio, logo se encantou com o “diferencial” da Guadalajara. “Aqui, além da prova, temos chance de fazer
coisas mais interessantes para aumentar a nota. Por exemplo, em vez de ler um livro e somente responder
perguntas, a gente pode transformar o livro em peça de teatro, em apresentações. É um jeito diferente de
aprender, e a gente estuda várias coisas ao mesmo tempo.”
Integrante e entusiasta do grupo de teatro, Izabela diz que alguns professores investem na
criatividade pedagógica. A professora de português, por exemplo, usou durante as aulas uma brincadeira
conhecida como adedonha. O nome não é lá muito conhecido, mas todo mundo já brincou: os jogadores
devem escrever categorias no papel (nome de cidade, fruta, título de filme...), sortear uma letra e preencher
as categorias com nomes começando por essa letra. A professora adaptou a brincadeira ao conteúdo de
algumas aulas e até na prova lançou mão do recurso para testar o conhecimento dos alunos. “Ninguém
acreditou quando contei que fizemos uma prova em forma de adedonha. Assim, fica mais fácil aprender”,
diz Izabela.

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Texto para estudo ou atividade de olho nos links

  • 1. De olho nos links Estudantes do ensino médio contam como percebem a presença, ou a ausência, da abordagem interdisciplinar na escola 25/08/2011 Cristiane Ballerini O professor preenchia a lousa com cálculos há mais de dez minutos quando um dos alunos perguntou sobre a biografia de John Nash – o ganhador do Prêmio Nobel de Economia de 1995 e um dos mais originais matemáticos da história. Irritado com a “interrupção”, o professor virou-se lentamente e fuzilou o rapaz com os olhos: “Mocinho, nós estamos na aula de matemática e não de literatura. Se quiser falar de biografias, espere a aula de português”. O aluno ficou mudo e, para evitar novas broncas, não fez mais perguntas. Esse episódio, que aconteceu no ensino médio de uma escola pública em Santa Catarina, é um exemplo extremo de como um educador, em vez de estimular, pode afastar os alunos de uma compreensão mais ampliada e significativa da realidade. Isso em um mundo conectado em alta velocidade pelas novas tecnologias, onde fica cada vez mais evidente o inter-relacionamento entre fatos e entre saberes: a economia sofre influência direta da política, as questões do meio ambiente estão ligadas ao desenvolvimento social e à educação... Na escola, a tradição manda que as matérias tenham recortes e uma organização específica dos vários conteúdos. No entanto, desde a década de 1950, educadores defendem um conceito fundamental para a qualidade de ensino: a interdisciplinaridade. A convicção de sua importância na educação em geral, e na dos jovens em particular, a colocou em destaque nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) para o ensino médio. “Não se trata de abandonar as disciplinas do currículo escolar, mas de encontrar formas de fazer com que o aluno tenha uma visão sistêmica dos processos, de possibilitar, por exemplo, vários caminhos para resolver um problema, ou refletir sobre uma questão”, diz Mozart Neves, membro do Conselho Nacional de Educação. Para Mozart, que é doutor em química, a ausência dessa visão integrada dos saberes entre si, e deles com a realidade, enfraquece os currículos e não contribui para tornar a educação atraente e significativa para o jovem, constituindo-se num dos três principais motivos dos altos índices de repetência e evasão verificados no ensino médio. Os outros dois fatores se relacionam com a quantidade e a formação dos professores e a falta de uma interface entre o ensino médio e o mundo do trabalho. Construindo o conhecimento De fato, é um grande incentivo para os alunos relacionar o que aprendem na escola com a própria vida e fazer conexões entre vários temas. A professora de artes Ivonete Machado conhece bem essa estratégia pedagógica. Coordenado por ela, um grupo de professores da Escola de Educação Básica Holando Marcellino Gonçalves, em Jaraguá do Sul (SC), lançou um projeto coletivo que mobilizou toda a escola, especialmente os alunos de ensino médio. A missão da turma era buscar conhecimento e, com o auxílio dos professores, construir um biodigestor. Trata-se de um equipamento que transforma lixo orgânico em gás para uso doméstico. “Já havíamos pensado em uma atividade com objetivo de conscientização ambiental. Mas, entre os professores, surgiu a vontade de fazer alguma coisa diferente, concreta. A ideia foi fabricar algo que pudesse também ser uma resposta para as questões locais e mundiais de energia, algo que, um dia, as pessoas pudessem ter em casa para gerar o gás para o consumo próprio e ainda colaborasse com a reciclagem”, diz Ivonete. Inicialmente destinada aos alunos do ensino médio, a iniciativa mobilizou toda a escola. Mesmo aqueles que não estavam diretamente envolvidos, vinham curiosos perguntar aos colegas do que se tratava. “A gente se interessou pela ideia logo de cara”, conta Malu Francine Girardi, aluna do terceiro ano do ensino
  • 2. médio e uma das líderes do projeto do biodigestor. Para desenvolver e construir o equipamento, alunos e professores se uniram em busca de conhecimento técnico. As dificuldades não foram poucas: além da falta de referências nacionais sobre esse tipo de projeto, o grupo não contava com recursos financeiros. A ideia seguiu adiante com o empenho dos envolvidos e o apoio de uma empresa local, que doou latões especialmente preparados para integrar o equipamento. Os restos orgânicos vinham da merenda escolar. O aproveitamento pedagógico foi total. “Em química, estudamos os elementos químicos que compõem o gás; em biologia, vimos o processo de digestão e as bactérias envolvidas; em artes, trabalhamos a logomarca e fizemos uma maquete; em matemática, revimos conteúdos como volumes, e ainda produzimos textos”, conta Malu. E para a própria estudante, que acabou se tornando a “relações públicas” do projeto, foi a oportunidade de treinar suas habilidades de comunicação em apresentações e em entrevistas, como esta. Pronto, o biodigestor produziu gás. Pouco, é verdade, devido às limitações físicas do equipamento. Mas as conquistas de aprendizagem foram reconhecidas. O projeto foi um dos vencedores do Prêmio Professores do Brasil, do Ministério da Educação, que pela primeira vez destacou também educadores do ensino médio. A equipe que desenvolveu o trabalho recebeu R$5 mil, e a escola, R$2 mil. Os recursos serão utilizados para construir um novo biodigestor. Dessa vez, para gerar o gás utilizado na cozinha da escola. Para a professora Ivonete, a experiência fortaleceu ainda mais a relação entre alunos e professores: “O aluno passa a respeitar o professor como um sujeito que também está sempre aprendendo. E como os alunos aprendem muito pelo exemplo, ao ver que o professor navega por várias áreas para construir conhecimento, eles também são incentivados a criar seu próprio percurso”. Exercício de poder Mas muitos alunos ainda reclamam da distância imposta pelo “poder” do professor. “Não rola comunicação entre professores e alunos. É aquela história do mestre, que está acima da gente. O professor fica falando e você, só ouvindo. O aluno fica com medo de chegar no professor”, diz José Ferreira da Silva, 17 anos, no 3º ano do ensino médio. Zezinho, como é conhecido, estuda no período noturno de uma escola estadual na periferia de João Pessoa, Paraíba. Cansado das aulas “chatas”, em que a única coisa a fazer era ouvir, ele foi à luta sozinho para buscar o que a escola nem sempre lhe dá. “A escola tem doze computadores, mas só um funciona. Para piorar, quando você trabalha o dia todo, fica cansado à noite. A gente não quer estudar, e os professores não querem dar aula. Então, quase não tem diálogo”, lamenta Zezinho, que começou a estudar informática como autodidata, pesquisando em livros, revistas e frequentando lan houses. Mozart Neves, que já lecionou para jovens no período noturno, lembra que cansou de ver os alunos dormindo nas carteiras. “Eu era um professor iniciante, mas vi que havia algo de errado. Quem não dormia ia embora. Então, fiz uma reunião com a turma e perguntei como poderia tornar as aulas mais interessantes. No começo foi um silêncio total. Mas bastou um falar para a sala toda se manifestar”, diz. Como resultado da interação, as aulas se tornaram mais dinâmicas, participativas e conectadas com os problemas que os alunos enxergavam no cotidiano. “Ainda há, infelizmente, a percepção de que o professor precisa manter a autoridade na sala para ter disciplina O caminho não é esse. É preciso derrubar as barreiras entre professores e alunos e dar aulas capazes de chamar a atenção dos estudantes”, diz Mozart. Trabalho em rede Se esse e outros projetos interdisciplinares interferem tão positivamente no processo de aprendizagem, e às vezes até na vida pessoal dos alunos, como incentivar esse tipo de atividade nas escolas?
  • 3. O caminho para o educador Mozart Neves está na formação continuada do professor. “Os atuais cursos de formação continuada, infelizmente, repetem os erros da formação inicial. Trabalham apenas conteúdo. E, muitas vezes, conteúdo que não tem nada a ver com o ensino médio. É preciso criar já na universidade um ambiente onde a visão sistêmica seja favorecida na formação dos professores”. Para isso, Mozart propõe uma integração maior das disciplinas, como acontece em outras áreas que não a educação. Um projeto que envolva nanotecnologia, por exemplo, pode ter físicos, biólogos e matemáticos interagindo. “Precisamos levar esse conceito de trabalho em rede para a educação básica”, diz o educador. Sem medo de ousar A ideia de trabalho em equipe, ou em rede, é essencial à interdisciplinaridade. E, às vezes, para possibilitar a interação de várias áreas, os próprios professores acabam literalmente dividindo espaços. Também os alunos da Escola Estadual Guadalajara, em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, estão se acostumando a unir busca de novos conhecimentos e prazer. Além da intensa prática de esportes nas quadras, a escola incentiva o funcionamento de um núcleo de cultura que atrai o interesse dos estudantes com atividades como teatro e “contação” de histórias. Izabela Gonçalves, 18 anos, que veio transferida de outra escola e hoje está no 2º ano do ensino médio, logo se encantou com o “diferencial” da Guadalajara. “Aqui, além da prova, temos chance de fazer coisas mais interessantes para aumentar a nota. Por exemplo, em vez de ler um livro e somente responder perguntas, a gente pode transformar o livro em peça de teatro, em apresentações. É um jeito diferente de aprender, e a gente estuda várias coisas ao mesmo tempo.” Integrante e entusiasta do grupo de teatro, Izabela diz que alguns professores investem na criatividade pedagógica. A professora de português, por exemplo, usou durante as aulas uma brincadeira conhecida como adedonha. O nome não é lá muito conhecido, mas todo mundo já brincou: os jogadores devem escrever categorias no papel (nome de cidade, fruta, título de filme...), sortear uma letra e preencher as categorias com nomes começando por essa letra. A professora adaptou a brincadeira ao conteúdo de algumas aulas e até na prova lançou mão do recurso para testar o conhecimento dos alunos. “Ninguém acreditou quando contei que fizemos uma prova em forma de adedonha. Assim, fica mais fácil aprender”, diz Izabela.