1. “No coração da terra bate o meu coração.
Cada vez que mergulho
em mim, em meus
pensamentos, em meus
sonhos, mergulho,
profundamente, na terra,
no barro, na argila, na
carne do mundo.
2. Cada vez que mergulho na carne do mundo, faço-me o
cerne imbatível diante das minhas batalhas internas.
3. Vou andando pelos seixos do barro que encontro no fundo
deste caminhar, abro fendas, rompo espaço e olho cada vez
mais adiante para dentro.
4. Vejo a luminosidade úmida do barro que me mostra que
posso encontrar o que procuro, olho para a luz e
encontro a minha própria: luz úmida, inquietude serena
na ânsia da descoberta.
5. É lá bem no fundo da vida que pulsa no barro que está a
história que (re)conheço, junto a outras tantas já vividas.
Povos distantes, vozes que ecoam, marcas que ficaram
como registros, há luz na sombra, há sombra na luz, há a
herança do que fui e do que me projeto ser.
6. Celebro a proteção, a confiança, a pureza do gesto
generoso de gerar seus filhos e permitir andarem sobre
seu corpo.
7. É hora de retornar, pois ainda que precise ir ao centro,
mergulhar no corpo do barro, sei que meu lugar também é
fora para aprender a aprender como realizar o que há
dentro de mim. Minhas mãos estão compostas pelo calor
úmido, pelos grãos preciosos, pelo aconchego necessário
de quem esculpe a vida do centro para o externo mundo
que habito.
8. Sou terra, o barro, a carne, o centro, o dentro e o fora,
sou vida esculpida em mim!”
PaTTi Cruz