2. A LEI MAIS ANTIGA DO MUNDO
• Sintetizada na fórmula “olho por olho e dente por
dente”, é considerada como uma das normas mais
brutais e sangrentas que existem e muitas vezes
ela é citada como exemplo de selvageria e
vingança.
• Foi encontrada já no Código de Hammurábi. Era
um rei da Babilônia que viveu por volta do ano
1700 a.C.
3. TRÊS VEZES NA BÍBLIA
I - quando os israelitas acamparam-se em frente ao
Monte Sinai, Êx 21, 23-25
“Se houver dano, então pagarás vida por vida, olho
por olho, dente por dente, mão por mão, pé por pé,
queimadura por queimadura, ferimento por
ferimento, contusão por contusão”.
4. II - Alguns meses depois, também no Monte Sinai:
Lv 24, 19-21
“Se alguém causou alguma lesão ao próximo, ser-
lhe-á feito o mesmo que fez: Fratura por fratura,
olho por olho, dente por dente. Ser-lhe-á feito o
mesmo ferimento que causou ao próximo. Quem
matar um animal, deverá substituí-lo e quem
matar um homem deverá ser morto”.
5. A terceira vez que ela aparece é nas planícies de
Moab, anos mais tarde, quando os hebreus estão
por lançar-se na conquista da Terra Prometida.
Moisés exorta: Dt 19,21
“Não terás compaixão: vida por vida, olho por
olho, dente por dente, mão por mão, pé por pé”.
6. Como Deus, que inspirou as leis de Moisés, pode
sugerir-lhe que inclua uma norma tão cruel?
• Primeiro, que no antigo Oriente existia a lei da
vingança e as vinganças eram sempre muito maiores
que as ofensas feitas.
Por exemplo, se numa briga alguém cortava um dedo
do outro, seus familiares cortavam um braço do
ofensor. E se alguém perdia a perna, seu clã cortava
as duas do adversário ou inclusive a cabeça.
7. • No caso de uma pessoa matar a ovelha do
vizinho este podia chegar a matar todo o
rebanho do outro. E se matasse um homem,
seus familiares reparavam-no, matando o as-
sassino, sua mulher e seus filhos.
8. A FALTA DE POLÍCIA
• Um exemplo dessas tremendas vinganças, praticadas
em tempos primitivos, nós encontramos no Gn 4, 15
“Se alguém matar Caim, será vingado sete vezes”.
• Gn 4,23-24
“Matei um homem por uma ferida e um jovem
por causa de um arranhão. Pois, se Caim for vingado
setes vezes, Lamec o será setenta e sete vezes”.
9. • Tais práticas podem parecer-nos cruéis. Mas numa época
em que não havia polícia, nem uma autoridade central, o
temor de tais vinganças procurava reprimir os crimes e
frear qualquer tentativa de roubo ou de violência.
• Por outro lado se prestava a inúmeros abusos e gerava uma
espiral de violência tal que, com frequência, culminava em
guerras e extermínios de tribos e clãs inteiros. Um simples
golpe no rosto podia desencadear uma batalha campal.
• A própria Bíblia conta-nos como uma jovem chamada Dina
foi raptada e violentada por Siquém. Então seus irmãos,
para vingá-la, entraram na cidade do violador e
assassinaram a ele, a seu pai e a todos os jovens varões (Gn
34,1-31).
10. UM GRANDE PASSO PARA A HUMANIDADE
• A Lei foi dada por Moisés para coibir esses abusos. De fato,
mandava que, se alguém lhe arrancasse um olho, devia arrancar
o do rival. Não os dois, mas um só. E se perdia um dente, devia
reparar, arrancando um dente de seu adversário. Não todos os
dentes.
• A Lei de Talião, não obstante sua aparência cruel, veio, na
realidade, estabelecer um princípio de grande misericórdia: que
a vingança nunca deve exceder a ofensa.
• Seu propósito original foi o de frear a reação dos que se sentiam
ofendidos e pôr limite à vingança. Supôs, pois, um avanço sobre
a lei consuetudinária da vingança desmedida, própria das tribos
sem organização judicial. E deu-se um passo gigantesco no
sentido de pôr medidas à violência pessoal e social.
11. • O Livro do Deuteronômio, em sintonia com o espírito da
Lei de Talião, proibirá incluir nos castigos os parentes
inocentes: Dt 24, 16
“Os pais não serão mortos pela culpa dos filhos, nem os
filhos pela culpa dos pais: cada um será morto pelo próprio
pecado” (24,16).
• A fórmula “olho por olho, dente por dente” nunca foi
entendida literalmente. Tratava-se somente de uma
maneira de dizer que nenhum castigo devia ser superior à
ofensa recebida.
12. A NOVA LEI DE JESUS
• A Lei de Talião foi, pois, em sua época, uma
norma sumamente misericordiosa, compassiva e
benigna. Significou um enorme avanço contra as
terríveis leis da vingança e sua aplicação fez a
humanidade progredir enormemente em seu
caminho para a civilização, a convivência e o
progresso das relações humanas.
13. • Mas, quando veio Jesus, ele decidiu eliminá-la. Porque
entendeu que a vingança, por mais controlada, restrita e
justa que seja, gera sempre novos ressentimentos. E por
isso não tem lugar na vida cristã, na nova ordem que o
Senhor veio instaurar.
• Mt 5, 38-41
“Ouvistes o que foi dito: olho por olho, dente por dente. Pois
eu vos digo: não resistais ao malvado. Se alguém te
esbofetear na face direita, oferece também a outra. E se
alguém quiser mover uma ação para tirar-te a túnica, deixa-
lhe também o manto. Se alguém te obrigar a carregar-lhe a
mochila por um quilômetro, leva-a por dois”.
14. 70 X 7
• Mt 18, 21-22
“Então Pedro chegando-se a Ele, perguntou-lhe:
Senhor, quantas vezes devo perdoar ao irmão que
pecar contra mim? Até sete vezes? Jesus respondeu-
lhe: Não te digo até sete vezes, mas até setenta vezes
sete”.
15. JESUS MANDOU QUE AMÁSSEMOS OS
INIMIGOS?
• Mt 5, 43-44
“Ouvistes que foi dito: Amarás teu próximo e odiarás
teu inimigo. Pois eu vos digo: amai vossos inimigos e orai
pelos que vos perseguem”
• De fato, é possível mandar alguém amar? Pode alguém
ordenar-nos que sintamos afeto pelo outro? Se a inclinação
carinhosa para com uma pessoa é espontânea e
involuntária, como pode Jesus obrigar-nos a isso? E pior
ainda: como amar alguém que é nosso inimigo?
16. O significado do verbo “amar”
1 – “εραο” (erao) – amar que se referi ao afeto passional.
2 - “στεργο” (stergo) - indica o amor familiar, refere-se ao amor
doméstico, de família, esse amor que não se merece, mas brota
naturalmente dos laços de parentesco.
3 – “φιλεο” (fileo) - o amor de amizade. Podemos traduzi-lo por
gostar, querer bem. Assim, quando Lázaro, o amigo de Jesus, ficou
doente, suas irmãs mandaram dizer-lhes: “Senhor, aquele a quem
amas {fileo) está doente” (Jo 11,3).
4 – “αγαπαο” (agapao) - o amor de caridade, de benevolência, de boa
vontade; o amor capaz de dar e continuar dando sem esperar que se
devolva nada em troca. Não consiste em sentir algo por ela, mas
sim em fazer algo em seu favor, oferecer-lhe nossa ajuda.
19. O QUE PEDE O MANDAMENTO
• Jesus nunca pediu que amássemos nossos inimigos do
mesmo modo que amamos nossos entes queridos. Não
pretendeu que sentíssemos o mesmo afeto que sentimos
por nosso cônjuge, nossos familiares ou nossos amigos. Se
tivesse querido isso, teria usado outros verbos.
• O amor que Jesus exige aqui é outro. É o “ágape”. E ele
não consiste num sentimento, nem em algo do coração. Se
dependesse de nosso afeto, não só seria uma ordem
impossível de cumprir, mas também absurda, já que
ninguém pode obrigar-nos a sentir afeto.
20. • O ágape que Jesus pede consiste em uma decisão, numa
atitude, numa determinação que pertence à vontade. Isto
é, ele convida a amar, mesmo indo contra os sentimentos
que experimentamos instintivamente.
• O amor que ordena não obriga a sentir consideração ou
estima por quem nos ofendeu, nem devolver a amizade a
quem nos agravou ou defraudou.
• Não. O que pede é a capacidade de ajudar e prestar um
serviço de caridade, se algum dia quem nos ofendeu,
precisar.
21. Perdão e esquecimento
• Muitos sentem-se culpados porque perdoaram, mas não
conseguem esquecer. E julgam isso mal, mas não podem
esquecê-lo.
• O perdão implica necessariamente o esquecimento? Para
tranquilidade dos cristãos, devemos dizer que não, que não
é necessário esquecer. Porque a memória é uma faculdade
que trabalha independentemente de nossa vontade. A prova
está em que muitas vezes queremos recordar coisas que não
conseguimos mais. E outras vezes queremos esquecer
situações vividas e não podemos.
22. • Quando uma pessoa é ofendida, se tem boa memória ou
se a ofensa foi muito grande, possivelmente lembrar-se-á
dela por muito tempo. E não tem culpa. Por isso o perdão
não supõe necessariamente o esquecimento. Alguém pode
perdoar e continuar recordando-se da ofensa. Pode
desculpar um agravo e evocá-lo espontaneamente de
tempo em tempo.
• O que não se deve fazer é trazer para a memória
constantemente, e por própria vontade, as recordações
desagradáveis e as injúrias sofridas, para mantê-las
vivas. Isso seria uma forma doentia de recordar.