O documento resume a obra O Gaúcho de José de Alencar. A obra é um romance regionalista publicado em 1870 que retrata a vida de Manuel Canho, um gaúcho que jura vingar o assassinato de seu pai. A narrativa acompanha a busca de Manuel pelo assassino enquanto também descreve os costumes e a paisagem do sul do Brasil no século XIX.
Literatura o gaúcho josé de alencar leitura e analize 2014
1. José De Alencar
O Gaúcho
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Biografia
José de Alencar (1829-1877) foi romancista, dramaturgo,
jornalista, advogado e político brasileiro. Foi um dos maiores
representantes da corrente literária indianista. “Destacou-se na
carreira literária com a publicação do romance (O Guarani -
1957), em forma de folhetim, no Diário do Rio de Janeiro, onde
alcançou enorme sucesso”.
Sua obra e dividida em três etapas:
Romances urbanos
Cinco minutos (1860)
A viuvinha (1860)
Lucíola (1862)
Diva (1864)
A pata da gazela (1870)
Sonhos d’ouro (1720)
Senhora (1875)
Encarnação (1877)
Romances históricos e Indianistas
O Guarani (1870)
Iracema (1875)
As Minas de prata (1865)
Alfarrábios (1873)
A guerra dos mascates (1873)
Ubirajara (1874)
Romances regionalistas
O gaúcho (1870)
O tronco do Ipê (1871)
Til (1872)
O sertanejo (1876)
Enredo
Conta a vida de um menino de 9 anos, Manuel Canho, que admirava muito seu
pai, João Canho, grande conhecedor de cavalos. Presenciou o seu assassinato de
forma covarde por Barreda. Manuel Canho jurou vingar-se e por muitos anos seguiu
os passos do assassino. Seu pai morreu confundido por outra pessoa, que teria
namorado a mulher de Barreda. Loureiro era o homem que deveria morrer.
Loureiro, por sua vez, quando soube do ocorrido veio visitar a viúva de João
Canho e apaixonou-se por ela e com ela se casou. O filho de João Canho, Manuel,
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nunca aceitou o Loureiro, que tentando montar no cavalo do defunto, este o matou,
como se quisesse vingar seu dono.
Após a morte do padrasto, Manuel juntou dinheiro para não deixar sua mãe
(Francisca) desamparada e à sua irmã (Jacintinha), filha de Loureiro, a qual o
menino nunca aceitou. Foi falar com o padrinho coronel Bento Gonçalves sobre a
sua vingança e neste trajeto viveu peripécias ligadas à guerra dos farrapos, mas
particularmente a seu padrinho.
Quando chegou à cidade de Entre-Rios, onde morava o assassino, é desafiado
a domar uma égua, aceita o desafio e fica com ela. Como achassem impossível
montá-la, começaram a dizer que ela tinha parte com o diabo. Para ele o cavalo era
muito importante, aprendeu com seu pai, seu ídolo a gostar e respeitar os animais.
Pensava se o homem é o rei da criação o cavalo serve de trono, como o peixe
precisa da água, o gaúcho precisa do cavalo para existir. Percebeu que a égua
havia parido há pouco tempo e tinha sido afastada de seu filho, resolveu encontrá-lo.
Achou-o em uma caverna e a mãe começou a acariciar e alimentar seu filho, o
animal sobreviveu. Provando que não é só amor, paixão e culto à maternidade, é
principalmente uma reprodução da existência. À noite depois de quatro dias chegou
à pousada com os dois. No dia seguinte foi a casa onde o assassino estava e o
encontrou moribundo e abandonado, porque estava com uma doença chamada
“bexiga” que era contagiosa. Quando este lhe pediu água, ele deu e cuidou dele até
melhorar. Por ironia do destino salvou seu inimigo. Ainda poderia ver a mulher que
foi a culpada da morte de seu pai.
Voltou para sua casa sem ter cumprido a promessa de vingar seu pai. Lá
encontrou sua mãe e a sua irmã, que lembrava o homem que tinha causado a morte
de seu pai. Por mais que ela gostasse dele, ele não se aproximava. Um dia esta
aproximação aconteceu por causa de um potrinho, de nome Juca, o mesmo nome
de seu irmão que havia falecido. Um dia ela brincava com o potrinho e Manuel a viu
e a abraçou, e uma nova família surgiu. Mas a vingança não o abandonava e um
mês depois voltou à cidade e três meses depois encontrou com o assassino, falou
quem ele era e porque estava ali. Travaram uma luta, foi uma batalha honrada e no
final ele fincou a lança no peito do desgraçado, mesmo com a mulher implorando
que não fizesse. Só ficou com pena do cavalo, pois para este Barreta seria sempre o
dono.
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Depois de ter se vingado, se aproximou de Catita, uma moça que na primeira
viagem tinha conhecido. Durante a outra viagem ela tinha se envolvido com outro
homem, mas quando ele regressou, ela pediu perdão, jurando amor e fidelidade.
Manuel afastou-se no seu cavalo, mas ela lançou-se a garupa. A história termina
com os dois cavalgando numa louca carreira em meio a uma tempestade e ventos
zunindo.
Personagens e Espaço
Manuel Canho, gaúcho, de 22 anos, é alto e robusto com a face bronzeada;
usa um chapéu desabado que lhe cobre a fronte larga. Vive, em um rancho em
Poncho-Verde, às margens do Ibicuí, com a mãe, Francisca, senhora gorda de
quarenta e cinco anos e uma irmã, Jacintinha, bela moça de quinze anos.
João Canho, o pai de Manuel, amansador famoso na região, É morto num
combate com castelhanos, que estavam à caça do comerciante Loureiro
Loureiro o Padrasto de Manoel sensível aos encantos da viúva Francisca,
sentindo-se responsável pela morte do marido, oferece-se para substitui-lo. A mãe
aceita, desagradando Manuel que passa a odiar o padrasto
Bento Gonçalves, o padrinho de Manuel, homem muito respeitado pela
franqueza, generosidade e bravura.
O chileno D. Romero, um vendedor ambulante, misto de mascate e
aventureiro, que traz consigo uma égua muito bonita e arisca. Desafia a todos,
afirmando que ninguém é capaz de montá-la
Catita, jovem de doze anos, cabelos negros e pele queimada. Amor de Manuel.
Tempo
O tempo é cronológico.
‘’Eram 11 horas do dia ; uma trovoada estava iminente , que nublava o
céu , obumbrando (cobrindo) os raios do sol’’.
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‘’Que bela noite de luar jaspeia os cerros de piratinim! A uma festa na
vila’’.
Foco Narrativo
O Gaúcho, de José de Alencar, é um romance narrado em terceira pessoa. Nesta
obra, José de Alencar retrata o Brasil, principalmente os Pampas, caracterizando um
romance regionalista mas, com traços do romance histórico . No capítulo II do livro I,
podemos contemplar a paisagem do sul do Brasil: o gaúcho a cavalo correndo pelos
pampas. Publicado em 1870, foi o primeiro da série com qual Alencar tentou um "retrato do
Brasil".
‘’No meio dessa existência tranquila, a asa negra da desgraça roçou pela casa de
João Canho’’.
‘’Morzelo , que se conservava imóvel ao lado , durante toda essa cena , avançou a
um sinal do senhor , e por ventura ensinado , pisou com a pata a face contraída do
moribundo , que ainda estremeceu , ante essa derradeira afronta’’.
Estilo
A Importância De José De Alencar
Considerado o maior romancista do Romantismo brasileiro, Alencar criou uma
literatura nacionalista, empregando um vocabulário e uma sintaxe típicos do Brasil e
evitando o estilo lusitano, que até então prevalecia na literatura aqui produzida.
Sua obra traça um perfil da cultura e dos costumes de sua época, bem como
da História do Brasil, tendo como preocupação essencial a busca de uma identidade
nacional, seja quando descreve a sociedade burguesa do Rio de Janeiro, seja
quando se volta para os temas ligados ao índio ou ao sertanejo. Seus romances
costumam ser classificados em quatro categorias: urbanos, históricos, indianistas, e
regionalistas.
A obra urbana de Alencar segue o padrão do típico romance de folhetim,
retratando a alta sociedade fluminense do Segundo reinado, com tramas que
envolvem amor, segredos e suspense. Mas por trás da futilidade dos namoricos da
Corte está a crítica à hipocrisia, à ambição e à desigualdade social.
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José de Alencar também chega a analisar o caráter psicológico de suas
personagens femininas, revelando seus conflitos interiores e antecipando as
características da escola realista, que sucedeu o Romantismo.
José de Alencar também buscou inspiração em nosso passado para escrever
romances históricos, propondo uma nova interpretação literária para fatos marcantes
da colonização, como a busca por ouro e as lutas pela expansão territorial. Seus
enredos denotam em vários momentos um nacionalismo exaltado e o orgulho pela
construção da pátria.
Já os romances regionalistas denotam o interesse do autor pelas regiões mais
afastadas do Brasil, alheias à influência europeia que predomina na Corte
fluminense. Assim, ele alia os hábitos da vida no campo e a cultura popular à beleza
natural e exótica das terras brasileiras. Se nos romances urbanos as mulheres são
sempre enfatizadas, nas obras de cunho regional os homens recebem o destaque,
com toda a sua rudeza, enfrentando os desafios da vida, enquanto que as mulheres
assumem papéis secundários.
Verossimilhança
O Gaúcho era considerado um “homem da fronteira”, habituado a viver em
constantes lutas para defender as fronteiras e expandir o território do RS.
Devido a isto, desenvolveu o espírito de liderança, o gosto pela liberdade e o amor
por sua terra. No entanto, esta visão do Gaúcho era em uma perspectiva idealizada,
que não correspondia totalmente à verdade. O verdadeiro Gaúcho rio-grandense
não teve uma origem tão nobre assim. Magnoli; Oliveira e Menegotto (2001, p. 23)
Desmistificam esta imagem ao contar que anteriormente o “Gaúcho original era visto
com desprezo pela sociedade branca colonial. O mestiço pobre, “ladrão de gado”,
errante e “vagabundo”, ocupava a parte inferior da pirâmide social.” Este Gaúcho
verdadeiro, mistura de espanhol, índio e português que vivia cruzando os territórios
divididos entre Portugal e Espanha e brigando para garantir a posse das terras, que
falava termos guaranis misturados com palavras castelhanas e portuguesas, era
muito distinto do Gaúcho idealizado do livro de José de Alencar. “Somente bem mais
tarde, depois que o Gaúcho livre desapareceu, é que foi elaborada a imagem
galante, romantizada, do gaúcho pampeano.” Os principais erros são falhas de
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verossimilhança externa, por exemplo, causadas pela falta de contato do escritor
cearense com a realidade sulina – criticadas por Franklin Távora.
Conclusões - Movimento Literário
Características da obra de Alencar
O Gaúcho do romance é apenas um estereótipo do verdadeiro gaúcho e a
criação deste mito teve por objetivo transformar para melhor a imagem negativa do
homem pampeano, anteriormente visto com desprezo pela sociedade, bem como
“encobrir” as diferenças de classes, sendo que todos são “gaúchos” e não percebem
que há diferenças econômicas e históricas entre “patrões”, “prendas” e “peões”.
Porém, mesmo o gauchismo sendo um movimento criado para manter a
hegemonia das classes dominantes, tem a função positiva de valorizar a identidade
local frente à “aculturação” causada pela Globalização.
A obra de José de Alencar pode ser dividida em dois grupos distintos:
Quanto ao Espaço Geográfico
O sertão
do Nordeste - O
Sertanejo
O litoral cearense -
Iracema
Fogo na babilonia
O pampa gaúcho -
O Gaúcho
A zona rural - Til (interior paulista), O Tronco do Ipê (zona da mata
fluminense)
A cidade, a sociedade burguesa do Segundo Reinado -
Diva, Lucíola, Senhora e os demais romances urbanos.
Quanto a Evolução Histórica
O período pré-cabraliano - Ubirajara.
A fase de formação da nacionalidade - Iracema e O Guarani.
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A ocupação do território, a colonização e o sentimento nativista - As
Minas de Prata (o bandeirantismo) e Guerra dos Mascates(rebelião colonial).
O presente, a vida urbana de seu tempo, a burguesia fluminense do
século XIX - os romances urbanos Diva, Lucíola, Senhora e outros.
Romances indianistas
Afirmar a identidade brasileira significava em primeiro lugar valorizar nossos traços
autóctones, isto é, aqueles que aqui já existiam antes da chegada dos
colonizadores. O índio é quem irá representar esse papel, de vez que ele é o
homem da terra brasileira em estado puro. Assim, o índio assumirá o papel de herói
de símbolo da raça, Nesse sentido, destaca-se Peri, o personagem principal de "O
Guarani", romance em que Alencar, de modo épico, faz uma alegoria das origens do
Brasil.
Romances urbanos
Nessas obras, Alencar se dedica a traçar um painel da vida na Corte, ou seja, a
cidade do Rio de Janeiro, sede da monarquia brasileira. Os enredos basicamente
tratam de aventuras amorosas e procuram traçar os perfis das mulheres que os
protagonizam. Nesse sentido, Alencar avança numa característica que se tornará
importante ao gênero romance: a observação psicológica das personagens. Ao
mesmo tempo, faz crítica de costumes sociais de sua época.
Esse é particularmente o caso de "Senhora", em que o autor faz uma crítica ao
casamento por interesse e ao arrivismo social, narrando a história de Fernando
Seixas que é "comprado" para ser marido de Aurélia Camargo. Alencar não
consegue perceber nem tematizar as grandes mazelas da sociedade brasileira de
seu tempo. Por outro lado, sua literatura urbana abriu caminho para o surgimento de
uma obra genial como a de Machado de Assis.
Romances regionalistas O maior mérito de Alencar é o de ter inaugurado um
caminho que se revelaria muito proveitoso para a literatura brasileira. Ao colocar o
foco sobre as realidades regionais do Brasil - no Rio Grande do Sul, em "O
Gaúcho"; no interior de São Paulo, em "O Tronco de Ipê", no Nordeste em "O
Sertanejo" -, Alencar logo conquista seguidores, que também fariam literatura
regionalista, como o Visconde de Taunay e Bernardo Guimarães, ainda no século
XIX.
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Romances históricos
Em seus romances dessa categoria, ele procurou mostrar que o Brasil
independente tinha raízes na Colônia. O romance histórico faz mais sentido na
Europa onde as tradições medievais de cada nação forneciam matéria narrativa e
efetivamente refletiam as origens de cada país.
Uma breve avaliação ‘’O projeto Alencariano’’ de retratar a realidade brasileira pelo
romance talvez peque pelo fato de os modelos do autor serem europeus e por ele se
ater demais aos seus modelos. Os romancistas europeus do século XIX contavam
com uma tradição narrativa que datava no mínimo do século XIV.
Isso atenua Alencar da acusação de simplesmente transpor os padrões europeus
para nossa realidade. A obra de Alencar tem involuntariamente um quê de paródia,
que prenuncia a maneira satírica com que os modernistas e os tropicalistas vão
olhar para os valores estrangeiros e tentar criar valores genuinamente nacionais. (
jornalista Antonio Carlos Oliveira – Adaptado).